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Sociologia Aplicada Ao Direito (Anotações Aula)

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SOCIOLOGIA APLICADA AO DIREITO
AULA 01: O que é a sociologia e a sociologia jurídica
LEITURA OBRIGATÓRIA
Giddens, 2010
O QUE É A SOCIOLOGIA
O surgimento do mundo e as mudanças sociais são mais preocupações centrais da sociologia, um campo de
estudo que consequentemente tem um papel fundamental na cultura intelectual moderna.
A sociologia é o estudo da vida social humana, dos grupos e das sociedades, cujo objeto de estudo é o nosso
próprio comportamento como seres sociais.
Aprender a pensar sociologicamente significa cultivar a imaginação, pensar fora das rotinas familiares de
nossas vidas cotidianas, a fim de que observemos o mundo de modo renovado.
A imaginação sociológica nos permite ver que muitos eventos que parecem dizer respeito somente ao
indivíduo, na verdade, refletem questões mais amplas. Embora sejamos influenciados pelos contextos
sociais em que nos encontramos, nenhum de nós está simplesmente determinado em nosso comportamento
por aqueles contextos, entretanto. Possuímos e criamos nossa própria individualidade. É trabalho da
sociologia investigar as conexões entre o que a sociedade faz de nós e o que fazemos de nós mesmos.
Nossas atividades tanto estruturam o mundo social ao nosso redor como, ao mesmo tempo, são estruturadas
por esse mundo social.
O conceito de estrutura social é importante na sociologia. Ele se refere ao fato de que os contextos sociais
de nossas vidas não consistem apenas em conjuntos aleatórios de eventos ou ações; eles são estruturados ou
padronizados de formas distintas. Há regularidades nos modos como nos comportamos e nos
relacionamentos que temos uns com os outros. Mas a estrutura social não é como uma estrutura física como
um edifício que surge independentemente das ações humanas. As sociedades humanas estão sempre em
processo de estruturação. Elas são reestruturadas a todo momento pelos próprios componentes: os seres
humanos.
A sociologia nos permite ver outras sociedades a partir de um ponto de vista diverso do nosso, além de
fornecer ajuda prática na avaliação dos resultados de iniciativas políticas.
Primeiros Teóricos
O estudo objetivo e sistemático da sociedade e do comportamento humanos é um desenvolvimento
relativamente recente, cujos primórdios datam de fins do século XVIII. A partir de uma mudança de
paradigma, uma após a outra, as explicações tradicionais baseadas na religião foram suplantadas por
tentativas de conhecimento racionais e críticas.
O cenário que dá origem a sociologia foi a série de mudanças radicais introduzidas pelas duas grandes
revoluções da Europa dos séculos XVIII e XIX, os quais transformaram irreversivelmente o modo de vida
que os humanos haviam mantido por milhares de anos. Foram elas: a Revolução Francesa e a Revolução
Industrial.
A ruptura dos modos de vida tradicionais desafiou os pensadores a desenvolverem uma nova compreensão
tanto do mundo social, como do natural.
Augusto Comte, inicialmente, usava o termo “física social” para se referir ao estudo social, mas cunhou o
termo sociologia para diferenciar suas próprias concepções das concepções rivais ou antagônicas.
No contexto da Revolução Francesa, Comte buscou criar uma ciência da sociedade que pudesse explicar as
leis do mundo social da mesma forma que a ciência natural explicava o funcionamento do mundo físico. Ele
acreditava que todas as disciplinas da ciência compartilhavam uma lógica comum e um método científico
direcionado a revelar leis universais. Nesse sentido, desvendar as leis que governam a sociedade humana
poderia nos ajudar a modelar nosso destino e a melhorar o bem-estar da humanidade.
Comte afirmava que a sociedade se conforma com leis invariáveis da mesma maneira que o mundo físico.
Sua visão sociológica foi a da ciência positiva. Ele acreditava que a sociologia deveria aplicar os mesmos
métodos científicos rigorosos ao estudo da sociedade que a física ou a química usam no estudo do mundo
físico. O positivismo sustenta que a ciência deveria estar preocupada somente com entidades observáveis
que são conhecidas diretamente pela experiência, defende uma abordagem sociológica baseada em
evidências empíricas tiradas a partir da observação, da comparação e da experimentação.
Lei dos Três Estágios: afirma que os esforços humanos para entender o mundo passaram através dos estágios
teológico (ideais religiosos), metafísico (visão natural e não sobrenatural, racionalismo) e positivo (aplicação
de técnicas do mundo científico ao mundo social).
Émile Durkheim também teve grande impacto duradouro na sociologia moderna. Ainda que ele tenha se
valido de vários aspectos de Comte. Durkheim pensava que muitas das ideias de seu predecessor eram
demasiadamente especulativas e vagas e que Comte não tinha cumprido seu programa com sucesso,
estabelecer a sociologia numa base científica. Como Comte antes dele, Durkheim acreditava que precisamos
estudar a vida social com a mesma objetividade com que os cientistas estudam o mundo natural.
Seus escritos abarcam um amplo espectro de tópicos. Três dos principais temas de que tratou foram a
importância da sociologia como uma ciência empírica, a ascensão do indivíduo e a formação de uma nova
ordem social, as fontes e o caráter da autoridade moral na sociedade. Encontraremos novamente as ideias de
Durkheim em nossas discussões de religião, desvio comportamental e crime, trabalho e vida econômica.
Para Durkheim, a principal preocupação intelectual da sociologia é o estudo de fatos sociais. Em vez de
aplicar métodos sociológicos para o estudo de indivíduos, os sociólogos deveriam examinar os fatos sociais,
os aspectos da vida social que modelam nossas ações como indivíduos, tais como o estado da economia ou a
influência da religião. Durkheim acreditava que as sociedades têm realidade própria, ou seja, que a
sociedade é mais do que simplesmente as ações e os interesses de seus membros individuais. Os fatos sociais
são meios de agir, pensar ou sentir que são externos aos indivíduos e têm sua própria realidade fora das
vidas e das percepções das pessoas individuais, exercendo um poder coercitivo sobre os indivíduos sem que
este os identifique dessa forma.
Ao estudar os fatos sociais, Durkheim enfatizou a importância de se abandonar os preconceitos e a
ideologia. Uma postura científica requer uma mente que está aberta à evidência dos sentidos e livre de ideias
preconcebidas que vêm de fora. Durkheim sustentava que os conceitos científicos poderiam ser gerados
apenas através da prática científica. Ele desafiou os sociólogos a estudar as coisas como elas realmente são e
a construírem novos conceitos que refletem a natureza verdadeira das coisas sociais.
Durkheim estava preocupado com as mudanças que transformaram a sociedade durante o período de sua
vida. Ele estava particularmente interessado na solidariedade social e moral. A solidariedade é mantida
quando os indivíduos são integrados com sucesso em grupos sociais e regulados por uma gama de valores e
costumes compartilhados. Segundo ele, a solidariedade pode ser orgânica ou mecânica sendo esta
caracterizada pela baixa divisão de trabalho e aquela caracterizada por forte divisão de trabalho e pela
dependência interpessoal dos indivíduos. Relações de reciprocidade econômica e de dependência mútua vêm
para substituir crenças comuns ao criarem consenso social.
Mesmo assim, os processos de mudança no mundo moderno são tão rápidos e intensos que originam
dificuldades sociais maiores. Durkheim ligava essa condição à anomia, um sentimento de falta de objetivos
ou de desespero, provocado pela vida social moderna. Os controles e os padrões morais tradicionais, que
costumavam ser fornecidos pela religião, são largamente derrubados pelo desenvolvimento social moderno.
Uma das obras mais emblemáticas de Durkheim foi sobre seu estudo social acerca do suicídio. Durkheim
mostrou que fatores sociais exercem uma influência fundamental no comportamento suicida, sendo a anomia
uma delas.
Na contra-mão dessas ideias,vem Karl Marx. Em comum, ele tentava explicar as mudanças que estavam
tendo lugar na sociedade durante a época da Revolução Industrial, testemunhou o crescimento das fábricas e
da produção industrial, como também das desigualdades que disso resultaram. Seu interesse no movimento
trabalhista europeu e nas ideias socialistas se refletiu em seus escritos, que cobriram uma diversidade de
tópicos. A maior parte do seu trabalho se concentrou em temas econômicos, mas seu trabalho também é rico
em percepções sociológicas.
Para ele, as mudanças sociais mais importantes estavam estreitamente ligadas ao desenvolvimento do
capitalismo, um sistema de produção que contrasta radicalmente com os sistemas econômicos anteriores da
história, já que envolve a produção de mercadorias e de serviços vendidos a uma ampla faixa de
consumidores.
Marx identificava dois elementos principais dentro das empresas capitalistas: o capital e a mão-de-obra. A
partir da relação entre os dois fatores, os detentores do capital formam uma classe dominante, enquanto a
massa da população constitui uma classe de trabalhadores assalariados, ou uma classe operária. De acordo
com Marx, o capitalismo é inerentemente um sistema de classe no qual as relações de classe são
caracterizadas pelo conflito. A relação entre classes é exploração, uma vez que os trabalhadores têm pouco
ou nenhum controle sobre o seu trabalho, e os empregadores são capazes de gerar lucro ao se apropriar do
produto do trabalho dos operários. Marx acreditava que o conflito de classes em função dos recursos
econômicos tornar-se-ia mais agudo com o passar do tempo.
Essa percepção é fundada no que Marx chamou de concepção materialista da história. De acordo com essa
concepção, não são as ideias ou os valores que os seres humanos guardam que são as principais fontes da
mudança social. Em vez disso, a mudança social é estimulada primeiramente por influências econômicas.
O autor acreditava na inevitabilidade de uma revolução dos trabalhadores, que poderia derrubar o sistema
capitalista e introduzir uma nova sociedade na qual não haveria classes, nem divisão em larga escala entre
ricos e pobres. Nesse sentido, a sociedade não seria mais dividida entre uma pequena classe que monopoliza
o poder econômico e político e uma grande massa de pessoas que pouco se beneficia com a riqueza que seu
trabalho cria. O sistema se encontraria sob a propriedade comunal e uma sociedade mais humana se
estabeleceria.
Max Weber foi outro grande autor importante para a sociologia. Apesar de ter sido influenciado por Marx,
rejeitou a concepção materialista da história e viu o conflito de classes como menos relevante do que para
Marx. Na concepção dele, os fatores econômicos são importantes, mas as ideias e os valores têm exatamente
o mesmo impacto na mudança social. Ao contrário de outros pensadores sociológicos anteriores, Weber
acreditava que a sociologia deveria se concentrar na ação social e não nas estruturas. Ele não acreditava que
as estruturas existiam externa ou independentemente dos indivíduos. Ao contrário, as estruturas na
sociedade eram formadas por uma complexa interação de ações. Era o trabalho da sociologia compreender
os significados por trás daquelas ações.
Um elemento importante na perspectiva sociológica de Weber era a ideia de tipo ideal. Tipos ideais são
modelos conceituais ou analíticos que podem ser usados para compreender o mundo. No mundo real, os
tipos ideais raramente ou nem sequer existem. Contudo, essas construções hipotéticas podem ser muito
úteis, já que qualquer situação no mundo real pode ser muito útil, já que qualquer situação no mundo real
pode ser compreendida ao compará-la a um tipo ideal.
Na concepção de Weber, o surgimento da sociedade moderna foi marcado pela aproximação dos indivíduos
das avaliações racionais, instrumentais, que levavam em consideração a eficiência e as consequências
futuras. Na sociedade industrial, havia pouco espaço para sentimentos e para fazer coisas pela simples razão
de terem sido reiteradas por gerações. O desenvolvimento da ciência, da tecnologia moderna e da burocracia
foi descrito por Weber coletivamente como racionalização: a organização da vida econômica e social de
acordo com os princípios de eficiência e na base do conhecimento técnico. Se em sociedades tradicionais, a
religião e os costumes muito antigos definiam amplamente as atitudes e os valores das pessoas, a sociedade
moderna foi marcada pela racionalização de mais e mais áreas da vida, desde a política até a religião e a
atividade econômica. A Revolução Industrial e a ascensão do capitalismo teriam sido provas de uma forte
tendência em direção à racionalização. O capitalismo não é dominado pelo conflito de classes, mas pela
ascensão da ciência e da burocracia.
No entanto, ele temia a sociedade moderna como um sistema que esmagaria o espírito humano ao tentar
regular todas as esferas da vida social. Weber estava particularmente preocupado pelos efeitos
potencialmente sufocantes e desumanizantes da burocracia e suas implicações no destino da democracia. A
agenda do Iluminismo do século XVIII, de progresso crescente, de riqueza e felicidade por meio da rejeição
do costume e da superstição em favor da ciência e da tecnologia, produz, por si só, perigos.
Recentemente, novas perspectivas sociológicas ganharam maior força. Dentre elas estão o funcionalismo, a
abordagem de conflito e o interacionismo simbólico.
O funcionalismo sustenta que a sociedade é um sistema complexo cujas diversas partes trabalham
conjuntamente para produzir estabilidade e solidariedade. A sociologia deveria investigar a relação das
partes da sociedade umas com as outras e com a sociedade como um todo.
Enfatiza a importância do consenso moral para manter a ordem e a estabilidade na sociedade. O consenso
moral existe quando a maioria das pessoas na sociedade compartilha os mesmos valores. Os funcionalistas
veem a ordem e o equilíbrio como o estado normal da sociedade, equilíbrio este baseado na existência de um
consenso moral entre os membros da sociedade.
Os teóricos que empregam teorias de conflito também enfatizam a importância de estruturas dentro da
sociedade. Eles também antecipam um modelo abrangente para explicar como a sociedade funciona. No
entanto, os teóricos de conflito rejeitam a ênfase no consenso. Em vez disso, destacam a importância das
divisões na sociedade. Ao fazê-lo, concentram-se em questões de poder, desigualdade e luta. Tendem a ver a
sociedade como sendo composta de grupos distintos que perseguem seus próprios interesses. A existência de
interesses separados significa que o potencial para conflito está sempre presente e que certos grupos se
beneficiaram mais do que outros. Os teóricos de conflito examinam as tensões entre grupos dominantes e
desfavorecidos dentro da sociedade e buscam compreender como as relações de controle são estabelecidas e
perpetuadas.
As teorias de ação social, por sua vez, dão maior atenção à ação e à interação dos membros da sociedade ao
formar aquelas estruturas. Considera-se aqui que o papel da sociologia é abarcar o significado da ação social
e da interação mais do que explicar quais as forças externas às pessoas induzem-nas a agir da forma que
agem. Se concentram na análise de como os agentes individuais se comportam ou se orientam com respeito
a cada um e à sociedade. Essa teoria é muito associada à Weber.
O interacionismo simbólico surge de uma preocupação com a linguagem e com o significado.
Sabadell – Manual da Sociologia Jurídica (Lição 2)
Abordagem Sociológica do Sistema Jurídico
A sociologia, quando era uma disciplina jovem, já voltava seus olhos ao direito. É importante lembrar que
Durkheim e Weber dedicaram-se ao estudo dos vários fenômenos sociais, e foi dentro de uma tal perspectiva
que analisaram o direito ao lado da economia, da moral, da política, das classes sociais, da religião, da
família, etc.
A sociologia jurídica nasce como disciplina específicano início do século XX, quando os fenômenos
jurídicos começam a ser analisados através do uso sistemático de conceitos e métodos da sociologia geral.
Seus trabalhos partem da tese de que o direito é um fato social, sendo o direito manifestado como uma das
realidades observáveis na sociedade: a sua criação, evolução e aplicação podem ser explicadas através da
análise de fatores, de interesses e de forças sociais. Os sociólogos do direito consideram que o direito possui
uma única fonte: a vontade do grupo social. Dessa forma, a sociologia jurídica deve pesquisar aquilo que
Ehrlich chama de “fatos do direito”, cuja manifestação não depende da lei escrita, mas sim da sociedade, que
produz estes fatos e cria relações jurídicas.
Partindo dessa premissa foram desenvolvidas duas abordagens da sociologia jurídica.
A primeira é uma abordagem positiva, diz respeito à sociologia do direito. Opta por fazer um estudo
sociológico, colocando-se numa perspectiva externa ao sistema jurídico. Seus adeptos consideram que a
sociologia do direito faz parte das ciências sociais, sendo um ramo da sociologia. Por outro lado, o direito
deve continuar utilizando o seu método tradicional, que lhe garante uma posição autônoma com relação às
outras ciências humanas.
Os pesquisadores dessa vertente consideram que a sociologia jurídica não pode ter uma participação ativa
dentro do direito. Pode estudar e criticar o direito, mas não pode ser parte integrante desta ciência. A
aplicação neutra do direito constituiria uma garantia para os cidadãos. Ao admitir a contribuição de outros
ramos, corre-se o risco de que estes venham a interferir na aplicação do direito.
A segunda abordagem é evolucionista, diz respeito à sociologia no direito. Os seus adeptos contestam a
exclusividade de um método jurídico tradicional, afirmando que a sociologia jurídica deve interferir
ativamente na elaboração, no estudo dogmático e inclusive na aplicação do direito. Não há uma ciência
jurídica autônoma porque o direito, ademais dos métodos tradicionais, também emprega ou deve empregar
métodos próprios das ciência sociais.
Nesse sentido, o jurista-sociólogo pode influenciar o processo de elaboração das leis e pode também
influenciar a doutrina. Até aqui os problemas não são grandes. A discussão assume tons polêmicos quando o
sociólogo do direito afirma a pretensão de participar, através das contribuições de sua disciplina, na
aplicação da lei. Em outras palavras, o conflito surge quando se sustenta que o juiz e outros profissionais do
direito devem fazer interpretações, levando em consideração o ponto de vista sociológico-jurídico.
Entende-se, assim, que o magistrado sempre faz um juízo de valores e nunca aplica a lei de modo “puro”,
uma vez que em suas decisões projeta valores pessoais, exprimindo a sua visão do mundo. Se não existe a
neutralidade e se o direito é uma forma de política, então por que a sociologia não deveria tentar persuadir o
juiz a aplicar um direito mais justo, em sintonia com a realidade e as necessidades sociais?
Nas últimas décadas foram desenvolvidas novas concepções e tentativas de unificar a perspectiva interna da
sociologia jurídica. Há assim estudiosos que tentam elaborar um ponto de vista externo moderado, que
permita ao pesquisador observar aquilo que os juristas consideram como direito. Segundo essa opinião, o
sociólogo do direito realiza uma análise externa daquilo que é considerado como direito pelo ponto de vista
da dogmática jurídica.
Sem decidir de forma taxativa, podemos nos contentar com uma definição simples e geral da sociologia
jurídica, que exprime a relação interativa entre o social e o jurídico.
A sociologia jurídica examina a influência dos fatores sociais sobre o direito e as incidências deste último na
sociedade, ou seja, os elementos de interdependência entre o social e o jurídico, realizando uma leitura
externa do sistema jurídico. Examina as causas e os efeitos das normas jurídicas, desde sua produção, até sua
aplicação e se estendendo até sua extinção.
AULA 02: Direito, Capitalismo e Estado em Marx
LEITURA COMPLEMENTAR
Marx, 2005
Neste livro, Marx procede a uma análise detalhada do direito público interno da filosofia do direito de
Hegel. Sabidamente, os parágrafos centrais da obra de Hegel sobre o assunto são o 257 e o 260 de sua obra:
“O Estado é a realidade efetiva da Idéia ética, - o espírito ético enquanto vontade substancial, manifesta,
clara a si mesma, que se pensa e se sabe e realiza plenamente o que ele sabe e na medida em que o sabe. No
costume o Estado tem a sua existência imediata e na autoconsciência do singular, no saber e na atividade do
mesmo, a sua existência mediata, assim como essa autoconsciência do singular, através da [sua] disposição
de ânimo, tem no Estado, como sua essência, fim e produto da sua atividade, a sua liberdade substancial” 1 ;
“O Estado é a realidade efetiva da liberdade concreta; mas a liberdade concreta consiste em que a
singularidade pessoal e os seus interesses particulares tanto tenham o seu desenvolvimento completo e o
reconhecimento do seu direito para si (no sistema da família e da sociedade civil-burguesa), quanto, em
parte passem por si mesmos ao interesse do universal, em parte reconheçam-no, com saber e vontade, como
o seu espírito substancial, e sejam ativos a favor do universal como seu fim-último, e isso de tal maneira que
nem o universal valha e possa ser consumado sem o interesse, o saber e o querer particulares, nem os
indivíduos vivam apenas para estes como pessoas privadas, sem querê-los, simultaneamente, no universal e
para o universal e sem que tenham uma atividade eficaz consciente desse fim”.
“Adendo. “A Ideia do Estado tem, na época moderna, a peculiaridade de ser ele a realização efetiva da
liberdade, não segundo o capricho da vontade subjetivo, mas segundo o conceito da vontade, isto é, segundo
a sua universalidade e divindade”.
No começo de sua análise do direito público interno da filosofia do direito de Hegel, Marx anota a finalidade
deste último de buscar uma unidade entre os interesses particulares e o dever para com o Estado: “assim, por
exemplo, sustenta Marx, o dever de respeitar a propriedade coincide com o direito sobre ela”3 . De fato,
segundo Hegel “o indivíduo tem de encontrar de alguma maneira no cumprimento do seu dever,
simultaneamente, o seu próprio interesse, a sua satisfação e o seu proveito" . Isso permitirá a Marx repensar
a relação do Estado com a família e a sociedade civil para perscrutar a ilusão de ótica pela qual Hegel
consegue ver no Estado determinações diferentes daquelas que são encontradas nas esferas da família e da
sociedade civil. Entendido desse modo, o Estado político não pode ser sem a base natural da família e a base
artificial da sociedade civil; elas são, para ele, conditio sine qua non. Mas a condição torna-se condicional, o
determinante torna-se o determinado, o produtor é posto como o produto de seu produto”5 . Com isso, Marx
pensa que se o Estado não pode ser sem a sociedade civil, então, ele passa a ser condicionado totalmente por
ela e suas determinações. Nesse sentido, a racionalidade do Estado não fará nada mais do que sufragar a
própria racionalidade já operante na sociedade civil. Só que Hegel pretende ver na realidade da sociedade
civil “um outro significado diferente dele mesmo”, o que Marx acusa de misticismo. O resumo desse
mistério estaria no seguinte parágrafo de Hegel: “nessas esferas nas quais os seus momentos, a singularidade
e a particularidade, têm a sua realidade imediata e refletida, o espírito é como a universalidade objetiva que
brilha dentro delas, como o poder do racional na necessidade, a saber, nas instituições consideradas
anteriormente”
Na dicção de Marx, o que Hegel faz é inverter a relação entre sujeito e predicado. Ou seja, a pretensa
universalidade e racionalidade do Estado não passa para Marx do resultado das expectativas e determinações
dos sujeitos egoístas da sociedadecivil, mas Hegel vê os movimentos dos sujeitos egoístas particulares
como uma determinação do desenvolvimento da ideia. Essa mesma mística, nas palavras de Marx, é algo
que se manifestará também nas suas análises da filosofia da histórica, para a qual as paixões humanas não
passariam de meios pelos quais a razão percorre o seu caminho no mundo.
O papel dos estamentos na doutrina do Estado de Hegel é um dos pontos mais importantes da análise de
Marx, visto que lhe permite mostrar como as determinações da sociedade civil ordenam o Estado. Os
estamentos seriam os modos pelos quais a sociedade civil deputa no Estado, fazendo a mediação entre o
governo e o povo. É o que diz o § 301, um parágrafo que Marx não deixa de chamar de enigma do
misticismo 7 , pois como pode o estamento privado e interesse da sociedade civil ser o veículo do universal
e com isso alcançar um significado político no sentido daquilo que é comum? Nesse sentido, defende Marx,
não se deve condenar Hegel porque ele descreve a essência do Estado moderno como ela é, mas porque ele
toma aquilo que é pela essência do Estado. Que o racional é o real, isso se revela precisamente em
contradição com a realidade irracional, que, por toda parte, é o contrário do que afirma ser e afirma ser o
contrário do que é”.
O Estado descrito por Hegel é na verdade a tradução da sociedade civil em sua quintessência. Marx, como se
verá, pretendeu que as determinações referentes à cidadania, citoyenneté, não podem coincidir com aquelas
do homem privado, o bourgeois. O raciocínio de Hegel no § 303 é que o atomismo do indivíduo vai
desaparecendo conforme ele perpassa o seio da família e depois as relações que é obrigado a estabelecer na
sociedade civil. Hegel quer salvar as determinações da sociedade civil próprias de seu atomismo, mas ao
mesmo tempo “ele não quer nenhuma separação entre vida social e vida política”.
Um dos estamentos mais importantes na arquitetônica do Estado hegeliano é aquele dos proprietários de
terra, pois ele tem conexão estreita com a virtude política, com o patriotismo, ou seja, a “disposição de
ânimo que na situação e nas relações-de-vida ordinárias está habituada a considerar a comunidade como fim
e como a base substancial”10 . De fato, o estamento da sociedade civil que merece particular consideração
de Hegel é aquele dos proprietários de terra, o estamento natural, como ele o chama. A propriedade fundiária
desse estamento é um patrimônio, reza o § 306, que é “independente tanto do patrimônio do Estado quanto
da insegurança da indústria”, sendo mesmo independente contra o próprio arbítrio dos proprietários, pelo
instituto do morgadio que impede a divisão da propriedade, determinando que o bem vá para o filho
primogênito. Esse estamento geraria segurança e estabilidade. No que concerne a esse ponto, Marx sublinha
com veemência o seguinte traço que para ele será fundamental em sua análise crítica materialista do Estado
hegeliano. Escreve Hegel no § 306 “a fundamentação do morgadio reside em que o Estado não deve contar
com a mera possibilidade da disposição de ânimo, mas com algo necessário. Ora, a disposição de ânimo não
está certamente ligada a um patrimônio, mas a conexão relativamente necessária [entre eles] está em que
quem possui um patrimônio autônomo não está restringido por circunstâncias externas e, assim, pode
proceder desimpedidamente e agir em prol do Estado”. Eis o ponto no qual Marx realmente pensa atingir o
coração da filosofia hegeliana do Estado, pois como pôde Hegel conectar institutos tão próprios do direito
privado, como o Morgadio, com a idéia absoluta do Estado? Segundo Marx, Hegel é ciente da discrepância
entre o que ocorre na sociedade civil e o que ocorre no Estado: “o mais profundo em Hegel é que ele
percebe a separação da sociedade civil e da sociedade política como uma contradição. Mas o que há de falso
é que ele se contenta com a aparência dessa solução”11. A relação real entre Estado e sociedade civil é que
eles são separados. Para Marx, a constituição representativa toma essa contradição explicitamente, “pois ela
é a expressão aberta, não falseada, consequente, da condição política moderna. Ela é a contradição
declarada” 12. Claro, pois se trata mesmo de representar as particularidades no corpo político. Já com a
constituição estamental, Hegel pensou poder evitar isso. Contudo, para tal, sua miopia teve que ser
completa.
A disposição política defendida por Hegel no de § 306, calcada na propriedade fundiária protegida pelo
morgadio, revela para Marx a completa ilusão de ótica de Hegel, o qual não conseguiu perceber que mesmo
em seu sistema, no qual o Estado é visto como realização da idéia ética, este não passa na verdade de um
mero reflexo da sociedade civil, haja vista que, pelo morgadio, “a mais alta disposição política é a
disposição da propriedade privada”. Em outros termos, é “o poder da propriedade privada abstrata sobre o
Estado político'', ao passo que Hegel descreve o morgadio como o poder do Estado político sobre a
propriedade privada. Ele faz da causa o efeito, e do efeito a causa, do determinante o determinado e do
determinado o determinante”. Marx flagra até mesmo uma inconveniência nos próprios termos do sistema
de Hegel, porque o morgadio se constitui na “barbárie da propriedade privada contra a vida familiar”15,
visto que ao determinar que a propriedade da terra como indivisa deva ir, em consequência, para o filho mais
velho, isso significa que ela não é transmitida de acordo com a igualdade do amor pelos filhos, pois o filho
primogênito acaba sendo privilegiado. Desse modo, conclui ele, a propriedade se separa como independente
da própria comunidade familiar para reinar inclusive sobre ela.
No seu modo de entender, o Estado torna a propriedade privada, via morgadio, um independente que reina
soberano, gerando a ilusão de que ele determina, onde ele é determinado. Ele rompe, é verdade, a vontade da
família e da sociedade, mas apenas para dar existência à vontade da propriedade privada que é sem a
vontade da família e da sociedade e para reconhecer essa existência como a suprema existência do Estado
político, como suprema existência ética” 16. E arremata: “(O morgadio não é, como diz Hegel, ‘um entrave
colocado à liberdade do direito privado’, ele é, muito antes, a ‘a liberdade do direito privado, que se libertou
de todas as cadeias sociais e morais’)”17. Em suma, “a propriedade privada se tornou o sujeito da vontade e
a vontade o mero predicado determinado da propriedade privada".
Qual é finalmente, se pergunta Marx, essa qualidade tão especial do senhor do morgadio, a qualidade moral
de um patrimônio inalienável, que o torna tão especial moralmente? A resposta é: a incorruptibilidade, a
virtude mais alta. Ou seja, os proprietários de terras do morgadio formariam uma espécie de câmara alta,
como o senado no Brasil, que teria uma função de garantia contra as instabilidades da câmara baixa
motivadas por seus interesses particularistas.
Marx não deixa também de vociferar suas distinções jurídicas sobre Hegel. Este último teria confundido
posse e propriedade, por isso, pôde obliterar que é a política que cria a propriedade e não vice-versa: “o
verdadeiro fundamento da propriedade privada, a posse, é um fato, um fato inexplicável, não um direito. É
somente por meio das determinações jurídicas, conferidas pela sociedade à posse de fato, que esta última
adquire a qualidade de posse jurídica, a propriedade privada” 19. Por isso, “em vez de fazer da propriedade
privada uma qualidade do cidadão do Estado, Hegel faz da qualidade de cidadão do Estado, da existência do
Estado e da disposição do Estado uma qualidade da propriedade privada”.
Bobbio estabelece com clareza o modo como Marx concebe o Estado: “para Marx, o Estado é o reino não da
razão, mas da força. Não é o reino do bem comum, mas do interesse de uma parte. Não tem por fim o bem
viver de todos, mas o bem viver daqueles que detêm o poder. Não é a saída doestado de natureza, mas a sua
continuação sob outra forma [...] Daí a tendência a considerar todo Estado uma ditadura e a considerar
relevante apenas o problema de quem governa (a burguesia ou o proletariado) e não como governo"21 .
Ainda vale a pena mencionar um outro aspecto deste texto, referente à democracia. Neste texto de 1843 aqui
analisado, Marx faz um elogio da democracia direta 22 à la Rousseau, um pouco avessa, certamente, à idéia
de constituição que atualmente se sustenta, pois, para Marx, nem mesmo Hegel consegue evitar a dicção de
que o poder legislativo ultrapassa a constituição, até porque a criatura [a constituição] não pode dominar o
seu criador [o poder legislativo]. Ou seja, o povo torna-se o princípio da constituição, sendo que o progresso
deste deve o próprio progresso da constituição, pois “tem o povo o direito de se dar uma nova constituição?
O que de imediato tem de ser respondido afirmativamente, na medida em que a constituição, tão logo deixou
de ser expressão real da vontade popular, tornou-se uma ilusão prática”23. Ao comentar o § 279, Marx
sustenta que na democracia “a constituição aparece como o que ela é, o produto livre do homem [...] a
constituição em geral é apenas um momento da existência do povo e que a constituição política não forma
por si mesma o Estado”24. A constituição seria, assim, um produto vivo do homem concreto que pela sua
vontade determina diretamente o Estado. Ou seja, em todos os Estados que diferem da democracia o que
domina é o Estado, a lei, a constituição, sem que ele domine realmente, quer dizer, sem que ele penetre
materialmente o conteúdo das restantes esferas não políticas. Na democracia, a constituição, a lei, o próprio
Estado é apenas uma autodeterminação e um conteúdo particular do povo, na medida em que esse conteúdo
é constituição política”25. Essa posição parece ter sido mudada um ano depois quando publica nos Anais a
‘Crítica da filosofia do direito de Hegel - Introdução’, texto no qual ele estabelece uma distinção importante
entre revolução política e revolução social. Aquele tratamento primeiro da democracia passa a ser vista
como insuficiente para realmente mudar a sociedade. Mudar a forma de gerir o Estado não alteraria as
determinações particularistas que verdadeiramente estariam à sua base. Dito claramente: é preciso uma
revolução social, não uma revolução política. Ainda com relação a essa sua postura com relação ao direito e
ao Estado, Marx, em sua crítica radical aos direitos humanos em A questão judaica, distingue claramente os
direitos do homem dos direitos do cidadão 26. Estes implicam em verdadeira emancipação, já aqueles
implicam em falta de emancipação. A pessoa de direito público, ou seja, o Estado, decreta a sua libertação
de privilégios de nascimento e de propriedade, visto que no âmbito da cidadania o homem vale como ser
genérico e livre. Por outro lado, os direitos do homem são a descrição por antonomásia do homem, onde um
aspecto é tomado pelo todo. Ou seja, o homem passa a se definir pelo seu ser egoísta, enquanto partícipe do
mercado. Portanto, o homem engendra um processo de emancipação incompleta, pois dita emancipação,
embora seja exemplar no âmbito político, é inexistente no âmbito privado. Ademais, Marx não pode aceitar
que os direitos do homem se sobreponham aos direitos políticos. De fato, os direitos políticos são
concebidos pelo Estado de direito burguês como meios para a realização dos direitos do homem. Ou melhor,
os direitos do homem passam a disputar um âmbito de competência próprio da legislação política ao se
instituírem como cláusula excluída da decisão política. Marx não pode aceitar que o fim seja convertido em
meio, ou seja, que a emancipação política acabe por se transformar em meio que sustente a escravidão da
vida privada, onde vigem relações baseadas nas diferenças de propriedade e nas crenças religiosas.
Cabe observar que Marx faz essa leitura dos direitos humanos a partir de uma interpretação por demais
concretista dos mesmos, numa de suas formulações possíveis, de tal forma que ele não consegue vislumbrar
uma dimensão propriamente normativa no conjunto dos direitos humanos. Tal ocorre porque, para ele, o
direito à liberdade, configura-se, basicamente, como liberdade religiosa – contra a qual Marx tinha reservas
– e, principalmente, como liberdade de propriedade. Ora, visto que a liberdade se determina, segundo Hegel,
como posse e propriedade, naturalmente a liberdade de um só pode encontrar na liberdade de outro um
limite, visto este aspecto constituir o próprio cerne do direito de propriedade [excludendi alios], razão pela
qual o direito é visto como limitação das liberdades para regular o meu e o teu. Assim, a lei funciona como
um limite dentro do qual a liberdade se define por oposição aos demais. Marx não consegue compreender
uma humanidade que se define pela individualidade e não pelo seu caráter político, comunitário.
Por outro lado, a igualdade vai ser definida como igualdade perante a lei nos termos acima propostos, ou
seja, uma igualdade definida apenas nos termos legais que limitem as liberdades, implicando numa
assimetria entre essa igualdade perante a lei e a igualdade de fato, concernente ao exercício das liberdades
no espaço deixado aberto pela lei. Como se sabe, Marx tece severas críticas a esse conceito de igualdade e,
quiçá, ao conceito de igualdade mesmo, ao propor que este seja substituído pelo conceito de necessidade:
"de a cada um segundo suas habilidades, a cada um segundo suas necessidades"27 .
Em sua teoria Hegel, sustenta Marx, não teria visto o descompasso entre igualdade de fato e de direito:
“assim como os cristãos são iguais no céu e desiguais na terra, também os membros singulares do povo são
iguais no céu de seu mundo político e desiguais na existência terrena da sociedade” 28. Em defesa de Hegel
se poderia dizer que não se trata de ele não ter visto esse problema, mas de considerá-lo irrelevante: “É, pois,
contingente, do ponto de vista jurídico, a natureza e a quantidade do que possuo”29 .
Para Marx, teria sido a Revolução Francesa aquela a transformar os estamentos políticos em estamentos
sociais, ou seja, a Revolução fez das distinções estamentais distinções privadas, não significando mais nada
na política a pertença a um estamento, de tal forma que, com a igualdade formal de todos, a separação da
vida política e da sociedade civil teria sido consumada. Contudo, o homem privado é o homem real, ao
passo que o homem político no seu sistema não passaria de uma ficção formal.
Os sistemas jurídicos, em geral, têm por base um sistema de ação coerente, ou seja, compatível com a ação
de outros, e não um sistema de necessidades. Nesse sentido, o sistema privilegia o conceito de justiça
corretiva, em detrimento da justiça distributiva. O sistema toca só tangencialmente na justiça distributiva,
sendo quando distribui cargos, seja quando estabelece um sistema de mercado. Em ambos os casos, isso é
feito não tendo em vista as necessidades, como Marx propõe, mas tendo em vista algum critério que remete
à ação, seja o mérito na distribuição de cargos, seja a eficiência ou o talento no caso do mercado.
Por fim, a segurança é o objetivo maior da comunidade política, visto ter que garantir os direitos do homem
como acima descritos. Nesse particular, são por demais conhecidas as reservas de Hegel contra o Estado
concebido tão somente enquanto aparato de segurança. Enfim, para Marx, os direitos do homem não
traduzem nada mais do que a posição do homem egoísta do mercado.
Pode-se dizer que a construção liberal do Estado fez da economia liberal a pedra angular de sua verdade: as
leis naturais da sociedade devem cumprir as promessas dos direitos naturais do homem. Se Marx pudesse
provar que o livre comércio das propriedades privadas exclui necessariamente a igualdade de oportunidades
do desfrute da autonomia pessoal, então a justiça não aconteceria na economia por meio das leis formais e
geraisda ordem jurídica privada burguesa. Assim, os interesses dos burgueses não poderiam ser
identificados com aqueles de todos os cidadãos, pois as leis gerais do direito burguês só fariam valer o
interesse particular de uma classe 30 .
É verdade que a revolução burguesa seria a emancipação dos cidadãos, já que os reconhecem como livres e
iguais, mas ela não é a emancipação do homem, que permanece preso às relações naturais de uma sociedade
de troca deixada livre de regulação. Na revolução burguesa, o homem começa a se emancipar (emancipação
do cidadão), mas permanece a meio caminho (com relação à emancipação do homem). Em suma, a
burguesia revolucionou o Estado para manter a sua base natural social. É preciso, como visto, que o
proletariado adentre no Estado para mudar essa base natural. Portanto, não se trata mais, para Marx, de
positivar o direito natural: "Marx, indo além [de Hegel], desacreditou tão eficazmente para o marxismo, por
meio da crítica ideológica, o Estado de direito burguês, a idéia da legalidade mesma, e, por meio da
dissolução sociológica da base dos direitos naturais, a intenção dos direitos naturais como tal que, desde
então, desfez-se o elo que mantinha juntos direito natural e revolução"31 .
Por fim, pode-se dizer que decorre da crítica de Marx a Hegel uma consideração econômica do direito, uma
espécie de análise econômica do direito. Uma tal análise terá lugar também em O capital, como se pode ver
na citação a seguir: “Assim, a população rural, expropriada e expulsa de suas terras, compelida à
vagabundagem, foi enquadrada na disciplina exigida pelo sistema de trabalho assalariado, por meio de um
grotesco terrorismo legalizado que empregava o açoite, o ferro em brasa e a tortura”32. Evidentemente, tal
perspectiva não se aplica só ao direito privado, mas também ao direito público, por exemplo, ao direito
penal. Marx sustenta que com o cercamento dos campos na Inglaterra, no final da idade média, “muitos se
transformaram em mendigos, ladrões, vagabundos, em parte por inclinação, mas na maioria dos casos por
força das circunstâncias”
ANOTAÇÕES AULA
Não há em Marx uma teoria do Direito propriamente dita. Os pensamentos dele sobre essa temática estão
muito dispersos ao longo das obras do autor.
Distinção sobre a teoria marxiana (concentrada exclusivamente em debates próprios das obras de Marx) e a
teoria marxista (debates que vão além de Marx).
Materialismo Histórico Dialético
Crítica da Economia Política (Prefácio):
“ O primeiro trabalho, empreendido para resolver as dúvidas que me assaltavam, foi uma revisão crítica da
filosofia do direito que Hegel, um trabalho cuja introdução apareceu nos Deutsch-Französische
Jahrbücher publicados em Paris em 1844. A minha investigação desembocou no resultado de que relações
jurídicas, tal como formas de Estado, não podem ser compreendidas a partir de si mesmas nem a partir do
chamado desenvolvimento geral do espírito humano, mas enraízam-se, isso sim, nas relações materiais da
vida, cuja totalidade Hegel, na esteira dos ingleses e franceses do século XVIII, resume sob o nome de
"sociedade civil", e de que a anatomia da sociedade civil se teria de procurar, porém, na economia política.
Marx não concordava com Hegel no sentido de pensar idealmente a sociedade e as organizações civis. Para
ele, as relações jurídicas não são compreendidas em si mesmas, mas sim na sociedade civil e nas relações
sociais, especialmente na forma material de gestão de recursos] [...] O resultado geral que se me ofereceu e,
uma vez ganho, serviu de fio condutor aos meus estudos, pode ser formulado assim sucintamente: na
produção social da sua vida os homens entram em determinadas relações, necessárias, independentes da sua
vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas
forças produtivas materiais. A totalidade destas relações de produção forma a estrutura económica da
sociedade, a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política, Direito e Estado são
derivações dessa estrutura econômica. O Direito não emerge do Estado e à qual correspondem determinadas
formas da consciência social. O modo de produção da vida material é que condiciona o processo da vida
social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o
seu ser social que determina a sua consciência. Numa certa etapa do seu desenvolvimento, as forças
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/h/hegel.htm
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/h/hegel.htm
produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que é
apenas uma expressão jurídica delas, com as relações de propriedade no seio das quais se tinham até aí
movido. De formas de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações transformam-se em grilhões
das mesmas. Ocorre então uma época de revolução social. Marx olha sempre para as formas políticas e
jurídicas de forma histórica, não estática. É uma teoria baseada em mudanças e conflitos, que produzem
diferentes formas de produção social. Com a transformação do fundamento econômico revoluciona-se, mais
devagar ou mais depressa, toda a imensa superestrutura. Na consideração de tais relacionamentos têm de se
distinguir sempre entre o revolucionamento material nas condições económicas da produção, o qual é
constatável rigorosamente como nas ciências naturais, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas
ou filosóficas, em suma, ideológicas, em que os homens ganham consciência deste conflito e o resolvem. Do
mesmo modo que não se julga o que um indivíduo é pelo que ele imagina de si próprio, tão-pouco se pode
julgar uma tal época de revolucionamento a partir da sua consciência, mas se tem, isso sim, de explicar esta
consciência a partir das contradições da vida material, do conflito existente entre forças produtivas e
relações de produção sociais. Uma formação social nunca decai antes de serem desenvolvidas todas as
forças produtivas para as quais é suficientemente ampla, e nunca surgem relações de produção novas e
superiores antes de as condições materiais de existência das mesmas terem sido criadas no seio da própria
sociedade velha. Por isso a humanidade coloca sempre a si mesma apenas as tarefas que pode resolver, pois
que, a uma consideração mais rigorosa, se achará sempre que a própria tarefa só aparece onde já existem, ou
pelo menos estão no processo de se formar, as condições materiais da sua resolução. Nas suas grandes
linhas, os modos de produção asiático, antigo, feudal e, modernamente, o burguês podem ser
designados como épocas progressivas da formação económica e social. As relações de produção
burguesas são a última forma antagônica do processo social da produção, antagônica não no sentido
de antagonismo individual, mas de um antagonismo que decorre das condições sociais da vida dos
indivíduos; mas as forças produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa criam, ao
mesmo tempo, as condições materiais para a resolução deste antagonismo. Com esta formação social
encerra-se, por isso, a pré-história da sociedade humana.
Essa visão de Marx não usa o Direito como um conjunto de regras, mas sim como um fenômeno social
específico, sinônimo de forma jurídica. É a forma como a sociedade burguesa capitalista produziu o Direito
e a Subjetividade Jurídica, que não são encontrados nas sociedades pré-capitalistas. Pois o Direito nas
sociedades capitalistas seria baseado na ideologia da igualdade no mercado.
O pressuposto da sociedade capitalista é que todos são livres e iguais, o que acarreta na possibilidade de
transformar a força de trabalho em mercadoria. E é isso que gera a desigualdade econômica, uma vez que
esse tipo de mercadoria não é equivalente às outras formas de mercadoria. Nesse sentido, é essencial que a
ideologia da igualdade, que não era encontrada nas sociedades anteriores, fosse disseminadana sociedade
capitalista (armadilha do capitalismo e da liberdade formal).
Subjetividade Jurídica = é essa maneira de se perceber a si e de se relacionar com outros por meio de
contratos livres entre iguais.
O conteúdo jurídico é variável, sendo a variação observada a partir do materialismo histórico dialético. A
forma e produção, os conflitos e transformações são marcadores do conteúdo jurídico da sociedade
capitalista.
As transformações não fazem com que a forma jurídica seja rompida, desde que o sistema continue sendo
baseado no materialismo e no capitalismo. A forma jurídica é um espelho da dominação material.
Mesmo essa forma jurídica mais próxima dos direitos humanos não rompe com a forma jurídica capitalista.
Essa é uma das maiores críticas ao sistema capitalista atual. Nesse sentido, o rompimento com o capitalismo
e desigualdades sociais não vão ser superados concretamente através do direito.
“Só é possível que haja vínculos na produção entre capitalistas e assalariados se, também, houver um
aparato terceiro aos agentes que tenha uma materialidade política suficiente para fazer jungir os vínculos em
casos de negativas e também para garantir o entendimento do capitalista.” (MASCARO) Esse modo de
produção livre exige um aparato que não é exatamente esse grupo de dominadores que permite o controle
desses vínculos. Caso o vínculo seja quebrado, há a imposição da norma. O direito público se transforma
muito mais rápido que o direito privado.
A forma jurídica difere da forma política. A forma política burguesa é amparada pelo Estado, e o único jeito
de superar essa forma política é a partir da mudança do sistema de produção.
Direito e Estado se relacionam, mas não são a mesma coisa.
LEITURA OBRIGATÓRIA
Mascaro, 2015
O problema da forma jurídica e de sua superação, embora desconhecido ou descuidado por grande parte dos
batalhadores das lutas sociais, é crucial para a ação revolucionária socialista, sendo seu índice e termômetro.
Há uma relação necessária entre direito e capitalismo. O direito não é um conjunto de técnicas neutras, nem
tampouco é na manifestação de ideais elevados ou pretensas dignidades humanas. Naquilo que tem de
fundamental e estrutural, o direito se apresenta como forma social reflexa e derivada de relações sociais
específicas. Só é possível compreender o direito dentro do quadro da sociedade capitalista.
O liame entre o capitalismo e o direito trata-se de uma junção nuclear, estrutural e inexorável. Só há
juridicidade no capitalismo.
A forma social do direito somente se estabelece quando a circulação de mercadorias se apresenta e se
impõe como um círculo pleno e necessário das relações sociais. Para que haja essa plenitude da
mercadoria, é preciso que todos sejam tomados, em suas interações, com algum grau de igualdade
para o estabelecimento de vínculos obrigacionais, que, por sua vez, têm que apresentar um índice
manifesto de autonomia da vontade. Tal articulação social é a capitalista, e somente ela permitiu
relações de produção calcadas no trabalho como mercadoria, na extração de mais-valor e na
mercantilização tendente à totalidade.
A forma jurídica opera para constituir as relações de produção capitalistas. E sua especificidade é também
seu proveito. O direito não permite a superação da exploração e das contradições do capitalismo.
Situar a especificidade do direito no capitalismo implica, diretamente, ter de identificar este modo de
produção em face de outros. O capitalismo, como sociedade da mercadoria, somente se estabelece quando o
trabalho se torna mercantil. O jugo de pessoas ao trabalho, no capitalismo, é constituído pela
mercantilização do vínculo, fazendo com que o trabalhador se submeta ao capital por via contratual. Daí,
nesse tipo de relação de produção, o papel do direito se torna estrutural.
A especificidade da forma jurídica no capitalismo contrasta com as conhecidas e louvadas manifestações da
existência de um direito no pré-capitalismo, de que seria exemplo notável o direito romano. Mas há uma
dissociação entre as manifestações jurídicas do passado e as do presente. De tal sorte se estabelece uma não
continuidade entre esses dois momentos que se deve, com melhor proveito, tratar o direito pré-capitalista
como um fenômeno não jurídico.
O fenômeno jurídico pré-capitalista não se funda na categoria da subjetividade jurídica. A facultas agendi dos
romanos, o status quo dos medievais e mesmo dos modernos antes de revoluções burguesas, são condições sociais
de privilégio que não são comparáveis ao direito subjetivo, universal, genérico e abstrato, que só surge em relações
sociais capitalistas.
O que ocorre é que tal vinculação dita jurídica do pré-capitalismo se dá entre agentes que interagem a
partir de múltiplas hierarquias entre si, tudo isso atravessado por elementos da força bruta, do
poderio direto e da religião. Nesse sentido, a disposição da vontade opera em terreno permeado por
injunções políticas, religiosas, morais e de força, diferenças, justaposições, hierarquias, privilégios,
poderes e submissões. As relações permeadas de verticalidade, os poderes, as injunções políticas e as
moralidades são outras coisas quando comparados à forma social que identifica o direito no
capitalismo. Se o capitalismo instaura uma plena subjetivação jurídica como forma social de agentes
livres, iguais e equivalentes, então aquilo que se chama por direito no passado é, em verdade,
empecilho para o surgimento disso.
A superação do capitalismo não pode ser feita a partir das ferramentas mantenedoras da própria dinâmica
social dele. Por isso, não há hipótese de transição ao socialismo que seja realizada por empreendimento
jurídicos, remanejamentos de direitos, utilização do direito como arma de combate etc. Nesse sentido,
mesmo direitos dados por governos de esquerda ainda seriam provenientes da forma jurídica estabelecida
pelo capitalismo.
O fundamental do direito é a forma jurídica, que é espelho da forma mercantil. A forma jurídica,
enquanto forma social, não é normativa, mas sim forma de subjetividade jurídica. Se erige no
contexto das próprias relações sociais capitalistas, numa relação estrutural. Os portadores de
mercadorias trocam-nas mediante dispositivos de vontade em condições de igualdade para tal vínculo.
A equivalência é a chave da mercadoria e, também, da forma pela qual os sujeitos circulam.
A forma da subjetividade jurídica não é estatal nem jurídica, se se tomasse isso por conta de ser
criada ou sustentada por instituições internas do direito. É uma forma social derivada da forma
mercadoria.
A subjetividade jurídica é a condição necessária resultante dos portadores de mercadorias quando as
trocam no mercado. É a forma como o indivíduo se enxerga na sociedade.
É justamente na posição de igualdade dos sujeitos para os vínculos contratuais que se dá o ensejo da
desigualdade econômica. Entre igualdade formal e desigualdade real não se dá uma oposição nem
uma negação nem um ocultamento do outro. Para a desigualdade, é preciso a igualdade. É justamente
no plano da equivalência subjetiva que pode se dar a extração do valor, a circulação de mercadorias e
a exploração.
A forma sujeito moderna se funda na vontade. Este é o mecanismo central de tal vínculo entre os iguais da
desigualdade econômica.
No fundamental, como a forma sujeito de direito é o espelho da forma mercadoria e condição social
necessária desta – porque aí reside o nível do dispositivo psíquico de vinculação por meio de vontade –, ela
é então o elemento central da própria forma sujeito.
A ideologia jurídica está inscrita, materialmente, na circulação mercantil e nas suas práticas. Ser sujeito de
direito, dispor de direitos subjetivos, obrigar-se, valer-se da vontade autônoma e livre, nesse plexo é o
fundamental da identificação da subjetividade no capitalismo.
A coerção, a hierarquia, a extração do mais-valor, a desigualdade real e estrutural entre os indivíduos se
confunde na perspectiva ideológica coma igualdade, a vontade livre e a relação social voluntária, que são o
interpelante da subjetividade no capitalismo. Não se trata de máscara de um pelo outro, mas, sim, de fulcro
ideológico constituinte.
Se as relações de produção capitalistas e a circulação mercantil determinam a forma da subjetividade
jurídica, as lutas e os antagonismos de classes e grupos são definidores do conteúdo jurídico.
No que tange aos conteúdos, o direito revela, com contornos mais nítidos, as lutas, as tensões e os
antagonismos entre classes, grupos e indivíduos. Devido à constrição geral operada pela forma mercadoria e,
por extensão, pela forma de subjetividade jurídica, às relações sociais passam a ser mediadas por
mecanismos jurídicos. Isto faz com que mesmo lutas mais progressistas e transformadoras acabem por se
reduzir aos limites das formas sociais dadas. A partir dessa deriva, os novos direitos são, fundamentalmente,
ou direitos da expansão da mercadoria ou dos arranjos surgidos da conflituosa sociabilidade do capital.
O que ocorre é que as instituições jurídicas mais próximas do núcleo da materialidade da reprodução das
relações capitalistas têm mais presença sistemática vinculante que aquelas que se levantam, ainda que
parcialmente, como oposição a tal reprodução. Assim, mudanças de governo, guerras, revoltas,
revoluções, podem alterar até enormemente o quadro do direito público, mas, quase nunca, o fazem
em relação ao direito privado. As relações de propriedade, de garantia contratual e de
responsabilização civil têm, historicamente, muito mais estabilidade que as normativas do direito
constitucional.
Mesmo operando ambos em conjunto, entre Estado e capital, a primazia da reprodução do capitalismo é
deste. A leitura interna dos ramos do direito há de perceber, na miríade de conteúdos com os quais operam,
as suas práticas materiais mais nucleares e arraigadas. Estas, mais que as normas declaradas
hierarquicamente mais altas, são o esteio de determinação jurídica da sociabilidade capitalista.
A forma jurídica é distinta da forma política estatal, embora ambas guardem vinculação. A
subjetividade jurídica advém, como forma social, diretamente das relações mercantis. Não é uma
institucionalização jurídica que a constitui, mas, sim, práticas materiais arraigadas. É apenas
posteriormente a isso que o movimento histórico de tais práticas leva a uma institucionalização
empreendida pelo Estado. Entre direito e Estado operam articulações e enredamentos e,
tendencialmente, uma sobreposição fenomênica, mas as formas sociais jurídica e política estatal são
insignes entre si.
O capitalismo, justamente porque se assenta em apreensão econômica circulável, erige ligações políticas que
não podem se basear numa suprema imposição do burguês. Daí, a forma de relação social da mercadoria
engendra uma forma de organização política apartada dos agentes da produção.
Só é possível que haja vínculos na produção entre capitalistas e assalariados se, também, houver um aparato
terceiro aos agentes que tenha uma materialidade política suficiente para fazer jungir os vínculos em casos
de negativas e também para garantir o entendimento do capitalista. Tal aparato não é incidental nem
diretamente pertencente ao burguês ou à burguesia. Sendo-lhes distinto, está baseado nas suas instituições
políticas, na sua força econômica advinda de tributos hauridos da própria economia em que se planta, no seu
conjunto de forças militares mas, em especial, está arraigado na dinâmica das relações capitalistas. A forma
política estatal, mais que pelas suas instituições, consolida-se relacionalmente pelas formas sociais da
mercadoria.
Assim, o Estado não é burguês porque seja controlado pela burguesia – ainda que via de regra o seja –, mas,
fundamentalmente, porque sua forma é espelho da forma mercadoria. Nestes casos, aumentos salariais,
diminuição das desigualdades de renda e incorporação de parcelas da população fazem com que a
mercadoria penetre ainda mais no tecido social.
As normas jurídicas operam a partir de uma específica junção entre forma política estatal e forma de
subjetividade jurídica. Entre tais formas, dá-se aquilo que denomino conformação. A interação entre
a subjetividade jurídica e o controle estatal se dá por meio de uma específica técnica de normalização.
Neste plano técnico, a subjetividade jurídica se torna, então, direito subjetivo, cujos limites e estoque
são objeto de parâmetros estatais.
Nos termos do direito contemporâneo, a legalidade resulta da derivação secundária entre forma jurídica e
forma política estatal. Por meio da normatividade, direitos subjetivos, faculdades, liberdades, obrigações,
deveres, poderes, sujeições, impotências e imunidades são instituídos, constituídos, garantidos e servem de
base de previsibilidade às relações sociais.
Trata-se, pelo contrário, de uma legalidade específica. Ela só existe no solo de uma sociabilidade mercantil, na
concorrência entre produtores e trabalhadores assalariados, de tal sorte que a previsão da legalidade é, por
resultante, um cálculo relacional. A virtualidade da repressão e da condenação em face da ilegalidade se inscreve no
mesmo cálculo econômico da interação social sob a legalidade. Tal qual a sociabilidade da mercadoria não opera pelo
horizonte do uso, mas da troca, sob o dístico da acumulação, a legalidade e a ilegalidade são estratégias relacionais
da circulação da mercadoria.
AULA 03: DIREITO, RACIONALIDADE E DOMINAÇÃO EM WEBER
ANOTAÇÕES AULA
O método weberiano de explicação é uma sociologia histórica, mas a leitura da história é feita a partir de
uma análise explicativa. Weber quer explicar o porquê a história se deu da forma como aconteceu.
Para essa análise, ele utiliza a criação de tipos ideais, com alto grau de abstração e generalidade. A partir
desses tipos e ideias puras, há uma comparação com a forma real, concreta, que nunca são da mesma forma
que os ideais.
A comparação das coisas também foi uma das formas principais de análises sociais, utilizada por Weber.
Ele não acreditava em causalidades únicas, mas sim na multicausalidade e holismo.
Além disso, metodologicamente, Weber não foca no aspecto estrutural da sociedade, mas sim nos
indivíduos, na ação e no sentido atribuído a ela.
Sociologia do direito de weber:
É possível perceber que o direito para Weber é um sistema de máximas, de normas. Tal sistema, entretanto,
convive concomitantemente com diversos outros sistemas. A especificidade do direito frente a outros
sistemas são três elementos.
Elementos do conceito de direito:
● Coação: necessidade de garantir que a norma seja cumprida e tenha mecanismos externos à vontade
das pessoas que interagem pela norma. Distingue o direito da convenção e outros sistemas de
normas.
● Legitimidade: O Direito é poder, mas é também autoridade. Coação sem legitimidade é violência.
Algum grau de aceitação e concordância mútua.
● Racionalidade: As normas devem possuir um grau de generalização e abstração. As normas não se
referem a um caso específico e sim à vida social e comportamento geral.
Tanto em Weber quanto em Marx o direito não é apenas um sistema de regras. Há a busca, também, da
formação da configuração do sistema jurídico da Europa.
Weber destaca a diferenciação entre os graus dos elementos de acordo com cada sociedade. A partir dessa
variação, Weber identifica idealmente certos tipos de sistemas de direitos.
A partir dos elementos de legitimidade e diferenciação das normas jurídicas, ele consegue definir quatro
formas diferentes de sistemas.
Irracionalidade formal: As decisões de alguma maneira possuem um rito bastante próprio, mas o
fundamento da decisão não é anteriormente identificável. As decisões são baseadas nos casos concretos.
Está relacionada a decisões ou revelações proféticas. Decisões são anunciadas sem qualquer referência a
padrões gerais ou, até mesmo, às preocupações dos participantes da disputa. Os critérios para a tomada de
decisões são intrínsecos aosistema de direito, mas desconhecidos.
Irracionalidade Substancial: utiliza-se critérios que podem ser identificados, mas que são sempre baseados
em considerações éticas e práticas sobre os casos em questão. É possível entender tais decisões depois de
ocorrido o fato, mas, a não ser que exista um sistema de precedentes, é difícil generalizar a partir de casos
concretos.
Racionalidade Substancial: utiliza uma série de critérios ou políticas, mas tais critérios advêm de um corpo
de pensamento externo ao sistema jurídico, por exemplo, a religião e a ideologia política.
Racionalidade Lógico-Formal: normas intrínsecas validadas em si mesmas, racionais e altamente
generalizadas. Seria o direito moderno europeu. Remete a alguma justificativa que transcende o caso
concreto e se baseia em regras existentes e claramente definidas, é formal pois os critérios de decisão são
intrínsecos ao sistema de direito e lógico, pois as regras e os princípios são deliberadamente construídos por
formas especializadas de pensamento jurídico, baseados em uma classificação altamente lógica; também
porque as decisões de casos específicos são tomadas por meio de processos lógico-dedutivos especializados
que partem de princípios ou regras previamente estabelecidos.
Os tipos ideais de direito permitem que Weber perceba qual é a especificidade desse sistema jurídico
produzido na Europa.
Sociologia política de Weber:
Como os sistemas de direito estão relacionados com os tipos de dominação em Weber.
Weber identifica três tipos de dominação pura. Três formas distintas de legitimidade do poder. Logo, há uma
relação intrínseca entre o direito e a dominação, a política.
Com isso, Weber está retraçando o surgimento de um tipo específico de sociedade na Europa e que só foi
possível em função de algumas condições.
1. Burocratização da Igreja que criou um direito romano significativamente racional. Foi uma das
condições que possibilitou o surgimento desse tipo de sociedade e de direito.
2. Separação entre o direito religioso e o direito secular. Decorrentes das revoluções burguesas e
revoltas protestantes.
3. Criação de quadros burocráticos e de alianças com a burguesia pelos reis.
4. Separação entre elaboração e aplicação das regras. Separação dos Poderes.
5. Surgimento de profissão jurídica específica.
A relação entre capitalismo e legalismo, segundo Weber, se dá a partir da legitimidade da dominação
capitalista.
“Embora não seja necessariamente verdade para todos os sistemas econômicos, certamente a
moderna organização econômica sob condições modernas não poderia continuar se o controle de
recursos não fosse resguardado pela coação estatal; ou seja, se seus direitos formais “legais” não
fossem resguardados pela ameaça do uso de força.” É o direito que permite a emergência do capitalismo.
A coação deve vir da dominação racional-legal.
O capitalismo exige: autonomia, coação e previsibilidade.
LEITURAS OBRIGATÓRIAS
Trubek, 2007
Max Weber dedicou grande parte de sua energia para explicar porque o capitalismo industrial apareceu no
mundo ocidental. Tentou criar um esquema que identifica as principais dimensões analíticas da sociedade e
as estruturas concretas que correspondiam a elas.
Weber concentrou-se na estrutura governamental, estrutura social, economia, religião e direito e nas
estruturas políticas, sociais, econômicas, religiosas e jurídicas de determinadas sociedades. Ele sentia que
estas dimensões e estruturas associadas deveriam ser separadas e investigadas de tal maneira que suas
inter-relações históricas pudessem ser melhor compreendidas. Usando estes métodos, argumentou, eventos
históricos específicos poderiam ser explicados.
Esse evento específico que ele queria explicar era o fato de que o sistema moderno de capitalismo
industrial surgiu na europa e não em outras partes do planeta. O meio para isso era concentrar-se em
aspectos intrínsecos à sociedade europeia que, portanto, talvez pudessem explicar porque o capitalismo se
desenvolve ali.
O direito, segundo ele, teve participação nesse acontecimento, uma vez que tinha características únicas que o
conduziram mais facilmente ao capitalismo do que os sistemas jurídicos de outras civilizações. Para
demonstrar e explicar o significado destas características em relação ao desenvolvimento econômico, Weber
incluiu a sociologia do direito em sua teoria sociológica geral. Assim, sua obra apresenta uma análise
compreensiva de seu pensamento sobre sociologia, inclui um debate detalhado dos tipos de direito, uma
teoria sobre a relação entre direito e a ascensão do capitalismo industrial e estudos sociológicos
comparativos que tentam comprovar sua teoria.
Entretanto, Weber construiu um conceito de direito amplo, que abrangia uma vasta gama de fenômenos em
sociedades bastante diferentes. Mesmo assim, traçou agudas distinções entre os sistemas de direito de
diferentes sociedades. A maioria das sociedades organizadas têm “direito”, mas o sistema de direito europeu
é significativamente diferente dos outros. Nesse sentido, o autor desenvolveu tipologias que lhe permitiram
distinguir o direito europeu do arranjo jurídico de outras civilizações e conduziu estudos históricos que
visavam demonstrar as origens das peculiaridades do direito europeu. Levando-se em conta que o
capitalismo surgiu primeiro na Europa, esta análise sugere que o direito europeu havia tido importante
participação no surgimento do sistema econômico capitalista.
Rejeitando o determinismo marxista, Weber enfatiza sua crença em que os aspectos peculiares ao direito da
sociedade europeia não eram meros resultados ou reflexos de fenômenos econômicos. Fatores econômicos
foram importantes, mas não determinantes na formação das instituições de direito particulares à Europa.
A discussão weberiana sobre o direito é marcada por alguns temas centrais. O direito está associado à
coação organizadas, à legitimidade e normatividade e à racionalidade.
Para explorar o significado histórico dos sistemas jurídicos, Weber construiu tipos ideais para diferenciar
ordens jurídicas. Permitiam examinar e comparar os sistemas de direito de sociedades concretas.
AULA 04: DIREITO, MORAL E ORDEM SOCIAL EM DURKHEIM
ANOTAÇÕES AULA
Durkheim é um herdeiro da teoria positivista cotidiana. Seu principal objetivo era identificar as leis causais
que ordenam a sociedade a partir de um método científico, assim como nas ciências físicas. ́
Observação empírica.
A sociologia teria como objeto os fatos sociais. As maneiras de agir, de pensar e de sentir que são exteriores
ao indivíduo, dotadas de coercitividade impostas aos indivíduos.
Em sua obra, A Divisão Social do Trabalho, ele sintetiza melhor sua concepção de direito. Durkheim era
contrário à ideia de que a divisão social do trabalho era puramente econômica. Segundo ele, essa divisão era
um fenômeno cuja função era promover a solidariedade social. Uma estruturação e coordenação de
comportamentos e vínculos sociais.
Como um efeito moral, não era possível ser observada. Nesse sentido, Durkheim começou a estudar os
efeitos da solidariedade. Dentre os efeitos mais emblemáticos, está o Direito.
“De fato, a vida social, onde quer que exista de maneira duradoura, tende inevitavelmente a tomar uma
forma definida e a se organizar, e o direito nada mais é que essa mesma organização no que ela tem demais
estável e de mais precioso. A vida geral da sociedade não pode se estender num ponto sem que a vida
jurídica nele se estenda ao mesmo tempo e na mesma proporção. Portanto, podemos estar certos de
encontrar refletidas no direito todas as variedades essenciais da solidariedade social.” (DURKHEIM, 2004,
p. 31-32)
Assim como Marx, assim como Weber, explica o direito de maneira externa a ele. O direito está relacionado
com a vida social, com os costumes.
Sendo as regras feitas para a sociedade e pela sociedade, as regras morais se beneficiam da autoridade e do
prestígio que a sociedade tem em relação ao indivíduo. Quando as normassão contrárias aos costumes, isso
seria uma disfunção do direito.
LEITURA OBRIGATÓRIA
Massela
A especialização das ciências sociais é, para Durkheim, um passo crucial para a entrada delas no universo da
ciência. A sociologia nada mais é do que o sistema das ciências particulares, embora Durkheim admita uma
certa sociologia geral.
Em A Divisão Social do Trabalho, Durkheim toma o direito como um símbolo que permite observar e
mensurar um fenômeno que não é passível de observação direta: a solidariedade social. A solidariedade é
um fenômeno interno e, como tal, impossível de observação direta, pois parte de sua referência diz respeito a
processos que se passam na consciência: a união da imagem do ego com a imagem de alter. Mas como a
solidariedade está acompanhada por características objetivas, é possível substituir ao fato interno um fato
exterior que o simboliza e estudar o primeiro por meio do segundo. Esse fato exterior é o direito, que, como
a moral, é o conjunto de vínculos que nos ligam uns aos outros e à sociedade.
A vida social onde quer que exista de maneira durável, tende inevitavelmente a assumir uma forma definida
e a se organizar e o direito não é outra coisa que esta organização no que ela tem de mais estável e precisa. O
vínculo entre a dimensão estrutural das relações frequentes e próximas e a dimensão normativa das regras
fundamenta a estreita relação entre o direito e a vida social.
A concepção de direito presente na visão que o torna a consolidação de algo subjacente e mais fundamental
pode ser comparada, mas não identificada, ao que Unger chama de direito costumeiro ou internacional.
AULA 5
BOURDIEU
ANOTAÇÕES AULA
Campo: o campo é uma ferramenta metodológica que recorta determinado espaço social e um dado da
realidade, que ocorre na vida real. Aspecto duplo. Um espaço relativamente autônomo dotado de leis
próprias que, junto com diversos outros campos se interelacionando, compõem a sociedade.
Nesse campo, cada indivíduo se encontra em uma determinada posição.
Bourdieu ainda diz que existe um fenômeno de homologia entre os vários campos. Apesar de serem
autônomos, vê-se repetindo padrões similares em todos eles.
Existe um macrocampo que influi sobre os outros campos, é o espaço social onde se produzem as
dominações.
A fronteira do campo é delimitada pela abrangência de seus efeitos.
Conjunto de relações.
Os campos foram desenvolvidos a partir da evolução histórica da divisão do trabalho.
Hábitus: Um sistema de disposições duráveis e transferíveis que funciona como um princípio gerador e
organizador de práticas e de representações associadas a uma classe particular de condição de existência. O
habitus, para ele, gera uma lógica, uma racionalidade prática, irredutível à razão teórica. É adquirido
mediante à interação social e, ao mesmo tempo, é o classificador e o organizador desta interação. É
condicionante e é condicionador das ações. (Thiry-Cherques, 2006)
Mecanismo que explica a ação. “Estrutura estruturada estruturalmente”. Construído na trajetória. É a forma
como nós nos relacionamos com a estrutura social, condicionando mas não determinando. Senso das regras.
Bourdieu sabe que não vivemos apenas em um campo. Por isso, diz que o habitus possui certa
independência dos campos, apesar de serem influenciados por eles.
Bourdieu se desenvolve em uma época em que as grandes influências teóricas dos pensadores se baseavam
nas seguintes correntes: existencialismo francês, marxismo e estruturalismo francês. Essas explicações,
entretanto, eram insuficientes para ele. Os conceitos sociológicos de Bourdieu são, portanto, uma tentativa
de criar uma teoria sociológica meso.
Capital: é um termo tomado da teoria econômica, mas é utilizado de forma diferente. Os capitais em
Bourdieu são recursos de poder simbólico adquiridos pelos agentes ao longo de suas trajetórias e produzidos
pelos diferentes campos de espaço social.
Define que algumas sociedades podem produzir diferentes tipos de capital, mas acredita que existem pelo
menos 4 macrotipos:
● capital econômico
● capital social (relacionado com as estruturas sociais de onde o indivíduo é oriundo)
● capital cultural (dominação ou conhecimento do que é importante para determinado grupo social)
● capital simbólico (ligado a uma percepção de honra, dignidade e distinção)
Esses macrotipos são intercambiáveis entre si, podendo ser trocados entre si.
Diferentes campos podem produzir diferentes tipos de capital.
A posição relativa de um sujeito em um campo é definida pela quantidade e qualidade de seu capital.
SOCIOLOGIA DO DIREITO DE BOURDIEU
Bourdieu quer superar duas formas de explicação do direito: as explicações internalistas (formalistas) e as
explicações externalistas (instrumentalistas).
Campo Jurídico: O lugar de concorrência pelo monopólio do direito de dizer o direito, quer dizer, a boa
distribuição ou a boa ordem, na qual se defrontam agentes investidos de competência ao mesmo tempo
social e técnica que consiste essencialmente na capacidade reconhecida de interpretar de maneira mais ou
menos livre ou autorizada, um corpus de textos que consagram a visão legítima, justa, do mundo social
(Bourdieu)
Ele estabelece uma tipologia:
● estabelecimento de fronteira: profissionais x profanos
● Conflitos internos: teóricos x práticos
● Homologia com outros campos (lógicas sociais influenciando o direito)
Legitimidade Jurídica: a linguagem jurídica é extremamente importante para Bourdieu e contrapõe o
habitus jurídico, juntamente a uma dimensão da teatralização.
A legitimidade do direito está relacionada a elementos que revelam-se na linguagem jurídica.
● apriorização (anterioridade)
● neutralização (afastar o profissional do direito)
● universalização (voz passiva, coisas universais, aplicadas a todos)
O jurista como:
● profeta: fala o oficial
● poeta: fala em nome do todo
● artista: cria ficções
LEITURA OBRIGATÓRIA
Bourdieu, O Poder Simbólico
Capítulo 1-Sobre o Poder Simbólico
Segundo Bourdieu, os sistemas simbólicos exercem um poder estruturante (conhecer o mundo), na medida
em que são também estruturados. E a estruturação decorre da função que os sistemas simbólicos possuem de
integração social para um determinado consenso. O consenso aqui apresentado é o da hegemonia, ou seja, de
dominação.
Assim, as relações de comunicação são, de modo inseparável, sempre, relações de poder que dependem, na
forma e no conteúdo, do poder material e simbólico acumulados pelos agentes (BOURDIEU, 1998:11). O
que ocorre é uma relação de luta, principalmente, simbólica que as diferentes classes estão envolvidas para
imporem a definição do mundo social conforme seus interesses.
Os sistemas simbólicos diferenciam-se segundo sua instância de produção e de recepção. E a autonomia de
determinado campo constitui-se na medida em que um corpo especializado de produtores de discursos se
desenvolve. O poder simbólico como poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer
(...) só se exerce se for reconhecido (BOURDIEU, 1998: 14). E deste modo, o poder simbólico é uma forma
transformada e legitimada de outras formas de poder.
Capítulo 2- Introdução a uma Sociologia Reflexiva
Neste capítulo Bourdieu aponta o circuito de uma pesquisa, estratégias, características. O modo de produção
científica supõe um modo de percepção e a maneira para adquirir esta visão é de operar praticamente ou de
observar o modo como este conjunto de percepções é aplicado.
O habitus científico é um modus operandi como uma espécie de sentido de jogo que faz com que se faça o
que é preciso fazer no momento próprio. Dentro do campo científico há uma oposição epistemológica que
representa uma oposição constitutiva da divisão de trabalho científico ou para teoria/metodologia, pois
somente em função de conjunto de pressupostos teóricos que um dado empírico pode funcionar como índice.
E também a filiação de um determinado método que vai definir a ligação a uma determinada escola.
Bourdieu também

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