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HISTÓRIA DAHISTÓRIA DA AMÉRICAAMÉRICA INDEPENDENTE:INDEPENDENTE: SÉCULOS XVIII E XIXSÉCULOS XVIII E XIX UNIDADE 2 – AS PRIMEIRASUNIDADE 2 – AS PRIMEIRAS INDEPENDÊNCIAS NAINDEPENDÊNCIAS NA AMÉRICA ESPANHOLAAMÉRICA ESPANHOLA Autora: Julia Rany Campos UzunAutora: Julia Rany Campos Uzun Revisor: Fabrício Augusto Souza GomesRevisor: Fabrício Augusto Souza Gomes INICIAR Introdução Caro(a) estudante, Como se formaram as diversas nações da América Latina? Nesta unidade, você está convidado(a) a desvendar como os diferentes territórios da antiga América Espanhola deixaram de ser colônias, nas primeiras décadas do século XIX, passando por vários conflitos armados e por uma série de acordos que garantiram sua independência da Espanha, firmando-os como países independentes. Para isso, você vai conhecer a nova organização social das nações latino-americanas, especialmente de suas elites, descobrindo sua atuação política nos novos governos que se formavam e como eles se espelharam nos modelos franceses para compor as novas nações. Você vai compreender como se deram os diversos movimentos de independência dos principais 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 1/31 2.1 O papel da elite criolla nos processos de independência das colônias espanholas Durante os movimentos de grandes transformações na Europa, iniciados com a Revolução Francesa (1789-1799), as questões ligadas à administração das colônias espanholas na América passaram a ser coordenadas pelos cabildos, as câmaras municipais que eram formadas pelos criollos – os descendentes de espanhóis que já haviam nascido em solo americano, tendo poder econômico, mas não podendo exercer os principais cargos políticos por não terem nascido em solo metropolitano. Este processo levou a um grande aumento da autonomia colonial sobre as decisões na América Espanhola, visto que estas instituições começaram a desempenhar o papel que anteriormente cabia à Coroa espanhola e aos seus representantes em solo colonial. Neste cenário, as elites criollas deram início aos processos de independência nas diversas regiões da América Hispânica (CHAUNU, 1979). Em 1815, quando Napoleão Bonaparte foi deposto e o Congresso de Viena foi firmado pelas diversas nações europeias, aqueles governantes que haviam perdido seus territórios para o Império Francês tiveram seus tronos restituídos, fazendo com que o rei Fernando VII, da Espanha, buscasse restabelecer as práticas absolutistas e tentasse retomar o domínio sobre suas colônias na América, dando fim à autonomia conquistada anteriormente pelos cabildos. No entanto, os movimentos de independência se fortaleceram e a América Espanhola deu início a um longo período de guerras de emancipação (ANNINO; GUERRA, 2003). O território colonial espanhol na América era, até então, dividido em quatro grandes áreas administrativas: os Vice-Reinos da Nova Espanha, de Nova Granada, do Rio da Prata e do Peru, além de quatro Capitanias Gerais (do Chile, de Cuba, da Guatemala e da Venezuela). Com os movimentos de Independência, todos os Vice-Reinos foram divididos em novas nações republicanas e, mesmo que seus líderes fossem criollos, os processos vice-reinos espanhóis na América (Nova Espanha, do Prata e do Peru), descobrindo sua relação com o contexto internacional. Você também vai desvendar as particularidades do processo de independência da Capitania Geral do Chile, estudando as guerras ocorridas no Pacífico ligadas a esse movimento.Bons estudos! 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 2/31 de emancipação também contaram com homens brancos das camadas populares, com mestiços, com a população negra e, principalmente, com os indígenas contra a dominação espanhola (CHAUNU, 1979). Desde a formação dos ideários de independência, foi colocado em pauta um importante aspecto identitário sobre a consciência latino-americana: a importância de construir a diferença em relação ao Outro espanhol, visto como inimigo. Nesse sentido, a elite criolla capitaneou a defesa da construção da “raça latina”, exaltando princípios republicanos e democráticos em detrimento da monarquia. Isso fez com que os criollos buscassem definir identidades para as novas nações que iriam governar a partir de fortes oposições à sua antiga metrópole, sendo este o ponto de destaque quando se analisam os símbolos produzidos no período. A primeira e mais evidente batalha por estes emblemas ocorreu a partir da definição da bandeira e do hino das novas nações, visto que estes são os símbolos de uso obrigatório mais representativos de um País (CARVALHO, 1990). Nesse sentido, o fortalecimento do Exército nacional e a construção de uma memória comum garantiram a união das fronteiras dos novos países. Nessa busca, as elites criollas voltaram seus olhos para os elementos que seriam considerados como características das novas nações e que, por isso, seriam desligados aos poucos das releituras feitas pela metrópole, garantindo a união das fronteiras após a independência. De fato, a única característica que permaneceu nas nações latino-americanas após a independência foi a presença do Catolicismo como religião oficial na maior parte dos territórios. De acordo com a Constituição do México independente, por exemplo, “a religião da nação é e será perpetuamente a Religião Católica, Apostólica e Romana. A nação protege-a com leis sábias e justas e proíbe o exercício de qualquer outra religião” (BETHELL, 2005). No entanto, mesmo que as elites criollas rechaçassem intensamente o que fosse espanhol, o indígena do século XIX não era considerado como o modelo latino-americano a ser exaltado. Principalmente a partir de meados do século XIX, as novas nações passaram a adotar releituras das teorias sociais europeias sobre o darwinismo social, de Herbert Spencer, e a eugenia, passando a defender que as populações indígenas (grande maioria em muitas das novas nações americanas) eram inferiores aos grupos brancos. Além disso, o positivismo afirmava que o mestiço deveria ser o homem ideal (e, 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 3/31 de acordo com a teoria, como a mistura entre brancos e indígenas havia ocorrido desde a Conquista, em menos de um século a população seria predominantemente branca, pois a teoria acreditava na prevalência da “raça superior”) (FERNANDES, 2013). Teorias sociais que sustentaram a colonização » Clique nas abas para saber mais sobre o assunto 2.1.1 O caudilhismo O movimento de independência das nações da América Latina buscou a criação de governos liberais e democráticos para os países em formação como forma de acabar com o atraso imposto pelas determinações vindas da antiga metrópole, conforme indicavam as ideias iluministas. Nesse sentido, o grande modelo ideológico das novas nações passou a ser a França, ao mesmo tempo em que os Estados Unidos se tornavam o exemplo de nação que os territórios latinos queriam se transformar, dado o sucesso de seu processo de emancipação. Os antigos obstáculos deveriam ser ultrapassados com o advento da modernização, com a criação do Poder Judiciário em solo americano e com a ampliação dos direitos políticos (KRAUZE, 2002). Contudo, esta proposta universalizante não passou do papel. O desenvolvimento dos processos de independência na América Espanhola, na prática, apontou para uma direção muito diferente. As leis implantadas e as democracias instauradas nas novas nações latino-americanas, a partir do fim de cada conflito emancipatório, à exceção do Haiti, surgiram através de movimentos encabeçados pela elite criolla, que apenas lutava por seus própriosinteresses e pela manutenção de seus privilégios, acreditando que o rompimento do exclusivo colonial garantisse vantagens comerciais para seu grupo – e não para toda a população das ex-colônias espanholas. Dessa forma, foi criado um abismo político e ideológico entre os anseios das elites criollas e das camadas populares, elevando os criollos a uma situação muito privilegiada (FLORESCANO, 2003). Darwinismo social Positivismo Eugenia 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 4/31 Mesmo após os movimentos de independência, a maioria da população das novas nações latino-americanas manteve-se à margem dos processos de decisão democrática. Ainda que o poder emanasse de uma constituição nacional e fosse legitimado pelos governos de cada um dos países, a decisão estava centralizada nas mãos das elites criollas, que tinham interesses agroexportadores, fazendo com que todas as questões políticas fossem determinadas pelos grandes proprietários rurais, o que reforçou os laços de dependência nas regiões internas de cada nação: se, durante o período colonial, estes laços se davam com a Espanha, a partir de agora eles ganharam novos ares ao se estabeleceram com as próprias elites nacionais (GRANADOS; MARICHAL, 2009). Neste contexto, é fortalecida a figura dos caudilhos. Esses eram membros da elite criolla que utilizavam de seu poder econômico para garantirem também poder político e, com isso, defenderem seus próprios interesses, ultrapassando os limites das instituições públicas, desrespeitando sua ação e abusando do poder instituído. Um dos principais exemplos da atividade dos caudilhos foi o desenvolvimento de milícias, grupos paramilitares pagos pelos criollos que não reconheciam nenhum tipo de poder além de seu próprio, agindo de forma mais severa do que o próprio Exército oficial das novas nações. O apoio popular aos caudilhos era conseguido naturalmente – fosse pelo carisma destas figuras ou pelo medo da opressão que causavam (RINKE, 2017). Com o processo da decadência do domínio da Espanha sobre seus territórios americanos, foi possível identificar o surgimento de uma série de lideranças político- militares em todo o continente. Esses líderes começaram a governar por meio de medidas autoritárias, tendo o poder de comandar multidões e de tomar a atenção de muitas pessoas, as quais passaram então a cultuar sua imagem por meio de estátuas, monumentos e pela transformação destas figuras em heróis nacionais. Este fenômeno é uma manifestação importante do caudilhismo, tornando-se uma característica importante do século XIX (KRAUZE, 2002). VOCÊ QUER LER? 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 5/31 O artigo ‘’O pensamento social e político latino-americano: etapas de seu desenvolvimento’’, publicado pela Revista Sociedade e Estado traz um panorama sobre o pensamento latino-americano, a partir dos primeiros anos da independência das nações recém-compostas, apresentando os principais autores a partir de uma ordem cronológica do desenvolvimento de suas escolas de pensamento e doutrinas filosóficas. A origem do caudilhismo reside na união entre duas modalidades distintas de autocracia religiosa: a espanhola e a indígena. Os imperadores das grandes teocracias indígenas tinham poder de deuses, sendo considerados encarnações divinas para as quais os próprios homens não podiam olhar diretamente, visto que os encarar significava manter um acesso direto ao caminho da morte. O medo frente a esses imperadores foi transferido na colônia para os vice-reis, encomenderos e conquistadores espanhóis. Nos três séculos de manutenção da ordem tradicional, foi construída uma imensa pirâmide de submissão e obediência, de tal forma que esta foi a concepção de sociedade que se apresentava no pós-independência (FLORESCANO, 2003). Na formação das novas nações, era preciso construir uma nova ordem, buscando erigir o futuro da nova nação sob as bases da democracia, da laicidade e da República, dentro das determinações constitucionais. Claramente, o carisma de um chefe de Estado não era suficiente para repensar a ordem tão enraizada na América, pois era necessário conduzir tais territórios ao desmembramento, durante um período de pobreza e violência, enquanto as novas identidades nacionais eram elaboradas (KRAUZE, 2002). Com isso, por meio de uma relação dúbia com os poderes instituídos, os caudilhos reconheciam somente as instituições políticas que mantivessem sentidos harmônicos com a manutenção de seus próprios interesses. É importante ressaltar que o caudilhismo foi um fenômeno observável em toda a América Latina, especialmente no México, na Argentina, no Chile, no Peru e no Brasil. Mesmo que usasse a violência para garantir sua manutenção no poder, o caudilhismo não se conteve às transformações ocorridas ao longo do tempo, extinguindo-se no início do século XX (GRANADOS; MARICHAL, 2009). 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 6/31 Teste seus conhecimentos Atividade não pontuada. 2.1.2 A França como novo espelho intelectual das nações americanas O conceito de América Latina não existia até a metade do século XIX. Sua origem ocorreu em Paris, a partir de um conjunto de discussões realizadas por intelectuais das nações americanas nascentes e pela política cultural da França voltada para a América, compreendida como uma manifestação oficial de intervenção cultural da nação europeia na cultura americana, por meio da aplicação de atividades e práticas empregados de modo muito consistente. Mesmo que ainda não exista um consenso sobre a autoria do conceito de América Latina, vários autores atribuem sua concepção a Francisco Bilbao Barquín, o intelectual chileno que empregou a expressão pela primeira vez no ano de 1856, durante uma conferência na capital francesa, através da qual ele defendeu a união das nações sul-americanas como uma forma de competir de forma igualitária contra o desenvolvimento da América do Norte. Desde então, vários autores hispano-americanos, como Carlos Calvo e José Maria Torres Calcedo, também começaram a divulgar o conceito de América Latina, também na França, de tal forma que ele se tornou popular com grande rapidez (BILBAO, 1978). Ainda que não exista uma definição sobre este debate, é possível afirmar que, ao longo do século XIX, existia um forte desejo para a demarcação do conceito de uma América diferente daquela anglo-saxã, o que ajudou a compor o repertório das reflexões dos intelectuais franceses e daqueles americanos das novas nações, especialmente aqueles que viviam em Paris, visto que neste contexto a França exerceu um grande fascínio sobre as elites da América, o que levou a um movimento conhecido por “afrancesamento” (GRANADOS; MARICHAL, 2009). Esta atração estava relacionada intimamente, durante o século XIX, com a criação de paradigmas culturais característicos daquele contexto, fazendo com que a França fosse transformada no principal modelo cultural do mundo. O País desenvolveu as principais obras urbanas em sua capital, Paris, abrindo avenidas largas, criando parques e elevando diversas estruturas metálicas. Foram desenvolvidas as Exposições Universais e os parisienses começaram a ditar a moda no Ocidente, unindo a máquina ao corpo 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 7/31 humano. A França passou a ser considerada como o símbolo principal do desenvolvimento tecnológico: foram desenvolvidos os grandes magazines, surgiu a fotomontageme o romantismo literário triunfava. Walter Benjamin, com sua visão crítica, descreveu Paris como a capital cultural do mundo, indicando os franceses como os produtores de mercadorias capazes de criar a ilusão de crença no progresso e de segurança em uma projeção próxima ao infinito (BENJAMIN, 1989). Com isso, durante o século XIX, a França passou a fornecer as ferramentas ideológicas para o desenvolvimento dos ideais de modernidade. De forma específica, o positivismo foi muito influente na formação da América, estabelecendo a unidade para a explicação dos fenômenos universais, sendo estudados sem que houvesse preocupação com os conceitos metafísicos (tidos como noções inacessíveis), mas com o uso exclusivo da verificação experimental e da metodologia empírica. Com isso, as nações da América que se formavam começaram a empregar os principais lemas positivistas, como a defesa do nacionalismo, do progresso intelectual e material e da ordem (RIBEIRO JR., 1982). O positivismo foi uma importante ferramenta usada pelas elites criollas para tratar o atraso de suas nações, buscando explicar a história destes novos países e traçar projetos para seu futuro a partir do princípio de que estas sociedades não se apresentavam em condições “saudáveis” e que deveriam sanar seus problemas por meio de uma série de reformas, através da ciência e da educação. As propostas de Hippolyte Taine, Augusto Comte e outros intelectuais franceses foram bem recebidas em solo americanos, sendo apropriadas de forma distinta ao darwinismo, ao realismo, ao naturalismo literário e ao ateísmo (ANDERLE, 1988). Neste contexto, a quantidade de intelectuais latino-americanos que moravam em Paris era tão grande que chegou a surgir um campo de debates sobre as novas identidades latino-americanas na capital francesa – e não nas cidades da América –, dando origem à organização de eventos e à publicação de revistas sobre o tema por intelectuais franceses e das mais diversas nações latino-americanas. O país foi o principal promotor da ideia de panlatinismo, que buscava ampliar as zonas de influência da cultura francesa nas Américas. De acordo com o conceito, a Europa deveria se dividir em três grandes áreas: os eslavos, sob a liderança da Rússia; os germânicos, liderados pela Alemanha; e os latinos, dominados pela França. Esta teoria propunha que existia uma unidade entre 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 8/31 as nações que possuíam o mesmo idioma de origem (neste caso, o latim) e que tinham o Catolicismo como religião oficial, de tal forma que os franceses deveriam se apropriar culturalmente de todos os territórios que falassem espanhol, português, francês, italiano e romeno em todo o mundo, incluindo as Américas. O panlatinismo levou a França inclusive a realizar algumas intervenções militares na América Latina, sendo o maior exemplo destas práticas a criação do Império de Maximiliano no México, entre 1864 e 1867 (TENORIO TRILLO, 1999). 2.1.3 Os elementos de unificação do passado nacional na América Latina No século XIX, a maior parte da população das nações americanas tinha mínima expressão política e se sentia pouco unida, por ter apenas o laço territorial como motivo para viver sob um mesmo governo (diga-se de passagem, a própria definição do território das novas nações também havia sido inventada). Neste contexto, uma das alternativas buscada pelos governos americanos para encontrar pontos de unidade entre os diversos grupos que viviam nas nações americanas foi o culto aos heróis e figuras ilustres que participaram da história dos países, principalmente aqueles ligados aos processos de independência e às civilizações indígenas do passado pré-hispânico (FLORESCANO, 2003). As elites criollas compreenderam a necessidade da criação de personagens vitoriosas, de forma que a população se sentisse devidamente representada e não se visse privada de “cabeças visíveis”, especialmente nos períodos mais críticos. Dessa forma, foi necessário fabricar heróis, mas nem todos os grupos coloniais foram reavivados. Para compor a memória nacional com base em uma cultura suposta como homogênea, que deveria herdar tradições semelhantes, cada nação elegeu um povo que deveria representá-la, conferindo a ela o status de passado escolhido para oferecer a unidade à nação. Enquanto o Peru elegeu os incas, o México e os astecas para o papel, a Argentina e o Uruguai decidiram emudecer o elemento indígena, escolhendo a figura do gaúcho dos pampas como representante de seu passado mítico (FERNANDES, 2013). A inserção das imagens no discurso nacionalista permitiu identificar com mais facilidade a criação de um imaginário, na América, que foi “parte integrante da legitimação de qualquer regime político” (CARVALHO,1990) encabeçado pelas elites criollas, estabelecido por muitas formas de representação distintas. Por serem representações 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 9/31 mais difusas e de leitura menos codificada do que os textos escritos, as imagens atingiram o imaginário de um número muito maior de pessoas, permitindo que aspirações, interesses e medos da população das novas nações, que buscavam elementos de identidade, se misturassem, passando a se transformar em ferramentas para os governos que buscavam traçar planos comuns para que as nações se formassem (PROBST, 2016). Nesse sentido, o Estado foi o primeiro impulsionador da história pátria, sendo responsável pela determinação de seus temas e por sua difusão em todo o País, através de todas as camadas sociais. Para isso, o Estado utilizou-se de muitos instrumentos, como a substituição do calendário litúrgico pelo calendário de festas cívicas, que passou a celebrar heróis e batalhas nacionais; pela elaboração de livros de história, que entraram no lugar da Bíblia como ferramenta para transmitir temas, valores e personagens que ensinam a moral; pelas reformas educacionais e pela revolução no campo das artes, que substituíram os temas religiosos pelos laicos. Várias dessas mudanças ocorreram pela desvinculação entre a Igreja e o Estado, ocorrida aos poucos, visto que a apropriação das ideias positivas levou à diminuição da participação religiosa nos assuntos governamentais, mesmo que mantivesse sua influência na composição do imaginário das novas nações. (FLORESCANO, 2003). Os usos políticos do passado não foram uma novidade nas nações americanas do século XIX. De acordo com Enrique Krauze, com o propósito de conseguir a consolidação de seu império, os próprios imperadores mexicas haviam queimado os códices que recordavam sua grosseira origem nômade e reescreveram sua história para vincular-se diretamente à cultura por excelência da Mesoamérica, a dos toltecas e seu mítico fundador, Quetzalcóatl (KRAUZE, 2005, p.30) A Mesoamérica trouxe um exemplo de esquecimento voluntário, através do qual os imperadores mexicas construíram a memória de seu império por meio da invenção de uma nova origem. De acordo com Ernest Renan, esquecimentos históricos como este forneceram elementos muito importantes para a construção nacional na América (HOBSBAWN, 2000). É importante pontuar uma crítica ao argumento de Krauze: ao 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 10/31 indicar que os próprios imperadores mexicas colocavam fogo em seus códices para a produção de uma memória voluntária, o autor afirmava que o México existia desde o período dos toltecas (conhecido como Mesoamérica), visto que Montezuma seria responsável por inventar a mexicanidade no século XV. No entanto, apenas é possível conceber a criação do México comonação no século XIX, o que impossibilita que a região tenha sido imaginada como nação vários séculos antes de sua independência. Voltar os olhos para as práticas dos tlatoanis mexicas e compreendê-las como uma expressão nacionalista pode ser compreendido como um anacronismo, ou seja, como o deslocamento de um conceito de seu contexto. No século XIX, teve início a cristalização da noção de identidade nacional na América Latina. Enquanto os novos países mantinham-se em conflito contra as tentativas de recolonização espanhola, seus governos tiveram um curto intervalo para se preocupar com o desenvolvimento de uma forte nacionalidade. Apenas a partir da metade do século XIX, foi incentivado o culto aos heróis, aos mitos e aos demais símbolos nacionais, como o hino, o brasão das Forças Armadas e a bandeira (FLORESCANO, 2003). Quais personagens foram eleitas como os grandes heróis destas Repúblicas recém fundadas? José Murilo de Carvalho ressaltou que heróis são símbolos poderosos, encarnações de ideias e aspirações, pontos de referência, fulcros de identificação coletiva. São, por isso, instrumentos eficazes para a tingir a cabeça e o coração dos cidadãos a serviço da legitimação de regimes políticos. Não há regime que não promova o culto de seus heróis e não possua seu panteão cívico. (CARVALHO, 1990, p. 55) Com base na noção de que a memória nacional deveria ser erigida a partir de pilares totalizantes, as elites criollas latino-americanas concluíram que parte das figuras históricas eleitas como heroicas e celebráveis deveriam ser aquelas que entraram em conflito contra a dominação espanhola no período colonial, enquanto as demais seriam aquelas que lutaram durante os movimentos de independência e garantiam a autonomia das novas nações (RINKE, 2017). O imaginário de um País se constrói também a partir de sua mitologia, a qual foi empregada em grande escala neste período para celebrar a unidade nacional. Um dos 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 11/31 maiores exemplos dessa prática foi a exploração do mito de origem de cada nação – como ocorreu com o mito de fundação mexicano, que conta a história de uma águia pousando sobre um nopal (um tipo de planta cactácea característica da região), agarrando uma serpente em seu bico, sofrendo várias releituras que vão desde o domínio dos mesoamericanos sobre o terreno árido até a vitória do Cristianismo sobre as religiões indígenas. De forma geral, os mitos de origem buscaram criar uma versão (imaginária ou real) dos fatos para dotar de sentido e legitimar o lado vencedor da situação. Quando estes mitos foram propagados pelos novos governos, eles buscavam reafirmar a vitória criolla e independente contra as forças espanholas e metropolitanas. Claramente, houveram muitas distorções que determinaram que a situação atual seria mostrada como muito superior a qualquer outro período (CARVALHO, 1990). As divindades indígenas, especialmente nas regiões da Mesoamérica e do Peru, também compuseram um panteão mitológico muito explorado neste período. Os mitos ligados a esses deuses se manifestaram nas tradições mais diversas (oral, escrita, artística e nos rituais), transformando-se em uma evidência documental para a formação do imaginário destas regiões durante o período pós-independência, visto que permitiram a interpretação de evidências populares por meio de mecanismos simbólicos próprios que não se enquadram na retórica da narrativa histórica (PROBST, 2016). Este debate acerca das representações é bastante válido para a compreensão sobre os jogos políticos e sociais entre a elite criolla e as demais camadas sociais das novas nações americanas. É importante esclarecer, ainda, que, para que essas relações pudessem ocorrer, foi preciso a existência daquilo que Bronislaw Backzo chamou de “comunidade de sentido” ou “comunidade de imaginação”, ou seja, a permanência de um grupo que compartilhasse informações comuns, tornando os símbolos inteligíveis para todos os seus membros, garantindo a comunicação por meio deles e dotando os símbolos de sentido. Por este motivo, escolher os heróis e figuras de destaque corretos foi tão importante para a formação nacional na América: porque todos os habitantes de cada nação deveriam reconhecê-los e se reconhecer através deles (BACKZO apud CARVALHO, 1990). 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 12/31 VOCÊ SABIA? Como a história da América é apresentada em sala de aula na educação básica? Como as independências são discutidas? Ouça o episódio 12 do podcast Hora Americana e conheça um pouco mais sobre essa discussão, com os professores José Alves de Freitas Neto e Marcus Vinicius de Morais. 2.2 A independência do México e o governo do general Agustín de Iturbide A Espanha havia determinado quatro subdivisões administrativas na América, conhecidas como Vice-Reinos: O Vice-Reino de Nova Granada, o Vice-Reino do Peru, o Vice-Reino do Rio da Prata e o Vice-Reino da Nova Espanha, que foi o primeiro a ser estabelecido, que era o mais populoso e o que mais gerava lucros para a Coroa espanhola. Por esse motivo, ele foi o que sofreu o controle econômico mais rígido dentre todas as regiões da América Espanhola, de tal forma que a insatisfação criolla contra as práticas metropolitanas fosse uma questão constante. No início do século XIX, a sociedade do Vice-Reino era dividida entre guachupines (nascidos em solo espanhol e possuidores dos mais altos cargos políticos), criollos (descendentes de espanhóis que nasceram na América, formando a elite econômica local, porém ocupando somente os cargos políticos intermediários), os mestiços e os indígenas (que, juntos, formavam mais de 80% da 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 13/31 população, sendo explorados pelos guachupines e pelos criollos em uma grande diversidade de tarefas) (VÁZQUEZ VEGA, 2009). O processo de independência da Nova Espanha foi marcado pelo conflito constante entre guachupines, criollos e a população em geral (a união entre mestiços e indígenas). A partir do ano de 1808, quando as notícias da invasão das tropas de Napoleão Bonaparte à Espanha chegaram à Nova Espanha, houve uma grave crise na Cidade do México. De um lado, os defensores do rei Fernando VII (guachupines, principalmente) passaram a defender que o Vice-Reino mantivesse sua submissão à metrópole, apoiando o rei deposto. De outro lado, os autonomistas do cabildo (criollos, em sua maioria) passaram a lutar para que José de Iturrigaray, o Vice-Rei, assumisse o governo, ainda que de forma provisória. A possibilidade de um governo autônomo assustou os guachupines e, quando o Vice-Rei convocou todos os cabildos para uma grande assembleia, os defensores do rei prenderam Iturrigaray e uma grande parte dos criollos que compunha os cabildos. Esta ação fez com que os autonomistas percebessem que não conseguiriam atingir a independência sozinhos, devendo aliar-se aos indígenas e aos mestiços. Na Nova Espanha, a emancipação deveria nascer nas periferias (VALADÉS, 1994). Neste contexto, um grupo de criollos da província de Guanajuato se organizou para derrubar os defensores do rei que estavam no poder. Instalados na cidade de Querétaro, os criollos conspiradores tinham como principal líder o padre Miguel Hidalgo y Costilla, do vilarejo de Dolores, um homem letrado, instruído nos ideais iluministas e famoso por defender os povos explorados, sendo muito admirado pelos indígenas e pelos mestiços. Em 1810, o “cura de Hidalgo” havia liderado um grande levante popular, motivado pela seca que havia atingido a região de Querétaronos últimos anos, fazendo com que os trabalhadores atingissem condições miseráveis de vida. Em 16 de setembro daquele ano, ele convocou a população a lutar contra o domínio espanhol, soando o sino da igreja e reunindo um grande contingente de voluntários. Este episódio deu início ao processo de independência do México, entrando para a história como “O Grito de Dolores”, transformando o padre no primeiro grande líder do movimento de emancipação do País (BEEZLEY; MEYER, 2000). O programa do padre Hidalgo para a nova nação trazia o fim da escravidão, a devolução dos territórios mexicanos para os grupos indígenas, além da proclamação da 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 14/31 independência, em nome da Virgem de Guadalupe, a protetora de Querétaro, ainda que não trouxesse uma proposta política muito definida. Seu discurso sobre a emancipação levou a uma grande repercussão em todo o território da Nova Espanha, inspirando a criação de muitas outras tropas voluntárias que originaram diversas batalhas entre os defensores do rei e os rebeldes. Mesmo desejando a independência, os criollos não se uniram imediatamente aos rebeldes nesse momento: temendo perder seus privilégios políticos e econômicos, as elites criollas se mantiveram distantes do movimento de independência nesta fase inicial, chegando inclusive a ajudar os realistas a combater os exércitos voluntários (VÁZQUEZ VEJA, 2009). Em 1811, as tropas de defesa do rei da Espanha prenderam Miguel Hidalgo y Costilla, fuzilando-o em praça pública. No entanto, a luta popular apenas cresceu, encontrando novas lideranças fortes, como o general Ignácio Lopex Rayón e o padre José Maria Morelos y Pavón. Com isso, os conflitos deixaram de ocorrer somente com tropas destreinadas e com poucas armas, fazendo com que os rebeldes começassem a formar verdadeiros exércitos, amedrontando os defensores dos laços com a Espanha. Depois de 1810, a guerra de independência se transformou em um conflito entre indígenas e mestiços contra as elites criollas, que não apresentavam nenhuma abertura para negociação frente às reivindicações da população (VALADÉS, 1994). Morelos não foi apenas um homem importante no campo de batalha, mas também se preocupou em organizar um modelo de governo revolucionário e constitucional, após tomar Oaxaca, instalado na província de Michoacán. Ele convocou um congresso em Chilpancingo, após dominar Acapulco, com o objetivo de deliberar sobre os temas relacionados à nova nação pela qual lutava pela independência. O Congresso de Anáhuac apropriava-se das raízes astecas e negava a força da Espanha na formação da colônia, declarando que seus objetivos principais eram a recuperação da soberania nacional que havia sido usurpada pelos espanhóis, que a independência deveria ser garantida, que o direito de instituição das leis deveria ser retomado de forma conveniente e que o Catolicismo deveria ser transformado na religião oficial da nova nação, sem que nenhuma outra fosse tolerada. Em 6 de novembro de 1813, o Congresso de Anáhuac proclamou a independência do México, deixando de reconhecer Fernando VII, rei da Espanha, como seu líder. Em outubro de 1814, o Congresso promulgou uma Constituição republicana. 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 15/31 Uma data marcante para o conflito foi o ano de 1815. Neste contexto, o padre Morelos também foi fuzilado, o que diminuiu o poder das revoltas populares. Ao mesmo tempo, o rei Fernando VII teve seu trono restituído, dando início à intensa perseguição contra os criollos. Começava uma segunda onda de movimentos emancipatórios na colônia, desta vez encabeçados pelas elites criollas contra os guachupines, que representavam os interesses metropolitanos em solo americano. Depois de uma longa série de batalhas, o México conseguiu garantir sua independência, em setembro de 1821, sob a liderança do general Agustín de Iturbide. Mesmo que os criollos tenham finalizado o processo de emancipação, os conflitos sociais mantiveram-se muito intensos na jovem nação que se formava (VÁZQUEZ VEGA, 2009). Com a morte de Morelos, a terceira geração dos revolucionários foi liderada por Vicente Guerrero, que se manteve no comando da luta pela emancipação até 1821, quando o vice-rei enviou o general D. Agustín de Iturbide para combatê-lo na região sul e acabar com a revolução. Iturbide solicitou ao vice-rei todos os elementos necessários para o combate, que foram ofertados sem desconfiança, dado os seus prestigiosos antecedentes militares (pois o general havia sido um dos mais terríveis inimigos do processo emancipatório). Iturbide foi para o sul e começou a trocar correspondências com Guerrero, concebendo um plano. Os dois caudilhos criaram um acordo para realizar a independência de forma conjunta, de tal forma que Iturbide traiu o exército espanhol. Este acordo, conhecido como Plan de Iguala, estabeleceu as bases para a independência mexicana, confirmando os ideais de Hidalgo e Morelos, construindo o México como uma monarquia independente da Espanha, cujo rei poderia ser o próprio Fernando VII ou alguém que ele escolhesse, além de determinar que a religião católica seria a única permitida no novo território. O movimento de Independência do México » Clique nas abas para saber mais sobre o assunto 1810 1813-1814 1815 1821 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 16/31 O mandato de Iturbide, o primeiro governante do México independente, foi um período curto e bastante conturbado. Em 28 de setembro de 1821, o Exército das Três Garantias Republicanas (Independência da Espanha, religião católica e união, representadas pelas cores verde, branca e vermelha da nova bandeira do País) entrou na cidade do México. Reuniu-se à Junta Provisional Governativa, responsável pela declaração de Iturbide como presidente, nomeando um governo regencial. Como era necessária a criação de leis próprias para a nova nação, a regência convocou o Soberano Congresso Constituinte, responsável pela elaboração da primeira Constituição mexicana. No entanto, já neste primeiro momento começaram as discussões pela formação de vários partidos, sendo que um deles (formado principalmente pelo clero, por militares e por alguns espanhóis) propunha que Iturbide fosse automaticamente elevado ao trono real, enquanto outros partidos monarquistas e insurgentes queriam garantir a execução do Plan de Iguala, retirando o general do poder e colocando um membro da Casa dos Bourboun no poder (como ansiavam os monarquistas) ou estabelecendo a República (pelo que lutavam os rebeldes). Em 18 de maio de 1822, o sargento Pío Marcha deu início a um movimento que culminou com a proclamação de Agustin de Iturbide como imperador do México. O Congresso conclamou uma reunião e, no dia seguinte, sofrendo as pressões da população (que gostava do general), do Exército e do próprio regente, a instituição o elegeu ao cargo de imperador sob o nome de Agustin I. A anulação do Tratado de Córdoba pelas Cortes espanholas, em 13 de fevereiro de 1822, favoreceu a coroação do general, aumentando a força de seus partidários. Além disso, Iturbide contava com o apoio da população, era ídolo do povo e tinha seu próprio Exército. No entanto, muitos autores acreditam que sua coroação foi um grande erro, visto que o jovem País ainda não possuía recursos suficientes para sustentar uma monarquia e que esta escolha contrariou os princípios de igualdade defendidos durante o processo de independência, mesmo que este tenha sido o primeiro ato de plena liberdade do País (SIERRA, 1922). Muitos grupos se mantiveram contráriosà instalação de uma monarquia no País. O primeiro a se pronunciar pela República foi o general Santa Anna, em Veracruz, em dezembro de 1822, seguido pelo general Guadalupe Victoria e por diversos outros. O próprio Congresso revogou sua decisão, afirmando que a coroação de Iturbide teria ocorrido como obra da força e da violência. Por isso, o general se viu abandonado por 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 17/31 seus antigos apoiadores, deixando a Coroa mexicana em pouco tempo. Iturbide foi preso e fuzilado, tendo sido considerado pelo Congresso como um agente fora da lei, depois de permanecer um período na Espanha. Durante seu governo, conhecido como “Primeiro Império”, o México ganhou sua bandeira, seu hino, sua primeira Constituição, vinda em 1824, e instituiu o Catolicismo como sua religião oficial. 2.3 O processo de independência da região do Prata O Vice-Reino do Rio da Prata foi a última divisão administrativa fundada pela Coroa espanhola, na América, devido à sua distância do Atlântico. A região não possuía metais preciosos, recebendo esse nome por conta do encontro do explorador Sebastião Caboto com um grupo de indígenas cheio de prata na região deste rio, durante uma expedição que buscava encontrar a mitológica Sierra de Plata, fazendo-o acreditar que o metal seria originário daquela região. Por esse motivo, os colonos tiveram uma grande autonomia nesta área por muitos anos. A Espanha passou a se interessar em explorar a região quando Portugal tentou invadir o território e quando o rio da Prata se transformou em uma importante rota para o contrabando dos metais preciosos retirados do Vice-Reino de Nova Granada, dando origem a um novo Vice-Reino, que passaria a contemplar os territórios do Uruguai, do Paraguai, da Argentina e de uma parcela da Bolívia (então chamada de Alto Peru). Mesmo tendo Buenos Aires como a capital deste território, as províncias possuíam muita liberdade (MCFARLANE, 2006). A partir do fim do século XVII, os espanhóis refizeram seus laços com a França, o que gerou um rompimento diplomático automático com a Inglaterra. Esse movimento aumentou o contrabando nas colônias da região do rio da Prata e fez com que os ingleses apoiassem o processo de independência da América hispânica. Um dos principais episódios desse processo ocorreu em 1806, quando uma expedição militar inglesa não-oficial deixou o Cabo da Boa Esperança e invadiu Buenos Aires, tomando a cidade. As lideranças locais conseguiram expulsar as tropas britânicas, sob a liderança de Santiago de Liniers, mesmo sem contar com o apoio da Espanha. Em 1807, os ingleses tentaram realizar uma nova incursão para conquistar a região, dominando Montevidéu, sendo novamente liquidados quando partiram para Buenos Aires (MYERS, 2007). 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 18/31 O processo de combate às tropas inglesas foi muito importante para que as elites do Vice-Reino do Rio da Prata percebessem que não precisavam do auxílio espanhol para resolver seus conflitos, já que seus exércitos voluntários locais conseguiram vencer os inimigos estrangeiros. Além disso, Santiago de Liniers, que liderou o exército da colônia, foi escolhido como o novo Vice-Rei, em 1807, sem que nenhum espanhol fosse indicado. A vitória sobre as investidas britânicas, somada à autonomia das províncias, aumentou o desejo de independência da região (CHUST; FRASQUET, 2009). A partir da tomada do trono espanhol pelas tropas napoleônicas, no ano de 1808, o Vice- Reino entrou em uma grave crise, visto que cada uma de suas províncias decidiu buscar um meio diferente para garantir sua independência, enquanto Buenos Aires lutava para manter seu poder na região. Mesmo depois de romper com os franceses, os britânicos passaram a criar laços diplomáticos duvidosos com a Espanha pois, ao mesmo tempo em que se aliavam às Juntas de Governo espanholas, também apoiavam os movimentos rebeldes das colônias hispânicas de forma não-oficial (MYERS, 2007). A primeira revolta de caráter emancipatório no Vice-Reino do Rio da Prata ocorreu em 25 de maio de 1810, ficando conhecida como Revolução de Maio. Em Buenos Aires, havia se formado uma Junta de Governo com o apoio de tropas voluntárias que haviam guerreado contra as invasões inglesas. Ainda que tivessem jurado fidelidade ao Rei Fernando VII, os revoltosos não aceitaram seguir as ordens que vinham do governo provisório da Espanha – a Junta de Sevilha – o que simbolizava uma outra forma de declarar a independência da região. A principal reivindicação do grupo era o controle sobre as províncias, determinando a autonomia sobre a região (CHUST; FRASQUET, 2009). Contrariando a Junta de Governo de Buenos Aires, Montevidéu manteve-se fiel à Espanha. No ano de 1811, foi a vez do Paraguai declarar sua independência sob a liderança de José Gaspar Rodrigues Francia, separando-se da Junta de Buenos Aires. A partir desse momento, a nação começou a afirmar sua própria unidade e abandonou o Vice-Reino. Muitas áreas do atual território da Argentina se rebelaram contra Junta de Governo de Buenos Aires, sendo contidas pelos exércitos portenhos. A independência ocorreu apenas em 1816, fundando o território federalista das Províncias Unidas do Rio da Prata. Na região do Uruguai, por sua vez, os conflitos foram mais intensos, pois a 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 19/31 região foi disputada por espanhóis e portugueses. Depois de uma longa guerra, o Império Português anexou o território, no ano de 1821, chamando-o de Província Cisplatina (MCFARLANE, 2006). A Junta de Governo de Buenos Aires continuou lutando para dominar a região do Alto Peru, enviando muitas tropas para a região devido às grandes jazidas de prata de Potosí. No entanto, a proximidade com os exércitos espanhóis (que permaneciam no Peru) e a dificuldade de acesso à região (dada sua localização muito próxima à Cordilheira dos Andes) fez com que a anexação desta área se tornasse um grande desafio. Somente o general argentino José de Francisco de San Martín, um dos maiores estrategistas no processo de independência do Vice-Reino, conseguiu alcançar a região. No entanto, as lutas pela emancipação já haviam se adiantado, fazendo com que o Alto Peru deixasse o controle de Buenos Aires. Com isso, o Vice-Reino se desintegrou completamente. A cidade somente conseguiu se fortalecer e se transformar na capital da Argentina em 1863 (MYERS, 2007). 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 20/31 Figura 1 – Retrato do general José de San Martín em uma nota de 50 pesos argentinos, comemorando seu bicentenário, em 1978. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 27/11/2020. #PraCegoVer : Na figura, temos a impressão em tons de vermelho do busto de um homem branco de cabelos curtos, vestido em roupa de gala militar, envolto em uma moldura imponente. Ele é José Francisco de San Martín, o general responsável pela independência de diversos territórios da América hispânica, como a Argentina, o Chile e o Peru. 2.3.1 A emancipação do Vice-Reino do Peru A região do Vice-Reino do Peru se transformou em uma zona administrativa na América Espanhola ainda no início do século XVI, devido à sua grande quantidade de jazidas de ouro e prata. Com o passar do tempo, as elites criollas da região se transformaram em fortes opositoras contra o absolutismo metropolitano, desejando ampliar sua atuação política. No entanto, os agentes de emancipaçãodo Vice-Reino eram originários de outras regiões. Em 6 de fevereiro de 1817, o Exército Libertador foi auxiliado pela Junta de Buenos Aires, sob a liderança do general argentino José Francisco de San Martín, formando uma enorme tropa com mais de quatro mil homens vindos do Chile e da Argentina – o Exército dos Andes (MADER, 2008). O grupo chegou à Chacabuco derrotando as tropas reais e dando início ao processo de emancipação do Vice-Reino. O projeto do general era bastante ambicioso: ele buscava levar suas tropas para o porto de Pisco, enviando uma expedição chefiada por Juan Antonio Álvarez de Arenales para explorar a região serrana. Em dezembro de 1820, esta tropa saiu vitoriosa na batalha de Cerro de Pasco, juntando-se ao Exército Libertador na Vila de Huaura, onde foi erguido o quartel-general de San Martín. Em 1821, o exército dominou Lima, a capital peruana, que havia sido abandonada pelos espanhóis – que também haviam perdido o apoio sobre a região norte e sobre o litoral do Vice-Reino (GUERRA, 1992). Os libertadores do Vice-Reino do Peru 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 21/31 » Clique nas setas ou arraste para visualizar o conteúdo Os defensores da Espanha depuseram o Vice-Rei, elegendo José de La Serna e Hinojosa em seu lugar, mas ele não conseguiu travar nenhum acordo com San Martín e foi para Cusco, tentando reorganizar as tropas do Vice-Reino. A partir da fuga de La Serna, San Martín e o Exército Libertador entraram em Lima, proclamando a independência do Peru. Os anos seguintes foram de grande crise política, vários golpes de Estado e muitos conflitos contra o Chile (MADER, 2008). 2.4 A independência do Chile e as guerras do Pacífico Uma das questões mais importantes nos processos de independência da América Hispânica foi a luta pelo poder entre espanhóis e as elites coloniais. Em 1808, com a morte do Capitão Geral do Chile, uma série de conflitos se iniciou entre as autoridades da colônia, reforçando o contexto internacional conturbado, ligado às invasões napoleônicas, responsável por colocar em dúvida a quem os colonos deveriam obedecer. Neste contexto, o brigadeiro Antonio Garcia Carrasco assumiu o poder na região (DONGHI, 1978). Para tornar a situação ainda mais conflituosa, Carlota Joaquina e D. João VI demonstraram claras intenções de posse das colônias hispânicas americanas (PRADO; PELLEGRINO, 2014). nascido em 25 de fevereiro de 1778, que teve uma participação muito importante nas campanhas de independência da Argentina do Chile e do Peru. JUAN DE ARENALES Juan Antonio Álvarez de Arenales foi um militar argentino nascido em 13 de junho de 1770, também considerado como boliviano, devido à sua atuação no processo de independência daquela região. De origem espanhola, Arenales lutou nos processos de independência do Chile, do Peru e das Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina). 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 22/31 Os vizinhos chilenos » Clique nas abas para saber mais sobre o assunto Para afastar os interesses da Coroa Portuguesa, o brigadeiro Carrasco jurou fidelidade ao rei Fernando VII, reconhecendo a Junta de Sevilha como o governo de sua capitania. No entanto, os diversos movimentos de emancipação das colônias espanholas começaram a influenciar os líderes chilenos, que passaram a refletir sobre a possibilidade de criação de um governo independente, visto que Carrasco criou uma administração que abusava da violência e dos desmandos. Os conflitos entre o brigadeiro e o cabildo de Santiago se tornaram cada vez mais intensos, de tal forma que, em 25 de maio de 1810 (mesma data da criação da Junta de Buenos Aires), ele passou a punir quaisquer envolvidos em boatos de conspiração para emancipação, dentre os quais estavam os criollos latifundiários José Antonio Rojas e Antonio Ovalle, e um importante homem de letras, Bernardo Vera y Pintado. Essas três personagens foram determinantes para a instauração da emancipação chilena (POMER, 1988). Tais prisões foram muito criticadas pela elite criolla e pelo clero chileno. O cabildo e a Audiência, conhecendo os processos de emancipação em Buenos Aires, passaram a adotar medidas opostas: enquanto o cabildo, composto por membros criollos passou a lutar pela independência, os membros espanhóis da Audiência tentavam manter o domínio sobre a capitania. Em 18 de setembro de 1810, as intensas agitações contra Garcia Carrasco tomaram forma na Primeira Junta Nacional de Governo, de caráter provisório, composta por nove líderes, que buscavam governar em nome do rei Fernando VII. A instituição prestou auxílio a Buenos Aires, rejeitou as indicações do Conselho de Regência para o cargo de Capitão Geral, reforçou seu direito de governar a região e deu fim ao exclusivo colonial, abrindo as portas da capitania para as manufaturas estrangeiras e para o início da produção nacional. Em abril de 1811, os defensores da Espanha tentaram realizar uma revolta militar, mas fracassaram e acabaram sendo duramente reprimidos, resultando na dissolução da Audiência. (BETHELL, 2005). A principal liderança da primeira etapa da independência do Chile foi José Miguel Carlota Joaquina D. João VI 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 23/31 Carrera, que retornou da Espanha aos 25 anos, transformando-se no chefe do processo revolucionário. Em 4 de setembro de 1811, ele impôs uma série de exigências ao Congresso, como várias transformações nos comandos militares, a criação de uma nova junta com cinco membros e uma mudança das cadeiras dos deputados. O Congresso se dividia em três tendências e não conseguia alcançar os objetivos pleiteados por Carrera. Sofrendo um golpe de Estado e sendo dominado por uma tendência mais radical, ele reformou o sistema jurídico, proibiu a venda de escravos, libertou as crianças que nascessem de mães cativas a partir de então, reformou o exército e diminuiu as rendas do clero. Neste contexto, também se destacou o filho de um Vice-Rei do Peru, Bernardo O’Higgins, grande proprietário rural no Chile meridional (POMER, 1988). Neste processo, coube a Manuel Egaña e Juan Salas a redação da Constituição do novo País, enquanto José Miguel Carrera lutava para manter-se no poder. Um dos obstáculos encontrados foi Juan Martinez de Rosas, uma liderança civil muito carismática da província de Concepción, fazendo com que Carrera subjugasse a região e aniquilasse seu líder. Além disso, o desenvolvimento de um jornal na capitania, a Aurora do Chile, dirigido pelo padre Camilo Henríquez, ajudou muito a propagar os ideais de independência pela região. (DONGHI, 1978). Os dois irmãos de José Miguel Carrera também eram muito envolvidos no movimento de independência, mas estavam afastados do novo líder. Em 1812, chega à capitania Robert Poinsett, cônsul pelos Estados Unidos, responsável por mediar os acordos entre os três irmãos, tornando-se um conselheiro do movimento emancipacionista chileno. Ele também se torna parte da elaboração da Constituição do país, caracterizada pela negação ao reconhecimento de qualquer autoridade fora dos territórios chilenos, pela determinação da soberania popular, pela liberdade individual e de imprensa, pela abertura do Chile às demais nações, pela criação do Senado e pela proclamação da igualdade entre os chilenos. O novo governo seria constituído por três lideranças, sob o comando de Carrera (POMER, 1988). No entanto, este processo inicial foi fortemente atacado quando o Vice-Rei José Fernando de Abascal y Sousa tentou submeter a capitania e a região de Buenos Aires à Espanha, enviando um forte exércitoque se uniu ao grupo de Montevidéu. No dia 3 de maio de 1814, foi assinado um acordo, mediado pela Inglaterra, em que o governo de 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 24/31 Santiago reconhecia novamente a autoridade do rei Fernando VII e determinava o envio de representantes para a Espanha. Carrera foi preso, mas conseguiu fugir e determinou a revolta das tropas, criando uma Junta governamental. No entanto, o Vice-Rei decidiu dar fim a quaisquer novas tentativas emancipacionistas, enviando o general Osório e suas tropas para a tomada de Santiago, em outubro de 1814: era o fim da primeira etapa do processo de independência chileno, conhecido como “Pátria Velha” (PRADO; PELLEGRINO, 2014). Em 1817, o general San Martín incluiu a libertação do Chile em seu plano para emancipar o Vice-Reino do Peru. Ele organizou uma tropa na província de Mendonza, a qual passaria pelo Chile, conseguindo sua independência antes de chegar em solo peruano. Saindo de Mendonza no dia 9 de janeiro, o exército chegou ao Chile em apenas alguns dias, conseguindo a emancipação através de duas vitórias principais: a Batalha de Chacabuco e a Batalha de Maipú, fazendo com que as tropas chegassem a Santiago em 14 de fevereiro. O cabildo ofereceu a San Martín o posto de governador de Santiago com plenos poderes, mas ele rejeitou o cargo, oferecendo-o a Bernardo O’Higgins, que vinha chefiando os exércitos chilenos desde a primeira fase do processo de independência. O’Higgins havia vivido muito tempo na Inglaterra, permanecendo em solo chileno desde 1802 e lutando contra as tropas reais desde 1810. Com o fim da Pátria Velha, ele havia fugido para Mendonza, na Argentina, onde conheceu San Martín. A emancipação chilena foi proclamada em 12 de fevereiro de 1818, um ano após a Batalha de Chacabuco (POMER, 1988). O processo de Independência do Chile » Clique nas abas para saber mais sobre o assunto 1808 – O brigadeiro Carrasco toma o poder na Capitania do Chile 1810 – Prisão das lideranças revolucionárias 1811 – Ascensão de José Miguel Carrara 1812 – Chegada de Robert Poinsett ao Chile como mediador dos EUA 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 25/31 Teste seus conhecimentos Atividade não pontuada. Síntese Nesta unidade, foi estudado que o processo de independência das colônias espanholas na América teve como consequência imediata o desmembramento de um grande território em várias novas nações, nas quais foi instituído o regime republicano, com a eleição de novas lideranças. Em grande parte dos casos, as elites criollas permaneceram no poder por muitas décadas, mantendo seus privilégios. Mesmo que a liberdade econômica frente à Espanha tenha sido garantida, favorecendo especialmente os grandes proprietários de terras, as antigas colônias passaram a depender comercialmente dos ingleses, que se tornaram a grande potência do século XIX. É importante compreender que os processos de independência não determinaram a redução das desigualdades sociais na colônia, de tal forma que a maioria da população continuou mantendo péssimas condições de vida. SAIBA MAIS 1814 – Retomada do poder espanhol 1817 – José de San Martín lidera a libertação do Chile 1818 – Declaração de Independência do Chile 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 26/31 Título: Revoluções de independência na América Hispânica: uma reflexão historiográfica. Autor(a) ou autores(as): Maria Elisa Noronha de Sá Mäder Editora: Revista de História da USP Ano: 2008 Comentário: O artigo aborda os movimentos de independência ocorridos na América Hispânica de acordo com diversas abordagens que aludem ao caráter revolucionário e aos significados dados a eles. Onde Encontrar? < http://www.periodicos.usp.br/revhistoria/article/view/19094/21157 > Referências bibliográficas 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 27/31 http://www.periodicos.usp.br/revhistoria/article/view/19094/21157 http://www.nexos.com.mx/internos/abril2000/hobsbawm.asp 13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2fxCxxrLyY1jPHP1rttKfnQ%3d%3d&l=SU16seFeuSWpFefdAcxgiA%3d%3d&cd=jnRLGJ… 28/31 https://www.nexos.com.mx/?p=9612 ANDERLE, A. 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