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Hachuras e Gradientes


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PROJETO 2D 
AUXILIADO POR 
COMPUTADOR
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Definir hachuras e seu papel no desenho auxiliado por computador.
 > Reconhecer diferentes tipos de hachura e respectivas possibilidades de 
aplicação.
 > Explicar os limites para a aplicação de hachuras.
Introdução
A principal base do desenho arquitetônico é a linha. Por meio de um conjunto de 
linhas, é possível transmitir informações arquitetônicas referentes, por exemplo, 
a um espaço volumétrico, a elementos planos, sólidos e vazios, e à profundidade 
da edificação representada. Ainda que os desenhos que somente contenham 
linhas possam transmitir muitas informações, eles representam “apenas imagens 
abstratas da realidade e retratam basicamente um mundo apenas delineado, 
sem luz” (CHING, 2017, p. 102). De fato, nos desenhos de contorno, tudo aquilo 
que não é essencial deve ser eliminado, enfatizando-se as linhas que ilustram 
as mudanças de forma.
Além das linhas de contorno, podem ser adicionados valores tonais ao desenho, 
de forma a transmitir mais informações acerca do objeto. Assim, ao utilizarmos tons 
e representações de materiais (hachuras e gradientes), conseguimos comunicar 
as qualidades da forma e do espaço representado. Tanto em desenho à mão livre 
quanto em desenho auxiliado por computador, é possível adicionar valor tonal 
aos desenhos arquitetônicos, sejam eles plantas baixas, cortes, elevações ou 
perspectivas.
Hachuras e 
gradientes
Jana Cândida Castro dos Santos
Neste capítulo, você verá a definição de hachuras e seus diferentes tipos. 
Será destacado seu papel no desenho auxiliado por computador e explicitadas 
as respectivas possibilidades de aplicação e seus limites.
Valores tonais em desenho arquitetônico
As linhas são essenciais para delinear contornos e formatos, possibilitando 
representar os elementos de forma bi e tridimensional. No entanto, ainda 
que as linhas sejam essenciais para a construção dos desenhos em arquite-
tura, há características de luz, textura, volume e espaço que não conseguem 
ser descritas apenas com linhas. Para modelar as superfícies de formas e 
transmitir uma noção de luz, é preciso da representação de tonalidades e 
texturas, chamadas de hachuras (CHING, 2017).
A visão humana advém do estímulo das células nervosas na retina do 
olho, assinalando padrões de intensidade de luz e cor. Nosso sistema visual 
processa esses padrões de claro e escuro e extrai características específicas 
do ambiente, como arestas, contornos, tamanho, movimento e cor (CHING, 
2017). Desse modo, para que haja a percepção dos objetos, é essencial haver 
padrões de claro e escuro. No desenho, é fundamental a criação de contrastes 
para representar luz, forma e espaço (Figura 1). 
Figura 1. Tonalidades e texturas: a importância do contraste para representar luz, forma e espaço.
Fonte: Ching (2017, p. 148).
Hachuras e gradientes2
Para Ching (2017), o uso de tonalidades e texturas permite:
 � descrever como a luz revela a forma dos objetos;
 � evidenciar os arranjos de formas no espaço;
 � representar a cor e textura das superfícies.
Valores tonais em desenhos de computador
Em desenhos auxiliados por computador, sejam desenhos bi ou tridimensio-
nais, é possível criar e aplicar texturas visuais, inclusive a partir da utilização 
de tons e gradientes de cinza simples (CHING, 2017). Veja alguns exemplos de 
aplicação de valores tonais nas Figura 2 e 3.
Figura 2. Técnicas de linhas e tons para modelar as formas.
Fonte: Ching (2017, p. 154).
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Na Figura 3, utiliza-se um tom puro, selecionando e arranjando os valores 
tonais para a construção da tridimensionalidade das formas.
Figura 3. Exemplo de um desenho com tom puro que se baseia, principalmente, na seleção e 
no arranjo de valores tonais para modelar a tridimensionalidade das formas.
Fonte: Ching (2017, p. 155).
Seja com o auxílio do computador, seja em desenhos feitos no papel, 
podem ser criadas texturas e sombras, agregando diferentes valores tonais 
ao desenho. Pelo uso de hachuras (Figura 4), pode-se aumentar o contraste 
entre claro e escuro, representar os diferentes tipos de materiais e, com isso, 
adicionar mais camadas de informações ao desenho.
Hachuras e gradientes4
Figura 4. Exemplos de hachuras.
Fonte: Ching (2017, p. 157).
O termo textura geralmente é empregado para referir a relativa 
rugosidade ou suavidade de uma superfície. Também pode ser uti-
lizado para descrever as qualidades características de materiais familiares, 
como pedra, madeira e trama de tecidos. Segundo Ching (2017), quando são 
utilizadas as hachuras paralelas para criar determinado tom, automaticamente 
se cria uma textura. Porém, quando se representa a natureza dos materiais com 
linhas, também estão sendo criados tons.
Hachuras e gradientes 5
Por fim, é importante destacar que você sempre deve se atentar para a 
relação entre valor tonal e textura, seja ela rugosa ou lisa, pronunciada ou 
suave, fosca ou polida. Na maior parte dos casos, o valor acaba tornando-se 
mais importante em vista das texturas no momento de representar luz e 
sombra, sobretudo pela forma como modela as formas no espaço (CHING, 2017).
Hachuras e suas possibilidade de aplicação
Os valores tonais, ou hachuras, podem ser utilizados para melhorar a definição 
de profundidade e de foco nos diversos tipos de desenhos arquitetônicos, 
como você pode verificar nos exemplos a seguir.
Plantas de localização ou situação
Nesse tipo de desenho, o principal objetivo da utilização dos valores tonais 
é definir a forma da edificação em relação ao contexto, intensificando o 
contraste entre a forma edificada e o espaço no entorno (CHING, 2017). Veja 
um exemplo na Figura 5.
Figura 5. Exemplo de planta de localização.
Fonte: Ching (2017, p. 67).
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Plantas baixas
Em plantas baixas, é possível adicionar valor tonal aos diferentes planos re-
presentados por meio da utilização de hachuras (que estabelecem o contraste 
entre cheios e vazios) e da escolha de padrões que representem materiais 
de piso e móveis. Ao variar a intensidade desses valores tonais, pode-se 
reforçar a diferença entre níveis de piso e evidenciar os elementos que estão 
situados acima desse plano (CHING, 2017). Assim como nos desenhos à mão 
livre, é importante distinguir cheios de vazios nos desenhos auxiliados por 
computador. Veja a Figura 6.
Figura 6. Exemplos de plantas baixas digitais: distinção entre cheios e vazios.
Fonte: Ching (2017, p. 56).
A
B
C
Hachuras e gradientes 7
Na Figura 6a, é utilizado um único peso de linha. A princípio, é difícil dife-
renciar o que está em corte e o que está em vista. Já na Figura 6b, é possível 
notar um peso maior nos elementos seccionados e um peso menor para 
representar as linhas de superfície. Na Figura 6c, por fim, nota-se a ênfase 
de maneira gráfica no que está sendo cortado. Veja que o uso das hachu-
ras, de hierarquia de linhas e de várias tonalidades confere, aos desenhos 
arquitetônicos, maior contraste e profundidade aos diferentes elementos e 
planos representados, otimizando a leitura de projeto (CHING; ECKLER, 2014).
Uma vantagem dos programas de desenho digitais é a possibilidade de 
criar, sem dificuldades, grandes áreas de valor tonal. Isso pode ser útil quando 
se deseja contrastar uma planta baixa com seu contexto (CHING, 2017), como 
você pode ver no exemplo da Figura 7.
Figura 7. Exemplo de planta baixa digital: grande área de valor tonal permite contrastar a 
planta com seu contexto.
Fonte: Ching (2017, p. 57).
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Cortes
Nos cortes, hachuras e gradientes são utilizados a fim de fornecer contraste 
entre os elementos da edificação e tudo o que é visto em elevação para além 
do corte (CHING, 2017). Desse modo, o valor tonal é empregado para conferir 
uma relação clara entre figura e fundo e cheios e vazios, enfatizando o formato 
dos elementos cortados (Figura 8).
Figura 8. Corte digital: hachuras feitas por computador.
Fonte: Ching (2017, p. 75).Nos cortes, geralmente são hachurados o piso, a parede e a cobertura, ou 
seja, os elementos seccionados. Além disso, são conferidos valores tonais ao 
solo e às fundações, quando representadas. 
A Figura 9 ilustra o uso de um programa de representação gráfica para criar 
cortes. O corte no alto usa um programa de desenho baseado em vetores, 
enquanto o corte inferior emprega uma imagem com quadriculação para 
transmitir o caráter de um terreno, além de servir como fundo contrastante 
para os elementos seccionados (em branco) (CHING, 2017).
Hachuras e gradientes 9
Figura 9. Corte digital: uso de um programa de representação gráfica para criar cortes.
Fonte: Ching (2017, p. 76).
Elevações
Nas elevações, os valores tonais são criados pela representação de materiais, 
texturas e sombra, de modo a evidenciar a sensação de contraste. O valor 
do contraste, nesses desenhos, também é utilizado para evidenciar certos 
elementos, permitindo que uns avancem e que outros retrocedam. De acordo 
com Ching (2017, p. 113), a profundidade em uma elevação geralmente “resultará 
na representação do material e da textura dos elementos frontais” de forma 
mais distinta que os posteriores (Figura 10).
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Figura 10. Elevações: elementos em evidência pelo uso de valores tonais.
Fonte: Ching (2017, p. 54).
Perspectivas
Em desenhos de perspectivas, em que a tridimensionalidade das formas e do 
espaço já é mais evidente do que nos desenhos em planta, corte e elevação, 
os valores tonais podem ser utilizados para a articulação entre os diferentes 
planos verticais e horizontais (CHING, 2017). Segundo Ching (2017, p. 167), 
a partir do uso de valores tonais, é possível “melhorar a sensação de profun-
didade espacial, definir o campo de desenho e criar focos” nos desenhos de 
perspectiva, seja ela interna ou externa. Veja a Figura 11, em que perspectivas 
exteriores usam sistemas de valores semelhantes ao empregado em elevações.
Hachuras e gradientes 11
Figura 11. Perspectivas externas: no desenho de cima, a edificação e o primeiro plano con-
trastam com o fundo, mais escuro. No desenho de baixo, a edificação e o primeiro plano 
são reproduzidos com certo nível de detalhamento a fim de criar contraste com o fundo, 
mais claro e difuso.
Fonte: Ching (2017, p. 168).
Com a utilização de programas de computador, torna-se possível explorar 
diferentes maneiras de representar e controlar a visibilidade e aparência dos 
elementos. Veja um exemplo na Figura 12, em que se trabalha nas perspectivas 
com a transparência. Movendo-se os elementos ou sistemas ao longo de 
linhas axiais, podem ser criadas as vistas expandidas.
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Figura 12. Elevações desenhadas por computador.
Fonte: Ching e Eckler (2014, p. 228).
Note, a partir dos exemplos apresentados nesta seção, que há uma gama 
de possibilidades para o uso de valores tonais e hachuras nos desenhos de 
arquitetura, sejam eles em plantas, cortes, elevações ou mesmo em perspec-
tivas. Valores tonais e hachuras, então, podem ser utilizados para melhorar 
a representação do espaço e dar ênfase aos elementos mais importantes no 
desenho. Além de representarem materiais e mobiliários, as hachuras também 
podem estar presentes nos elementos de paisagismo e demais elementos 
naturais do contexto da edificação ou do espaço representado, aprimorando 
ainda mais os desenhos arquitetônicos.
Hachuras e gradientes 13
Aplicação de hachuras e seus limites
Os computadores são ferramentas que auxiliam na criação de desenhos, pro-
porcionando uma infinidade de experimentações na representação das formas 
e dos espaços tanto em relação ao uso de valores tonais quanto em relação 
ao uso de diferentes hachuras. Porém, para isso, é preciso saber explorar seu 
potencial gráfico. Como destaca Leggitt (2004, p. 15), “os computadores são 
ferramentas maravilhosas e todos deveriam saber usá-las. Ao mesmo tempo, 
precisamos cuidar para não perder de vista a criatividade, a imaginação e 
as habilidades de comunicação visual”. Segundo Ching (2017), deve-se ter em 
mente que o que vemos na tela do computador não necessariamente será o 
mesmo que será impresso e utilizado após sua finalização. Daí a importância 
de discutir sobre as ferramentas digitais e seus limites.
Nos últimos anos, as ferramentas digitais têm se desenvolvido rapidamente. 
Se, no início, era viável gerar, com o auxílio do computador, “perspectivas 
tridimensionais, com linhas ocultas, representação de materiais, sombras 
e fontes de luz” (LEGGITT, 2004, p. 120), nos últimos anos temos assistido 
de perto ao desenvolvimento de animações tridimensionais em tempo real, 
que proporcionam percorrer o interior do projeto, gerando imagens que 
até enganam os olhos. De fato, o computador passou a ser uma ferramenta 
essencial no processo de projeto e representação em arquitetura. Veja, na 
Figura 13, uma maquete de AutoCAD gerada para ilustrar os materiais tanto 
do interior quanto do exterior da edificação.
Figura 13. Maquete eletrônica de interior e exterior empregada como ferramenta de projeto. 
Fonte: Leggitt (2004, p. 120).
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No entanto, ainda que os programas de computador acelerem o processo de 
criação e representação por meio de precisão e agilidade para a definição de 
volumes e edificações, também abrem espaço para a criação de desenhos sem 
personalidade e sem um trabalho cuidadoso com as tonalidades e hachuras, 
delineando um espaço sem identidade. Há, na verdade, uma simplificação 
de elementos importantes para a representação, como pessoas, vegetações, 
sinalização visual, móveis, veículos e iluminação, que “imprimem caráter a uma 
apresentação visual” (LEGGITT, 2004, p. 124). Veja, na Figura 14, um exemplo 
de maquete volumétrica sem qualquer escala e caráter.
Figura 14. Essa maquete volumétrica rapidamente gerada com o programa Form-Z foi cons-
truída para entender o relacionamento entre vários edifícios de escritórios e uma possível 
estação de transporte público.
Fonte: Leggitt (2004, p. 124).
Hachuras e gradientes 15
A mesma maquete pode gerar uma nova representação ao se trabalhar 
com os valores tonais a partir do desenho à mão. Note que, na Figura 14, tem-
-se uma modelagem simplificada das formas e volumes arquitetônicos, sem 
qualquer escala humana e uso de elementos naturais. Na Figura 15, porém, 
há hachuras nos pisos e nas calçadas, vegetação e pessoas com diferentes 
valores tonais, dando vida ao nível da rua (LEGGITT, 2004).
Figura 15. Sobreposição de folha de papel e desenho a partir da maquete eletrônica. 
A imagem produzida por computador foi impressa em uma folha de papel e usada como 
base para esse desenho.
Fonte: Leggitt (2004, p. 124).
As ferramentas digitais consistem em um recurso importante para a repre-
sentação dos espaços e volumes arquitetônicos, de modo que, “aparentemente, 
não há fim para a variedade de opções de programas e para os progressos na 
tecnologia dos computadores” (LEGGITT, 2004, p. 120). No entanto, ainda que 
ofereçam possibilidades sedutoras e facilitadas para o processo projetual, 
é preciso ponderar o nível de abstração e compatibilidade com o estilo de 
representação do contexto desenhado (CHING, 2017). Daí a importância dos 
valores tonais e das hachuras na representação em arquitetura.
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Referências
CHING, F. D. K. Representação gráfica em arquitetura. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2017.
CHING, F. D. K.; ECKLER, J. F. Introdução à arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2014.
LEGGITT, J. Desenho de arquitetura: técnicas e atalhos que usam tecnologia. Porto 
Alegre: Bookman, 2004.
Leituras recomendadas
CHING, F. D. K.; JUROSZEK, S. P. Desenho para arquitetos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 
2012.
DOYLE, M. E. Desenho a cores: técnicas de desenho de projeto para arquitetos, paisa-
gistas e designers de interiores. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2002.
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