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POLUIÇÃO DOS ECOSSISTEMAS TERRESTRES, AQUÁTICOS E DA ATMOSFERA AULA 5 Profª Kelly Dayane Aguiar 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, analisaremos outras fontes de poluição, como a radiação nuclear, a exploração de minerais, as poluições sonora, térmica, luminosa e visual e suas consequências. Além disso, discutiremos a respeito do saneamento ambiental, as relações entre saúde pública, processos ecossistêmicos e qualidade socioambiental. TEMA 1 – RADIAÇÃO NUCLEAR: FONTES DE RADIAÇÃO E SEUS EFEITOS Para compreender o processo de radiação, há necessidade de evidenciar alguns princípios básicos. Toda matéria é composta por moléculas, as quais, por sua vez, são agrupamentos de átomos que possuem elétrons em movimento ao redor do núcleo. Assim, em virtude do movimento dos elétrons, todos os corpos emitem energia eletromagnética, que variam entre frequência e comprimento de onda. Essas ondas são também conhecidas como radiação. A radiação pode ter origem em fontes naturais, como a radiação solar (figura1) ou por dispositivos construídos pelo homem, como o telefone celular, o forno micro-ondas e o aparelho de raio X. Figura 1 – radiação ultravioleta do Sol ao longo das camadas da atmosfera da Terra Fonte: <http://www.hsdbrasil.com/images/ilustracao.jpg>. 3 Quanto maior a frequência de onda, maior a intensidade energética, portanto, maior o potencial de quebra de ligações atômicas, ou seja, maior a capacidade de a radiação ser ionizante, podendo, inclusive, interferir nas células dos seres vivos, causando o câncer. Esse processo de ionização ocorre a partir da radiação ultravioleta e exerce papel importante na Medicina, em radiodiagnósticos e radioterapias, como é apresentado na figura 2 (Townsend; Begon; Harper, 2006; Derísio, 2012). Figura 2 – Espectro eletromagnético e suas principais aplicações Fonte: <http://labcisco.blogspot.com.br/2013/03/o-espectro-eletromagnetico-na-natureza.html>. A busca por fontes alternativas de energia levou o ser humano a explorar a energia da fissão nuclear, como as advindas de materiais nucleares – urânio e o plutônio, por exemplo. Entretanto, embora no passado fosse considerada fonte renovável e de baixo risco, com o passar do tempo, os vazamentos em reatores nucleares começaram a se tornar frequentes e o prejuízo aos ecossistemas ficou evidente, quando o lixo nuclear passou a ser um problema socioambiental devido ao maior tempo de exposição a essa poluição (Townsend; Begon; Harper, 2006; Derísio, 2012). A era atômica, a partir da Segunda Guerra Mundial, foi responsável pela liberação de grande quantidade de resíduos radioativos, que se disseminaram por diversas regiões da Terra pelas correntes de ar, atingiram o solo, a água e, por meio das cadeias alimentares, acumularam-se nos seres vivos, causando doenças e malformações (Kluczkovski, 2015). 4 Saiba mais Aprofunde seus conhecimentos a respeito da legislação ambiental brasileira referente à radiação, disponível em seu livro-base (Kluczkovski, 2015), entre as páginas 190 e 193 TEMA 2 – MINERAÇÃO E EXPLORAÇÃO DE PEDREIRAS Muitas espécies são responsáveis pela transformação de seus habitats para construir abrigos e procurar recursos. Entretanto, a engenharia humana superou essa capacidade e, em virtude da agricultura, da construção e da exploração de minerais, transformou paisagens, alterando as características físicas dos ambientes. Os primeiros metais a serem utilizados pelos seres humanos – ouro, cobre e prata – datam do final da Idade da Pedra, 6 500 anos atrás e, em função da facilidade de extração e de manipulação, foram os primeiros usados nas indústrias de mineração. Esse processo apresenta várias fases e pode ser responsável pela contaminação do ambiente. Os solos tornam-se estéreis e tóxicos, com minerais e metais expostos, gerando grandes quantidades de resíduos, os quais ainda podem ser lixiviados para os rios, lagos e oceanos. Saiba mais Para conhecer a legislação que trata da mineração, acesse o site: <https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/70325/665149.pdf?seque nce=2>, em que se apresentam as mudanças nas leis em função do tempo. O descarte dos resíduos eletrônicos que levam metais em sua composição é outro problema ambiental. Entretanto, com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, analisada na aula 2, a logística reversa trouxe uma nova dinâmica para a separação e o destino desses resíduos especiais. TEMA 3 – POLUIÇÃO SONORA E TÉRMICA A industrialização, o desenvolvimento tecnológico, a urbanização e o consumismo, fatores que acompanham o capitalismo, proporcionaram um incremento de acesso a aparelhos eletroeletrônicos e a veículos que, somados, 5 geram uma exposição elevada aos ruídos (Derísio, 2012), conforme mostrado na figura 3. Em virtude disso, a poluição sonora, que considera o grau de ruídos produzidos principalmente nos grandes centros urbanos, tem se tornado questão de saúde pública. Figura 3 – Níveis de ruídos em relação à tolerância humana Fonte: <http://www.ambientelegal.com.br/poluicao-sonora-mata-primeira-parte/>. O aumento no nível de ruído também interfere nos ecossistemas naturais, pois diminui a biodiversidade, alterando a dinâmica dos organismos que podem utilizar o som para se localizar, buscar abrigo, encontrar alimento, fugir de potenciais predadores e realizar a comunicação entre indivíduos e até mesmo populações. Diversas legislações ambientais brasileiras versam a respeito da questão da poluição sonora. As ações do Conama, a lei presente no Código de Trânsito Brasileiro e o Programa Nacional de Educação e Controle da Poluição Sonora, chamado de Programa Silêncio, do Ibama, são alguns exemplos. Todos atuam para minimizar o impacto da poluição sonora no bem-estar social. A poluição térmica, por sua vez, está relacionada, sobretudo, à poluição do ar – que aumenta o efeito estufa, principalmente nas grandes cidades – percebida pelas “ilhas de calor”, as quais geram desconforto térmico em 6 consequência do aumento da temperatura e da concentração de poluentes na atmosfera. A poluição térmica também incide sobre o ambiente aquático, uma vez que indústrias e usinas termoelétricas descartam águas aquecidas provenientes dos processos de refrigeração. O gradiente térmico gerado altera a solubilidade dos gases e resulta na diminuição da disponibilidade de oxigênio na água, influenciando a vida nos ecossistemas aquáticos e potencializando a ação dos demais poluentes (Kluczkovski, 2015). Saiba mais Você pode consultar informações a respeito da poluição sonora em seu livro- base (Kluczkovski, 2015), nas páginas 157-159, e da poluição térmica, nas páginas 160-162. TEMA 4 – POLUIÇÃO LUMINOSA E VISUAL A poluição luminosa corresponde à iluminação excessiva que pode ser responsável por prejuízos na qualidade socioambiental e por dificultar as pesquisas astronômicas. O brilho alaranjado no céu das cidades, o ofuscamento que causa cegueira momentânea e a luz intrusa, que mantém luminosidade mesmo à noite, invadindo os ambientes, além de impossibilitarem a visualização das estrelas no céu e o sono de qualidade, aumentam o gasto energético e incidem sobre questões de segurança (Dominici e Gargaglioni, S.d.). De acordo com os autores, a iluminação pode atrapalhar a orientação, o hábito noturno, a migração, o ciclo de vida e os períodos de reprodução de algumas espécies, comprometendo os processos ecossistêmicos naturais. Além disso, segundo Dominici e Gargaglioni (S.d.), o descarte de lâmpadas que utilizam materiais potencialmente contaminantes, como o mercúrio e o chumbo, também são fontes de poluição. A poluição luminosa também pode afetar a saúde humana, com incidência de doenças, como insônia, estressee outros agravantes da dinâmica social. Ainda para os autores, é possível, inclusive, analisar o gasto público com iluminação desperdiçada para iluminar o céu, com o objetivo de adequar a iluminação à direção e ao local correto. A poluição visual retrata o acúmulo de informações disponíveis em outdoors, fachadas, cartazes, letreiros luminosos e outros meios de publicidade 7 que buscam destacar o produto ou a imagem, causando desconforto visual, aumento de estresse, confusão no trânsito pela distração excessiva e até alteração no sono (Kluczkovski, 2015). Compete aos municípios legislarem sobre esse tipo de poluição, uma vez que não há um conceito clássico de poluição nesse caso e, para o governo brasileiro, a poluição visual enquadra-se na ocupação do solo urbano, já contemplado nas definições de poluição expressas pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981 (Pereira-Júnior, 2002). TEMA 5 – SAÚDE PÚBLICA E QUALIDADE AMBIENTAL Atualmente, observa-se uma estreita relação entre os fatores ambientais e a saúde pública, que estabelece parâmetros aceitáveis para poluição ambiental, ponderando tanto a preservação dos ecossistemas quanto os riscos para a saúde coletiva (Soares; Bernardes; Cordeiro Netto, 2002; Ribeiro, 2004). Nesse contexto, a epidemiologia ambiental objetiva identificar quais elementos do ambiente podem prejudicar a saúde pública e compreender o ciclo das doenças, desde a veiculação nos ecossistemas até os seres vivos vulneráveis. Também envolve de forma multidisciplinar as questões sociais, educacionais, econômicas e políticas. Assim, o gestor ambiental também necessita conhecer as doenças veiculadas pelo ar, pela água, pelos seres vivos e aquelas relacionadas diretamente à poluição para atuar preventivamente, principalmente nas endemias1 e epidemias2 (Barsano; Barbosa; Viana, 2014). A compreensão da inter-relação entre saúde coletiva e qualidade ambiental revela-se um pressuposto fundamental para o planejamento dos sistemas de saneamento em centros urbanos, de modo a privilegiar os impactos positivos sobre a saúde pública e sobre o meio ambiente (Soares; Bernardes; Cordeiro Netto, 2002; Barsano; Barbosa; Viana, 2014). A Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007, estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e considera como saneamento básico o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de 1 Endemia é a prevalência de determinada doença ou agente infeccioso em uma determinada área geográfica (Barsano; Barbosa; Viana, 2014). 2 Epidemia é a ocorrência transitória de casos de uma doença, em um número superior ao esperado, em uma determinada localidade (Barsano; Barbosa; Viana, 2014). 8 abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo das águas pluviais, limpeza e fiscalização preventiva das redes urbanas, que garanta a manutenção dos serviços visando à equidade e à universalidade. O conceito de saneamento compreende os sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário, a coleta e a destinação de resíduos sólidos, a drenagem de águas pluviais, o controle de vetores (causadores de zoonoses, como roedores, pombos, insetos), o controle da poluição ambiental, o saneamento de alimentos, o saneamento dos ambientes e aquele aplicado ao planejamento territorial (Barsano; Barbosa; Viana, 2014). Além do saneamento, um exemplo da influência da poluição na saúde populacional é a exposição à poluição atmosférica, que contribui para o aumento da mortalidade e da morbidade, principalmente por doenças respiratórias e cardiovasculares. Atua, inclusive, como fator de risco para outros problemas, como o baixo peso ao nascer, a incidência e a mortalidade por câncer, partos prematuros e anemia falciforme (Dapper; Spohr; Zanini, 2016). Considerando a sustentabilidade, há necessidade de avanços nos estudos que relacionem a saúde coletiva com a qualidade ambiental, para que seja possível evidenciar a dinâmica dos ecossistemas integrada aos aspectos sociais e de saúde pública. NA PRÁTICA Suponha que você tenha sido contratado para atuar como gestor ambiental em uma indústria de couros. Os resíduos da matéria-prima são direcionados a um aterro industrial da cidade e os resíduos líquidos resultantes dos processos de lavagem do couro são despejados em um córrego que já recebe o aporte de esgoto da cidade. A indústria cresceu, aumentou sua produtividade, porém os órgãos ambientais multaram-na por um desastre ambiental, que prejudicou o tratamento da água local, com consequências para a saúde da população e causou a mortandade de inúmeras espécies aquáticas da região. A população rejeita o descaso das ações da indústria na cidade e solicita uma intervenção ambiental. Com base nesse cenário, quais serão suas ações prioritárias quanto ao manejo e ao uso do lodo produzido, sem tratamento adequado, que oferece 9 riscos à saúde em função da presença de agentes patogênicos e substâncias tóxicas provenientes do processo de produção do couro? Saiba mais Para aprofundar seus conhecimentos a respeito do saneamento ambiental, leia o artigo “Relações entre saneamento, saúde pública e meio ambiente: elementos para formulação de um modelo de planejamento em saneamento", de Sérgio Soares, Ricardo Bernardes e Oscar Cordeiro Netto (2002), disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0102- 311x2002000600026&script=sci_abstract&tlng=pt>. FINALIZANDO Nesta aula, analisamos a exposição à radiação nuclear e os possíveis efeitos na saúde coletiva e nos ecossistemas, a mineração que degrada o solo e libera substâncias tóxicas nos ecossistemas aquáticos, os problemas socioambientais relacionados às poluições sonora, térmica, luminosa e visual. Além disso, refletimos acerca da sustentabilidade socioambiental integrada às questões de saúde pública. 10 REFERÊNCIAS BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P.; VIANA, V. J. Poluição ambiental e saúde pública. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. BRASIL. Lei n. 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 jan. 2007 DAPPER, S. N.; SPOHR, C.; ZANINI, R. R. Poluição do ar como fator de risco para a saúde: uma revisão sistemática no estado de São Paulo. Estudos avançados, São Paulo, 2016. p. 83-97. DERISIO, J. C. Introdução ao controle de poluição ambiental. 4. ed. atual. São Paulo: Oficina de textos, 2012. DOMINICI, T.; GARGAGLIONI, S. Identificação e combate à poluição luminosa. Laboratório Nacional de Astrofísica – MCTI/LNA. S.d. Disponível em: <http://www.lna.br/lp/apostila_pl.pdf>. Acesso em: 22 jul. 2017. KLUCZKOVSKI, A. M. R. G. Introdução ao estudo da poluição dos ecossistemas. 1. ed. Curitiba: InterSaberes, 2015. PEREIRA-JÚNIOR, J. S. Câmara dos Deputados. Centro de Documentação e Informação. Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. Legislação federal sobre “poluição visual” Urbana. Nota técnica, Brasília, DF. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/documentos-e- pesquisa/publicacoes/estnottec/arquivos-pdf/pdf/114361.pdf>. Acesso em: 22 jul. 2017. RIBEIRO, H. Saúde pública e meio ambiente: evolução do conhecimento e da prática, alguns aspectos éticos. São Paulo, 2004. p. 70-80. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104- 12902004000100008>. Acesso em: 22 jul. 2017. SOARES, S. R. A.; BERNARDES, R. S.; CORDEIRO NETTO, O. M. Relações entre saneamento, saúde pública e meio ambiente: elementos para formulação de um modelo de planejamento em saneamento. Rio de Janeiro, v.18 n. 6, 2002. p. 1713-1724. TOWNSEND, C. R.; BEGON, M.; HARPER, J. L. Fundamentos em ecologia. Porto Alegre: Artmed, 2006.