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Limites da Forma Jurídica

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A INVENÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA BRASILEIRA
 Limites da forma jurídica
 A forma contratual ou jurídica é um instrumento à serviço da exploração, velado e, portanto, protegido, pela ideologia? O direito, neste caso, mais do que ser os pesos e contrapesos da cega balança da justiça, seria no fundo um elemento de opressão e manutenção do status quo, o que seria uma “contradição inseparável” de nossa estrutura social, toda ela balizada por leis? Assim como a polícia, cujo papel, pela narrativa ideológica, é proteger o cidadão, mas que no fundo tenta proteger a “ordem” estabelecida, como braço armado do poder constituído, a ideia de “justiça” encobriria a manutenção do poder ao invés de garantir a igualdade de todos perante a lei? Assim sendo, as lutas por direitos significariam, ao invés de transgressões, o ato ingênuo de pleitear a própria “prisão”, o que seria uma “outra forma” de alienação derivada do fetichismo jurídico? Finalmente, se tudo isto for, ao menos em parte, verdadeiro, isto não significaria que estamos presos em um labirinto sem saída possível para estas contradições? (Flávio Gonzalez)
 
 Limites da forma jurídica e os direitos sociais
Sem retirar a relevância do ponto de partida na análise do direito do trabalho (forma jurídica contratual), de modo mais abrangente, a partir das noções de forma jurídica, como a legislação social/direitos sociais contribuem ativamente para a constituição dessa classe trabalhadora e do próprio capitalismo no Brasil? Pode se dizer que também há um papel essencial destes direitos, em especiais os de segunda geração, na constituição e consolidação do capitalismo no Brasil? (Pedro Ferreira)
 
 Limites da forma jurídica e o direito do trabalho – uso tático dos direitos sociais?
 1) “Logo, não há que se falar em direito operário, em socialismo jurídico ou salvação pelos direitos humanos. Não há como se promover a revolução pela via do direito (repudiando-se inclusive o seu “uso tático”), já que tudo isto apenas promove a reprodução contratual de venda da força de trabalho pela via dos pequenos contratos (ou, se quiserem usar termos jurídicos, Direito Objetivo/Direito Subjetivo e Direito Público/Direito Privado são dicotomias mais aparentes do que reais, e que carregam em si o eterno retorno ao poder jurídico ou poder contratual).” (p.113).
Após essa passagem confesso que me senti angustiada e reflexiva, justamente por ser pesquisadora na área do direito do trabalho que, de certa forma, acaba por reafirmar o socialismo jurídico e dar cabo ao uso tático do Direito. 
Na tese de doutorado do Professor Doutor Gustavo Seferian Scheffer Machado, apresentada em 2017 ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, intitulada Direito do Trabalho como Barricada: sobre o papel tático da proteção jurídica do trabalhador, apregoa que por mais que se reconheça toda a história de luta, resistência e subordinação de trabalhadores e trabalhadoras, bem como se saiba que não é através do Direito que virá sua libertação, é possível usar o ramo jurídico para que algumas transformações práticas ocorram, visando à minoração de sofrimento. Reconhece-se, assim, que o Direito do Trabalho cumpre um papel tático de grande relevância à vida daqueles e daquelas que trabalham. 
 Limites da forma jurídica e do direito do trabalho – uso tático dos direitos sociais?
Sem se perder no fragmentário e multitudinário apelo da pós-modernidade, mas assentado em necessária referência dialética, propomos que o Direito do Trabalho não se afirma pela luta de classes apenas em seu momento fundacional, mas em cada momento que se reergue como barreira, em cada avanço e retrocesso, sem perder seu conteúdo de outrora, que se pereniza enquanto referência – seja por garantia e suporte para novos avanços, em caso de conquista de direitos, seja enquanto busca para retomada, reconquista, em situação de retrocesso. (SEFERIAN, 2017, p. 145)
“O pensamento que projeta ao Direito do Trabalho a tarefa estratégica de construir uma nova sociedade socialista é falho e decorre de inapropriadas leituras econômicas e políticas; fato este que reclama a necessária tomada do Direito do Trabalho a partir de um referencial tático”. (SEFERIAN, 2017, p. 326).
Dessa forma, deve-se pautar a leitura do direito do trabalho e do direito processual do trabalho em referências críticas. assim, o autor sugere que deve ser:
[...] lida a teleologia da Legislação Trabalhista como sendo a particularidade conferida à regulamentação das relações de trabalho no bojo do capitalismo que proporciona a proteção do proletariado, visando a melhoria das condições econômicas, sociais e, sobretudo, político-revolucionárias das trabalhadoras e trabalhadores (SEFERIAN, 2017, p. 326). 
Dessa forma, podemos afirmar que o uso tático do Direito ainda sim cumpre um papel prático de relevância na vida das trabalhadoras e trabalhadores? Ou seria mais outra expressão da ilusão? (Mariane Lima)
 
 Limites da forma jurídica – o combate ao socialismo jurídico
“Quando nosso homem do direito se firma no próprio terreno jurídico, despreza a história econômica [...] Marx, porém [...] jamais apresentou reivindicações jurídicas de qualquer tipo em suas obras teóricas”. A pertinente crítica ao socialismo jurídico (tão presente na tese de titularidade) nos coloca diante do desafio histórico de superar o horizonte liberal, pós-moderno e dito progressista que hegemoniza os movimentos de luta da classe trabalhadora e movimentos sociais brasileiros na contemporaneidade. Como combater (teórica e praticamente) o processo de legalização do movimento social?
ENGELS, Friedrich; KAUTSKY, Karl. O Socialismo Jurídico. São Paulo: Boitempo, 2012, pp. 24-34. (Mário Soares)
 
 Conceitos de Althusser e sua posição na tese – a sobredeterminação
Gostei muito de como o professor usa o conceito de sobredeterminação da forma mercadoria para relacionar a forma jurídica com o modo de produção e a questão do contrato. Sobre esse tema eu queria perguntar se existe uma diferença entre “sobredeterminação” e “determinação em última instância” e também sobre qual momento da obra do Althusser que ele trata desse tema, porque ele é acusado de cair na rigidez das categorias (ou na metáfora) da estrutura e superestrutura, mas a sobredeterminação é uma resposta a isso (Marianna Haug)
 
 Conceitos de Althusser e sua posição na tese - Formas sociais e formas sociais de produção
A tese trabalha com o conceito de forma social de produção correspondente ao modo de produção capitalista. O modo de produção capitalista reproduz-se através das suas formas sociais: mercadoria, valor, dinheiro, capital, estado, direito, etc. No capítulo XXI d’O Capital [Reprodução Simples], Marx afirma que: “Qualquer que seja a forma social do processo de produção, este tem de ser contínuo ou percorrer periodicamente, sempre de novo, as mesmas fases (...). Se a produção tem forma capitalista, então a terá a reprodução” (MARX, 1988, I, p. 145). Qual a relação que se estabelece entre o conceito de forma sociais e forma social de produção? (Mário Soares)
 
 Conceitos de Althusser e a sua posição na tese - A sobredeterminação da forma jurídica?
Ao longo do texto, há passagens em que se afirma que a forma jurídica é o imediato complemento da forma mercadoria, atuando em conformidade com a teoria do valor. Também se diz que de ambas emanam as demais formas no modo de produção capitalista, como derivadas. Na página 73, a forma jurídica e mercadoria são colocadas como "última instância ou sobredeterminante". E na página 89 o fetichismo jurídico é colocado "ao lado do fetiche de mercadoria". Com o entendimento de que Pachukanis deu acabamento à teoria do valor, podemos passar a localizar o direito na estrutura - e não na superestrutura? (Lucas Moreno)
 
 Conceitos de Althusser e sua posição na tese - A teoria da derivação e o modelo proposto na tese
No texto, em especial no trecho mencionado abaixo, há uma relação de derivação da forma-políticada forma jurídica e da forma mercadoria. Essa relação de derivação está presente no debate marxista da década de 1970, surgido na Alemanha ocidental e em outros países da Europa pelos chamados derivacionistas. Tem relação a concepção apresentada no texto com o pensamento desses autores? O cerne da argumentação dos autores identificados como derivacionistas consiste na derivação da forma do Estado capitalista a partir das categorias da economia política, como o processo de produção e circulação de mercadorias e de acumulação do capital. Tal teoria procura mostrar como o Estado deriva do capitalismo, não sendo, portanto, mero resultado da vontade da classe dominante, mas sim de um determinado modo de produção e das relações sociais que lhe são inerentes e diferenciadoras de todos os modos anteriores. 
 
 Conceitos de Althusser e sua posição na tese - A teoria da derivação e o modelo proposto na tese
Por consequência, os autores que integram esse debate estudam as especificidades que o Estado adquire a partir das transformações ocorridas na modernidade com o surgimento das relações econômicas que caracterizam o capitalismo. Um dos representantes dessa teoria é o pensador alemão Joachim Hirsch. 
 “A política, como o direito, assume a lógica da troca de equivalentes. Passa a ter um limite, uma mensuração, sendo calculada no limite entre a conformação e o conflito entre as classes (o tal “dissenso tolerável”). Aprisiona-se o processo histórico, já que o seu motor está parado na medida (equivalentes) da expressão dada por uma delas. Onde há forma jurídica a real política estaria interditada. Neste contexto, o único que poderia existir seria a forma-política como derivação daquela, sequestrada pela dinâmica reprodutora do capital. ” (p.98) - grifo nosso
 
IDEOLOGIA RACIAL DO CONTRATO
MODELO I - SUGERIDO A PARTIR DE IMEDIATA TRANSPOSIÇÃO DA TEORIA DA DERIVAÇÃO USANDO MARX/ PACHUKANIS/EDELMAN E O USO DO CONCEITO DE IDEOLOGIA DE ALTHUSSER PARA ANÁLISE DO CAPITALISMO BRASILEIRO EM GERAL
FORMA MERCADORIA
FORMA ESTADO – direito público e direito privado
FORMA JURÍDICA
FORMA IDENTIDADE
Forma Sujeito de direito – direito subjetivo e direito objetivo
FORMA SOCIEDADE CIVIL
FORMA DINHEIRO
FORMA PREÇO
FORMA SALÁRIO
Forma política pública
IDEOLOGIA RACIAL DO CONTRATO
MODELO II - SUGERIDO A PARTIR DE MARX/ PACHUKANIS/ EDELMAN COM O USO DA SOBREDETERMINAÇÃO DE ALTHUSSER PARA ANÁLISE DO CAPITALISMO BRASILEIRO EM GERAL
FORMA MERCADORIA
FORMA ESTADO – direito público e direito privado
FORMA JURÍDICA
FORMA IDENTIDADE
Forma Sujeito de direito – direito subjetivo e direito objetivo
FORMA SOCIEDADE CIVIL
FORMA DINHEIRO
FORMA PREÇO
FORMA SALÁRIO
Forma política pública
 Conceitos extraídos de Althusser e sua posição na tese
Para Althusser a ideologia é eterna, tem caráter transhistórico. Poderia explicar melhor esta noção? (Mário Soares)
 
 O papel desempenhado pela religião na forma jurídica
Sabemos que a criação da classe trabalhadora, bem como, o direito do trabalho é parte de um maquinário burguês que faz do direito um instrumento de exploração e preservação do modo de produção capitalista. Que o Estado burguês utiliza-se do aparato do Estado para o emprego de toda sua violência através de coerção.
Podemos afirmar que ainda hoje, com a perda do poder que a igreja possuía no passado, e com os princípios religiosos sendo submetidos ao processo negocial, a igreja ainda é condição necessária para se tenha o sujeito jurídico? Como ainda hoje a igreja é ferramenta de coerção social, cumprindo com a função de manutenção da reprodução capitalista? (Débora Leite)
 
Elementos específicos da forma jurídica e seus desdobramentos - A conformação da forma jurídica
O professor destaca no seu texto a adaptabilidade da forma jurídica às determinações do capitalismo no curso de sua história e necessidade de esta se apresentar sempre como correspondente à noção de modernidade. As reconfigurações da forma jurídica atualmente perpassam pela demanda crescente da burguesia de tipos contratuais alternativos ao vínculo empregatício. Nesse sentido, é essencial desnudar tal movimento como consistindo em uma mera busca pela intensificação da exploração e maximização da extração de mais-valia. No entanto, somente negá-lo em prol de uma defesa da generalização do vínculo empregatício também apresenta suas limitações, incorrendo naquilo que o professor denomina “alteração nas ‘cláusulas’ do mesmo ‘Contrato’”, preservando a exploração e venda da mercadoria força de trabalho. A discussão, ao invés de dever se centrar em quais os contornos jurídicos que permeiam a redação do Contrato, deve priorizar a colocação dele próprio em xeque? (Clarissa)
 
 Elementos específicos da forma jurídica e seus desdobramentos - Forma jurídica, tempo, medo e esperança e políticas públicas
Os limites das políticas públicas como forma de transformação estão na pergunta de Caroline de Fátima. Esta se conectaria, de certa forma, a partir do destaque para a esperança e medo na confecção das políticas públicas, a partir da lógica das expectativas futuras, com a pergunta de Vítor quando fala do direito previdenciário e do fato de que este ramo do direito está ligado à questão temporal.
 
 Elementos específicos da forma jurídica e seus desdobramentos - Fetichismo jurídico e feminismo marxista
Ao introduzir o tema do Fetichismo Jurídico traz a seguinte abordagem: “o afastamento de modo de produção anterior, em especial com o aprofundamento da abstração do trabalho, foi fundamental que, com a forma jurídica, se instaurasse, ao lado do fetiche da mercadoria, o fetichismo jurídico. Enquanto o primeiro provém de um processo em que as mediações são mais diretamente extraídas da produção, o segundo o acompanha como seu complemento, que dele passará a ser indissociável, mas que se forma a partir de outro conjunto de mediações que ocorrem no plano da reprodução ou circulação (tendo sempre, em última instância, a forma social de produção capitalista como sobre determinante). 
 
 Elementos específicos da forma jurídica e seus desdobramentos - Fetichismo jurídico e feminismo marxista
Ou seja, para o capitalismo, há uma imediatidade (se partirmos do sentido hegeliano de mediações) do fetiche da mercadoria, que é acompanhado, por algumas mediações sucessivas do fetichismo jurídico. Se, no primeiro, as coisas se apresentam como sendo mais importantes do que as pessoas (a tal relação “fantasmagórica entre coisas” mencionada por Marx), no outro, opera-se uma inversão, e as pessoas se apresentam (no sentido de que aparentam ser) como sendo mais importantes que as coisas. No fetichismo jurídico, portanto, as relações entre as pessoas parecem ser mais relevantes, mas isso é apenas uma aparência, na medida em que a mercadoria (em especial a mercadoria força de trabalho) continua existente e a ser a verdadeira determinante da relação estabelecida”.
 
 Elementos específicos da forma jurídica e seus desdobramentos - Fetichismo jurídico e feminismo marxista
Para exemplificar essa lógica, parte para as normas de proteção ao trabalhador e ao consumidor: “nos direitos do trabalho ou do consumidor, por exemplo, não fica aparente a questão da venda da força de trabalho, o que se apresenta como essencial (sem, na realidade, o ser) é um sistema de normas de proteção do trabalhador ou do consumidor. Portanto, embora as transações em torno do intercâmbio de compra e venda da força de trabalho continuem a ser o mais importante, é necessário que exista uma legislação de proteção do trabalhador e da trabalhadora ou do consumidor e da consumidora para fazer parecer que o mais importante é o “ser humano” por detrás daquela relação. Esconde-se, de forma mais qualificada, o contrato que faz o capitalismo se qualificar enquanto tal que é aquele que promove a compra e venda da força de trabalho como mercadoria, ocultando-se ainda mais a extração do mais-valor e promovendo-se, de maneira “humanitária”, a proteção de trabalhadores ede consumidores”.
 
 Elementos específicos da forma jurídica e seus desdobramentos - Fetichismo jurídico e feminismo marxista
A partir destes trechos parece se formar uma relação dos direitos sociais em relação à reprodução da lógica da mercadoria, como uma forma de verniz útil para esconder a verdadeira relação que importa (compra e venda da força de trabalho como mercadoria), de modo a fazer parecer que as relações humanas seriam mais importantes. 
De forma sintética, no último período surgiu uma perspectiva de análise, principalmente a partir de teóricas do “feminismo marxista”, sobre a essencialidade da dinâmica específica de reprodução da força de trabalho (mercadoria especial) como elemento da manutenção da produção capitalista, inicialmente para localizar a discussão de gênero no funcionamento do modo de produção. Os estudos sobre o que denominam como “esfera da reprodução social” seria parte essencial para compreender o funcionamento do próprio capitalismo, nesse sentido, tudo aquilo que organiza a manutenção da vida daqueles que vendem, venderão ou venderam sua força de trabalho e sua relação com a manutenção do modo de produção. Estuda-se a dinâmica de reprodução da força de trabalho em meio a contradição capital/trabalho, lucro/manutenção da vida da classe trabalhadora. 
 
 Elementos específicos da forma jurídica e seus desdobramentos - Fetichismo jurídico e feminismo marxista
Nessa linha de raciocínio, compreendendo possivelmente os direitos sociais como parte da dinâmica de reprodução da força de trabalho (ex: saúde, assistência social...), entende que seria possível extrair uma relação para além de um utilitarismo de roupagem humanitária para a manutenção do modo de produção capitalista, a partir da chave da necessidade de reprodução da força de trabalho? (Mariana Faria)

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