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Importância da Literatura Infantil

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LITERATURA INFANTIL
Profa. ME. ANDREIA ZINETTI PEDROSO
Reitor
Márcio Mesquita Serva
Vice-reitora
Profª. Regina Lúcia Ottaiano Losasso Serva
Pró-Reitor Acadêmico
Prof. José Roberto Marques de Castro
Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Ação Comunitária
Profª. Drª. Fernanda Mesquita Serva
Pró-reitor Administrativo
Marco Antonio Teixeira
Direção do Núcleo de Educação a Distância
Paulo Pardo
Coordenadora Pedagógica do Curso
Fabiana Arf
Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico
B42 Design
*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos
que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A 
violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Universidade de Marília 
Avenida Hygino Muzzy Filho, 1001 
CEP 17.525–902- Marília-SP
Imagens, ícones e capa: ©envato, ©pexels, ©pixabay, ©Twenty20 e ©wikimedia
G915b Sobrenome, Nome autor
Titulo Disciplina [livro eletrônico] / Nome completo autor. - 
Marília: Unimar, 2020.
PDF (XXX p.) : il. color.
ISBN XXX-XX-XXXXX-XX-X
1. palavra 2. palavra 3. palavra 4. palavra 5. palavra 6.
palavra 7. palavra 8. palavra I. Título.
CDD – 610.6952017
006 Aula 01:
014 Aula 02:
027 Aula 03:
034 Aula 04:
042 Aula 05:
051 Aula 06:
060 Aula 07:
068 Aula 08:
078 Aula 09:
087 Aula 10:
093 Aula 11:
100 Aula 12:
107 Aula 13:
114 Aula 14:
119 Aula 15:
127 Aula 16:
O que é Literatura Infantil? 
História da Literatura Infantil 
Literatura Infantil e Ideologia 
As dimensões ética e estética na literatura Infantil 
Monteiro Lobato 
As histórias e o universo infantil 
A ilustração no livro infantil 
Critérios de avaliação de obras literárias 
Literatura Infantil e as Narrativas 
Literatura Infantil e as Escolas 
Literatura Infantil e Escolarização 
Literatura Infantil e Linguagem Oral 
Literatura Infantil, Leitura e Alfabetização 
Literatura Infantil e Educação Infantil 
Literatura Infantil e Ensino Fundamental 
Literatura Infantil e Contação de Histórias
Introdução
A Literatura Infantil é um instrumento essencial dentro do ambiente escolar para abrir
as portas para o universo da imaginação da criança, pois, por meio de seu contato, ela
é incentivada desde muito cedo, a praticar a leitura de forma prazerosa e signi�cativa. E
se abordada de maneira criativa e lúdica, poderá incentivar o hábito da leitura que, por
sua vez, proporciona o desenvolvimento das habilidades da escrita e da própria leitura,
contribuindo assim para a formação de pessoas leitoras, pensantes e críticas, capazes
de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa para todos.
O desenvolvimento da criança por meio da Literatura Infantil é possível, pois, além das
possibilidades de aprendizagem de conteúdos, a literatura permite o desenvolvimento
da ética e da estética por possuir funções éticas, estéticas, sociais e psicológicas. A
Literatura Infantil contribui ricamente para o crescimento e aprendizagem da criança,
pois no contato com as obras literárias a criança estabelece uma relação de sentidos e
signi�cados, implicando no aperfeiçoamento do desenvolvimento da personalidade,
valorizando os sentimentos e o senso crítico, aperfeiçoa a sensibilidade, estimula a
imaginação, induz a compreensão da realidade e principalmente consegue, por meio
do brincar, instigar na criança, o gosto pela leitura.
Para conhecer e entender a importância da Literatura Infantil na formação da criança,
enquanto pessoa e partícipe de uma sociedade, é necessário saber o conceito de
Literatura Infantil e toda sua trajetória, até os dias atuais.
Os primeiros livros direcionados ao público infantil surgiram no século XVIII. Autores
como La Fontaine e Charles Perrault escreviam focando principalmente nos contos de
fadas, que nem sempre foram de fadas. Esses contos nasceram de alterações feitas por
esses e outros autores. Isso porque, historicamente, crianças nem sempre foram vistas
como crianças, e sim, como adultos em miniatura. Desse contexto histórico até os dias
de hoje, a Literatura Infantil foi ocupando seu espaço e apresentando sua relevância na
vida das crianças – e também de muitos adultos.
4
Muitos autores surgiram em todo lugar do mundo, e nomes como Hans Christian
Andersen, os irmãos Grimm e Monteiro Lobato �caram conhecidos e imortalizados
dentro de cada leitor pela grandiosidade de suas obras. Porém, naquela época, a
Literatura Infantil era tida como mercadoria, principalmente para a sociedade
aristocrática, pois só ela tinha acesso às obras devido ao seu poder aquisitivo. Mas,
felizmente, com o passar do tempo, a sociedade cresceu e se modernizou por meio da
industrialização, expandindo assim a produção de livros, que podem chegar às mãos
de todos. A partir daí, os laços entre a escola e a Literatura Infantil foram se
estreitados.
Essas são informações que serão “lidas e contadas” no decorrer dessa nossa aventura
pelo fantástico mundo da Literatura Infantil.
5
01
O que é Literatura 
Infantil?
6
Caro aluno,
Antes de conceituarmos Literatura Infantil, primeiro é necessário conceituar Literatura
de um modo geral. Trata-se de uma palavra de origem latina: vem de littera, que
signi�ca “letra”. Dessa forma, Literatura nos remete ao conjunto das habilidades de
ler e escrever. Porém, no contexto desta disciplina, podemos de�ni-la como o
conjunto de textos escritos, independentemente de tempo, lugar, autores, etc.
A literatura também é uma das manifestações artísticas do ser humano tais como
música, dança, teatro, escultura e arquitetura, dentre outras, pois ela representa
comunicação, linguagem e criatividade e é considerada a arte das palavras. Trata-se,
portanto, de uma manifestação artística muito antiga que utiliza as palavras para criar
arte, ou seja, a matéria prima da literatura são as palavras.
Assim como toda arte, a literatura é uma transfiguração do real, é a realidade
recriada através dos olhos e do espírito do artista e retransmitida por meio da língua
para as formas (os gêneros literários), e com os quais ela toma corpo e uma nova
realidade (COUTINHO, 1975 apud ALMEIDA, 2007). Sendo assim, passa a viver outra
vida autônoma e independente do autor e da experiência de realidade de onde
originou. Os fatos que deram origem à literatura perdem a realidade primitiva e
adquire outra graças à imaginação do artista.
7
O Papel da Literatura
A função da literatura para o ser humano é muito importante, pois ela provoca
sensações e efeitos estéticos que permite uma melhor compreensão de si e da
sociedade. A arte literária representa recriações da realidade produzidas de maneira
artística, ou seja, possui um valor estético em que o autor se utiliza das palavras em
seu sentido conotativo (�gurado) para oferecer maior expressividade, subjetividade e
sentimentos ao seu texto.
A literatura possui um importante papel social e cultural envolvido no contexto em
que foi criada, posto que abarca diversos aspectos de determinada sociedade (tempo
e espaço), dos homens e de suas ações e, portanto, provoca sensações e re�exões do
leitor.
[...] a literatura aparece ligada a essa função essencial: atuar sobre
as mentes, nas quais se decidem as vontades ou as ações; e sobre os
espíritos, nos quais se expandem as emoções, paixões, desejos,
sentimentos de toda ordem […]. No encontro com a literatura (ou
com a arte em geral) os homens têm a oportunidade de ampliar,
transformar ou enriquecer sua própria experiência de vida, em um
grau de intensidade não igualada por nenhuma outra atividade
(COELHO, 2000, p. 29).
Dessa forma, os leitores constroem signi�cados sobre aquilo que ouvem ou leem
usando seus conhecimentos prévios, criando imagens que estão ligadas às suas
próprias experiências e interações humanas, construindo signi�cados na medida em
que interagem com outras crianças e/ou adultos ao compartilhar histórias.
8Conceituando Literatura
Infantil
Primeiramente, literatura infantil é arte; é fenômeno de criatividade que representa a
vida, o mundo e a realidade na qual estamos inseridos. Ela enriquece a imaginação da
criança, oferece-lhe condição de criar, ensinado-lhe a se libertar pelo espírito,
levando-a a usar o raciocínio e a cultivar a imaginação e a liberdade.
A principal questão relativa à literatura infantil diz respeito ao
adjetivo que determina o público que se destina. A literatura,
enquanto só substantivo, não predetermina seu público. Supõe-se
que este seja formado por quem quer que esteja interessado. A
literatura com adjetivo, ao contrário, pressupõe que sua linguagem,
seus temas e pontos de vista objetivam um tipo de destinatário em
particular, o que significa que já se sabe, a priori, o que interessa a
esse público específico (CADEMARTORI, 2006, p.8).
Partindo das ideias de Cademartori (2006), ressaltamos que o que de�ne a literatura
infantil é o público destinado, considerando suas características, linguagens e
especi�cidades. Ou seja, a literatura infantil é um gênero literário de�nido pelo
público ao qual se destina. Determinados textos são considerados pelos adultos como
próprios para a criança ler e, a partir desse juízo, esses textos recebem a de�nição de
gênero, nesse caso, literatura infantil.
9
Diante dessa perspectiva, a literatura infantil se caracteriza pela forma de
endereçamento ao seu público. Assim, literatura infantil é aquela que estimula a
criança a viver aventuras com a linguagem e seus efeitos, dando a possibilidade de
signi�car, de dar sentido ao que lê.
Sendo a literatura uma das produções humanas mais importantes para a formação
do indivíduo, a�rmamos que a criança deve ter acesso à literatura, associando e
harmonizando a imaginação, fantasia e a realidade, visando satisfazer suas exigências
internas e desejos imaginários. Pois, o objetivo da literatura infantil é que seja
desenvolvida a emoção, a sensibilidade, a imaginação e a fantasia da criança, que são
extremamente importantes na sua humanização, ou seja, na sua constituição
enquanto ser humano.
10
Leia uma análise do livro em acessando o link: Disponível aqui
Na obra “O que é literatura Infantil”, a
autora Ligia Cademartori faz uma discussão
a respeito do gênero literário, seus
comprometimentos e desa�os, além de
comentar algumas obras de autores
brasileiros e estrangeiros, possibilitando a
análise das intenções dos textos
destinados às crianças.
A Importância da Literatura
Infantil
A Literatura Infantil proporciona à criança conhecer a si e ao mundo, incentivando a
sua curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o
seu conhecimento em relação ao mundo físico e social, objetivos elencados como
eixos do currículo nas práticas pedagógicas.
11
https://pedagogiaaopedaletra.com/analise-do-livro-o-que-e-literatura-infantil/
Assim como Nunes (1990), acreditamos que a literatura, além de introduzir as crianças
ao mundo da escrita, traz também as dimensões éticas e estéticas da língua ao tratá-
la enquanto arte, exercendo um importante papel na formação do ser humano e do
sujeito. Dessa forma, o contato da criança com a literatura é essencial para a sua
formação como leitor de mundo e, além disso, quanto mais cedo as histórias orais e
escritas forem inseridas em seu cotidiano, maiores serão as chances do
desenvolvimento do prazer e gosto pela leitura.
Atualmente, a dimensão de Literatura Infantil é mais ampla e importante, pois é vista
como instrumento que proporciona à criança um desenvolvimento emocional, social e
cognitivo indiscutível. Ademais, no ambiente familiar o hábito da leitura fortalece o elo
da criança com sua família ou responsáveis, tornando-o, no futuro, um adulto mais
seguro.
Nessa perspectiva, o livro infantil é um recurso importantíssimo para o
desenvolvimento de capacidades e habilidades de ordem cognitiva e socioafetiva, tais
como a coordenação motora, a criatividade e a percepção visual, além de garantir o
acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e
aprendizagens de diferentes linguagens, pois os textos literários infantis provocam
nas crianças re�exões de natureza cognitiva e afetiva, permitindo a ela entrar em um
mundo desconhecido, porém, instigante, que desenvolve o imaginário e desperta a
12
curiosidade. Considerando a leitura como uma forma de se perceber o mundo e a
realidade que o cerca, a literatura infantil possibilita a formação de sujeitos capazes
de entender a realidade social e nela atuar.
Os livros de Literatura Infantil podem ser inseridos na vida das crianças
desde a mais tenra idade, já nos primeiros contatos com o ambiente familiar
e escolar, aproximando-as de diversos contos e histórias, com inúmeros
métodos e diferentes razões e objetivos. Pode-se observar a necessidade da
leitura que emerge em cada indivíduo da sociedade, quando tudo lhe é
experimentado e vivido em forma de leitura ou escrita. Sem esses meios, o
homem social está limitado à margem, não convive com o social, cultural e
histórico. Ressaltamos ainda a importância do desenvolvimento criativo,
imaginário, intelectual e humano quando da inserção do livro no ambiente
familiar e escolar, possibilitando a criança a conhecer a si mesmo e o mundo
no qual está inserida, dando-lhe assim a oportunidade de criá-lo, alterá-lo ou
reconstruí-lo.
13
02
História da Literatura 
Infantil
14
Caro aluno,
Historicamente, a origem da literatura infantil está associada ao surgimento da
concepção de criança e de infância, pois até o início do século XVII, a infância era
ignorada e as crianças conviviam igualmente com os adultos, ou seja, não havia um
mundo infantil dissociado da realidade do adulto. A criança era tratada como um
“adulto em miniatura” e participava de todo o convívio social. Portanto, não se
escrevia para as crianças e, consequentemente, também não existiam histórias
próprias para elas. Assim, elas ouviam as mesmas histórias que eram contadas e
ouvidas pelos adultos.
Em meados do século XVII, a criança passa a ser considerada e vista como um “adulto
em potencial”, ou seja, um “ser diferente” do adulto, com especi�cidades e
necessidades próprias, havendo assim o distanciamento da vida “adulta” e recebendo
uma educação diferenciada, que a preparasse para essa vida. Nesse momento, a
criança se torna um indivíduo que precisa de atenção diferenciada e especial
demarcada pela idade.
Dessa forma, o adulto passa a idealizar a infância, vendo a criança como um indivíduo
inocente e dependente devido à sua falta de conhecimento e experiência com o
mundo no qual está inserida. E assim, a literatura passa a ser considerada como um
importante instrumento na busca da maturação da criança. Até hoje, muitos de nós
têm essa concepção da infância como o espaço da alegria, da inocência, da fantasia e
com conhecimentos a serem construídos a cerca do mundo real e de si mesma.
Então, partindo dessa concepção, os livros são escritos com o objetivo de educar e
auxiliar as crianças no conhecimento da realidade e na sua constituição e
humanização.
História da Literatura Infantil
A literatura infantil surgiu no século XVII com Fenélon (1651-1715), que foi um teólogo
católico, poeta e escritor francês, com ideias liberais sobre política e educação, que
escreve, entre outras obras, Fábulas e As Aventuras de Telêmaco, com o objetivo de
educar moralmente as crianças. As histórias tinham uma estrutura maniqueísta, ou
seja, partia do Maniqueísmo, uma doutrina que consiste no con�ito entre o Bem
(reino das luzes) e o Mal (reino das sombras); tudo isso com o objetivo de demarcar
claramente o bem a ser aprendido e o mal a ser desprezado pelas crianças.
15
Capa e página de rosto de uma tradução inglesa de As Aventuras de Telêmaco de
1715
Fonte: Disponível aqui
Essa característica maniqueísta é uma tradição ainda presente na maioria dos contos
de fadas e fábulas atuais e outros textos contemporâneos. Mas naquele momento, a
Literatura Infantil constitui-secomo gênero em meio a transformações sociais e
culturais.
No mesmo século, em 1697, o também francês Charles Perrault (1628- 1703) trouxe
ao público histórias e contos do período da Idade Média, porém com as moralidades
da época. Perrault foi considerado “pai da Literatura Infantil” ao coletar contos e
lendas populares da idade Média e adaptou, retirando passagens obscenas de
16
https://pt.wikipedia.org/wiki/Les_Aventures_de_T%C3%A9l%C3%A9maque#/media/Ficheiro:Fenelon_Telemachus_Curll_1715.png
Charles Perrault
Fonte: Disponível aqui
conteúdo incestuoso e canibalismo, constituindo assim os chamados “contos de
fadas”. E assim, o livro “Contos da Mamãe Gansa” reúne os famosos contos: A Bela
Adormecida no bosque, Chapeuzinho Vermelho, O Gato de Botas, As Fadas, A Gata
Borralheira, Henrique do Topete e O Pequeno Polegar.
17
https://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Perrault#/media/Ficheiro:Charles.Perrault.jpg
Ilustração do desenhista francês Gustave Doré para “Chapeuzinho Vermelho”
Fonte: Disponível aqui
Perrault desempenhou o trabalho de adaptador ao coletar contos populares e lhes
acrescentar detalhes que respondiam ao gosto e aos interesses da classe à qual eram
endereçados: a burguesia. Além dos propósitos moralizantes, que não condiziam
com a camada popular da qual vieram os contos, mas com os interesses pedagógicos
burgueses, observavam-se aspectos e temas que não vinham do povo, tais como: a
vida na corte, a moda feminina e o mobiliário, entre outros.
A obra de Perrault constituiu-se na mais célebre e referida da literatura francesa, pois
une literatura às teorias sociológicas, psicológicas e ao folclore.
Charles Perrault, coletor de contos populares, realiza seu trabalho
após a Fronde, movimento popular contra o governo absolutista no
reinado de Luís XIV, cuja repressão deixou marcas de terror na
França. Os contos chegam à família Perrault através de contadores
que, na época, se integravam à vida doméstica como servos.
Considere-se que se trata de um momento histórico de grande tensão
entre as classes. O burguês Perrault despreza o povo e as
superstições populares e, como homem culto, as ironiza. Seus contos,
em alguns momentos, caracterizam-se por um certo sarcasmo em
relação ao popular. Ao mesmo tempo, são marcados pela
18
https://pt.wikipedia.org/wiki/Capuchinho_Vermelho#/media/Ficheiro:Dore_ridinghood.jpg
Wilhelm e Jacob, os Irmãos Grimm
Fonte: Disponível aqui
preocupação de fazer uma arte moralizante através de uma
literatura pedagógica. (CADEMARTORI, 1987, p. 35 e 36)
Já no século XIX, outra coleta e uma adaptação de contos populares foram realizadas
na Alemanha pelos irmãos Grimm, alargando a antologia dos contos de fadas. Os
irmãos Jacob (1785-1863) e Wilhelm (1786-1859) eram acadêmicos, linguistas, poetas e
escritores que se dedicaram ao registro de várias fábulas infantis, ganhando assim
grande notoriedade na Literatura Infantil.
Estudiosos a�rmam que o que motivou os irmãos Grimm foi o surgimento do
romantismo. O nacionalismo romântico e as tendências de valorização da cultura
popular alemã, no início do século XIX, �zeram ressurgir o interesse por contos de
fadas, que estavam em declínio desde seu clímax, do �nal do século XVII. Assim, os
Grimm ajudaram o renascimento com sua coleção de folclore, construída na
convicção de que uma identidade nacional só poderia ser encontrada no povo comum
e em sua cultura popular. Embora tivessem coletado e publicado contos como um
re�exo da identidade cultural alemã, na primeira coleta eles também incluíram os
contos de Charles Perrault. Publicado em 1812, Contos Infantis e Domésticos traziam
19
https://pt.wikipedia.org/wiki/Capuchinho_Vermelho#/media/Ficheiro:Grimm.jpg
contos como João e Maria, Rapunzel entre outros, não foi um sucesso imediato.
Mesmo assim, as publicações subsequentes consolidaram a eles a reputação de
inovadores estudiosos da literatura infantil.
Acesse o link: Disponível aqui
Assista a uma análise do
relançamento em dois volumes de
Contos Infantis e Domésticos.
Vale a pena!
20
https://www.youtube.com/watch?v=wi322bgsbDA
Acesse o link: Disponível aqui
Ao longo dos séculos, os contos de fadas literários passaram por diversas
transformações que ofuscaram sua verdadeira origem. Isso porque as
histórias têm origem em tempos do passado, em versões que eram bem
diferentes de como conhecemos atualmente. A princípio, um conto de fadas
não era bem inspirado no lado lúdico das fadas. Pelo contrário: eram
carregados de detalhes pra lá de agressivos. Na verdade, antes mesmo de
serem histórias infantis (uma vez que nem o conceito de infância era
conhecido), serviam como contos que uniam as comunidades e educavam a
população.
Ao longo de um período de 40 anos, os irmãos Grimm publicaram sete edições da
coleção de contos populares. Porém, a edição �nal, que foi publicada em 1857, é a
mais conhecida e diferente da primeira, tanto em estilo quanto em conteúdo. Mas é a
partir de 1815 que os livros passam a contar com ilustrações. Portanto, as histórias da
primeira edição são mais �éis à tradição oral do que as da última, que, juntamente
com as adaptações de Wilhelm, trazem uma abordagem mais literária.
E assim, a literatura infantil se constituiu através das narrativas desses e de outros
escritores como o dinamarquês Cristian Andersen (O patinho feio), o italiano Collodi
(Pinóquio), o inglês Lewis Carrol (Alice no país das maravilhas) e o escocês James Barrie
(Peter Pan), entre outros.
Ao longo dos tempos, a Literatura Infantil foi se desenvolvendo conforme a concepção
de criança em cada tempo social, cultural e histórico. Assim, no ambiente escolar
também são essas implicações que in�uenciam a sua utilização dentro das salas de
aula.
21
https://segredosdomundo.r7.com/conto-de-fadas/
Capa de “Contos da Carochinha” de 1931 e uma versão atual da obra
Fonte: Disponível aqui
Origem da Literatura Infantil
no Brasil       
No Brasil, a Literatura Infantil teve início após a implantação da Imprensa Régia, em
1808, com a chegada de D. João VI ao país. A Literatura Infantil existia por meio das
obras publicadas que eram traduções e adaptações das obras portuguesas ou textos
não literários escritos por pedagogos com intenções didáticas e/ou moralizantes. Um
dos primeiros autores a fazer traduções e adaptações dos contos europeus para o
Brasil foi Alberto Figueiredo Pimentel, que em 1894 publicou Contos da carochinha.
22
https://bllij.catedra.puc-rio.br/index.php/2017/01/24/contos-da-carochinha/
Fonte: Disponível aqui
Considerando que as obras adaptadas eram de origem europeia, o primeiro registro
de literatura infantil genuinamente brasileira dá-se pelas mãos de Monteiro Lobato,
em 1920, com a obra A menina do narizinho arrebitado. Lobato, que era um
nacionalista ardoroso, desenvolveu aventuras para nossas crianças com
características típicas brasileiras, integrando costumes do campo e lendas do nosso
folclore.
Obras como O sítio do Pica-pau Amarelo destacam bem as características da vida rural
e da cultura brasileira da época, além de também destacar as questões sociais. As
principais e mais conhecidas são: A menina do narizinho arrebitado, Reinações de
Narizinho, Fábulas de Narizinho, Emília no país da gramática, Memórias de Emília e Jeca
Tatuzinho, entre tantas outras.
23
https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Menina_do_Narizinho_Arrebitado#/media/Ficheiro:A_Menina_do_Narizinho_Arrebitado_(Capa).png
“A Arca de Noé” (1980), de Vinicius de Moraes | “Lili Inventa o Mundo” (1983), de Mário
Quintana
Fonte: Disponível aqui
Nos décadas de 1940 e 1950, o novo desa�o era manter uma continuidade na
produção de livros e construir um público cativo. Para tanto, as editoras e os
escritores estavam se pro�ssionalizando, e a produção se tornou mais intensa. Na
tentativa de ampliar essa produção, as editoras optaram pela solução considerada
mais prática e voltaram a investir em traduções e adaptações. Nessa época, o Brasil
estava deixando de ser um país rural, porém, ainda havia os defensores da agricultura
como principalsustentadora da economia do país, e isso se re�etiu em muitas
histórias infantis ambientadas em sítios e fazendas e, especialmente, sobre o café.
Mas com a decadência dessa política econômica, já na década de 1960, as histórias
ganharam as cidades, e a literatura infantil assumiu uma temática urbana e passa a
valorizar elementos políticos, e escritores renomados como Mário Quintana, Vinícius
de Moraes e Clarice Lispector se interessam em escrever para o público infantil.
24
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_das_obras_de_Vinicius_de_Moraes
“O Menino Maluquinho” (1980), de Ziraldo | “Bisa Bia, Bisa Bel” (1981), de Ana Maria
Machado
Fonte: Amazon.
Na década de 1970, o objetivo no âmbito educacional era erradicar o analfabetismo
no Brasil, assim, houve a criação e do Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização),
que não obteve resultados positivos. A continuidade da situação de
subdesenvolvimento no Brasil mostrou que os problemas não se resolviam com o
investimento na alfabetização dos adultos, nem com a facilidade de ingressar no
ensino superior. “Diante dessa situação, buscou-se uma nova alternativa: investir no
ensino básico, valorizando o livro como instrumento indispensável para o
desenvolvimento intelectual das crianças” (RODRIGUES ET AL., 2013). Nesse período,
despontam grandes escritores, como Ziraldo, Ana Maria Machado e Ruth Rocha.
25
Nas últimas décadas, a literatura infantil passou a ser tema de estudos e seminários e,
no âmbito educacional, observam-se esforços dos diversos níveis de ensino, do básico
ao superior, para propor a leitura como forma de promover recuperações no sistema
de educação (RODRIGUES ET AL., 2013). Assim, a escola volta-se para a Literatura
Infantil com interesses imediatos, como o de expandir o domínio linguístico dos
alunos e auxiliá-los a escrever melhor.
26
03
Literatura Infantil e 
Ideologia
27
Caro aluno,
Além do conceito mercadológico, a Literatura Infantil é permeada de aspectos
pedagógicos, sociológicos e psicológicos. Veremos a seguir apontamentos que devem
ser considerados acerca dessas questões.
A história e trajetória da Literatura Infantil foram marcadas principalmente por fins
pedagógicos, ou seja, o intuito educativo deu à Literatura Infantil uma visão de não
representação da arte, e sim, de função didático-pedagógica, o que pode ter gerado a
produção de menor qualidade de obras.
A Literatura Infantil é considerada uma ferramenta indispensável na ação pedagógica,
sendo utilizada no processo de aquisição de leitura e de alfabetização de crianças, e
de suma importância na construção do saber coletivo e individual, pois a
alfabetização, em conjunto com a Literatura Infantil, tem o potencial de se tornar mais
acessível e lúdica.
A Literatura Infantil é também parte integrante na ação pedagógica do docente para a
formação integral da criança, pois possibilita a ligação entre ler e escrever, além do
resgate padrão da língua e de estruturas mais complexas, desenvolvendo de modo
globalizado e o desempenho do falante. Desse modo, por meio da leitura, é possível
dominar as regras da norma culta: a acentuação grá�ca a colocação dos pronomes,
o emprego dos verbos, além da regência e concordância. Tudo isso sem a
necessidade de obrigar o aluno à árdua tarefa da aprendizagem mecânica, por meio
de memorização de regras gramaticais e com a grande vantagem de assimilação da
linguagem, que terá repercussões não só na escrita, mas também na fala e na própria
leitura.
Atualmente, o movimento da Literatura Infantil, ao disponibilizar textos escritos
abertos a múltiplas leituras, transforma a literatura para crianças em suporte para
experimentação do mundo. Dessa forma, as histórias contemporâneas, ao
apresentarem as curiosidades e dúvidas da criança em relação ao mundo, abrem
espaço para o questionamento e a re�exão, provenientes da leitura.
É evidente que a Literatura Infantil faz parte da evolução escolar e da construção
humana. Assim, é por intermédio do hábito da leitura e também de contação de
histórias, que proporcionamos às crianças a evolução de habilidades e competências,
preparando-as para os desa�os do mundo atual.
28
Re�etir sobre como a Literatura Infantil contribui para a constituição de leitores
permite compreender o quanto é essencial incentivar a leitura desde cedo, lendo ou
contando histórias, possibilitando a criança o maior contato com os livros, pois cabe à
escola mediar a interação da criança com o meio literário com o objetivo de formar
leitores.
Desse modo, cabe ao professor saber utilizar a Literatura Infantil como ferramenta
que viabilize ao aluno compreender melhor as mudanças, os pensamentos e os fatos
históricos, de forma a contribuir para seu desenvolvimento, formando uma criança
com autonomia e pensamento crítico.
Funções Sociológicas da
Literatura Infantil
O resgate do aspecto e social da literatura pela burguesia tem repercussões até a
atualidade. A Literatura Infantil privilegia textos direcionados às crianças com o
objetivo de modi�car o comportamento infantil ao reforçar os valores sociais vigentes
29
que são apresentados como modelos a serem assimilados e seguidos. Portanto,
a�rmamos a existência de aspectos que ressaltam a função social da literatura
infantil, pois é na infância que se desenvolve o hábito da leitura.
Nos seus primórdios, a Literatura Infantil surge com função formadora, pois
apresenta modelos de comportamento que facilitam a integração da criança na
sociedade. As autoras Lajolo e Zilberman (1999) a�rmam que a valorização da família
na sociedade burguesa é responsável por transformar a leitura em prática social,
quando se constituiu em atividade privada nos lares tendo o livro como instrumento
ideal para a formação da moral burguesa.
Desde então, de acordo com essas autoras, “ser leitor, papel que, enquanto pessoa
física, exercemos, é função social, para a qual se canalizam ações individuais, esforços
coletivos e necessidades econômicas” (LAJOLO; ZILBERMAN, 1999, p. 14). A Literatura
Infantil aparece no contexto histórico-social de�nido como a ascensão da burguesia e
a posição que a criança passa a assumir na família. Segundo Lajolo e Zilberman
(1999), a nova unidade familiar, centrada no pai-mãe-�lhos e fortalecedora do Estado,
privilegia a criança como um ser merecedor de atenção especial com status próprio,
para o qual convergem as preocupações com a saúde, a educação e a religiosidade.
Acesse o link: Disponível aqui
Tomada em seu sentido mais literal e restritivo, a sociologia da literatura
pode ser considerada uma especialidade da sociologia, consagrada a
analisar as obras a partir de um eixo interpretativo que transcende a
con�guração linguística e discursiva.
Na atualidade, no contexto brasileiro, tem-se uma cena social plural, com duas
realidades distintas, sendo que de um lado há crianças com pouco ou nenhum acesso
ao livro infantil e à leitura, e, de outro, há crianças com facilidade aos bens de
consumo, entre eles a Literatura Infantil. Inclusive, essa disparidade nacional, é
30
https://www.scielo.br/pdf/soc/v20n48/1517-4522-soc-20-48-9.pdf
destacada nos livros infantis que apresentam a realidade com os problemas sociais,
políticos e econômicos. Assim, a Literatura Infantil desempenha uma importante
função social que é fazer com que a criança, por meio de suas histórias, também
perceba intensamente a realidade que a cerca.
Diante disso, nas palavras de Caldin (2003), dizemos que a função social da Literatura
Infantil é facilitar ao a criança compreender e, assim também se emancipar dos
dogmas que a sociedade lhe impõe. E isso só é possível pela re�exão crítica e pelos
questionamentos proporcionados pela leitura. Assim, se a sociedade busca a
formação de um novo homem, ela terá que se concentrar na infância – e
consequentemente na Literatura Infantil – para atingir esse objetivo.
Aspectos Psicológicos da
Literatura Infantil
Não há dúvidas de que Literatura Infantil, desde os seus primórdios, vem
proporcionando experimentações positivas e negativas à criança.O que queremos
saber é até que ponto isso pode in�uenciar na construção de sua personalidade. A
Literatura Infantil nunca é apenas Literatura Infantil, ou seja, nas entrelinhas do que
lemos tem sempre um intuito, um objetivo, uma função, inclusive psicológica.
A fantasia, integrante das narrativas infantis, é vista como um benefício à formação
da criança, mas desde que, ao �nal da leitura de seu livro, ela volte de sua viagem ao
mundo imaginário para o real (BLANCO ET AL., 2015).
Para Bettelheim (1980), na Literatura Infantil são os contos de fadas que têm maior
capacidade de desenvolver a personalidade da criança. Pois, os con�itos e dilemas
propostos à criança, nesse tipo de narrativa, preparam-na para lidar ou encontrar
soluções quando experiências e con�itos desse tipo forem vivenciados no mundo
real.
Os contos de fadas declaram que uma vida compensadora e boa está
ao alcance da pessoa apesar da adversidade – mas apenas se ela
não se intimidar com as lutas do destino, sem as quais nunca se
adquire verdadeiramente identidade (BETTELHEIM, 1980, p. 32).
31
Por meio da fantasia proporcionada pelas narrativas dos contos de fadas, a criança 
entra em contato com valores vigentes, além de assimilar e aprender noções de bom 
ou mau, certo ou errado. Sendo assim, os contos infantis são responsáveis pela 
formação de uma hierarquia de valores e de referências que contribui para “moldar” 
comportamentos e in�uenciar mentalidades (GOMES 2004 apud BLANCO ET AL., 
2015).
Coelho (2005 apud BLANCO ET AL., 2015) declara que, ao entrar em contato com o 
livro, há uma autoconscientização do leitor sobre o outro, criando vínculos e 
permitindo a solidariedade. É interessante também o fato da literatura possibilitar 
que a criança entre em contato com padrões e valores de outras sociedades ou 
épocas distintas, pois a in�uência dos contos de fadas sobre o aspecto social é 
indispensável na educação e na formação da personalidade e do caráter.
Com relação ao aspecto emocional, os impactos exercidos pelos contos de fadas 
sobre os adultos vêm da importância dessas narrativas na infância, pois o que �ca de 
um conto de fadas para criança é o que ele fez re�etir na sua subjetividade (CASHDAN 
apud BLANCO ET AL., 2015). É possível observar nas crianças a apropriação das 
narrativas com vistas à resolução de dramas íntimos ou identi�cação com um 
momento presente.
32
Fonte: Disponível aqui
A Literatura Infantil é uma transposição do mundo real para o ilusório por
meio de uma estilização formal, que propõe um tipo arbitrário de ordem
para as coisas, os seres e sentimentos. Nela se combinam um elemento de
vinculação à realidade natural ou social, juntamente com aspectos
psicológicos e educacionais. A Literatura Infantil, por meio de suas obras,
implica na formação do indivíduo, pois é permeada por aspectos
sociológicos, psicológicos e pedagógicos. Ao entrar no mundo encantado da
leitura, o indivíduo, seja criança ou adulto, é levado a questionamentos a
cerca do mundo e de si mesmo e, essa re�exão pode acarretar em
mudanças signi�cativas em suas vidas.
33
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/giria-e-jargao-a-lingua-mudaconforme-situacao.htm
04
As dimensões ética e 
estética na literatura 
Infantil
34
Caro aluno,
Ler é muito importante para o desenvolvimento intelectual, emocional, social e
cultural do indivíduo. Por isso, é de grande importância que a criança leia e possa
posteriormente discutir e conversar sobre o que ela leu, o que a história lhe trouxe de
bom, os valores morais que a história lida lhe apresenta, etc. Nesse momento, cabe
ao adulto assumir o papel de mediador dessa discussão, de modo a trazer e enfatizar
os fatos ocorridos na história para a realidade, para o universo da criança.
A moralidade infantil está muito presente na Literatura Infantil, e o educador acaba
por trabalhar sempre com recursos, métodos e procedimentos que favoreçam o
desenvolvimento, o interesse e o envolvimento de estruturas cognitivas e afetivas
para solucionar os problemas, os dilemas e as situações que compõem as histórias,
que envolvem questões morais, contribuindo para o processo de construção da
moralidade infantil.
Literatura Infantil e Educação
Moral
De acordo com alguns estudiosos da Literatura Infantil, a moral deve ser construída
pelo indivíduo por meio da re�exão de situações de con�ito e de suas ações no
mundo, e não sendo algo imposto. Daí a importância das práticas pedagógicas dos
professores nas instituições escolares, a partir da Literatura Infantil, com vista a
favorecer o enriquecimento e o desenvolvimento dos valores morais, culturais e
principalmente linguísticos das crianças.
Os valores morais são construídos pelo sujeito com base nas suas experiências na
interação com o meio social que vive. E sendo a moral um conjunto de regras que
regulam a conduta e o julgamento humano, quanto mais claro e permeado pelo
discernimento for esse conjunto de regras, mais autônomas e acertadas serão as
escolhas que tem como critério a moralidade (FERREIRA E ROSA, 2015).
Ainda segundo Ferreira e Rosa (2015), a Literatura Infantil, por meio de suas histórias,
pode favorecer a re�exão moral da criança. Na formação do sujeito, a ética e a
educação estão extremamente ligadas, pois a educação transmite conceitos e valores,
35
além de trabalhar com temas como a própria ética, moral, virtudes, igualdade,
democracia, justiça, etc.
No cotidiano, é muito comum ética e moral serem empregadas como sinônimos, já
que referem a um conjunto de princípios e de padrões de conduta humana. Às vezes
ética pode signi�car a �loso�a da moral, e a moral por muitas vezes pode estar
relacionada, para alguns, ao moralismo. A moral que destacamos aqui não tem
relação com o moralismo (NUNES, 2013 apud FERREIRA E ROSA, 2015).
A moral também pode ser entendida como “um conjunto de valores e normas a
serem seguidas, e a ética como a re�exão desses valores” (FERREIRA E ROSA, 2015, p.
437). A educação alicerçada em valores é muito importante para a formação da
personalidade moral da criança. A prática pedagógica que utiliza os textos literários,
com o objetivo de tratar sobre os valores morais, promove discussões dessas
narrativas permitindo que as crianças tenham experiências mais signi�cativas,
possibilitando assim, que elas se encantem e se maravilhem com o mundo, alargando
os conceitos que envolvem sua moralidade.
As histórias têm por objetivo provocar nas crianças questionamentos, pensamentos e
indagações sobre seu conteúdo e contexto, bem como sobre os valores transmitidos
no enredo, o que lhes proporciona escolhas cada vez mais autônomas (NUNES, 2013
apud FERREIRA E ROSA, 2015). É importante – e também ético por parte do educador –
ao trabalhar os valores morais a partir das histórias, promover debates que permitam
36
o envolvimento e a expressão da criança sobre o que pensa a respeito do tema
explorado. Nada mais prazeroso e e�ciente do que trabalhar esses valores de forma
lúdica e imaginativa com os personagens das histórias.
Para promover a autonomia dos alunos na construção desses valores, e não como
uma obrigatoriedade imposta pelo educador, o ambiente escolar deve estar
organizado para que haja interação e trocas ideias (OLIVEIRA, 2007 apud FERREIRA E
ROSA, 2015). O papel do educador nesse momento é auxiliar para que os alunos
possam se aprofundar em suas re�exões, ao mesmo tempo em que trabalham seus
sentimentos e emoções, valorizando suas próprias ideias, assim como as de seus
colegas. E, assim, com postura ética, o educador favorece o escutar e o argumentar,
engajados no respeito mútuo, estimulando o desenvolvimento da autonomia e
compreensão das diferenças individuais (empatia).
Conforme Ferreira e Rosa (2015), ainda, por meio das narrativas literárias e seus
personagens, as crianças se deparam com questões éticas do seu cotidiano e
repensam seus conceitos sobre o que é certo ou errado, bom ou ruim, justo ou
injusto, num processo de construção e reconstrução de seus valores.
Destaca-se que esseprocesso de construção e reconstrução de valores morais não é
um processo rápido, pois cabe ao educador a função de instigar a discussão, de ser o
mediador que estabelece uma ponte entre os personagens das histórias e os
personagens da vida real, ou seja, do mundo social da criança. A moralidade da
criança é construída a partir de suas experiências vividas no meio social e com os
indivíduos desse meio.
Ao ler, a criança se depara com os dilemas dos personagens, é levada a pensar em
seus próprios valores e seu julgamento moral tende a se desenvolver num contexto
de empatia, no qual o outro não é deixado de lado em detrimento de um
egocentrismo infantil exacerbado. Daí vemos mais um motivo que destaca o valor e a
importância da presença da literatura infantil na vida de nossas crianças.
37
A Função Estética da
Literatura
Em seus estudos, o escritor e �lósofo italiano Umberto Eco faz uma discussão sobre a
função da literatura, pois, uma vez relacionada à estética, ela se instaura como objeto
estético, e outra ótica é percebida na relação entre o autor e o público (OFFIAL, 2012).
Diante disso, há a alteração na forma de lidar com a literatura, seja no campo da
pedagogia ou na história da arte. Ao contrário de uma função utilitária, que reduz a
obra literária aos pretextos, a função estética amplia os nossos sentidos e permite a
contemplação da obra pelas vias artísticas.
Segundo Eco (2010), ao ler uma obra literária o sujeito pode ser levado a múltiplas
possibilidades de interpretação, pois a obra aberta é inacabada, inde�nida. E quanto
mais a obra se abre para a multiplicidade, mais caminhos oferecem ao leitor. Essa
obra é aberta, pois conta com as experiências vividas pelo sujeito.
A literatura, e consequentemente a Literatura Infantil, nos permite caminhos para
diferentes “olhares” de novíssimos ou antigos estilos e formas, surgindo diante desses
olhares novas sensações e percepções da imagem do mundo.
O texto literário pode tirar o leitor de seu estado de acomodação e levá-lo a percorrer
caminhos de questionamentos, de negação, de a�ição, de perda; derrubar
pensamentos e crenças e a correr em busca de um novo sentido. Quando isso
acontece somos levados à re�exão crítica, ao pensamento mais elaborado do
abstrato, como também à fruição estética (ato de tirar prazer daquilo que possui um
formato artístico, seja pela sua beleza e feiura, ou pelos sentimentos que despertam
no indivíduo) por meio dos usos artísticos da linguagem.
Segundo Culler (1999 apud OFFIAL, 2012), a literatura como função estética não
conduz o leitor a um pensamento único, mas ensina a sensibilidade. A literatura
desvincula-se de pretextos e assume a obra literária como “objeto estético”,
permitindo um “gozo”, prazer, reação causada pelo embate entre obra e leitor.
Quanto mais contato com os livros, mais possibilidade tem um indivíduo de
compreender o mundo e o seu contexto, pois a leitura permite o desenvolvimento de
um “olhar” que amplia o conhecimento e o autoconhecimento.
38
É comum ouvirmos que ler é dar asas à imaginação, isso porque a leitura nos tira de
uma realidade e, longe dela, conseguimos compreendê-la e, consequentemente,
modi�cá-la. Diante disso, devemos compreender a importância da literatura no
processo do desenvolvimento do ser humano.
A literatura é arte, e como tal está relacionada à formação estética do ser humano,
cabe a nós educadores compreender como essa obra literária entra na escola e de
que forma é explorada, e traçarmos novas estratégias para que, a partir da Literatura
Infantil, promover experiências e fruição estética às crianças. Dessa maneira,
poderemos contribuir para a formação estética de nossas crianças, pois lidando com
esse saber sensível e ampliando sua visão de mundo, haverá compreensão do sentido
dos fatos, tornando o sujeito mais crítico e re�exivo.
Acesse o link: Disponível aqui
Ainda que tanto a Estética (parte da Filoso�a voltada para a re�exão relativa
à Beleza e ao fenômeno das Artes) como a Literatura sejam conceitos
sempre em discussão, podemos entender a experiência estética literária
como a soma da percepção/apreensão inicial de uma criação literária e das
muitas reações (emocionais, intelectuais ou outras) que está suscita, em
função das características especí�cas postas em jogo pelo autor na sua
produção. Tal produção literária é – ela também – uma experiência estética,
cujo resultado seu criador quer fazer único e inconfundível, com marcas que
ele gostaria que fossem percebidas pelo leitor como pegadas no caminho da
leitura de sua obra.
39
http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/experiencia-estetica-literaria
Se a literatura foi útil em outras épocas para o ensino de
componentes curriculares ao atender às demandas de uma escola
que poucos livros dispunham, hoje já não se insere como tal, pois são
outros tempos, com outras ideias e concepções. Diante disso, a escola
deveria abrir suas portas para experiências artísticas,
proporcionando aos alunos o contato com obras literárias, música,
teatro e obras de arte, desencadeando sentimentos e emoções, e
valorizando, dessa forma, a formação estética do sujeito (OFFIAL,
2012, p. 9).
De forma implícita, a Literatura Infantil traz valores morais em si. E é no contexto
escolar que há uma educação moral, proposta para as crianças por meio do trabalho
com os livros literários e o diálogo. As histórias pertencentes à vasta Literatura Infantil
são compostas, muitas vezes, por valores morais e éticos que possibilitam
experiências em que as crianças podem vivenciar, de alguma forma, situações
valorativas.
40
Embora os valores (bem como a sociedade), venham sofrendo mudanças e sendo
reformulados de acordo com a cultura vigente, as concepções éticas e a conduta
moral precisam, cada vez mais, ser discutidas, pois uma conduta moral pode ser
correta para uma pessoa e não ser para a outra, pois isso depende da cultura e
re�exão de cada um. Quanto mais o sujeito lê, mais possibilidades ele tem de
compreender o seu entorno e a si próprio, pois a literatura pode proporcionar, além
dos momentos de prazer, o desenvolvimento das habilidades cognitivas e da
consciência mais humana.
Diante disso, ensinar exige uma formação estética, pois há a necessidade de
desenvolver um saber sensível, nos alunos, mas também nos educadores. A
sensibilidade também é algo passivo de educação, ou seja, também podemos ser
educados sensivelmente, e para isso podemos contar com a Literatura Infantil.
41
05
Monteiro Lobato
42
Caro aluno,
É impossível tratar de Literatura Infantil brasileira sem falar de Monteiro Lobato.
Considerado o “pai” de nossa literatura, ele até hoje vive na memória e no imaginário
de nossas crianças (muitos já adultos hoje) por meio de sua obra.
No início do século XX, os intelectuais brasileiros buscavam redescobrir seu país, e o
melhor intelectual que conseguiu re�etir o espírito de sua época, mesmo com todas
suas contradições, foi Monteiro Lobato.
Monteiro Lobato: o Precursor
da Literatura Infantil
Brasileira
José Bento Monteiro Lobato (1882 - 1948) foi um dos integrantes do grupo literário
brasileiro, com educação baseada nas diretrizes do positivismo, visto que cursou
Direito em São Paulo e iniciou suas atividades junto à imprensa. Entre os problemas
mais urgentes a serem resolvidos estava a questão da consciência nacionalista ligada
a todas as áreas do pensamento culto.
Mas era uma tarefa difícil conscientizar um povo culturalmente colonizado e
dependente economicamente de seu “nacionalismo”. E, mesmo esse processo sendo
difícil e lento, Monteiro Lobato foi um batalhador em trazer à tona toda a “brasilidade”
de um povo.
43
Acesse o link: Disponível aqui
O Positivismo é uma corrente teórica inspirada no ideal de progresso
contínuo da humanidade. O pensamento positivista postula a existência de
uma marcha contínua e progressiva e que a humanidade tende a progredir
constantemente. O progresso, que é uma constatação histórica, deve ser
sempre reforçado, de acordo com o que AugusteComte, criador do
Positivismo, chamou de Ciências Positivas. As Ciências Positivas teriam a sua
mais forte expressão na Sociologia, ciência da qual Comte é considerado o
fundador.
Nos anos de 1927 a 1931, Monteiro Lobato viveu nos Estados Unidos, pois foi
nomeado adido comercial pelo presidente Washington Luís. Lobato �cou
impressionado com a exploração dos recursos minerais que possibilitaram aos
Estados Unidos o progresso e desenvolvimento, e quando voltou para o Brasil, deu
início a uma campanha em prol do progresso brasileiro.
Durante a sua estadia nos Estados Unidos, Lobato con�rmou algumas ideias que já
vinha desenvolvendo no Brasil a respeito do atraso brasileiro e das estratégias para
vencê-lo. Produziu a partir daí um discurso industrialista contando com um projeto
para o progresso, no qual os elementos fundamentais eram as riquezas naturais,
trabalho e�ciente e disciplinado, a siderurgia, o petróleo, o transporte e a criação de
um mercado interno. Lobato fundou o Sindicato do Ferro e a Companhia Petróleos do
Brasil e enfrentou empresas multinacionais, além dos obstáculos impostos pelo
governo brasileiro.
44
https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/positivismo.htm
Monteiro Lobato (na posição mais alta) durante pesquisas para extração de petróleo
Fonte: Disponível aqui
O escritor foi uma pessoa crítica e individualista que não se uniu a nenhum “grupo da
moda”. Dividia-se entre a visão positivista de sua formação e a visão socialista, que se
impunha com as transformações político-econômicas da época. A partir de 1915,
Lobato passou a exercer uma in�uência signi�cativa, com as publicações de seus
artigos, aumentando sua popularidade. Sua preocupação era o desenvolvimento
brasileiro, sua pela nacionalidade, acreditando estar na ciência, a sabedoria.
A preocupação de Lobato não era somente com a questão do petróleo, mas também
com as questões sanitárias do nosso país. Essa preocupação foi traduzida com a
criação da personagem Jeca, que é a representação do caboclo brasileiro, trazendo
todas as características e problemas do homem rural da época. A vontade de
engrandecer a pátria foi o motivo que o fez procurar as causas reais da miséria e os
meios necessários para saná-las. Por meio de seus artigos indignados chama a
atenção do país para um problema fundamental para a sobrevivência do homem
brasileiro: o saneamento básico no Brasil.
Lobato também se mostrou muito preocupado com a nossa língua, pois, segundo ele,
o contraste entre a língua falada e a língua escrita era o responsável pelo fato dos
livros brasileiros não serem lidos. Porém, aos poucos, Lobato constata a di�culdade
45
https://pt.wikipedia.org/wiki/Monteiro_Lobato#/media/Ficheiro:Monteiro_Lobato_searching_oil_1930s.jpg
de se viver num país em que a maioria da população é analfabeta e poucos tinham a
cultura escrita. Esses aspectos somados à atitude anticientí�ca predominante dos
governantes do país eram um dos traços que marcavam a mentalidade nacional.
Dessa forma, Lobato via cada vez mais distante a possibilidade de desenvolvimento
para o povo brasileiro e, sendo assim, ele resolveu depositar suas esperanças nas
gerações futuras, vendo nos jovens a possibilidade de modi�cações do país em busca
do progresso.
Ao perceber que ao in�uenciar na formação das crianças poderia contribuir para a
constituição do Brasil do futuro, decidiu dedicar-se de�nitivamente à Literatura
Infantil. Em seus livros, Lobato construiu um mundo intitulado O sítio do Pica- pau
Amarelo, no qual todos os seus desejos pudessem ser realizados, projetou um novo
país, com o objetivo de plantar sementes que pudessem vir a germinar, no futuro.
Anos mais tarde, Lobato escreveu uma série de contos e crônicas e os organizou e
publicou com o título de Obras Completas de Monteiro Lobato, totalizando 30 volumes.
Monteiro Lobato e a Dedicação
ao Público Infantil
Em sua literatura infantil, Lobato apresentava uma proposta desenvolvimentista para
o Brasil. Sua obra é centrada no progresso do país e provocou muita polêmica porque
tinha por objetivo formar o cidadão, despertando a curiosidade intelectual e atitudes
críticas nas crianças por meio de livros questionadores e desmisti�cadores da
autoridade. Lobato chegou a ser acusado de negar a existência de Deus e de uma
verdade moral e absoluta.
Assim, com a dedicação à Literatura Infantil, seu intuito era formar uma mentalidade
nacional. Ao compor suas obras destinadas ao público infantil, Lobato se preocupou
em tratar crianças como crianças e não em adultos em miniaturas. Para ele, a
imaginação predomina em absoluto no mundo infantil, e para alcançar este público
era necessário o uso desta linguagem.
Lobato, inicialmente, também fez adaptações de clássicos infantis europeus e norte-
americanos, e considerava a existência de uma literatura brasileira, porém, fazia
duras criticas à qualidade delas. Seu objetivo, com esse trabalho, era levar as crianças
46
ao conhecimento da tradição, além de questionar as verdades feitas, levando-as a
redescobertas para uma renovação histórica.
A ideia de se dedicar à Literatura Infantil surgiu quando Lobato recebeu a visita de um
amigo na Revista do Brasil para jogarem xadrez. E, então, durante a conversa, esse
amigo lhe contou uma história sobre um peixe que, �cou muito tempo fora d’água e
“desaprendeu” a nadar e, quando voltou ao rio morreu afogado. Foi durante a
conversa que Lobato começou a montar a história em seu imaginário. E, quando o
amigo foi embora, escreveu a história do peixinho que morreu afogado, publicando
mais tarde, com algumas alterações e personagens reais, que permeavam suas
lembranças de infância.
No início, seus livros eram pequenos álbuns com 30 a 40 páginas com bonitas
ilustrações, linguagem simples e de uma agradável apresentação, o que fazia que
tivessem um preço acessível. Tal fato signi�cou uma revolução nos meios editoriais,
pois os poucos livros que existiam, eram publicações luxuosas, quase sempre de
autores franceses, traduzidos e publicados em Portugal, o que di�cultava o acesso à
leitura da maior parte da população.
Outra característica da obra de Lobato é que ele falava como se estivesse no lugar das
crianças, e não para elas. Ele soube captar a lógica e a estrutura do pensamento
infantil, o que facilitou o aprendizado por meio de suas obras. Lobato tratava as
crianças como interlocutoras competentes, estimulando a atividade literária delas,
desde o desenvolvimento de enredos até análises críticas das suas obras. E assim,
misturando sonhos e realidade, Lobato conquistou seus pequenos fãs,
compartilhando com eles um mundo em que tudo era possível por meio da
imaginação.
A menina do nariz arrebitado foi seu primeiro livro infantil, e foi um sucesso.
Inicialmente, foram cinquenta mil exemplares vendidos, devido a adoção como livro
didático das escolas públicas do Estado de São Paulo. A partir daí não conseguiu mais
parar.
Seus personagens do livro O sítio do Picapau Amarelo possuem características próprias
e marcantes, sendo que cada um deles representa um segmento social. Suas duas
personagens adultas, Dona Benta e Tia Anastácia, representam as fontes do saber
erudito e popular, que quebram a hierarquia que separa a criança de gente grande,
característica marcante da educação da época, ou seja, a autoridade vinha da
experiência da avó, e não do seu “autoritarismo” como adulto.
47
A boneca Emília em 1920 e sua adaptação para os quadrinhos da Editora Globo na
década de 2000
Fonte: Wikipedia.
A personagem Lúcia, de nariz arrebitado, é um encanto de menina, a quem pertence
Emília, uma boneca de pano feita por Tia Anastácia. A princípio, a Emília não falava,
mas numa segunda versão passa a falar como uma pessoa. Há estudiosos que dizem
que a Emília é a “voz expressa” de Lobato, e que é personagem fundamental para
compreender a sua obra.
Há também outras personagens, como o Pedrinho, neto de Dona Benta, animais que
ganham vida e voz como seres humanos, além do Visconde de Sabugosa, importante
personagem na obra de Lobato. Viscondeé um intelectual que tem a ciência e a
técnica como objetivos concretos, como por exemplo, aumentar a riqueza material
desfrutável do planeta.
48
Fonte: Amazon.
Em seus últimos livros infantis, A reforma da natureza (1941) e A chave do Tamanho
(1942) falam dos males que o progresso traz à humanidade. Essas histórias têm como
pano de fundo as duas grandes guerras. Assim, se por um lado Lobato defendeu o
progresso como forma de bene�ciar o homem, também o culpa por acabar com o
próprio homem, destacando a guerra como grande ameaça ao ser humano.
49
Monteiro Lobato criou um universo para a criança enriquecida pelo folclore
e os costumes do povo brasileiro, com o objetivo de desenvolver o
nacionalismo. Os aspectos do povo eram destacados na ação das
personagens que re�etiam na brasilidade, na linguagem, comportamentos e
na relação com a natureza. Um de seus personagens que representa o ideal
dos contadores de história da antiguidade, por exemplo, Visconde de
Sabugosa, que é o intelectual contador de histórias. Além de despertar o
interesse da criança através do imaginário, Lobato conscientiza com a sua
literatura denunciadora, que envolve fatos políticos-econômicos-sociais.
Monteiro Lobato Foi um revolucionário progressista, fundador de inúmeras editoras e
jamais deixou de lado os castelos de contos de fadas e o folclore nacional, (re)criando
o mundo ao seu redor, a partir de coisas do seu cotidiano, desta forma escreveu mais
de quatro mil e seiscentas páginas só de obras infantis.
50
06
As histórias e o 
universo infantil
51
A Importância das Histórias
para a Infância
Caro aluno,
A Literatura Infantil, por meio de suas histórias, tem um grande signi�cado no
desenvolvimento de crianças, pois ao ouvir ou ler re�etem sobre as situações
emocionais, fantasias, curiosidades e enriquecimento, e, por conseguinte, seu
desenvolvimento perceptivo.
As histórias infantis in�uenciam em todos os aspectos a educação da criança, pois na
afetividade: desperta a sensibilidade e o amor à leitura; na compreensão desenvolve o
automatismo da leitura rápida e a compreensão do texto, e na inteligência, contribui
para o desenvolvimento da aprendizagem, por meio de termos e conceitos e a
aprendizagem intelectual (PINTO, 2004)
Nós aprendemos a ler antes mesmo de sermos alfabetizadas, pois desde a mais tenra
idade somos conduzidos a entender um mundo que se transmite por meio de letras e
imagens. Portanto, nesse “processo” de leitura precisamos estimular, incentivar a
criança.
52
O pré-leitor é uma categoria que abrange duas fases. A primeira infância, que vai até
aos 2 anos de idade, é a fase na qual a criança começa a reconhecer tudo que está ao
seu redor através do contato afetivo e do tato. Por isso, nessa fase, a criança sente a
necessidade de pegar e tocar tudo. Outro marco importante nessa fase é a aquisição
da linguagem, quando a criança começa nomear tudo a sua volta. É a partir dessa
percepção que precisamos estimulá-la utilizando materiais sonoros.
A segunda infância, que é a partir de 2 / 3 anos de idade, é marcada pelo o início da
fase egocêntrica, ou seja, tudo parte dela, pois é ela o “centro de tudo.” Nessa idade a
criança está mais adaptada ao meio físico, interessando-se mais pela comunicação
verbal e atividades lúdicas. E é exatamente nessa fase, segundo a autora Abramovich
(1997) que devemos apresentar um contexto familiar, com domínio de imagem, sem
texto escrito, já que é com a nomeação das coisas que a criança estabelecerá uma
relação com os livros.
Por volta dos 6/7 anos de idade é a fase na qual a criança começa a apropriar-se da
decodi�cação dos símbolos grá�cos, mas como ainda encontra-se no início do
processo, o papel do adulto como “agente estimulador” é fundamental. As histórias
devem estimular a imaginação, a inteligência, a afetividade, as emoções, o pensar, o
querer, o sentir entre outros aspectos e características da criança. Não devemos
esquecer nunca que a leitura, faz parte do processo de construção do conhecimento e
acompanha o aluno durante toda sua formação.
O contar histórias acontece em toda parte do mundo, e este impulso de contar
histórias nasceu com o homem, quando sentiu necessidade de se comunicar com os
demais que o cercam.
Criar o hábito e a conexão prazerosa com a literatura desde a infância é o mais amplo
caminho para criar possibilidades de vermos cada vez mais adultos  leitores  e
conscientes de suas próprias leituras.
O universo criado pela relação com os livros é enorme, passando pelo encantamento,
pela descoberta de novas ideias e histórias e pela  formação  de novas re�exões e
questionamentos. Se uma criança, desde sua mais tenra idade, entende que folhear
as páginas de um bom livro é um momento divertido e desconexo de obrigações, o
contato com uma  literatura  cada vez mais diversa será ampliado durante a
adolescência até a fase adulta.
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Acesse o link: Disponível aqui
As crianças não nascem com seus interesses prontos, essa construção do
interesse depende muito da colaboração dos adultos durante a primeira e
segunda infância.
A história não tem um único objetivo, ou seja, ela tem várias funções que podem
despertar e in�uenciar o seu ouvinte estimulando outras áreas. Podemos encontrar,
por exemplo, sua importância nos aspectos recreativo, instrutivo, educativo, entre
outros.
As histórias também são aliadas no incentivo à leitura. Considerando que um dos
objetivos da escola é o desenvolvimento do gosto pela leitura, não como algo que seja
obrigatório, mas que o professor encontre estratégias para despertar a vontade de ler
em seus alunos.
Quando a criança tem contato com bons modelos literários, além de despertar a sua
imaginação, também facilita a sua expressão de ideias e expressão corporal, quando
procura imitar ou representar as personagens das histórias, colocando-se no lugar
das personagens das fábulas e contos de fadas. Dessa forma, “as histórias são um
‘abra-te Sésamo’ para o imaginário, em que a realidade e a fantasia se sobrepõem”
(DOHME, 2000, p.08).
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http://ociclorama.com/pequenos-leitores-o-universo-da-literatura-infantil/
Porém, o ouvir histórias não só desperta o gosto pela leitura e a imaginação, mas
também proporciona ao ouvinte o descobrir soluções para seus problemas, con�itos
e emoções levando-o a resolução dos mesmos.
[...] a história é importante alimento da imaginação. Permite a
autoidentificação, favorecendo a aceitação de situações
desagradáveis, ajuda a resolver conflitos. Acenando com a
esperança. Agrada a todos, de modo geral, sem distinção de idade,
de classe social, de circunstância de vida (COELHO, 2001, p12).
Bettelheim (1979) também destaca a importância dos contos no desenvolvimento
psicológico das crianças. Pois, segundo ele, os contos de fadas além de tratarem dos
problemas universais, ajudam a lidar com problemas psicológicos nas fases de
constituição da personalidade. 
De acordo com Tahan (1957, p. 21), ao ouvir histórias a criança pode desenvolver e
alcançar diversos objetivos como:
a) Expressão da linguagem infantil- enriquecendo o vocabulário e facilitando a
expressão e a articulação;
b) Estímulo à inteligência- desenvolvendo o poder criador do pensamento infantil;
55
c) Aquisição de conhecimentos- alargando os horizontes e ampliando as experiências
da criança;
d) Socialização- identi�cando a criança com o grupo e ambiente, levando-a
estabelecer associações, por analogia, entre o que ouve e o que conhece;
e) Revelação das diferenças individuais- facilitando à professora o conhecimento de
características predominantes em seus alunos, evidenciadas através das reações
provocadas pelas narrativas;
f) Formação de hábitos e atitudes sociais e morais- através da imitação de bons
exemplos e situações decorrentes das histórias, estimulando bons sentimentos na
criança e incitando-a na vida moral;
g) Cultivo da sensibilidade e da imaginação – condição essencial ao desenvolvimento
da criança;
h) Cultivo da memória e da atenção- ensinando a criança a agir e preparando-a para a
vida;i) Interesse pela leitura- familiarizando a criança com os livros e histórias,
despertamos, para o futuro, esse interesse tão necessário.
Assim, a literatura infantil, por meio de suas histórias, abre as portas para a
inteligência e para a sensibilidade da criança, possibilitando a sua formação integral.
A Criança e as Histórias
As histórias podem estimular e desenvolver muitos aspectos. Podem divertir,
estimular a imaginação, podem atingir outros objetivos como o educar, instruir,
conhecer melhor os interesses pessoais, desenvolver o raciocínio, ser ponto de
partida para trabalhar algum conteúdo programático, despertando um maior
interesse pela aula. Favorece a compreensão de situações desagradáveis, além de
poder ajudar a solucionar con�itos pessoais.
A história nunca passa indiferente para a criança, pois ela pode envolver sentimentos,
interferindo no pensamento, informando, socializando e educando. Ao ouvir ou ler a
história, a criança poderá se identi�car com as personagens, trazendo assim, o que é
56
�ctício para a vida real.
Dessa forma, por meio desse processo de identi�cação com as personagens, a criança
passa a viver um jogo �ccional projetando-se na trama narrativa, e dessa maneira a
criança passa a vivenciar, a experimentar temporariamente sentimentos das
personagens, sem correr nenhum risco.
Cada criança tem suas características e especi�cidades e possui necessidades
diferentes uma das outras. E é nessa perspectiva que a história pode alcançar cada
criança de modo diferente permitindo a cada uma delas a buscar o que lhe é
necessário e prazeroso. Por isso, a história deve ser levada a sério, exigindo cuidado,
pois poderá in�uenciar a criança, negativa ou positivamente.
Durante os primeiros anos de vida da criança são construídas e desenvolvidas
maneiras particulares e peculiares de ser, e esquemas de relações com o meio e com
as pessoas. Assim, como o seu comportamento emocional, individualização do seu
corpo, formação da consciência de si mesma são processos paralelos. Dessa forma, a
utilização dos contos de fadas como uma das ferramentas pode ser levada em
consideração para que esse desenvolvimento aconteça.
57
Literatura Infantil, Leitura e
Cidadania
A criança leitora transformada em cidadão leitor e usuária da escrita constrói o
conhecimento com uma visão crítica da realidade, sempre descobrindo o saber para a
construção de um novo mundo.
Atualmente, há uma grande preocupação por parte dos educadores, principalmente,
nas escolas do ensino fundamental, em como incentivar a criança a ler em um mundo
dominado pelas novidades virtuais. Digo que o grande desa�o dos educadores é fazer
da Literatura Infantil e da leitura, de modo geral, um momento prazeroso em que a
criança se sinta envolvida na leitura de história, e não a veja como uma tarefa
mecânica a ser cumprida.
Pensando no contexto escolar, nas instituições de ensino infantil ou fundamental, há
de se ter um cantinho especial para a realização de leituras, e as crianças devem ter
muitas oportunidades de manuseio, podendo folhear os livros, e lê-los
individualmente ou em grupos; momento em que as histórias lidas possam ser
sociabilizadas com os demais.
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Para que haja realmente uma transformação verdadeira do ensino da leitura e da
escrita, cabe à escola favorecer a aprendizagem signi�cativa, abandonando as
atividades mecânicas e sem sentido. Assim, segundo Lerner (2002, p. 73), “ler é entrar
em outros mundos possíveis. É indagar a realidade para compreendê-la melhor, é se
distanciar do texto e assumir uma postura crítica frente ao que se diz e ao que se
quer dizer, é tirar carta de cidadania no mundo da cultura escrita”.
Partindo dessa perspectiva, cabe ao professor propor situações em que a criança
interaja com o universo literário, por meio do contato com livros e atividades
signi�cativas a partir da literatura infantil.
A importância da literatura no universo infantil é inquestionável, pois é por
meio dela que as crianças começam a formar sua leitura de mundo e
despertar para rabiscos, traços e desenhos desde muito cedo, conforme as
oportunidades que lhe são oferecidas. O meio social em que a criança está
inserida, ou seja, a oportunidade oferecida pela família e pela escola com as
obras literárias contribui – e muito – para o seu desenvolvimento. Nesse
sentido, uma criança que desde cedo escuta histórias e tem contato com
livros, certamente será um adulto leitor, terá prazer em ler, sua imaginação e
criatividade serão estimuladas a expressar ideias.
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07
A ilustração no 
livro infantil
60
A Importância da Ilustração
nos Livros Infantis
Caro aluno,
Existem diversas formas de ler o mundo e uma delas é por meio das imagens que
ilustram a nossa vida. E, considerando as imagens presentes em nossas vidas,
ressaltamos a importância das ilustrações dos livros infantis, evidenciando a sua
utilização como metodologia aplicada na sala de aula.
É certo que o uso de imagens como forma de propiciar o aprendizado não é
facilmente descartado pelos pro�ssionais da educação. É nessa perspectiva que se
compreende a atribuição da importância das imagens enquanto leitura ou suporte na
Literatura Infantil, pois possibilita, de forma mais dinâmica, o desenvolvimento
infantil. As ilustrações se apresentam enquanto auxiliares e desenvolvem processos
de interpretação que ajudarão no crescimento e na transformação da criança e do
seu mundo.
Por meio dos livros infantis, é possível alimentar o imaginário da criança, contribuindo
para que as re�exões comecem a fazer parte de seu cotidiano familiar e individual,
acerca também das interpretações sobre as questões afetivas, artísticas, entre tantas
outras.
O contato com ilustrações, enquanto mecanismo de socialização positiva, pode
direcionar a criança a estabelecer um desenvolvimento cognitivo e um diálogo
harmonioso com os colegas (SIMÃO, 2013), e esse é um ponto de partida importante
para o processo de construção da personalidade.   
Quando o texto é constituído apenas por algumas frases, a ilustração adquire um
papel relevante na estruturação da narrativa. Assim, ela deve ser cuidadosamente
analisada em suas sequências de cenas, na representação das personagens e suas
expressões, com atenção aos detalhes do espaço e ao tempo, com o objetivo de que
as crianças acompanhem e dominem plenamente a história e as formas nas quais
elas são narradas (FARIA 2008 apud SIMÃO, 2013).
61
Ainda segundo Simão (2013), as ilustrações são importantes enquanto meio de
desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem, além de contribuir também
para a constituição da personalidade da criança, pois ao aprender a ver o conteúdo
do universo literário nas imagens, também é possível inserir a criança em uma nova
visão, gradativamente, no simbolismo que representa a imagem, numa maneira de ler
e entender as coisas e o mundo.
É na perspectiva de associação entre palavra e imagens, que a ilustração ganha certo
caráter de efeito estético que introduz elementos de percepção, compreensão e
descoberta. En�m, que contém um conjunto de sentidos que estimulam a re�exão e
proporcionam uma aprendizagem mais ampla, pois trabalha o universo imaginário
que cada indivíduo possui. (SIMÃO, 2013, p. 27).
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Acesse o link: Disponível aqui
Livro de Imagens: o uso das imagens para informar e contar histórias vem
de longa data. Na Idade Média, por exemplo, as ilustrações narravam
acontecimentos nas paredes das igrejas, dando condições aos analfabetos
de “lerem” o calvário de Cristo. Atualmente, a produção de literatura infantil
em diferentes formatos e mídias tem contribuído para a discussão sobre
novos referenciais acerca da leitura literária para crianças e jovens.
O Que é Ilustração nos Livros
Infantis?
Na fase infantil, a imagem representa uma ponte de possibilidades para fazer
relações com o conhecimento cognitivo (SIMÃO, 2013). Há a necessidade de despertar
a criança para algo que estimule a sua curiosidade, e a ilustração pode ser um elo
entre a imagem e o signi�cado que se traduz para ela comoum meio para estabelecer
a compreensão de algo. Assim, “livros infantis que contêm ilustrações se tornam
instrumento de transmissão de conhecimento por conseguir penetrar no universo
imaginário, e ao mesmo tempo contribuem para o desenvolvem a inteligência das
crianças” (MANGUEL, 1998 apud SIMÃO, 2013).
A imagem é a primeira forma de leitura desenvolvida no indivíduo, ainda enquanto
criança, e permanece ao longo da vida. Ela está presente nos símbolos de produtos e
em informações de nosso dia a dia. Pois a imagem é uma representação
“semiconcreta”, mais direta que o código verbal escrito, apresenta-se de forma
abstrata (SIMÃO, 2013). Essa representação visual na literatura infantil tem como
63
http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/livro-de-imagens
entendimento uma fértil interpretação que revela a imaginação, que vem carregada
de signi�cados e leva a criança a desenvolver a sua própria linguagem a partir do
contexto em que está inserida.
A riqueza dos livros que contam histórias através de ilustrações, ou seja, falam por
imagens, provocam o conhecimento ou reconhecimento de objetos e seres do seu
cotidiano que são expressos oralmente pela nomenclatura atribuída, favorecendo o
convívio direto com imagens, que, associadas com palavras nomeadoras facilitam a
mente o hábito de adicionar a pratica de identi�car o mundo a partir de uma
percepção visual. (SIMÃO, 2013, p. 28).
A autora ainda nos aponta que a capacidade de ler por meio das imagens não está
vinculada à atividade natural de enxergar, mas a dimensões, à percepção de
conteúdos e dimensões socioculturais do leitor (2013). No entanto, a linguagem só é
concretizada quando este olhar atento capta, lê e dá signi�cado à imagem, colocando-
se nessa perspectiva dialética. E é desta percepção de mundo, por meio de estímulos
às emoções e da organização do pensamento, que depende o desenvolvimento da
linguagem.
No momento da criação da imagem, o objetivo do ilustrador é um produto externo,
pois ainda que produza a imagem na mente, ele busca o que já viu e experimentou.
“Então, a imagem relativa-se no espaço e no tempo, necessitando de uma organização
no processo de criação” (SIMÃO, 2013, p. 29). Porém, quando chega às mãos do leitor
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Ilustração de Gustave Doré (1832-1886) para o conto de fadas “O Gato de Botas” e de
Carl O�terdinger (1829 - 1889) para “Cinderela”
Fonte: Wikipedia.
infantil, esta produção de imagens rompe a linearidade, produz sintagmas visuais
indeterminados – até mesmo imperceptíveis – na medida em que é acolhido pelo
pensamento imagético desse pequeno leitor.
Assim, é preciso examinar a leitura da imagem sob várias perspectivas, abarcando-as
em diferentes repertórios e estabelecendo relações variadas capazes de “ensinar a
pensar” e gerar autonomia intelectual nas novas gerações, possibilitando assim a
transformação social por parte dos leitores. Esse tipo de leitura re�ete diretamente na
compreensão da realidade, e a criança aprende a desenvolver um sistema pessoal
de ideias e sentimentos acerca do universo e do mundo. “Consequentemente, no
olhar aperfeiçoado constrói-se, também, a linguagem que possibilita a inserção deste
leitor de imagens nos processos de socialização” (SIMÃO, 2013, p. 29).
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Atualmente, os livros infantis são repletos de ilustrações e recursos grá�cos
variados, materiais e estilos diversos, com histórias tradicionais ou
modernas. São capazes de prender a atenção das crianças e abrir portas
para o universo mágico e misterioso da leitura, resultando em inúmeras e
importantes aprendizagens, além de ajudar a despertar o gosto pela leitura
e auxiliar no processo de alfabetização e letramento da criança.
Os livros infantis são recursos indispensáveis no processo de aquisição da linguagem
oral e escrita, uma vez que possibilita diferentes leituras e interpretações, despertam
conhecimentos e instigam a criança a adentrar o universo mágico do ato de ler. Logo,
suas ilustrações devem ser um dos principais recursos, ao passo que estão mais
relacionadas ao lúdico e o universo infantil, e não devem de forma nenhuma ser
ignoradas ou tratadas com menor valor por parte de educadores, pois “nos livros
infantis ilustrados, o texto e a imagem se articulam de modo que ambos concorrem
para a boa compreensão da narrativa” (FARIA, 2004 apud SIMÃO, 2013).
A ilustração no livro infantil ajuda a organizar o pensamento e a entender o que se
está lendo na linguagem escrita e vice-versa. A ilustração não precisa acompanhar um
texto escrito, pois, de forma lúdica, ela ajuda na visualização agradável da página,
quebra o ritmo em textos longos, apoia a leitura do ponto de vista do enredo ao
construir formas, personagens, cenários; en�m, ajuda na construção do pensamento
da criança (SIMÃO, 2013, p. 30).
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Um dos objetivos da Literatura Infantil é introduzir o ser humano ao mundo
literário. O livro é um instrumento que contribui para a formação de um
indivíduo, com espírito crítico e analítico. Quando a criança tem contato com
o livro infantil aprende a viver em seu contexto social com mais re�exão e
opinião. O ato da leitura não é só decodi�car, e sim interpretar, ao se
explorar um texto deve-se estabelecer discussões que estimulem a
criticidade infantil, fazendo com que as crianças exponham suas produções,
formando-se bons leitores de imagens.
A escola deve ser formadora de novos talentos; os educadores devem
estimular a leitura com propósitos fundamentados na interpretação e
compreensão das histórias infantis. Portanto, a imagem/ilustração no livro
infantil ajuda a organizar o pensamento do leitor. Ao ler livros ilustrados, a
imagem ajuda na visualização agradável da página, na quebra do ritmo em
textos longos, apoia a leitura do ponto de vista do enredo ao construir
formas, personagens, cenários; en�m, ajuda na construção do pensamento
da criança.
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08
Critérios de avaliação 
de obras literárias
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Caro aluno,
A Literatura Infantil é uma manifestação artística. Então, não pode trair seu leitor, ou
seja, a criança, com livros meramente educativos, somente com intencionalidades
pedagógicas. Porém, ser infantil não signi�ca que tem que ser menor, pueril, frívolo.
Pois, se for compreendida dessa maneira, vamos esmagar o leitor com ensinamentos
direcionados, moral evidente, afastando o leitor do desenvolvimento pelo gosto e
prazer de ler (IMPERIAL, 2018, recurso eletrônico).
Como Avaliar o Texto Literário:
Critérios de Análise
Uma das funções da Literatura Infantil é entreter, desde que o leitor tire suas
conclusões, por meio de textos que ofereçam interpretações e que apresentem uma
plurissigni�cação-conotação de sentido (IMPERIAL, 2018).
Por meio de seu objetivo em desenvolver o gosto estético, o prazer por ler, a
valorização da cultura, costumes e tradições, a literatura infantil in�uencia de forma
direta o processo educativo e formativo do indivíduo. Diante dessa perspectiva, o
futuro professor deve ter consciência da importância dos critérios de análise dos
livros infantis, além de conhecer como ocorre o desenvolvimento psicológico da
criança e o livro mais adequado para cada faixa etária.
Mas como o futuro professor construirá conhecimentos para avaliar a obra infantil?
Primeiramente, ele deve gostar do fantástico mundo da Literatura Infantil. É
imprescindível que o professor conheça e leia diferentes textos infanto-juvenis e
veri�que no texto, seja em prosa ou em verso, suas características, seu valor artístico
e a consciência de mundo do autor e sua mensagem.
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É fundamental observar que, por ser dirigido à criança, o texto infantil não
deve ser tomado por menor, com texto e temas fáceis e tolos, pois não
devemos subestimar a inteligência das crianças. O texto deve falar à área da
criação, da interpretação, ser interessante e agradar. Quando é pueril,
ingênuo ou tolo, o texto torna a leitura cansativa. A história sem expressão
não atrai a atenção da criança, que acaba rejeitando-o por justamente ser
limitado e não estimular a imaginação. Geralmente, esse tipo de

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