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MODELOS DE GESTÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Diferenciar os principais tipos de avaliação do desempenho nas organizações. > Descrever os aspectos fundamentais dos programas de remuneração e benefícios. > Reconhecer a atuação dos sindicatos e da legislação trabalhista e a sua influência na gestão de recursos humanos. Introdução O atual cenário mercadológico e o contexto globalizado de acirrada competitivi- dade e de constante inovação tornam fundamental que as organizações tenham estratégias bem delineadas a fim de que os resultados organizacionais sejam atingidos. Nesse sentido, a gestão de recursos humanos apresenta-se como um elemento indispensável para o alcance de metas e objetivos, pois os resultados or- ganizacionais podem ser alcançados por meio do desempenho dos colaboradores. Mas como mensurar os resultados dos colaboradores em uma organização? Como mapear se as ações e as rotinas dos times e das equipes de trabalho estão no caminho certo? Quais políticas de remuneração e benefício possibilitam engajar e motivar equipes de trabalho? Tais interrogações serão discutidas e aprofundadas neste capítulo, que objetiva apresentar a gestão de recursos humanos e as políticas de recompensas e avaliação de desempenho como uma perspectiva estratégica. A importância da gestão de recursos humanos II Ricardo da Silva e Silva Neste capítulo, você vai conhecer os tipos de avaliação de desempenho de pessoal, as principais alternativas para organizar programas de remuneração e benefício e, ainda, os impactos da atuação sindical na gestão de recursos humanos na atualidade. Avaliação do desempenho como elemento estratégico A gestão de recursos humanos engloba um rol de atividades e tarefas que possibilitam gerenciar e desenvolver de forma estratégica o capital humano nas organizações. Para que haja assertividade na gestão de recursos huma- nos, essas atividades e tarefas estão divididas e organizadas em distintos subsistemas, entre os quais estão os subsistemas de monitoramento, de provisão, de aplicação, de manutenção e de desenvolvimento. O subsistema de desenvolvimento engloba as atividades que objetivam motivar, engajar os times de trabalho e acompanhar o progresso das habilidades e competências dos colaboradores, permitindo mapear o desempenho coletivo e individual, assim como fornecer feedbacks de maneira assertiva aos colaboradores. Importância da avaliação do desempenho Atualmente a gestão de recursos humanos é vital para o alcance de resultados. Nesse sentido, convém retomarmos alguns dos questionamentos feitos no início deste capítulo: como mensurar os resultados dos colaboradores em uma organização? Como avaliar se as ações e as rotinas dos times e das equipes de trabalho estão no caminho certo? Entre as possíveis respostas para essas perguntas, está a avaliação de desempenho, um dos fios condutores da gestão estratégica de pessoas que permite mensurar e acompanhar performances e, ainda, fornecer feedbacks assertivos. França (2010, p. 115) define a avaliação de desempenho como “[...] a prática de julgamento e apreciação a partir dos objetivos da gestão de pessoas da organização, em que são verificados se eles foram alcançados com o uso eficiente dos recursos”. O desafio para os gestores de recursos humanos é estruturar avaliações de desempenho que possibilitem que os resultados dos colaboradores sejam acompanhados de forma assertiva, diagnosticando e analisando se os esforços destes estão de acordo com os padrões exigidos pelas empresas. A importância da gestão de recursos humanos II2 A finalidade da avaliação de desempenho é: [...] obter informações sobre o comportamento profissional do avaliado durante seu desempenho no trabalho, identificando oportunidades de melhoria, elaborando e desenvolvendo planos de ação em relação à estrutura geral, aos diferentes órgãos e ao colaborador (CARVALHO; NASCIMENTO; SERAFIM, 2012, p. 335). Empresas que não avaliam o desempenho de seus colaboradores não conseguem mapear desempenhos insuficientes e corrigir comportamentos e atitudes. Outro ponto relevante em relação às avaliações é que essa fer- ramenta deve ser aplicada de forma assertiva, evitando resultados que não reflitam o real desempenho das equipes de trabalho. Os principais erros no processo de avaliação de desempenho são o efeito halo, o efeito recenticidade, a complacência ou o rigor excessivo, a incompre- ensão sobre os critérios e o erro de fadiga, descritos a seguir: � Efeito halo: ocorre quando a avaliação de um colaborador é baseada em uma primeira impressão pessoal, positiva ou negativa, influenciando a análise de seu desempenho. � Efeito recenticidade: ocorre quando a avaliação leva em conta apenas situações ocorridas recentemente, deixando de considerar todo o período avaliativo. � Complacência ou rigor excessivo: ocorre quando as avaliações são realizadas de forma complacente, avaliando-se o colaborador acima da escala de seu real desempenho; ou com rigor excessivo, avaliando-se o colaborador muito abaixo de seu desempenho profissional. � Incompreensão sobre os critérios: ocorre quando o avaliador não compreende corretamente o significado dos critérios avaliativos, o que resulta em avaliações que não correspondem à realidade. � Erro de fadiga: eventualmente empresas podem definir prazos muito curtos para que sejam realizadas as avaliações de desempenho. Nesses casos, o número muito elevado de avaliações pode levar o avaliador a não dar a devida importância para o momento de avaliação, o que acarreta erros. Para que a avaliação de desempenho seja um elemento estratégico, capaz de auxiliar as organizações a atingir seus resultados, é indispensável que as avaliações sejam aplicadas de forma assertiva, evitando-se, assim, os prin- cipais erros destacados. Outro ponto importante em relação às avaliações A importância da gestão de recursos humanos II 3 é compreender como funciona cada um dos principais modelos de avaliação de desempenho — que serão apresentados ao longo deste capítulo. Tipos de avaliação de desempenho Há diversos métodos de avaliação de desempenho, que possibilitam mensurar o resultado da performance dos colaboradores de diferentes maneiras. Não há um melhor modelo de avaliação, e sim aquele mais adequado à realidade e às necessidades organizacionais. Segundo Marras e Marras Neto (2012, p. 140), “[...] dentre os diversos métodos existentes para avaliar o desempenho humano nas organizações, destacam-se os seguintes: incidentes críticos, comparativo, escolha forçada, 360° e escalas gráficas”. Cada um desses tipos de avaliação apresenta distintas características e formas de aplicação, como se pode observar no Quadro 1. Quadro 1. Tipos de avaliação de desempenho Modelo de avaliação Descrição do modelo Metodologia de aplicação Incidentes críticos Esse método permite analisar situações excepcionalmente positivas e negativas em que o colaborador esteve envolvido. Esse método é organizado em três etapas. Na etapa inicial, de preparação, definem-se a temporalidade das situações, o que é um evento crítico e quais incidentes são relevantes. Na etapa seguinte, de recolha de dados, os eventos críticos são recolhidos, por meio de diferentes metodologias, como grupo focal, entrevista ou observação. Por fim, ocorre a etapa em que se analisam as situações críticas e se dá o feedback ao colaborador. (Continua) A importância da gestão de recursos humanos II4 Modelo de avaliação Descrição do modelo Metodologia de aplicação Comparativo Essa técnica de avaliação compara o desempenho dos colaboradores integrantes de uma mesma equipe. A estrutura metodológica desse modelo de avaliação vale-se da comparação do desempenho de pares (dois a dois) de colaboradores, indicando qual deles apresenta o melhor desempenho em cada atividade ou tarefa realizada no setor ou departamento que ambos integram. Escolha forçada Modelo composto por uma sériede frases organizadas, que indicam situações relacionadas ao desempenho do colaborador. O método de escolha forçada permite que o avaliador escolha as frases que têm mais relação com o desempenho do colaborador avaliado. Dessa forma, evitam-se as eventuais generalizações que podem ocorrer no processo de avaliação de desempenho, já que essa avaliação tem foco restrito em especificidades de uma atividade ou função. Avaliação 360° Na avaliação 360°, há uma avaliação mútua entre todos os colaboradores que se relacionam de alguma forma, seja pelos processos de trabalho, seja pelas relações decorrentes da estrutura organizacional. Assim, a avaliação 360° apresenta-se como menos subjetiva, tornando o processo de avaliação, portanto, mais objetivo e com uma maior quantidade de dados, oriundos de diferentes fontes. A configuração metodológica para a aplicação da avaliação 360° permite que chefes e subordinados se avaliem, ao passo que os pares de setor também realizam avaliações simultâneas. Também participam desse processo de avaliação fornecedores e clientes internos e externos. (Continua) (Continuação) A importância da gestão de recursos humanos II 5 Modelo de avaliação Descrição do modelo Metodologia de aplicação Escalas gráficas Esse método permite a definição de diversos critérios de avaliação, para que seja auferido o desempenho de cada colaborador. Há nesse método de avaliação a definição de uma série de critérios, como assiduidade, produtividade, qualidade no atendimento ao cliente, etc. Esses critérios são mensurados em uma escala de 1 a 5 (ou ótimo, bom, regular, ruim e péssimo), a fim de medir desempenhos. Fonte: Adaptado de Marras e Marras Neto (2012). Com o processo de avaliação, é possível observar resultados do desempe- nho dos colaboradores e, assim, obter informações quanto à sua performance, o que servirá como base para se redefinirem comportamentos e estratégias de trabalho. Para Gil (2014, p. 149), a avaliação de desempenho “[...] ajuda a identificar causas do desempenho deficiente e possibilita estabelecer perspectivas com a participação do avaliado”. O Quadro 2 apresenta o instrumento utilizado no modelo de avaliação de escolha forçada, em que há alguns predicados que possibilitam mapear o desempenho do colaborador. Como se pode observar, cada bloco contém três predicados. Em cada um desses blocos, o avaliador deverá escolher apenas um predicado, aquele que melhor representar o desempenho do colaborador, e, então, assinalar “X” na coluna “+”, se o desempenho for positivo, ou na coluna “–”, se o desempenho for negativo. (Continuação) A importância da gestão de recursos humanos II6 Quadro 2. Método de avaliação escolha forçada Avaliação de desempenho Os blocos contendo predicados apresentados a seguir devem ser marcados com um “X” na coluna ao lado. Marque “+” para indicar o predicado que melhor define o despenho do funcionário, e “–” para indicar o predicado que pior define seu desempenho. Todos os blocos devem ser preenchidos. nº + – nº + – Tem produção elevada Tem dificuldade em lidar com pessoas Tem comportamento dinâmico Tem iniciativa É muito sociável Não gosta de pedir ajuda nº + – nº + – Tem espírito de equipe Conhece seu trabalho Não suporta pressão É lento e demorado Aceita críticas construtivas Toma decisões criteriosas Fonte: Adaptado de Chiavenato (2008). Outro modelo de avaliação citado é o modelo de escalas gráficas, que mensura em uma escala de pontuação ou de conceitos o desempenho de colaboradores, conforme comportamentos e atitudes relevantes para as organizações. O Quadro 3 apresenta esse modelo, cuja praticidade permite comparar avaliações de distintos grupos de colaboradores ou, até mesmo, analisar avaliações retroativas, mensurando as oscilações no desempenho de cada colaborador. A importância da gestão de recursos humanos II 7 Q ua dr o 3. M ét od o de a va lia çã o de e sc al as g rá fic as Ó ti m o (s em pr e ul tr ap as sa os p ad rõ es ) Bo m (à s ve ze s ul tr ap as sa os p ad rõ es ) Re gu la r (s at is fa z os pa dr õe s) Ru im (e ve nt ua lm en te fi ca ab ai xo d os p ad rõ es ) Pé ss im o (s em pr e ou q ua se se m pr e fi ca a ba ix o do s pa dr õe s) Pr od uç ão (q ua nt id ad e de tr ab al ho p ro du zi do ) Q ua lid ad e (e sm er o no tr ab al ho ) Co nh ec im en to d o tr ab al ho (p er íc ia n o tr ab al ho ) Co op er aç ão (r el ac io na m en to in te rp es so al ) Fo nt e: A da pt ad o de C hi av en at o (2 00 8) . A importância da gestão de recursos humanos II8 A avaliação de desempenho é um instrumento de grande relevância no contexto empresarial e subsidia os gestores de recursos humanos para que possam alinhar as políticas de RH às estratégias organizacionais, remodelando processo, orientando comportamentos e inclusive construindo políticas de remuneração de colaboradores conforme os desempenho avaliados. Programas de remuneração e benefícios Como já destacado neste capítulo, o contexto contemporâneo da gestão de recursos humanos marca a fase estratégica de gestão de pessoas. Nessa perspectiva, as atividades de recursos humanos são divididas em distintos subsistemas. Um desses subsistemas é o sistema de manutenção, que obje- tiva formular estratégias para definir as recompensas que visam a motivar e manter os talentos nas empresas. A recompensa, de acordo com Câmara (2000, p. 45), consiste no “[...] conjunto de instrumentos coerentes e alinhados com a estratégia da empresa, de natureza material e imaterial, que constituem a contrapartida da contribuição prestada pelo empregador aos resultados do negócio”. As recompensas concedidas aos colaboradores nem sempre têm caráter financeiro, podendo ser classificadas como remunerações ou benefícios. Para o profissional de recursos humanos, é indispensável diferenciar os tipos de remuneração e benefícios, bem como reconhecer a importância de cada um desses tipos de recompensas, utilizando-os de maneira estratégica como forma de manter o engajamento e a motivação das equipes de trabalho. Classificação dos tipos de remuneração Em relação ao sistema de remuneração, é necessário salientar seu caráter estratégico. Ele é, como frisa Chiavenato (2014, p. 70), “[...] subordinado aos objetivos e à cultura da organização. Deve, portanto, ser instrumento de apoio às políticas gerais dos recursos humanos que buscam colaborar com o sucesso do empreendimento”. Sendo assim, é possível destacar diferentes estratégias de remuneração, classificadas em fixas e variáveis. A remuneração fixa está relacionada aos valores pagos conforme o es- tabelecido para uma determinada função. Ela é “[...] aquela definida por contrato e representada por salário-base de uma pessoa. É o que se paga para um determinado cargo na estrutura organizacional” (FRANCO, 2012, p. 136). É um exemplo de remuneração fixa a remuneração paga por horas ou dias trabalhados. A importância da gestão de recursos humanos II 9 Já a remuneração variável está relacionada ao alcance de metas pré- -estabelecidas pelas organizações e tem relação com o desempenho e a produtividade. Araújo (2006, p. 74) afirma que “[...] a remuneração variável tem como foco principal as pessoas, no sentido de recompensá-las por suas habilidades, competência e resultados proporcionados à organização”. Nesse sentido, a remuneração variável, ao contrário da remuneração fixa, não tem foco no cargo, mas, sim, no colaborador e no seu desempenho individual. Embora a remuneração variável possa ter caráter individual, incentivando colaboradores a atingirem metas de forma conjunta, esse tipo de remuneração pode ser usado como plano de incentivo coletivo, estimulando equipes ou departamentos a atingirem metas propostas. Chiavenato (2015, p. 96) concordacom esse entendimento ao afirmar que, em geral, a remuneração flexível “[...] tem caráter seletivo (para alguns funcionários e executivos) e depende dos resultados alcançados pela empresa — seja na área, no departamento ou no cargo — em determinado período, por meio do trabalho da equipe ou do trabalho isolado”. São exemplos de remuneração variável as bonificações, como a participação nos lucros ou resultados, as comissões, as premiações e as gratificações. Como opção estratégica de gestão de pessoas, as empresas podem es- truturar políticas de mix de remuneração. Essa opção possibilita entrelaçar as remunerações fixa e variável, dando segurança aos colaboradores, com valores pagos a título de remuneração fixa, e integralizando os valores pagos a título de remuneração variável, o que incentiva a produtividade. Planos de benefícios Outro tipo de recompensa concedida aos trabalhadores são os benefícios, que têm caráter complementar à remuneração e podem ser compulsórios ou opcionais. São exemplos de benefícios opcionais o vale-alimentação, o seguro de vida, o vale-refeição, entre outros. Os benefícios obrigatórios, por sua vez, são aqueles definidos por legislação — no caso, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) —, como o são, por exemplo, o vale-transporte, o 13º salário, as horas extras, entre outros. A importância da gestão de recursos humanos II10 Os programas de benefícios possibilitam às empresas contratar e reter talentos, sendo essa uma estratégia que permite às corpo- rações manter suas equipes de colaboradores engajadas e fiéis. A seguir são apresentados os principais benefícios utilizados pelas empresas para manter seus talentos, principalmente após a pandemia de covid-19 (XERPAY, 2020). � Investimento na carreira dos colaboradores, apostando na formação profis- sional destes e em cursos para capacitar os times. � Oferecimento de horários flexíveis, permitindo maior autonomia e aumen- tando a produtividade, devido ao aumento de satisfação do colaborador. � Criação de benefícios para a saúde mental, uma tendência que cresce com o retorno às atividades presenciais à medida que os impactos da pandemia vão se tornando mais brandos e deve estar no radar das empresas. � Flexibilidade de pagamentos, já que, diante da atual crise econômica, ter maior autonomia e flexibilidade para, no momento em que for necessário, sacar o salário disponível é um grande atrativo para talentos, contribuindo para que os colaboradores não precisem lidar com estresse financeiro em um momento tão difícil. � Aumento da responsabilidades social, dando atenção a pautas sociais im- portantes, como, por exemplo, racismo, machismo e questões climáticas. Os benefícios podem ser usados como estratégia para reter talentos e aumentar a produtividade das equipes de colaboradores, além de contri- buírem para a melhoria no clima organizacional das empresas. As políticas de remuneração e benefícios são fruto dos processos de modernização das empresas. Contudo, cabe salientar que os sindicatos, a luta sindical e as mudanças históricas em relação à legislação trabalhista tiveram impacto sobre as políticas de remuneração e as formas como os recursos humanos são gerenciados nas organizações. Sindicatos, legislação trabalhista e gestão de recursos humanos As relações entre colaboradores e empresas eventualmente têm pontos de tensão. Nessas situações, os sindicatos se apresentam para intermediar negociações sindicais, prestar assistência aos colaboradores em situações de discordância entre empregados e empregadores e representar os funcionários sempre que necessário. A importância da gestão de recursos humanos II 11 Mudanças históricas sindicais e gestão de pessoas A gestão de recursos humanos atravessou uma série de transformações históricas. Nas fases contábil e legal, a gestão de pessoas tinha como ob- jetivo apenas atender a exigências legais, sendo um marco dessas fases no Brasil a CLT. A fase tecnicista, por sua vez, estava fortemente imbricada com a aceleração no processo industrial brasileiro e teve como marca o controle de pessoas visando ao aumento da produtividade. Já na fase administrativa, surge o profissional de recursos humanos com preocupações que extrapolam aspectos técnicos, legais e produtivos — responsabilidades como contratação, seleção e gerenciamento de cargos e salários despontam como indispensáveis na gestão de pessoas. Importa salientar que, nessa fase, a gestão de recursos humanos ganha o status de garantidor de melhores condições aos colaborado- res, em relação tanto às condições de trabalho quanto às questões salariais. Por fim, na fase estratégica, isto é, no contexto contemporâneo da gestão de pessoas, o gerenciamento de pessoal passa a ser visto como elemento indispensável nas empresas; os funcionários são vistos como parceiros das organizações e elo fundamental para a busca da inovação e competitividade (CHIAVENTO, 2015; MARRAS, 2016). A partir da organização sindical e das reivindicações que dela emergiram, foi possível materializar uma série de exigências feitas pela classe trabalha- dora. Assim, os sindicatos assumem um importante papel na forma como as empresas gerenciam seus colaboradores. Para compreender o contexto atual das relações entre sindicatos e gestão de pessoas, é necessário retomar como essa relação foi forjada ao longo da história. O governo de Getúlio Vargas na década de 1930 marca uma série de trans- formações no mundo do trabalho. Uma dessas mudanças foi estabelecida pelo Decreto nº 19.482, de 12 de dezembro de 1930 — também conhecido como “Lei de Nacionalização do Trabalho”, ou “Lei dos 2/3” —, que estimulava a contratação de “brasileiros natos” nas empresas nacionais, em detrimento dos imigrantes (BRASIL, 1930). A década de 1930 marca também a regulamentação dos sindicatos no Brasil, que passaram a ser subordinados ao Estado a partir da promulgação da Lei nº 19.770, de 19 de março de 1931. Essa mudança possi- bilitou aos sindicatos assumir uma série de responsabilidades, como pleitear: A importância da gestão de recursos humanos II12 [...] medidas de proteção, auxílios, subvenções, para os seus institutos de assistência e de educação, já existentes ou que se venham a criar; a regularização de horas de trabalho em geral e, em particular, para menores, para mulheres e nas indústrias insalubres; melhoria de salários e sua uniformização em igualdade de condições, para ambos os sexos; fixação de salários mínimos para trabalhadores urbanos e rurais; regulamentação e fiscalização das condições higiênicas do trabalho em fábricas, em oficinas, em casas de comércio, usinas e nos campos; [...] medidas preventivas ou repressivas contra infrações de leis, decretos e regulamentos que prescreverem garantias ou direto às organizações sindicais (BRASIL, 1931, documento on-line). Os anos anteriores a 1930 marcam a fase contábil da gestão de recursos humanos. As mudanças destacadas e a entrada dos sindicatos na legalidade impulsionaram a gestão de recursos humanos para sua fase legalista. Poste- riormente, em 1943, por meio do Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, foi sancionada a CLT, que ressalta a importância dos sindicatos como instrumento de regulação do gerenciamento de pessoal, marcando sobremaneira a fase legalista da gestão de recursos humanos (BRASIL, 1943). A aceleração do processo de industrialização do país — principalmente no governo de Juscelino Kubitschek, com seu plano de metas para o de- senvolvimento nacional — mais uma vez transformou o papel da gestão de recursos humanos, que passa, então, para sua fase tecnicista. Nessa fase, é possível compreender o importante papel fiscalizatório dos sindicatos e sua aproximação com os processos de gestão de recursos humanos, já que passam a ser função do gerenciamento de pessoas tratar dos planos de cargos e salários, zelar pela higiene e pela segurança do trabalhador, entre outros. No período da ditadura militar brasileira,entre os anos 1960 e o início dos anos 1980, os dirigentes sindicais foram duramente perseguidos. Isso se deve ao fato de que o novo regime à época “[...] foi apresentado pelos próprios golpistas como uma medida preventiva contra a implantação de uma suposta ‘República Sindicalista’” (BOITO JR, 2005, p. 273). Com o fim do período ditatorial, o Brasil entrou em um processo de re- democratização. O ano de 1985 marca um novo período do sindicalismo brasileiro, com intensas contestações sindicais, ao passo que a gestão de pessoas caminhava para sua fase estratégica. Por fim, a década de 1990 é marcada pelo avanço neoliberal e por uma série de reestruturações no mundo do trabalho, que consolidam a realidade contemporânea do relacionamento entre sindicalismo e gestão de pessoas nas organizações. A importância da gestão de recursos humanos II 13 Sindicalismo e gestão de pessoas no contexto contemporâneo Entre os anos 1980 e 1990, houve uma mudança de paradigma no processo de acumulação do capital. O fordismo foi substituído pelo toyotismo e pelas estratégias de gestão flexível. Tais mudanças exprimiam uma crise estrutural do capital, em que se destacava a tendência decrescente da taxa de lucro, e, “[...] como resposta à sua própria crise, iniciou-se um processo de reorgani- zação do capital” (ANTUNES, 2003, p. 31). Essa reorganização do capital foi acompanhada pelo avanço neoliberal, que é caracterizado pelo desmantelamento do Estado de bem-estar social e pela desregulamentação das redes de proteção ao trabalhador e da legis- lação trabalhista. Tais mudanças têm como ponto alto no Brasil a reforma trabalhista, ocorrida anos depois, em 2017. Dentre as mudanças ocorridas com essa reforma, é possível destacar o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical, o que enfraqueceu o sindicalismo no país. Após a reforma trabalhista, que extinguiu a contribuição obrigatória, incentivou- -se uma “saudável competição” entre os sindicatos, diante da possibilidade de o trabalhador escolher o sindicato que melhor o “beneficiaria”. Se adotada a “carteira de trabalho verde-amarela”, a competição entre os sindicatos será ainda mais acentuada (MATSUMOTO; TOKUNAGA, 2019, documento on-line). Depois das mudanças, os sindicatos, mesmo enfraquecidos, com uma grande queda no número de sindicalizados nos últimos anos, precisaram reconfigurar sua atuação e passaram a ter um importante papel, principal- mente, nos acordos coletivos entre empregadores e empregados — já que, a partir da reforma, “[...] a convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei” (BRASIL, 2017). As alterações em relação à nova legislação trabalhista, especialmente quanto aos aspectos que envolvem os acordos coletivos, são um ponto de atenção nas relações entre os sindicatos e o gerenciamento de pessoas nas empresas. O Quadro 4 apresenta as mudanças na lei no que diz respeito ao acordo coletivo, indicando o que é passível de acordo e quais são as vedações legais na nova legislação. A importância da gestão de recursos humanos II14 Quadro 4. Mudanças legais após a reforma trabalhista Passíveis de acordo Vedações � Pactos em relação a jornada de trabalho � Regulações sobre o banco de horas � Plano de cargos e salários � Representante dos trabalhadores no local de trabalho � Teletrabalho � Remuneração por produtividade � Enquadramento do grau de insalubridade � Licença maternidade e paternidade � Valores depositados a título de FGTS � Remuneração do trabalho noturno superior ao diurno � DSR � Gozo de férias remuneradas anuais � Aviso prévio proporcional � Medidas de proteção ao trabalho da criança e do adolescente Fonte: Adaptado de Brasil (2017) e Vizeu (2021). Neste capítulo, você pôde compreender a importância dos sindicatos e conhecer as relações existentes entre o sindicalismo e a gestão de pessoas. Além disso, abordamos a avaliação de desempenho e os distintos tipos de recompensa aos colaboradores, descrevendo como tais elementos podem ser utilizados como recursos para a gestão estratégica de recursos humanos. 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