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Condenação da Poesia Gongórica

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do texto que realiza a mais rígida condenação da poesia gongórica já 
produzida em Portugal: o Verdadeiro Método de Estudar, de Luís 
Antônio Verney.
Em termos rigorosos, pois, Fênix e Postilhão são projetos 
setecentistas de defesa da pertinência e da relevância do modelo 
poético vigente na Península no século anterior. Isso está 
especialmente claro no poema de abertura de ambas as antologias, o 
pouquíssimo conhecido Introdução Poética, de Antônio dos Reis, 
que mapeia a questão da apropriação da poesia seiscentista no 
século XVIII. Na forma de uma fábula poética, o poema narra a 
convocação de um Congresso de Musas pelo deus Cilênio (Hermes), 
a fim de celebrar o alegre início da Primavera e a vitória do Sol sobre 
os últimos tempos de luto invernal. Apolo, magnífico, preside a 
sessão. Inaugura-a com um elogio do tempo em que reaparecem as 
flores como sendo análogo àquele que novamente renderá honras à 
verdadeira poesia. Esta é entendida então como "fulgores" de 
engenho e de entendimento, que andavam esquecidos ou 
desdenhados nos últimos anos, por conta de contemporâneos que 
confundiam ignorância e discrição, inépcia com propriedade 
elocutiva. 
A oração apolínea precipitava despenhadeiros de lisonja ao 
modelo poético gongórico, quando se viu abruptamente 
interrompida pelo discurso de Momo, filho da Noite, que se 
pretendia afinado com os tempos das Luzes que a sessão 
pretenderia enterrar. Tomado de furor crítico neoclássico, replica 
Momo que a confusão entre ignorância e conhecimento, longe de ser 
recente, é típica de toda a poesia entendida como enfeite ou ornato, 
de que era exemplo e cume a mesma poesia ali celebrada. A 
História, esta sim, era produtora de saber e verdade, e, como tal, 
dava constantes demonstrações das falsidades produzidas pela 
poesia ornamental, que não merecia senão açoite a cada má página 
perpetrada. 
Como é fácil perceber pelos termos empregados, Momo 
argumenta em favor dos modelos setecentistas mais recentes, de 
safra ilustrada, que condenam como supérflua ou frívola — como 
rapaziada e frialdade, nos termos de Verney —, a poesia conceituosa 
do período anterior, que não seria batizada de 'barroca' senão mais 
de dois séculos depois, pela historiografia da arte germânica. Para 
fazer o devido rebate a Momo, que invocara o testemunho da 
História, Antonio dos Reis mobiliza justamente a musa Clio, que 
preside o saber histórico antigo. Esta atribui o discurso do 
adversário das Musas, antes de mais nada, ao ressentimento e à 
inveja. Com uma série de exemplos, mais aludidos e menos 
divertidos do que os levantados pelo deus noturno, Clio defende o 
modelo antigo das armas e letras, cujos heróis estão "as penas coas 
espadas aparando". De dupla filiação paterna, provenientes tanto do 
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