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1 INTRODUÇÃO A história do tráfico de escravo é por demais complexa e remota, cabendo as mais antigas sociedades das nações e a todos os povos da alta antiguidade, portanto não cabendo aos portugueses a sua primazia, que por sua vez são descendentes de povos que também foram escravizados e dominados por outros mais poderosos. Embora registos historiográficos nos mostram a existência de escravos como base social de todas as civilizações da antiguidade, isto é, desde as ditas civilizações pré-clássicas como o Egipto e Mesopotâmia, passando para as clássicas como a Grécia e Roma, nestas sociedades os escravos eram normalmente prisioneiros de guerra, ou por endividamento ou ainda descendentes de família escravas. Nas sociedades mediterrâneas, grega e romana, os escravos constituíam um importante artigo comercial. Os indivíduos eram capturados em incursões noutros territórios, nas guerras ou vendidos e os seres humanos, incluindo crianças, eram negociados nos mercados. O trabalho submete-se em estudar sobre as consequências directas do tráfico de escravos, de forma detalhada e objectiva, analisar o seu impacto nas mais diversas áreas. Pretendemos com a realização deste trabalho não reflectir apenas sobre as consequências do tráfico de escravos mas também sobre o tráfico de escravos do ponto de vista geral, pois é importamte para nós e enquanto estudantes de história sabermos mais acreca do mesmo. Contudo, dada a importância e especificidade do tema, procurou-se, descrever em termos gerais, uma abordagem de compreensível entendimento, sem esquecer outros elementos que pensamos serem importantes para o nosso tema. 2 CAPÍTULO I- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1.1 O INÍCIO DO TRÁFICO DE ESCRAVOS E O SEU DESENVOLVIMENTO O Tráfico de escravos consistiu, basicamente, na migração forçada de africanos com o intuito de escravizá-los durante a colonização da América. 5 Antes da chegada dos europeus já havia escravatura1 em África, porém, existia uma grande diferença entre a escravatura praticada em África e o comércio de escravos praticado pelos europeus. 2 O tráfico de escravos iniciou-se quando os escravos da Ilha de Luanda e do Porto de Mpinda começaram a ser exportados para São Tomé. Foi a partir de São Tomé que os portugueses conseguiram manter contactos permanentes com a costa africana. 1 No território que constitui hoje Angola existia a escravatura. Muitos dos trabalhos públicos ou domésticos eram executados por escravos e esses escravos, em geral provenientes das guerras internas ou violação de leis, eram membros da comunidade. No entanto com a chegada dos portugueses, o tratamento dos escravos tomou outras dimensões. Sobretudo depois da descoberta do continente americano, os portugueses e outros europeus como os holandeses, franceses, espanhóis e ingleses precisavam de mão-de-obra para trabalhar nas minas e nas grandes plantações que tinham na América, visto que, os povos índios locais da América não aguentavam esses trabalhos, uns morriam e outros fugiam. 1 Nestas circunstâncias, os traficantes recorreram aos escravos africanos, mais experientes na agricurtura das regiões quentes. Foi assim o início do comércio triangular2. 1 Os Portugueses possuíam uma grande colónia na Ámerica do sul, respectivamente o Brasil, onde se cultivava a cana-de-açucar, e decidiram transportar 1 Escravatura: qualquer pessoa que esteja sob o domínio de outra e que, por conseguinte, seja privada da sua liberdade. 2 Comércio triangular: era o comércio realizado entre os três continentes, África, América e Europa. 3 os Angolanos capturados através das guerras de Kuata-kuata3, especialmente dos reinos do Kongo, Ndongo e de outras regiões do actual território angolano. 1 Os Árabes foram os primeiros a fazerem o tráfico de escravos negros, e vendiam-nos na Europa. Este comércio foi crescendo pouco a pouco tendo evoluído muito devido à expansão àrabe no norte de África e não tardou, os portugueses tomaram contacto com este comércio e acabaram por se concentrar nele como mercadoria privilegiada. 2 O primeiro navio europeu a chegar a águas tropicais foi comandado pelo navegador português Antão Gonçalves e o mesmo atingiu a costa da Mauritânia, onde capturou homens, mulheres e jovens num total de dez pessoas, levando-os para Portugal e vendendo-os como escravos. 2 Foi assim que em 1441, o tráfico de escravos teve o seu início na costa ocidental da África, tendo perdurado até ao século XIX. Os portugueses e os espanhóis foram os pioneiros no comércio de escravos africanos para o continente americano. 2 Os escravos eram levados para o outro lado do atlântico e vendidos nos mercados americanos e durante a travessia, muitos escravos adoeciam e estes eram lançados ao mar. Os que chegavam vivos eram vendidos aos fazendeiros para trabalharem nas plantações de cana-de-açucar, de tabaco, de café e nas minas. 2 Em 1518, chegava o primeiro carregamento de escravos negros ao continente africano, ou seja, era a mudança na rota do comércio de escravos: da Europa para a América. Mais tarde, os ingleses também entraram no negócio e em 1562 enviaram o primeiro carregamento de escravos a partir de Serra Leoa. 2 1.2 AS CAUSAS DO TRÁFICO DE ESCRAVOS Entre os séculos XV e XIX, o continente africano revelou-se fonte de uma riqueza diferente a ser explorada pelos navegadores europeus. A mão-de-obra escrava africana atraiu para o continente negro comerciantes de várias partes da Europa que estabeleceram ali companhias e deram início a uma das principais 3 Guerras de Kuata-Kuata- eram guerras em que alguns escravos eram apanhados por grupos de Portugueses armados, que assaltavam de surpresa as aldeias, por vezes com ajuda de alguns chefes africanos. 4 actividades econômicas do período colonial: o tráfico de escravos. A procura crescente por mão-de-obra escrava, motivada pelo estabelecimento de colónias na América geridas pelo sistema de plantação, garantiu as condições para o pleno desenvolvimento dessa actividade. 5 Utilizados nas grandes plantações de açúcar, tabaco, algodão e café, os escravos eram adquiridos através do escambo, isto é, da troca por produtos fabricados (tecidos, rum, armas de fogo e melaço). 5 A grande hostilidade e resistência da população local aos portugueses e ao trabalho forçado4 levaram a substituição do escravo indígena5 pelo escravo africano. Este, além de solucionar a questão da mão-de-obra, representou o início de uma actividade altamente rentável para os comerciantes portugueses e para a Coroa. 5 Portugal foi a primeira potência europeia a satisfazer as suas carências de mão de obra através da importação de escravos, para suprir a grande carência de trabalhadores agrícolas. O exemplo de Portugal foi seguido pela Espanha. No século XV, também os comerciantes árabes no norte da África exportavam africanos oriundos da África Central para serem levados para os mercados da Arábia, do Irão e da Índia.4 No século XVI, os colonializadores espanhóis fixados na América Latina tentaram forçar a população nacional a trabalhar no campo, mas esta não sobreviveu ao trabalho duro e às doenças transmitidas pelos europeus, para além de contar com a protecção dos Jesuítas. Assim, para suprir a sua necessidade de trabalhadores braçais, os espanhóis viram-se obrigados a recorrer aos escravos africanos. 4 O trabalho no continente americano, fosse nas minas de prata do Perú e do México, fosse nos engenhos de açúcar brasileiros, ou mais tarde no trabalho das minas de ouro e diamantes neste território, foi o principal responsável pelo desenvolvimento do tráfico entre os séculos XVI e XVIII. 4 A Inglaterra aderiu a este tráfico na segunda metade do século XVI,pretendendo interferir no abastecimento das colónias espanholas antes servidas pelos portugueses. A França, a Holanda, a Dinamarca e as próprias colónias americanas 4 Trabalho forçado: é todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de uma sanção e para o qual a pessoa não se ofereceu espontaneamente 5 Indígenas: natural do país em que habita, isto é, a população nacional. 5 entraram neste comércio como competidores, e em 1713 o direito exclusivo de abastecer de escravos as colónias espanholas foi concedido à British South Sea Company6. 4 Com o desenvolvimento das plantações de algodão e tabaco nas colónias do Sul, na segunda metade do século XVII, aumentou consideravelmente o número de escravos importados para serem recrutados para os trabalhos agrícolas. 4 O entendimento actual entre os historiadores é de que questões pontuais existentes na colnia, como a escassez de mão de obra de indígenas, motivaram os colonos a adotar outra mão de obra, e os grandes comerciantes portugueses, percebendo essa demanda, instauraram o tráfico de escravos, uma vez que esse negócio era muito lucrativo. 2 Importante mencionar que os portugueses já utilizavam a mão de obra escrava dos trabalhadores africanos. Nas ilhas atlânticas, os portugueses haviam instalado o sistema de produção de açúcar com a utilização de trabalhadores africanos. Assim, esse modelo acabou sendo exportado em larga escala para o Brasil, e isso inclui a utilização dos africanos como trabalhadores escravizados. 2 O tráfico de africanos para o Brasil associa-se, em partes, com o escasseamento da população de escravos indígenas no Brasil, sobretudo a partir da década de 1550. 2 Mas o factor mais relevante, e que nos ajuda a entender a substituição da mão de obra escrava dos índios pela dos africanos, está no funcionamento do sistema económico da época baseado no mercantilismo. Em outras palavras, o tráfico de escravos era uma actividade extremamente lucrativa para a cidade principal, isto é, para Portugal. A venda de escravos indígenas, por sua vez, movimentava a economia exclusiva da colónia, e, assim, a fim de atender a essa demanda de Portugal para a abertura de um comércio altamente lucrativo, é que a escravidão africana foi inserida no Brasil. 2 6 British South Sea Company (companhia inglesa do mar do sul) 6 1.3 AS CONSEQUÊNCIAS DO TRÁFICO DE ESCRAVOS As consequências do tráfico de escravos foram: 1. O tráfico de escravos provocou efeitos dolorosos e destruidores no continente africano, e estes ainda hoje se fazem sentir; 2. A Guerra e a caça ao homem passaram a ser uma necessidade, devido ao lucro e ao enriquecimento fácil; 3. Muitos Estados Africanos fortes ficaram desorganizados e os mais fracos chegaram mesmo a desaparecer; 4. Pode mesmo afirmar-se que houve um grande retrocesso nas forças produtivas; 5. Os povos de agricultores regressaram a recolecção7, deixando de ser sedentários; 6. As classes dominantes, devido à intensidade do tráfico de escravos, ficaram enfraquecidas e tornaram-se presas fáceis dos traficantes europeus; 7. Durante quase cinco séculos, a África foi palco de guerras, razias e outras operações nefastas provocadas pelos europeus para obterem escravos. A África viu-se asssim privada da força de trabalho necessária para o seu desenvolvimento, o que a lançou no atraso e no subdesenvolvimento; 8. A deslocação forçada de milhares de africanos provocou a diminuição do crescimento natural da população, já que os homens, as mulheres e os jovens em idade produtora e reprodutora eram vendidos e levados para os outros continentes. 2 Em termos de total para o tráfico de escravos do Atlântico, de 1519 à 1867, estima-se que 11,6 milhões de homens, mulheres e crianças foram levados do interior de África para as Américas, 3,3 milhões morreram no percurso entre a sua região de origem e o porto negreiro na costa e 1,5 milhões morreram na travessia do Atlântico. O número total de pessoas escravizadas e vendidas ou que morreram no tráfico do Atlântico, excluindo o número de escravos exportados para o norte de África e estados árabes e o número de escravos exportados para o Irão, Índia, e para o resto da Ásia, estima-se em mais de 15 milhões. 3 7 Recolecção: actividade agropastoril, ou seja, agricultura e criação de gado que consiste na recolha dos bens que a Natureza oferece (grãos, frutos e raízes, caça, pesca.) 7 Propriamente em Angola, o tráfico de escravos teve consequências desastrosas, de entre as quais devemos destacar algumas: a) Consequências políticas: Enfraquecimento dos reinos e perda de autoridade dos chefes tradicionais africanos; Desorganização das sociedades africanas; Debilidade dos exércitos nos diferentes reinos. b) Consequências económicas: Enfraquecimento da economia, provocado por guerras internas; Regressão das forças produtivas. c) Consequências sociais Diminuição da população produtora e reprodutora; Enfraquecimento do artesanato e de outras expressões artísticas; Debilidade cultural. 1 1.4 A ABOLIÇÃO DO TRÁFICO DE ESCRAVOS O tráfico de escravos praticados pelos europeus desde o século XV seria condenado mais tarde por alguns homens. Na Inglaterra, O despertar de várias correntes religiosas, como o Metodismo e outras, levou à condenação da escravatura. A atitude dessas correntes religiosas influenciou a opinião internacional para se pôr fim o tráfico de escravos e à escravatura. 1 Os factores económicos estiveram na base das razões que provocaram o término da escravatura. A Inglaterra foi o primeiro país europeu a inventar máquinas para fabricação de produtos e com essas máquinas passou a produzir mais e tinha um excedente de produtos. 1 O aperfeiçoamento das máquinas usadas nas indústrias exigia cada vez mais matérias primas, sendo as suas fontes as colónias africanas, utilizando desta forma a mão-de-obra livre em vez de escravos. Tudo isso exigia mão-de-obra barata, e quanto mais barata maiores seriam os lucros. 1 A partir de 1772 a Inglaterra proibia a escravatura no seu território e trinta e cinco anos mais tarde, proibia também o tráfico de escravos nas suas colónias. Pouco 8 a pouco esta abolição foi-se alargando a todos os países europeus que possuíam colónias. 1 O interesse da Inglaterra em pôr fim ao comércio de escravos explica-se pela restrição que o trabalho escravo representava ao desenvolvimento de um grande mercado consumidor em potencial. Com a proclamação da independência do Brasil (1822), a pressão inglesa também se intensificou, resultando no chamado acto Bill Abeerden- lei que autorizava a apreensão de navios de escravos pela marinha inglesa. A proibição efectiva do tráfico de escravos no Brasil somente ocorreu em 1850, aquando da instituição da lei Eusébio de Queirós8. No entanto, a lei Eusébio de Queirós implicou na redução significativa do número de negros trazidos à força para o Brasil, mas não o fim das actividades do tráfico, já que alguns navios continuaram actuando na clandestinidade. A extinção do tráfico foi o primeiro passo dado rumo à abolição da escravidão no Brasil, que apenas ocorreria no final do século XIX. 5 A seguir a França e outras nações europeias aderiram a esta atitude inglesa. Contudo, o comércio de escravos só chegou ao fim em 1880. Nos finais do século XIX, todas as potências foram obrigadas a parar com o comércio de escravos. 2 Portugal foi a última potência a parar com esse comércio, mas em sua substituição instalou o trabalho forçado, que era uma das características mais dominantes nas colónias portuguesas. 28 Lei Eusébio de Queirós: foi aprovada em 4 de setembro de 1850, sendo proposta por Eusébio de Queirós, ministro da Justiça. Ela determinava a proibição do tráfico de africanos escravizados para o Brasil e foi uma resposta às pressões realizadas pela Inglaterra para que o Brasil acabasse com essa prática. 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS Chama-se tráfico de escravos o transporte forçado de pessoas como escravos para as américas e para outras colónias de países europeus, durante a colonização. O tráfico de escravos foi responsável por trazer forçadamente, milhares de pessoas africanas para a Europa e a América. Nas sociedades mediterrâneas grega e romana, os escravos constituíam um importante artigo comercial. Os individuos eram capturados em invasões noutros territórios e nas guerras. Estes mesmos escravos eram negociados nos mercados O tráfico de escravos provocou uma profunda marca no continente africano. As consequências do trafico de escravos foram muitas, começando com a morte de milhares deles devido às condições de trabalhos, doenças e má alimentação, sendo que além da morte e violação de direitos humanos básicos, esse facto gerou uma profunda desigualdade social no país que persiste até os dias de hoje: trabalhos forçados, analfabetismo, profunda desigualdade sócio-económica, discriminação. Os afrodescendentes sofrem racismo e têm menor renda e mais chances de serem pobres. As consequências do trafico de escravos são perceptíveis até os dias de hoje, pois os ex-escravos foram isolados da sociedade brasileira. Além disso, esse facto criou guerras e conflitos étnicos na África, bagunçando ainda mais a geopolítica do continente. As consequências demográficas são talvez as mais estudadas pelos investigadores pois a matança é obviamente, enorme. Mas a África perdeu muito mais, em primeiro lugar, porque esta matança de homens e mulheres em idade de procriar, reduziu significativamente o crescimento populacional numa proporção que sem dúvida não poderá ser calculada com exatidão. As consequências políticas não foram menos importantes, visto que as antigas estruturas políticas entraram em declínio não se adaptando à situação criada pelo tráfico de escravos. Podemos assim assegurar com toda propriedade que, o obejectivo principal desta pesquisa foi notavelmente alcançado. 10 REFERÊNCIAS 1. NSIANGENGO Pedro et al 2018. História- 5ª classe. 1ª edição, Luanda: Livraria Mensagem. Págs 74, 75, 77, 89 e 90. 2. NSIANGENGO Pedro et al 2018. História- 6ª classe. 1ª edição, Luanda: Livraria Mensagem. Págs. 50-53, 55, 56 e 60. 3. PACHECO Luís et al 2018. História económico-social de Angola: do período pré- colonial à independência. Porto: CEPESE. Págs. 82-98. 4. Tráfico de Escravos in Infopédia [em linha] 2003-2021. Porto: Porto Editora. Disponível em: https://www.infopedia.pt/$trafico-de-escravos [acessado em 06/02/2021]. Disponível em: 5.http://www.historialuso.an.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id5 141&Itemid=336. [acessado em 06/02/2021]. https://www.infopedia.pt/$trafico-de-escravos http://www.historialuso.an.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id5141&Itemid=336 http://www.historialuso.an.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id5141&Itemid=336