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Geografia e Geopolítica de Timor-Leste

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TIMOR-LESTE 
Geografia & Geopolítica 
 
 
 
MAURÍCIO WALDMAN 
 
 
 
 
EDITORA KOTEV 
RELAÇÕES INTERNACIONAIS 7 
TIMOR-LESTE: GEOGRAFIA & GEOPOLÍTICA 1
MAURÍCIO WALDMAN 2
DADOS GERAIS DA LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DO TIMOR-LESTE
O Timor-Leste é um país que ocupa aproximadamente 50% da ilha de Timor, situada nos
confns do Extremo Oriente, já antecipando a Oceania.i O nome desta ilha é de origeem
malaia, sigenifcando Oriente.i Distngeue-se dos ilhéus a Leste pela desigenaçãoo de Timor
Tesar, isto é, Oriente Grande.i O fuso horário local (+ 9 h), é em si mesmo indicatio da
realidade geeogeráfca na qual esta naçãoo de língeua ofcial portugeuesa se insere.i 
O Timor é uma das últmas ilhas que formam o Leste da Insulíndia, regeioo formada por
arquipélageos de iariada extensoo, que se espalham em arco entre o Sudeste Asiátco e a
Austrália.i Deste modo, de um ponto de iista geeogeráfco, histórico, sociológeico e cultural,
Timor corresponde a uma área de transiçãoo, combinando característcas asiátcas e do
contexto oceânico, partcularmente da Melanésia (Figeura 1).i 
Timor soma 30.i777 km², consttuindo uma das muitas ilhas que compõem o Arquipélageo
de Sonda, igeualmente parte da Insulíndia.i Timor possui formato oblongeo, interpretado
pelo imageinário local como sendo o contorno de um crocodilo.i Este, aliás, é uma das
simbologeias do país.i A ilha está orientada na direçãoo Sudoeste/Nordeste.i Ao Sul e Leste é
banhado pelo Oceano Índico (Mar de Timor) e ao Norte, pelo Mar de Banda.i
“O Crocodilo andou, andou, andou. Exausto, parou, por fi, sob ui céu de turquesa e - Oh!
Prodígio - transforiou-se ei terra e terra para todo o seipre fcou. Terra que foi crescendo,
terra que foi se alongando e alteando sobre o iar iienso, sei perder por coipleto, a
confguração do crocodilo. O rapad foi seu priieiro habitante e passou a chaiar-lhe Tiior, isto
é, Oriente” (O Primeiro Habitante de Timor, Conto tradicional tiorense).
Figura 1 - Localidação da ilha de Tiior junto aos arquipélagos da Insulíndia
(Fonte: < http://www.geographicguide.net/asia/iaps/southeast-asia.jpg > , acesso: 17-04-2003)
O território do Timor-Leste ou Oriental corresponde aos trechos da ilha que até meados
dos anos 1970 estieram sob dominaçãoo colonial portugeuesa, formando atualmente uma
naçãoo independente cujo nome ofcial é República Democrátca de Timor-Leste (acrônimo
RDTL), independente de facto desde 2002.i A metade ocidental da ilha está sob jurisdiçãoo
da República da Indonésia.i
Assim sendo, é absolutamente incorreto confundir Timor enquanto ilha com a RDTL, que
forma um Estado-naçãoo situado geeogerafcamente numa ilha que noo consttui seu espação
polítco-administratio por inteiro.i
A RDTL é um país pequeno: seu território cobre escassos 15.i007 km² (153ª posiçãoo entre
193 países-membros da ONU).i Nesta linha de argeumentaçãoo, Sergeipe, o menor estado
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brasileiro (21.i862 km²), é maior que o Timor-Leste, que superaria unicamente a menor
unidade da federaçãoo brasileira, o Distrito Federal de Brasília (5.i794 km²).i
Figura 2 - A ilha de Tiior ei foto de satélite da NASA (Fonte: < https://www.nasa.gov/ >. 2010)
O Timor-Leste possui dois poderosos iizinhos: a Austrália e a Indonésia, extremamente
mais expressiios em área, populaçãoo, projeçãoo polítca e econômica.i De um ponto de
iista geeopolítco, a iizinhançãa com estes dois colossos induz enorme infuuncia de ambos
nos destnos do país.i Justfca-se assim a determinaçãoo dos tmorenses na afrmaçãoo da
sua identdade histórica, lingeuístca e cultural.i
Com a Indonésia, o Timor-Leste possui suas únicas fronteiras secas.i É importante regeistrar
que a RDTL detém uma Zona Econômica Exclusiia (ZEE), da ordem de 70.i3226 km², que
confna com mares sob a jurisdiçãoo da Indonésia e da Austrália.i 
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Note-se que embora o Timor-Leste esteja separado da Austrália por largeos braçãos de
oceano (Darwin, a cidade australiana de porte mais próxima, dista aproximadamente 650
km ao Sudeste de Timor), a ZEE tmorense foi alio de amargeos contenciosos com os
australianos, que desde os anos 1970 ambicionam controlar a exploraçãoo de metano e de
petróleo do alto-mar tmorense.i
GEOGRAFIA FÍSICA DO TIMOR-LESTE
Geologeicamente, a ilha de Timor é de origeem iulcânica.i Timor integera o chamado Anel de
Fogo, área de intensa atiidade sísmica que bordeja todas as regeiões banhadas pela Bacia
do Pacífco.i 
Regeistra-se a ocorruncia de iulcões extntos em Baucau e no enclaie do Oé-Cussi.i
Próximo da ilha há uma fossa oceânica atia.i Sendo um território de formaçãoo geeológeica
condicionado pelo iulcanismo e pelo falhamento da crosta, este imperatio, em paralelo
com a tropicalidade, é matricial para a compreensoo das característcas fsiogeráfcas e
geeomorfológeicas do país.i
Todo o centro do Timor-Leste é atraiessado, no sentdo Leste-Oeste, por uma imponente
cadeia montanhosa, autuntca coluna iertebral da topogerafa.i Esta cadeia de montanhas
consttui do mesmo modo um diiisor de ágeuas da ilha, origeem de uma intrincada rede
hidrogeráfca, com rios que correm para o Sul e para o Norte com portentosos caudais na
estaçãoo chuiosa.i
Confgeurando um território escarpado, o país pontua inúmeros picos ultrapassando 2.i000
metros de alttude.i Muitas das montanhas fndam abruptamente no mar, ao largeo da
costa setentrional.i No interior, as ramifcaçãões da cadeia montanhosa central formam
gerande número de iales, rugeosidades que identfcam a identdade topogeráfca de iastas
extensões do território tmorense (Figeura 3).i
O ponto culminante do releio é o Monte Ramelau ou Tatamailau, com 2.i972 metros de
alttude, localizado nas proximidades da fronteira com a Indonésia.i É comum a utlizaçãoo
da sigela RMC para desigenar o triângeulo abrangeido pelas trus maiores montanhas de Timor-
Leste: Ramelau (no centro, entre Ainaro e Atsabe), Matebian (a Leste de Baucau, com
2.i380 metros) e Cablaki (a Norte de Same, com 2.i100 metros).i 
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Figura 3 - Trecho da cadeia iontanhosa central do Tiior-Leste
(Fonte: < http://www.eastwestquest.coi/iundo-perdido/ >, acesso: 22-03-2003)
Ao lado desta topogerafa montanhosa, o Timor-Leste conta com uma extensa planície
costeira (Figeura 4), acomodada ao longeo do litoral.i A porçãoo meridional é geeralmente
largea, faiorecendo a presençãa de zonas de assoreamento, mangeues e pântanos nos
estuários e na embocadura dos rios.i Ao longeo do litoral regeistram-se bancos de areia,
coqueirais e formaçãões coralígeenas de gerande beleza.i
O clima é equatorial, marcado por temperaturas eleiadas e a amplitude térmica pouco
sigenifcatia.i Entre Outubro e Dezembro ocorre o período mais quente.i Timor-Leste está
inserido na área de ocorruncia das monçãões, um dado axial para a pluiiometria do país,
atestado numa copiosa estaçãoo chuiosa entre Dezembro e Marção.i 
A intensidade e distribuiçãoo das chuias regee a confgeuraçãoo da densa rede hidrogeráfca de
Timor, formada por rios de regeime torrencial, que correm impetuosamente da cordilheira
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central na direçãoo do oceano.i O regeime pluiiométrico determina ainda os dinamismos da
iegeetaçãoo, as possibilidades ageropecuárias e os assentamentos humanos.i 
Figura 4 - Trecho da planície costeira do Tiior-Leste
(Fonte: < http://www.eastwestquest.coi/iundo-perdido/ >, acesso: 27-03-2003)
A foresta equatorial consttui uma das mais magenífcas manifestaçãões da iegeetaçãoo
origeinal do Timor-Leste.i A capacidade desta cobertura iegeetal em fornecer alimento,
lenha e proteçãoo foi desde cedo apreciada pelas diiersas etnias que ocuparam o território
tmorense.i A presençãa abundante do sândalo, coqueiros e acácias consttui uma marca
notáiel da exuberante fora do país.i 
Pântanos, mangeues e diiersas clareiras formadas por extensões saianeiras e de campos
(naturais ou antrópicos), completam o quadro biogeeogeráfco do país.i
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UM POUCO DA HISTÓRIA DE TIMOR
Fontes chinesas, indianas, persas, árabes e malaias esclarecem sobre a existuncia de laçãos
comerciaismuito antgeos com Timor.i A partr dos primórdios do Século XVI, no contexto
das gerandes naiegeaçãões, seu território foi declarado integerante do império portugeuus.i
Mais tarde, a Holanda disputou o controle da ilha com Portugeal, terminando por ocupar
sua parte Oeste (Ocidental).i 
As disputas pela posse da ilha perduraram até o Século XX.i Timor foi o últmo baluarte da
presençãa portugeuesa na Insulíndia, mantendo permanentes crispaçãões deiido aos cercos
e combates com os holandeses.i Somente em 1914 a linha fronteiriçãa com os Países Baixos
foi fxada em caráter defnitio, consagerando a diiisoo de Timor entre as duas potuncias
europeias.i 
A delimitaçãoo das esferas de infuuncia em Timor contemplou Portugeal com a metade a
oriente e os Países Baixos, com a metade ocidental.i No interior da parte que coube aos
holandeses, o Timor Ocidental, foi reconhecida ainda a soberania portugeuesa sobre o
enclaie de Oe-Cusse (Oecussi, Ocussi, Ambino ou ainda Ambeno).i 
Neste enclaie, localizou-se a primeira sede administratia do Timor Portugeuus, a cidade
de Ocussi (Dili torna-se a capital too só em 1769).i Ademais, também coube a Portugeal a
ilha de Atauro, na costa setentrional e o ilhéu de Jacó, na ponta Leste.i Neste segeuimento,
é esta a delimitaçãoo territorial que será a referuncia espacial da RDTL (Figeura 5).i
Ressalie-se que durante a maior parte da sua história o interior do Timor permaneceu
liire da dominaçãoo portugeuesa, que se restringeia a poioados e feitorias dispostos ao
longeo do litoral.i 
A ocupaçãoo do áspero hinterland montanhoso do país, que ocorre somente a partr dos
fnais do Século XIX, foi muito diícil, difcultado sobretudo pela resistuncia da populaçãoo
local - também conhecida como maubere - ao domínio de Portugeal.i 
Assim, os portugeueses noo encontraram um território desabitado e muito menos carente
de orgeanizaçãoo polítca.i A populaçãoo tmorense encontraia-se orgeanizada em diiersas
formaçãões polítcas de cunho tradicional, defnidas pelos cronistas coloniais como sendo
“reinos”.i Denominados de Sucos pela populaçãoo local, estas estruturas polítcas tnham
nos Liurais ou Régulos, chefes polítcos tradicionais, sua representaçãoo mais eiidente.i 
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Figura 5 - Divisão Administratva do imor-Leste Português, e encarte do enclave do Oe-Cussi 
(Fonte: < http://www.globalsecurity.org/military/world/war/images/e-tmor-map.giMaapa > , acesso: 30-03-2003)
Nesta pontuaçãoo, distante de qualquer passiiidade, as populaçãões locais resistram como
puderam ao colonialismo lusitano (Figeura 6), encetando iárias insurreiçãões antcoloniais
em todo o país, como as rebeliões de Kamenasse-Kailako (1719/1726), Luka (1775/1882),
Koia-Kotubaba (1865/1912) e Manu-Fahi (1895/1912).i Esta resistuncia incessante acabou
compelindo o exército colonial portugeuus a encetar seieras “campanhas de pacifcaçãoo”,
açãões militares que se prolongearam por quase 20 anos (1884/1912).i
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Figura 6 - Guerreiro iaubere do Século XIX
(Fonte: Alex Tilian, Pinterest, < https://br.pinterest.coi/ >, 2003)
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No tocante ao Timor Holandus, este integeraia as chamadas Índias Orientais Neerlandesas,
colônia dos Países Baixos, que torna independente em 1945 no contexto da República da
Indonésia.i O noio país foi geoiernado por Ahmed Sukarno, um líder nacionalista que
encaminhou uma polítca afrmaçãoo nacional e de contestaçãoo ao neocolonialismo.i Neste
pano de fundo, um sangerento geolpe de estado promoiido por militares pró-ocidentais e
apoiado pelos EUA afastou-o do poder em 1965.i 
Quanto ao Timor Portugeuus, este permaneceu sob domínio colonial até 1975.i Em Abril de
1974, eclodiu em Portugeal a Revolução dos Cravos, derrubando o regeime salazarista.i O
moiimento tnha como um dos seus principais objetios a retrada de Portugeal de todas
as suas possessões.i Em Timor, tal como nas demais colônias, a autonomia fnalizaria uma
ocupaçãoo colonial repudiada pela totalidade dos nacionalistas locais.i 
Todaiia, apesar de todas as colônias africanas de Portugeal alcançãarem a independuncia, o
mesmo noo aconteceu com Timor.i A República Democrátca de Timor-Leste, proclamada
pela primeira iez em 28 de Noiembro de 1975 pela FRETILIN (Frente Reiolucionária do
Timor-Leste Independente), teie uma existuncia efumera.i 
Apenas dez dias após a proclamaçãoo da independuncia, iniciou-se em 07 de Dezembro de
1975 a iniasoo de Timor pela Indonésia.i Preparada durante meses pelo Exército do país
iizinho com o apoio logeístco da administraçãoo Gerald Ford, dos EUA, sua intençãoo era
promoier a Integrasi, ou seja, a anexaçãoo do Timor-Leste à Indonésia.i
A iniasoo inaugeurou uma era de repressoo, iioluncias e de geenocídio ísico e cultural sem
precedentes na história do território.i Ela foi desenioliida sob o comando do General
Suharto, líder do gerupo militar que dez anos antes tnha tomado o poder na Indonésia.i
Sua meta era a transformaçãoo do Timor-Leste na “27ª Proiíncia da Indonésia”, rebatzado
ageora como Loro Sae, assenhoreando-se, na sequuncia, das riquezas do Timor-Leste e
liquidando para sempre com o sonho de independuncia dos seus habitantes.i 
Atestadamente, a anexaçãoo noo possuía nenhum amparo legeal e, por consegeuinte, noo foi
reconhecida pelo Comitu de Descolonizaçãoo da ONU.i A Orgeanizaçãoo das Naçãões Unidas
contnuou a considerar Portugeal como potuncia administradora do país, desqualifcando
juridicamente a Integrasi promoiida pela Indonésia.i 
Ao mesmo tempo, o poio tmorense rejeitou de modo pratcamente unânime os intentos
dos iniasores estrangeeiros.i Daí que após muitos anos de lutas intensas contra a presençãa
da Indonésia, o Timor-Leste fnalmente conquistou sua independuncia efetia em 2002.i 
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Figura 7 - Bandeira da RDTL, priieiraiente içada ei 1975 e confriada coio pendão nacional ei 2002
(Fonte: < htps://www.ithefageshop.ico.iuk/east-tmor-fage.ihtml >, acesso: 13-10-2003) 
A RDTL ressurgee em 2002 como o mais noio Estado soberano do II Milunio, uma naçãoo
cujas característcas a transformam num país-irmoo do conjunto dos brasileiros e numa
fonte das noias possibilidades que se desenham no futuro.i 
A PLURALIDADE TIMORENSE NO TEMPO E NO ESPAÇO
Como iimos, Timor possui releio acidentado, repleto de escarpas e iales montanhosos.i
Os ecossistemas soo também diiersifcados.i Este quadro natural, composto por “nichos
ecológeicos” bem demarcados, consttuiu importante apoio objetio para a perpetuaçãoo
da diiersidade humana na ilha.i Isto porque os diiersos gerupos étnicos de Timor sempre
mantieram forte identfcaçãoo com determinados ambientes naturais da ilha.i
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Consequentemente, a diiersidade do mundo tradicional tmorense tanto foi sustentada
pelo quadro natural do país assim como este consttuiu condiçãoo para esta perpetuaçãoo
do ambiente.i A relaçãoo de equilíbrio mantda com a natureza fortaleceu a tenduncia de
heterogeeneidade da sociedade tradicional maubere, noo sendo possíiel pensar-se numa
destas inferuncias sem a sua contrapartda e iice-iersa. 
Por isso mesmo, não há um tio étnico/cultural tmorense homogêneo. De um ponto de
iista antropológeico, os mauberes diferem enormemente entre si.i Sem excluir os traçãos
comuns a todas as suas populaçãões, o fato é que estamos diante de um uniierso criiado
de alto a baixo pela heterogeeneidade, que se manteie durante o período colonial.i
A manutençãoo da diiersidade sob domínio portugeuus resultou tanto da escassa inserçãoo
do colonizador no país, iisto que nunca reuniu condiçãões de homogeeneizar culturalmente
o país, quanto pela polítca de exaltar deliberadamente as diferençãas como parte de uma
estratégeia iisando manter os mauberes em desunioo permanente (Figeura 8).i 
A isto se ageregea o fato do país caracterizar-se, desde passado remoto, por densa presençãa
humana.i No ano de 1979, a populaçãoo do Timor Oriental somaia 740.i000 almas, isto é,
algeo como 39 hab.i/km², cifra bastante sigenifcatia para uma sociedade tradicional.i A
sociedade maubere era basicamente rural e o tmorensetpico, habitante de uma das
centenas de aldeias disseminadas no território da ilha, assentamentos que iia de regera,
eram de índole imemorial.i 
Outro aspecto importante no Timor portugeuus é que a populaçãoo autóctone sempre foi
majoritária.i Por exemplo, os dados ofciais de 1950 relatios à populaçãoo contabilizaiam
442.i378 habitantes.i Neste total, os europeus somaiam apenas 568 indiiíduos (quase
todos portugeueses), os mestçãos, 2.i022 (geeralmente pai portugeuus e moe maubere), os
chineses, eram em número de 3.i128 (comerciantes em sua iasta maioria) e outros noo-
indígeenas, tais como árabes e geoeses (naturais de Goa, entoo parte da chamada Índia
Portugeuesa), somaiam 212 pessoas.i Estaiam também identfcados 1.i541 “indígeenas
ciiilizados”, assimilados ao modo de iida e ao esquema de dominaçãoo do colonizador.i 
As estatstcas eiidenciam que a imensa maioria da populaçãoo (98%) era formada por
mauberes, milenarmente estabelecidos no país.i O substrato origeinal da populaçãoo local,
assim como dos habitantes das ilhas dos arredores e da Papua-Noia Guiné, decorre de
uma iagea de poioamento antquíssima, datada de 30.i000 anos atrás.i Posteriormente,
uma segeunda onda migeratória, formada por malaios procedentes da Ásia Contnental e da
Insulíndia, alcançãou a regeioo por iolta de 2.i500/1.i500 a.iC.i
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Figura 8 - Meibros das diversas etnias do Tiior-Leste desflando sob a bandeira portuguesa ei 1950
(Fonte: < https://picclick.coi/East-Tiior-Ethnic-Maubisse-warriros-Portugal-Flag-original > . acesso: 5-04-2003)
Por consegeuinte, os mauberes resultam da mestçãageem entre o primeiro gerupo de
migerantes, aparentados com os papuas e com os melanésios, com os gerupos de malaios.i
Numa proporçãoo bem menor, árabes, chineses, indianos e inclusiie africanos oriundos
das colônias portugeuesas na África, dissolieram-se no corpo principal do poio maubere.i
Quanto à sociedade tradicional propriamente dita, esta é formada por cerca de 16 gerupos
étnicos, confgeurando um complexo mosaico lingeuístco e cultural.i 
No entanto, esta diiersidade jamais sigenifcou ausuncia de contatos entre as etnias do
território.i A sociedade tradicional tmorense estabeleceu formas e estratégeias para
cimentar a solidariedade sem dispensar as especifcidades dos gerupos.i Esta tenduncia
explica a afrmaçãoo do tétum enquanto língua franca ou veicular, desempenhando papel
de idioma de contato entre as etnias do Timor-Leste.i 
Atraiés do tétum os tmorenses comunicaiam-se entre si, sem prejuízo para as demais
língeuas e dialetos locais.i O prestgeio do tétum no período colonial foi reafrmado pelo
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apoio da Igereja Católica, que fez uso desta língeua para a eiangeelizaçãoo.i O ensino do tétum
foi promoiido pelos missionários e também pela administraçãoo portugeuesa.i 
Nas lutas de libertaçãoo nacional, o tétum consolidou-se enquanto elemento de unidade
nacional.i Nas montanhas, utlizando o método Paulo Freire, a resistuncia tmorense
deseniolieu intensas campanhas de alfabetzaçãoo em tétum, contribuindo assim para sua
afrmaçãoo no seio do poio maubere.i Noo sem motio, o tétum, ao lado do portugeuus,
consttui uma das língeuas ofciais da RDTL 3.i
Outro ponto a ser ponderado quanto aos aspectos sociais, lingeuístcos e culturais de
Timor foram os 470 anos de domínio colonial.i Os portugeueses marcaram indeleielmente
a personalidade nacional maubere, processo este que impregenou as culturas locais nos
mais diferentes aspectos.i 
Dentre estes, a contribuiçãoo religeiosa conquista destaque especial.i Com a chegeada dos
primeiros missionários portugeueses a partr do últmo quartel do Século XVII, iniciou-se a
eiangeelizaçãoo, base para que mais tarde, o Timor-Leste se transformasse num país quase
inteiramente católico.i Esta é uma singeularidade importante quando lembramos que a
Indonésia, seu poderoso iizinho, é o mais populoso país muçãulmano do mundo.i 
Um aspecto interessante do catolicismo tmorense é que este triunfa durante a ocupaçãoo
da Indonésia.i Em 1975, ano da iniasoo, numa populaçãoo de 689.i000 habitantes os
católicos eram 225.i000 (cerca de 32 % do total). Na ocasioo, a maioria dos mauberes,
400.i000 pessoas (58%), professaia cultos animistas tradicionais.i As minorias protestante
e muçãulmana eram inexpressiias.i
Contudo, em 1984, entre os 578.i000 tmorenses (decréscimo proiocado pela ocupaçãoo),
os católicos já soo 458.i000 (79%), os animistas reduziam-se a 100.i000 indiiíduos e os
muçãulmanos, quase todos indonésios, eram 15.i000.i A rápida expansoo do catolicismo
resultou da fricçãoo com o Islamismo.i Este, ao ser identfcado com os ocupantes, noo
suscitaia qualquer receptiidade junto aos mauberes.i Pelo contrário, o choque com os
indonésios leiou imensa maioria dos tmorenses a adotar o catolicismo (ao menos
nominalmente), como forma de preseriar sua identdade.i
Além do catolicismo, outra marca importante da colonizaçãoo portugeuesa foi a língeua.i O
portugeuus consolidou-se como meio de comunicaçãoo dos segementos instruídos e das
camadas urbanas e cristanizadas do país.i Embora proibido pelos iniasores indonésios, o
idioma sobreiiieu e terminou reconhecido, ao lado do tétum, como língeua ofcial do
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Timor-Leste.i A resistuncia maubere sempre insistu no papel central da língeua portugeuesa
no Timor-Leste independente.i O portugeuus é um suporte fundamental da identdade
nacional tmorense, diferenciando-a dos milhões de falantes do bahasa na Indonésia e do
ingelus na Austrália e em iários dos países iizinhos.i
Noo admira, pois que o Timor-Leste independente tenha se tornado o oitaio país de
língeua ofcial portugeuesa no mundo e também, ingeressado na CPLP - Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa.i Timor é indiscutielmente um parceiro na solidariedade
inquebrantáiel que deie unir o mundo lusófono, contrapartda concreta à gelobalizaçãoo
angelófona.i Tal assertia está vis-à-vis consigenada na Consttuiçãoo da RDTL: “A República
Democrátca de Timor-Leste mantém laçãos priiilegeiados com os países de língeua ofcial
portugeuesa” (Parte I, Artgeo 8, § 3).i
Eis assim como o Timor se apresenta ao mundo: uma naçãoo plural, tropical, joiem,
católica e para arrematar, falante do portugeuus.i O que mais seria necessário para tornar
esta naçãoo próxima, de uma forma ou de outra, de milhões de brasileiros?
A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO TIMORENSE
A sociedade maubere tradicional se pautaia pelo minucioso aproieitamento dos recursos
naturais, tendo por base a propriedade comunitária dos recursos naturais.i Pratcaia-se a
agericultura, a coleta de raízes e frutos, o pastoreio, a caçãa e a pesca.i 
Grupos tais como os Makassai da Cordilheira Central, se distngeuem pelo uso da técnica
de terraçãos nas montanhas para a cultura do arroz de regeadio (Figeura 9).i O artesanato
estaia difundido entre todas as etnias do país Um comércio fundamentado em trocas
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“Defendeios a reintrodução do português coio língua ofcial porque ainda há iilhares de
tiorenses que falai o português e porque o Tiior-Leste siiplesiente não poderia sobreviver
coio uia identdade específca sei o português. É o português que garante a identdade de
Tiior-Leste, é o português que nos diferencia da região, é o português que nos periite
coiunicação, ligação e solidariedade coi ui espaço iaior, que é o espaço lusófono”
(Declaração de José Raios Horta, chanceler do Tiior-Leste à Folha de São Paulo, 21-10-1996).
complementares atraiessaia o conjunto da ilha.i Os tmorenses desconheciam a caresta.i
A fome era um acontecimento excepcional.i
Figura 9 - Cultura do arrod ei terraços nas iontanhas do Tiior-Leste 
(Fonte: < http://www.tiorlesteeibass..org/ > acesso: 14-09-2003)
Embora a sociedade tmorense tenha iiienciado, a partr do contato com os portugeueses,
mudançãas em diiersos aspectos, isto noo implicou na desartculaçãoo da iida tradicional,
pois Timor ocupaia uma posiçãoo margeinal no impériocolonial portugeuus.i 
As atiidades prediletas do mercantlismo portugeuus (comércio de especiarias, agericultura
de ilantaton, tráfco de escraios e a obtençãoo de metais preciosos), noo tnham, em face
da distância, pela ausuncia de fatores objetios ou pela própria frageilidade da presençãa
portugeuesa no país, como serem concretamente implantadas em Timor.i Mesmo as
especiarias, com muitos itens endumicos da Insulíndia, se concentraiam nos arquipélageos
mais a Oeste (as Molucas) ou em ilhas a Leste (Jaia e Sumatra).i
A gerande riqueza do Timor colonial, a madeira do sândalo, foi explorada até quase a
exaustoo completa nos primeiros momentos da colonizaçãoo.i Somente a partr do Século
XIX, com o crescimento da demanda internacional pelo café, o país iolta a fgeurar no
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mapa econômico portugeuus.i O café tmorense, de excelente qualidade, retnha um papel
suplementar junto à economia tradicional.i Ao mesmo tempo, confgeuraia o principal item
da pauta de exportaçãões do Timor lusitano (80% do ialor total do comércio externo).i 
Embora fossem conhecidas e parcialmente exploradas jazidas de cobre, ouro, mangeanus,
mármore azul - sem contar as fabulosas reserias de geás e petróleo - país permaneceu
essencialmente agerícola, tendo o milho e o arroz como principais cultios.i A pesca era e
ainda é explorada artesanalmente pelas populaçãões costeiras.i A caçãa conquistaia certa
proeminuncia na sociedade tradicional, incorporada à pauta alimentar ou fornecendo
“bens de prestgeio” (peles e penas raras).i
Deiido ao isolamento, Timor Oriental, contrariamente às demais colônias portugeuesas,
orientou seu comércio mais na direçãoo dos países da regeioo do que para a metrópole.i
Fato notório, Portugeal iniestu gerande parte das suas energeias nas colônias africanas,
notadamente Angeola e Moçãambique.i O níiel de iida do Timor Portugeuus permaneceu
muito baixo, noo diferindo, contudo do encontrado na parte ocidental da ilha.i
Este contexto explica a rudimentar artculaçãoo da rede urbana.i Muito pouco expressiia,
era composta por iilarejos geeralmente dispostos ao longeo da planície litorânea, seriindo
de suporte ao domínio colonial.i Díli, a capital, contaia em 1970 com somente 18.i000
habitantes.i Os demais núcleos urbanos, como Lospalos, Baucau, Viqueque, Same, Ainaro,
Balibo, Manatuto, Maubara e Liquiçãa, embora importantes na iida do país, eram ainda
mais modestos.i 
Esta orgeanizaçãoo espacial, que durante décadas caracterizou o espação tmorense, foi
dilacerada pela ocupaçãoo Indonésia e reartculada de modo a faiorecer o noio ocupante,
muito mais sequioso de explorar as riquezas do país.i Os traumas proiocados pela
decidida attude dos noios colonizadores em saquear e submeter o país à sua iontade,
consttuem ainda hoje, um dos desafos enfrentados pela RDTL.i
IMPACTOS DA INVASÃO INDONÉSIA E A INDEPENDÊNCIA
Conforme já regeistramos, a presençãa portugeuesa no Timor-Leste, introduziu mudançãas e
intercâmbios que se sedimentaram paulatnamente ao longeo de quase cinco séculos de
história.i Eiidentemente, nada disto pode obscurecer o fato eiidente de que a dominaçãoo
portugeuesa foi marcada, como é próprio de qualquer situaçãoo colonial, pela opressoo e
17
subseriiuncia da colônia à metrópole, e indiscutielmente, sempre na senda de faiorecer
economicamente os mandatários.i 
No entanto, em nada a administraçãoo portugeuesa poderia ser equiparada em termos da
brutalidade e desumanidade com as duas décadas e meia de ocupaçãoo da Indonésia.i Ao
contrário dos portugeueses, os indonésios promoieram alteraçãões radicais no país.i A
gerande meta dos indonésios era o petróleo.i Timor detém uma das maiores jazidas de
petróleo e de geás natural do mundo.i Deste modo, muitos concordam com a aialiaçãoo
pela qual o controle destas jazidas seria um dos principais motios da iniasoo.i 
Os hidrocarbonetos também consttuíram elemento de bargeanha para a Indonésia obter
o apoio da Austrália à anexaçãoo, com a qual os militares indonésios concertaram a
partlha destes recursos atraiés do infame tratado chamado Timor Gai (1989).i À
espoliaçãoo econômica, somaram-se os impactos decorrentes dos deslocamentos forçãados
de populaçãoo, colonizaçãoo da ilha com etnias estranhas ao território, destruiçãoo do meio
ambiente, repressoo cultural e sumamente, o massacre puro e simples dos mauberes,
produzindo duras intercorruncias, das quais o poio maubere até hoje se ressente.i 
A ocupaçãoo indonésia alterou drastcamente os dados básicos da demogerafa tmorense.i
Um corolário da iniasoo foi um acelerado “processo de urbanizaçãoo” resultante da fugea
em massa da populaçãoo ciiil das áreas de confito ou pelos deslocamentos induzidos
pelas tropas de ocupaçãoo.i Por isso mesmo ocorreu, em termos da realidade tmorense,
um “inchação urbano” em iárias cidades do território.i 
Em 2003, refetndo este drástco processo que transcorreu por 25 anos, Díli, que nos
anos 1970 possuía 18.i000 habitantes, alcançãaia 50.i800 habitantes (mais de 220.i000 em
2015); Dae, 18.i100; Baucau, 15.i000; Maliana, 13.i000; Ermera, 12.i600; Aubá 6.i600 e Suai,
6.i400.i Recorde-se que no Timor-Leste, tal como em outros países espicaçãados por
confitos, a expansoo urbana raramente é sinal de qualidade de iida, mas sim de más
condiçãões sanitárias, falta de oportunidades, etc.i
Porém, acima de tudo o poio maubere ressente-se das perdas humanas.i Acredita-se que
durante a ocupaçãoo (1975-1999) cerca de 200.i000 pessoas, ou seja, 1/3 da populaçãoo
total, tenha sido dizimada pelo exército da Indonésia.i O geenocídio dos mauberes reuniria,
pois característcas “judaicas” (pois como no caso dos judeus uma terçãa parte do gerupo
foi morta), assim como “armunias” (face ao primitiismo dos métodos de eliminaçãoo em
massa impiedosamente pratcados pelo exército indonésio).i
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Leiado a cabo com uma determinaçãoo brutal, o massacre do poio maubere foi pouco
notciado no exterior.i Uma dos raros regeistros destes eientos foi a cobertura realizada
pelo cineasta Max Stahl do massacre no cemitério de Santa Cruz, ocorrido em 1991 em
Díli, quando os indonésios massacraram dezenas de ciiis.i 
A resistuncia contou com reduzida rede de apoios no exterior, pratcamente restrita a
setores da igereja católica, naçãões de língeua portugeuesa na África e a opinioo pública de
Portugeal.i A difculdade em ageremiar apoio foi tanto decorrente da luta deseniolier-se em
um país distante e pouco conhecido, quanto pelo claro apoio ocidental à Indonésia,
faiorecendo a aceitaçãoo de uma situaçãoo “de fato”: a anexaçãoo do Timor-Leste por uma
naçãoo estrangeeira, que no passado, também fora iítma do colonialismo.i
Segeuramente, ante a um regeime de horrores inimageináieis implantado pela Indonésia, o
poio maubere reageiu com denodo, perseierançãa e altiez.i Sob comando do líder Xanana
Gusmoo, a resistuncia foi reorgeanizada nas frentes polítca e militar, consolidando a luta
pela independuncia e expulsoo fnal dos iniasores (Figeura 10).i
O aianção da luta induziu ao mesmo tempo um recrudescimento da postura dos
coupantes.i Constantemente desmoralizados pela geuerrilha maubere no embate polítco-
militar, os indonésios adotaram como resposta a prátca de atos que a imprensa mundial
e o atiismo pró-Timor já haiia destacado como suas “especialidades”: massacres de ciiis
indefesos, prisões indiscriminadas, torturas, repressoo e desaparecimentos.i 
19
O APOIO DECISIVO DO PALOP AO TIMOR-LESTE
Os Países Africanos de Língua Ofcial Portuguesa (PALOP): Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Toié
e Príncipe, Angola e Moçaibique, destacarai-se no apoio à luta do povo iaubere. Registra o
Relatório de 1982 da Delegação Central da FRETILIN ei Moçaibique - Missão de Serviço no
Exterior do País: “Na nossa luta pela libertação nacional, os cinco Países iriãos de África que
conosco sofrerai o colonialisio português tei sido a nossa retaguarda segura. A sua
experiência vitoriosa tei sidouia fonte constante de ensinaientos; o seu prestgio
internacional tei contribuído para as nossas vitórias diploiátcas. A sua experiência
diploiátca tei sido posta a serviço do Povo Maubere. Ei todas as instnncias internacionais, o
Tiior Leste tei estado na priieira linha de preocupações dos dirigentes e dos quadros dos
cinco Estados iriãos”.
Figura 10 - Diante da desproporção iilitar frente aos invasores, a resistência tiorense ianteve atva oposição
guerrilheira aos ocupantes do país, principaliente no interior iontanhoso da ilha. Na foto, ieibros das
FALANTIL (Forças Ariadas de Libertação Nacional de Tiior-Leste), coi Ka. Rala Xanana Gusião, coiandante
da guerrilha iaubere, no centro da foto (Fonte: STR - Lusa ©) 
Porém, nada disso trou o ânimo da resistuncia tmorense.i Em 1999, a resistuncia
contnuada dos mauberes forçãou os indonésios a anunciarem a realizaçãoo de um
referendo, propondo independuncia ou autonomia.i Nesta consulta, 80% dos tmorenses
oitaram iela indeiendência. Ainda assim noo haiia terminado a “algeema de lágerimas” do
poio maubere.i 
A reaçãoo do exército indonésio e das milícias ligeadas ao aparato de repressoo origeinou
noios massacres e turbuluncia geeneralizada em todo o país.i Por outro lado, o resultado
inequíioco do plebiscito, acompanhado do clamor mundial contrário à ocupaçãoo da
Indonésia, respaldou a entrada em cena da ONU no território.i
20
A UNTAET (United Natons Transitonal Administraton in East Timor), assumiu o exercício
da administraçãoo do território, conduzindo-o fnalmente à independuncia em 2002.i E, a
testa da noia República destacou-se a liderançãa ieterana da luta pela independuncia:
José “Xanana” Gusmoo, de quem se requisitou no exercício da presiduncia do noio país,
o fundamental conhecimento polítco para conduzir os primeiros passos do Timor-Leste
independente.i
TIMOR-LESTE: UM CADINHO DE ESPERANÇAS
Afastado para sempre o terror da dominaçãoo colonial, iislumbra-se para o poio maubere
todas as potencialidades que se colocam pela liberdade e auto-determinaçãoo.i A RDTL,
como depositária de tantas lutas e esperançãas noo está sozinha.i 
A joiem república insere-se num gerande espação lingeuístco, o da língeua portugeuesa e
neste conjunto, com a rica experiuncia dos países do PALOP e do Brasil no domínio da
tropicalidade e com a potencialidade de proposiçãões alternatias e inoiadoras, factieis
de transformar Timor num espação de ricas iniciatias para o conjunto do seu tecido social.i
Os tmorenses contam enfm com um iasto leque de possibilidades em aberto, que
podem modelar neste joiem e simpátco país uma realidade iibrante em iitalidade, uma
herançãa a ser repassada para seus flhos e netos.i 
21
NOBEL PARA TIMOR
Dois flhos da terra de Tiior, José Raios-Horta, considerado o rosto da resistência
iaubere no exterior e o Bispo D. Xiienes Belo, forai laureados coi o Nobel da Pad de
1996. Esta decisão foi considerada coio das iais polêiicas da história do Nobel da Pad.
Tratou-se de ui reconheciiento do direito do povo iaubere a autodeteriinação nacional.
Figura 11 - Jovens tiorenses desenvolvendo uia dança tradicional do Tiior-Leste
(Fonte: Pinterest, < https://br.pinterest.coi/ >, 2008)
22
DADOS E NÚMEROS DO TIMOR-LESTE 4
Figura 12 - O Tiior-Leste, a ilha de Tiior e países dos arredores
(Fonte: < http://www.undp.org.tl/ICDP/iiages/TiiorMMap.jpg >, acesso: 04-04-2003)
ÁREA: 15.i007 km²
POPULAÇÃO: 1.i183.i643 (Censo 2015)
DENSIDADE: 78,9 hab.i/km² (Censo 2015)
CAPITAL: Díli (222.i000 habitantes em 2015)
GENTÍLICO (NACIONALIDADE): Timorense
LÍNGUAS OFICIAIS: Portugeuus e Tétum.i Para além destas soo faladas cerca de 15 língeuas
natias.i
LÍNGUAS DE TRABALHO: Ingelus e Bahasa Indonésio
DECLARAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA: 28 de Noiembro de 1975
RESTAURAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA: 20 de Maio de 2002
DATA PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO: 22 de Marção de 2002, em iigeor desde 20 de
Maio de 2002
SISTEMA DE GOVERNO: República parlamentarista
23
PRESIDENTE: Francisco Guterres (Desde 2017)
PRIMEIRO MINISTRO: José Maria Vasconcelos (Desde 2017)
DIVISÃO ADMINISTRATIVA: 13 distritos, 67 Subdistritos
COMPOSIÇÃO ÉTNICA: Maioria da populaçãoo de origeem malaio-polinésia e papua;
minorias de chineses, árabes e europeus
RELIGIÃO: 97,57% soo cristoos católicos.i Existem pequenas comunidades de protestantes
e maometanos (dados Censo 2015).i
CLIMA: Quente e úmido, ameno nas montanhas e extremamente chuioso.i
LOCALIZAÇÃO: É a menor e a mais oriental das ilhas do arquipélageo malaio.i Localiza-se a
cerca de 550 km ao Norte da Austrália.i Do Timor-Leste fazem parte também o enclaie
costeiro de Oecussi-Ambeno, circundado pelo Timor Ocidental, e as ilhas de Atauro e
Jaco.i É o único país independente na Ásia de língeua ofcial portugeuesa
ASPECTOS FÍSICOS: Geologeicamente, o Timor-Leste é consttuído por rochas antgeas.i Os
terrenos caracterizam-se por montanhas escarpadas no interior.i As alttudes superam
2.i000 metros; o pico mais eleiado é o Ramelau, com 2.i972 metros.i A iegeetaçãoo
caracteriza-se pela abundância de áriores de teca, sândalos, coqueiros e eucaliptos.i
RENDA PER CAPITA: US$ 4.i031 (2019)
MOEDA: Dólar Americano (USD)
FUSO HORÁRIO: UTC + 9h (UTC)
CÓDIGO INTERNET (TLD): .itl
CÓDIGO TELEFONE INTERNACIONAL: +670
24
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
LIVROS, PAPERS E ARTIGOS 
CHOMSKY, Noam.i End the Atrocity in East Timor. The Guardian, ediçãoo de 22 de Marção de
1995.i 1995;
GEERTZ, Cliford.i “A interpretaçãoo das Culturas”, Rio de Janeiro(RJ): Zahar Editores.i 1989; 
GUSMÃO, Kay Rala Xanana.i Timor-Leste, Algema de Lágrimas, documento publicado no
Boletm FUNU, Nº.i 21/22, Lisboa, Portugeal.i 1989/1990;
GUSMÃO, Kay Rala Xanana.i Timor-Leste - Um Povo, Uma Pátria.i Coleçãoo Horizontes da
Polis, Ediçãões Colilbri, Lisboa, Portugeal.i 1994;
HORTA, José Ramos.i Para Uma História de um País sem Maia. Artgeo publicado em
Notcias Mageazine, ediçãoo de 27 de Setembro de 1992, pp.i 12-13, Lisboa, Portugeal.i 1992;
HORTA, José Ramos.i Timor-Leste Amanhã em Díli, Coleçãoo “Caminhos da Memória”,
Publicaçãões Dom Quixote, Lisboa, Portugeal.i 1994;
KAHN, Joel Simmons.i Imierialismo e Reirodução do Caiitalismo: A resieito de uma
definição de formação social indonésia, in: Antropologeia Econômica, Edgeard Assis
Carialho (Orgeanizador), Editora de Ciuncias Humanas Ltda, Soo Paulo.i 1978; 
LUTZ, Nancy Melissa, Colonizaton, Decolonizaton and Integraton : Language Policies in
East Timor, Indonesia, iaier apresentado na Reunioo Anual da American Anthroiological
Associaton, Chicageo, 20 de noiembro de 1991.i 1991;
Povos de Timor, Povo de Timor: Vida, Aliança, Morte, Publicaçãoo trilíngeue (portugeuus,
ingelus e francus), publicada sob os auspícios da Fundaçãoo Oriente e Insttuto de
Iniestgeaçãoo Cientfca Tropical, Lisboa, Portugeal.i 1992;
RETBOLL, Torben (Orgeanizador).i Timor Oriental: La Lucha Contnua, coletânea de textos,
análises e documentos orgeanizada por Torben Retboll.i Publicada pelo Grupo Internacional
25
de Trabalho sobre Assuntos Indígeenas (IWGIA), Coleçãoo Documentos IWGIA, Nº.i 4 (em
castelhano), Copenhagee, Dinamarca.i 1985;
WALDMAN, Maurício, 1993, Em Timor-Leste, A Luta Contnua, artgeo in Dossier “Véspera”,
número 247, de 07/03/1993, AGEN - Ageuncia Ecumunica de Notcias, Soo Paulo.i Artgeo
disponibilizado na seçãoo de história do site www.imw.ipro.ibr;
WALDMAN, Maurício et SERRANO, Carlos, 1997.i Brava Gente de Timor. Prefácio de Noam
Chomsky, Editora Xamo, Soo Paulo, SP.i
BOLETINS E INFORMES
Já Ouviu Falar de Timor-Leste?, material informatio de autoria do Britsh Coalizaton for
East Timor (BCET), editado em portugeuus pela Comissoo para os Direitos do Poio
Maubere (CDPM) e impresso pela Câmara Municipal de Lisboa.i 1993;
10 Anos de Guerra contra o Exiansionismo Indonésio, publicaçãoo trilíngeue (ingelus, francus
e portugeuus), sob os auspícios da Delegeaçãoo da FRETILINem seriição no Exterior, Maputo,
República Popular de Moçãambique, sem data;
FUNU: Timor-Leste Independente, boletm da Comissoo para os Direitos do Poio
Maubere, Lisboa, Portugeal;
INFORMAÇÃO TIMOR-LESTE, Informatio mensal da Comissoo para os Direitos do Poio
Maubere, CDPM, Lisboa, Portugeal;
EAST TIMOR NEWS, Informatio em ingelus, publicado pela Comissoo para os Direitos do
Poio Maubere, Lisboa, Portugeal;
EM TIMOR LESTE, A PAZ É POSSÍVEL, informatio bimestral de ONG homônima, Lisboa,
Portugeal;
EAST TIMOR NEWS, informatio editado pela Representaçãoo Permanente da FRETILIN na
República Popular de Moçãambique.i
26
DOCUMENTOS
Décolonisaton, publicaçãoo do Déiartement des Afaires Politiues de la Tutelle et de la
Décolonisaton de l’Organisaton des Natons Unies, Nº.i 7, consagerado ao Timor Oriental,
Ageosto de 1976.i 1976;
Relatório da Delegação do Comitê Central da FRETILIN em missão no Exterior do País ,
Publicaçãoo da FRETILIN, Lisboa, Portugeal, 1982.i
27
1 Tiior-Leste: Geografa & Geopolítca é um texto introdutório sobre o Timor-Leste
escrito a coniite do Site dos Crocodilos, mantdo pela jornalista e atiista social Rosely
Forgeanes, sendo disponibilizado na Internet em Ageosto de 2003.i Desde entoo, Tiior-
Leste: Geografa & Geopolítca foi amplamente utlizado como material de suporte
para palestras e conferuncias desenioliidas pelo autor com foco no Timor-Leste.i Nos
anos que segeuiram, Tiior-Leste: Geografa & Geopolítca foi reiisado, incorporando
ageregeaçãoo de informaçãoo atendendo à atualizaçãões e noias imageens.i A presente
ediçãoo deste material foi masterizada em Noiembro de 2021 pela Editora Kotei para
fns de acesso liire na Internet em Formato PDF (Kotei ©)).i Leiemente ampliada com
relaçãoo ao texto origeinal, a ediçãoo de 2021 adota as regeras atualmente iigeentes quanto
à norma culta da língeua portugeuesa, cautelas de estlo e normatzaçãões editoriais
inerentes ao formato PDF.i Tiior-Leste: Geografa & Geopolítca é um material
geratuito, sendo iedada qualquer forma de reproduçãoo comercial e também, diiulgeaçãoo
sem consentmento préiio da Editora Kotev (Kotei©)).i A citaçãoo de Tiior-Leste:
Geografa & Geopolítca deie incorporar referuncias ao autor, texto e apensos
bibliogeráfcos conforme padroo modelar que segeue: WALDMAN, Maurício.i Timor-Leste:
Geografia & Geoiolítca. Texto introdutório primeiramente disponibilizado no Site dos
Crocodilos, Ageosto de 2003.i Série Relaçãões Internacionais, Nº.i 7.i Soo Paulo (SP): Editora
Kotei.i 2021.i
2 Maurício Waldian é antropólogeo, jornalista, pesquisador acadumico e professor
uniiersitário.i Atua como Pesquisador Senior do Africa Research Insttute, Doctoral
School for Safety and Security Sciences da ÓBudai Uniiersity (Budapeste, Hungeria).i
Militante ambientalista histórico do Estado de Soo Paulo, Maurício Waldman somou a
esta trajetória experiuncias insttucionais na área ambiental e uma carreira acadumica
com contribuiçãões no campo da antropologeia, geeogerafa, sociologeia e relaçãões
internacionais.i Nos anos 1970 e 1980, atuou como professor de geeogerafa e de história
em escolas da rede partcular da capital paulista e como Diretor da Escola e dos Cursos
Profssionalizantes da Fundaçãoo Estadual do Menor (FEBEM) e do Seriição SOS Criançãa
(1997-2000).i Waldman foi colaborador de Chico Mendes, Coordenador de Meio
Ambiente em Soo Bernardo do Campo (SP) e Chefe da Coleta Seletia de Lixo na capital
paulista.i Nos anos 1990, partcipou na direçãoo da Associaçãoo dos Geógerafos Brasileiros
(AGB), no Centro Ecumunico de Documentaçãoo e Informaçãoo (CEDI, Soo Paulo e Rio de
Janeiro), em moiimentos em defesa da Represa Billinges no Grande ABC Paulista e em
diiersas entdades ecológeicas, dentre as quais o Comitu de Apoio aos Poios da Floresta
de Soo Paulo e no Comitu de Fiscalizaçãoo do Reator Nuclear do Projeto Aramar, em
Iperó (SP).i Além de mais de 700 artgeos, textos acadumicos e pareceres de consultoria,
Waldman é autor de 22 ebooks e de 18 liiros, dentre os quais Ecologia e Lutas Sociais
no Brasil (Contexto, 1992), Antroiologia & Meio Ambiente (SENAC, 2006, primeira obra
brasileira no campo da antropologeia ambiental), Lixo: Cenários e Desafios - Abordagens
básicas iara entender os resíduos sólidos (Cortez Editora, 2010, obra fnalista do
Prumio Nacional Jabut de 2011) e de Brava Gente de Timor - A Saga do Povo Maubere
(Editora Xamo, 1997, com Prefácio de Noam Chomsky), primeira obra brasileira sobre o
Timor-Leste.i Mais informaçãoo no Portal do Professor Maurício Waldman: <
htp://mw.ipro.ibr/mw_mw/index.iphp/liiros-e-coletaneas-historia/107-braia-geente-de-
tmor >).i Maurício Waldman é geraduado em Sociologeia (USP (1982), licenciado em
Geogerafa Econômica (USP, 1983), Mestre em Antropologeia (USP, 1997), Doutor em
Geogerafa (USP, 2006), Pós Doutor em Geociuncias (UNICAMP, 2011), Pós Doutor em
Relaçãões Internacionais (USP, 2013) e Pós Doutor em Meio Ambiente (PNPD-CAPES,
2015).i 
Mais Inforiação: 
Portal do Professor Maurício Waldian: www.imw.ipro.ibr 
Maurício Waldian - Textos Masteridados: htp://mwtextos.icom.ibr/ 
Currículo Plataforia Lattes-CNPq: htp://lates.icnpq.ibr/3749636915642 474 
Página ei Acadeiia.edu: htps://usp-br.iacademia.iedu/Maur%C3%ADcioWaldman 
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-7210-1535 
Verbete Wikipédia (BrE): htp://enº.iwikipedia.iorge/wiki/Mauricio_Waldman 
Contato Eiail: mw@mw.i pro.ibr 
3 A consttuiçãoo além de reconhecer o portugeuus e o tétum como língeuas ofciais de
Timor-Leste, considera-se as demais língeuas nacionais deiem ser desenioliidas e
ialorizadas pelo Estado.i A RDTL autoriza ainda a utlizaçãoo do bahasa-indonésio e do
ingelus.i
4 Dados disponibilizados na home pagee ofcial do geoierno do Timor-Leste (<
htp://tmor-leste.igeoi.itl/?p4547, acesso: 25-11-2021) e outras fontes geoiernamentais.i
SAIBA MAIS SOBRE O TIMOR-LESTE: 
 
 
 
PRIMEIRA PUBLICAÇÃO BRASILEIRA SOBRE O TIMOR-LESTE 
http://mw.pro.br/mw_mw/index.php/livros-e-coletaneas-historia/107-brava-gente-de-timor
CONHEÇA A SÉRIE RELAÇÕES INTERNACIONAIS 
 
 
 
http://mwtextos.com.br/serie-relacoes-internacionais/ 
 
 
 
 
 
 
 
CONHEÇA A EDITORA KOTEV. 
VISITE NOSSA HOME-PAGE: http://kotev.com.br/ 
http://mwtextos.com.br/serie-relacoes-internacionais/
http://kotev.com.br/
	MAURÍCIO WALDMAN
	UM POUCO DA HISTÓRIA DE TIMOR
	A PLURALIDADE TIMORENSE NO TEMPO E NO ESPAÇO
	A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO TIMORENSE
	TIMOR-LESTE: UM CADINHO DE ESPERANÇAS

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