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M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Diversidade na educação Pedro de Souza Santos Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Jeane Passos de Souza - CBR 8a/6189) Santos, Pedro de Souza Diversidade na educação / Pedro de Souza Santos. – São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2020. (Série Universitária) Bibliografia. e-ISBN 978-65-5536-097-4 (ePub/2020) e-ISBN 978-65-5536-098-1 (PDF/2020) 1. Educação 2. Educação inclusiva 3. Educação profissional : Diversidade 4. Diversidade cultural : Educação 5. Ética e moral – conceitos 6. Cidadania 7. Bullying I. Título. II. Série 20-1118t CDD - 370.114 306.43 BISAC EDU020000 EDU048000 Índice para catálogo sistemático 1. Educação : Ética e moral 370.114 2. Educação : Diversidade cultural 306.43 M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO Pedro de Souza Santos M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Administração Regional do Senac no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor do Departamento Regional Luiz Francisco de A. Salgado Superintendente Universitário e de Desenvolvimento Luiz Carlos Dourado M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Editora Senac São Paulo Conselho Editorial Luiz Francisco de A. Salgado Luiz Carlos Dourado Darcio Sayad Maia Lucila Mara Sbrana Sciotti Jeane Passos de Souza Gerente/Publisher Jeane Passos de Souza (jpassos@sp.senac.br) Coordenação Editorial/Prospecção Luís Américo Tousi Botelho (luis.tbotelho@sp.senac.br) Márcia Cavalheiro Rodrigues de Almeida (mcavalhe@sp.senac.br) Administrativo João Almeida Santos (joao.santos@sp.senac.br) Comercial Marcos Telmo da Costa (mtcosta@sp.senac.br) Acompanhamento Pedagógico Ana Cláudia Neif Designer Educacional João Francisco Correia de Souza Revisão Técnica Dinah Feijó Capelo Coordenação de Preparação e Revisão de Texto Luiza Elena Luchini Preparação de Texto Bianca Rocha Revisão de Texto Bianca Rocha Projeto Gráfico Alexandre Lemes da Silva Emília Corrêa Abreu Capa Antonio Carlos De Angelis Editoração Eletrônica Michel Iuiti Navarro Moreno Ilustrações Michel Iuiti Navarro Moreno Imagens iStock Photos E-pub Ricardo Diana Proibida a reprodução sem autorização expressa. Todos os direitos desta edição reservados à Editora Senac São Paulo Rua 24 de Maio, 208 – 3o andar Centro – CEP 01041-000 – São Paulo – SP Caixa Postal 1120 – CEP 01032-970 – São Paulo – SP Tel. (11) 2187-4450 – Fax (11) 2187-4486 E-mail: editora@sp.senac.br Home page: http://www.livrariasenac.com.br © Editora Senac São Paulo, 2020 Sumário Capítulo 1 Conceitos filosóficos de ética e moral, 7 1 A existência da ética e da filosofia moral, 8 2 Ética, direitos humanos e violência, 12 3 O direito e a moral no Brasil contemporâneo, 16 Considerações finais, 18 Referências, 19 Capítulo 2 Cidadania, 21 1 Questões da cidadania e dos costumes, 22 2 Princípios normativos das relações sociais, 27 3 Direitos humanos, 30 Considerações finais, 32 Referências, 33 Capítulo 3 Estudos culturais, 35 1 Cultura e estudos culturais: definições, conceitos e delimitações, 36 2 Principais conceitos nos estudos culturais: ideologia, hegemonia, cultura popular e identidade cultural, 41 3 Gênero e raça no olhar sobre cultura, 47 Considerações finais, 50 Referências, 51 Capítulo 4 Bullying e cyberbullying, 55 1 Definição de bullying e cyberbullying, 56 2 A importância de falar sobre bullying e cyberbullying em instituições de ensino, 61 3 A Lei no 13.185/2015 – lei de combate à intimidação sistemática (bullying), 65 Considerações finais, 67 Referências, 68 Capítulo 5 Educação inclusiva, 71 1 Origem e suas perspectivas, 72 2 Políticas públicas que norteiam a educação inclusiva no Brasil, 82 3 Educação profissional e políticas públicas, 85 Considerações finais, 88 Referências, 89 Capítulo 6 Desafios da educação inclusiva, 93 1 O espaço escolar está preparado para a inclusão?, 94 2 Formação e papel docente na inclusão educacional, 101 3 Pessoas com deficiência e a educação para o trabalho – possibilidades e dificuldades, 105 4 Saúde mental e educação profissional, 108 Considerações finais, 111 Referências, 112 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. 6 Diversidade na educação M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Capítulo 7 Educação profissional e diversidade, 119 1 A educação, a intolerância, o racismo e a xenofobia, 120 2 A educação e a cidadania, o respeito à diferença e a questão de raça e etnia, 132 3 Gênero e diversidade de orientações sexuais nas instituições educativas, 136 Considerações finais, 140 Referências, 140 Capítulo 8 Por que é importante tratar da diversidade na educação profissional?, 145 1 Relação dos temas estudados com o mundo do trabalho, 146 2 A educação profissional, 151 3 Responsabilidade social e empresarial, 154 Considerações finais, 160 Referências, 160 Sobre o autor, 165 7 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 1 Conceitos filosóficos de ética e moral A ética e a moral são conceitos que, embora difusos, guardam se- melhanças e convergem para uma convivência mais harmoniosa em sociedade. Ambos os termos são empregados recorrentemente com sinonímia, incorrendo em interpretações muitas vezes equivocadas das relações estabelecidas na convivência em sociedade. Neste capítulo, serão analisados os sentidos de ética e moral, as suas convergências e, particularmente, aquilo que os diferem. Afinal, existem muitos sentidos atribuídos à ética e à moral, e não é o objetivo deste estudo apontar qual o certo e o errado, mas, sim, compreender as conceituações que têm sido empregadas. 8 Diversidade na educação M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Em outromomento, ainda neste primeiro capítulo, as análises se vol- tarão para a compreensão da ética relacionada aos direitos humanos, assim como os seus desdobramentos com relação à violência presente nas sociedades. Por fim, a atenção se voltará para a compreensão dos conceitos de direito e moral e de que maneira esses termos têm sido empregados e compreendidos no Brasil contemporâneo. O presente capítulo desenha, em linhas gerais, os temas propostos e propõe a reflexão sobre os costumes, as normas instituídas, os valores, os direitos humanos, a violência e os valores democráticos. 1 A existência da ética e da filosofia moral As palavras “ética”, oriunda do grego “ethos” (caráter, modo de ser), e “moral”, que vem do latim “mores” (modos de vida, costume), como pode- mos perceber, têm sentidos distintos. Entretanto, devido à semelhança originária dos termos, frequentemente são utilizadas como sinônimas. Existe uma relação de mútua dependência e complementaridade en- tre esses dois conceitos. De acordo com Cortella e La Taille (2016), ética seria a busca por uma vida boa, a escolha de qual vida se pretende viver, ou seja, reflete sobre a dimensão da ação humana. Por outro lado, falar em moral seria o mesmo que falar em deveres, ou seja, como se deve agir. IMPORTANTE Em outras palavras, a ética fundamenta-se no bem viver e reflete sobre os valores desejáveis da vida em sociedade, ao passo que a moral diz respeito aos valores costumeiros instituídos por determinados grupos e se materializa como dever. Os seres humanos convivem em sociedade, e as relações estabelecidas são mediadas por códigos de conduta e princípios. 9Conceitos filosóficos de ética e moral M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. A moral orienta para ações concretas relativas ao dever e à obriga- ção. A ética, por sua vez, norteia a conduta em sociedade e diz respei- to a um conjunto de costumes e valores objetivos que se pretende, o devir, ou seja, um movimento contínuo de transformação da realidade. Justapõem-se: a ética pode ser compreendida como uma conduta indi- vidual segundo a qual cada pessoa vive de acordo com seus valores em comunidade, e a moral é o meio pelo qual se torna possível a convivên- cia de diferentes éticas em um mesmo espaço. Figura 1 – Diferença entre ética e moral ÉTICA Conjunto de valores (devir) MORAL Conjunto de regras (dever) Conforme a figura 1, muito embora tenham sentidos diferentes, a ética e a moral são complementares, uma não existe sem a outra. Ambas são fundamentais para o funcionamento de uma sociedade harmônica. 1.1 Uma ética necessária Nos últimos tempos, temos assistido na sociedade a um clamor pela ética, seja na esfera política, social, pública ou privada. Um clamor que, talvez, compreenda a ética como necessária a uma convivência huma- na satisfatória. Contudo, como alerta o professor Renato Janine Ribeiro, muitas vezes esse clamor se apresenta de forma equivocada, ao de- mandar soluções prontas, como o cumprimento das leis (TORALLES- PEREIRA; OLIVEIRA, 2003). Em outras palavras, cumprir uma lei pode 10 Diversidade na educação M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . se traduzir em uma ação de convicção e aceitação da norma instituída, ou também de temor da punição decorrente do seu descumprimento. NA PRÁTICA Por exemplo, devido à obrigatoriedade do uso do cinto de segurança no Brasil, as pessoas passaram a utilizá-lo com frequência. Por um lado, esse fato se relaciona com a concordância e aceitação da lei; por outro lado, com o receio da penalização, inclusive econômica, decorrente do não uso desse item de segurança. No exemplo, as pessoas, por moti- vações diferentes, são impelidas ao cumprimento da lei. Nesse caso, poderiam ser consideradas éticas? Ou, ainda, a ética não estaria no fato de o indivíduo usar o cinto de segurança de forma espontânea, indepen- dentemente da lei instituída? Cada país elabora e institui seus códigos de ética relacionados a diver- sos setores da sociedade. Nesse caso, é possível mencionar a ética no esporte, a ética no direito, a ética na política, a ética religiosa, a ética na educação, a ética na pesquisa e, mais recentemente, a bioética (ética apli- cada à biologia e à medicina) e a ecoética (ética ambiental), entre outras. Contudo, a ética não é um saber acabado, ela é resultado das nossas escolhas e condutas coletivas. Para Kant (2004), a ética é movida pela razão e é, ao mesmo tempo, pautada em uma ação individual e social no sentido da coletividade. Posto isso, a ética é da natureza humana, e o mundo é resultado das nossas escolhas e da sua materialização na realidade concreta. Neste ponto, cabe esclarecer que uma pessoa con- siderada como antiética não é desprovida de ética, mas seus valores se opõem aos estabelecidos na sociedade. Neste caso, a moral é a prática de uma ética. Fundamenta-se em um conjunto de valores e regras que ditam o comportamento humano com a imposição de limites à sua liberdade. Esses limites definem o que é considerado a forma correta de agir e quais comportamentos são 11Conceitos filosóficos de ética e moral M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. considerados inapropriados. Contudo, os limites impostos pela moral só serão aceitos se fizerem sentido para um projeto de vida coletivo. Vale lembrar que os sistemas morais não são imutáveis, são dinâmicos e se relacionam aos diferentes contextos históricos. Ao nascer, o ser humano já está inserido no mundo com sistemas de significados estabelecidos, ou seja, com uma moral constituída que orientará o seu comportamento em sociedade. Nesse caso, a moral que é externa ao sujeito se contrapõe com o seu grau de consciência e de escolha pessoal; depende da aceitação das normas. NA PRÁTICA A título de exemplo, em 1955, na cidade de Montgomery, capital do Alabama, nos Estados Unidos, em pleno funcionamento de uma polí- tica de segregação racial, Rosa Parks, uma mulher negra, recusou-se terminantemente a ceder o seu assento no ônibus a uma pessoa branca, conforme determinava o Código da Cidade de Montgomery de 1952. A recusa de Rosa Parks caracteriza-se como um questionamento éti- co, pois a moral estabelecida se confrontava com o bem viver. Dessa forma, o ato moral diz respeito ao cumprimento da norma. Por sua vez, uma pessoa que afronta as convenções morais é considerada imoral (CARVALHO; RAMAGEM, 2019). O ato moral é individual, mas o seu efeito, seja qual for, ressoará em toda a sociedade. Nessa perspectiva, o dever moral apresenta-se como consequência do exercício consciente da liberdade (convicção), e não pura e simplesmente pela imposição externa (convenção). O dever moral se re- laciona com os valores constituídos e o compromisso moral de cada um. A ética e a moral relacionam-se, respectivamente, às perguntas “como devo agir?” e “que vida eu quero viver?”. Diante disso, Cortella complementa que: 12 Diversidade na educação M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on dent e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . é tarefa inadiável da escola lidar com a formação moral e ética dos cidadãos, lidar com o sentido da vida, sob pena de que, primei- ro, deixemos apodrecer a cabeça – retomando a frase do padre Antonio Vieira – e, segundo, impeçamos a estruturação, a cons- trução da dignidade coletiva. (CORTELLA; LA TAILLE, 2016, p. 35) Hoje, mais que nunca, percebemos a heterogeneidade dos compor- tamentos humanos em uma velocidade cada vez mais patente, deveras uma tacocracia, em que as sociedades se encontram em meio a uma multiplicidade de valores que são muitas vezes conflitantes. PARA SABER MAIS Tacocracia, do grego “tákhos”, é a ditadura do rápido, ou seja, a veloci- dade é o principal critério de escolha daquilo que são consideradas as melhores coisas. Por sua vez, o emprego desse termo possibilita uma reflexão sobre a forma de vida atual. Diante desse quadro, a educação é chamada a desempenhar um pa- pel fundamental na formação ética e moral dos cidadãos, promovendo a reflexão sobre a realidade de um mundo repleto de ambiguidades. 2 Ética, direitos humanos e violência Os direitos humanos são direitos fundamentais que se estendem a todos os seres humanos, independentemente de cor, etnia, religião, sexo ou qualquer outra condição. Eles estabelecem valores universais e incluem o direito à vida, à educação, à liberdade, ao trabalho, entre outros, e são imprescindíveis para que, na convivência em sociedade, haja o respeito ao indivíduo, com o fim básico da garantia da dignidade da pessoa humana. 13Conceitos filosóficos de ética e moral M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. O princípio da dignidade reside em respeitar o outro como um fim em si mesmo, e não como um meio, como no caso de alguém que comete um crime e que deverá ter privada a sua liberdade, mas preservada a sua dignidade, sob pena de haver uma confusão entre fazer justiça e vingança. A dignidade é um valor intrínseco à condição humana, e a base dos direitos humanos é a democracia. São estabelecidas garantias para proteger as pessoas de outras pes- soas e do próprio Estado, evitando que ele haja de forma desumana, cruel e injusta, por exemplo, o direito que toda pessoa tem de não ser presa arbitrariamente e o de não ser infringida por meio de qualquer tipo de tortura. 2.1 Breve história dos direitos humanos Os direitos humanos são pensados em termos ideais; ou seja, aquilo que a humanidade pretende atingir na busca por um estágio melhor. Além disso, eles estão diluídos em todo ordenamento jurídico, para proteção de cada pessoa. Esse fato pode ser constatado, por exemplo, na Constituição Federal do Brasil de 1988, que, em seu art. 4o, estabelece a prevalência dos direitos humanos como princípio do Estado brasileiro e, em seu art. 5o, afir- ma a igualdade de todos com a garantia de direitos fundamentais. De outra maneira, os direitos são considerados desdobramentos da ética, uma vez que ela pretende estender ao outro as condições de ser em sua plenitude como princípio da alteridade, indicando a possibilidade de que as pessoas possam ter uma “vida boa”, no sentido da garantia de condições básicas para convivência em sociedade. Pensar a ética hoje é pensar também os direitos humanos. Os direitos humanos têm longa trajetória na história da humanida- de, e, particularmente, já haviam sidos previstos na Constituição dos Estados Unidos de 1787 e na “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” de 1789 na França. 14 Diversidade na educação M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . Nessa direção, pode-se compreender a sua constituição atual por meio das dimensões que esse conceito foi adquirindo ao longo do pro- cesso histórico, ou seja, como os direitos humanos foram se expandindo. Figura 2 – Dimensões do conceito Dimensão de direitos civis e políticos Dimensão de direitos sociais e econômicos Dimensão de direitos coletivos e difusos Dimensão do direito à paz • Dimensão de direitos civis e políticos, que surgiu ao final do sé- culo XVIII, marcando a passagem de um Estado autoritário para um Estado de direito, como resultado de conquistas das revo- luções burguesas (Revolução Inglesa, Revolução Americana e Revolução Francesa). • Dimensão de direitos sociais e econômicos, que nasceu no sécu- lo XX, em um contexto de criação do Estado de bem-estar social, com o princípio básico da igualdade de oportunidades. • Dimensão de direitos coletivos e difusos, que transcendem o in- divíduo em direção à coletividade com a valorização do princípio da fraternidade. • Dimensão do direito à paz, embora não consensual, com a inter- nacionalização dos direitos humanos por meio da “Declaração Universal dos Direitos Humanos”. A reflexão em torno da moderna concepção de direitos humanos re- monta à sua história mais recente em 1948, em um contexto de acor- dos após a Segunda Guerra Mundial, momento em que, na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), foi proclamada a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”. A partir disso, esse 15Conceitos filosóficos de ética e moral M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. documento se tornou referência mundial para avaliação de valores hu- manos aceitáveis, traduzindo-se na garantia de condições mínimas e igualitárias para o desenvolvimento das potencialidades de cada indi- víduo no processo de construção de um mundo mais justo, menos vio- lento e mais civilizado. Nesse contexto, ganha força o debate sobre os paradoxos entre a civilização e a barbárie, entre o ocidente e o oriente e entre os países ricos e os países pobres. PARA SABER MAIS Na moderna concepção dos direitos humanos, há uma melhor definição de quem são os titulares de direito, e a pessoa humana passa a ser con- siderada na sua especificidade e na sua diferença, e não mais de forma genérica, por exemplo, criança, idoso, mulher, entre outros. Na contemporaneidade, têm progredido o desrespeito e o precon- ceito no mundo e no Brasil, sedimentando uma visão negativa sobre os direitos humanos, muitas vezes conceituados equivocadamente como direitos de proteção aos criminosos. Tal alegação insiste em afirmar que os direitos corroboram para o aumento da violência. Possivelmente a divulgação dessa visão negativa acabe por objetivar encobrir justa- mente as injustiças sociais presentes no país. Em sentido contrário, a história tem demonstrado que, quando se garante o acesso aos direitos humanos, ocorre a diminuição da violência. Quanto maior a garantia de direitos, menos injusta e violenta será a sociedade. PARA SABER MAIS A respeito da visão deturpada dos direitos humanos, ver o artigo “Cida- dania e direitos humanos”, de Maria Victoria Benevides (1997). 16 Diversidade na educação M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re deS en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . A violência representa a violação e negação da dignidade humana e, por conseguinte, uma afronta aos direitos humanos. “Têm crescido no Brasil e no mundo diversas modalidades de fundamentalismo, de maniqueísmo, de agressão, de atentado, e diferentes tipos de violência” (CALGARO; BIASOLI; ERTHAL, 2016, p. 10). Em momentos como esses, torna-se perceptível a descrença no futuro e uma visão saudosista do passado, uma retrotopia.1 Por outro lado, diametralmente, têm se mul- tiplicado as ações em favor dos direitos humanos com a constituição de diversos coletivos que têm atuado em várias frentes para o reconhe- cimento, a garantia e a expansão de direitos a grupos historicamente excluídos. Assim, a reflexão ética tem se contraposto ao fenômeno da violência, tendo como base os preceitos dos direitos humanos. 3 O direito e a moral no Brasil contemporâneo O direito e a moral são conceitos que guardam proximidades, muitas vezes sendo confundidos, e complementam-se como instrumentos de controle social. Ambos convergem para a primazia da convivência har- mônica em sociedade. Figura 3 – Direito e moral di·rei·to (latim directus, -a, -um, em linha reta) adjetivo 1. Sem curvas, nem irregularidades. 2. Diferente de sinuoso, torto. 3. Que está de pé, igual a aprumado. 4. [Figurado] Justo, reto; acertado. 5. Que está bem, que está como é devido. mo·ral (latim moralis, -e, relativo aos costumes) adjetivo de dois gêneros 1. Relativo à moral. 2. Que procede com justiça; igual a correto, des- cente, honesto, íntegro, justo, probo. Contrário de desonesto, errado, imoral, indecente. 3. Conforme às regras éticas e dos bons costumes. Fonte: adaptado de Dicionário Priberam ([s. d.]a; [s. d.]b). 1 Retrotopia é a utopia e mistificação do passado. A atribuição de um valor sempre positivo ao passado em comparação com o presente. 17Conceitos filosóficos de ética e moral M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Alguns jusfilósofos ou filósofos do direito concebem o direito como uma parte no interior das regras morais, ou seja, a moral englobaria o direito; para outros, o direito é autônomo e exterior à moral. Em outra direção, há ainda aqueles que advogam haver uma intersecção entre o direito e a moral, ou seja, quando uma norma é, ao mesmo tempo, moral e jurídica. O ser humano vive em sociedade, sendo assim, o direito tem uma função reguladora do convívio para orientar as condutas e estabelecer um regramento da vida social e deriva dos costumes. Ele resulta da re- flexão humana e desempenha uma função protetora dentro da socieda- de. Sendo assim, o direito deve ser autônomo e gozar de plena liberdade. A moral, conforme apresentada anteriormente, serve como guia para tais condutas pessoais e coletivas dentro da sociedade, e é aceita, ora por convicção, ora por convenção de determinados grupos. Como exemplo, é possível mencionar as regras morais dentro de uma igreja ou dentro de uma prisão. São morais diferentes, entretanto, são guias de condutas e indicam o que pode ser considerado como certo ou er- rado nesses ambientes. Vale lembrar que a moral trata somente das obrigações, ela não garante direitos, e parte da consciência do próprio indivíduo, por isso é autônoma. Diferente da moral, o direito estabelece, ao mesmo tempo, direitos e deveres, impondo a sua vontade a todas as pessoas. O direito é coerciti- vo, e, ao reconhecer que uma ação é proibida, são impostas sanções, ou seja, pune as condutas externas das pessoas. O direito sustenta-se na heteronomia; já a moral, na autonomia. Ambos dizem respeito ao com- portamento humano, impondo regras sociais, e relacionam-se não com o ser, mas com o dever ser. Contudo, a moral não pode ser colocada acima do direito, e este, por sua vez, deve zelar pela justiça. No Brasil, desde a sua proclamação como um Estado laico, vem ocorrendo gradativamente a separação do direito da moral, o que re- presenta um avanço. No entanto, recentemente tem havido, de forma 18 Diversidade na educação M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . inconsciente ou não, a prevalência da moral sobre o direito, ou até mes- mo a confusão dos sentidos que esses termos representam. Nesse caminho, a moral tem se configurado como um perigo para o direito, uma vez que tem obnubilado a visão das pessoas e, em certo sentido, promovido um proselitismo. Como exemplo, pode-se mencionar o re- colhimento de apostilas sobre diversidade sexual ocorrido nas escolas públicas de São Paulo em setembro de 2019. Tal atitude gerou uma disputa no Tribunal de Justiça do estado sobre a retirada ou não desse material didático, com questionamentos sobre apologia a identidade de gênero, censura, educação, entre outros. O direito não pode prescindir de critérios técnicos estabelecidos por ele mesmo e decidir com imparcialidade, ou seja, afastar-se de julgamen- tos morais. Faz-se necessária uma aproximação maior da moral com a ética e menos com o direito, sob pena de se corroer a democracia brasi- leira. A moral não pode se fazer de direito, do mesmo modo que o direito não pode se fazer de moral. Precisamos dos dois e das suas diferenças. Considerações finais Neste capítulo, foram apresentados, ainda que de forma sucinta, os conceitos de ética, moral, direito e direitos humanos, com o interesse de possibilitar o debate, a reflexão e o alargamento desses conceitos nos pró- ximos capítulos. Viu-se que existe uma linha tênue que separa a ética da moral e, por isso, muitas vezes, lhes são atribuídos os mesmos sentidos. Contudo, no decorrer do estudo, buscou-se evidenciar as suas diferenças. Os direitos humanos se configuram como desdobramento da ética, são amplos na proposição de direitos e nascem no seio da própria so- ciedade. São próprios dos seres humanos e se assentam na garantia da dignidade da pessoa humana. Essa dignidade é compreendida como intrínseca do ser humano, e, ainda, pressupõe a extensão e a garantia de direitos. Nessa direção, a ética oferece elementos para ampliação 19Conceitos filosóficos de ética e moral M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. dos direitos fundamentais, uma vez que reflete sobre a sociedade e as diversas formas de manifestações presentes em seu interior, como o fenômeno da violência. Assim, foi possível estabelecer um paralelo en- tre os direitos humanos e a incidência da violência, ou seja, quanto mais amplos forem os direitos humanos, menor será a violência, e, quanto menos amplos forem os direitos humanos, maior será a tendência de aumento da violência. A problematização entre o direito e a moral é um tema antigo e deve- ras espinhoso, assinalando que existe uma confusão na compreensão do sentido dos termos, muitas vezes sendo atribuído a um o sentido do outro; em outras palavras, a compreensão de uma norma moral como uma prerrogativa do direito ou a atribuiçãode uma valoração moral a uma norma jurídica. Vale destacar que, em alguns casos, ocorre uma intersecção entre o direito e a moral, um ponto de convergência, em que uma norma pode, ao mesmo tempo, se encaixar no campo da moral e do direito. Por fim, mas não menos importante, verificou-se que, no Brasil, tem havido o crescimento de uma visão enviesada que coloca a moral aci- ma do direito. Tem sido perceptível, por meio de decisões idiossincráti- cas, alguns magistrados imporem sua moral à sociedade. Em sentido contrário, em um Estado democrático, o direito deve repousar acima da moral, sob pena de não se fazer justiça. Referências BENEVIDES, Maria Victoria. Cidadania e direitos humanos. Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, 1997. Disponível em: http://www. iea.usp.br/publicacoes/textos/benevidescidadaniaedireitoshumanos.pdf. Acesso em: 2 set. 2019. CALGARO, Cleide; BIASOLI, Luis Fernando; ERTHAL, Cesar Augusto (org.). Ética e direitos humanos. Caxias do Sul: Educs, 2016. 20 Diversidade na educação M at er ia l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo . CARVALHO, Isabella Maria Farias; RAMAGEM, Luiza Oliveira. Rosa Parks e a segregação racial nos Estados Unidos: do fortalecimento do Movimento por Direitos Civis ao fim da segregação em transportes públicos. Brasília, DF: 2019. 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