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Estudo de caso - Comportamento Infantil

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Estudos 
de caso em 
psicologia 
clínica
comportamental
infantil
Vol. I
Edwiges Ferreira de 
Mattos Silvares (org.)
1- Edição
Carmen Garcia de Almeida Moraes é
professora do curso de graduação em 
Psicologia e do curso de mestrado em 
Educação da Universidade Estadual de 
Londrina e doutora pelo Programa de 
Pós-graduação em Psicologia Clínica 
da Universidade de São Paulo (USP).
Edwiges Ferreira de Mattos Silvares 
(org.) é professora titular de Psicologia 
Clínica pelo Instituto de Psicologia da 
USP, além de orientadora e professora 
do Programa de Pós-graduação em 
Psicologia Clínica nessa mesma 
universidade. Também é professora de 
graduação no Departamento de 
Psicologia Clínica do Instituto de 
Psicologia da USP.
Eliane Falcone é professora adjunta do 
Instituto de Psicologia da Universidade 
do Estado do Rio de Janeiro e doutora 
pelo Programa de Pós-graduação em 
Psicologia Clínica da USP.
Fátima Cristina de Souza Conte é
professora convidada do curso de 
mestrado em Psicologia da Infância e 
Adolescência da Universidade Federal 
do Paraná e doutora pelo Programa de 
Pós-graduação em Psicologia Clínica 
da USP.
Jaíde A. Gomes Regra é professora da 
Faculdade de Psicologia da Univer­
sidade de Mogi das Cruzes, mestre em 
Psicologia Experimental pela USP e 
doutoranda no Programa de Pós- 
graduação em Psicologia Experimental 
dessa mesma universidade.
Márcia Helena da Silva Melo é mestre 
e doutoranda no Programa de Pós- 
graduação em Psicologia Clínica da 
USP
ESTUDOS DE CASO EM 
PSICOLOGIA CLÍNICA 
COMPORTAMENTAL INFANTIL
EDWIGES EM. SILVARES (ORG.)
ESTUDOS DE CASO EM 
PSICOLOGIA CLÍNICA 
COMPORTAMENTAL INFANTIL
- VOLUME I - 
FUNDAMENTOS CONCEITUAIS, ESTUDOS GRUPAIS 
E ESTUDOS RELATIVOS A PROBLEMAS DE SAÚDE
P A P I R U S E D I T O R A
IESB - Instituto de Educação Superior de Brasília
Tipo de Documento:
Livro ;
Data:
11/07/2013
A quisição: Nota fisca l: 
Compra 047.910
Procedência: 
Vértice Books
Curso: Psicologia 
Localização: IESB - ASA SUL 
Preço: R$ 35,35
Código de Barra: 
128920
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Estudos de caso em psicologia clínica comportamental infantil/ 
Edwiges F.M. Silvares (org.). - 7° ed. - Campinas, SP: 
Papirus, 2012.
Vários autores.
Conteúdo: V.1. Fundamentos conceituais, estudos grupais e 
estudos relativos a problemas de saúde.
Bibliografia.
ISBN 978-85-308-0599-9
1. Comportamento humano 2. Psicologia clínica - Estudo 
de casos 3. Psicologia infantil - Estudo de casos I. Silvares, 
Edwiges Ferreira de Mattos.
12-04085_________________________________CDD-155.40722
índices para catálogo sistemático:
1. Estudo de casos: Psicologia clínica comportamental infantil 155.40722
2. Psicologia clínica comportamental infantil: Estudo de casos 155.40722
Exceto no caso de citações, a grafia 
deste livro está atualizada segundo o 
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa 
adotado no Brasil a partir de 2009.
1a Reimpressão 
2012
Proibida a reprodução total ou parcial 
da obra de acordo com a lei 9.610/98. 
Editora afiliada à Associação Brasileira 
dos Direitos Reprográficos (ABDR).
DIREITOS RESERVADOS PARA A LÍNGUA PORTUGUESA: 
© M.R. Cornacchia Livraria e Editora Ltda. - Papirus Editora 
R. Dr. Gabriel Penteado, 253-CEP13041-305-Vila João Jorge 
Fone/fax: (19) 3272-4500 - Campinas - São Paulo - Brasil 
E-mail: editora@papirus.com.br - www.papirus.com.br
mailto:editora@papirus.com.br
http://www.papirus.com.br
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO....................................................................7
Edwiges Ferreira de Mattos Silvares
PARTE 1: FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
1. AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO CLÍNICA
COMPORTAMENTAL INFANTIL......................................... 13
Edwiges Ferreira de Mattos Silvares
2. O ESTUDO DE CASO CLÍNICO COMPORTAMENTAL......... 31
Edwiges Ferreira de Mattos Silvares e
Roberto Alves Banaco
3. A EVOLUÇÃO DAS HABILIDADES SOCIAIS E O
COMPORTAMENTO EMPÁTICO.....................
Eliane Falcone
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4. A PSICOTERAPIA COMPORTAMENTAL INFANTIL:
NOVOS ASPECTOS................................................
Fátima Cristina de Souza Conte e Jaíde A, Gomes Regra
PARTE 2: ESTUDOS DE CASO GRUPAIS
5. A INTERVENÇÃO CLÍNICA COMPORTAMENTAL
COM FAMÍLIAS.....................................................
Maria Luiza Marinho
6. A INTERVENÇÃO CLÍNICA EM GRUPO DE
CRIANÇAS FILHAS DE PAIS SEPARADOS.............
Carmen Garcia de Almeida Moraes e
Silvia Cristiane Murari
7. ORIENTAÇÃO PREVENTIVA DE UM GRUPO 
DE MÃES DE CRIANÇAS COM DIFICULDADES
DE INTERAÇÃO...................................................
Márcia Melo,
Edwiges Ferreira de Mattos Silvares e 
Fátima Cristina de Souza Conte
PARTE 3: ESTUDOS DE CASO 
RELATIVOS A PROBLEMAS DE SAÚDE
8. CRIANÇAS COM PROBLEMAS CRÔNICOS
DE SAÚDE...........................................................
Vera Lúcia Adami Raposo do Amaral e 
Sílvia Regina Teixeira Pinto de Albuquerque
9. CRIANÇAS PORTADORAS DE CÂNCER.................
Suzane Schmidlin Lôhr
10. O TRATAMENTO DO STRESS INFANTIL...............
Marilda Emmanuel Novaes Lipp
APRESENTAÇÃO
Esta obra foi idealizada e organizada com o objetivo de integrar 
a teoria e a prática da psicologia clínica comportamental infantil, e 
vai ao encontro de uma necessidade sentida pelos profissionais de 
abordagem comportamental e definida especialmente em reuniões da 
Associação Brasileira de Psicoterapia e Modificação de Comportamento 
(ABPMC), quajl seja, a de ter estudos de caso brasileiros discutidos 
à luz da teorià ̂comportamental como uma form a de promover seu 
desenvolvimento. Como tal, destina-se a profissionais e professores 
de psicologia clínica e de psicologia da saúde (psicólogos, médicos, 
enfermeiros, fisioterapeutas etc.), bem como a estudantes dessas áreas.
Este livro não poderia ter sido escrito antes, em virtude da 
história da abordagem comportamental que, por ser recente, não tinha,
até fins da década de 1970, um conhecimento acumulado em relação
i
ao tratamento dos distúrbios comportamentais infantis. Por outro 
lado, já deveria estar disponível para o público, em vista da carência
Estudos de caso 7
de trabalhos nessa área no Brasil, que hoje já tem um contingente 
profissional ávido de conhecimentos científicos produzidos neste país 
e no exterior.
O procedimento para compor os capítulos foi o mais simples 
possível: convite pessoal aos autores. Estes, em sua maioria, são 
professores universitários, considerados de expressão acadêmica, com 
domínio do tema do capítulo pelo qual ficaram responsáveis. Tanto 
a expressão acadêmica como o domínio do tema foram evidenciados 
pela participação acadêmico-científica e profissional deles em reuniões 
científicas, entre elas as da ABPMC. Foram também solicitados a 
participar da elaboração desses 19 capítulos psicólogos clínicos mestres 
ou doutores, do programa de pós-graduação em psicologia clínica da 
Universidade de São Paulo, cujo produto de dissertação/tese fosse 
relativo a transtorno de comportamento infantil considerado do ângulo 
da abordagem comportamental.
A obra é constituída de dois volumes e pode ser lida em partes 
relativamente independentes, embora seja mais procedente e desejável 
a leitura dos dois volumes ao mesmo tempo.
Este primeiro volume abrange três partes distintas, a saber: 
fundamentos conceituais, estudos de caso grupais e estudos de caso 
relativos a problemas de saúde. Na primeira parte, é apresentado 
um breve, mas necessário, conjunto de quatro capítulos sobre os 
fundamentos teóricos e históricos da disciplina, os quais dão subsídios 
para a compreensão do que se encontra nos demais capítulos dos dois 
volumes. No primeiro capítulo dessa primeira parte, são discutidos os 
pontos essenciais da avaliação e da intervenção clínica comportamental; 
no segundo, os principais aspectos de um estudo de caso clínico 
comportamental; no terceiro, o desenvolvimento do comportamento 
empático, que, se favorecido,poderia prevenir os distúrbios infantis e 
adultos; e no quarto, evoluções no atendimento infantil em psicoterapia.
8 Papirus Editora
Na segunda parte deste primeiro volume, encontram-se três 
capítulos relativos a estudos de caso clínicos grupais, apresentados na 
seguinte ordem: primeiramente, o tratamento de famílias em abordagem 
comportamental (capítulo 5); em seguida, o tratamento de crianças 
filhas de pais separados (capítulo 6); finalmente, aborda-se o tema da 
orientação preventiva em grupo de mães de crianças com dificuldades 
de interação (capítulo 7).
Já na terceira parte deste primeiro volume, o trabalho sobre 
crianças com problemas crônicos de saúde (capítulo 8), crianças com 
câncer (capítulo 9) e crianças com estresse (capítulo 10) compõe os três 
últimos capítulos. Em cada um de seus capítulos relativos a estudos de 
caso propriamente ditos, o autor buscou fundamentar teoricamente, 
de maneira sintética, o que existe até o momento na literatura da área 
sobre o transtorno abordado, ou seja, o que há de mais avançado no 
tema em questão. Em seguida, descreveu uma intervenção clínica por 
ele levada a efeito na forma de estudo de caso clínico. Assim, este livro, 
em sua segunda e terceira parte, é composto de seis estudos de caso 
clínicos com exeínplos demonstrativos da integração teoria e prática.
No segundo volume desta obra, nove outros estudos de caso 
clínicos são descritos com a mesma estrutura dos presentes, perfazendo 
um total dé 15 estudos, cuja leitura esperamos venha a contribuir para 
alcançar Os objetivos propostos quando a obra foi idealizada.
\
Edwiges Ferreira de Mattos Silvares
Estudos de caso 9
PARTE 1 
FUNDAMENTOS CONCEITUAIS
AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO CLÍNICA 
COMPORTAMENTAL INFANTIL
1
Edwiges Ferreira de Mq.ttos Silvares
Introdução
O objetivo do presente capítulo é discutir, ainda que de forma 
sucinta, nossas concepções acerca de alguns conceitos fundamentais da 
psicologia clínica, voltando-nos para o universo infantil, para permitir 
a compreensão melhor dos capítulos que compõem a segunda parte 
do presente trabalho. Nessa medida, inicialmente discutiremos uma 
delimitação conceituai de termos psicológicos, para, a seguir, considerar 
as relações entre os conceitos abrangidos pelos termos discutidos 
e as etapas supostas pela prática clínica, quando tais conceitos são 
aplicados.
Estudos de caso 13
Uma delimitação necessária de termos: O que se entende 
por terapia e por intervenção clínica comportamental?
Embora nem sempre haja consenso sobre o que seja terapia 
comportamental e o que seja intervenção clínica comportamental, julgamos 
preferível identificar os dois termos, dando o nome de intervenção clínica 
ao processo que sucede o diagnóstico e se entremeia com ele, objetivando 
alterações comportamentais e/ou o bem-estar daquele que busca auxílio 
psicológico, seja ele um cliente adulto ou uma criança.
Assim, consideramos sob o mesmo rótulo - intervenção clínica - 
todas as atividades incluídas nos programas de atendimento psicológico 
que tenham os mesmos objetivos acima, sejam elas levadas a efeito na 
escola, na comunidade, no lar ou no consultório, por meio de interações 
particulares entre terapeuta e cliente. Nossa visão se aproxima da de 
Sturmey (1996), uma vez que esse autor julga que, entre as tarefas 
desenvolvidas por qualquer terapeuta, encontra-se a avaliação 
clínica comportamental de um problema, de modo que determine a 
intervenção apropriada para solucionar tal problema, seja alterando 
comportamentos, pensamentos ou sentimentos, a ele relativos, seja 
de outra forma qualquer. E mais, seja esse problema o de um cliente 
individual, um cliente grupo ou um cliente instituição.
Temos feito essa opção por julgar que todas essas formas 
de atendimento psicológico comportamental têm uma meta em 
comum, qual seja, a promoção do bem-estar psicológico do cliente. 
Acrescentamos, como se pode perceber, o adjetivo comportamental 
ao termo intervenção, pelo fato de tais atividades serem desenvolvidas 
dentro desse referencial teórico, que tem como pressuposto básico que 
o comportamento tem valor em si mesmo (Barrios 1988), ou seja, o 
comportamento, dentro desse referencial, é o dado por excelência e 
não deve ser tomado como sinal de algo de maior valor.
14 Papirus Editora
Por que a opção pelo termo intervenção clínica 
comportamental infantil?
Muitos psicólogos clínicos reservam o termo terapia apenas 
para o último caso, isto é, para interações, em geral diádicas, feitas 
de forma individualizada, em consultórios particulares. Em nossa 
opinião, porém, independentemente do local ou da forma de atuação 
na intervenção, o psicólogo clínico comportamental age, pelo menos 
em princípio, com base no processo de análise funcional, seja 
implementando programas previamente delineados e estruturados de 
forma mais ou menos rígida, seja definindo particularmente cada etapa 
de seu trabalho no momento mesmo em que interage com o cliente, 
como ocorre quando sua atuação se dá em consultórios. Isso porque, 
tanto no último caso como nos anteriores, em psicologia clínica, essa 
análise, que faz parte de um diagnóstico prévio, é, em nossa opinião, 
essencial. Nossa posição parece ser similar à de Meyer (1992), embora a 
autora se tenha restringido em sua discussão à terapia e não se voltado 
para o diagnóstico comportamental, co^áo o fazemos hoje.
O que se entende por diagnóstico? E por avaliação? 
Por que a junção avaliação diagnostica?
O diagnóstico, muitas vezes também chamado de avaliação, 
implica várias atividades, levadas a efeito de modo que defina â$ 
melhores estratégias comportamentais para alcançar o bem-estai" 
psicológico do cliente, seja ele descrito ou não em termos de mudanças 
de comportamentos problemáticos.
De acordo com Hayes (1987), avaliação comportamental é a 
identificação e a medida de unidades significativas de resposta e de 
suas variáveis controladoras (tanto ambientais quanto organísmicas),
Estudos de caso 15
com a finalidade de entender e alterar o comportamento humano. Para 
o autor, a avaliação comportamental não é simplesmente um conjunto 
de técnicas observacionais, é mais ampla, e supõe ações voltadas 
para as três facetas do comportamento (motor, cognitivo e fisiológico). 
O termo avaliação diagnostica comportamental é por nós usado da 
mesma forma que Hayes usa o termo avaliação comportamental, qual 
seja, como uma maneira de avaliar o comportamento que se utiliza de 
pressupostos comportamentais.
Temos dado preferência por juntar os dois termos (avaliação e 
diagnóstico) em virtude de três motivos principais:
1) Porque o termo diagnóstico dá maior especificidade de 
significado ao processo. De acordo com o American Heritage 
Dictionary o j the English Language, diagnóstico é “a análise 
da natureza de alguma coisa e as conclusões a que se chega 
com base em tal análise” (Morris 1971, p. 363);
2 ) porque se trata de um termo com tradição na área de avaliação 
dos distúrbios psicológicos em geral, e não apenas na 
abordagem comportamental, ao passo que o termo avaliação 
é mais comumente usado nesta última;
3) porque, em geral, incluímos no processo de avaliação a 
classificação do comportamento de acordo com um manual 
classificatório de transtornos mentais, ou seja, de acordo com 
o DSM-III-R (APA 1990) e DSM-IV (APA 1994).
Essa nossa posição parece receber apoio de outros profissionais 
da área, entre os quais, por exemplo, Toros (1997).
Antes de finalizar esta seção, é mister ainda acrescentar que 
foi apontado por Mejias (1991) que Korchin, em 1976, ao discutir o
16 Papirus Editora
conceito de diagnóstico, aproxima sua conceituação com a que existe 
no Webster’s Third New International Dictionary, culminando por 
definir avaliação como “um processo pelo qual os clínicos obtêm do 
cliente informações que possibilitam a compreensão necessária para a 
tomada de decisões”(Korschin 1976, p. 124, apud Mejias 1991, p. 32). 
A autora vai além e diz que o autor passa da expressão diagnóstico 
para a expressão avaliação sem nenhum preâmbulo, reservando, 
entretanto, o primeiro termo para “o ato particular de especificar um 
rótulo psiquiátrico nosológico” (ibidem). Curiosamente, nossa decisão 
quanto à junção dos dois termos foi feita sem conhecimento das 
afirmações de Mejias. Essa autora dedicou uma grande parte de seu 
trabalho à discussão desses conceitos, considerando-os do ponto de 
sua evolução histórica, com objetivo de clareá-los. O leitor interessado 
no aprofundamento das questões aqui discutidas em brevidade deve 
reportar-se a ela (Mejias 1991).
Questões formuladas na avaltaçpiõ diagnostica 
comportamental
O que é feito nas várias fases da avaliação diagnostica, 
independentemente da idade do cliente, está logicamente associado às 
questões essenciais, que são, nessas fases, formuladas pelo psicólogo 
que busca auxiliar seu cliente. A seguir, apresentamos as diferentes fases 
da avaliação diagnostica e as questões a elas associadas adaptadas de 
Bar rios (1988) e apresentadas na Tabela 1.
Uma breve inspeção da tabela fornecerá ao leitor uma 
característica essencial e particular da avaliação diagnostica 
comportamental: sua inter-relação com o tratamento. A avaliação não 
é feita apenas cintes da intervenção, mas durante toda a intervenção 
e mesmo após seu término, quando se deseja saber se os efeitos do
Estudos de caso 17
tratamento ainda perduram após este haver terminado. Ela é contínua 
e inteiramente mesclada com o processo terapêutico, pois será ela que 
indicará em que medida este está ou não sendo efetivo.
TABELA 1: RESUMO DAS FASES E QUESTÕES 
NELAS FORMULADAS DURANTE A AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA
FASES DA AVALIAÇÃO 
DIAGNOSTICA QUESTÕES FORMULADAS
1) Identificação do problema 1. Qual é a natureza das dificuldades do 
cliente?
2. As dificuldades do cliente merecem
tratamento?
2) Análise funcional 1. Quais são os fatores mantenedores da 
condição problemática?
Que pré-requisitos de comportamento
3) Seleção do tratamento 1. do cliente (entre as alternativas) estão 
disponíveis?
2. Que pré-requisitos ambientais do cliente
(entre as alternativas) estão disponíveis?
3. Que pré-requisitos do terapeuta (entre as
alternativas) estão disponíveis?
4. Que estratégia de tratamento parece indicada
para a condição problemática do cliente?
4) Avaliação do tratamento 1. 0 tratamento está sendo desenvolvido de 
forma correta?
2. Que mudanças ocorreram?
3. Há efeitos colaterais das estratégias
propostas?
4. Podem as mudanças observadas ser
atribuídas ao tratamento?
5. Os benefícios do tratamento estão
satisfatórios?
6. 0 tratamento deveria ser finalizado ou
alterado?
18 Papirus Editora
Ao passar por essas fases, respondendo às questões a elas 
específicas, o clínico necessariamente está tentando alcançar alguns 
objetivos. Vejamos quais.
Os objetivos da avaliação diagnostica comportamental
Os quatro objetivos da avaliação comportamental listados por 
Barrios (1988) podem ser transpostos para o que concebemos como 
avaliação diagnostica comportamental. Assim, são objetivos dela os 
seguintes:
a) auxiliar a identificação dos comportamentos problemáticos 
do cliente, bem como as condições que estão contribuindo 
para mantê-los (questões 1 e 2 , antes definidas);
b) auxiliar a definição de estratégias de tratamento apropriado
para alterar esses comportamentos, constituam-se eles 
em déficit ou excessos comportamentais (questão 3, antes 
especificada); -----^
c) auxiliar a avaliação da eficácia do tratamento proposto e a 
revisão do tratamento, quando for constatado que o que foi 
anteriormente proposto não está sendo efetivo (questão 4, 
antes especificada).
Toda e qualquer avaliação diagnostica, independentemente 
da abordagem teórica que a norteia, pode se processar com esses 
mesmos objetivos. Há, entretanto, uma diferença entre o que é nela 
feito por diferentes abordagens teóricas psicológicas, em virtude dos 
pressupostos a elas subjacentes. São esses pressupostos, no presente 
caso, os da abordagem comportamental, que determinam diversos 
aspectos da avaliação diagnostica, quais sejam, o que se supõe em
Estudos de caso 19
relação aos instrumentos que nela são empregados, sua sequência, seu 
escopo e suas finalidades. Dentre os vários pressupostos subjacentes 
à abordagem, pode-se dizer que a determinação do comportamento 
pelo ambiente é o pressuposto essencial a se considerar, seja esse 
comportamento do cliente pessoa ou do cliente instituição. As causas 
dos problemas/dificuldades apresentados pelo cliente devem ser 
buscadas no ambiente.
Passemos, então, a ilustrar com exemplos como pode o clínico 
proceder para alcançar esses objetivos ou passar pelas fases que o 
levarão a atender às necessidades de seu cliente. O que for afirmado 
de forma sintética aqui poderá ser ampliado pelo leitor interessado no 
assunto em Silvares e Gongora (1998).
Identificação do problema
Dois pontos essenciais precisam ser esclarecidos nessa fase da 
avaliação, a saber: as dificuldades que o cliente traz para o terapeuta 
são de natureza psicológica? Respondendo afirmativamente à pergunta 
anterior, deve-se formular outra: são as dificuldades de uma intensidade 
e frequência que mereçam intervenção?
Como fazer para responder a essas duas questões?
Um sólido conhecimento do desenvolvimento infantil é suposto 
para responder à primeira questão por diversos motivos, quais sejam:
a) muitos problemas infantis decorrem da fase de desenvolvimento 
pela qual a criança está passando (por exemplo, não ter controle 
dos esfíncteres antes dos 2 anos, ter medo de tudo etc.);
b) alguns pais levam seus filhos à clínica psicológica por questões 
passageiras, decorrentes de situações estressantes pelas quais 
a criança está passando (por exemplo, perda de um bichinho
20 Papirus Editora
de estimação, entrada na escola, mudança de bairro etc.), 
questões que poderão ser resolvidas no decorrer do tempo;
c) a literatura tem mostrado que diversos problemas infantis 
têm dupla natureza (orgânica e psicológica) e como tal devem 
receber, para um tratamento mais efetivo, um atendimento 
duplo com o psicólogo e com o médico.
Claro está que, ao responder à primeira das quetetões, o 
psicólogo clínico usará referentes comportamentais, especificando os 
comportamentos problemáticos a serem alvo da atenção psicológica e 
os comportamentos alternativos que entrarão em lugar deles. É^ênfase 
no desenvolvimento da competência social que caracteriza a intervenção 
clínica comportamental mais atualizada (Miyazaki e Silvares 1997).
Para responder à segunda questão, entretanto, além do 
conhecimento de desenvolvimento infantil, o psicólogo precisa de vasta 
experiência com o universo comportamental infantil, visto não existirem 
normas delimitadoras do que é aceitável no comportamento de criança. É 
sabido que muitas crianças com padrões de comportamento semelhantes 
aos de crianças clínicas não são encaminhadas para tratamento, assim 
como também é conhecido o fato de crianças serem encaminhadas por 
problemas de natureza parental e não delas. O fato de que o determinante 
do comportamento anormal é de caráter social fica ainda mais evidente 
no caso da criança do que no do adulto. Por outro lado, como não se tem
um referencial neutro, a intervenção acarreta problemas para justificar,
\
do ponto de vista ético, a seleção da melhor estratégia à ser delineada 
para a solução do problema (Silvares 1995).
Tem sido de grande auxílio para o psicólogo, ao tentar 
responder à segunda questão, reportar-se aos manuais de classificação 
diagnostica (como por exemplo, o DSM-IV, APA, Í984), nos quais 
são definidos critérios objetivos para um diagnóstico diferencial de
Estudos de caso 21
diversos quadros clínicos, assim como são também especificados os 
diversos comportamentos a serem observadospara se considerar um 
quadro clínico. Outros elementos, como a duração da queixa para 
ser considerada como merecedora de atenção psicológica, a faixa 
etária para que o problema possa ser considerado uma anomalia de 
comportamento, o curso do desenvolvimento esperado para diversos 
problemas e outros aspectos de diversos distúrbios são descritos nesses 
manuais, os quais auxiliam sobremaneira a formulação do caso.
Embora inúmeros clínicos comportamentais tenham no passado 
rejeitado esses instrumentos por vários motivos que fogem ao escopo 
deste trabalho, hoje é cada vez maior o número dos que se apoiam 
consideravelmente neles em benefício do cliente.
Análise funcional
A descoberta dos fatores ambientais que contribuem para que os 
comportamentos problemáticos se mantenham é a chave principal de 
toda avaliação comportamental, independentemente da etiologia que 
os tenha gerado ou da história de seu desenvolvimento. Isso porque é 
com base no levantamento desses fatores que se planeja a intervenção 
que se processa em um contexto de aqui e agora. Em outras palavras, 
busca-se no ambiente os antecedentes e os consequentes dos quais 
o(s) comportamento(s) é(são) função(ões), isto é, que o controlam 
atualmente, e busca-se alterá-los para, em decorrência, modificar os 
comportamentos problemáticos.
Este último ponto é o que dá à avaliação comportamental seu 
caráter distintivo, o que demonstra existir uma relação de necessidade 
entre avaliação e intervenção. A posição aqui defendida é a de que não 
é possível, sem uma análise funcional bem elaborada, planejar uma 
intervenção bem-sucedida.
22 Papirus Editora
Pode-se dizer que o sucesso na elaboração adequada de uma 
análise funcional será fruto tanto da experiência quanto da formação 
teórica do clínico, pois não há regras ou técnicas a priori a serem seguidas 
para levantar tais antecedentes e consequentes. Sabe-se, porém, que, na 
entrevista inicial, é muito mais importante, em vez de indagar os porquês 
do comportamento, buscar saber como, quando e onde ele ocorre.
A forma usada pelo clínico para processar essa análise, isto é, 
a metodologia e os instrumentos por ele empregados para encontrar 
os determinantes do comportamento (ou seja, formular uma análise 
funcional, inicialmente hipotética), depende do tipo de comportamento, 
da idade do cliente e de suas características. Assim, o modo de o 
psicólogo agir se tem diante de si um adolescente com um quadro 
de oposição aos familiares ou uma criança em idade escolar com um 
quadro de ansiedade de separação será diverso, mas os objetivos (busca 
dos determinantes do comportamento) não.
Inúmeros recursos têm sido usados para tal levantamento, seja 
pedir ao cliente que grave suas interações, seja pedir aos familiares que 
o observem, seja dar aos clientes uma agenda para que nela anotem 
quando, onde e como fazem o que reclamam fazer (suas queixas). 
Já tivemos oportunidade de nos manifestar sobre a importância e a 
necessidade do registro quando se procede a uma avaliação e não vamos 
nos alongar nesse ponto. O leitor interessado no aprofundamento dessa 
questão poderá se reportar a Silvares (1991a, 1991b, 1991c e 1995).
Numerosos autores têm reconhecido a importânçia de considerar
\
dois tipos de análise funcional: uma microscópica e outrà macroscópica. 
Na primeira delas, a busca pelos determinantes terá seu)foco restrito ao 
comportamento atual, que está perturbando o cliente. n L macroscópica, 
os comportamentos problemáticos são vistos na interação com outros 
comportamentos do cliente, e suas interações no ambiente referem-se 
tanto ao ambiente microscópico onde ele está inserido como às relações 
dele com outros ambientes no seu sistema macroscópico.
Estudos de caso 23
Assim, ao se buscarem os determinantes do comportamento de 
uma criança com transtorno de conduta, por exemplo, não apenas se 
devem considerar as situações familiares em que ele pode ser visto, mas 
também determinar as relações desse tipo de transtorno com outros 
comportamentos da criança, sejam eles problemáticos ou não, além de 
se procurar também compreender esse sistema comportamental em 
relação ao sistema comunitário e familiar mais amplo.
Essa junção dos dois tipos de análise funcional, necessária para uma 
intervenção clínica comportamental efetiva, é denominada compreensão 
funcional por Silvares (1991a). Sem ela, a seleção da intervenção, que é 
extraída dessa fase, ficaria parcial, para dizer o mínimo.
Seleção do tratamento
Uma vez com preendidos os fatores determinantes do 
comportamento alvo das queixas, pode-se esboçar uma estratégia de 
atuação clínica para alterá-los. No caso das crianças, existem inúmeras 
formas de trabalho, e elas serão objeto de análise em cada um dos 
capítulos da segunda parte desta obra. Cumpre, entretanto, sinalizar 
que, para alguns tipos de transtorno, a ação conjugada envolvendo 
criança, psicólogo e pais, além de outros agentes sociais julgados 
pertinentes, tem-se mostrado mais satisfatória.
Não é demais sinalizar que a qualidade da relação terapêutica que 
se estabelece desde o início da intervenção é fundamental em qualquer 
uma das três fases vistas até o momento, pois, sem que esta seja positiva, 
não se consegue evoluir nem da primeira fase, que dizer da fase em que 
os agentes sociais deverão partilhar com o psicólogo da compreensão 
dos determinantes do problema para alcançar sua solução.
Seja uma mãe ou um pai de criança enurética que auxilia seu 
filho a superar a dificuldade de controle de esfíncteres, seja pai ou mãe
24 Papirus Editora
da criança com dificuldades escolares, o trabalho de intervenção deve 
ser discutido de forma clara e acessível, visto que sua colaboração 
será essencial para o futuro desse trabalho. Esse ponto é muito bem 
sinalizado por Sanders e Dadds (1996) e discutido por Silvares (1998). 
Os autores propõem etapas claras para a sessão de feedback com os 
pais, com o objetivo de definir estratégias interventivas favoráveis à 
solução da problemática infantil. Com a sessão de feedback , passa- 
se, então, à fase mediana do trabalho de intervenção infantil, na qual 
são implantadas e avaliadas as estratégias delineadas na fase anterior.
Uma discussão levantada com alguma frequência ultimamente 
tem sido a de se a seleção de tais estratégias pode prescindir da 
análise funcional, e, pelo que já foi exposto até o momento, o leitor 
pode depreender que nossa posição tem sido a de que o sucesso na 
implantação de técnicas comportamentais sem a prévia análise do caso 
não contradiz a necessidade desta, apenas sinaliza a regularidade do 
comportamento humano.
Avaliação do tratamento
As seis questões apontadas por BarriosJ(^88) para esta fase não 
podem deixar de ser analisadas rapidamente aqui. São elas:
1 ) O tratamento está sendo desenvolvido de forma correta?
2) Que mudanças ocorreram?
3) Há efeitos colaterais das estratégias propostas?
4) Os benefícios do tratamento estão satisfatórios?
5) O tratamento deveria ser finalizado ou alterado?
6) Podem as mudanças observadas ser atribuídas ao tratamento?
Todas essas seis perguntas têm ligação entre si, mas as 
duas primeiras estão mais intensamente interligadas, e são muito
Estudos de caso 25
le ser inferida e cuja validade vai depender de vários cuidados quanto 
ios procedimentos seguidos pelo clínico, cuidados esses dos quais o 
eitor interessado poderá se inteirar no capítulo relativo ao estudo de 
:aso clínico comportamental neste livro ou, de forma mais detalhada, 
im Kazdin (1982).
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Estudos decaso 29
importantes no direcionamento da intervenção, pois, se não houver 
alterações comportamentais, algo terá de ser alterado na intervenção. Se 
o tratamento estiver sendo seguido de forma correta, o direcionamento 
será totalmente diverso do que o que deverá ser dado se as respostas 
a ambas as questões forem negativas, ou se apenas a primeira delas 
tiver resposta afirmativa.
Se não ocorreram mudanças, a despeito de o tratamento estar 
sendo desenvolvido de forma correta, este deverá ser repensado. Em 
outras palavras, se a resposta para a primeira e a segunda perguntas 
for sim, então, o tratamento levado a efeito de forma correta não está 
trazendo os benefícios esperados. Assim, dever-se-ia verificar em que 
ponto da análise funcional realizada houve falhas ou se estas residiram 
no estabelecimento das relações entre as estratégias propostas e os 
determinantes do comportamento. Essas duas possibilidades não 
seriam levadas em consideração no caso de o tratamento não estar 
sendo feito corretamente, sem mudanças decorrentes, pois a ação 
deveria ser a de encontrar as razões pelas quais o tratamento proposto 
não está sendo seguido.
As duas primeiras questões têm vínculo tanto com a terceira 
como com a quarta e a quinta questões; vejamos por quê.
Toda intervenção clínica só é satisfatória se soluciona os 
problemas que levaram à intervenção. Assim, para respondermos às 
duas penúltimas questões (se o tratamento está sendo satisfatório e se 
pode ser finalizado ou deve ser alterado), é preciso que as mudanças 
obtidas estejam em acordo com as expectativas de mudanças para as 
quais as estratégias de intervenção foram planejadas. E, mais, que tais 
alterações não tenham trazido outras tantas mudanças inesperadas e 
consideradas efeitos colaterais. Por exemplo: uma criança opositora 
poderá ter seu comportamento de oposição alterado pelo processo 
de extinção e passar a mostrar outros comportamentos desajustados
26 Papirus Editora
como, por exemplo, passar a fazer xixi na cama. O comportamento 
novo, que poderia ser visto como “uma substituição de sintomas”, 
pode também ser considerado o resultado de uma análise funcional 
incompleta ou mal-elaborada. O psicólogo percebeu que a oposição 
vinha sendo reforçada pelos responsáveis, mas não percebeu que 
estes vinham, de uma maneira geral, dando pouca atenção à criança. 
Assim, uma vez que a criança deixou de receber atenção pela oposição, 
para garantir um nível de atenção de seus responsáveis, passa a 
exibir um novo comportamento desajustado. O tratamento só pode 
ser considerado finalizado se atinge os objetivos iniciais definidos na 
avaliação e não acarreta outros problemas para a criança.
São esses pontos que têm obrigado os terapeutas comportamentais 
infantis a aceitarem a premissa de que a criança que apresenta um 
transtorno de comportamento está tentando, ainda que de forma tosca, 
resolver um problema. Nessa medida, na busca dos determinantes do 
comportamento dela, procuram abranger não só a análise funcional 
microscópica, mas também a macroscópica. É também para garantir 
que os efeitos da intervenção alcancem o maior número possível de 
ambientes e pessoas, bem como tenham repercussão não só imediata, 
mas também a longo prazo, que essas duas análises vêm sendo 
desenvolvidas. A preocupação com a generalização está presente na 
questão sobre os efeitos colaterais, da mesma forma que o está na 
questão sobre a duração dos efeitos da intervenção.
O psicólogo só poderá estar inteiramente satisfeito com os 
resultados de sua ação se puder responder negativamente aos efeitos 
colaterais e positivamente à garantia das mudanças. Para essa garantia, 
é sabido que as ações que antecedem a alta devem ser programadas 
para permitir que não haja retrocesso nos ganhos evidenciados depois 
da intervenção.
Quanto à última das questões, isto é, se as mudanças observadas 
podem ser atribuídas à intervenção, é uma pergunta cuja resposta terá
Estudos de caso 27
TORÓS, D. (s.d.). “O que é diagnóstico comportamental”. In: DELITTI, M. 
(org.). Sobre o comportamento e cognição. Santo André: ArBytes, 
pp. 98-104.
30 Papirus Editora
O ESTUDO DE CASO 
CLÍNICO COMPORTAMENTAL
2
Edwiges Ferreira de Mattos Silvares 
Roberto Alves Banaco
Introdução
Um dos livros considerados mais significativos na história da 
terapia comportamental, escrito em 1965, composto por 50 estudos 
de caso, é o livro de Ulmann e Krasner, Case studies in behavíor 
modification. Seu valor se deve tanto a seu pioneirismo na abordagem 
comportamental, considerada nascente nos anos 50 (Franks 1996; 
Kazdin 1996), quanto à forma de apresentação: estudos de caso 
clínicos. Para Barcelos e Haydu (1998), o lançamento desse livro, além 
de marco histórico, pode ser considerado um evento que influenciou 
o desenvolvimento da terapia comportamental tanto de orientação 
operante como respondente.
As afirmações anteriores não são surpreendentes, visto que o 
estudo de caso é considerado uma das peças fundamentais do psicólogo
Estudos de caso 31
clínico no entender de diferentes autores, sejam eles comportamentais 
ou não (por exemplo Barlow, Hayes e Nelson 1986; Bolgar 1965; 
Guilhardi1988a; Hayes 1986; Kazdin 1982; Kratochwill e Mace 1986). 
De fato, Skinner (1989) introduz e justifica a tese de que o estudo de 
caso é de extrema importância para o desenvolvimento do estudo do 
comportamento. Diz ele:
A suposição de que há no comportamento a ordem do dado científico 
se defronta algumas vezes com outra objeção. A ciência se ocupa do 
geral, mas o comportamento do indivíduo é necessariamente único.
A “história de caso” tem riquezas e características que estão em 
nítido contraste com os princípios gerais. É fácil a gente se convencer 
de que há dois mundos distintos e que um está além do alcance da 
ciência, (p. 30, grifos nossos)
Não é de estranhar, portanto, que a grande maioria dos 
profissionais envolvidos com análise comportamental aplicada conceba 
o estudo de caso como a peça central para a solução de um velho 
problema da psicologia clínica, qual seja, o hiato entre a pesquisa e 
a prática (Barlow, Hayes e Nelson 1986; Hayes 1986; Kazdin 1982). 
Nessa medida, para os estudiosos dessa área, o estudo de caso não é 
apenas útil, mas necessário (Hayes 1986). Vejamos primeiramente em 
que se constitui o estudo de caso, para, depois, avaliar em que medida 
ele pode, de fato, resolver esse hiato.
Em que se constitui o estudo de caso
Quando se fala em estudo de caso ou “no registro contínuo de 
observações cuidadosas”, nas palavras de Bolgar (1965), clássicos 
da história da psicologia como “Anna O.”, “pequeno Hans”, “pequeno 
Albert”, são quase sempre lembrados, pois é inegável o quanto esses
32 Papirus Editora
registros das observações, feitos pelos clínicos responsáveis por esses 
estudos, tiveram impacto marcante sobre o desenvolvimento de várias 
Icorias psicológicas (Bolgar 1965; Kratochwill e Mace 1986).
Embora não haja consenso sobre como proceder no estudo de 
caso, em geral, ele se constitui, em psicologia clínica, no relato fiel e 
sistemático do que foi feito com o cliente durante o processo terapêutico, 
nbrangendo também a história de vida do paciente e outras informações 
que possam levar a uma compreensão completa do caso atendido. 
O estudo de caso, portanto, é, como os exemplos antes lembrados 
testemunham, um dos métodos à disposição do clínico-pesquisador 
para a produção de conhecimento em psicologia.
Para Bolgar (1965), com o qual concordam Kratochwill e Mace 
(1986), a metodologia do estudo de caso na produção de conhecimento 
em psicologia clínica é mais antiga do que na experimental, o que, no 
entanto, não demonstra a precedência ou superioridade deste tipo 
de método sobre o outro. Por outro lado, Campbell e Stanley (1963) 
consideram que só o método experimental tem valor científico, mas essa 
afirmação é contestada pela grande maioria dos psicólogos clínicos.
Em que termos se dá a distinção entre os dois principais métodos 
de investigação científica em psicologia clínica? É ainda de Bolgar 
(1965) que nos lembramos primeiramente, para dar início à discussão 
dessa questão. Para essa autora, o estudo de caso, cuja natureza é 
eminentemente exploratória, representa a abordagem tradicional de 
pesquisa em psicologia clínica, visto permitir alcançar como objetivo 
primário a descoberta e a formulação de hipóteses. Nas palavras da 
própria autora, o estudo de caso:
É o método preferido do psicólogo clínico, por estar este interessado nas 
complexas inter-relações de muitas variáveis e cujo objeto de estudo, 
isto é, a situação clínica que envolve seres humanos, tomar difícil, senão 
impossível, a manipulação experimental, (p. 28, grifo nosso)
Estudos de caso 33
A defesa do emprego do estudo de caso como método de 
construção de conhecimento em psicologia clínica independe da 
abordagem teórica assumida pelo estudioso, e é feita de longa data, haja 
vista a opinião antiga de Bolgar (1965), autora freudiana, cuja posição 
se assemelha à defendida por Evans (1995), autor comportamental. 
Este, recentemente, defendeu o método de forma idêntica à feita pela 
autora, isto é, associando-o ao caráter ideográfico da disciplina. Outro 
ponto partilhado pelos dois autores, distanciados no tempo e na teoria, 
é o relativo ao caráter nomotético a ser garantido pela psicologia.
As duas orientações possíveis em psicologia 
e suas relações com o estudo de caso
Parece caber no momento um esclarecimento acerca das duas 
possíveis orientações (ideográfica e nomotética) em psicologia, cujos 
pontos de discriminação são sinteticamente apresentados na Tabela 1, 
extraída de Silvares (1997), baseada em Evans (1995).
TABELA 1: PONTOS DISCRIMINANTES DAS ORIENTAÇÕES 
IDEOGRÁFICA E NOMOTÉTICA EM PSICOLOGIA
PONTOS DE COMPARAÇÃO ORIENTAÇÃ0
IDEOGRÁFICA NOI^QTÉTICA J
Observador do 
comportamento Clínico
y
Pesquisador
Delineamento Sujeito único De grupo
Ação Clínica Acadêmico-científica
Objetivo principal Singularidade do cliente Regularidade do grupo
Avaliação Análise funcional Diagnóstico
Tratamento Personalizado Padronizado
34 Papirus Editora
Baseando-nos nas posições de Bolgar (1965), vamos procurar 
esclarecer os pontos essenciais que discriminam as duas posturas, ao 
mesmo tempo que tentar mostrar as relações das duas com os dois 
métodos mais significativos de nossa ciência.
Para a autora, o método experimental (em geral, identificado com 
estudos que utilizam delineamento de grupo, para usar a terminologia 
empregada na Tabela 1) é o único que pode assegurar o reconhecimento 
da psicologia como uma ciência nomotética (por alcançar o objetivo de 
demonstrar a regularidade do grupo estudado, deve-se acrescentar, 
seguindo a Tabela 1). Além disso, para ela, o teste das hipóteses 
levantadas pelo estudo de caso deve ser feito pelo método experimental 
(que dita normas metodológicas, tais como a padronização do tratamento, 
perseguidas pelo pesquisador em sua ação acadêmico-científlca, ainda 
como apontado na Tabela 1). É fácil entender a restrição da autora, visto 
que esse teste, para ela, não pode ser realizado pelo primeiro método 
(cujo objetivo primário é o atendimento personalizado ao cliente, voltado 
para sua singularidade, cliente esse cujas necessidades são atendidas 
com base na análise funcional e testadas pelo delineamento do tipo 
sujeito único, como pode ser visto também na Tabela 1).
No entanto, Skinner, ao propor uma ciência do comportamento 
humano, já criticava os conceitos nomotéticos e o uso da estatística 
em psicologia:
A previsão do que um indivíduo médio fará é, freqüentemente, de 
pouco ou nenhum valor ao se tratar com um indivíduo particular. Os 
quadros estatísticos das companhias de seguro de vida não são de 
nenhum valor para um médico ao prever a morte ou a sobrevivência 
de um paciente. (1989, p. 31)
Decorrente dessa visão, a tradição da análise aplicada do 
comportamento tem feito pesquisa com delineamento experimental de
Estudos de caso 35
sujeito único, com o propósito de demonstrar, numa mesma história 
de vida, as alterações provocadas por algumas variáveis mensuráveis 
e manipuláveis. O delineamento de sujeito único, algumas vezes 
denominado N = 1, caracteriza-se por tomar medidas repetidas de uma 
variável quantiflcável de um caso único (Barker, Pistrang e Elliott 1994).
O valor do estudo de caso como a ponte 
que liga a prática e a pesquisa em psicologia clínica
Muitos analistas do comportamento, embora reconheçam o 
valor do estudo de caso para a ciência psicológica, não concordam 
inteiramente com Bolgar sobre o fato de o estudo de caso ser apenas 
um estágio para a comprovação de hipóteses levantadas por aquele 
método ou, nas palavras de Hayes (1986), “muito mais do que ser a 
frágil irmã do empreendimento de pesquisa clínica, as análises de caso 
são o seu cerne” (p. 181, grifo nosso). Autores como Hayes certamente 
discordam de Bolgar também quanto à posição sobre como proceder 
para comprovar hipóteses, visto ser o delineamento de grupo o único 
método científico de comprovação de hipóteses para ela.A posição de Hayes, identificada como a da grande maioria 
dos analistas de comportamento, decorre do fato de muitos de seus 
colegas estarem preocupados com o hiato existente èntre a pratica e a 
pesquisa em psicologia clínica. Esse hiato tem sido atribuído ao pouco 
consumo, pelos clínicos, do que é produzido em pesquisa (Barlow, 
Hayes e Nelson 1986). Tal afirmação, entretanto, não foi confirmada 
por um estudo mais recente de Beutler, Williams, Wakefield e Entwistle 
( 1995). Esses autores, num levantamento realizado com 325 psicólogos 
americanos, chegaram à conclusão de que os clínicos não só leem o que 
é produzido pelos acadêmicos, por valorizarem a pesquisa científica, 
como também levam em consideração os dados de seus estudos na
36 Papirus Editora 4
prática clínica. A distância entre as duas áreas parece se dar de outra 
maneira: de fato, os práticos se aproximam mais dos cientistas do 
que estes dos primeiros, pois os clínicos leem mais o que é produzido 
pelos pesquisadores do que estes se interessam pelas preocupações dos 
clínicos, segundo Beutler et al. (1995). A despeito de terem encontrado 
esse dado empírico, Beutler e seus colaboradores reconhecem que 
ainda são limitados os meios de comunicação entre esses dois tipos 
de profissionais, o que não é desejável. Por isso mesmo, reafirmam a 
necessidade de todos os esforços serem envidados para o aumento de 
intercâmbio entre cientista e clínico, e para criação de novos meios de 
comunicação entre eles, para facilitar esse intercâmbio.
Nesse mesmo sentido, já em 1979, Ferster apontava que
se a análise comportamental é um complemento paira a prática 
clínica, então, ela precisará contribuir para a observação e a 
descrição dos fenômenos clínicos como eles ocorrem na completa 
complexidade do ambiente natural. Keehn e Webster (1969) fazem 
a mesma distinção quando diferenciam terapia comportamental 
e modificação do comportamento. Eles definem que a tarefa da 
análise do comportamento (modificação) é um meio de entender 
como o comportamento é adquirido e alterado, e, por essa razão, 
aplicável aos objetivos das terapias tanto psicodinâmicas quanto 
comportamentais. (p. 288)
No Brasil, Guilhardi tem sido um dos maiores defensores do 
uso do caso clínico como forma de pesquisa em clínica, chamando 
os clínicos à responsabilidade de demonstrar ser a ação terapêutica a 
responsável pelas mudanças operadas no cliente, bem como sobre a 
necessidade de divulgar os ganhos conseguidos por meio de estratégias 
determinadas pela análise funcional por eles processada.
Em razão do hiato entre a pesquisa e a prática em psicologia 
clínica, diversos autores (entre eles, Guilhardi) têm proposto o estudo
Estudos de caso 37
de caso, com certas restrições metodológicas, como uma forma de 
aproximação da pesquisa e da prática. Vejamos a seguir que restrições 
são essas e por que elas são impostas pelos analistas comportamentais.
Que form a o estudo de caso deve assumir para poder ser 
visto como a ponte que liga a prática e a pesquisa em 
psicologia clínica
Em seu trabalho “O terapeuta é um cientista?”, Luna (1997) 
aponta várias diferenças entre a prestação de serviços e a realização 
de uma pesquisa. Nessa oportunidade, afirmava que
De fato, se, no caso particular da clínica psicológica, tiverem de ser 
mantidos critérios da pesquisa experimental, tais como as análises 
que permitem identificar operantes, os critérios de estabilidade e 
os procedimentos para identificação da mudança comportamental, 
então, a clínica deve ser reduzida a um laboratório em que o problema 
de pesquisa assume primazia sobre a “queixa” do cliente. Em outras 
palavras, devemos abrir mão da possibilidade de que a AEC venha a 
permitir a pesquisa durante a intervenção clínica, (p. 309)
Por essa razão, o estudo caso p)j>de ser a forma ideal de 
aumentar o corpo de conhecimento em terapia comportamental. O 
conhecimento e a descrição de uma história de vida, acrescidos de 
identificação e destaque de variáveis relevantes que expliquem as 
mudanças dos comportamentos observados (e talvez mensurados), são 
o caminho ideal para que se faça um bom estudo de caso.
Segundo Barker, Pistrang e Elliott (1994), existem pelo menos 
duas formas principais de fazer um relato de caso: a que se vale de 
um delineamento experimental e a que se vale do estudo de caso 
naturalístico.
38 Papirus Editora
O estudo de caso com delineamento experimental
O estudo de caso com delineamento experimental é aquele no 
qual um tratamento ou uma intervenção são testados num único sujeito, 
para averiguar se são efetivos. O comportamento do sujeito serve como 
seu próprio controle. Para fazer esse tipo de estudo, o profissional 
deve selecionar a medida ou as medidas de comportamento que serão 
utilizadas na avaliação. Essas medidas devem ser capazes de ser 
coletadas repetidamente, breves e minimamente reativas à manipulação 
(tratamento ou intervenção) selecionada para o estudo.
Tendo escolhido a(s) medida(s), o próximo passo é selecionar 
a frequência de tomada da medida. Essa frequência pode ser diária, 
semanal ou, ainda, ser tomada hora a hora etc. O delineamento 
começa com a coleta de dados de linha de base, sendo desejável que 
o comportamento não varie muito em frequência durante esta fase. 
Depois da coleta, a intervenção começa a ser feita ou o tratamento 
começa a ser implementado. Os dados continuam a ser coletados com 
as mesmas medidas, na mesma frequência de coleta.
Os estudos de caso com delineamento experimental também 
podem variar segundo as possibilidades de introdução e remoção de 
variáveis de intervenção e/ou tratamento. Alguns estudos possibilitam 
o delineamento denominado ABAB, no qual a uma linha de base (fase
A) se segue a introdução do tratamento (fase B), seguida de um retorno 
às condições de linha de base (fase A) e, em seguida, da reintrodução 
do tratamento (fase B). Esses estudos têm enfrentado críticas severas 
na história da pesquisa em clínica, em virtude, principalmente, do 
retorno das condições de linha de base A, que seria, sabidamente, a 
fonte de queixa dos clientes. Também enfrentam uma outra dificuldade, 
que pode ser a irreversibilidade do comportamento a ser estudado, em 
razão de outras variáveis não controladas.
Estudos de caso 39
Por esse motivo, alguns estudos se utilizam apenas do 
delineamento AB (linha de base A, seguida por fase de tratamento
B). Esses estudos sofrem críticas metodológicas, por resultar em 
evidências fracas do controle experimental. Como ter certeza de que 
as mudanças observadas na fase B não ocorreriam apenas com a 
passagem do tempo?
Para evitar os problemas até agora apresentados, vários estudos 
se utilizam da técnica de linha de base múltipla. Para realizar um 
estudo de caso desse tipo, é necessário ter vários compor tamentos- 
problema, sensíveis à mesma variável, ou o mesmo comportamento- 
problema exibido em vários locais diferentes e independentes. Toma-se 
a medida de cada um dos problemas (ou do mesmo problema em vários 
ambientes) e faz-se a intervenção gradativamente em cada um deles, 
observando se as mudanças ocorrem apenas no comportamento sobre 
o qual a intervenção foi aplicada.
O delineamento de estudo de caso naturalístico
Quando não se pode (ou não se consegue) fazer uma manipulação 
do tipo da apresentada no .̂ delineamentos de estudos experimentais 
de caso (definição da medida ou das medidas de comportamento 
que serão utilizadas na avaliação, ou quando essas medidas não são 
passíveis de ser coletadas repetidamente, o delineamento de estudo de 
caso naturalístico pode ser utilizado.
Ainda que sofram a crítica de produzir dados mais dificilmente 
comparáveis e generalizáveis, esses costumam ser estudos que ampliam 
o conhecimento sobre alguns problemas dos quais não conhecemos 
ainda as variáveis relevantes a serem manipuladas em algum 
experimento, ou podem fornecer indíciossobre as intervenções que 
supostamente provocam mudanças nos comportamentos observados.
40 Papirus Editora
Classificados por Barker, Pistrang e Elliott (1994), sob essa 
égide, encontram-se os estudos de caso narrativos (os estudos de caso 
baseados na memória e nas anotações do clínico), os estudos de caso 
sistemáticos (que reúnem, organizam e encontram regularidade em 
dados similares de várias experiências clínicas) e os delineamentos de 
passagem de tempo (mais correlacionais, que descrevem, por exemplo, 
o efeito de um processo terapêutico sobre uma doença dita “somática”).
Conceitos de validade interna, externa e de constructo
A legitimidade e, em última análise, a utilidade de um estudo 
dependem da confiabilidade que esse estudo alcança em suas 
afirmações a respeito do problema sobre o qual se tentou aumentar 
o conhecimento. Essa confiabilidade dependerá das validades interna 
e externa que o estudo alcançar. Segundo Johnston e Pennypacker 
(1993), a validade interna refere-se à apropriação da atribuição causal 
das variáveis independentes destacadas no estudo. Kazdin (1994) 
sugere a resposta à seguinte questão a respeito da validade interna 
de um estudo: “Em que extensão pode a intervenção [realizada] ser 
considerada como a razão para os resultados, as mudanças ou as 
diferenças do grupo, em vez de influências não consideradas?” Johnston 
e Pennypacker (1993) levantam algumas dessas influências, que devem 
ser consideradas na validação interna do estudo: história do indivíduo, 
especialmente eventos não controlados, que ocorrem enquanto o 
estudo está sendo desenvolvido; mudanças maturacionaís, ligadas ao 
processo de maturação biológica do indivíduo; testes que interferem 
na medida obtida; funcionamento do instrumento de registro, que 
pode sofrer danos no decorrer da coleta dos dados; vieses de seleção 
de sujeitos, ou seja, a própria seleção dos sujeitos poderia indicar um 
resultado ou outro; difusão do tratamento entre as situações controle 
e experimental, passando uma a interferir na outra.
Estudos de caso 41
Kazdin (1982) sugere alguns cuidados para superar a validade 
interna que merecem ser lembrados. Os estudos de caso variam nas 
inferências válidas que permitem. A variabilidade está associada a 
tipos de dados, ocasiões de avaliação, curso do problema, tipo de 
efeito, número e heterogeneidade dos sujeitos abrangidos pelos 
estudos. Assim, se sobre um problema cujo curso é conhecido, de 
modo que permita uma previsão sobre sua continuidade, incidir uma 
intervenção clínica na qual são obtidos dados objetivos, avaliados de 
form a contínua, com vários clientes com efeitos marcantes, haverá 
maior segurança quanto à validade das inferências por ele permitidas.
A validação externa refere-se à extensão que os resultados 
alcançam em outras circunstâncias do estudo, ou seja, o quanto 
podem ser generalizados. Johnston e Pennypacker levantam mais 
questões sobre a validade externa de um estudo: generalidade entre 
sujeitos, settings e classes de respostas; generalidade através do tempo; 
reatividade aos arranjos experimentais; reatividade às medidas de 
avaliação inicial; e, finalmente, interferência de tratamentos múltiplos 
durante a coleta de dados. Ou sejí^egundo Kazdin (1994), as principais 
ameaças à validade externa seriam bossíveis limitações à generalidade 
dos resultados em virtude das características da amostra selecionada, 
das características do próprio terapeuta ou das condições do estudo.
Já a validade de constructo diz respeito às bases conceituais 
sobre as quais foram eleitos os recortes comportamentais e as definições 
das classes de respostas que serão refletidas nas categorias de 
observação, mensuração e registro. As ameaças a esse tipo de validade 
estão ligadas ao viés teórico possivelmente imposto pela teoria em 
detrimento do dado, e afetariam a atenção ao sujeito e o contato com 
ele. Ainda seriam ameaças a esse tipo de validade as expectativas do 
sujeito e do experimentador, e, ainda, “dicas” inadvertidas que afetariam 
as respostas esperadas (Kazdin 1994).
42 Papirus Editora
Portanto, o estudo de caso, para permitir inferências sólidas e 
válidas, deve ser feito de modo que elimine, ou pelo menos minimize e 
denuncie em sua discussão, as ameaças que sofreu quanto às validades 
interna, externa e de constructo.
Conclusões
Para Evans (1995), o hiato pesquisa/prática clínica se traduz no 
conflito entre as duas possíveis orientações (ideográfica e nomotética) 
da disciplina, as quais têm, cada uma de per se, pontos fortes e fracos. 
As fraquezas da primeira, para esse autor, residem em sua dependência 
do julgamento clínico e da avaliação do cliente, ambos feitos de forma 
subjetiva e que não permite a possibilidade de replicação. Já as 
limitações da abordagem nomotética se encontram, entre outras, em 
sua dependência da designação correta dos clientes a uma mesma 
categoria diagnostica, do encorajamento do desenvolvimento da terapia 
como tecnologia e da contradição entre os pressupostos básicos de uma 
disciplina voltada para a aplicação de princípios do comportamento de 
acordo com uma análise funcional e não a aplicação fixa de estratégias.
O autor tem como proposta para resolver o impasse desse conflito 
a junção das duas orientações, isto é, Evans defende que a psicologia 
clínica tenha uma orientação nomotética, mas que, ao mesmo tempo, 
não contradiga os princípios básicos da abordagem comportamental. 
Em outras palavras, deseja que os norteadores da ação clínica 
comportamental sejam os princípios comportamentais e não as 
técnicas, tal como se tem visto com muita frequência na literatura.
A esse respeito, Banaco (1998) tem defendido que
a técnica é um procedimento, um modo de proceder; ela é, segundo
o Aurélio eletrônico, “o conjunto de processos de uma arte”. Se sua
Estudos de caso 43
descrição for precisa o suficiente, ela pode ser treinável e aplicável 
por qualquer pessoa. É muito comum que psiquiatras e terapeutas 
comportamentais treinem desde estudantes de psicologia a parentes 
de clientes como acompanhantes terapêuticos. A função desse treino 
é ensinar-lhes a aplicação de técnicas comportamentais. Depois 
de apresentada ao público ou publicada, uma técnica qualquer 
supostamente pode ser aplicada por qualquer um que tenha acesso 
a ela. No entanto, o grande equívoco está na decisão da aplicação de 
uma técnica. Quando a aplicação de uma técnica deriva de uma análise 
funcional, exercida por um analista do comportamento ou terapeuta 
comportamental, certamente ela será bem aplicada e os resultados, 
benéficos para a pessoa que sofreu sua aplicação. Mas, partindo de 
um modelo médico ou quase-médico, e tendo um diagnóstico de uma 
patologia ligada ao comportamento de uma pessoa, bastará um relato 
de aplicação de técnica que tenha funcionado para que a tentação de 
aplicá-la no caso presente seja imperiosa, (p. 6)
Pode-se dizer que essa seja uma proposta próxima da defendida 
por Guilhardi (1988a). Apesar de\esse autor brasileiro não se ter 
voltado explicitamente para a análise djos delineamentos de grupo como 
forma de fazer pesquisa eifc psicologia, fica implícita sua rejeição por 
essa forma de ação, se a identificarmos como a ação que promove a 
separação ou o distanciamento entre a pesquisa e a prática clínica. 
Pode-se ainda aproximar esse autor de Evans por sua rejeição do uso 
cego de técnicas (Guilhardi 1988b), uma das fraquezas da orientação 
nomotética no ver de Evans (1995).
Por fim, o estudo de caso em terapia compor tamental, seja ele 
experimental ou naturalístico, deve ser conduzido tomando-se os 
cuidados necessários para que sejam úteis (tenham validade interna, 
externa e de constructo) e possam contribuir paira uma massa de 
conhecimentos a respeito do comportamento humano. A esse respeito, 
Luna (1998) afirma:
44 Papirus Editora
Independentemente das razões pelas quais seopte pelo estudo de 
caso, o pesquisador - como ocorre em qualquer outra situação 
de pesquisa - deve estar ciente do alcance e dos limites de suas 
conclusões. Diante dos resultados obtidos por um estudo de caso, 
o pesquisador defronta-se com as seguintes possibilidades (não 
necessariamente excludentes):
1. O estudo tem um valor restrito ao âmbito da pesquisa, 
configurando uma prestação de serviços (...).
2. O estudo tem um caráter exploratório e os resultados - ainda que 
não generalizáveis - são analisados de modo a abrir perspectivas 
paira estudos subseqüentes.
3. Dependendo da compatibilidade (teórica e metodológica) entre 
as informações obtidas na pesquisa e outras disponíveis na 
literatura, o pesquisador pode estar em situação de extrapolar o 
âmbito de seus resultados e indicar graus de generalidade.
4. O pesquisador conta com uma (sólida) teoria, cujo poder 
explicativo é suficiente para tornar os resultados do estudo de 
um caso um exemplo das relações previstas por ela. (p. 311)
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48 Papirus Editora
A EVOLUÇÃO DAS HABILIDADES SOCIAIS 
E O COMPORTAMENTO EMPÁTICO
3
Eliane Falcone
Introdução
A habilidade de interagir socialmente parece promover efeitos 
positivos na qualidade das relações interpessoais, com consequentes 
benefícios profissionais e pessoais. Por outro lado, estudos mostram 
que os comportamentos sociais inadequados estão relacionados a uma 
variedade de problemas clínicos (McFall 1982; Trower, 0 ’Mahony e 
Dryden 1982), atingindo de 25 a 30% dos pacientes neuróticos (Argyle 
1984). Essas constatações incentivaram a criação de programas de 
treinamento em habilidades sociais (TSH), tanto na forma individual 
quanto em grupo (para uma revisão mais detalhada do assunto, ver 
Argyle 1974 e 1984; Caballo 1991, 1993 e 1995; Collins e Collins 1992; 
Hazel, Sherman, Schumaker e Seldon 1985; Rose e Le Croy 1985).
O conceito de habilidades sociais tem sido considerado, por 
alguns autores, sinônimo de assertividade (Caballo 1991, 1993 e
Estudos de caso 49
1995). O comportamento assertivo refere-se à habilidade de expressar 
sentimentos e desejos de forma honesta, direta e apropriada, sem violar 
os direitos dos outros (Alberti e Emmons 1983; Lange e Jakuboski 
1976). Estudos que avaliaram os efeitos do treinamento assertivo 
apontam a ocorrência de aumento da autoconfiança e da realização 
pessoal (Delamater e McNamara 1986), redução da depressão (Rimm 
1967) e da ansiedade social (Falcone 1989; Robach, Franyn, Gunby e 
T\vters 1972). Entretanto, uma revisão de estudos feita por Delamater e 
McNamara (1986) sugere que a expressão assertiva dos próprios direitos 
costuma ser percebida como mais competente e efetiva, porém menos 
agradável, amigável, satisfatória ou apropriada, do que a expressão não 
assertiva. Além disso, expressar-se de maneira empática (demonstrando 
consideraçãoespecial para com as necessidades da outra pessoa), antes 
de usar a assertividade direta, pode minimizar qualquer avaliação 
negativa potencial da assertividade. Hargie, Saunders e Dickson (1987) 
chamam a atenção para os riscos da assertividade, especialmente na 
interação profissional com superiores ou no confronto com uma pessoa 
muito agressiva. Argyle (1984) afirma que “a habilidade social efetiva 
nem sempre consiste em comunicar os verdadeiros sentimentos aos 
outros” (p. 406). Em determinados contextos sociais, especialmente 
quando há conflito, torna-se necessário controlar as próprias emoções 
e fazer um esforço para compreender e validar os sentimentos, desejos 
e perspectiva da outra pessoa, antes da manifestação dos próprios 
sentimentos, desejos e perspectiva (Goleman 1995; Guerney 1987; 
Nichols 1995).
As evidências citadas acima mostram que o treinamento 
assertivo pode facilitar resultados positivos de interações nas quais o 
indivíduo está expressando os próprios sentimentos, desejos e direitos. 
Entretanto, nem sempre a conduta assertiva é a mais apropriada para 
uma comunicação satisfatória, o que sugere ser a assertividade apenas
50 Papirus Editora
um tipo de habilidade entre outras necessárias a uma boa interação 
social. MacKay (1988) sustenta que a habilidade social compreende 
um repertório mais amplo de respostas, entre as quais o treinamento 
assertivo é mais restrito e está inserido no programa de desenvolvimento 
de habilidades interpessoais. Matos (1997) propõe que a assertividade 
“não esgota a noção de competência social” (p. 75).
Outra habilidade social apontada como importante para 
as relações interpessoais bem-sucedidas se refere à empatia. O 
comportamento empático inclui: a) um componente cognitivo, 
caracterizado por uma capacidade de compreender acuradamente a 
perspectiva e os sentimentos dos outros; b) um componente afetivo, 
caracterizado por sentimentos de compaixão/preocupação com a 
outra pessoa; e c) um componente comportamental, entendido como 
manifestações verbal e não verbal de compreensão dos estados internos 
da outra pessoa (para uma compreensão mais detalhada do assunto, 
ver Davis 1980, 1983a e 1983b; Egan 1994; Feschbach 1992 e 1997; 
Greenberg e Elliott 1997).
Estudos sobre os efeitos sociais da empatia mostram que 
ela desempenha um papel importante na qualidade das relações 
interpessoais, reduzindo conflitos e aumentando o vínculo. Em uma 
revisão feita por Brems, Fromme e Johnson (1992), esses autores 
encontraram que a empatia mostra uma tendência para provocar efeitos 
interpessoais mais positivos do que a autorrevelação. Outra revisão de 
estudos realizada por Burleson (1985) sugere que as pessoas empáticas 
despertam afeto e simpatia, são mais populares e ajudam a desenvolver 
habilidades de enfrentamento, bem como reduzem problemas 
emocionais e psicossomáticos em amigos e familiares. Burleson 
também verificou que, entre seis medidas diferentes de habilidade de 
comunicação, a habilidade de confortar é mais bem diferenciada entre 
grupos de crianças populares e que crianças não aceitas sofrem mais
Estudos de caso 51
riscos de problemas de ajustamento no futuro. Em um estudo realizado 
por Long e Andrews (1990), foi constatado que a adoção de perspectiva, 
definida como uma tendência cognitiva de se colocar no lugar de outra 
pessoa, é preditiva de ajustamento marital. Essa pesquisa fortalece o 
modelo de satisfação no relacionamento conjugal apresentado por Davis 
e Oathout (1987), que se baseia na noção de que a personalidade em 
geral e a empatia em particular afetam a satisfação da relação por meio 
de suas influências sobre comportamentos específicos de mediação. 
Tal modelo foi testado em 264 casais heterossexuais e foi fortemente 
apoiado. Em uma revisão de Ickes e Simpson (1997), foi encontrado 
que a acuidade empática, definida como a habilidade de inferir 
acuradamente o conteúdo específico dos pensamentos e sentimentos 
de uma pessoa, é positiva para o ajustamento marital.
O interesse crescente da literatura pelo tema empatia pode ser 
identificado durante os anos 80, quando ela é apontada como uma 
habilidade importante para o ajustamento pesspal e profissional (ver 
Eisenberg e Strayer 1992b; Feshbach 1997; Goldman 1995; Nichols 
1995). Se, durante muito tempo, essa habilidadç/foi considerada um 
atributo dos psicoterapeutas e dos profissionais de ajuda, atualmente 
ela tem sido reconhecida como necessária a todas as pessoas. Como 
consequência, começou a surgir um número significativo de programas 
de treinamento de empatia em crianças em idade escolar (ver Cotton 
s.d.; Feschbach 1997). O treinamento da empatia também tem sido 
aplicado em médicos, com o objetivo de melhorar a relação médico - 
paciente (Amack 1995); em presidiários criminosos, para reduzir o 
índice de reincidência às prisões (ver Goleman 1995); em casais, para 
reduzir conflitos conjugais (Guerney 1987), e na área educacional 
(Smith e Monteio 1992). Com o objetivo de aumentar a comunicação 
empática em estudantes universitários, Falcone (1998) avaliou um 
programa de treinamento de empatia que mostrou ser eficaz ao
52 Papirus Editora
aumentar a capacidade dos estudantes em ouvir, compreender e 
demonstrar compreensão empaticamente, tanto em situações de ajuda 
quanto em situações de conflito. Assim, parece haver um consenso de 
que a empatia exerce grande influência sobre o bem-estar individual 
e social, constituindo, portanto, um tema importante a ser explorado. 
Essa importância, tanto teórica quanto praticamente, faz com que ela 
mereça se tornar um foco especial de pesquisa psicológica (Ickes 1997).
Este capítulo pretende apresentar uma revisão da literatura sobre 
os componentes do comportamento empático e os fatores que podem 
contribuir para o desenvolvimento da empatia.
Os componentes da empatia
O termo empatia originou-se do vocábulo alemão einfühlung, 
utilizado pela primeira vez por Robert Vicher, em 1873, em seu tratado 
de psicologia da estética e da percepção formal. A psicologia da estética 
de Vicher incluía uma autoprojeção no objeto artístico (apud Wispé 
1992). Mais tarde, Titchener (1909) criou o termo empatia como 
uma versão de einfühlung, pensando que seria possível conhecer a 
consciência de outra pessoa pela imitação interior ou pelo esforço da 
mente. Em outras palavras, a seriedade, a modéstia, a arrogância, 
a cortesia e a dignidade podiam ser não somente percebidas, como 
também sentidas, pelo esforço da mente (apud Wispé 1992). Desde 
então, a empatia tem sido objeto de estudo na psicologia nas áreas 
evolutiva, social, clínica e da personalidade (Eisenberge Strayer 1992b). 
No campo da psicoterapia, a obra mais relevante sobre a empatia foi 
a de Cari Rogers (1951, 1957 e 1975).
As primeiras definições de empatia seguiam uma perspectiva 
cognitiva ou uma perspectiva afetiva. A primeira enfatizava a capacidade 
de se colocar no lugar de outra pessoa e de entender e predizer
Estudos de caso 53
precisamente os seus sentimentos e pensamentos, podendo ou não 
experimentar os mesmos sentimentos daquela pessoa, sem fazer 
julgamentos (Rogers 1959). A segunda considerava que a empatia é um 
processo primordialmente afetivo, com alguns componentes cognitivos. 
Nesse caso, o indivíduo que empatiza experimenta vicariamente uma 
emoção que é congruente, porém não necessariamente idêntica, à 
emoção da outra pessoa (Mehabian e Epstein 1972; Hoffman 1977 
apud Thompson 1992).
Mais recentemente, o consenso geral é o de que a empatia engloba 
componentes cognitivos, afetivos e comportamentais (ver Davis 1980, 
1983a e 1983b; Feschbach 1992 e 1997). O componente cognitivo da 
empatia caracteriza-se pela adoção de perspectiva, que é compreendida 
por alguns autores (como Davis, Hull, Young e Warren 1987; Long e 
Andrews 1990; Zillman 1991) como uma disposição para se colocar 
no lugar da outra pessoa

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