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FUNDAMENTOS HISTÓRICO E TEÓRICO METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL

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FUNDAMENTOS 
HISTÓRICO E 
TEÓRICO 
METODOLÓGICOS 
DO SERVIÇO 
SOCIAL 
Andréia Saraiva 
Lima
Influência das correntes 
filosóficas e sociológicas 
no Serviço Social: 
estrutural-funcionalismo 
e fenomenologia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 Descrever o contexto no qual houve a influência das correntes filo-
sóficas e sociológicas no Serviço Social.
 Identificar os principais autores e pensadores das correntes estru-
tural-funcionalista, fenomenológica e marxista, bem como suas
principais teorias.
 Analisar o posicionamento fenomenológico no Serviço Social.
As correntes filosóficas e sociológicas 
no Serviço Social e suas influências 
na categoria profissional
Ao pensarmos nas correntes fi losófi cas e sociológicas que iluminaram o Ser-
viço Social em sua atuação profi ssional ao longo de sua existência, temos que 
voltar aos contextos históricos nos quais essas correntes teóricas embasaram 
a profi ssão, já que eles infl uenciaram, também, o pensamento da sociedade 
de sua época. Além disso, conhecer o pensamento e a teoria dos principais 
autores de cada corrente teórica é essencial para este estudo.
Para iniciarmos essa caminhada sobre tais influências para o Serviço 
Social, devemos questionar, inicialmente: em que época surge a perspectiva 
estrutural funcionalista no Serviço Social? O que estava acontecendo no país 
naquele momento?
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Primeiramente, precisamos ter claro que o Serviço Social, tal qual o 
conhecemos hoje, não surgiu do nada. Inicialmente, o Serviço Social estava 
servindo aos interesses da Igreja Católica e, posteriormente, também ao 
governo vigente na época. Estamos falando dos anos 1930, pois foi em 1932 
que começaram a ser esboçados os contornos da profissão de forma mais 
organizada e, mais especificamente, em 1932 que se formou um grupo de 
estudos sobre o tema: o Centro de Estudos e Ação Social, com o objetivo 
de se colocar como “[...] instrumento a serviço do apostolado social e como 
meio de ação efetiva na busca de realização da democracia cristã” (BATTINI; 
SILVA, 2008, p. 112).
As primeiras Escolas de Serviço Social (1936 e 1937) visavam atender às 
estratégias populistas e desenvolvimentistas do governo de Getúlio Vargas. 
Um fato importante a ser observado é que a primeira escola de Serviço Social, 
fundada (1936) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, oferecia o 
Curso Intensivo de Formação Social para Moças. Nesse momento, tomismo e 
o neotomismo se destacam como fundamentos filosóficos no Serviço Social, 
baseados no pensamento de São Tomás de Aquino. Dessa forma, faziam parte 
da doutrina social da Igreja Católica, apresentando princípios conservadores, 
moralistas, religiosos e humanistas. 
A principal preocupação deste postulado filosófico baseado no pensamento 
de São Tomás de Aquino era: noção de dignidade da pessoa humana; sua 
perfectibilidade; sua capacidade de desenvolver suas potencialidades; a natural 
sociabilidade do homem ser social e político; a compreensão da sociedade como 
união dos homens para realizar o bem comum (LIMA; COSTA, 2016, p. 4).
Chama a atenção que o Curso Intensivo de Formação, com tais princípios, 
tenha surgido no mesmo ano em que o Brasil entrou em um processo de 
industrialização e urbanização – período em que a desigualdade social foi 
aprofundada pela exploração da classe trabalhadora. 
Paralelamente, o Governo Vargas, nos anos 1930, adotou uma estratégia 
na qual atendia, por um lado, às necessidades dos trabalhadores e, por 
outro, os interesses dos detentores do capital. Para consegui-lo, “concedia” 
direitos trabalhistas como forma de controlar as greves e os movimentos 
da classe trabalhadora – dessa forma, também amenizava os prejuízos dos 
empregadores.
Com a ampliação da intervenção estatal nas expressões da questão social 
da época, foram adotadas medidas populistas, assistencialistas e clientelistas. 
Nesse sentido, a profissão foi de extrema valia. Mas não nos enganemos, o 
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Estado ainda não se responsabilizava pela Questão Social, deixando-a mas-
sivamente a cargo da Igreja Católica.
O Serviço Social, já existindo na França e nos Estados Unidos da América 
(EUA), por exemplo, com outros nomes ainda, já tinha uma linha teórica e 
metodológica de atuação, que acabou sendo importada para o Brasil – nos 
EUA, seu caráter era funcionalista e positivista. Nessa perspectiva, entendia-se 
que os sujeitos da ação profissional precisavam ser ajustados à sociedade, e 
não o contrário.
Na lógica, portanto, da caridade, do assistencialismo e do clientelismo, o 
Serviço Social assume a matriz funcionalista, apoiada no positivismo. Essa 
corrente teórica tem como um de seus principais autores o francês Émile 
Durkheim (1858 a 1917), que foi fundador da Sociologia enquanto disciplina 
acadêmica.
Em 1895, Durkheim publicou a obra “Regras do Método Sociológico”, na 
qual argumentou contra o senso comum e em favor da ciência como forma 
de descobrir e desconcertar as opiniões formadas. Entretanto, a forma que 
o autor propõe para chegar à descoberta se constitui por um “[...] conjunto 
de regras intelectivas que constituem o seu método com forte inspiração na 
tradição empirista de Bacon e no positivismo de Comte” (BOSCHETTI; 
BEHRING, 2006, p. 27).
A perspectiva funcionalista de Durkheim reflete seu tempo histórico; 
para ele, a sociedade é formada por partes que têm funções específicas, tal 
como um organismo social. Quando uma parte falha, o sistema fica defasado 
de modo que o mau funcionamento de alguma instituição que compõe a 
sociedade poderia causar a sua degeneração. Para abordar esse problema, o 
autor entendia ser necessária a realização do estudo dos acontecimentos por 
meio dos fatos sociais.
Fatos sociais são compreendidos com base em três principais características: 
a coerção, a exteriorização e a generalidade. A característica da exteriorização 
define o fato social como independente do indivíduo, estando além de suas 
escolhas. Trata-se de costumes e leis que existem anteriormente à existência 
do indivíduo, sendo impostos a ele. 
Nesse sentido, o pesquisador deve se colocar diante do seu objeto em uma 
posição de exterioridade, da mesma forma que os físicos, os biólogos e os 
químicos, deixando suspensas todas as pré-noções. Assim, os fatos sociais 
apresentam natureza exterior e coletiva, ou seja, sua sede é na sociedade, e 
não nos indivíduos (BOSCHETTI; BEHRING, 2006).
O estudo da sociedade não pode ser pautado em ações individuais, 
mesmo que as ações sejam de consequências sociais. O fato social é ex-
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terno ao indivíduo e só pode ser entendido quando relacionado com outro 
fato social.
Para Durkheim (1972) “[...] o fato social deve ser estudado desprendido 
de toda a contaminação a fim de observá-lo em estado de pureza”. Cabe à 
pesquisa social estudar a gênese e o funcionamento das instituições sociais, 
apropriando-se da sua realidade objetiva a partir da observação, da descrição, 
da comparação, fugindo a um movimento que vai das ideias para as coisas – em 
que o fato aparece apenas para legitimar uma hipótese, pré-noções ideológicas 
que, segundo o autor, desfiguram o verdadeiro aspecto das coisas. “Os fatos 
podem ser reconhecidos por possuírem a particularidade de exercer a influ-
ência coercitiva sobre as consciências individuais e por sua rigidez quanto a 
processos de transformação” (BOSCHETTI; BEHRING, 2006, p. 27).
A característica coercitivaestabelece que os fatos sociais exercem, portanto, 
força sobre o indivíduo, impondo regras criadas pela sociedade. Uma vez que 
o indivíduo se opõe às regras, sofre sansões morais ou legais: “[...] quando a 
natureza coercitiva dos fatos sociais deixa de ser sentida, o fato tornou-se um 
hábito” (BOSCHETTI; BEHRING, 2006, p. 27).
A generalidade se refere à abrangência de todo um grupo social, como 
marginalidade, costumes, desigualdade, moral, linguagem. É na própria na-
tureza da sociedade que se deve buscar as explicações da vida social, partindo 
do suposto de que, na sociedade, o todo não é igual à soma das partes, mas 
constitui um sistema com características próprias, cujo movimento ultrapassa 
os estados de consciência dos indivíduos e se explica em função das condições 
do “corpo social” no seu conjunto. Não são os indivíduos, mas os fatos sociais, 
que influenciam o comportamento individual. 
Durkheim aponta para uma distinção entre fenômenos/fatos sociais nor-
mais e patológicos: os que são como deveriam ser e os que deveriam ser 
diferentes. Assim, apresenta-se uma importante contradição, pois existe aí 
embutida uma pré-noção. Além disso, se não há pré-noção e o pesquisador 
deve resolver o problema pesquisado com objetividade, sem julgamentos, 
como é realizada a distinção proposta? (BOSCHETTI; BEHRING, 2006). 
Além disto, Durkheim utilizou critérios da biologia para classificar as espé-
cies e definir o que é “normal”, no caso aquele indivíduo que segue as regras 
generalizadas, e “mórbido” ou “patológico” sendo aqueles sujeitos que são 
exceção à regra; desvios acarretam desequilíbrios e indivíduos disfuncionais 
devem ser “retirados do sistema”.
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Positivismo
Estruturado por Augusto Comte, “O positivismo é a corrente de pensamento que 
entende que o conhecimento verdadeiro só é possível por meio da observação e 
da aferição empírica do mundo. A construção do conhecimento positivo só seria 
possível, então, por meio da observação dos fenômenos em seu contexto físico, 
palpável, ao alcance dos nossos sentidos e submetidos à experiência. Este seria o 
papel da ciência, a compreensão dos fenômenos passíveis de observação sensorial 
direta, com o intuito de entender, por meio da experiência, as relações entre esses 
fenômenos, de forma a abstrair as leis que regem as interações para que, assim, seja 
possível predizer como os acontecimentos envolvidos em determinado fenômeno se 
darão. A ciência e o método científico são a síntese das ideias positivistas” (RODRIGUES, 
2018, documento on-line).
O posicionamento estrutural-funcionalista 
no Serviço Social
O estrutural-funcionalismo se consolidou enquanto corrente teórica da An-
tropologia e da Sociologia, no início do século XX, durante o período da II 
Guerra Mundial e da Guerra do Vietnã. Da mesma forma que o funcionalismo, 
compreende a sociedade particionada em áreas e funções específi cas, que 
devem funcionar em seu conjunto para gerar o equilíbrio social.
Essa teoria, cujo principal autor foi Alfred R. Radcliffe-Brown, foi for-
mulada devido à discordância ao evolucionismo e seus modelos teóricos e 
analíticos. 
Segundo Oliveira, Santana e Alves (2014), o estrutural-funcionalismo se 
difere do funcionalismo em relação à sua abordagem teórica e ao seu modo de 
compreender as sociedades. O estrutural-funcionalismo apresenta um modelo 
teórico e analítico a partir da análise da estrutura social, compreendendo:
[...] a estrutura como sendo as relações sociais estabelecidas na sociedade, 
onde cada unidade funcional serve como uma espécie de sustentáculo social: 
a sociedade concebida como um todo orgânico no qual as partes se interligam 
para manutenção do sistema e da estrutura, esta se relacionando diretamente 
com aquela (OLIVEIRA; SANTANA; ALVES, 2014, p. 236).
Portanto, o estrutural-funcionalismo abarca as partes de forma interligada, 
com o objetivo de manter estrutura e sistema. Contudo, apesar dessa diferença, 
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mantém a concepção orgânica de sociedade, valoriza a pesquisa de campo 
empirista e, da mesma forma que o funcionalismo, considera os conceitos da 
adaptação, da integração e da organização social. 
Diante disso, podemos atestar que o estrutural-funcionalismo e o funciona-
lismo estudam a organização social interna de cada sociedade, e explicam 
a realidade social das sociedades como esse todo orgânico onde as partes 
do sistema social se interligam para sustentar e garantir a sobrevivência ou 
continuidade do sistema (OLIVEIRA; SANTANA; ALVES, 2014, p. 238). 
O posicionamento fenomenológico 
no Serviço Social
No que se refere à fenomenologia, destaca-se o pensador alemão Edmund 
Husserl, cujos principais conceitos e princípios exercem, ainda, grande in-
fl uência no meio acadêmico.
A vertente fenomenológica surge no Serviço Social como uma importante 
parte da história da profissão em um momento em que se instalava uma crise 
global e a profissão se via fragilizada. No momento do Movimento de Ruptura 
com o Serviço Social tradicional, a fenomenologia foi proposta como uma 
corrente teórico-metodológica que embasaria a construção do arcabouço 
teórico da profissão.
Para contextualizar o aparecimento da vertente fenomenológica no Ser-
viço Social, é necessário entender o que estava acontecendo com a categoria 
profissional, que se encontrava em um período histórico, em 1965, com a 
realização do I Seminário Regional Latino-Americano de Serviço Social, e 
que foi até 1985, produzindo profundas transformações na sociedade brasileira 
e, consequentemente, no Serviço Social, pois não há descolamentos.
O Movimento de Reconceituação surge com a intenção de ruptura com o 
Serviço Social tradicional. O país estava em plena ditadura militar, que tinha 
força máxima após o golpe de 1964. O Serviço Social, com movimentos sociais 
e sindicais, além das forças conjuntas com as universidades e os movimentos 
estudantis, promoveu e participou de importantes eventos e mobilizações pela 
redemocratização e, também, pela ruptura da profissão com o conservadorismo.
Os seminários e debates da categoria profissional tiveram como produto os 
documentos de Araxá, em 1967, de Teresópolis, em 1970, e Sumaré, no ano de 
1980. Em cada um deles se vivia um momento histórico diferente, com suas 
particularidades. Em alguns desses momentos, a ditadura militar amorteceu 
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as transformações sociais e profissionais e, em outros, foi possível a realização 
dos debates necessários à reconceituação.
Com a efetivação do Movimento de Reconceituação, foi alcançada a 
articulação de uma nova concepção da unidade latino-americana; a expli-
cação da dimensão política da ação profissional; a interlocução crítica com 
as ciências sociais; e a inauguração do pluralismo profissional (PAULO 
NETTO, 2005). 
Houve três vertentes principais que perpassaram o Movimento de Re-
conceituação: a modernizadora, a fenomenológica e a marxista. Essas 
correntes teóricas foram identificadas em 1970 e apresentavam caracte-
rísticas bem distintas.
Após o Golpe de 1964, houve grande repressão, especialmente a partir do Ato Ins-
titucional Nº 5, no ano de 1968, dificultando o avanço dos debates do Movimento 
de Reconceituação. Os Atos Institucionais foram instrumentos legislativos criados 
pelos militares com o objetivo de legalizar as suas ações políticas mesmo que fossemcontrárias à Constituição. Foram decretados, de 1964 a 1978, 16 Atos Institucionais e 
complementares que desfiguraram Constituição de 1946 de 1964 a 1978. Para você 
ter uma ideia, o AI-1, de abril de 1964, transferia o poder político e administrativo do 
país aos militares e suspendia, por dez anos, os direitos civis e políticos dos brasileiros. 
Mesmo assim, no bojo do Movimento, ocorre o rompimento da neutralidade, o 
rompimento com o Serviço Social positivista, neotomista e funcionalista. Além disso, 
pretendia-se efetivar a revisão ética, teórica, metodológica, prática e política do Serviço 
Social, com o comprometimento de um novo projeto profissional e político. 
A primeira vertente, a conservação modernizadora, tinha matriz positivista, 
características tecnicistas, funcionalistas, estruturalistas e sistêmicas – essa 
vertente é sintetizada nos documentos de Araxá e Teresópolis. A segunda 
vertente, a fenomenologia, surge para o Serviço Social como uma metodologia 
dialógica, desenvolvimentista e reformista. Por fim, a vertente de renovação 
da profissão ou marxista compreende a sociedade de classes.
Edmond Husserl (1853 -1938) foi um importante matemático e filósofo 
alemão do século XIX. Não foi o único autor que utilizou a fenomenologia, 
mas produziu conhecimento de forma diferente dos demais autores dessa 
corrente teórica. Husserl escreveu sua teoria de forma rigorosa e radical ao 
pensar como as coisas no mudo se apresentam na mente humana, exercendo 
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grande influência no meio acadêmico. Por isso, a sua fenomenologia foi uma 
das principais correntes teóricas do século XX.
Fenomenologia vem da palavra fenômeno, que significa aquilo que mostra 
pelos sentidos, e da palavra logia, que significa explicação, estudo ou reflexão. 
Portanto, a fenomenologia é um conjunto de fenômenos que se manifestam por 
meio do tempo ou do espaço; é também compreendida como um movimento 
filosófico e método que estuda a essência das coisas e a forma como elas são 
percebidas no mundo.
Husserl criticava a psicologia experimental, pois não aceitava o empirismo; 
afirmava que a empiria não produzia o rigor necessário à sua pesquisa filosó-
fica. A proposta de Husserl era a análise compreensiva da consciência, pois 
defendia a ideia de que todas as vivências se dão pela mente. É daí que nasce a 
frase ligada ao conceito de intencionalidade: “Toda consciência é consciência 
de algo”. A partir disso, foi desenvolvido por Husserl o Método de Redução 
Fenomenológica, cujo objetivo era o de “vasculhar” o fenômeno da mente. 
Dessa forma, utiliza-se da expressão grega Epoché para designar a redução 
fenomenológica, colocando entre parênteses ou suspendendo o fenômeno para 
a sua compreensão (MEDEIROS, 2018). É a suspensão momentânea da atitude 
natural com a qual nos relacionamos com as coisas no mundo, deixando de 
lado os preconceitos, teorias e definições utilizadas para dar sentido às coisas. 
Assim, os objetos da fenomenologia são dados absolutos entendidos por 
intuição pura, com o propósito de descobrir as estruturas essenciais dos atos 
chamados de noesis (aspecto subjetivo da vivência – perceber, lembrar, ima-
ginar) e as entidades objetivas que correspondem a essas estruturas, chamado 
de noema (aspecto objetivo da vivência) (MEDEIROS, 2018).
Portanto, para o Serviço Social, trata-se de uma corrente de pensamento 
a-histórica, pois não se interessa em colocar a historicidade dos fenômenos; 
conservadora, por não introduzir transformações na realidade, estudando a 
realidade, somente com o objetivo de descrevê-la ou apresentá-la tal como 
é; e, ainda, não aborda os conflitos de classes, as mudanças estruturais e 
conjunturais (LIMA; COSTA, 2016).
Durante o Movimento de Reconceituação do serviço Social, em meados dos 
anos 1970, houve a aproximação de parte dos assistentes sociais da época com 
a fenomenologia, que passou a influenciar “sobremaneira no Serviço Social 
Brasileiro por meio da Pontífica Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, 
que trazia, com Ana Augusta Almeida, uma postura fenomenológica”. “No 
documento de Sumaré, resultado do III Seminário de Teorização do Serviço 
Social Brasileiro, é explicitada pela primeira vez a presença da fenomenologia 
no Serviço Social brasileiro” (LIMA; COSTA, 2016, p. 6).
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Os autores ainda afirmam que a crítica do Serviço Social em relação à feno-
menologia é a tendência dessa corrente teórica à psicologização da intervenção 
social, pois aborda “a visão existencial no trabalho social” e a teoria psicossocial. 
Empregar a fenomenologia no Serviço Social por meio da intervenção profis-
sional ou do “tratamento social” é resgatar o processo de ajuda psicossocial.
Portanto, a categoria profissional compreende que a fenomenologia tem 
um viés conservador e psicologizante da profissão não sendo o objetivo do 
Movimento de Reconceituação. Buscava-se, na época, romper com a visão 
tradicional, positivista e conservadora do Serviço Social, e a fenomenologia 
não proporcionava essa ruptura. 
O posicionamento marxista no Serviço Social
A teoria dialético crítica de Karl Marx surge no Serviço Social nos anos 1960 e 
1970 com uma pequena parcela da categoria profi ssional que estava envolvida 
ativamente na militância política e participando das manifestações contra a 
ordem burguesa naquele período histórico. Sob a infl uência do Movimento de 
Reconceituação e da militância cívico-política, o Serviço Social se aproxima 
do marxismo e inicia as experiências práticas voltadas ao compromisso com 
as classes populares (BARROCO, 2005, p. 141).
Karl Marx (1818-1893) foi um revolucionário idealista de uma sociedade 
de seres humanos realmente livres obtida por meio da superação da sociedade 
capitalista. Estudava profundamente a sociedade burguesa e a lógica de explo-
ração do capitalismo e defendia o enfrentamento, por meio da solidariedade, 
da miséria e das desigualdades sociais produzidas pelo sistema capitalista. 
A crítica marxista ao capitalismo se referia, também, à sua impossibilidade 
de produzir ou proporcionar aos indivíduos sociais a própria emancipação.
Marx analisou e apresentou as características basilares do capitalismo, cri-
ticando sua natureza de exploração, de alienação e de transitoriedade histórica. 
Nesse sentido, compreendeu a sociedade dividida em classes, de modo que 
só haveria progresso a partir da luta de classes, pois o conflito entre a classe 
trabalhadora e a classe dominante é inerente ao capitalismo.
A investigação sob o enfoque do método da crítica da economia política 
proposto por Marx consiste, portanto, em situar e analisar os fenômenos 
sociais em seu complexo e contraditório processo de produção e reprodução, 
determinando as múltiplas causas na perspectiva de totalidade como recurso 
heurístico, e inseridos na totalidade concreta: a sociedade burguesa (BOS-
CHETTI; BEHRING, 2006, p. 38).
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O método utilizado por Marx é o materialismo dialético, que parte da análise 
da realidade, com a qual tudo se desenvolve e se transforma: “É contemplado por 
três leis básicas: lei da unidade e dos contrários; a lei da transição do quantitativo 
para o qualitativo e a lei da negação da negação” (LIMA; COSTA, 2016, p. 7). 
Assim, essa corrente filosófica contribuiu imensamente para o entendimento 
de que a sociedade tem um movimento históricoe para que o Serviço Social 
desenvolvesse sua “[...] dimensão crítica e política, não mais considerando a 
sociedade como um todo harmônico” (LIMA; COSTA, 2016, p. 7). 
Essa corrente teórica foi fundamental para que os profissionais come-
çassem a atingir seu objetivo de ruptura com o Serviço Social tradicional, 
pois foi o princípio de muitos questionamentos sobre a atuação profissional e 
sobre a quem estavam realmente servindo com a sua prática. Tratou-se então, 
da primeira aproximação do Serviço Social com a classe trabalhadora, da 
participação de profissionais nas lutas da classe trabalhadora e, também, nas 
lutas da classe burguesa, desencadeando a compreensão de que a sociedade 
não é harmônica, “[...] tal como se preconizava no neotomismo, positivismo 
e mesmo na fenomenologia” (LIMA; COSTA, 2016, p. 7).
Nesse contexto, o Serviço Social compreende a Questão Social como seu 
objeto de intervenção, e que é produzido e reproduzido pela relação capital/
trabalho. Passa-se a ter claro, no interior da categoria profissional, que as 
expressões da Questão Social são produtos, portanto, multifatores enraizados 
na relação de exploração e alienação da classe trabalhadora. 
A corrente teórica marxista não foi a decisão imediata e homogênea 
da categoria profissional: foram necessários amplos debates, associados às 
transformações societárias, ao consequente processo de redemocratização 
do país e ao estudo aprofundado sobre a teoria crítica de Marx para que o 
Serviço Social seguisse hegemonicamente essa linha teórica e rompesse com 
o conservadorismo.
No final da década de 1970, durante o governo do presidente Ernerto Geisel, já eram 
sinalizadas possibilidades de mudanças no rumo da política e da economia brasileiras. 
Contudo, é importante lembrarmos que, mesmo com algumas mudanças, ainda nos anos 
1980 o Brasil vivia em um regime político e uma ditadura militar. Tivemos o movimento 
“Diretas Já”, que lutava por eleições diretas para a Presidência da República, gerando 
grande pressão para a efetivação das transformações societárias que se seguiriam. A luta 
pela redemocratização estava fortalecida e a ditadura militar tinha seus dias contados.
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BARROCO, M. L. S. Ética e Serviço Social: fundamentos ontológicos. 3. ed. São Paulo: 
Cotez, 2005.
BATTINI, O.; SILVA, L. M. M. R. Notas para a reconstrução da história do Serviço Social 
na Região Sul I. Serviço Social e Sociedade, n. 95, p.109-198, 2008.
BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 
2006. (Coleção Biblioteca Básica de Serviço Social).
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