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A grade do Prisioneiro de ferro “Submetidos as mazelas do encarceramento que os obrigam a ser prisioneiros de ferro.” Há época dos fatos não tinha o mínimo discernimento pra avaliar tal acontecimento, mas me recordo que ao ver tudo aquilo passando na televisão pensei que fosse o fim do mundo. Com o passar do tempo fui entendendo o que havia acontecido de fato. Sempre achei que as pessoas tem o livre arbítrio para escolher o que querem fazer na vida, e se o indivíduo escolhesse o lado criminoso ele tinha que se submeter ao sistema, porque até mesmo uma criança sabe que ser preso não é uma coisa boa. No decorrer do tempo, minha visão foi mudando, embora muitas informações que são veiculadas são completamente equivocadas eu pude vivenciar um pouco desse cotidiano num período em que trabalhei como assistente do chefe de investigação de uma determinada delegacia. A falta de informação correta leva as pessoas a terem opiniões/ visões equivocadas e até mesmo extremistas com relação a determinadas coisas e isso é perigoso diante do que vivemos hoje em nossa sociedade. O texto e o documentário se complementam, pois o texto vem com todas as informações sobre o ocorrido, de como tudo aconteceu no dia dos fatos, quem foram os responsáveis, quem atuou nessa ação desastrosa que vitimou oficialmente 111 pessoas (embora há relatos de que foi um número maior) e o documentário vem mostrando a realidade na qual a população carcerária se encontrava a época. A situação era de total descaso do Estado com aquelas pessoas que apesar do crime que cometeram, não deveriam estar vivendo num ambiente completamente desumano, sem higiene, sem atendimento médico adequado, alimentação precária e a estrutura também não era das melhores para que pudessem receber seus parentes em dias de visitas. O médico Drauzio Varella prestou atendimento voluntario aos presos durante anos e testemunhou o drama vivido por aqueles indivíduos que ali se encontravam, muitos com sérios problemas de saúde (inclusive a AIDS) e que estavam abandonados à própria sorte no encarceramento. Drauzio iniciou um trabalho de investigação à prevalência do vírus HIV nos detentos, entre outros atendimentos médicos que aqueles indivíduos necessitavam, Drauzio prestou serviço voluntario até 2002, ano em que o presidio foi desativado. Diante das mazelas existentes na vida do preso, kric e Fw viram no rap uma forma de expressar seus sentimentos e através da música cantar a dura realidade em que se encontravam, essa era uma forma de ocupar a mente e buscar o crescimento pessoal. Essa estimulação do potencial artístico do preso é uma ferramenta muito viável, visto que, ajuda a canalizar o pensamento em coisas produtivas que vão fazer bem ao preso. Independentemente do que levou essas pessoas ao sistema carcerário devemos lembrar que esse mesmo individuo é um ser humano, por mais que ele tenha cometido um crime, não quer dizer que ele deve ser tratado como se nada fosse, ainda assim ele tem direitos que são fundamentais a sobrevivência do ser humano. Seu direito à liberdade é que foi perdido devido ao crime que cometeu, embora o Estado tenha a obrigação de punir o indivíduo, a forma como é aplicada a pena não me parece fazer algum efeito posteriormente ao seu término, muitas vezes os indivíduos que saem do sistema carcerário (quando efetivamente cumpre toda sua pena) voltam a cometer crimes, pois ao sair, muitos, se não todos, se deparam com uma dificuldade enorme de se inserir no mercado de trabalho. Como já foi dito em aula a pena também tem a função de ressocialização, reeducação e reabilitação do indivíduo na sociedade, no entanto o que vemos na pratica é que o indivíduo que está à margem da sociedade não consegue se incluir e voltar a convivência normal, devido ao pré-conceito que a própria sociedade já tem estereotipado, a pessoa é mal vista e não consegue, por exemplo, um trabalho com registro em carteira devido ao seu histórico criminal. Gerando assim uma separação das pessoas de acordo com características especificas, proporcionando condições para algumas e não para outras, criando assim uma exclusão social principalmente para a população carcerária. Pela observação dos fatos analisados, o direito penal está presente na vida de todas as pessoas, ele não é somente punitivo. O direito penal na verdade é uma linha divisória do autoritarismo do Estado e os direitos individuais, onde aquele indivíduo que passa pelo sistema carcerário fica desamparado inclusive por esse Estado que muitas vezes omisso acaba por não criar políticas públicas ou programas de inclusão dessa população que é muito discriminada perante a sociedade no geral. Não tivessem os governantes dado a ordem para a PM invadir o Pavilhão Nove naquele 2 de outubro, é provável que não existissem quadrilhas com milhares de membros, como as atuais. Muitos que apoiaram o massacre no Carandiru, agora cobram medidas enérgicas para acabar com a violência urbana, porém, o combate agora exige inteligência, preparo técnico e intelectual, qualidades raras nos dias de hoje entre os representantes do povo.