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CARDIOGERIATRIA

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TUTORIA UC XVII 
CARDIOGERIATRIA 
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA NO IDOSO 
A insuficiência cardíaca (IC) é definida pela III Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica como uma síndrome 
clínica complexa de caráter sistêmico, definida como disfunção cardíaca que ocasiona inadequado suprimento 
sanguíneo para atender necessidades metabólicas tissulares, na presença de retorno venoso normal, ou fazê-lo 
somente com elevadas pressões de enchimento. 
Classificação da Insuficiência Cardíaca 
Estágio A Risco de desenvolver IC, mas ainda sem doença estrutural perceptível e sem sintomas atribuíveis à IC. 
Estágio B Pacientes que adquiriram lesão estrutural cardíaca, mas ainda sem sintomas atribuíveis à IC. 
Estágio C Pacientes com lesão estrutural cardíaca e sintomas atuais ou pregressos de IC. 
Estágio D Pacientes com sintomas refratários ao tratamento. 
A doença em idosos tem particularidades, sendo a principal etiologia a hipertensão arterial frequentemente 
associada à comorbidades e a presença de insuficiência cardíaca com função sistólica preservada. Além da 
prevalência elevada, a IC está associada à queda na qualidade de vida e aumento da mortalidade. Em relação às 
comorbidades, é importante destacar: disfunção renal, depressão, diabetes, disfunção cognitiva, incontinência 
urinária, hipotensão postural, DPOC e fibrilação atrial. Estas doenças atuam piorando o prognóstico, prejudicando a 
aderência ao tratamento e tornam a terapêutica da IC complexa nesta faixa etária. 
FISIOPATOLOGIA 
Alterações cardiovasculares próprias do envelhecimento 
Enrijecimento arterial 
Acontece pela deposição aumentada de colágeno e de cálcio, além da degradação 
da elastina que ocorre através da elastase. Essa rigidez arterial leva a uma redução 
da complacência e conduz a um aumento da pressão arterial sistólica. 
Hipertrofia miocárdica 
Ocorre um remodelamento estrutural cardiovascular devido ao espessamento 
das camadas íntima e média vascular para suportar o remodelamento 
cardiovascular. 
Diminuição da complacência 
ventricular 
Essa diminuição, em conjunto com o espessamento da parede do VE aumenta 
resistência à ejeção pelo ventrículo esquerdo. 
Menor resposta a estimulação 
β-adrenérgica 
Conduz a um decréscimo da FC, implicando na redução de 25% do DC. 
Comprometimento da função 
endotelial 
O endotélio regula o tônus arterial por meio da liberação especial do óxido nítrico 
(NO). O envelhecimento acarreta uma diminuição da biodisponibilidade do NO, o 
que proporciona uma diminuição da vasodilatação e acaba levando a uma 
disfunção endotelial. 
Diminuição da resposta 
barorreceptora 
Essa diminuição, diante de alterações abruptas do fluxo cerebral em idosos, faz 
com que eles apresentem menor capacidade de ajustar rapidamente FC, PA e DC. 
Outros 
Diminuição da função do nó sinusal, redução da reserva cardiovascular e menor 
produção de ATP pelos cardiomiócito. 
É esperado que os idosos tenham vasoconstrição mais intensa, menores elevações na frequência cardíaca e níveis 
mais elevados de norepinefrina, endotelina e peptídeo natriurético B. Desse modo, existe uma série de alterações do 
sistema nervoso simpático, sistema renina-angiotensina-aldosterona, arginina-vasopressina, nas citosinas 
inflamatórias, nos peptídeos natriuréticos, na produção de óxido nítrico, bradicininas, prostaglandinas e endotelina. 
DIAGNÓSTICO 
Baseado na anamnese e no exame físico: presença de turgescência jugular, estertores crepitantes e, em situações 
extremas, edema agudo de pulmão, cardiomegalia e presença de B3. Menos importante são o edema de tornozelo, 
hepatomegalia, derrame pleural, tosse noturna e taquicardia. 
Exames complementares: raio X (raio X de tórax é útil para evidenciar cardiomegalia), ECG (inespecífico, mas 
geralmente alterado, com presença de bloqueios, sobrecargas ou isquemia), ecodopplercardiograma (muito útil, pois 
permite avaliar função ventricular, cardiopatia estrutural e valvopatias) e peptídeo natriurético tipo B (hormônio cuja 
elevação está associada a altas taxas de sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de disfunção sistólica. Em 
relação à disfunção diastólica, a baixa especificidade limita seu uso). 
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Para o manejo adequado é fundamental a classificação da IC em sistólica ou diastólica (IC com função ventricular 
preservada), pois embora associadas, o tratamento difere. Alguns dados podem ser úteis para diferenciar as duas 
formas de IC: cardiomegalia, presença de B3, disfunção valvar, edema, hipofonese de bulhas e distensão jugular são 
mais frequentes na disfunção sistólica. 
Em seguida, feito diagnóstico de IC e de sua forma com função ventricular normal ou diminuída, o desafio é detectar 
a causa da IC, assim como os fatores desencadeantes de sua diz compensação. A pouca adesão ao tratamento, 
presença de infecção ou isquemia miocárdica, ingestão excessiva de líquidos ou sal, anemia, iatrogenia ou mesmo 
variações da PA são frequentes fatores de descompensação. 
TRATAMENTO 
PACIENTES COM DISFUNÇÃO SISTÓLICA DESCOMPENSADA 
Para pacientes com disfunção sistólica descompensada, inicialmente, deve ser corrigido o fator desencadeante e 
introduzida oxigenoterapia. 
Medidas não farmacológicas: 
➔ Dieta: avaliar de forma individualizada, pois tanto o quadro de obesidade quanto a desnutrição (caquexia 
cardíaca) podem aumentar o trabalho cardíaco. Restringir o sódio a 4g por dia. A restrição hídrica é recomendada 
somente nos casos com níveis de sódio < 130mEq/l. 
➔ Atividade física: o condicionamento físico evita a imobilidade e a perda funcional no idoso. A recomendação de 
realizar caminhadas de 4 a 5 vezes por semana pode ser uma medida de fácil execução. 
➔ Vacinação: previne as infecções por influenza e pneumococo. 
Medidas farmacológicas: 
➔ Diurético de alça (furosemida): adm de acordo com a intensidade do quadro clínico. Lembrando que o idoso é 
mais suscetível à depleção de volume, pois já tem redução da água corpórea total e do volume plasmático. 
➔ Digital (digoxina): por via intravenosa pode ser útil para pacientes com FC elevada, principalmente para os 
pacientes com fibrilação atrial. Obs.: o risco de intoxicação é maior devido à menor resposta inotrópica positiva, 
maior sensibilidade do miocárdio ao fármaco e maior prevalência de insuficiência renal. 
➔ IECA ou BRA: deve ser iniciado em pacientes com pressão arterial normal ou elevada, salvo em situações 
específicas (intolerância, hiperpotassemia ou insuficiência renal), pois fará parte do tratamento em longo prazo 
da IC. 
➔ Espironolactona: está indicado para pacientes com fração de ejeção inferior a 35% em virtude dos benefícios na 
redução da mortalidade (independentemente da faixa etária) a médio e longo prazo, respeitando-se 
contraindicações específicas (intolerância, hiperpotassemia ou insuficiência renal). 
➔ Betabloqueadores: vários estudos mostram que devem ser introduzidos somente quando o paciente estiver com 
o quadro estabilizado. Todavia, se o paciente já estiver usando o betabloqueador, a dose poderá ser reduzida se 
o paciente estiver descompensado, não sendo indicada a sua suspensão, pois esta conduta pode aumentar a 
mortalidade. 
PACIENTE COM IC DIASTÓLICA OU COM FUNÇÃO SISTÓLICA PRESERVADA 
É muito prevalente no idoso e está mais associada com morbidade do que com mortalidade. A terapêutica 
farmacológica melhora a capacidade ao exercício, porém não interfere diretamente com a mortalidade em pacientes 
com e IC diastólica. 
O uso de antagonistas do canal de cálcio e betabloqueadores, desde que respeitadas as suas contraindicações, pode 
reduzir a dispneia. O uso de medicamentos que atuam sobre a angiotensina pode auxiliar na reversão da hipertrofia 
ventricular esquerda e auxiliar no médio e longo prazo. A aldosterona pode ser útil na diminuição de hospitalizações. 
O uso de valsartana + sacubitril é alternativa ao uso de enalapril, nos casos que ainda persistem sintomáticos. Sacubitrilé inibidor dos receptores neprilisina e angiotensina (ARNI). 
 
 
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DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA ESTÁVEL 
A idade é o principal fator de risco para DAC e a sua prevalência 
aumenta de maneira acentuada com o avanço da idade. O 
mecanismo fisiopatológico básico da DAC é uma desproporção entre 
fluxo coronário e oferta de oxigênio, de um lado, e entre demandas 
metabólicas do miocárdio e consumo de oxigênio, de outro. Esse 
desequilíbrio entre suprimento e demanda irá produzir a isquemia 
miocárdica. 
As manifestações clínicas da DAC abrangem a isquemia silenciosa, 
angina estável, angina instável, IAM e morte súbita. Desses, a DAC estável inclui a angina estável de esforço clássica, 
equivalentes anginosos (dispneia, fadiga, cansaço e até mesmo eructações) e isquemia silenciosa . 
FATORES DE RISCO PARA DAC 
A idade é o principal fator de risco do paciente para a DAC. A incidência das doenças subclínicas, doença 
aterosclerótica não manifesta, também aumenta com a idade. 
A morbimortalidade da DAC é maior no idoso devido à doença coronária ser mais extensa e mais grave (aumento da 
prevalência de lesões calcificadas, lesões tortuosas, lesões ostiais, doença multiarterial e doença da artéria 
coronária esquerda) e à função ventricular esquerda ser mais comprometida. As alterações anatômicas e funcionais 
do envelhecimento ocasionam diminuição da reserva cardíaca. 
O tratamento farmacológico do idoso também é complexo devido ao aumento do risco dos efeitos colaterais e 
reações de várias medicações; à disfunção autonômica e consequente hipotensão ortostática e ao fato de a função 
renal e hepática estarem frequentemente diminuídas. Ocorre também um aumento do risco de interação de 
fármacos com o uso concomitante de vários medicamentos, devido a várias comorbidades . A morbidade e a 
mortalidade associadas à intervenção coronária percutânea e à cirurgia de revascularização do miocárdio 
aumentam progressivamente com a idade. 
O processo de envelhecimento aumenta a vulnerabilidade do idoso em virtude das diferenças das características 
clínicas observadas com o avanço da idade. O paciente octogenário é mais frágil, tem maior grau de incapacidade, 
disfunção cognitiva e maior número de comorbidades. 
CLASSIFICAÇÃO DA DOR TORÁCICA 
Diversas classificações já foram propostas para a angina; a mais utilizada é a que divide a dor torácica em 3 grupos: 
típica, atípica e não cardíaca. 
Angina típica de esforço: típica consiste em uma dor retroesternal em aperto ou queimação, que dura apenas alguns 
minutos, piora com esforço ou estresse emocional. Em idosos a dor precordial típica ocorre em apenas metade dos 
pacientes. Pode ser menos intensa, ou não ocorrer, devido à atividade física limitada. Dispneia, fadiga e fraqueza 
podem ser os sintomas predominantes no paciente idoso. É um importante marcador de DAC e causa de 
incapacidade. Metade dos pacientes que apresentam SCA tem como antecedente história de angina estável. O modelo 
do desequilíbrio entre o consumo e a oferta de oxigênio aplica-se de forma exata à angina estável clássica precipitada 
pelo aumento de consumo de oxigênio em presença de oferta limitada por lesões ateroscleróticas fixas. O exame 
físico no paciente com AE é frequentemente normal, mas é importante avaliar se há comorbidades como hipertensão 
arterial, DPOC, e evidências de doença aterosclerótica não coronariana, como diminuição dos pulsos periféricos, 
sopros carotídeos ou abdominais e aneurisma de aorta abdominal. São muito frequentes sopros cardíacos nos 
pacientes idosos. A ausculta cardíaca, particularmente durante um episódio de dor no peito, pode revelar uma terceira 
ou quarta bulha ou um sopro de regurgitação mitral, devido a disfunção do músculo papilar durante a isquemia 
miocárdica. Estertores nas bases pulmonares podem ser indicativos de insuficiência cardíaca. 
“Equivalentes anginosos”: a isquemia miocárdica pode apresentar-se sob a forma de dispneia (devido a aumento 
transitório na pressão diastólica final de ventrículo esquerdo, causada por isquemia sobreposta à complacência 
ventricular diminuída pelo processo de envelhecimento); edema agudo de pulmão; arritmia cardíaca (palpitação, 
síncope). 
Dificuldades diagnósticas na doença coronária 
crônica: sintomas atípicos (dor torácica menos 
frequente, dispneia ou fadiga mais comum, sintomas 
gastrintestinais mais frequentes, confusão mental, 
tontura e outros sintomas neurológicos) e 
eletrocardiograma não diagnóstico devido a 
alterações na condução intraventricular, hipertrofia 
ventricular esquerda, anormalidades eletrolíticas, 
ação de fármacos, etc. 
 
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Angina atípica: pode se manifestar com dor nos ombros ou nas costas (confundindo com úlcera péptica), dor pós-
prandial ou noturna (sugerindo hérnia de hiato ou refluxo esofágico), tornando necessário o diagnóstico diferencial 
com refluxo e espasmo do esôfago, úlcera péptica, colelitíase, doenças musculoesqueléticas e estados de ansiedade. 
Quadro infeccioso com febre, anemia por hemorragias gastrintestinais não diagnosticadas, piora de DPOC, 
hipertireoidismo, taquiarritmia sustentada, níveis pressóricos muito elevados, além de doenças valvares como a 
estenose ártica e a insuficiência cardíaca podem desencadear ou agravar o quadro clínico. 
Obs.: é fundamental a identificação de pacientes sem sintomas para se instituírem medidas de tratamento e 
prevenção secundária, pois apresentam risco de IAM e morte aumentados. Os idosos com isquemia silenciosa têm a 
probabilidade de apresentar o dobro de eventos coronários quando comparados com os idosos sem isquemia 
silenciosa. Alguns pacientes podem apresentar IAM sem sintomas ou sintomas atípicos que não foram reconhecidos 
pelo paciente e pelo médico; nestes pacientes a incidência de novos eventos coronarianos é semelhante aos pacientes 
que tiveram o IAM diagnosticado. 
EXAMES COMPLEMENTARES 
Avaliação laboratorial: 
- Hemograma, lipidograma, glicemia, hemoglobina glicosilada e clearance de creatinina; 
- Marcadores de lesão miocárdica e avaliação da função tireoidianas quando houver suspeita clínica; 
- Provas de função hepática antes e após o início da terapêutica com estatina; 
- Creatinofosfoquinase (CPK) nos pacientes em uso de estatinas ou em pacientes com sintomas sugestivos de 
miopatia; 
- Peptídeo natriurético cerebral (BNP) ou pró-BNP quando houver suspeita de insuficiência cardíaca; 
- Marcadores inflamatórios são úteis em conjunto com os dados clínicos. 
Eletrocardiograma (ECG): 
- Exame mais utilizado para diagnosticar e confirmar doença cardíaca; 
- O ECG de repouso pode fornecer informações prognósticos, pois em pacientes portadores de AE, a presença de 
alterações do ST-T geralmente se correlaciona com a gravidade da cardiopatia e com pior prognóstico; 
- O bloqueio completo do ramo esquerdo (BCRE) e o bloqueio do fascículo ântero-superior esquerdo, também 
conferem prognóstico adverso, já que se correlacionam com disfunção ventricular esquerda e doença multiarterial. 
Ecodopplercardiograma transtorácico de repouso (ETT): 
- Deve ser realizado em todos os pacientes com sintomas de angina na primeira consulta. Mas não há indicação de 
repetir se não houver mudança do quadro clínico; 
- Importante para mostrar a repercussão do comprometimento das artérias coronárias no desempenho do coração, 
através da análise das suas dimensões e das funções ventriculares sistólica e diastólica; 
- As anormalidades da movimentação parietal do VE permitem o diagnóstico de isquemia transitória aguda ou crônica 
e de anormalidades resultantes de fibrose miocárdica de qualquer natureza; 
- A fração de ejeção (FE) é a medida mais utilizada para avaliar a função ventricular esquerda, importante parâmetro 
na estratificação de risco. 
Testes funcionais não invasivos: 
- Teste de esforço (TE) é o exame de escolha para o diagnóstico em idosos com probabilidade intermediáriade DAC, 
a não ser que o paciente não possa se exercitar; nesse caso é substituído por exames de imagem em que a indução da 
isquemia é provocada por fármacos. 
- A prevalência de falso-positivo é elevada, por aumento das patologias que aumentam a complacência ventricular 
esquerda. 
- Para se obterem as informações necessárias é preciso atingir a frequência cardíaca submáxima de 85% com ECG 
interpretável, e o paciente ser capaz de realizar o exame, o que muitas vezes não ocorre com o idoso. 
Testes funcionais não invasivos associados a imagem: 
- Podem ser com estresse de esforço e com estresse farmacológico; 
- Ex.: ecocardiografia com estresse de esforço, ecocardiografia com estresse farmacológico, cintilografia do miocárdio 
com estresse farmacológico e RM do coração com estresse farmacológico. 
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Exames para avaliar a anatomia coronariana: 
- Exames não invasivos: angiotomografia computadorizada de artérias coronárias; 
- Exames invasivos: angiografia coronária invasiva. 
TRATAMENTO MÉDICO OTIMIZADO DA DAC ESTÁVEL 
Os dois principais são objetivos são reduzir os sintomas e a ocorrência da isquemia miocárdica, propiciando melhor 
qualidade de vida, e aumentar a expectativa de vida, prevenindo os eventos cardiovasculares (angina instável, IAM e 
morte súbita). Isso é feito por meio da educação e orientação do paciente, estilo de vida saudável, tratamento 
médico otimizado (TMO) e revascularização do miocárdio (cirurgia de revascularização do miocárdio, CRM ou 
intervenção coronária percutânea, ICP). 
Tratamento dos fatores de risco e 
modificação do estilo de vida: o 
sedentarismo é um importante fator 
de risco para DAC em idosos e pode 
ser definido por atividades com 
duração inferior a 150 minutos por 
semana. As diretrizes atuais 
recomendam que os valores do LDL-
colesterol devem estar abaixo de 100 
mg/dl em pacientes com AE. A mais 
recente Diretriz do National Colesterol Education Program Directive (NCEP-ATP III) recomenda como alvo valores <70 
mg/dl em pacientes de alto risco (diabéticos, doença multiarterial e múltiplos fatores de risco) . A dislipidemia 
combinada (aumento de LDL-C e triglicerídeos) associa-se ao risco de DAC em uma proporção maior do que níveis 
altos de LDL-C ou triglicerídeos, isoladamente. O tratamento farmacológico pode ser realizado com fibratos, niacina 
ou estéticas. Pacientes com sintomas inaceitáveis e isquemia extensa devem ser encaminhados para o tratamento 
invasivo. Pacientes assintomáticos ou com sintomas leves, com pequena isquemia, podem ser tratados somente com 
o TMO. 
Tratamento farmacológico para reduzir os sintomas e a isquemia miocárdica: as 3 classes de fármacos antianginosos 
tradicionais diminuem os sintomas de angina, fazem a redução do consumo de oxigênio pelo miocárdio (redução da 
frequência cardíaca, pós-carga e pré-carga) evitando que o limiar do aparecimento dos sintomas seja atingido. No 
entanto, nenhum desses fármacos demonstrou modificar a evolução da doença, diminuindo o risco de eventos 
cardiovasculares e mortalidade. Os BB são os medicamentos de primeira escolha. Outros são antagonistas dos canais 
de cálcio e nitratos. 
Tratamento farmacológico para reduzir eventos cardiovasculares: podem ser usadas drogas antiplaquetárias (ácido 
acetilsalicílico na dose diária de 75 a 325 mg reduz a morbidade e mortalidade em 33% em pacientes com DAC), IECA 
(devem ser prescritos de rotina em todos os pacientes com DAC estável) e estatinas (diminuem a taxa de eventos 
cardiovasculares e a mortalidade). 
Tratamento das comorbidades que podem precipitar ou agravar a isquemia do miocárdio: revascularização do 
miocárdio. A morbidade e a mortalidade associadas tanto à ICP como à CRM aumentam progressivamente com a 
idade. Na maioria dos casos pode se optar pela CRM ou pela ICP nos idosos. A ICP é menos invasiva e apresenta 
mortalidade imediata menor. Dependendo da expectativa de vida, das comorbidades e da preferência do paciente 
sobre os riscos a curto e médio prazos, a ICP pode ser a estratégia escolhida mesmo para pacientes com características 
anatômicas em que a sobrevida com a CRM é significativamente maior a longo prazo. 
 
 
 
 
 
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FIBRILAÇÃO ATRIAL 
A fibrilação atrial (FA) é a arritmia mais prevalente no idoso. As causas que podem levar a ela são classificadas em não 
cardíacas (doença pulmonar, embolia pulmonar, DM, hipertireoidismo, ingestão aguda/crônica de álcool, 
desidratação e distúrbios eletrolíticos), iatrogênicas (cateteres intracardíacos, pós-operatórios, beta-agonistas, anti-
histamínicos e medicamentos para resfriados, anestésicos locais, bebidas com cafeína, tabagismo e drogas ilícitas) e 
cardíacas (miocardiopatias, valvulopatias, doença coronária, hipertensão arterial e pericardites). 
Pode ser abordada sob diferentes pontos de vista: doença elétrica (perda da homogeneidade elétrica dos átrios devido 
a modificações anatômicas, metabólicas, autonómicas e inflamatórias de forma associada ou isolada), doença 
hemodinâmica (relacionada ao remodelamento atrial secundário as doenças do miocárdio e das válvulas), doença 
genética (descrição de genótipos associados à FA), doença inflamatória(pode haver infiltrados inflamatórios atriais e 
aumento de PCR, associados a chance de reversão a ritmo sinusal) ou doença neuro-humoral (há constatação de que 
IECA pode prevenir a FA em pacientes cardiopatas). 
Os três aspectos mais importantes da FA são: alta prevalência em idosos (a partir de 50 anos a prevalência de FA 
dobra a cada década), critério prognóstico (aumento da mortalidade) e risco para eventos tromboembólicos, sendo 
o AVE o mais grave. Obs.: ainda pode ser preditor de demência em idosos. 
CLASSIFICAÇÃO 
Primeiro episódio detectado quando, sintomático ou não, autolimitado ou não, reconhecendo-se que pode não haver 
certeza da duração da arritmia assim como se é ou não o primeiro episódio. Se o paciente tem um segundo ou outros 
episódios ela é dita recorrente, se reverte espontaneamente é definido como paroxística, geralmente com duração 
inferior a sete dias e se for sustentada é dita persistente, de duração superior a sete dias. Nesta última situação, isto 
é, se persistente, mas revertida através de métodos farmacológicos ou elétricos não muda sua designação. 
A FA persistente pode ser a primeira manifestação da FA ou a evolução de vários episódios prévios de FA paroxística. 
No caso de manutenção do ritmo a FA é dita permanente quando então a reversão espontânea, farmacológica ou 
elétrica é menos provável. A classificação é apenas usada para situações em que não exista uma causa reversível para 
FA (enfarte agudo do miocárdio, embolia pulmonar, hipertireoidismo, alcoolismo). 
TRATAMENTO 
CARDIOVERSÃO 
Em pacientes com FA aguda em geral é necessária uma tentativa de reversão a ritmo sinusal através do uso de 
fármacos antiarrítmicos, propafenona ou amiodarona ou através da cardioversão elétrica . Em pacientes com 
fibrilação atrial sintomática com distúrbio hemodinâmico ou dor precordial devido alta frequência ventricular a 
escolha é sempre a cardioversão elétrica. Estas recomendações são para doentes com FA de até 48 horas de duração. 
Para FA com duração maior recomenda-se anticoagulação prévia por trinta dias com INR entre 2 e 3 e depois, sim 
cardioverter. Isto se prende a necessidade de se prevenir eventos embólicos na reversão para ritmo sinusal. Em 
pacientes com fibrilação atrial persistente ou permanente fica a conduta individualizada de reversão para ritmo sinusal 
ou manutenção da FA com frequência ventricular controlada. A reversão deve obedecer às normas acima citadas para 
FA com duração > 48 horas. 
O controle de frequência ventricular pode ser feito com betabloqueadores associado ou não a digitálicos ou 
bloqueadores do canal de cálcio não di-idropiridínicos, diltiazem ou verapamil. Em situações nas quais não se 
consegue controlar a frequênciacom fármacos, indica-se a ablação do nó atrioventricular e implante de marca-passo 
ventricular. Vários estudos mostraram que a sobrevida é a mesma para pacientes revertidos a ritmo sinusal ou para 
pacientes com controle de frequência ventricular, porém os fatores prognósticos determinantes são a manutenção 
đa anticoagulação e reversão a ritmo sinusal como fatores de sobrevida e uso de antiarrítmicos ou digital como 
preditores de mortalidade. 
 
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ANTICOAGULAÇÃO 
O anticoagulante clássico é a warfarina que deve ser usado 
em pacientes com FA intermitente, persistente e 
permanente devido ao alto risco tromboembólico. Os 
estudos mostram que o INR deve ficar entre 2 e 3, INR mais 
baixos pouco protegem e mais altos aumentam o risco 
hemorrágico. Para pacientes que não podem usar warfarina 
uma opção é o uso de antiplaquetários, associação ácido 
acetilsalicílico e clopidrogrel. 
A FA ocorre em episódios curtos e assintomáticos mesmo 
naqueles em ritmo sinusal e em uso de antiarrítmicos daí a 
necessidade de manutenção de anticoagulação. O risco de sangramento com o uso de warfarina é avaliado pelo 
escore HAS-BLED.

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