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Literatura Infanto-juvenil - Temas 1 a 8

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Matéria: Literatura Infanto-juvenil. 
Assunto: Temas 1 ao 8. 
Curso de Pedagogia 
Licenciatura – 4º Período 
 
 
Anhanguera - Pedagogia – Literatura Infanto-juvenil – Temas 1 ao 8..................................................................... Página 2 de 72 
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Tema 1 
A Literatura Infantil e a Formação da Nova Mentalidade Docente 
Neste tema você perceberá a importância da literatura infantil na formação 
do leitor bem como a necessidade de aperfeiçoamento das competências docentes 
para que isso aconteça de forma eficaz e prazerosa, alertando para as 
especificidades do texto literário sem afastar da ludicidade da leitura. 
Considerando que o texto literário apresenta alguns aspectos linguísticos de função 
independente que não precisa de um contexto de interação humana imediata para 
ser compreendida, percebe-se a necessidade de extrair da leitura sensações ou 
reações do leitor, elementos que contribuem aos poucos para a formação de 
opiniões bem como do senso de apreciação estética. 
O essencial, nesse sentido, é ver a criança como um “leitor em 
desenvolvimento”, o que implica reconhecer o leitor implícito. Isto é, o livro precisa 
pretender alcançar a criança, e nós, como auxiliares da leitura, devemos aprender a 
definir as circunstâncias de seu uso a partir dessa pretensão. Para tanto, 
seguiremos alguns caminhos indicados por Lúcia Pimentel Góes (1996) para 
compreender e formar o leitor sujeito - ativo e criador, que perceba a leitura e o 
mundo com um olhar de “descoberta”. 
Então estamos combinados: você começará a compreender o porquê da 
procura de novos caminhos para a leitura e a didática da utilização de textos 
infantis. 
A Literatura Infantil e a Formação da Nova Mentalidade Docente 
Na nova era que se inicia, também chamada de Pós-Modernismo pelos 
estudiosos da história do homem, percebe-se o crescimento de uma imensidão de 
problemas que, ao longo dos tempos, esperam solução. Nesse contexto, a educação 
e o ensino remetem à procura urgente de reflexões e respostas para as mais variadas 
perguntas, a fim de que uma nova civilização nasça da consciência e da 
responsabilidade para consigo mesma e para com o mundo que cada indivíduo vai 
criando para si desde a mais tenra infância. 
O microcosmo da vida real que se transfigura em arte - chamado de literatura 
- tem um papel importante nessa elaboração de respostas, já que serve como agente 
de formação e integração do real com o imaginário da vida do ser humano. Pelas 
vias do livro, a palavra escrita ajuda a formar a consciência das crianças e dos 
jovens, mostrando a todos que a palavra literária nunca esteve tão viva, apesar das 
tecnologias eletrônicas de massa, o que mais uma vez prova que “nenhuma forma 
 
 
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de ler o mundo dos homens é tão eficaz quanto a que a literatura permite” 
(COELHO, 2002, p. 15). É a partir desse contexto que a literatura infantil renova os 
valores herdados e provoca, desde a primeira infância, uma transformação 
essencial e necessária na formação da nova mentalidade do ser em construção - a 
criança. 
O espaço perfeito para que essa (trans)formação ocorra ainda é a escola: local 
de exercício mental, conscientização da presença dos outros, dinamização e leitura 
das variadas expressões de comunicação do ser humano, que deve ser ao mesmo 
tempo libertário e orientador, a fim de que o autoconhecimento seja uma porta de 
acesso à cultura e à expressividade individual. 
Para visualizar esse espaço de construção do saber (a escola) como responsável 
pela completa formação do indivíduo, devemos entendê-lo como propício para 
duas facetas da aquisição da cultura: 
1) assimilação dos conhecimentos e 
2) liberação das potencialidades. 
Do primeiro se espera a integração das informações mais novas ao cabedal de 
experiências já vividas pelo indivíduo; do segundo, se espera a liberdade de 
expressão, direito do ser humano de se manifestar em todas as suas possibilidades. 
Literatura Infantil - Um Projeto de Ensino para a Escola 
A fim de entender a Literatura Infantil como um “projeto de ensino”, a partir 
de sua visão libertária do real e do imaginário, Coelho (2002, p. 17-18) propõe 
alguns pressupostos dos quais resulta a responsabilidade da escola, a saber: 
1. Considerar a criança como um aprendiz de cultura - ser educável. 
2. Conceber literatura como uma experiência social/existencial/cultural. 
3. Valorizar as relações entre a literatura, a história e a cultura. 
4. Compreender a função da leitura: diálogo entre leitor e texto. 
5. Assimilar que a escrita é uma derivação da leitura. 
6. Assegurar-se de que os meios didáticos sejam neutros. 
7. Entender a escola como espaço privilegiado de procura do saber. 
De que modo, então, a escola proporciona a criação de uma nova mentalidade 
a partir das ideias apresentadas por Coelho (2002)? A resposta é que somente com 
base no conceito de literatura infantil como formadora de novas mentalidades, 
bem como a partir de uma visão do professor como orientador nesse processo, será 
possível realizar didaticamente todos os passos sugeridos pela autora. Para que essa 
formação literária ocorra atualmente na formação docente, são apresentados ao 
professor alguns valores considerados “tradicionais” mais criticamente, como hoje 
 
 
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estão sendo encarados, levando-se em consideração a realidade histórica, social e 
cultural da sociedade de nossa época. Esses dados são importantes para uma leitura 
crítica da nova realidade literária infantil, que não deve deixar de ser um 
instrumento de emoção, prazer e, ao mesmo tempo, um direcionamento na procura 
e na descoberta de novos caminhos para a realização pessoal e individual do ser 
humano: 
 
Para conhecer como trabalhar literatura infantil é necessário entender a 
literatura como um fenômeno artístico e criativo que representa a humanidade, a 
vida e o mundo através da palavra. Da fusão do real com o imaginário, na literatura 
nasce a expressão da linguagem que reaviva os valores de toda a experiência do ser 
humano, expondo suas mais diversas manifestações ao longo dos tempos. 
Conhecer essas expressões e perceber sua importância é fundamental para 
compreender a literatura como um fenômeno literalmente humano, misterioso e 
essencial no processo de produção/ recepção que implica (trans)formações dos 
valores linguísticos, poéticos, éticos, metafísicos etc. 
A literatura sempre foi entendida, e hoje mais do que antes, como a mais eficaz 
forma contemporânea de alertar/ despertar a consciência crítica do leitor/receptor. 
Nenhuma outra atividade cultural amplia ou distende tão amplamente a 
capacidade de percepção humana quanto à literatura e a suas expressões de 
emoções, paixões, sentimentos e desejos de toda ordem. 
Literatura Infantil e Psicologia Experimental 
Bem, você já entendeu a importância da literatura. Mas e a Literatura Infantil? 
Poderíamos concordar com a ideia de que esse tipo de literatura sugere facilmente 
o pensamento orientado para distração, prazer, cor, imagem; no entanto, não é bem 
isso o que ocorre. Por muito tempo a literatura infantil foi realmente tratada dessa 
maneira, ligada somente à diversão e ao aprendizado, tendo em vista a percepção 
arcaica da criança como um “adulto em miniatura”. As obras para esse público 
mirim eram reduzidas em seu valor, expurgadas das dificuldades de linguagem, 
digressões e reflexões e, por tal motivo, eram encaradas como um gênero “pueril”, 
que tinha como único objetivo manter a criança entretida. 
 
 
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No século XX, com o auxílio da Psicologia Experimental, que chamou atenção 
para os diferentes estágios de desenvolvimento da criança e das fases de 
conhecimentos que esta atravessa durante esses estágios, a literatura infantil 
começou também a ser encarada como um elemento de formação na passagem 
dessas fases, a fim de conseguir falar/comunicar-se com mais autenticidade com 
seus possíveis destinatários. 
Segundo Mark Soriano (1975), o ato de ler um texto literário se transforma 
num ato de aprendizagem para as crianças, a partir do direcionamento que se dá ao 
público de determinada idade, considerando o livro como uma mensagem 
codificada que o aprendiz deve decodificar se quiser atingir o prazer efetivo. 
Se a infância é um período de aprendizagem, [...] toda mensagem que se 
destina a ela, ao longo desse período, tem necessariamente uma vocação 
pedagógica. A literatura infantil é também ela necessariamente pedagógica, no 
sentido amplo do termo, e assim permanece, mesmo no caso em que ela se define 
como literatura de puro entretenimento. (SORIANO, 1975, em COELHO, 2000, p. 
31). 
Desse modo, contemporaneamente, podemos encarar a literatura infantil não 
somente como um meio de entretenimento, mas mais como uma forma de 
aventura espiritual que engaja o eu de cada leitor a uma experiência riquíssima de 
vida, conhecimento e despertar de emoções. 
Para que essas definições fiquem bem claras, você vai conhecer agora as 
categorias de classificação do desenvolvimento infantil da Psicologia Experimental 
que foram aproveitadas pela literatura infantil, esclarecendo que essa classificação 
é aproximativa, dependendo não somente da faixa etária da criança mas também 
do nível de amadurecimento e do domínio da leitura de cada criança. 
1) PRÉ-LEITOR (primeira infância -15e17 meses aos 3 anos de idade) 
Nesta fase, o bebê descobre seu ambiente e expressa seus desejos por gestos e 
balbucios. O primeiro impulso é o “toque”. Tocar é muito importante, pois o 
conhecimento começa com a manipulação. Por isso é importante deixar que o tato 
ajude a criança a conhecer tudo que a rodeia, inclusive o livro. Como o bebê não tem 
paciência para ficar assentado, o contato com os livros sofrerá reflexos desse 
comportamento sem concentração: haverá uma dada manipulação rápida do livro, 
para abandoná-lo em seguida e trocá-lo por outra coisa. Procurar livros que tenham 
gravuras que fazem parte da realidade da criança (como chocalhos, chupetas, 
bichos de pelúcia etc.) também estimula a percepção da representação do real. 
PRÉ-LEITOR (segunda infância - a partir dos 2 e 3 anos de idade) 
Nesta fase as brincadeiras são bastante egocêntricas. Em grupo, a 
sociabilidade ainda é inicial. Desde muito cedo, a criança que entra em contato com 
os livros e a leitura, apesar de não entender a história, já é capaz de perceber que os 
adultos falam de forma diferente ao lerem um livro. Elas começam a notar, 
primeiramente, que o ritmo e a emoção na voz do adulto se alteram e percebem que 
 
 
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existem “coisas” dentro dos livros além das imagens. Contar histórias com emoção, 
mostrar as imagens, deixar as crianças tocarem, cheirarem, sentirem o livro, todas 
essas ações devem ser práticas da família e das cuidadoras das creches. Nessa fase, 
a presença do adulto é essencial e as atividades lúdicas aceleram a descoberta do 
mundo concreto e do mundo da linguagem. Daí que os livros devem propor 
experimentações e vivências que façam parte do cotidiano das crianças, como, por 
exemplo, escovar os dentes, fazer xixi antes de se deitar, lavar as mãos antes das 
refeições, acariciar um animal de estimação, passear com a família etc. 
COMO DEVEM SER OS LIVROS E A LEITURA: 
• Deve haver predomínio das imagens, que têm de ser atraentes e 
relacionadas à realidade. 
• As imagens devem ser coloridas, podendo-se utilizar a técnica da 
colagem para chamar mais atenção. 
• O humor e também o mistério são muito importantes no despertar da 
curiosidade. 
• As histórias devem ser lidas e relidas (o conhecido “de novo”) toda vez 
que isso for solicitado, pois essa demanda por repetições faz parte da 
construção interna do mundo da criança, que se sente segura ao ouvir 
uma história cujos momentos principais já conhece de cor. 
2) LEITOR INICIANTE (a partir dos6e7 anos de idade) 
Nesta fase o adulto ainda é muito importante, pois a criança está 
reconhecendo as sílabas e os signos do alfabeto. É a fase da necessidade de aplausos 
e estímulo às vitórias alcançadas, o que o estimula a procurar conhecer mais nos 
livros. 
COMO DEVEM SER OS LIVROS E A LEITURA: 
• A imagem ainda deve predominar sobre o texto. 
• A narrativa deve ser linear (ter começo, meio e fim). 
• O maniqueísmo (luta entre os bons e os maus) ainda está presente. 
• Os enunciados devem ser diretos e as palavras devem ser simples para 
facilitar a leitura. 
• Atração pelas histórias bem-humoradas sobre personagens astutos e 
fortes que vencem o mal. 
3) LEITOR FLUENTE (a partir dos10e11 anos de idade) 
Domínio da leitura e da compreensão de mundo expressa no livro. Reflexão e 
engajamento se desenvolvem a partir do pensamento dedutivo e da capacidade de 
abstração. Fase da pré-adolescência em que o adulto já não se faz tão necessário para 
mediar a leitura. Fase da volta do egocentrismo e da preferência pela formação de 
 
 
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grupos, em que se possa demonstrar superioridade. O adulto deve ser um 
“desafiador” generoso dos seus alunos. 
COMO DEVEM SER OS LIVROS E A LEITURA: 
• O texto se sobrepõe à imagem, mas gravuras esparsas ainda são atraentes. 
• Idealistas e emotivos, os pré-adolescentes preferem as personagens 
heroicas e instigantes, que enfrentam e vencem a luta contra o mal. 
• A linguagem pode ser mais elaborada, porém de fácil leitura, sem erudição. 
• A atração se fixa nos contos e nas histórias que expliquem algum tipo de 
fato; as novelas de ficção também são bastante interessantes. 
• A presença do mágico e do maravilhoso que abre espaço para o amor 
também chama bastante atenção nessa fase. 
4) LEITOR CRÍTICO (a partir dos 12/13 anos de idade) 
Fase do domínio total da leitura, preferência por textos que provoquem 
reflexão e crítica. A ânsia em saber e vivenciar as experiências das personagens dos 
livros fica evidente, pela formação de novos valores e a incitação do prazer e da 
emoção provocados pela leitura. O adulto deve auxiliar o adolescente como um 
mago e seu aprendiz: a iniciação às teorias da literatura é muito importante nessa 
hora (relembre as correntes críticas da Teoria Literária). 
COMO DEVEM SER OS LIVROS E A LEITURA: 
• O convívio com o texto literário deve extrapolar o prazer. 
• A leitura deve provocar a reflexão e o desenvolvimento de novos 
conceitos. 
Natureza do Texto Literário 
Acredita-se que só se pode falar em literatura infantil a partir do século XVII, 
em que se deu a reorganização do ensino e da fundação do sistema educacional 
burguês. Antes dessa época, não havia propriamente uma infância no sentido que 
conhecemos, e as crianças eram vistas como adultos em miniatura, participando da 
vida adulta desde a mais tenra idade. Desse modo, as origens da literatura infantil 
estariam nos livros publicados a partir dessa época, com intuito pedagógico e 
utilizados como instrumento de apoio ao ensino. 
Os temas da vida adulta, como a luta pela sobrevivência, as preocupações, a 
sexualidade,a morte, o imaginário, as crenças, as comemorações eram vivenciados 
por toda comunidade, independentemente de faixas etárias. Nesse mundo, em que 
a crença em fadas, gigantes, anões, bruxas, castelos encantados, quebrantos e 
países utópicos e mágicos era disseminada, crianças e adultos sentavam-se lado a 
lado nas praças públicas, durante as festas, ou após o trabalho, para escutar os 
contadores de histórias. Daí que foram, antes de ser literatura infantil, literatura 
popular, voltada para a exemplificação, que fez com que esse gênero de textos 
 
 
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ficasse muito próximo da massa, das pessoas mais simples e menos cultas, mais 
primitivas culturalmente, já que o pensamento mágico era a tônica da maioria das 
histórias que atraía um grande público para as reuniões em torno dos contadores. 
Como você pode verificar, a literatura infantil teve seu primórdio como 
mediadora entre as mentes imaturas e a capacidade de percepção da vida e do 
mundo, ajudando a amadurecer o pensamento lógico-abstrato e sendo de 
importância inequívoca para o desenvolvimento das potencialidades naturais que 
se medeiam entre a infância e a idade adulta. Nesse sentido, como os valores 
visados pela transfiguração literária eram gerais e perenes, embora tenha 
desaparecido no tempo a circunstância particular e real que provocou a invenção 
do texto, tais valores continuam presentes e vivos na linguagem imagística ou 
simbólica que os expressou em arte. (COELHO, 2000, p. 44). 
Agora, nesse estágio do conhecimento, você já pode entender como e por que 
a literatura infantil ainda nos dias atuais continua a agradar e a entreter pela leitura 
dos clássicos universais e das obras folclóricas, que tão bem explicam os mitos ao 
longo de todos os tempos. 
 
Neste tema, você viu que a literatura infantil sofreu um processo de evolução 
a partir dos anos 1970 e que, desde então, passou a fazer parte da pedagogia da 
palavra, que estimula a leitura e a inserção de valores a partir da palavra literária. 
Nessa nova perspectiva, o gênero literatura infantil passa a fazer parte de uma 
pedagogia contemporânea que vai ao encontro de um novo público leitor, formado 
de crianças e jovens críticos e conscientes, que não mais se enquadram nos 
protótipos do passado. Viu também que algumas obras do passado reproduziam 
valores tradicionais (consolidados pela sociedade romântica do século XIX), as 
quais estão sendo, aos poucos, substituídas por obras que apresentam valores 
novos (que estão em processo de mudança e acompanhamento da sociedade). 
Você verificou ainda não só que a escola, espaço privilegiado de produção da 
cultura e do conhecimento, está cada vez mais se preparando para receber um 
aluno-sujeito questionador, produtor do seu próprio saber, mas também que a 
literatura infantil tem papel importante nesse processo, pois desde cedo estimula e 
propicia a procura por novas descobertas a partir da leitura. Nesse sentido, você, 
como futuro educador, torna-se o responsável por conhecer a tirar o melhor 
proveito possível dessa oportunidade de mudança. 
Neste tema você também pôde entender que abordar as diferenças entre os 
textos antigos e dogmáticos e os livros que compreendem a criança como ser 
reflexivo e em formação é um passo importante na evolução e no aprimoramento 
dos processos de desenvolvimento e formação de valores individuais. 
 
 
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Leitor implícito: explica-se o leitor implícito como uma entidade que está sempre em 
relação de passividade ao texto. Ele tem o papel de absorver as orientações 
fornecidas pelo autor, ou seja, ele só entende o que é dado. É ele que mostra esses 
dados absorvidos ao leitor real que é ativo e tem a função de construir o sentido do 
texto com a ajuda do seu repertório (conhecimentos de mundo adquiridos ao longo 
da vida, isto é, conjunto de normas sociais, históricas e culturais que constituem a 
competência de um leitor). 
Pós-Modernismo: esse termo pode ser definido como as características de natureza 
sociocultural e estética, que marcam o capitalismo da era contemporânea. Portanto, 
essa expressão pode designar todas as profundas modificações que se desenrolam 
nas esferas científica, artística e social, dos anos 1950 até os dias atuais. Também 
chamado de movimento pós-industrial ou financeiro, predomina mundialmente e 
é, sem dúvida, caracterizado pela avalanche recente de inovações tecnológicas, pela 
subversão dos meios de comunicação e da informática, com a crescente influência 
do universo virtual, e pelo desmedido apelo consumista que seduz o homem pós-
moderno. 
Microcosmo da vida real: mundo pequeno, mundo abreviado; miniatura da vida; 
imitação da vida real, o universo. O próprio homem como expressão do universo. 
Cabedal: “s.m. acumulação de coisas de valor; capital; bens; riqueza; dinheiro”. 
Pueril: “adj. m. e f. Que se refere à infância; infantil: ato pueril. Pej. Quem tem 
comportamentos ou pensamentos infantis, sem valor: argumento pueril”. 
 
Tema 2 
Literatura Infantil: Arte ou Instrumento Pedagógico? 
Os primeiros anos de vida são muito importantes no desenvolvimento de uma 
criança. Alguns estudiosos dizem que os três primeiros anos são fundamentais, 
enquanto outros acreditam que sejam os seis primeiros anos aqueles que podem 
fazer uma grande diferença. 
Literatura Infantil: Arte ou Instrumento Pedagógico? 
As primeiras produções de obras infantis tinham como base uma intenção 
exclusivamente pedagógica. Porém, com as mudanças na produção de livros livres 
de ideologias morais e repressoras da ideologia burguesa romântica, esse caráter 
pedagógico de agente do conhecimento passou a possibilitar também a fruição de 
 
 
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emoções e uma gradativa conscientização dos valores enfrentados no convívio 
social, o que possibilitou, ao mesmo tempo, o aparecimento da dicotomia que 
apresenta o problema da utilidade da literatura infantil: instruir ou divertir e abriu 
aos leitores mirins a oportunidade de incorporar à sua experiência humana a visão 
de uma realidade mais presente nos livros. 
Levando em consideração a inexistência de qualquer manifestação política ou 
cultural desprovida de ideologias, propõe-se a partir de agora uma reflexão sobre os 
elementos ideológicos que abertamente se expõem tanto no sistema educacional 
quanto no literário, já que o livro para crianças não se isenta dessas inserções 
ideológicas, tanto pela sua capacidade de proporcionar a aquisição de habilidades de 
leitura quanto de facilitar os momentos de prazer. 
Por se tratar de educação infantil, nota-se que a construção ideológica do ser 
adulto se potencializa e se materializa por vezes de maneira inconsciente, quando se 
julga que o que se ensina é o mais indicado e adequado à instrução do pequeno 
aprendiz. Esse tipo de atitude uniformiza (sob a perspectiva adulta) as 
características de formação da criança, manifestando a ideia de que somente os mais 
velhos é que estão preparados para decidir o que as crianças devem ser e pensar. 
Não acreditamos que isso seja total inverdade, porém, alertamos para a 
identidade e expressão incorporada à literatura infantil que, segundo Coelho (2002, 
p. 15) 
tem uma tarefa fundamental a cumprir nesta sociedade em transformação: a de 
servir como agente de formação, seja no espontâneo convívio leitor/livro, seja no 
diálogo leitor/texto estimulado pela escola. 
Para Cecília Meireles (1984),a literatura infantil deve corresponder à 
expressão estética, porém sem a preocupação de ser moral e/ou moralizante, 
embora constituída, como todo e qualquer texto, de elementos ideológicos. Daí a 
preocupação no cuidado com a seleção de boas obras literárias, de modo a 
estabelecer critérios de valor aos textos e reconhecer que a literatura infantil não 
pode ser desprestigiada como algo menor por se destinar a crianças. 
A escolha de discursos revestidos de autoritarismos presentes sob a forma 
pedagógica e moralista reduz a literatura a mero suporte pedagógico, a simples 
recurso didático. É por esse motivo que Nelly Novaes Coelho (2000) alerta para a 
importância do ato da seleção de livros que serão disponibilizados às crianças, 
constatando em seus estudos que na maioria dos livros publicados há determinada 
predominância da gratuidade (enredos simplistas, tolos, fragmentados e sem 
sentido) ou “[...] são obras sobrecarregadas de informações corretíssimas, mas que, 
despidas de fantasia e imaginação, em lugar de atrair o jovem leitor o afugenta” 
(COELHO, 2000, p. 48). 
 
 
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Além de Nelly Novaes Coelho, a autora Ligia Cademartori (2010) também 
destaca que é de suma importância entender e considerar o gosto do público infantil 
a que a obra será destinada, a fim de reconhecer as características e necessidades do 
grupo que receberá os livros. Para a autora as obras infantis que respeitam seu 
público são aquelas cujos textos têm potencial para permitir ao leitor infantil 
possibilidade ampla de atribuição de sentidos àquilo que vê. A literatura infantil 
digna do nome estimula a criança a viver uma aventura com a linguagem e seus 
efeitos, em lugar de deixá-la cerceada pelas intenções do autor, em livros usados 
como transporte de intenções diversas, entre elas o que se passou a chamar de 
“politicamente correto”, a nova face do interesse pedagógico, que quer se sobrepor 
ao literário (CADEMARTORI, 2000, p. 17). 
A Literatura e a Formação para a Consciência do Mundo 
No mundo contemporâneo de tecnologias e globalização surge uma cultura 
onde é nítida a existência da criança como um ser dotado de conhecimentos, 
sentimentos e desejos, ou seja, uma “cultura da infância”, que acredita serem os 
pequenos possuidores de vozes próprias que precisam ser ouvidas e respeitadas. Esse 
público tão peculiar e exigente quanto o adulto, dotado de inteligência, curiosidade 
e sentimentos, sedento de conhecer o mundo (conhecimento que tão propriamente 
a literatura pode oferecer) tem a capacidade inata de se divertir com o jogo sonoro 
dos poemas, provocado pelas intervenções artísticas dos autores, bem como 
descobrir todo o universo poético e fictício do qual a literatura sobrevive. 
Daí a necessidade de manter a dependência entre Literatura e Educação, 
principalmente no que se refere à Educação pela Literatura Infantil, questionando e 
proporcionando uma união qualitativa do trabalho didático, já que ambas 
desenvolvem- se a partir de cultura, seja ela infantil ou adulta. Desse modo, ao se 
considerar a existência de uma cultura da infância, não cabe mais a seleção de livros 
que não (co)respondam às expectativas da infância. Segundo Coelho (2000, p. 51) 
no ato da leitura, através do literário, dá-se o conhecimento da consciência de 
mundo ali presente. Assimilado pelo leitor, ela começa a atuar em seu espírito [...]. 
Mas para que essa importante assimilação se cumpra, é necessário que a leitura 
consiga estabelecer uma relação essencial entre o sujeito que lê e o objeto que é o livro 
lido. 
Por isso a importância do estabelecimento da orientação mediada correta e 
mais adequada, na medida do possível, para a escolha de livros apropriados, sem 
tensões ou traumatismos, a fim de que os pequenos aprendizes de cultura consigam 
efetivar uma sólida relação entre o universo literário e o seu mundo interior, o que 
facilitará a ampliação da consciência individual e da consciência do mundo que 
estão descobrindo. 
 
 
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O Ideal: Literatura Realista ou Fantasiosa? 
Em relação ao valor literário e sua importância no desenvolvimento infantil, 
Coelho (2000) alerta para a orientação a ser dada às crianças, a fim de que elas 
consigam estabelecer 
[...] relações fecundas entre o universo literário e seu mundo interior, para que se 
forme, assim, uma consciência que facilite ou amplie suas relações com o universo 
real que elas estão descobrindo dia a dia e onde elas precisam aprender a se situar 
com segurança, para nele poder agir (COELHO, 2000, p. 51). 
Aqui, verdadeiramente, pode-se visualizar o papel da escola: oportunizar ao 
aluno momentos em que possa refletir sobre as complexidades do mundo, a fim de 
que encare a vida real em sua plenitude. 
É nesse momento em que chega a hora em que o professor orientador da 
leitura faz uma escolha: literatura fantasista ou realista? Para decidir é necessário 
compreender que, no começo, a literatura foi essencialmente fantástica. Os 
conhecimentos científicos dos fenômenos da vida natural ou humana eram 
precários e o que se sobressaía era a explicação mágica, sobrenatural, em lugar da 
logicidade que conhecemos hoje. 
Essas explicações fantásticas do mundo e da vida nutriam e saciavam a sede 
de conhecimento dos homens da época, elucidando as dúvidas e preocupações em 
relação à sociedade e suas ações de maneira restrita, mas suficiente para aquele 
tempo, como é o caso das fábulas e dos mitos. Pode-se aqui entender como 
maravilhoso toda e qualquer situação que surgir fora da dicotomia espaço/tempo ou 
que se suceda em local vago ou indeterminado, não obedecendo às leis naturais. É 
importante salientar mais uma vez que as histórias representavam a realidade 
social, retratando os problemas internos e externos que angustiavam o homem, não 
sendo restritas ao universo infantil, uma vez que eram produzidas por adultos para 
os adultos. 
As emoções e o prazer que essas histórias proporcionam até hoje e o 
simbolismo implícito nas tramas e personagens agem no inconsciente, e ajudam, 
gradativamente, a resolver os conflitos interiores normais na fase da vida em que 
mais eles ocorrem - a infância. Desse modo, as histórias primordiais foram aos 
poucos adaptadas por escritores, que mantiveram seu poder de sedução, surgindo 
assim os contos de fadas. 
Agora você já pode entender o porquê de as histórias fabulosas terem se 
incorporado tanto ao didatismo pedagógico quanto à ludicidade: no início elas 
serviam para educar adultos e crianças. Essa época fantasista permaneceu desde o 
século VII até o século XX, quando o maravilhoso dos contos populares foi 
 
 
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definitivamente agregado ao cabedal de obras populares pelo trabalho dos Irmãos 
Grimm, na Alemanha; de Hans Christian Andersen, na Dinamarca; de Almeida 
Garret e Alexandre Herculano, em Portugal; de Monteiro Lobato, no Brasil etc. 
Fundamentada em dados da psicologia, Coelho (2000) comenta que a 
proximidade dessa literatura popular e infantil se dá por conta da mentalidade 
primária de ambas, já que o sentimento interior que predomina no povo e na criança 
em relação ao mundo exterior é percebido através da emoção, da intuição, da 
sensibilidade e do pensamento mágico e não lógico. 
À medida que o cientificismo foi aparecendo e se incorporando à vida do 
homem, a realidade foi impregnando a cultura com seus detalhamentos e a 
proximidade da ficção com o fato.Foi a época das descobertas científicas em que, 
cada vez mais, as tendências realista e experimentalista apareceram nas obras, 
sendo muito explorado o veio da ‘experiência' concreta e sensível que proporcionava 
mais empatia e aproximava autor-texto-leitor. Dos anos 60 para cá, com o 
aparecimento das tecnologias que levaram o homem à Lua e o advento da internet, 
uma nova mentalidade vem se formando e a literatura infantil passa a ter como 
chave mestra a ficção científica, que se mistura muitas vezes com o maravilhoso 
antigo dos contos de fadas numa coexistência natural e espontânea, que não fere os 
princípios da obra literária dedicada às crianças: a ludicidade e o prazer. 
A importância do maravilhoso na literatura infantil 
Estudos da psicanálise asseguram que os significados alegóricos presentes nos 
contos maravilhosos estão ligados aos perpétuos dilemas do homem em relação ao 
seu amadurecimento emocional. Por isso a necessidade da criança em defender sua 
vontade e sua independência, sendo os contos de fadas decisivos para que essa 
formação da criança em relação a si mesma e ao mundo à sua volta se dê de forma 
tranquila e coerente. O maniqueísmo presente nas personagens boas e más, belas ou 
feias, poderosas ou fracas, permite que a criança compreenda os valores básicos da 
conduta humana ou convívio social em suas categorias de valor perenes. 
Segundo Coelho (2000, p. 55) 
necessário se faz pensar que a criança se identifica com o herói bom e belo, não por causa de 
sua bondade ou beleza, mas por ver nele a própria personificação de seus problemas infantis: 
seu inconsciente desejo de bondade e beleza, bem como sua necessidade de bem-estar e 
acolhimento. Desse modo, fica apta a enfrentar o medo que a inibe e as ameaças à sua volta, 
podendo alcançar aos poucos o equilíbrio adulto. Sobre a importância da literatura infantil 
na formação do espírito das crianças, a autora afirma que: é o meio ideal não só para auxiliá-
las a desenvolver suas potencialidades naturais, como também para auxiliá-las nas várias 
etapas de amadurecimento que medeiam entre a infância e a idade adulta (COELHO, 2000, 
p. 43). 
 
 
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O psicólogo Bruno Bettelheim (1980), na mesma linha de pensamento, 
também afirma que a criança precisa descobrir sua identidade para entender o 
mundo que a rodeia e, para isso, os contos de fadas têm um papel importante ao se 
reportarem a ela, já que suas narrativas simbólicas e encantadoras estão ligadas 
eternamente aos questionamentos enfrentados pelo homem ao longo do seu 
amadurecimento emocional e agem na mente, trabalhando os conflitos 
correspondentes a cada fase da vida. 
Crítica literária e literatura infantil 
Você compreenderá agora que, segundo Coelho (2000), a análise de uma obra 
da literatura infantil que esteja sendo criticamente realizada deve responder 
algumas perguntas: 
• O que a obra transmite? 
• Como isso está expresso literariamente na obra? 
• Qual a consciência de mundo presente na obra? 
• Qual a intencionalidade do autor com a obra? 
Para tentar entender como se dá a crítica de livros da literatura infantil, 
usaremos aqui as experiências do professor e historiador britânico, pesquisador da 
literatura para crianças e jovens, Peter Hunt (2010), cuja obra apresenta como 
objetivos entender o que se dá quando um leitor comum lê e as possibilidades de se 
fazer um juízo criterioso dessa leitura a fim de que o leitor inexperiente “enfrente os 
textos ao menos consciente do que pode estar acontecendo” (HUNT, 2010, p. 21). 
Desse ângulo, ao chamar de “inexperientes” os leitores não especialistas, esse 
pesquisador acredita que a literatura infantil é muito mais do que “infantil”: é uma 
literatura destinada a leitores que estão em fase de descobertas e aquisição de 
experiências literárias, tenham eles a idade que tiverem. 
Assim como Coelho (2000), Hunt acredita ser igualmente necessário que os 
críticos e especialistas percebam a literatura infantil como vanguardista, no sentido 
em que usa técnicas multimídias para a combinação de palavras, imagens, formas e 
sons, requerendo estudos que ultrapassem os limites históricos, acadêmicos, 
linguísticos e dos gêneros literários. Hunt também chama a atenção para o fato de 
que os elementos paratextuais e materiais do livro infantil (em especial as 
ilustrações e a disposição física do texto - escrito e imagético) “alteram o modo como 
lemos o texto verbal” (HUNT, 2010, p. 233), requerendo um novo tipo de crítica que 
leve em consideração esse conjunto de palavras-imagens. 
Segundo Coelho (2000) é importante perceber, com um olhar crítico e 
cuidadosamente analítico, que algumas análises que se dizem crítica literária vêm 
 
 
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explorando, principalmente, os veios da denúncia e reivindicações milenares de 
direitos recusados a minorias, como a mulher, a criança, bem como a discriminação 
das raças, de credos etc. Diz a autora (2000, p. 58) que nesse sentido, ao ser ligada, de 
maneira radical, a problemas sociais, étnicos, econômicos e políticos de tal 
gravidade, a literatura infantil e juvenil perde suas características de literariedade 
para ser tratada como simples meio de transmitir valores. Ou é lida em função de 
seus estereótipos sociais. 
Perceba a importância dessas reflexões para a tomada de consciência de que a 
literatura (e não somente a infantil), a despeito de sua utilidade para as mais diversas 
áreas do conhecimento, enfrenta as mesmas demandas relativas à produção, função 
do leitor, política, ideologia e mercado, linguagem e estilo, controle social, dentre 
outras, e que você deve estar atento a todas essas variáveis que importam na análise 
e na crítica de uma obra literária. 
 
 
Neste tema, você pôde verificar que há várias vertentes na literatura infantil, 
e que as obras dignas de serem chamadas de pedagógicas devem apresentar caráter 
didático, metas voltadas para a instrução, propagação de conhecimentos e 
conservação de informações necessárias à formação na criança da consciência de si 
mesma e do mundo. 
Verificou também que há obras que tendem mais a divertir e alegrar o leitor, e 
outras com um propósito de educação moral e de valores, podendo também ambos 
os propósitos ser apresentados num mesmo livro. A esse tipo de elementos 
constantes nos livros infantis damos os nomes de literatura realista e fantasista, que 
levou você a refletir sobre as diferenças entre a literatura como arte literária e a 
literatura como instrumento pedagógico. Esse assunto é de suma importância na 
sua formação como professor de língua portuguesa, dado o seu posicionamento 
frente às obras literárias que deverá escolher para leitura com seus alunos, e a 
necessidade de estar sempre identificando os traços do pensamento mágico e do 
pensamento lógico em diferentes obras literárias dedicadas ao público infanto-
juvenil. 
 
 
 
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Ideologia burguesa: conceito originalmente utilizado por Karl Marx para descrever 
a ideologia da classe social burguesa no século XIX. Para Marx, a ideologia burguesa 
foi um produto da sociedade capitalista, suas condições materiais de produção, suas 
relações sociais e econômicas. Para ele, esse tipo de ideologia escondeu as condições 
reais de trabalho, mas foi necessária para alterar as condições materiais de 
produção. 
Fruição: s.f. Ação, desenvolvimento ou efeito de fruir. Ação de aproveitar ou usufruir 
dealguma oportunidade. Utilização prazerosa de algo; gozo. 
Cerceada: cortada, retirada, aparada, diminuída, restrita. 
Mediada: intermediada, discutida. 
Plenitude: s.f. Condição daquilo que está completo, inteiro; que se apresenta em sua 
totalidade ou integralmente: a beleza em sua plenitude. 
 
Tema 3 
O Fenômeno Literário - Matéria e Forma 
Neste tema você compreenderá que é importante fazer a criança tomar 
contato com textos cuja história seja real ou plausível, vendo o quanto é maravilhoso 
atuar como elemento formador do caráter, criatividade e espírito do jovem leitor. 
Verá que a literatura infantil, assim como qualquer criação literária, é determinada 
por alguns preceitos, sofrendo influência de fatores estruturantes, a partir dos quais 
surgirão os mais variados textos literários (escritos ou orais). 
Você também verá que a linguagem da literatura infantil, tanto das obras 
fantasistas quanto realistas, deve despertar primeiramente para o prazer da leitura, 
enriquecendo e contribuindo para a formação de um leitor consciente e crítico, 
capaz de não se deixar influenciar. 
Você perceberá que os fatores elencados neste tema o ajudarão nessa 
formação. É importante que você saiba identificar esses fatores e a influência de cada 
um deles sobre as obras da literatura infantil que irá adotar para que seus alunos 
leiam em sala de aula. 
 
 
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Desde as origens, a literatura aparece ligada a essa função essencial: atuar 
sobre as mentes, as vontades, as ações; expandindo os espíritos, nos quais se 
ampliam também as emoções, as paixões, os desejos e os sentimentos de toda ordem. 
Segundo Coelho (2000) 
[...] no encontro com a literatura (ou com a arte em geral) os homens têm a 
oportunidade de ampliar, transformar ou enriquecer sua própria experiência de 
vida, em um grau de intensidade não igualada por nenhuma outra atividade. 
(COELHO, 2000, p. 29) 
O texto literário se vincula a um universo sociocultural e a dimensões 
ideológicas que permitem que sua natureza mude no tempo e no espaço. Sua 
linguagem é ao mesmo tempo partida e chegada, seus valores acompanham as 
mudanças culturais, de acordo com as transformações dos tempos, das vontades, 
das pessoas, dos povos, etc., ou seja, a literatura acompanha as mudanças da cultura 
da sociedade que integra e representa. 
É devido a esse aspecto mutável que a literatura traz a impressão de uma 
variabilidade específica, seja nos discursos individuais, seja na sua 
representatividade cultural. Desse modo, a fala comum possui uma transparência 
que não se encontra no discurso literário, já que este está sempre a serviço da criação 
artística. O texto literário, por sua capacidade de mediar a representação de 
realidades físicas, sociais e emocionais, configura-se como um objeto estético que 
incorpora elementos dessa dimensão ao repertório cultural do homem, enquanto 
receptor/usuário de um saber comum. 
Pela sua essência em apresentar uma linguagem eminentemente conotativa, 
o texto literário resulta de um arranjo especial das palavras nessa modalidade de 
discurso de que emerge o sentido múltiplo que a caracteriza. Daí que a palavra 
literária, à luz da arte do escritor, revela-se carregada de traços significativos 
agregados a partir de um contexto de verossimilhança, apresentando uma imagem 
do real ligada estreitamente a outros elementos que fazem o texto. Atente para o fato 
de que, apesar de representar essa dimensão denotativa, não é este seu traço 
dominante, já que sua característica principal reside na conotação, que é o 
verdadeiro “segredo do valor poético de um texto”. 
Estrutura do Texto Literário 
A matéria literária constitui-se de elementos que tornam a palavra o corpo 
verbal do qual se constitui o texto. O texto que tem a intenção de narrar alguns fatos 
apresenta como especificidade uma sequência de ações que se relacionam a 
determinados acontecimentos, que podem ser reais ou fictícios, arranjados numa 
 
 
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sequência de fatos na qual as personagens se movimentam num determinado 
espaço à medida que o tempo passa. São conhecidos como textos narrativos os 
contos, as novelas, os romances, algumas crônicas, os poemas narrativos, as 
histórias em quadrinhos, as piadas, as letras musicais, entre outros. Esse tipo de 
texto apresenta algumas características que Nelly Novaes Coelho (2000, p. 66) 
chamou de “dez fatores estruturantes”, a saber: 
1. Personagem 
Do latim persona (máscara), as personagens são simulacros de pessoas reais, 
que vivem as situações dentro da narrativa, não podendo ser confundidas com 
pessoas reais, já que as primeiras são seres somente no papel, tendo existência real 
apenas na narrativa, e as segundas são de carne e osso, tendo sua existência no 
mundo real e não no da ficção. 
Logo, as personagens são os seres fictícios que interagem como leitor, 
compondo o quadro dos elementos que participam da história e representando uma 
pessoa imaginada pelo autor da obra, adquirindo vida quando posta em ação 
durante os acontecimentos. Toda informação que se sabe de uma personagem é dada 
pelo narrador que, em estreita conexão com as personagens da história, tem o papel 
de nomear, descrever características físicas e psicológicas, fazer comentários a 
respeito delas e, principalmente, colocá-las em ação. 
1.1 Algumas personagens, por se tratarem de pessoas que ocupam lugar de 
destaque e que apresentam papel significativo para o desenvolvimento da história, 
são chamadas de protagonistas. Geralmente, uma obra fictícia apresenta 
protagonistas fortes, virtuosos, inteligentes e corajosos, denominados heróis. Mas 
isso não é praxe, caso o protagonista não apresente as qualidades de um herói e seja 
exatamente o contrário, é chamado de anti-herói. 
1.2 As protagonistas geralmente trazem vinculadas ao seu papel na história 
outras personagens que lhes opõem às ideias, criando conflitos e, muitas vezes, 
sendo a causa de problemas das mais diversas ordens, impedindo-as de alcançar seus 
objetivos. A essas personagens opostas aos protagonistas, dá-se o nome de 
antagonistas. 
1.3 As demais personagens recebem o nome de secundárias ou 
coadjuvantes, que também são importantes para que se mantenha o enredo da 
história. 
 
 
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2. Narrador 
Chamamos de narrador a voz que medeia a relação entre a narrativa e o leitor 
(ou ouvinte), sendo fundamental para a constituição da história, já que a sua 
maneira de organizar o que narra, sob o seu ponto de vista e sua perspectiva, é 
decisiva para o entendimento da mensagem da obra pelo leitor. 
2.1 Chama-se foco narrativo a maneira pela qual o narrador se situa em 
relação ao que está narrando, constituindo- se, basicamente, de três tipos: 
a. Narrador em 1ª pessoa: também chamado de narrador-personagem, 
adquire essa nomeação porque participa da história, estando perto do universo que 
está sendo transcrito, relatando os fatos sob sua ótica. Nesse caso, há predomínio de 
impressões pessoais do narrador e visão parcial na narração dos fatos, ou seja, esse 
tipo de narrador não possui cem por cento de credibilidade, já que sua familiaridade 
com a história que está narrando permeia-se de contextos que um narrador mais 
distante jamais teria condições de apreender. Daí a narrativa muitas vezes adquirir 
uma visão totalmente partidária, que sofre a interferência das posturas, conceitos e 
pareceres do narrador dianteda vida, não deixando que o leitor fique diretamente a 
par das ideias e emoções presentes no interior das outras personagens. É o caso, por 
exemplo, da personagem Bentinho, em Dom Casmurro, clássico de Machado de 
Assis, que não permite que o leitor se comunique ou saiba das verdades e intenções 
presentes no íntimo da personagem Capitu. 
b. Narrador em 3ª pessoa: quando o narrador revela ao leitor somente o que 
consegue observar direta ou indiretamente. Esse tipo de narrador pode ser: 
 
 
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• Narrador-observador: objetivo e restrito, esse narrador apresenta ao leitor 
somente o que pode ver e analisar, exatamente como quem capta imagens em uma 
câmera, com uma boa dose de imparcialidade, sem analisar nada que esteja inserido 
na psique das personagens. 
• Narrador-onisciente: observa e revela tudo sobre o enredo e as personagens - 
seus pensamentos mais íntimos e detalhes que até mesmo elas não sabem. Como 
está presente em toda parte, é também chamado de onipresente, já que pode 
observar o desenrolar dos acontecimentos em qualquer espaço que ocorram. 
3. Tempo 
A estrutura narrativa denominada tempo representa o momento em que 
ocorrem os acontecimentos (manhã, tarde, noite, presente, passado, futuro, etc.). 
3.1 Tempo cronológico: é aquele determinado por horas e datas, revelado por 
acontecimentos dispostos numa ordem sequencial e linear (início, meio e fim). 
3.2 Tempo psicológico: é aquele ligado às emoções e sentimentos, 
caracterizado pelas lembranças das personagens e reveladas por momentos 
confusos, em que se fundem presente, passado e futuro. 
3.3 Tempo do discurso: é o que resulta do tratamento ou elaboração do tempo 
da história pelo narrador, que pode escolher narrar os acontecimentos a partir da: 
- Ordem linear em que aparecem (começo, meio e fim). 
- Alteração da ordem temporal, recorrendo à antecipação de acontecimentos 
futuros (fim, começo, meio). 
- Cadência dos acontecimentos, recorrendo ao resumo ou sumário, à elipse 
ou à pausa. 
4. Espaço 
O espaço determina o lugar onde se passa toda a trama. Algumas vezes ajuda 
a caracterizar as personagens, outras vezes é sugerido no intuito de aguçar a mente 
do leitor, sendo determinante para o entendimento da história. Dependendo do 
enredo, a caracterização do espaço torna-se de fundamental importância, como 
ocorre, por exemplo, nos romances regionalistas, nas histórias de terror, etc. Pode 
ser registrado a partir de dois tipos de perspectiva: 1) ambiente fechado, quando se 
refere a recortes de locais em que a vista encontra os limites (uma sala, um quarto, 
um celeiro, etc.) e 2) ambiente aberto ou paisagem (quando não impõe limites à visão 
do observador - campos, montanhas, mar aberto, etc.). Há vários tipos de espaço 
numa narrativa: 
 
 
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4.1 O espaço ou ambiente físico: utilizado como a cena onde acontecem as 
atuações das personagens ou a paisagem na qual elas se movimentam. 
4.2 O espaço ou ambiente social: configurado pelo universo social em que se 
encontram inseridas as personagens secundárias, totalmente decorativas. 
4.3 O espaço ou ambiente psicológico: definido como a esfera interna dos seres 
fictícios, abrangendo as experiências, os pensamentos e as emoções das 
personagens. 
4.4 O espaço trans-real: o lugar que só existe na imaginação do homem, ou 
seja, não é localizável na realidade, é o espaço utilizado para as descrições do 
maravilhoso nas fábulas e nos mitos, bem como na ficção científica. 
Veja a seguir um exemplo de espaço físico/ambiente fechado retirado do 
conto Missa do galo, de Machado de Assis: 
A família recolheu-se à hora do costume; eu meti-me na sala da frente, vestido e 
pronto. [...] Tinha comigo um romance, Os Três Mosqueteiros, velha tradução creio 
do Jornal do Comércio. Sentei-me à mesa que havia no centro da sala, e à luz de um 
candeeiro de querosene, enquanto a casa dormia, trepei ainda uma vez ao cavalo 
magro de D’Artagnan e fui-me às aventuras. Dentro em pouco estava 
completamente ébrio de Dumas. Os minutos voavam, ao contrário do que 
costumam fazer, quando são de espera; ouvi bater onze horas, mas quase sem dar 
por elas, um acaso. Entretanto, um pequeno rumor que ouvi dentro veio acordar-me 
da leitura. Eram uns passos no corredor que ia da sala de visitas à de jantar; levantei 
a cabeça; logo depois vi assomar à porta da sala o vulto de Conceição. (ASSIS, 1994) 
5. Enredo 
A estrutura denominada enredo possui o sentido essencial de arranjo de uma 
história, ou seja, é a apresentação/ representação das situações, das personagens 
nelas envolvidas e das contínuas transformações que vão ocorrendo entre elas, a 
ponto de criar novas situações até alcançar, finalmente, o desfecho. Essencialmente, 
o enredo comporta a história: ele é o corpo de uma narrativa. O foco principal de todo 
enredo é prender a atenção do leitor a partir da criação de um clima de tensão 
organizado em torno dos fatos. Na maioria das vezes o conflito gerado pelo enredo é 
representado pelas seguintes partes: 
5.1 Introdução: início e apresentação da história, em que já aparecem os fatos 
iniciais, algumas personagens, e, na maioria das vezes, o tempo e o espaço. 
5.2 Complicação ou imbróglio: parte em que se desenvolve um conflito que 
deverá ser resolvido (ou não) ao longo da narrativa. 
 
 
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5.3 Clímax: ponto culminante de toda a trama, em que se notam os 
momentos de maior tensão. Parte ou partes em que o conflito atinge o auge. 
5.4 Conclusão ou desfecho final: solução do conflito construído pelo autor 
e que pode apresentar variados desfechos (trágico, cômico, triste, surpreendente). 
A Linguagem na Narrativa 
Segundo Coelho (2000, p. 82), a linguagem utilizada nas obras literárias 
depende de sua intencionalidade, podendo ser mimética ou simbólica. Essas 
linguagens eram utilizadas separadamente em algumas obras, principalmente as da 
Antiguidade, sendo que a simbólica era a preferida na narração religiosa, além de ser 
aclamada por Bettelheim (1980) por auxiliar no desenvolvimento infantil. A 
mimética era utilizada para se referir às situações concretas, muitas vezes, com 
caráter moralizante. 
Posteriormente, a ficção contemporânea uniu a linguagem real e metafórica 
originando disso o realismo mágico ou o realismo absurdo em que o elemento 
maravilhoso presente no texto é visto de modo natural. A autora Nelly Novaes 
Coelho deixa claro que “nenhuma dessas formas é melhor ou pior, literariamente. 
São apenas diferentes e dependem das relações de conhecimento que se estabelecem 
entre os homens e o mundo em que eles vivem” (COELHO, 2000, p. 52). 
Desse modo, acreditamos que tanto as obras fantasistas quanto as verossímeis 
à realidade permitem a visualização de configurações estéticas que as qualificam 
como objetos de arte literária. As obras contemporâneas, que apresentam textos 
mais modernos e variadas ilustrações, enriquecem o imaginário infantil, despertam 
para o prazer pela leitura e também contribuem para o processo de aquisição da 
linguagem na criança. 
Os Processos Narrativos 
Ainda no que tange à linguagem narrativa utilizada nas obras da literatura 
infantil, podemos observar alguns textos característicos, como: 
A descrição: relato de um objeto, pessoa, cena ou situação estática, ou seja, não 
depende do tempo. Descrever é desenhar com palavras determinada imagem, de 
modo que ela possa ser visualizada pelo leitorem sua mente. Apresenta as 
características peculiares abaixo: 
• Uso de verbos de ligação. 
• Presença de adjetivos ou locuções adjetivas. 
 
 
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• O texto descritivo não é dinâmico, o que o deixa um pouco tedioso, 
sendo cansativo para o leitor lê-lo. 
• As imagens desse tipo de texto são semelhantes a um retrato, só que ao 
invés de imagens são utilizadas palavras, daí o nome imagem verbal. 
• Pela riqueza de detalhes e clareza de informações que esse tipo de texto 
apresenta a imagem vai se tornando nítida e acessível ao leitor, o que 
deve ser o principal objetivo de uma boa descrição. 
Segundo Coelho (2000, p. 83) 
 “na literatura para crianças desempenha uma função muito importante [...]: ensina 
a criança a ver as coisas através da representação mental realizada pelas palavras”. 
A narração: pode ser definida como um relato de acontecimentos que 
remetem para o conhecimento do ser humano e das suas realizações no mundo. Na 
narrativa literária há uma expressão do mundo exterior e objetivo que é, em geral, 
enunciado na terceira pessoa (por vezes, na primeira pessoa, quando o narrador 
assume o papel de personagem), predominando a função referencial ou informativa 
da linguagem. O texto narrativo permite uma comunicação através do discurso do 
narrador e da história recriada, apresentando um discurso múltiplo e complexo que 
recorre, essencialmente, à narração, à descrição, ao diálogo e ao monólogo. 
A dissertação: série concatenada de ideias, opiniões ou juízos; tomada de 
posição frente a um determinado assunto que procura convencer o leitor de alguma 
coisa, explicar a ele um ponto de vista a respeito de um assunto, ou simplesmente 
interpretar uma ideia. Pode-se contar uma história (narração) ou apontar 
características fundamentais de um ambiente (descrição) sem se envolver 
diretamente no relato. Tudo o que for exposto, todavia, principalmente no campo 
político e religioso, deve ser acompanhado de argumentações e provas 
fundamentais. 
O diálogo: modo de expressão cuja função varia sob vários aspectos: a situação 
comunicativa, a tipologia textual, a intenção do autor. Na ficção, pode ter as 
seguintes funções: contribuir para a construção da verossimilhança; caracterizar a 
personagem, pela exposição de seus pontos de vista através do discurso utilizado; 
fornecer informações sobre acontecimentos, situações, personagens, etc.; fazer 
progredir a ação. Encontra-se esse tipo de linguagem em textos dramáticos e na 
generalidade das obras narrativas. 
O monólogo: variante do diálogo, é um tipo de diálogo interiorizado, em que o 
“eu” se desdobra em dois, um que fala e outro que escuta. Na ficção assume duas 
funções: revelar o mundo interior da personagem em causa e fornecer informações 
sobre acontecimentos anteriores cujo conhecimento é necessário para a 
compreensão da situação presente. Algumas narrativas apresentam uma forma de 
 
 
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monólogo interior, que representa a corrente de consciência da personagem, 
assumindo a função de revelar pensamentos, recordações, emoções, contribuindo 
também para a caracterização indireta da personagem. 
 
 
Neste tema, você pôde aprender que uma das funções da literatura é atuar 
sobre as mentes, as vontades, as ações dos homens, de modo a expandir-lhes o 
espírito, ampliando as emoções, as paixões, os desejos e os sentimentos a fim de 
capacitar-lhes para a resolução de seus conflitos mais íntimos até aprenderem a 
lidar com o mundo que os cerca. 
Você viu também que a literatura, por apresentar um aspecto mutável, tem 
um discurso mutável, que acha eco na representatividade cultural à qual se agrega. 
Viu ainda as diferenças entre o discurso da fala comum e o discurso literário, que 
está sempre a serviço da criação artística. Percebeu que a narração é um dos tipos de 
textos que mais se aproveita dessa mutabilidade da literatura, já que apresenta a 
intenção de narrar fatos a partir de uma sequência de ações, reais ou fictícias, num 
determinado espaço à medida que o tempo passa. Dessa maneira, percebeu 
detalhadamente cada um dos elementos constituintes desse tipo de texto, bem como 
de outros, suas especificidades e usos. 
 
 
Enunciação: manifestação, afirmação oral ou por escrito. “Produção individual, 
através da língua, de um texto ou enunciado, em determinado contexto, dirigido a 
um interlocutor.” (PRIBERAM, 2015) 
Concatenada: concatenar é encadear, ligar ideias e pensamentos. 
Coadjuvantes: ajudantes, colaboradores, aqueles que não são protagonistas, nome 
genérico de outros personagens de menor importância. Na literatura há tipos de 
personagens coadjuvantes, como os que desempenham um papel auxiliar contínuo 
aos personagens principais, os que surgem apenas ocasionalmente ou 
irregularmente, os que aparecem apenas uma vez em uma cena, os que têm pouco 
 
 
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envolvimento com a história e aparecem com certa frequência. No caso em que 
grandes atores exercem o papel de um personagem coadjuvante, este pode receber 
o nome de “ator convidado”. Entretanto, como há casos em que um artista pode ser 
convidado para uma situação de emergência, os grandes atores em papéis 
coadjuvantes podem também ser chamados de “convidado especial” ou serem 
tratados como “participação especial”. Em filmes, novelas e peças de teatro, 
dificilmente o personagem principal atuará sozinho, primeiramente haverá a 
organização de presença de personagens coadjuvantes em torno do personagem 
principal para destacá-lo. (WIKIPÉDIA, 2015) 
Verossimilhança: é a qualidade daquilo que parece verdadeiro, isto é, o que é 
atribuído a uma realidade com aparência de verdade, na relação ambígua que pode 
ser estabelecida entre a imagem e a ideia. Para a literatura, o termo representa a 
ideia de que aquilo que está sendo narrado se assemelha ao fato real. É, no geral, 
aquilo que possui semelhança com a realidade, com o dia a dia, podendo ser tomada 
como a impressão da verdade que a ficção consegue provocar no leitor, facilmente 
reconhecida em cenas de filmes, novelas, livros por apresentar os fatos à 
semelhança ao que acontecem na realidade vivida. 
 
 
Tema 4 
Da Teoria à Análise do Texto Literário Infantil 
Neste tema, você conhecerá as diferenças essenciais entre o conto de fadas e o 
conto maravilhoso em relação à problemática que lhes fundamenta. Verificará que 
“o conto maravilhoso tem raízes no Oriente e seu enredo, geralmente, está 
relacionado à realização socioeconômica do protagonista” (MOTTA, 2012), sendo 
essa forma de narrativa difundida pelos árabes, tendo seu modelo mais conhecido 
na coletânea As mil e uma noites. Você aprenderá, também, que os contos de fadas 
são de origem celta e estão relacionados à realização interior do indivíduo após 
vencer grandes obstáculos impostos pela maldade de algum outro personagem. 
Você fará uma viagem maravilhosa pelos caminhos das estruturas desses 
contos, considerando e apreendendo a importância dos recursos utilizados na 
escrita para a formação pré-escolar e também na fase de aquisição da leitura e 
escrita. Ficará a par das origens dos contos de fadas, de sua repercussão, suas 
principais lições e utilizações. Verificará a simbologia e o sentido subentendido nas 
entrelinhas desse tipo de história. 
Em suma, você poderá verificar que, além de encantar as crianças, os contos 
de fadas e os contos maravilhosos são historicamente utilizados e de granderelevância para a alfabetização e aquisição do gosto pela leitura. 
 
 
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Da Teoria à Análise do Texto Literário Infantil 
A literatura desperta para a sensibilidade e afetividade pela leitura de textos 
que sejam capazes de oferecer elementos para que o ser humano aprimore sua 
capacidade de reflexão e criatividade, por meio das vivências dos conteúdos 
subjetivos que formam a tessitura do imaginário. 
Registrando a dicotomia contemporânea entre cultura cientifica e cultura 
humanística, verificamos ser necessário refletir sobre a necessidade de uma 
educação que agregue em sua essência a contextualização dos saberes, a fim de 
permitir a existência da transdisciplinaridade na escola. 
Os contos de fada, pela sua especificidade em conseguir ligar os mundos 
internos e externos ao sujeito, bem como o real e o imaginário, tão importantes ao 
processo de formação de personalidades, permitem que o indivíduo consiga, pela 
admiração e autoanálise, questionar a própria existência e fazer a ponte entre o que 
é aquisição de conhecimento e aquisição de valores. 
A História dos Contos de Fadas e dos Contos Maravilhosos 
Em tempos mais remotos, o ser humano se deslumbrava com os contos de 
fadas, que tinham o condão de explicar algumas circunstâncias de sua vida. Essas 
narrativas, legado de um passado distante, têm sua origem nas histórias ancestrais 
relatadas de forma oral que, contadas e recontadas pelos povos antigos, revelaram 
matizes diferenciadas que foram se modificando, porém mantendo-se ativas nos 
diversos cantos do mundo, encantando e tocando o ser humano com sede de 
conhecimento e mistério ao longo dos tempos. 
Deste modo, você pode entender os contos de fadas como narrativas que 
fazem parte da Literatura Infantil Clássica que, juntamente aos contos 
maravilhosos, constituem formas de narração originárias de diferenciadas fontes, 
apresentando problemáticas diversas que, embora pertençam a um mundo 
imaginário, seguem os valores das sociedades que as (re) criaram, sendo, justamente 
por isso, nomeadas narrativas primordiais. 
Os contos maravilhosos originaram-se das narrativas do oriente, tendo como 
elemento principal a resolução de problemas sociais, políticos e econômicos que o 
herói buscava resolver de forma ética e valorosa. Já os contos de fadas traziam as 
preocupações com a problemática existencial do ser humano em busca de realização 
pessoal, relacionadas aos afetos entre o masculino e o feminino. 
 
 
 
 
 
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De acordo com Coelho 
A efabulação básica do conto de fadas expressa os obstáculos ou provas [...] como um 
verdadeiro ritual iniciático, para que o herói alcance sua auto-realização existencial, 
seja pelo encontro de seu verdadeiro eu, seja pelo encontro da princesa, que encarna 
o ideal a ser alcançado (COELHO, 1991, p. 13). 
Desses “ideais” que são transportados às crianças pelos contos de fadas e pelos 
contos maravilhosos resulta o conjunto da “literatura infantil”, que ensina mais 
sobre os problemas interiores dos seres humanos e sobre as soluções para eles do que 
qualquer outro tipo de história que caiba na compreensão da criança. 
Na fase de formação, a criança necessita de uma educação moral que seja 
transmitida de modo sutil e implícito, que a ajude a descobrir as vantagens do 
comportamento moral, não somente por meio de conceitos éticos abstratos, mas 
daquilo que lhe seja compreensível e significativo. Nas narrativas primordiais, a 
criança pode encontrar todo tipo de significado, ora manifesto ora encoberto, que 
fale simultaneamente a todos os níveis da personalidade que se forma de uma 
maneira que atinge a mente ingênua da criança. 
Esta é exatamente a diferença e especificidade que reside nos contos de fada e 
contos maravilhosos: a exposição da luta contra as dificuldades graves da vida com 
as quais a pessoa não se intimida. Esse modo firme de lidar com as opressões 
inesperadas e, muitas vezes, injustas ajuda a criança a procurar maneiras de vencer 
os obstáculos e, ao fim, emergir vitoriosa. 
Embora essas sejam questões cruciais para todos nós, as estórias modernas 
escritas para crianças pequenas evitam a exposição desses problemas existenciais, 
não mencionando os limites de nossa existência (o envelhecimento e a morte) nem 
o desejo pela vida eterna. 
Ora, todos sabem que as crianças necessitam muito que lhes sejam dadas 
sugestões de forma simbólica sobre como podem lidar com estas questões e crescer 
a salvo para a maturidade. 
O conto de fadas e o conto maravilhoso vêm ao encontro dessa necessidade: 
muitas histórias desse gênero começam com a morte da mãe ou do pai, o que cria os 
problemas mais angustiantes, como o medo disto ou daquilo, exatamente como 
ocorre na vida real; em outras histórias, um pai idoso decide que é tempo de a nova 
geração provar ser capaz e valorosa a ponto de assumir um reinado, por exemplo. 
É deste modo que esse tipo de narrativa ajuda a criança a decidir e resolver seu 
dilema existencial de forma breve e categórica, permitindo-lhe simplificar todas as 
situações de maneira clara, com detalhes. 
 
 
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As Peculiaridades das Narrativas Primordiais 
Alguns textos iniciais gerados em épocas diferentes, mas com os mesmos 
propósitos de expor as relações entre o homem e sua luta pela vida e com as forças 
superiores e misteriosas que regem o planeta, mostraram, desde o século V a.C. ao 
século XIX d.C., o âmago da sabedoria popular, tendo sido escritos por autores que 
fazem parte da literatura clássica até hoje, a saber: Esopo, Fedro, La Fontaine, 
Perrault, os Irmãos Grimm e Andersen. Esses textos conservam, em seu enredo, 
valores básicos dos tempos em que surgiram, dos quais podemos destacar três 
representações de mundo diferentes: 
• O mundo real, mais ligado ao cotidiano, representado muitas vezes pelo 
simbolismo animal, que deu início às fábulas e tinha o propósito de 
mostrar defeitos e virtudes em uma época em que o mais forte era 
superior ao mais fraco. 
• O mundo das metamorfoses, realidade mágica povoada por valores e 
estruturas sociais mais arcaicas, em que convivem elfos, magos, reis, 
princesas e suas cortes. 
• O mundo cristão, mais ligado à religiosidade, que apresenta a noção de 
pecados e culpas, cujos textos exaltam a virtude e condenam o vício. 
Também são reconhecidamente visíveis nas obras que representam as 
narrativas primordiais, exemplo para os valores culturais transmitidos pela 
literatura nos tempos passados, os elementos estruturais (que podem ser 
observados em quase todas as histórias): 
1. A efabulação, geralmente imediatista, apresenta a história em um 
compacto de entendimento simples, em que os acontecimentos se 
sucedem em um ritmo acelerado e objetivo. 
2. O motivo da efabulação comumente deriva das três necessidades 
básicas do ser humano, a saber, fome, poder e sexo. A fome estará 
ligada aos exemplos da necessidade de sobrevivência pelo trabalho; o 
poder aparece nas relações entre fortes e fracos e na luta contra a 
exploração; o sexo, também relacionado ao casamento, é a 
necessidade de ascensão social, bem como do relacionamento 
homem/mulher. Em todos os casos, seres mágicos sempre ajudam o 
herói ou a heroína à superação das dificuldades encontradas pelo 
caminho. 
3. O tempo é indeterminado, a-histórico, na clara intenção de tornar 
eternos as histórias e seus valores míticos. Por isso, passado, presentee futuro se confundem, expressos em termos como “era uma vez”, 
“naquele tempo”, “certo dia” etc. 
 
 
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4. O ato de contar utiliza o narrador onisciente, presente no fato 
narrado, mas sem compromisso com a verdade. Esse tipo de recurso 
deriva da narrativa oral e possui forte índice de atração dentro das 
rodas de contadores. 
5. O conto é a forma básica utilizada pela sua capacidade de síntese na 
transmissão de fatos e valores. É comum que esse tipo de narrativa se 
confunda com a novela, já que ambos apresentam a peculiaridade de 
apresentar vários episódios diferentes em uma mesma coletânea. 
6. A repetição é uma das técnicas narrativas mais exploradas na 
literatura infantil, porque desperta para a sensação do prazer de já 
conhecer o que vem a seguir, estratégia muito comum utilizada pelas 
crianças que solicitam a repetição da mesma história várias vezes. 
Assim como a repetição se refere ao reconto, também os elementos 
que constituem a história (argumentos, variantes, personagens, 
conflitos, valores) se repetem nas narrativas novelescas primordiais, 
que repudiam estruturas complexas de difícil acesso à compreensão 
infantil. 
7. A representação simbólica utiliza-se dos símbolos e ícones 
geralmente presentes na sociedade da época, e o real é representado 
pela metáfora. 
8. As personagens-tipos ou caracteres servem para identificar os 
comportamentos (mentiroso, generoso, traidor etc.) ou os grupos 
sociais (sábio, viajante, viúva etc.). Os preferidos nas fábulas são os 
animais com características humanas. 
9. A convivência entre o real e o imaginário ocorre pela atração que 
sentimos pelas coisas mágicas, poderosas, irreais, resultado do 
“pensamento mágico” presente na literatura primordial. 
10. 0 espaço é apenas um ponto de apoio para as ações das personagens, 
servindo como provocador das variadas situações e sendo resultado 
das épocas em que o homem e o cosmos viviam em uma união natural 
e decisiva. 
11. 0 exemplo é um dos objetivos mais perceptíveis nas narrativas 
primordiais, que tinham como meta a divulgação das idéias e a 
formação do caráter e dos valores éticos da sociedade. 
12. 0 narrador desse tipo de texto deriva dos contadores de história das 
rodas populares, que contavam o que tinham ouvido de outros 
contadores, que, por sua vez, ouviam de tantos outros, e assim por 
diante. O autor Andersen foi bem profícuo nesse tipo de texto, já que, 
além de recriar textos arcaicos, ainda criou outros textos com 
variados tipos de narradores. 
 
 
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A Estrutura nos Contos de Fadas e Contos Maravilhosos 
Segundo Nelly Novaes Coelho (2000), que segue a linha de análise de Wladimir 
Propp (2006), a sequência das funções nos contos é sempre idêntica, podendo 
apresentar termos ou funções diferenciadas, que podem variar ou não. Coelho 
(2000) também propõe refletirmos sobre os elos entre as invariantes apresentadas 
pelos contos maravilhosos, contos de fadas e a realidade em que vivemos, nossas 
necessidades como indivíduos e seres sociais. 
Segundo ela, as pessoas reais e as personagens das histórias infantis têm mais 
em comum do que imaginamos, conforme evidencia o quadro a seguir: 
NARRATIVAS MARAVILHOSAS 
VIDA REAL 
INVARIANTES VARIANTES 
1. Desígnio 
Motivo nuclear, aspiração, o que 
leva o herói (ou heroína) à ação. 
Cada ser humano tem um ideal, 
desígnio, projeto a ser 
alcançado. 
2. 
Deslocamento 
ou viagem 
A condição primeira para que se 
cumpra o desígnio é sair de casa, 
ou seja, a personagem principal 
sempre se desloca em viagem a um 
ambiente que lhe é estranho, não 
familiar. 
A fim de que consiga alcançar 
seus objetivos, o ser humano 
deve enfrentar o mundo 
exterior e o confronto com 
outros indivíduos. 
3. Desafios ou 
obstáculos 
Surgimento de problemas que 
desafiam o herói à superação. 
Apresentam-se em forma de 
obstáculos que impedem a 
felicidade do protagonista. 
Nesta busca pelos objetivos, o 
ser humano também encontra 
dificuldades e opositores. 
4. Mediador 
Auxiliar mágico ou natural que 
surge para ajudar o protagonista a 
vencer os perigos e as batalhas que 
aparecerem para impedir seu 
crescimento. 
O homem sempre encontra 
auxiliares que o ajudam na 
caminhada em busca de seus 
ideais. Sem dúvida, os melhores 
mediadores são o eu interior, a 
força de vontade e a ânsia de 
conhecimento. 
 
 
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5. Conquista do 
objetivo 
Happy End ou final feliz, com a 
superação dos obstáculos e a 
conquista dos merecimentos. 
Em seu processo de 
crescimento, o ser humano 
também se depara com as 
vitórias e segue à procura de 
novas conquistas. 
Quadro 4.1 Comparação entre as narrativas maravilhosas e a vida real. 
Em relação à forma, Propp (2006) propôs a expressão formas simples para os 
textos que permanecem sendo recontados através dos tempos sem perder sua 
forma, obedecendo a um processo de moral ingênua, que pode ser traduzida como 
um ensinamento cultural, social ou econômico, oposta ao trágico real da vida 
cotidiana: 
O estudo da estrutura de todos os aspectos do conto maravilhoso é a condição prévia 
absolutamente indispensável para seu estudo histórico. O estudo das leis formais 
pressupõe o estudo das leis históricas (PROPP, 2006, p. 2). 
Segundo esse autor, o colorido mágico das personagens imaginárias sempre 
se sobrepõe à vida real em preto e branco. Porém, por sua condição de metamorfose, 
o conto sempre trará em suas raízes a influência da realidade histórica 
contemporânea e também da literatura e da religião, tanto dos dogmas cristãos 
quanto das crenças populares da sociedade que representa, guardando em seu seio 
traços do paganismo, dos costumes e ritos da antiguidade. 
Por causa dessas características peculiares, os contos maravilhosos e os contos 
de fadas identificam, na literatura infantil, como a criança imagina e sofre com o 
herói em suas provas e tribulações, triunfando com ele quando a virtude sai 
vitoriosa. A criança faz tais identificações por conta própria, e as lutas interiores e 
exteriores do herói imprimem moralidade sobre ela. 
O Conto Através dos Tempos 
Vários estudiosos da literatura infantil, como Coelho (2000) e Propp (2006), 
distinguem a existência de duas fases na evolução dos contos mágicos: 
1. Primeira fase ou fase pré-histórica - em que se embaralhavam o conto e 
o relato sagrado (mito e rito). Nesta época, apenas os sacerdotes e os 
mais velhos possuíam o direito de narrar, e por isso o conto era uma 
espécie de “talismã oral” utilizado para explicar e lidar magicamente 
com o mundo. 
2. Segunda fase ou fase da história do conto - em que o conto perde seu 
significado religioso, e os sacerdotes narradores e as pessoas mais 
 
 
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velhas deixam de ser importantes, passando as pessoas comuns 
também a narrar. 
Muito se discute a respeito das relações dos contos de magia com o mito, o 
folclore e a parábola. Segundo alguns estudiosos, os mitos são sistemas de valores 
que estiveram presentes nos indivíduos, pois buscavam explicar as coisas do mundo 
que não faziam sentido, estando relacionados ao mágico e com valor emocional e 
afetivo muito forte para os membros da comunidade. 
Já a parábola é uma narrativa que

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