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Revolucoes da America Espanhola

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HISTÓRIA DAHISTÓRIA DA
AMÉRICAAMÉRICA
INDEPENDENTE:INDEPENDENTE:
SÉCULOS XVIII E XIXSÉCULOS XVIII E XIX
UNIDADE 2 – AS PRIMEIRASUNIDADE 2 – AS PRIMEIRAS
INDEPENDÊNCIAS NAINDEPENDÊNCIAS NA
AMÉRICA ESPANHOLAAMÉRICA ESPANHOLA
Autora: Julia Rany Campos UzunAutora: Julia Rany Campos Uzun
Revisor: Fabrício Augusto Souza GomesRevisor: Fabrício Augusto Souza Gomes
INICIAR
Introdução
Caro(a) estudante,
Como se formaram as diversas nações da América Latina? Nesta unidade, você está
convidado(a) a desvendar como os diferentes territórios da antiga América Espanhola
deixaram de ser colônias, nas primeiras décadas do século XIX, passando por vários
conflitos armados e por uma série de acordos que garantiram sua independência da
Espanha, firmando-os como países independentes. Para isso, você vai conhecer a nova
organização social das nações latino-americanas, especialmente de suas elites,
descobrindo sua atuação política nos novos governos que se formavam e como eles se
espelharam nos modelos franceses para compor as novas nações. Você vai
compreender como se deram os diversos movimentos de independência dos principais
13/05/24, 12:08 Unidade 2 - As primeiras independências na América Espanhola
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2.1 O papel da elite criolla nos processos de independência
das colônias espanholas
Durante os movimentos de grandes transformações na Europa, iniciados com a
Revolução Francesa (1789-1799), as questões ligadas à administração das colônias
espanholas na América passaram a ser coordenadas pelos cabildos, as câmaras
municipais que eram formadas pelos criollos – os descendentes de espanhóis que já
haviam nascido em solo americano, tendo poder econômico, mas não podendo exercer
os principais cargos políticos por não terem nascido em solo metropolitano. Este
processo levou a um grande aumento da autonomia colonial sobre as decisões na
América Espanhola, visto que estas instituições começaram a desempenhar o papel que
anteriormente cabia à Coroa espanhola e aos seus representantes em solo colonial.
Neste cenário, as elites criollas deram início aos processos de independência nas
diversas regiões da América Hispânica (CHAUNU, 1979).
Em 1815, quando Napoleão Bonaparte foi deposto e o Congresso de Viena foi firmado
pelas diversas nações europeias, aqueles governantes que haviam perdido seus
territórios para o Império Francês tiveram seus tronos restituídos, fazendo com que o rei
Fernando VII, da Espanha, buscasse restabelecer as práticas absolutistas e tentasse
retomar o domínio sobre suas colônias na América, dando fim à autonomia conquistada
anteriormente pelos cabildos. No entanto, os movimentos de independência se
fortaleceram e a América Espanhola deu início a um longo período de guerras de
emancipação (ANNINO; GUERRA, 2003).
O território colonial espanhol na América era, até então, dividido em quatro grandes áreas
administrativas: os Vice-Reinos da Nova Espanha, de Nova Granada, do Rio da Prata e
do Peru, além de quatro Capitanias Gerais (do Chile, de Cuba, da Guatemala e da
Venezuela). Com os movimentos de Independência, todos os Vice-Reinos foram divididos
em novas nações republicanas e, mesmo que seus líderes fossem criollos, os processos
vice-reinos espanhóis na América (Nova Espanha, do Prata e do Peru), descobrindo sua
relação com o contexto internacional. Você também vai desvendar as particularidades do
processo de independência da Capitania Geral do Chile, estudando as guerras ocorridas
no Pacífico ligadas a esse movimento.Bons estudos!
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de emancipação também contaram com homens brancos das camadas populares, com
mestiços, com a população negra e, principalmente, com os indígenas contra a
dominação espanhola (CHAUNU, 1979).
Desde a formação dos ideários de independência, foi colocado em pauta um importante
aspecto identitário sobre a consciência latino-americana: a importância de construir a
diferença em relação ao Outro espanhol, visto como inimigo. Nesse sentido, a elite criolla
capitaneou a defesa da construção da “raça latina”, exaltando princípios republicanos e
democráticos em detrimento da monarquia. Isso fez com que os criollos buscassem
definir identidades para as novas nações que iriam governar a partir de fortes oposições
à sua antiga metrópole, sendo este o ponto de destaque quando se analisam os símbolos
produzidos no período. A primeira e mais evidente batalha por estes emblemas ocorreu a
partir da definição da bandeira e do hino das novas nações, visto que estes são os
símbolos de uso obrigatório mais representativos de um País (CARVALHO, 1990).
Nesse sentido, o fortalecimento do Exército nacional e a construção de uma memória
comum garantiram a união das fronteiras dos novos países. Nessa busca, as elites
criollas voltaram seus olhos para os elementos que seriam considerados como
características das novas nações e que, por isso, seriam desligados aos poucos das
releituras feitas pela metrópole, garantindo a união das fronteiras após a independência.
De fato, a única característica que permaneceu nas nações latino-americanas após a
independência foi a presença do Catolicismo como religião oficial na maior parte dos
territórios. De acordo com a Constituição do México independente, por exemplo, “a
religião da nação é e será perpetuamente a Religião Católica, Apostólica e Romana. A
nação protege-a com leis sábias e justas e proíbe o exercício de qualquer outra religião”
(BETHELL, 2005).
No entanto, mesmo que as elites criollas rechaçassem intensamente o que fosse
espanhol, o indígena do século XIX não era considerado como o modelo latino-americano
a ser exaltado. Principalmente a partir de meados do século XIX, as novas nações
passaram a adotar releituras das teorias sociais europeias sobre o darwinismo social, de
Herbert Spencer, e a eugenia, passando a defender que as populações indígenas
(grande maioria em muitas das novas nações americanas) eram inferiores aos grupos
brancos. Além disso, o positivismo afirmava que o mestiço deveria ser o homem ideal (e,
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de acordo com a teoria, como a mistura entre brancos e indígenas havia ocorrido desde a
Conquista, em menos de um século a população seria predominantemente branca, pois a
teoria acreditava na prevalência da “raça superior”) (FERNANDES, 2013).
Teorias sociais que sustentaram a colonização
» Clique nas abas para saber mais sobre o assunto
2.1.1 O caudilhismo
O movimento de independência das nações da América Latina buscou a criação de
governos liberais e democráticos para os países em formação como forma de acabar
com o atraso imposto pelas determinações vindas da antiga metrópole, conforme
indicavam as ideias iluministas. Nesse sentido, o grande modelo ideológico das novas
nações passou a ser a França, ao mesmo tempo em que os Estados Unidos se tornavam
o exemplo de nação que os territórios latinos queriam se transformar, dado o sucesso de
seu processo de emancipação. Os antigos obstáculos deveriam ser ultrapassados com o
advento da modernização, com a criação do Poder Judiciário em solo americano e com a
ampliação dos direitos políticos (KRAUZE, 2002).
Contudo, esta proposta universalizante não passou do papel. O desenvolvimento dos
processos de independência na América Espanhola, na prática, apontou para uma
direção muito diferente. As leis implantadas e as democracias instauradas nas novas
nações latino-americanas, a partir do fim de cada conflito emancipatório, à exceção do
Haiti, surgiram através de movimentos encabeçados pela elite criolla, que apenas lutava
por seus própriosinteresses e pela manutenção de seus privilégios, acreditando que o
rompimento do exclusivo colonial garantisse vantagens comerciais para seu grupo – e
não para toda a população das ex-colônias espanholas. Dessa forma, foi criado um
abismo político e ideológico entre os anseios das elites criollas e das camadas populares,
elevando os criollos a uma situação muito privilegiada (FLORESCANO, 2003).
 Darwinismo social Positivismo Eugenia
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Mesmo após os movimentos de independência, a maioria da população das novas
nações latino-americanas manteve-se à margem dos processos de decisão democrática.
Ainda que o poder emanasse de uma constituição nacional e fosse legitimado pelos
governos de cada um dos países, a decisão estava centralizada nas mãos das elites
criollas, que tinham interesses agroexportadores, fazendo com que todas as questões
políticas fossem determinadas pelos grandes proprietários rurais, o que reforçou os laços
de dependência nas regiões internas de cada nação: se, durante o período colonial, estes
laços se davam com a Espanha, a partir de agora eles ganharam novos ares ao se
estabeleceram com as próprias elites nacionais (GRANADOS; MARICHAL, 2009).
Neste contexto, é fortalecida a figura dos caudilhos. Esses eram membros da elite criolla
que utilizavam de seu poder econômico para garantirem também poder político e, com
isso, defenderem seus próprios interesses, ultrapassando os limites das instituições
públicas, desrespeitando sua ação e abusando do poder instituído. Um dos principais
exemplos da atividade dos caudilhos foi o desenvolvimento de milícias, grupos
paramilitares pagos pelos criollos que não reconheciam nenhum tipo de poder além de
seu próprio, agindo de forma mais severa do que o próprio Exército oficial das novas
nações. O apoio popular aos caudilhos era conseguido naturalmente – fosse pelo
carisma destas figuras ou pelo medo da opressão que causavam (RINKE, 2017).
Com o processo da decadência do domínio da Espanha sobre seus territórios
americanos, foi possível identificar o surgimento de uma série de lideranças político-
militares em todo o continente. Esses líderes começaram a governar por meio de
medidas autoritárias, tendo o poder de comandar multidões e de tomar a atenção de
muitas pessoas, as quais passaram então a cultuar sua imagem por meio de estátuas,
monumentos e pela transformação destas figuras em heróis nacionais. Este fenômeno é
uma manifestação importante do caudilhismo, tornando-se uma característica importante
do século XIX (KRAUZE, 2002).
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O artigo ‘’O pensamento social e político latino-americano: etapas de seu
desenvolvimento’’, publicado pela Revista Sociedade e Estado traz um panorama
sobre o pensamento latino-americano, a partir dos primeiros anos da
independência das nações recém-compostas, apresentando os principais autores
a partir de uma ordem cronológica do desenvolvimento de suas escolas de
pensamento e doutrinas filosóficas.
A origem do caudilhismo reside na união entre duas modalidades distintas de autocracia
religiosa: a espanhola e a indígena. Os imperadores das grandes teocracias indígenas
tinham poder de deuses, sendo considerados encarnações divinas para as quais os
próprios homens não podiam olhar diretamente, visto que os encarar significava manter
um acesso direto ao caminho da morte. O medo frente a esses imperadores foi
transferido na colônia para os vice-reis, encomenderos e conquistadores espanhóis. Nos
três séculos de manutenção da ordem tradicional, foi construída uma imensa pirâmide de
submissão e obediência, de tal forma que esta foi a concepção de sociedade que se
apresentava no pós-independência (FLORESCANO, 2003).
Na formação das novas nações, era preciso construir uma nova ordem, buscando erigir o
futuro da nova nação sob as bases da democracia, da laicidade e da República, dentro
das determinações constitucionais. Claramente, o carisma de um chefe de Estado não
era suficiente para repensar a ordem tão enraizada na América, pois era necessário
conduzir tais territórios ao desmembramento, durante um período de pobreza e violência,
enquanto as novas identidades nacionais eram elaboradas (KRAUZE, 2002).
Com isso, por meio de uma relação dúbia com os poderes instituídos, os caudilhos
reconheciam somente as instituições políticas que mantivessem sentidos harmônicos
com a manutenção de seus próprios interesses. É importante ressaltar que o caudilhismo
foi um fenômeno observável em toda a América Latina, especialmente no México, na
Argentina, no Chile, no Peru e no Brasil. Mesmo que usasse a violência para garantir sua
manutenção no poder, o caudilhismo não se conteve às transformações ocorridas ao
longo do tempo, extinguindo-se no início do século XX (GRANADOS; MARICHAL, 2009).
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Atividade não pontuada.
2.1.2 A França como novo espelho intelectual das nações americanas
O conceito de América Latina não existia até a metade do século XIX. Sua origem
ocorreu em Paris, a partir de um conjunto de discussões realizadas por intelectuais das
nações americanas nascentes e pela política cultural da França voltada para a América,
compreendida como uma manifestação oficial de intervenção cultural da nação europeia
na cultura americana, por meio da aplicação de atividades e práticas empregados de
modo muito consistente. Mesmo que ainda não exista um consenso sobre a autoria do
conceito de América Latina, vários autores atribuem sua concepção a Francisco Bilbao
Barquín, o intelectual chileno que empregou a expressão pela primeira vez no ano de
1856, durante uma conferência na capital francesa, através da qual ele defendeu a união
das nações sul-americanas como uma forma de competir de forma igualitária contra o
desenvolvimento da América do Norte. Desde então, vários autores hispano-americanos,
como Carlos Calvo e José Maria Torres Calcedo, também começaram a divulgar o
conceito de América Latina, também na França, de tal forma que ele se tornou popular
com grande rapidez (BILBAO, 1978).
Ainda que não exista uma definição sobre este debate, é possível afirmar que, ao longo
do século XIX, existia um forte desejo para a demarcação do conceito de uma América
diferente daquela anglo-saxã, o que ajudou a compor o repertório das reflexões dos
intelectuais franceses e daqueles americanos das novas nações, especialmente aqueles
que viviam em Paris, visto que neste contexto a França exerceu um grande fascínio
sobre as elites da América, o que levou a um movimento conhecido por “afrancesamento”
(GRANADOS; MARICHAL, 2009).
Esta atração estava relacionada intimamente, durante o século XIX, com a criação de
paradigmas culturais característicos daquele contexto, fazendo com que a França fosse
transformada no principal modelo cultural do mundo. O País desenvolveu as principais
obras urbanas em sua capital, Paris, abrindo avenidas largas, criando parques e
elevando diversas estruturas metálicas. Foram desenvolvidas as Exposições Universais e
os parisienses começaram a ditar a moda no Ocidente, unindo a máquina ao corpo
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humano. A França passou a ser considerada como o símbolo principal do
desenvolvimento tecnológico: foram desenvolvidos os grandes magazines, surgiu a
fotomontageme o romantismo literário triunfava. Walter Benjamin, com sua visão crítica,
descreveu Paris como a capital cultural do mundo, indicando os franceses como os
produtores de mercadorias capazes de criar a ilusão de crença no progresso e de
segurança em uma projeção próxima ao infinito (BENJAMIN, 1989).
Com isso, durante o século XIX, a França passou a fornecer as ferramentas ideológicas
para o desenvolvimento dos ideais de modernidade. De forma específica, o positivismo
foi muito influente na formação da América, estabelecendo a unidade para a explicação
dos fenômenos universais, sendo estudados sem que houvesse preocupação com os
conceitos metafísicos (tidos como noções inacessíveis), mas com o uso exclusivo da
verificação experimental e da metodologia empírica. Com isso, as nações da América que
se formavam começaram a empregar os principais lemas positivistas, como a defesa do
nacionalismo, do progresso intelectual e material e da ordem (RIBEIRO JR., 1982).
O positivismo foi uma importante ferramenta usada pelas elites criollas para tratar o
atraso de suas nações, buscando explicar a história destes novos países e traçar projetos
para seu futuro a partir do princípio de que estas sociedades não se apresentavam em
condições “saudáveis” e que deveriam sanar seus problemas por meio de uma série de
reformas, através da ciência e da educação. As propostas de Hippolyte Taine, Augusto
Comte e outros intelectuais franceses foram bem recebidas em solo americanos, sendo
apropriadas de forma distinta ao darwinismo, ao realismo, ao naturalismo literário e ao
ateísmo (ANDERLE, 1988).
Neste contexto, a quantidade de intelectuais latino-americanos que moravam em Paris
era tão grande que chegou a surgir um campo de debates sobre as novas identidades
latino-americanas na capital francesa – e não nas cidades da América –, dando origem à
organização de eventos e à publicação de revistas sobre o tema por intelectuais
franceses e das mais diversas nações latino-americanas. O país foi o principal promotor
da ideia de panlatinismo, que buscava ampliar as zonas de influência da cultura francesa
nas Américas. De acordo com o conceito, a Europa deveria se dividir em três grandes
áreas: os eslavos, sob a liderança da Rússia; os germânicos, liderados pela Alemanha; e
os latinos, dominados pela França. Esta teoria propunha que existia uma unidade entre
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as nações que possuíam o mesmo idioma de origem (neste caso, o latim) e que tinham o
Catolicismo como religião oficial, de tal forma que os franceses deveriam se apropriar
culturalmente de todos os territórios que falassem espanhol, português, francês, italiano e
romeno em todo o mundo, incluindo as Américas. O panlatinismo levou a França inclusive
a realizar algumas intervenções militares na América Latina, sendo o maior exemplo
destas práticas a criação do Império de Maximiliano no México, entre 1864 e 1867
(TENORIO TRILLO, 1999).
2.1.3 Os elementos de unificação do passado nacional na América Latina
No século XIX, a maior parte da população das nações americanas tinha mínima
expressão política e se sentia pouco unida, por ter apenas o laço territorial como motivo
para viver sob um mesmo governo (diga-se de passagem, a própria definição do território
das novas nações também havia sido inventada). Neste contexto, uma das alternativas
buscada pelos governos americanos para encontrar pontos de unidade entre os diversos
grupos que viviam nas nações americanas foi o culto aos heróis e figuras ilustres que
participaram da história dos países, principalmente aqueles ligados aos processos de
independência e às civilizações indígenas do passado pré-hispânico (FLORESCANO,
2003).
As elites criollas compreenderam a necessidade da criação de personagens vitoriosas,
de forma que a população se sentisse devidamente representada e não se visse privada
de “cabeças visíveis”, especialmente nos períodos mais críticos. Dessa forma, foi
necessário fabricar heróis, mas nem todos os grupos coloniais foram reavivados. Para
compor a memória nacional com base em uma cultura suposta como homogênea, que
deveria herdar tradições semelhantes, cada nação elegeu um povo que deveria
representá-la, conferindo a ela o status de passado escolhido para oferecer a unidade à
nação. Enquanto o Peru elegeu os incas, o México e os astecas para o papel, a Argentina
e o Uruguai decidiram emudecer o elemento indígena, escolhendo a figura do gaúcho
dos pampas como representante de seu passado mítico (FERNANDES, 2013).
A inserção das imagens no discurso nacionalista permitiu identificar com mais facilidade a
criação de um imaginário, na América, que foi “parte integrante da legitimação de
qualquer regime político” (CARVALHO,1990) encabeçado pelas elites criollas,
estabelecido por muitas formas de representação distintas. Por serem representações
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mais difusas e de leitura menos codificada do que os textos escritos, as imagens
atingiram o imaginário de um número muito maior de pessoas, permitindo que
aspirações, interesses e medos da população das novas nações, que buscavam
elementos de identidade, se misturassem, passando a se transformar em ferramentas
para os governos que buscavam traçar planos comuns para que as nações se
formassem (PROBST, 2016).
Nesse sentido, o Estado foi o primeiro impulsionador da história pátria, sendo
responsável pela determinação de seus temas e por sua difusão em todo o País, através
de todas as camadas sociais. Para isso, o Estado utilizou-se de muitos instrumentos,
como a substituição do calendário litúrgico pelo calendário de festas cívicas, que passou
a celebrar heróis e batalhas nacionais; pela elaboração de livros de história, que entraram
no lugar da Bíblia como ferramenta para transmitir temas, valores e personagens que
ensinam a moral; pelas reformas educacionais e pela revolução no campo das artes, que
substituíram os temas religiosos pelos laicos. Várias dessas mudanças ocorreram pela
desvinculação entre a Igreja e o Estado, ocorrida aos poucos, visto que a apropriação
das ideias positivas levou à diminuição da participação religiosa nos assuntos
governamentais, mesmo que mantivesse sua influência na composição do imaginário das
novas nações. (FLORESCANO, 2003).
Os usos políticos do passado não foram uma novidade nas nações americanas do século
XIX. De acordo com Enrique Krauze,
com o propósito de conseguir a consolidação de seu império, os
próprios imperadores mexicas haviam queimado os códices que
recordavam sua grosseira origem nômade e reescreveram sua
história para vincular-se diretamente à cultura por excelência da
Mesoamérica, a dos toltecas e seu mítico fundador, Quetzalcóatl
(KRAUZE, 2005, p.30)
A Mesoamérica trouxe um exemplo de esquecimento voluntário, através do qual os
imperadores mexicas construíram a memória de seu império por meio da invenção de
uma nova origem. De acordo com Ernest Renan, esquecimentos históricos como este
forneceram elementos muito importantes para a construção nacional na América
(HOBSBAWN, 2000). É importante pontuar uma crítica ao argumento de Krauze: ao
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indicar que os próprios imperadores mexicas colocavam fogo em seus códices para a
produção de uma memória voluntária, o autor afirmava que o México existia desde o
período dos toltecas (conhecido como Mesoamérica), visto que Montezuma seria
responsável por inventar a mexicanidade no século XV. No entanto, apenas é possível
conceber a criação do México comonação no século XIX, o que impossibilita que a
região tenha sido imaginada como nação vários séculos antes de sua independência.
Voltar os olhos para as práticas dos tlatoanis mexicas e compreendê-las como uma
expressão nacionalista pode ser compreendido como um anacronismo, ou seja, como o
deslocamento de um conceito de seu contexto.
No século XIX, teve início a cristalização da noção de identidade nacional na América
Latina. Enquanto os novos países mantinham-se em conflito contra as tentativas de
recolonização espanhola, seus governos tiveram um curto intervalo para se preocupar
com o desenvolvimento de uma forte nacionalidade. Apenas a partir da metade do século
XIX, foi incentivado o culto aos heróis, aos mitos e aos demais símbolos nacionais, como
o hino, o brasão das Forças Armadas e a bandeira (FLORESCANO, 2003). Quais
personagens foram eleitas como os grandes heróis destas Repúblicas recém fundadas?
José Murilo de Carvalho ressaltou que
heróis são símbolos poderosos, encarnações de ideias e
aspirações, pontos de referência, fulcros de identificação coletiva.
São, por isso, instrumentos eficazes para a tingir a cabeça e o
coração dos cidadãos a serviço da legitimação de regimes políticos.
Não há regime que não promova o culto de seus heróis e não
possua seu panteão cívico. (CARVALHO, 1990, p. 55)
Com base na noção de que a memória nacional deveria ser erigida a partir de pilares
totalizantes, as elites criollas latino-americanas concluíram que parte das figuras
históricas eleitas como heroicas e celebráveis deveriam ser aquelas que entraram em
conflito contra a dominação espanhola no período colonial, enquanto as demais seriam
aquelas que lutaram durante os movimentos de independência e garantiam a autonomia
das novas nações (RINKE, 2017).
O imaginário de um País se constrói também a partir de sua mitologia, a qual foi
empregada em grande escala neste período para celebrar a unidade nacional. Um dos
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maiores exemplos dessa prática foi a exploração do mito de origem de cada nação –
como ocorreu com o mito de fundação mexicano, que conta a história de uma águia
pousando sobre um nopal (um tipo de planta cactácea característica da região),
agarrando uma serpente em seu bico, sofrendo várias releituras que vão desde o domínio
dos mesoamericanos sobre o terreno árido até a vitória do Cristianismo sobre as religiões
indígenas. De forma geral, os mitos de origem buscaram criar uma versão (imaginária ou
real) dos fatos para dotar de sentido e legitimar o lado vencedor da situação. Quando
estes mitos foram propagados pelos novos governos, eles buscavam reafirmar a vitória
criolla e independente contra as forças espanholas e metropolitanas. Claramente,
houveram muitas distorções que determinaram que a situação atual seria mostrada como
muito superior a qualquer outro período (CARVALHO, 1990).
As divindades indígenas, especialmente nas regiões da Mesoamérica e do Peru, também
compuseram um panteão mitológico muito explorado neste período. Os mitos ligados a
esses deuses se manifestaram nas tradições mais diversas (oral, escrita, artística e nos
rituais), transformando-se em uma evidência documental para a formação do imaginário
destas regiões durante o período pós-independência, visto que permitiram a interpretação
de evidências populares por meio de mecanismos simbólicos próprios que não se
enquadram na retórica da narrativa histórica (PROBST, 2016).
Este debate acerca das representações é bastante válido para a compreensão sobre os
jogos políticos e sociais entre a elite criolla e as demais camadas sociais das novas
nações americanas. É importante esclarecer, ainda, que, para que essas relações
pudessem ocorrer, foi preciso a existência daquilo que Bronislaw Backzo chamou de
“comunidade de sentido” ou “comunidade de imaginação”, ou seja, a permanência de um
grupo que compartilhasse informações comuns, tornando os símbolos inteligíveis para
todos os seus membros, garantindo a comunicação por meio deles e dotando os
símbolos de sentido. Por este motivo, escolher os heróis e figuras de destaque corretos
foi tão importante para a formação nacional na América: porque todos os habitantes de
cada nação deveriam reconhecê-los e se reconhecer através deles (BACKZO apud
CARVALHO, 1990).
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VOCÊ SABIA?
Como a história da América é apresentada em sala de aula na educação básica? Como
as independências são discutidas? Ouça o episódio 12 do podcast Hora Americana e
conheça um pouco mais sobre essa discussão, com os professores José Alves de Freitas
Neto e Marcus Vinicius de Morais.
2.2 A independência do México e o governo do general
Agustín de Iturbide
A Espanha havia determinado quatro subdivisões administrativas na América, conhecidas
como Vice-Reinos: O Vice-Reino de Nova Granada, o Vice-Reino do Peru, o Vice-Reino
do Rio da Prata e o Vice-Reino da Nova Espanha, que foi o primeiro a ser estabelecido,
que era o mais populoso e o que mais gerava lucros para a Coroa espanhola. Por esse
motivo, ele foi o que sofreu o controle econômico mais rígido dentre todas as regiões da
América Espanhola, de tal forma que a insatisfação criolla contra as práticas
metropolitanas fosse uma questão constante. No início do século XIX, a sociedade do
Vice-Reino era dividida entre guachupines (nascidos em solo espanhol e possuidores dos
mais altos cargos políticos), criollos (descendentes de espanhóis que nasceram na
América, formando a elite econômica local, porém ocupando somente os cargos políticos
intermediários), os mestiços e os indígenas (que, juntos, formavam mais de 80% da
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população, sendo explorados pelos guachupines e pelos criollos em uma grande
diversidade de tarefas) (VÁZQUEZ VEGA, 2009).
O processo de independência da Nova Espanha foi marcado pelo conflito constante entre
guachupines, criollos e a população em geral (a união entre mestiços e indígenas). A
partir do ano de 1808, quando as notícias da invasão das tropas de Napoleão Bonaparte
à Espanha chegaram à Nova Espanha, houve uma grave crise na Cidade do México. De
um lado, os defensores do rei Fernando VII (guachupines, principalmente) passaram a
defender que o Vice-Reino mantivesse sua submissão à metrópole, apoiando o rei
deposto. De outro lado, os autonomistas do cabildo (criollos, em sua maioria) passaram a
lutar para que José de Iturrigaray, o Vice-Rei, assumisse o governo, ainda que de forma
provisória. A possibilidade de um governo autônomo assustou os guachupines e, quando
o Vice-Rei convocou todos os cabildos para uma grande assembleia, os defensores do
rei prenderam Iturrigaray e uma grande parte dos criollos que compunha os cabildos.
Esta ação fez com que os autonomistas percebessem que não conseguiriam atingir a
independência sozinhos, devendo aliar-se aos indígenas e aos mestiços. Na Nova
Espanha, a emancipação deveria nascer nas periferias (VALADÉS, 1994).
Neste contexto, um grupo de criollos da província de Guanajuato se organizou para
derrubar os defensores do rei que estavam no poder. Instalados na cidade de Querétaro,
os criollos conspiradores tinham como principal líder o padre Miguel Hidalgo y Costilla, do
vilarejo de Dolores, um homem letrado, instruído nos ideais iluministas e famoso por
defender os povos explorados, sendo muito admirado pelos indígenas e pelos mestiços.
Em 1810, o “cura de Hidalgo” havia liderado um grande levante popular, motivado pela
seca que havia atingido a região de Querétaronos últimos anos, fazendo com que os
trabalhadores atingissem condições miseráveis de vida. Em 16 de setembro daquele ano,
ele convocou a população a lutar contra o domínio espanhol, soando o sino da igreja e
reunindo um grande contingente de voluntários. Este episódio deu início ao processo de
independência do México, entrando para a história como “O Grito de Dolores”,
transformando o padre no primeiro grande líder do movimento de emancipação do País
(BEEZLEY; MEYER, 2000).
O programa do padre Hidalgo para a nova nação trazia o fim da escravidão, a devolução
dos territórios mexicanos para os grupos indígenas, além da proclamação da
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independência, em nome da Virgem de Guadalupe, a protetora de Querétaro, ainda que
não trouxesse uma proposta política muito definida. Seu discurso sobre a emancipação
levou a uma grande repercussão em todo o território da Nova Espanha, inspirando a
criação de muitas outras tropas voluntárias que originaram diversas batalhas entre os
defensores do rei e os rebeldes. Mesmo desejando a independência, os criollos não se
uniram imediatamente aos rebeldes nesse momento: temendo perder seus privilégios
políticos e econômicos, as elites criollas se mantiveram distantes do movimento de
independência nesta fase inicial, chegando inclusive a ajudar os realistas a combater os
exércitos voluntários (VÁZQUEZ VEJA, 2009).
Em 1811, as tropas de defesa do rei da Espanha prenderam Miguel Hidalgo y Costilla,
fuzilando-o em praça pública. No entanto, a luta popular apenas cresceu, encontrando
novas lideranças fortes, como o general Ignácio Lopex Rayón e o padre José Maria
Morelos y Pavón. Com isso, os conflitos deixaram de ocorrer somente com tropas
destreinadas e com poucas armas, fazendo com que os rebeldes começassem a formar
verdadeiros exércitos, amedrontando os defensores dos laços com a Espanha. Depois de
1810, a guerra de independência se transformou em um conflito entre indígenas e
mestiços contra as elites criollas, que não apresentavam nenhuma abertura para
negociação frente às reivindicações da população (VALADÉS, 1994).
Morelos não foi apenas um homem importante no campo de batalha, mas também se
preocupou em organizar um modelo de governo revolucionário e constitucional, após
tomar Oaxaca, instalado na província de Michoacán. Ele convocou um congresso em
Chilpancingo, após dominar Acapulco, com o objetivo de deliberar sobre os temas
relacionados à nova nação pela qual lutava pela independência. O Congresso de
Anáhuac apropriava-se das raízes astecas e negava a força da Espanha na formação da
colônia, declarando que seus objetivos principais eram a recuperação da soberania
nacional que havia sido usurpada pelos espanhóis, que a independência deveria ser
garantida, que o direito de instituição das leis deveria ser retomado de forma conveniente
e que o Catolicismo deveria ser transformado na religião oficial da nova nação, sem que
nenhuma outra fosse tolerada. Em 6 de novembro de 1813, o Congresso de Anáhuac
proclamou a independência do México, deixando de reconhecer Fernando VII, rei da
Espanha, como seu líder. Em outubro de 1814, o Congresso promulgou uma Constituição
republicana.
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Uma data marcante para o conflito foi o ano de 1815. Neste contexto, o padre Morelos
também foi fuzilado, o que diminuiu o poder das revoltas populares. Ao mesmo tempo, o
rei Fernando VII teve seu trono restituído, dando início à intensa perseguição contra os
criollos. Começava uma segunda onda de movimentos emancipatórios na colônia, desta
vez encabeçados pelas elites criollas contra os guachupines, que representavam os
interesses metropolitanos em solo americano. Depois de uma longa série de batalhas, o
México conseguiu garantir sua independência, em setembro de 1821, sob a liderança do
general Agustín de Iturbide. Mesmo que os criollos tenham finalizado o processo de
emancipação, os conflitos sociais mantiveram-se muito intensos na jovem nação que se
formava (VÁZQUEZ VEGA, 2009).
Com a morte de Morelos, a terceira geração dos revolucionários foi liderada por Vicente
Guerrero, que se manteve no comando da luta pela emancipação até 1821, quando o
vice-rei enviou o general D. Agustín de Iturbide para combatê-lo na região sul e acabar
com a revolução. Iturbide solicitou ao vice-rei todos os elementos necessários para o
combate, que foram ofertados sem desconfiança, dado os seus prestigiosos
antecedentes militares (pois o general havia sido um dos mais terríveis inimigos do
processo emancipatório). Iturbide foi para o sul e começou a trocar correspondências
com Guerrero, concebendo um plano. Os dois caudilhos criaram um acordo para realizar
a independência de forma conjunta, de tal forma que Iturbide traiu o exército espanhol.
Este acordo, conhecido como Plan de Iguala, estabeleceu as bases para a
independência mexicana, confirmando os ideais de Hidalgo e Morelos, construindo o
México como uma monarquia independente da Espanha, cujo rei poderia ser o próprio
Fernando VII ou alguém que ele escolhesse, além de determinar que a religião católica
seria a única permitida no novo território.
O movimento de Independência do México
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 1810 1813-1814 1815 1821
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O mandato de Iturbide, o primeiro governante do México independente, foi um período
curto e bastante conturbado. Em 28 de setembro de 1821, o Exército das Três Garantias
Republicanas (Independência da Espanha, religião católica e união, representadas pelas
cores verde, branca e vermelha da nova bandeira do País) entrou na cidade do México.
Reuniu-se à Junta Provisional Governativa, responsável pela declaração de Iturbide
como presidente, nomeando um governo regencial. Como era necessária a criação de
leis próprias para a nova nação, a regência convocou o Soberano Congresso
Constituinte, responsável pela elaboração da primeira Constituição mexicana. No
entanto, já neste primeiro momento começaram as discussões pela formação de vários
partidos, sendo que um deles (formado principalmente pelo clero, por militares e por
alguns espanhóis) propunha que Iturbide fosse automaticamente elevado ao trono real,
enquanto outros partidos monarquistas e insurgentes queriam garantir a execução do
Plan de Iguala, retirando o general do poder e colocando um membro da Casa dos
Bourboun no poder (como ansiavam os monarquistas) ou estabelecendo a República
(pelo que lutavam os rebeldes).
Em 18 de maio de 1822, o sargento Pío Marcha deu início a um movimento que culminou
com a proclamação de Agustin de Iturbide como imperador do México. O Congresso
conclamou uma reunião e, no dia seguinte, sofrendo as pressões da população (que
gostava do general), do Exército e do próprio regente, a instituição o elegeu ao cargo de
imperador sob o nome de Agustin I. A anulação do Tratado de Córdoba pelas Cortes
espanholas, em 13 de fevereiro de 1822, favoreceu a coroação do general, aumentando
a força de seus partidários. Além disso, Iturbide contava com o apoio da população, era
ídolo do povo e tinha seu próprio Exército. No entanto, muitos autores acreditam que sua
coroação foi um grande erro, visto que o jovem País ainda não possuía recursos
suficientes para sustentar uma monarquia e que esta escolha contrariou os princípios de
igualdade defendidos durante o processo de independência, mesmo que este tenha sido
o primeiro ato de plena liberdade do País (SIERRA, 1922).
Muitos grupos se mantiveram contráriosà instalação de uma monarquia no País. O
primeiro a se pronunciar pela República foi o general Santa Anna, em Veracruz, em
dezembro de 1822, seguido pelo general Guadalupe Victoria e por diversos outros. O
próprio Congresso revogou sua decisão, afirmando que a coroação de Iturbide teria
ocorrido como obra da força e da violência. Por isso, o general se viu abandonado por
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seus antigos apoiadores, deixando a Coroa mexicana em pouco tempo. Iturbide foi preso
e fuzilado, tendo sido considerado pelo Congresso como um agente fora da lei, depois de
permanecer um período na Espanha. Durante seu governo, conhecido como “Primeiro
Império”, o México ganhou sua bandeira, seu hino, sua primeira Constituição, vinda em
1824, e instituiu o Catolicismo como sua religião oficial.
2.3 O processo de independência da região do Prata
O Vice-Reino do Rio da Prata foi a última divisão administrativa fundada pela Coroa
espanhola, na América, devido à sua distância do Atlântico. A região não possuía metais
preciosos, recebendo esse nome por conta do encontro do explorador Sebastião Caboto
com um grupo de indígenas cheio de prata na região deste rio, durante uma expedição
que buscava encontrar a mitológica Sierra de Plata, fazendo-o acreditar que o metal seria
originário daquela região. Por esse motivo, os colonos tiveram uma grande autonomia
nesta área por muitos anos. A Espanha passou a se interessar em explorar a região
quando Portugal tentou invadir o território e quando o rio da Prata se transformou em
uma importante rota para o contrabando dos metais preciosos retirados do Vice-Reino de
Nova Granada, dando origem a um novo Vice-Reino, que passaria a contemplar os
territórios do Uruguai, do Paraguai, da Argentina e de uma parcela da Bolívia (então
chamada de Alto Peru). Mesmo tendo Buenos Aires como a capital deste território, as
províncias possuíam muita liberdade (MCFARLANE, 2006).
A partir do fim do século XVII, os espanhóis refizeram seus laços com a França, o que
gerou um rompimento diplomático automático com a Inglaterra. Esse movimento
aumentou o contrabando nas colônias da região do rio da Prata e fez com que os
ingleses apoiassem o processo de independência da América hispânica. Um dos
principais episódios desse processo ocorreu em 1806, quando uma expedição militar
inglesa não-oficial deixou o Cabo da Boa Esperança e invadiu Buenos Aires, tomando a
cidade. As lideranças locais conseguiram expulsar as tropas britânicas, sob a liderança
de Santiago de Liniers, mesmo sem contar com o apoio da Espanha. Em 1807, os
ingleses tentaram realizar uma nova incursão para conquistar a região, dominando
Montevidéu, sendo novamente liquidados quando partiram para Buenos Aires (MYERS,
2007).
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O processo de combate às tropas inglesas foi muito importante para que as elites do
Vice-Reino do Rio da Prata percebessem que não precisavam do auxílio espanhol para
resolver seus conflitos, já que seus exércitos voluntários locais conseguiram vencer os
inimigos estrangeiros. Além disso, Santiago de Liniers, que liderou o exército da colônia,
foi escolhido como o novo Vice-Rei, em 1807, sem que nenhum espanhol fosse indicado.
A vitória sobre as investidas britânicas, somada à autonomia das províncias, aumentou o
desejo de independência da região (CHUST; FRASQUET, 2009).
A partir da tomada do trono espanhol pelas tropas napoleônicas, no ano de 1808, o Vice-
Reino entrou em uma grave crise, visto que cada uma de suas províncias decidiu buscar
um meio diferente para garantir sua independência, enquanto Buenos Aires lutava para
manter seu poder na região. Mesmo depois de romper com os franceses, os britânicos
passaram a criar laços diplomáticos duvidosos com a Espanha pois, ao mesmo tempo
em que se aliavam às Juntas de Governo espanholas, também apoiavam os movimentos
rebeldes das colônias hispânicas de forma não-oficial (MYERS, 2007).
A primeira revolta de caráter emancipatório no Vice-Reino do Rio da Prata ocorreu em 25
de maio de 1810, ficando conhecida como Revolução de Maio. Em Buenos Aires, havia
se formado uma Junta de Governo com o apoio de tropas voluntárias que haviam
guerreado contra as invasões inglesas. Ainda que tivessem jurado fidelidade ao Rei
Fernando VII, os revoltosos não aceitaram seguir as ordens que vinham do governo
provisório da Espanha – a Junta de Sevilha – o que simbolizava uma outra forma de
declarar a independência da região. A principal reivindicação do grupo era o controle
sobre as províncias, determinando a autonomia sobre a região (CHUST; FRASQUET,
2009).
Contrariando a Junta de Governo de Buenos Aires, Montevidéu manteve-se fiel à
Espanha. No ano de 1811, foi a vez do Paraguai declarar sua independência sob a
liderança de José Gaspar Rodrigues Francia, separando-se da Junta de Buenos Aires. A
partir desse momento, a nação começou a afirmar sua própria unidade e abandonou o
Vice-Reino. Muitas áreas do atual território da Argentina se rebelaram contra Junta de
Governo de Buenos Aires, sendo contidas pelos exércitos portenhos. A independência
ocorreu apenas em 1816, fundando o território federalista das Províncias Unidas do Rio
da Prata. Na região do Uruguai, por sua vez, os conflitos foram mais intensos, pois a
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região foi disputada por espanhóis e portugueses. Depois de uma longa guerra, o Império
Português anexou o território, no ano de 1821, chamando-o de Província Cisplatina
(MCFARLANE, 2006).
A Junta de Governo de Buenos Aires continuou lutando para dominar a região do Alto
Peru, enviando muitas tropas para a região devido às grandes jazidas de prata de Potosí.
No entanto, a proximidade com os exércitos espanhóis (que permaneciam no Peru) e a
dificuldade de acesso à região (dada sua localização muito próxima à Cordilheira dos
Andes) fez com que a anexação desta área se tornasse um grande desafio. Somente o
general argentino José de Francisco de San Martín, um dos maiores estrategistas no
processo de independência do Vice-Reino, conseguiu alcançar a região. No entanto, as
lutas pela emancipação já haviam se adiantado, fazendo com que o Alto Peru deixasse o
controle de Buenos Aires. Com isso, o Vice-Reino se desintegrou completamente. A
cidade somente conseguiu se fortalecer e se transformar na capital da Argentina em 1863
(MYERS, 2007).
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Figura 1 – Retrato do general José de San Martín em uma nota de 50 pesos argentinos, comemorando seu
bicentenário, em 1978.
Fonte: Shutterstock. Acesso em: 27/11/2020.
#PraCegoVer : Na figura, temos a impressão em tons de vermelho
do busto de um homem branco de cabelos curtos, vestido em roupa
de gala militar, envolto em uma moldura imponente. Ele é José
Francisco de San Martín, o general responsável pela independência
de diversos territórios da América hispânica, como a Argentina, o
Chile e o Peru.
2.3.1 A emancipação do Vice-Reino do Peru
A região do Vice-Reino do Peru se transformou em uma zona administrativa na América
Espanhola ainda no início do século XVI, devido à sua grande quantidade de jazidas de
ouro e prata. Com o passar do tempo, as elites criollas da região se transformaram em
fortes opositoras contra o absolutismo metropolitano, desejando ampliar sua atuação
política. No entanto, os agentes de emancipaçãodo Vice-Reino eram originários de
outras regiões. Em 6 de fevereiro de 1817, o Exército Libertador foi auxiliado pela Junta
de Buenos Aires, sob a liderança do general argentino José Francisco de San Martín,
formando uma enorme tropa com mais de quatro mil homens vindos do Chile e da
Argentina – o Exército dos Andes (MADER, 2008).
O grupo chegou à Chacabuco derrotando as tropas reais e dando início ao processo de
emancipação do Vice-Reino. O projeto do general era bastante ambicioso: ele buscava
levar suas tropas para o porto de Pisco, enviando uma expedição chefiada por Juan
Antonio Álvarez de Arenales para explorar a região serrana. Em dezembro de 1820, esta
tropa saiu vitoriosa na batalha de Cerro de Pasco, juntando-se ao Exército Libertador na
Vila de Huaura, onde foi erguido o quartel-general de San Martín. Em 1821, o exército
dominou Lima, a capital peruana, que havia sido abandonada pelos espanhóis – que
também haviam perdido o apoio sobre a região norte e sobre o litoral do Vice-Reino
(GUERRA, 1992).
Os libertadores do Vice-Reino do Peru
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Os defensores da Espanha depuseram o Vice-Rei, elegendo José de La Serna e
Hinojosa em seu lugar, mas ele não conseguiu travar nenhum acordo com San Martín e
foi para Cusco, tentando reorganizar as tropas do Vice-Reino. A partir da fuga de La
Serna, San Martín e o Exército Libertador entraram em Lima, proclamando a
independência do Peru. Os anos seguintes foram de grande crise política, vários golpes
de Estado e muitos conflitos contra o Chile (MADER, 2008).
2.4 A independência do Chile e as guerras do Pacífico
Uma das questões mais importantes nos processos de independência da América
Hispânica foi a luta pelo poder entre espanhóis e as elites coloniais. Em 1808, com a
morte do Capitão Geral do Chile, uma série de conflitos se iniciou entre as autoridades da
colônia, reforçando o contexto internacional conturbado, ligado às invasões napoleônicas,
responsável por colocar em dúvida a quem os colonos deveriam obedecer. Neste
contexto, o brigadeiro Antonio Garcia Carrasco assumiu o poder na região (DONGHI,
1978). Para tornar a situação ainda mais conflituosa, Carlota Joaquina e D. João VI
demonstraram claras intenções de posse das colônias hispânicas americanas (PRADO;
PELLEGRINO, 2014).
nascido em 25 de fevereiro de 1778, que teve uma participação muito
importante nas campanhas de independência da Argentina do Chile e
do Peru.
JUAN DE ARENALES
Juan Antonio Álvarez de Arenales foi um militar argentino nascido em 13
de junho de 1770, também considerado como boliviano, devido à sua
atuação no processo de independência daquela região. De origem
espanhola, Arenales lutou nos processos de independência do Chile, do
Peru e das Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina).
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Os vizinhos chilenos
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Para afastar os interesses da Coroa Portuguesa, o brigadeiro Carrasco jurou fidelidade
ao rei Fernando VII, reconhecendo a Junta de Sevilha como o governo de sua capitania.
No entanto, os diversos movimentos de emancipação das colônias espanholas
começaram a influenciar os líderes chilenos, que passaram a refletir sobre a possibilidade
de criação de um governo independente, visto que Carrasco criou uma administração que
abusava da violência e dos desmandos. Os conflitos entre o brigadeiro e o cabildo de
Santiago se tornaram cada vez mais intensos, de tal forma que, em 25 de maio de 1810
(mesma data da criação da Junta de Buenos Aires), ele passou a punir quaisquer
envolvidos em boatos de conspiração para emancipação, dentre os quais estavam os
criollos latifundiários José Antonio Rojas e Antonio Ovalle, e um importante homem de
letras, Bernardo Vera y Pintado. Essas três personagens foram determinantes para a
instauração da emancipação chilena (POMER, 1988).
Tais prisões foram muito criticadas pela elite criolla e pelo clero chileno. O cabildo e a
Audiência, conhecendo os processos de emancipação em Buenos Aires, passaram a
adotar medidas opostas: enquanto o cabildo, composto por membros criollos passou a
lutar pela independência, os membros espanhóis da Audiência tentavam manter o
domínio sobre a capitania. Em 18 de setembro de 1810, as intensas agitações contra
Garcia Carrasco tomaram forma na Primeira Junta Nacional de Governo, de caráter
provisório, composta por nove líderes, que buscavam governar em nome do rei Fernando
VII. A instituição prestou auxílio a Buenos Aires, rejeitou as indicações do Conselho de
Regência para o cargo de Capitão Geral, reforçou seu direito de governar a região e deu
fim ao exclusivo colonial, abrindo as portas da capitania para as manufaturas
estrangeiras e para o início da produção nacional. Em abril de 1811, os defensores da
Espanha tentaram realizar uma revolta militar, mas fracassaram e acabaram sendo
duramente reprimidos, resultando na dissolução da Audiência. (BETHELL, 2005).
A principal liderança da primeira etapa da independência do Chile foi José Miguel
Carlota Joaquina D. João VI
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Carrera, que retornou da Espanha aos 25 anos, transformando-se no chefe do processo
revolucionário. Em 4 de setembro de 1811, ele impôs uma série de exigências ao
Congresso, como várias transformações nos comandos militares, a criação de uma nova
junta com cinco membros e uma mudança das cadeiras dos deputados. O Congresso se
dividia em três tendências e não conseguia alcançar os objetivos pleiteados por Carrera.
Sofrendo um golpe de Estado e sendo dominado por uma tendência mais radical, ele
reformou o sistema jurídico, proibiu a venda de escravos, libertou as crianças que
nascessem de mães cativas a partir de então, reformou o exército e diminuiu as rendas
do clero. Neste contexto, também se destacou o filho de um Vice-Rei do Peru, Bernardo
O’Higgins, grande proprietário rural no Chile meridional (POMER, 1988).
Neste processo, coube a Manuel Egaña e Juan Salas a redação da Constituição do novo
País, enquanto José Miguel Carrera lutava para manter-se no poder. Um dos obstáculos
encontrados foi Juan Martinez de Rosas, uma liderança civil muito carismática da
província de Concepción, fazendo com que Carrera subjugasse a região e aniquilasse
seu líder. Além disso, o desenvolvimento de um jornal na capitania, a Aurora do Chile,
dirigido pelo padre Camilo Henríquez, ajudou muito a propagar os ideais de
independência pela região. (DONGHI, 1978).
Os dois irmãos de José Miguel Carrera também eram muito envolvidos no movimento de
independência, mas estavam afastados do novo líder. Em 1812, chega à capitania Robert
Poinsett, cônsul pelos Estados Unidos, responsável por mediar os acordos entre os três
irmãos, tornando-se um conselheiro do movimento emancipacionista chileno. Ele também
se torna parte da elaboração da Constituição do país, caracterizada pela negação ao
reconhecimento de qualquer autoridade fora dos territórios chilenos, pela determinação
da soberania popular, pela liberdade individual e de imprensa, pela abertura do Chile às
demais nações, pela criação do Senado e pela proclamação da igualdade entre os
chilenos. O novo governo seria constituído por três lideranças, sob o comando de Carrera
(POMER, 1988).
No entanto, este processo inicial foi fortemente atacado quando o Vice-Rei José
Fernando de Abascal y Sousa tentou submeter a capitania e a região de Buenos Aires à
Espanha, enviando um forte exércitoque se uniu ao grupo de Montevidéu. No dia 3 de
maio de 1814, foi assinado um acordo, mediado pela Inglaterra, em que o governo de
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Santiago reconhecia novamente a autoridade do rei Fernando VII e determinava o envio
de representantes para a Espanha. Carrera foi preso, mas conseguiu fugir e determinou a
revolta das tropas, criando uma Junta governamental. No entanto, o Vice-Rei decidiu dar
fim a quaisquer novas tentativas emancipacionistas, enviando o general Osório e suas
tropas para a tomada de Santiago, em outubro de 1814: era o fim da primeira etapa do
processo de independência chileno, conhecido como “Pátria Velha” (PRADO;
PELLEGRINO, 2014).
Em 1817, o general San Martín incluiu a libertação do Chile em seu plano para emancipar
o Vice-Reino do Peru. Ele organizou uma tropa na província de Mendonza, a qual
passaria pelo Chile, conseguindo sua independência antes de chegar em solo peruano.
Saindo de Mendonza no dia 9 de janeiro, o exército chegou ao Chile em apenas alguns
dias, conseguindo a emancipação através de duas vitórias principais: a Batalha de
Chacabuco e a Batalha de Maipú, fazendo com que as tropas chegassem a Santiago em
14 de fevereiro. O cabildo ofereceu a San Martín o posto de governador de Santiago com
plenos poderes, mas ele rejeitou o cargo, oferecendo-o a Bernardo O’Higgins, que vinha
chefiando os exércitos chilenos desde a primeira fase do processo de independência.
O’Higgins havia vivido muito tempo na Inglaterra, permanecendo em solo chileno desde
1802 e lutando contra as tropas reais desde 1810. Com o fim da Pátria Velha, ele havia
fugido para Mendonza, na Argentina, onde conheceu San Martín. A emancipação chilena
foi proclamada em 12 de fevereiro de 1818, um ano após a Batalha de Chacabuco
(POMER, 1988).
O processo de Independência do Chile
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1808 – O brigadeiro Carrasco toma o poder na Capitania do Chile
1810 – Prisão das lideranças revolucionárias
1811 – Ascensão de José Miguel Carrara
1812 – Chegada de Robert Poinsett ao Chile como mediador dos EUA
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Síntese
Nesta unidade, foi estudado que o processo de independência das colônias espanholas
na América teve como consequência imediata o desmembramento de um grande
território em várias novas nações, nas quais foi instituído o regime republicano, com a
eleição de novas lideranças. Em grande parte dos casos, as elites criollas permaneceram
no poder por muitas décadas, mantendo seus privilégios. Mesmo que a liberdade
econômica frente à Espanha tenha sido garantida, favorecendo especialmente os
grandes proprietários de terras, as antigas colônias passaram a depender
comercialmente dos ingleses, que se tornaram a grande potência do século XIX. É
importante compreender que os processos de independência não determinaram a
redução das desigualdades sociais na colônia, de tal forma que a maioria da população
continuou mantendo péssimas condições de vida.
SAIBA MAIS
1814 – Retomada do poder espanhol
1817 – José de San Martín lidera a libertação do Chile
1818 – Declaração de Independência do Chile
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Título: Revoluções de independência na América Hispânica: uma reflexão
historiográfica.
Autor(a) ou autores(as): Maria Elisa Noronha de Sá Mäder
Editora: Revista de História da USP
Ano: 2008
Comentário: O artigo aborda os movimentos de independência ocorridos
na América Hispânica de acordo com diversas abordagens que aludem ao
caráter revolucionário e aos significados dados a eles.
Onde Encontrar? <
http://www.periodicos.usp.br/revhistoria/article/view/19094/21157 >
Referências bibliográficas
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http://www.periodicos.usp.br/revhistoria/article/view/19094/21157
http://www.nexos.com.mx/internos/abril2000/hobsbawm.asp
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