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4 A Psicologia Cognitiva de Bruner

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A Psicologia Cognitiva de Bruner
	A Psicologia Cognitiva de Bruner estuda os processos mentais superiores: percepção, formação de conceitos, memória, linguagem, pensamento, solução de problemas, tomada de decisões. Ele realiza suas pesquisas com seres humanos por meio de processos mentais (input e output).
	A metáfora principal da Psicologia Cognitiva de Bruner é o processamento da informação (PI), baseada na linguagem do computador, ou seja, como o input é modificado. Como característica ele pressupõe a representação mental e processamento da informação. Sua teoria da aprendizagem vai além da informação dada, ele compara o desenvolvimento de uma criança com a evolução da raça humana.
	A evolução da representação mental se dá por meio das invenções e evolução mental destacada por 3 ondas de invenções com 3 funções:
1. A capacidade motora (objetos simples e suas combinações).
2. Ampliação dos sentidos.
3. Raciocínio (tecnologias).
	Contudo, a evolução da representação em crianças ocorre em 3 formas para representar experiências sensoriais e o pensamento, que se desenvolvem sequencialmente, porém não se substituem, conforme descritas a seguir:
1. Representação enativa (músculos).
2. A icônica (imagem) – ampliação dos sentidos.
3. A simbólica (símbolo arbitrário) – capacidades intelectuais.
	Segundo Bruner, a representação e teoria cognitiva é “um tipo muito especial de um kit de ferramentas comunitário cujas peças, uma vez usadas, fazem de seu usuário um reflexo da comunidade”.
Teoria da Representação de Bruner
	Uma das suas preocupações era compreender como as pessoas constroem e utilizam as representações, pois toda atividade humana cognitiva envolve categorias. Nesta perspectiva, o que é uma categoria na ótica de Bruner?
	É um conceito (representa coisas relacionadas entre si) e um percepto (algo físico apreendido pelos sentidos). Assim ele define categorias como se fosse uma regra. Categorizar seria, então, uma coleção de regras para classificar coisas, tornando-as equivalentes e como características dos objetos são os atributos que podem ser criteriais (que definem o objeto) ou irrelevantes (que não definem o objeto).
	Desta forma, as regras para categorização são aquelas que são necessárias a fim de especificar um objeto para incluí-lo numa categoria. Bruner aponta 4 elementos aos quais o objeto deve reagir com o intuito de ser categorizado:
1. São definidos por atributos criteriais.
2. Indicam como devem ser combinados.
3. Atribuem peso a diversas propriedades (essencial).
4. Estabelecem limites de aceitação para os atributos.
5. A interação com o ambiente por meio de categorias permite tratar eventos ou objetos diferentes como se fossem equivalentes.
	Em suma, as pessoas interagem com o meio por sistemas de classificação (categorias) os quais permitem tratar os diferentes objetos (eventos) como se fossem equivalentes.
Tomada de decisão
	Assim como a informação, a tomada de decisão se processa por meio da categorização, pois se trata de um processamento de informação que envolve a categorização: identificação do objeto, seleção de estratégias, como reagir ao objeto, aquisição de conceitos.
	Para Bruner, os sistemas de codificação são combinações hierarquizadas de categorias relacionadas entre si – a categoria do topo é mais genérica (geral) do que as categorias que se encontram abaixo.
	A aquisição de conceitos, nesta perspectiva, ocorre da seguinte forma:
1. Formação do conceito (até 15 anos) – aprende que há diferentes classes específicas.
2. Aquisição do conceito (após 15 anos) – descobre quaisquer atributos úteis para distinguir membros de não-membros de uma classe.
	Bruner, então, distingue 3 tipos de conceito baseados nos atributos criteriais, relacionados a seguir:
· Conjuntivo – é aquele que possui 2 ou mais valores do atributo.
· Disjuntivo – onde há a presença de 2 ou mais atributos relevantes ou qualquer atributo relevante
· Relacional – que se trata da relação especificada entre valores dos atributos.
	Todavia, há que se ter estratégias para a aquisição de conceitos as quais garantem que os conceitos sejam adquiridos rápida e adequadamente, a fim de reduzir o esforço cognitivo. São padrões para determinação de quais objetos pertencem a tal classe. Conforme descritas abaixo:
a) Estratégias para aquisição de conceitos conjuntivos:
· Esquadrinhamento simultâneo – levanta todas as hipóteses possíveis (inviável).
· Esquadrinhamento sucessivo – abordagem simples, de tentativa e erro (sorte).
· Focalização conservadora – inicia aceitando a primeira hipótese completa (atributo modificado é irrelevante).
· Arriscar o foco – arrisca, alterando mais de um valor ao mesmo tempo (solução rápida, pode não aprender).
b) Estratégias de obtenção de conceitos na vida real (as aquisições de conceitos são difíceis de transpor as situações da vida real):
· Não são dados exemplos para que se possa selecionar experiências.
· Empregou adultos, porém os problemas mostrados às crianças nem sempre resultaram nas mesmas estratégias.
· Mesmo os adultos usaram estratégias não identificáveis.
· Parte deste estudo pode estar relacionado a vários aspectos do comportamento humano.
	Em pesquisas mais recentes sobre a aquisição de conceitos, destacam-se os estudos de Mervis e Rosch (1981) para eles “uma categoria existe sempre que um ou mais objetos ou eventos diferentes são tratados de modo equivalente”; e, segundo Markman e Gentner (2001) “uma vez estabelecidas as categorias as pessoas podem usá-las para inferir atributos numa situação nova”, porém Bruner já previa a descrição das categorias e dos processos envolvidos na categorização na pesquisa cognitiva há um quarto de século atrás.
	As tendências desenvolvimentistas na aprendizagem de conceitos apontam que as crianças começam a aprender conceitos de generalização intermediária, para em seguida os mais específicos e, depois, os mais abrangentes. Nessa perspectiva, por exemplo, elas aprendem primeiro o conceito cachorro, para em seguida o conceito pastor alemão, depois que há outros conceitos como poodle, a seguir o conceito mamífero, para, ao final, adquirir o conceito de cachorro mamífero.
	As categorias possuem limites imprecisos para a interpretação do input de estímulos. Itens ou eventos incluídos numa mesma categoria não são todos equivalentes, tais como: o que é ser cor azul, parâmetros de ser gordo ou magro, dentre outros.
	Tanto a aprendizagem quanto a formação das categorias envolvem mudanças no cérebro, ou seja, aprendizagem é representada em uma ou mais áreas do cérebro: categorias sensoriais na parte do córtex (lobo parietal) e as categorias mais abstratas (processos mentais superiores) nos lobos frontais. Trata-se da neurobiologia das categorias.
	Entretanto, a percepção física dos objetos não é suficiente para reconhecer a que categoria o objeto se insere (conceitos de gordura ou magreza, por exemplo), todavia tais conceitos implicam a emparelhar as sensações com as categorias adequadas, pois tais situações precisam da presença da abstração para sua categorização. Desta forma, há abstração em todos os modelos de categorização, que se dividem em:
· Modelo prototípico ou generalizado (noção geral dos atributos mais típicos ou representativos do conceito) – nível maior de abstração.
· Modelos exemplares (exemplos específicos que foram experienciados).
	Ambos os modelos estão envolvidos na aprendizagem de conceitos. Diferente do behaviorismo, as teorias cognitivas de Bruner são mais abstratas, por meio de metáforas, de uma abstração do que representa, do que simboliza: “Não queríamos “reformar” o behaviorismo, mas substituí-lo [...] um esforço total para implantar o significado como o conceito principal da Psicologia” (Bruner, 1990).
	Suas teorias são úteis para esclarecer os processos mentais mais complexos, tais como tomada de decisão e uso de estratégias cognitivas. Implicações educacionais na sua teoria são heuríticas (arte de inventar, de fazer descobertas), pois abrem a possibilidade de novas pesquisas e debates gerando novas descobertase práticas.
	A aprendizagem por descoberta utiliza “técnicas” que encorajam crianças a descobrir fatos e relações por si próprias. Propõe currículo em espiral. Assim, há o diálogo de Bruner com o construtivismo e vice-versa, na medida em que o estudante constrói o conhecimento por si próprio, por meio da construção de significados.
	Sua maior contribuição foi a revolução cognitiva, pois descola a ênfase da construção do significado para o processamento de informação cuja metáfora é o computador e a próxima revolução cognitiva que procura compreender como as pessoas constroem significado, na qual lidará com a singularidade da pessoa. O self no contexto cultural.
	“O estudo apropriado do homem é o homem […] não há nenhuma explicação do homem a menos que seja interpretada à luz do mundo simbólico que constitui a cultura humana” (Bruner, 1990).

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