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MICROBIOLOGIA AULA 5 Profª Stephanie Von Stein Cubas Warnavin 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, daremos início ao estudo dos vírus, de seus aspectos morfológicos, estruturais, reprodutivos, evolutivos e taxonômicos. Veremos algumas doenças que eles podem causar e o porquê de ocasionarem danos, em nível coletivo, tão graves e que exigem tratamentos tão urgentes. O objetivo principal será aprofundar os estudos sobre os microrganismos virais. Os cinco temas abordados serão: 1. morfologia e ultraestrutura dos vírus; 2. fisiologia dos vírus; 3. reprodução e replicação viral; 4. classificação e nomenclatura dos vírus; e 5. isolamento e cultivo dos vírus. TEMA 1 – MORFOLOGIA E ULTRAESTRUTURA DOS VÍRUS Seres vivos ou seres não vivos? Eis a questão que persiste a dividir a comunidade científica quando o assunto são os vírus. Os vírus possuem ácido desoxirribonucleico (DNA), se reproduzem, podem causar infecções e doenças, estão sob efeito da evolução biológica; porém, são acelulares, não vivem isoladamente, necessitam de uma célula hospedeira para manter seu material genético ativo e não possuem metabolismo próprio. De maneira geral, o que é mais aceito é que vírus são parasitas intracelulares obrigatoriamente formados por uma cápsula proteica, contendo DNA ou ácido ribonucleico (RNA), que, em contato com o material genético hospedeiro, consegue controlar a atividade metabólica, a síntese de enzimas e, assim, garantir a reprodução do vírus. Vírus são partículas muito pequenas, de 20 nm a 1.000 nm, formadas por um ácido nucleico, o capsídeo e, em alguns vírus, envelopes virais (Figura 1). O genoma viral se apresenta como uma única molécula linear ou circular, de fita simples ou dupla, podendo essa ser de DNA ou RNA. De acordo com seu ácido nucleico, o vírus pode ser chamado de vírus de DNA ou vírus de RNA. O capsídeo se configura como uma capa proteica composta de subunidades, chamadas de capsômeros, que protege o material genético, além de dar forma ao vírus. Alguns vírus possuem um envelope que circunda o capsídeo, o envelope viral, formado de lipídeos, proteínas e carboidratos provenientes de membranas de hospedeiros e que, na sua porção externa, apresenta as 3 espículas, estruturas que auxiliam na ligação do vírus com a membrana da célula hospedeira, mas nem todos os envelopes virais contêm espículas. Vírus que não têm o envelope viral são chamados de vírus não envelopados, sendo o capsídeo a estrutura que dará conta das ligações com as possíveis membranas, nesses casos. A porção estrutural externa do vírus terá uma importância funcional relevante, pois são as proteínas dessa região que se ligarão com as células hospedeiras ou com os anticorpos. De acordo com a forma do capsídeo (Figura 2), esses seres podem ser classificados em vírus helicoidais (vírus do mosaico do tabaco), vírus icosaédricos (adenovírus), vírus envelopados (normalmente possuem o formato esférico, porém há outros tipos, por exemplo, vírus influenza) e vírus complexos (dos quais os bacteriófagos ou fagos, vírus que infectam bactérias, são bons exemplos). Figura 1 – Estrutura típica dos vírus Crédito: K.K.T Madhusanka/Shutterstock. 4 Figura 2 – Classificação dos vírus em função do formato do capsídeo Crédito: VectorMine/Shutterstock. TEMA 2 – FISIOLOGIA DOS VÍRUS Os vírus não são capazes de se reproduzir individualmente, dependendo obrigatoriamente de um hospedeiro para tal. Segundo a especificidade de hospedeiro, uma variedade limitada de hospedeiros pode ser infectada por cada espécie de vírus, variando de um a vários hospedeiros, resultante do processo evolutivo dos seres envolvidos. De maneira geral, a ligação do vírus à célula e a posterior entrada do material genético viral no hospedeiro já configura a infecção, sendo que o mecanismo de entrada estará relacionado com o tipo de vírus. Os bacteriófagos injetam o seu DNA viral por meio de sua cauda, alguns vírus são absorvidos pelas células ou, no caso dos envelopados, acontece a fusão do envelope viral com a membrana hospedeira. Com o genoma viral já dentro da célula, inicia-se a síntese de proteínas virais que regularão e reprogramarão as atividades celulares para a produção de ácido nucleico e das estruturas virais que logo irão se unir, espontaneamente, e formar novos vírus. Estes podem sair das células hospedeiras infectadas para continuar seu ciclo reprodutivo. Os sintomas gerados por isso várias vezes são decorrentes do processo de dano ou morte das células pela infecção viral. A seguir, vamos estudar de forma mais aprofundada a reprodução e replicação dos vírus 5 TEMA 3 – REPRODUÇÃO E REPLICAÇÃO VIRAL 3.1 Ciclo lítico dos fagos Os ciclos reprodutivos dos bacteriófagos são dados como exemplos gerais, pois esses vírus são mais compreendidos pela ciência. Mesmo com variações de espécie para espécie, os ciclos dos fagos são ótimos modelos de estudo. O ciclo lítico é caracterizado pela infecção e destruição da célula pela liberação dos fagos produzidos na célula. Esse ciclo é dividido em cinco etapas: adesão, penetração, biossíntese, maturação e liberação (Figura 3). Na adesão, o fago conecta suas fibras da cauda nos receptores específicos da célula e, na penetração, rompe a parede celular da bactéria, com a ajuda da lisozima fágica, e insere seu DNA no citoplasma. Logo após a entrada do DNA viral, a síntese do genoma e das proteínas virais se inicia, na biossíntese, até o genoma bacteriano ser hidrolisado e a síntese, paralisada. Na maturação, o genoma viral é empacotado dentro do capsídeo, formando novos vírus, que coordenam a produção de uma enzima que danifica a parede celular, permitindo a entrada de água até o ponto que a célula explode e os vírus saem das células, configurando a fase da liberação. Os fagos, agora, podem infectar novas bactérias e continuar seu ciclo reprodutivo. A esse grupo que utiliza apenas o ciclo lítico pertencem os chamados vírus virulentos. É importante ter em mente que nem todos os vírus terão sucesso nessa infecção, visto que algumas bactérias podem ser selecionadas pela seleção natural e, graças a mutações, possuírem receptores que não reconhecerão mais os vírus. Além disso, as enzimas de restrição das bactérias clivam o DNA viral e restringem sua capacidade de se replicar. 6 Figura 3 – Ciclo lítico dos bacteriófagos Crédito: Designua/Shutterstock. 3.2 Ciclo lisogênico dos fagos Enquanto no ciclo lítico, os fagos destroem as células hospedeiras, no ciclo lisogênico (Figura 4) o genoma viral é replicado sem a morte celular. Nesse caso, fagos temperados (vírus capazes de infectar a bactéria e desenvolver os dois ciclos) injetam seu DNA na bactéria e esse é assimilado e passa a fazer parte do cromossomo bacteriano. Esse fragmento de DNA viral é chamado de prófago. Enquanto é replicado juntamente com o DNA bacteriano, o prófago se mantém inativo por processos regulados por genes do seu próprio genoma. Para o vírus, esse mecanismo garante sua perpetuação sem matar a célula, o que pode aumentar ainda mais sua taxa populacional, já que uma única célula procariótica pode gerar uma grande população de bactérias com o material genético viral. Agentes químicos e radiação podem ser fatores para que o prófago saia do modo lisogênico e entre no ciclo lítico. Como o prófago faz parte do cromossomo bacteriano, os procariotos podem adquirir algumas 7 características desse vírus, no que é chamado de conversão fágica (quando toxinas são produzidas pelos genes virais, por exemplo), ficam imunes a reinfecção pelo mesmo vírus e podem passar por transdução especializada, ou seja, o prófago pode ser passado para outra bactéria através de um capsídeo, levando parte do cromossomoprocarioto. Figura 4 – Ciclo lítico e lisogênico de bacteriófagos Crédito: VectorMine/Shutterstock. 3.3 Ciclo replicativo dos vírus de animais Como os fagos, os vírus que infectam animais também irão precisar de um hospedeiro para se reproduzir e replicar seu genoma. O seu mecanismo de infecção é similar ao do ciclo dos bacteriófagos, porém com suas particularidades e sítios de ligação específicos, que irão variar de grupo para grupo, a começar pela presença de envelope viral em muitas espécies, o que já diferencia a entrada do genoma viral dentro da célula. Para esses indivíduos, glicoproteínas dos envelopes se ligam aos receptores da membrana plasmática (adsorção) e são incorporados por endocitose (penetração), chegando até o citoplasma, onde o ácido nucleico viral é separado do capsídeo (desnudamento) e iniciando sua replicação. Depois de infectarem a célula, replicarem seu genoma e proteínas virais, eles saem, por exocitose, com um novo envelope contendo parte da membrana plasmática do hospedeiro. Para os vírus sem o envelope, haverá estruturas específicas à ligação aos sítios da 8 membrana plasmática, como pequenas fibras nos vértices do icosaedro, no caso dos adenovírus (Tortora; Funke; Case, 2017). Importa notar que esse ciclo não mata necessariamente a célula hospedeira, como no ciclo lítico. Outro ponto relevante para a síntese do genoma viral é o tipo do ácido nucleico e sua síntese: se DNA ou RNA, de fita simples ou dupla (Quadro 1). Numa abordagem generalista, o DNA dos vírus de DNA (Figura 5) será levado para o núcleo após o desnudamento e passará por uma transcrição e tradução precoces, para a geração de enzimas necessárias para a multiplicação do DNA viral. Após esse momento, no qual o DNA é replicado e as proteínas do capsídeo, sintetizadas (no citoplasma), o ciclo entra na fase de maturação, em que o DNA replicado e as proteínas do capsídeo (agora no núcleo) se organizam para formar o vírus completo e, na liberação, passam por exocitose e saem da célula. A transcrição do DNA geralmente é feita pela transcriptase do hospedeiro, mas alguns vírus possuem seu próprio RNA-polimerase. Os vírus de RNA terão praticamente as mesmas fases de multiplicação (Figura 6) dos vírus de DNA, apresentando diferenças entre os grupos específicos, na síntese do genoma viral e nas proteínas, todas no citoplasma. Um ponto em comum nesses vírus é que possuem um RNA-polimerase dependente de RNA (Tortora; Funke; Case, 2017). Os genes virais regularão a produção dessa enzima, que atuará como catalisadora da síntese de RNA genômico e proteínas do capsídeo pela célula hospedeira. Um caso clínico importante é o do vírus da imunodeficiência humana – HIV (Figura 7), causador da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), que contém a enzima transcriptase reversa. Essa enzima consegue realizar a transcrição no sentido reverso, ou seja, produzir DNA com base no RNA. Nas células infectadas, esse DNA, chamado de provírus, será integrado permanentemente ao genoma hospedeiro (o inverso do que acontece com o prófago) e, a cada processo de transcrição, serão produzidas fitas de RNA que podem ser utilizadas como genoma viral dos novos vírus ou como RNA mensageiro (RNAm) para a produção das proteínas do capsídeo e das glicoproteínas do envelope (o HIV é um vírus envelopado). Dados os processos de replicação, a maturação (no citoplasma, para os vírus de RNA) e a liberação acontecem de forma semelhante às dos vírus de DNA. 9 Quadro 1 – Biossíntese de genoma em vírus de animais Ácido nucleico viral Família viral Características especiais da biossíntese DNA, fita simples Parvoviridae Enzimas celulares transcrevem o DNA viral no núcleo DNA, fita dupla Herpesviridae Papovaviridae Enzimas celulares transcrevem o DNA viral no núcleo Poxviridae Enzimas virais transcrevem o DNA viral no citoplasma DNA, transcriptase reversa Hepadnaviridae Enzimas celulares transcrevem o DNA viral no núcleo; a transcriptase reversa copia o RNAm para sintetizar o DNA viral RNA, fita positiva Picornaviridae Togaviridae O RNA viral funciona como molde para a síntese de RNA-polimerase; a enzima sintetiza RNAm no citoplasma, utilizando a fita negativa do RNA como molde RNA, fita negativa Rhabdoviridae Enzimas virais sintetizam RNAm no citoplasma, utilizando o RNA viral como molde RNA, fita dupla Reoviridae Enzimas virais sintetizam RNAm no citoplasma, utilizando a fita negativa do RNA como molde RNA, transcriptase reversa Retroviridae A transcriptase reversa sintetiza DNA no citoplasma, utilizando o RNA viral como molde; o DNA se desloca para o núcleo Fonte: elaborado com base em Tortora; Funke; Case, 2017. 10 Figura 5 – Ciclo replicativo de vírus de DNA Crédito: Designua/Shutterstock. Figura 6 – Ciclo replicativo de vírus de RNA Crédito: Designua/Shutterstock. 11 Figura 7 – Ciclo replicativo do vírus HIV Crédito: Designua/Shutterstock. TEMA 4 – CLASSIFICAÇÃO E NOMENCLATURA DOS VÍRUS A classificação taxonômica é uma importante e necessária ferramenta da biologia para a organização e sistematização das pesquisas envolvendo a descrição de espécies. Para os vírus, não é diferente e, com o desenvolvimento do sequenciamento do DNA, isso se tornou ainda mais necessário. As regras de nomenclatura seguem as orientações do Comitê Internacional de Taxonomia, que agrupa os vírus em ordens (sufixo -ales), famílias (sufixo -viridade), gêneros (sufixo -virus) e espécies (para vírus, é utilizado o inglês para as espécies e não há epíteto). Segundo Tortora, Funke e Case (2017), uma espécie viral é um grupo de vírus que compartilham a mesma informação genética e o mesmo nicho ecológico (espectro de hospedeiros). No Quadro 2 listam-se os principais grupos de vírus, o que complementa o Quadro 1. 12 Quadro 2 – Classe dos vírus de animais Classes de vírus de animais Características/Família Envelope Doenças humanas I. DNA de dupla fita (dsDNA) Adenovírus Não Doenças respiratórias; tumores Papilomavírus Não Verrugas; câncer cervical Poliomavírus Não Tumores Herpesvírus Sim Herpes simples I e II (herpes labial e genital); varicela-zoster (cobreiro, varicela); vírus Epstein- Barr (mononucleose, linfoma de Burkitt) Poxvírus Sim Vírus da varíola; vírus da varíola bovina II. DNA de fita simples (ssDNA) Parvovírus Não Parvovírus B19 (erupções leves) III. RNA de dupla fita (dsRNA) Reovírus Não Rotavírus (diarreia); vírus da febre do carrapato colorado IV. RNA de fita simples (ssRNA) Picornavírus Não Rinovírus (resfriado comum); poliovírus, vírus da hepatite A e outros vírus entéricos Coronavírus Sim Síndrome respiratória aguda severa (Sars) Flavivírus Sim Vírus da febre amarela, vírus da hepatite C Togavírus Sim Vírus da rubéola; vírus da encefalite equina V. ssRNA atua como molde para síntese de RNAm Filovírus Sim Vírus ebola (febre hemorrágica) Ortomixovírus Sim Vírus influenza Paramixovírus Sim Vírus do sarampo; vírus da caxumba Rabdovírus Sim Vírus da raiva VI. ssRNA-molde para a síntese de DNA 13 Retrovírus Sim HIV Fonte: elaborado com base em Reec et al., 2015. TEMA 5 – ISOLAMENTO E CULTIVO DOS VÍRUS Como já se sabe, os vírus são parasitas que obrigatoriamente dependem de um ser vivo para poder manter-se na natureza. Isso, por si só, já dificulta o cultivo de vírus em laboratórios, pois, além das condições virais, também é necessário manter as condições do hospedeiro. Os dados de bacteriófagos são mais enxutos, pois eles se reproduzem mais facilmente, pela facilidade de manejar bactérias em relação a animais ou plantas, além de toda a questão bioética que também pode estar envolvida. O cultivo de bacteriófagos se dá em meio ágar nutriente (é também feito em meio líquido), onde uma amostrado vírus é misturada com as bactérias hospedeiras e transferidas para uma placa de Petri. Cada vírus inicia a infecção em uma bactéria, produzindo novos vírus que continuarão o ciclo, em bactérias adjacentes, até o ponto de destruir todas que estão localizadas nas proximidades. Essa mortandade gera zonas claras no ágar, chamadas de placa de lise, e que, teoricamente, corresponde a um único vírus da suspensão original, usado como medida para as concentrações das suspensões virais, geralmente expressas em unidades formadoras de placas (UFP) (Tortora; Funke; Case, 2017). Para o cultivo de vírus de animais, geralmente são utilizados animais, ovos embrionados ou culturas celulares. Em animais vivos, o vírus é inoculado, são observadas as respostas imunes e sinais da doença ou podem ser sacrificados os animais para coleta de seus tecidos, para análise. Porém, para doenças humanas, nem todos os vírus conseguem se manifestar em outros animais modelos, dificultando o estudo clínico dessas doenças. A AIDS símia e a AIDS felina são exemplos de modelos de estudo para a AIDS humana. Em ovos embrionados, suspensões de vírus de animais são injetadas, através de uma perfuração na casca, nas membranas embrionárias onde o parasita pode se desenvolver. A morte do embrião atestará a multiplicação dos vírus. As culturas de células são meios mais vantajosos para o cultivo viral, pois nelas a manipulação e o controle são próximos aos das culturas bacterianas. Elas consistem no crescimento e reprodução de células animais ou vegetais em meio de cultura por meio de tratamento enzimático, pressão osmótica, nutrientes e 14 outros fatores de crescimento necessários (Tortora; Funke; Case, 2017). Após a formação de um tecido celular, o vírus é inoculado, provocando a morte celular enquanto se multiplica, evento esse denominado de efeito citopático (ECP). Células de linhagem primária (derivadas de tecidos) e células de linhas diploides (derivadas de embriões humanos) possuem vida curta, mantendo-se até 100 gerações. As células de linhagem contínua possuem um número indefinido de gerações, logo são usadas continuamente. As técnicas de isolamento e identificação dos vírus são bem variadas, porém nada fáceis de empregar. Os efeitos citopáticos podem ser uma ferramenta para identificação, a microscopia eletrônica dá uma ótima visualização morfológica, os métodos sorológicos, como o western blotting (em que é analisada a reação dos vírus aos anticorpos) são bem comuns, além de técnicas moleculares como o polimorfismo de comprimento de fragmentos de restrição (Tortora; Funke; Case, 2017). NA PRÁTICA Mesmo com seu tamanho ínfimo, os vírus são grandes e perigosos agentes patógenos para os animais e plantas, levando sua influência para áreas sociais e econômicas da sociedade, visto o seu poder de virulência e transmissão. Num contexto pandêmico como o que se iniciou em 2020, um vírus emergente pode ocasionar sérios danos para a saúde coletiva e também para os indivíduos, mesmo no caso de viroses que possam parecer leves, como é o caso da gripe. Alguns processos irão contribuir para a emergência das doenças virais: as mutações nos vírus já existentes, a disseminação de uma doença viral de uma pequena população isolada e a origem em vírus existentes nos animais (a importância de se discutir e problematizar o desmatamento e as queimadas também está pautada nesse motivo) (Reece et al., 2015). Nesse sentido, uma potencial ameaça que a comunidade civil e científica enfrenta é a do vírus H5N1, que infecta aves domésticas e selvagens. Caso esse vírus consiga passar facilmente de pessoa para pessoa, poderemos enfrentar uma pandemia gravíssima, tal qual estamos passando com a do vírus da COVID- 19, o SarsCov2, um vírus emergente e sobre o qual, até então, não tinha dados ou notícias a comunidade médica. Há, ainda, os viroides, que são moléculas de RNA sem cápsula, que não permitem o crescimento de plantas; e os príons, 15 proteínas infecciosas que causam danos cerebrais gravíssimos em mamíferos, como é o caso da doença da vaca louca. Os dados sobre a relação dos vírus com o câncer já estão muito bem estabelecidos. Muitos vírus (vírus oncogênicos ou oncovírus) podem ativar os oncogenes, na medida em que seu material genético é assimilado ao DNA hospedeiro e é replicado junto. Certos vírus, chamados de oncolíticos, estão sob estudo para possíveis terapias para o câncer, já que esses vírus infectam e lesam, especificamente, as células cancerosas. Do ponto de vista epidemiológico, os vírus, juntamente com as bactérias, têm uma importância socioeconômica e sanitária, já que as vacinas são produzidas com base em fragmentos desses seres inativados, com o objetivo de estimularem a resposta imunológica e a produção de anticorpos contra determinadas doenças. FINALIZANDO Nesta aula, abordamos os aspectos morfológicos, estruturais e replicativos dos vírus, além dos principais grupos taxonômicos e suas formas de cultivo. Vírus são parasitas intracelulares formados por uma cápsula proteica contendo DNA ou RNA que, em contato com o material genético hospedeiro, consegue controlar a atividade metabólica, a síntese de enzimas e, assim, garantir sua reprodução. São partículas muito pequenas, de 20 nm a 1.000 nm, formadas por um ácido nucleico, o capsídeo e, em alguns vírus, envelopes virais. Possuem uma especificidade por hospedeiro que irá variar de espécie para espécie, bem como seus modos de replicação irão se diferenciar em função do tipo de ácido nucleico. Os vírus são responsáveis por várias doenças infecciosas e até mesmo problemas sociais de grande amplitude, em função de seu poder de transmissibilidade e virulência. 16 REFERÊNCIAS REECE, J. B. et al. Biologia de Campbell. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015. TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, C. L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
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