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Regime Geral de Previdência Social Prof. Marcos Paulo Secioso de Góes Descrição Os principais benefícios previstos no Regime Geral da Previdência Social (RGPS), a relevância dos processos administrativo, judicial, previdenciário e a análise dos principais crimes previdenciários. Propósito Compreender o funcionamento do Regime Geral da Previdência Social (RGPS) é de fundamental importância para um bom planejamento (visão programática para obtenção de benefícios futuros) e para a salvaguarda de direitos no caso de infortúnios que possam levar à situação de incapacidade laborativa. Preparação Antes de iniciar o estudo, tenha em mãos a Constituição da República e a Lei n. 8213/91. Objetivos 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 1/67 Módulo 1 Benefícios previstos no Regime Geral da Previdência Social Identificar os principais benefícios previstos no Regime Geral de Previdência Social. Módulo 2 Processo administrativo, judicial e previdenciário Descrever os processos administrativo, judicial e previdenciário. Módulo 3 Crimes previdenciários Reconhecer os principais crimes previdenciários. Introdução Diante das inúmeras possibilidades vivenciadas por alguém ao longo da vida laborativa, é importante conhecer o sistema de proteção social oferecido pelo Regime Geral da Previdência Social (RGPS), um dos maiores sistemas do mundo, que prevê as espécies de benefícios disponibilizados para a maioria dos trabalhadores brasileiros. Todos os que estão vinculados à 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 2/67 iniciativa privada (e mesmo alguns detentores de cargos públicos) têm, de alguma forma, interesse e possibilidade de vinculação ao RGPS e de auferir suas benesses. Questões relacionadas à parte instrumental processual também têm sua relevância, pois a demanda por um benefício previdenciário deverá enfrentar a via administrativa e, a depender do resultado, também a via judicial. Em ambos os casos, normas processuais definirão a condução do processo de concessão e revisão de benefícios; logo, conhecê-las poderá ser essencial na tarefa de provar o direito buscado. Além disso, uma incursão no campo da tutela penal do sistema previdenciário evidencia aquilo que o legislador elegeu como conjunto de condutas essencialmente reprováveis, que deverão ser objeto de persecução, prevenção e punição para que o sistema opere da forma mais regular possível. Sobre esses aspectos do Direito Previdenciário (benefícios em espécie, questões processuais e tutela penal), nós nos debruçaremos, ao longo deste tema, valendo-nos da legislação específica e de aportes encontrados na obra Manual de Direito Previdenciário (CASTRO & LAZZARI, 2018) e nos livros Direito Previdenciário (ABREU, 2016) e Prática Previdenciária (OLIVEIRA, 2016). 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 3/67 1 - Benefícios previstos no Regime Geral da Previdência Social Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os principais benefícios previstos no Regime Geral de Previdência Social. Aposentadoria por tempo de contribuição (ATC) Na própria nomenclatura desta espécie de aposentadoria, insere-se uma ideia que adveio de uma mudança de perspectiva previdenciária introduzida pela Emenda Constitucional (EC) 20/1998: tempo de serviço x tempo de contribuição. Até a EC 20/98, o sistema era voltado para a garantia de uma aposentadoria após certo tempo de serviço de seus segurados. Todavia, com a necessidade de promover um equilíbrio entre receitas e despesas, o paradigma começou a transformar-se em direção a uma nova ideia: aposentadoria após certo tempo de contribuição. A ideia inicial já na EC 20/1998 era acumular tempo de contribuição e idade. Porém, não houve aprovação do congresso à época. Para compensar, o resultado foi a criação do Fator Previdenciário pela Lei 9.876/99, cuja jurisprudência dominante (inclusive STF) entende como constitucional. Quais eram os requisitos (antes da EC 103/2019)? 1. 35 anos de contribuição [serviço?] para homens / 30 anos de contribuição [serviço?] para mulheres; 2. Carência de 180 meses de contribuição. A eventual perda da qualidade de segurado não influencia na concessão de aposentadorias, exceto a por invalidez (art. 3º e seu § 1º da Lei 10.666/03). Isso significa que, se a pessoa completou os requisitos de contribuição numa época e veio a completar a idade depois, quando não tinha mais qualidade de segurado, será concedida a aposentadoria. Com as mudanças advindas da Reforma Constitucional de 2019 (EC 103/19), foi implementado o que não tinha sido aprovado na EC/1998 (idade mínima), ou seja, 65 anos de idade para homens e 62 anos de idade para mulheres. A carência passa a ser de 240 contribuições para homens e é mantida em 180 contribuições para mulheres. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 4/67 Na prática, com a Reforma da Previdência de 2019, deixam de existir modalidades diferenciadas de aposentadoria por tempo de contribuição (ATC), gerando uma modalidade de aposentadoria única com critérios de idade e carência, semelhante à antiga APID, aumentando-se a idade mínima da mulher de 60 para 62 e as contribuições do homem de 180 para 240. Para quem já estava no sistema em 12/11/2019 (dia anterior à publicação da EC 103/2019), há regras de transição previstas na Reforma da Previdência. [Serviço?] A questão do tempo de contribuição x tempo de serviço é colocada com interrogação, porque o que se vê é uma transição que se dá ao longo do tempo. Regras de transição Vamos ver abaixo as regras de transição: Sistema de Pontos [art. 15] (os pontos equivalem à soma: idade + tempo de contribuição): precisa completar 96 pontos (homem) e 86 pontos (mulher) em 2019 mais 1 ponto a cada ano a partir de 01/2020 até 105 pontos para homens (que ocorrerá no ano de 2028) e 100 pontos para mulheres (no ano de 2033). Deve haver o mínimo de 35 anos de contribuição para homens e de 30 anos para mulher. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 5/67 Observações sobre as regras de transição: A. Nas regras de transição 1 e 2, aplica-se a nova regra dos coeficientes; B. Nas regras de transição 3 e 4, o coeficiente é 100% [art. 17 parágrafo único e art. 26 § 3º I]; C. Na regra de transição 3, aplica-se o fator previdenciário (nas demais, não), pois é a única que não leva em conta a idade; D. Tudo isso vale até que sobrevenha nova lei regulando a matéria. Acréscimo Progressivo de Idade [art.16]: mantendo- se 30 anos de contribuição para mulheres e 35 anos de contribuição para homens, exige-se idade mínima: 61 (homens) e 56 (mulheres) em 2019 mais 6 meses a cada ano a partir de 2020 até atingir 65 anos para homens (ano de 2027) e 62 anos para mulheres (ano de 2031). Pedágio de 50% para quem está faltando até 2 anos para completar o tempo de contribuição no momento da promulgação da emenda [art. 17]: sem idade mínima, mas cumprindo pedágio de mais 50% do tempo que falta até 35 anos para homens e 30 anos para mulheres. Pedágio de 100%, aplicável independentemente de quanto tempo de contribuição estava faltando no momento da promulgação da emenda [art. 20]: idade mínima de 60 anos para homens e 57 anos para mulheres, cumprindo pedágio de 100% do tempo que faltava para atingir os 35 anos para homens e 30 anos para mulheres. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 6/67 A nova regra dos coeficientes (mencionada acima) corresponde a:60% + 2% por ano excedente a 15 (mulheres) ou 20 (homens) [art. 26 da EC 103]. Quem não recebe a ATC? Segurado especial (a menos que contribua como facultativo). Contribuinte individual que contribua com 11% - LC 123/06. Facultativo que contribua com 11% - LC 123/06. Facultativo de baixa renda que contribua com 5% - Lei 12.470/11. Para conhecer as modalidades específicas de aposentadoria para a categoria dos professores e para as pessoas com deficiência, consulte o texto sobre o assunto indicado no Explore+. Aposentadoria por idade (APID) Modalidade de aposentadoria com previsão constitucional no art. 201 § 7º, inciso II e previsão legal no art. 48 da Lei 8.213/91 (para segurados urbanos no caput e para segurados rurais nos parágrafos). Antes da Lei 8.213/91, a APID Rural (chamada de aposentadoria por velhice na época) era devida a um membro (arrimo de família), conforme artigo 297 do Decreto 83.080/79. Depois da Lei 8.213/91, todos da família podem ganhar cumulativamente. Para o estudo da Aposentadoria por Idade (APID), é interessante separá- la em três modalidades (urbana, rural e híbrida) em razão de algumas diferenças entre elas. Requisitos 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 7/67 Para quem se filiar após a EC 103/19: homens: 65 anos + 240 contribuições (carência) / mulheres: 62 anos + 180 contribuições (carência). Quais foram as alterações promovidas pela EC 103/19? Resposta Aumentou de 60 para 62 anos a idade mínima para as mulheres. Aumentou de 180 para 240 contribuições a carência para homens. Regra de transição para idade da mulher (art. 18 § 1º da EC 103/19): 60 anos em 2019 e, a partir de 2020, acréscimo de mais 6 meses a cada ano até completar 62 anos (a partir de 2023). Não há regra de transição para homens, pois fica mantida a idade de 65 anos e a carência de 180 contribuições para quem já teve vínculo com o RGPS antes da promulgação da emenda. A única diferença é o coeficiente para o cálculo do valor do benefício (RMI). Como se calcula este coeficiente na APID urbana? 70% + 1% para cada 12 contribuições (art. 50 da Lei 8.213/91) com fator previdenciário opcional (art. 7º da Lei 9.786/99). Atingiria coeficiente de 100% com 30 anos de contribuição. 60% + 2% para cada 12 contribuições (no limite de 100%) que excederem o mínimo exigido (180 para mulheres e 240 para homens). Para os homens que já tinham vínculo com o RGPS na promulgação da emenda, apesar de mantido o mínimo de 180 meses de contribuição, só começa a somar 2% para cada 12 contribuições a partir de 240 contribuições (20 anos). Com isso, chega-se ao máximo do coeficiente (100%) em 40 anos de contribuição para homens e 35 anos para mulheres. Mas atenção, a EC 103/19 admite que futura lei altere o tempo de contribuição definido temporariamente em 180 e 240 contribuições (art. 19). O art. 142 da Lei de Benefícios da Previdência Social (LBPS) contém regra de transição (no requisito da carência) para quem já era segurado Antes da EC 103/19 Depois da EC 103/19 (regra para as aposentadorias – art. 26 § 2º) 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 8/67 na publicação da Lei 8.213/91 e completou requisito etário até 2011. Até 1991, bastavam 60 contribuições e houve progressão desse número até atingir 180 contribuições para quem completasse o requisito etário em 2011 ou depois. Resumindo Homens: 60 anos mais carência diferenciada; Mulheres: 55 anos mais carência diferenciada. Ou seja, em relação à APID urbana, são menos 5 anos de idade, além de contagem de carência diferenciada. A EC 103/19 passou a exigir mínimo de 180 contribuições também para os rurícolas (de ambos os sexos). Quem tem direito ao redutor de 5 anos na idade? Quem passou os últimos 15 anos como trabalhador rural (art. 48 §§ 2º e 3º da LBPS). Carências diferenciadas? Sim. Os segurados especiais são isentos do cumprimento de carência, devendo comprovar exercício de atividade rural no período anterior à DER (art. 39 I e art. 143 da Lei 8.213/91). Qual é a diferença entre artigo 143 e o artigo 39 I da Lei 8.213/91? O artigo 143 (empregados, antigo autônomo, segurado especial) é uma norma de transição – vale durante 15 anos após a Lei 8.213/91, só necessitando comprovar a atividade (sem necessidade de contribuições). O artigo 39 I (segurado especial): só é necessário comprovar a atividade (não é norma de transição). A Lei 11.718/08: estende o prazo de 15 anos do artigo 143 para até 31/12/2010 e escalona necessidade de contribuições até 2020 (art. 3º). No entanto, vale destacar que a jurisprudência do STJ equipara a figura do boia-fria à do segurado especial (RE 1.762.211). RMI da APID Rural: salário mínimo para os que não têm contribuições (dispensados de carência). Regra do urbano para os que contribuíram. Resumindo Para (rural e urbana) homens: 65 anos mais 180 contribuições (carência) / mulheres: 60 anos mais 180 contribuições (carência). Não há redução de 5 anos no requisito da idade (art. 48 § 2º da LBPS). A questão para a APID híbrida é: Se não passou 15 anos no meio rural, mas, somado ao período urbano, completa 180 meses? Em alguns casos, o período rural é aproveitado como carência, mas se aposenta como urbano (sem redutor de idade). Quando o período rural é aproveitado como parte da carência? Tema 1007 do STJ (julgado em 09/2019): o tempo de serviço rural, ainda que remoto e descontínuo, pode ser computado para fins da carência necessária à obtenção da aposentadoria híbrida por idade, mesmo que não tenha sido efetivado o recolhimento das contribuições. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 9/67 Aposentadoria Especial (APESP) É uma espécie de aposentadoria por tempo de contribuição, com redução de tempo necessário à inativação, concedida em função das condições especiais nas quais a atividade é desenvolvida, com risco à saúde ou integridade física do segurado. Em razão de ser uma aposentadoria muito precoce, sofreu grande modificação pela Reforma da Previdência de 2019. Art. 57 da Lei 8.213/91 – A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta lei (180 contribuições), ao segurado que tiver trabalhado durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. Após a EC 103/19 (Reforma da Previdência), foi retirada a menção que havia à integridade física. Assim, a redação ficou: “Cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação” (art. 201 § 1º II). Compensar o risco social decorrente do maior desgaste a que são submetidos os trabalhadores, de forma habitual, no exercício de atividades sujeitas à exposição de agentes nocivos. Vale dizer: a questão da periculosidade é um problema pouco estável na jurisprudência. Mas atenção: Fundamentos (antes da EC 103/19) Finalidade 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 10/67 O tempo de 15, 20 ou 25 anos não varia para homens ou mulheres: a questão é a afetação da saúde e necessidade de afastamento antes que os prejuízos se manifestem. Nesse ponto, não haveria diferença apta a justificar distinções entre homens e mulheres. Quanto ao enquadramento por atividade profissional: a tônica da Lei 9.032/95 foi acabar com a ideia de atividade nociva em si. A aposentadoria especial (APESP), a partir da nova Lei, seria apenas para atividades com exposição a agentes nocivos. RMI (art. 57 § 1º LBPS): 100% do salário de benefício (sem fator previdenciário).Regra de ouro para análise da legislação aplicável à aposentadoria especial: o princípio norteador para avaliação da especialidade (direito intertemporal) é o Tempus Regit Actum (“O tempo rege o ato”), que determina, para avaliação da especialidade, a aplicação de cada lei conforme o período em que estava vigente (e não só a lei vigente no tempo da aposentadoria para avaliar todo o período). Exemplo a) Trabalho exercido até 04/1995: artigo 31 da Lei nº 3.807/60 – Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS) – admite a contagem do tempo especial caso a atividade profissional exercida pelo segurado fosse considerada penosa, insalubre, nociva ou perigosa. As atividades foram elencadas pelos Dec. 53.831/64 e 83.080/79 (até hoje, ambos regulam concomitantemente os períodos anteriores à Lei 9.032/95). Jurisprudência coloca o rol como não taxativo, mas deve haver boa analogia para enquadramento (para mais informações, veja texto indicado sobre o assunto no Explore +). b) Trabalho exercido após 04/1995: a Lei 9.032/95 confere nova redação ao artigo 57 da Lei 8.213/91, retirando a expressão “conforme atividade profissional”, deixando apenas “trabalhador sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física”. Inclui ainda no § 3º do artigo a necessidade de “trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, em condições especiais”. O § 4º retira a parte de “categoria profissional”. O artigo 58 retira “relação de atividades profissionais” (que havia na redação original) e reforça o novo paradigma. Mudanças com a EC 103/19 (art. 19) Introdução de idade mínima (deixando espaço para que lei posterior altere as idades definidas provisoriamente): a) 55 anos de idade nas APESP de 15 anos de contribuição; b) 58 anos de idade nas APESP de 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 11/67 20 anos de contribuição; c) 60 anos de idade nas APESP de 25 anos de contribuição. Regra de transição De acordo com o Sistema de Pontos [art. 21]: 66 pontos e 15 anos de efetiva exposição. 76 pontos e 20 anos de efetiva exposição. 86 pontos e 25 anos de efetiva exposição. Se não completar 15, 20 ou 25 anos de efetiva exposição, deverá se sujeitar às regras de transição da aposentadoria por tempo de contribuição (ATC), pois a EC 103/19 introduziu regra de impossibilidade de conversão de tempo especial em comum. Até 12/11/2019 (promulgação da EC 103/19 em 13/11), a conversão do tempo especial em comum era admitida pelo art. 57 § 5º LBPS. A partir de 13/11/2019, o art. 25 § 2º da EC 103/19 veda essa conversão. Depois da EC 103, ou completa-se todo o tempo exigido em condições especiais, ou só se tem direito à conversão dos períodos até 12/11/2019, ou seja, se, no total (antes e depois), o segurado não completar 15, 20 ou 25 anos de período especial, todo o período após 13/11/2019 acaba só contado como comum, mesmo que sujeito a condições especiais, visto que não poderá mais ser convertido. Ou seja, a regra passa a ser no regime do tudo ou nada para APESP. Renda Mensal Inicial – RMI (coe�ciente x Salário de Benefício [SB]) Antes da EC 103/19: Coeficiente = 100%; SB = média dos 80% maiores SC no PBC; Sem fator previdenciário. Depois da EC 103/19 (art. 26): Coeficiente (art. 26 § 5º) = 60% + 2% por ano além de 15a (H ou M); SB = média de 100% dos SC do PBC; Não há fator previdenciário. No que concerne ao enquadramento de períodos especiais, a Legislação e a Jurisprudência são extremamente vastas, de modo que veremos os aspectos essenciais que tocam a matéria e indicaremos l t f d h i t 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 12/67 elementos para aprofundar o conhecimento no Explore +. Formulários e laudos O formulário entregue ao trabalhador ao final do vínculo comprovará a exposição aos agentes nocivos – atualmente, o PPP é o formulário a que se refere o artigo 58 § 1º da LBPS (já teve os nomes SB40, DSS 8030 e DIRBEN 8030). Elaborado geralmente pelo RH da empresa, com base em laudo técnico de condições ambientais do trabalho (LTCAT) expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. Equipamento de Proteção Individual (EPI): STF – ARE 664.335 (12/2014) Se o EPI for realmente capaz de neutralizar a nocividade, não haverá respaldo constitucional à aposentadoria especial. A exceção é o ruído, pois a potência do som causa danos ao organismo que vão além daqueles relacionados à perda das funções auditivas. A eficácia do EPI não impede o reconhecimento de atividade especial exercida antes de 03/12/1998, data de início da vigência da MP 1.729/98, convertida na Lei n. 9.732/98 (Súmula 87 da TNU - Turma Nacional de Uniformização). Ruído – limites Até 05/03/1997 – acima de 80dB; de 06/03/1997 a 18/11/2003 – acima de 90dB; depois de 18/11/2003 – acima de 85dB. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 13/67 Exposição habitual e permanente “Considera-se tempo de trabalho permanente aquele que é exercido de forma não ocasional nem intermitente, no qual a exposição do empregado, do trabalhador avulso ou do cooperado ao agente nocivo seja indissociável da produção do bem ou da prestação do serviço” (art. 68 do Dec. 3048/99). De acordo com a jurisprudência do STJ, a partir da vigência da Lei n. 9.032/95, faz-se necessária a demonstração de que a atividade tenha se dado sob a exposição a fatores insalubres de forma habitual e permanente. Parâmetro: tensões superiores a 250V. Não há previsão legal e regulamentar para enquadramento desde o Dec. 2.172/97. Todavia, o STJ (Tema 534 dos Recursos Repetitivos) e a TNU (Tema 210) estende a possibilidade de enquadramento em razão da periculosidade como elemento a configurar aposentadoria especial. A lista dos decretos 2.172/97 e 3.048/99 retratam situações extremas de exposição para fins de enquadramento, mas a A metodologia de aferição (Tema 174 TNU julgado em 04/2019) A partir de 19/11/2003, é obrigatória a utilização das metodologias contidas na NHO-01 da FUNDACENTRO ou na NR-15. Em caso de omissão ou dúvida quanto à indicação da metodologia empregada, deve ser apresentado o respectivo laudo técnico (LTCAT). Eletricidade Agentes biológicos 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 14/67 jurisprudência tem entendido que diversas outras hipóteses também configuram especialização de período. Não há previsão legal ou regulamentar específica, mas, tal como no caso da eletricidade, o STJ e a TNU estendem a possibilidade de enquadramento em razão da periculosidade como elemento a configurar aposentadoria especial. Os agentes químicos são considerados em conformidade com o anexo II do Decreto 3.048/99. O anexo XI da NR15 do MTE traz os agentes químicos cuja insalubridade é caracterizada por limite de tolerância (avaliação qualitativa e quantitativa necessária para detectar eventual especialidade do período trabalhado). Aposentadoria, vínculo de emprego e retorno ao trabalho Para cada espécie de aposentadoria, há um tratamento em relação ao vínculo de emprego e a possibilidade de retorno ao trabalho: Suspensão do contrato de trabalho (art. 475 CLT) – se retorna ao trabalho, cancela a aposentadoria. Arma de fogo Agentes químicos Aposentadoria por invalidez 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 15/67 Não extingue o contrato de trabalho (o trabalhador não é obrigado a romper o vínculo de emprego). Proibição de continuar em atividade sujeita a agentes nocivos (art. 57 § 6º da Lei 8.213/91) – a Lei 9.732/98 estabeleceu o cancelamento daaposentadoria, tal como ocorre com o aposentado por invalidez. Tema 709 da Repercussão Geral do STF firmou a constitucionalidade dessas disposições. O art. 69, parágrafo único, do Dec. 3.048/99, estabelece a notificação para a cessação. Vale dizer que há duas relações jurídicas diferentes que geram obrigações distintas: Empregador/Empregado INSS/Segurado Se a empresa extinguir o contrato de trabalho pela aposentadoria, o reflexo é o seguinte: pagamento pelo empregador de todas as verbas rescisórias, inclusive a multa de 40% do FGTS e aviso prévio. O aposentado que retorna à atividade não terá direito a novos benefícios previdenciários, exceto salário-família e reabilitação profissional (Artigo 18, § 2º, da Lei nº 8.213/1991). O Dec. 3.048 (art. 103) prevê o direito ao salário-maternidade para a segurada já aposentada. O Princípio da Solidariedade ampara essa regra legal? (relação contribuição x benefício prejudicial ao segurado). O STF afirma que sim, de acordo com os RE (Recurso Extraordinário) 381.367, 661.256 e 827.833. Nesses julgados, o STF afirmou como constitucional a previsão legal de irreversibilidade da aposentadoria (art. 18 § 2º da Lei 8.213/91) e afastou as teses que defendiam a desaposentação e reaposentação. Desaposentação Aposentadoria por idade e tempo de contribuição Aposentadoria especial 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 16/67 Direito de se aposentar novamente, levando em conta o período trabalhado depois da aposentadoria, somando esse tempo ao que já havia sido considerado na aposentadoria original. Reaposentação Direito de, sem considerar as remunerações e o tempo que foram levados em conta na primeira aposentadoria, garantir uma nova aposentadoria (via de regra, APID) com base apenas em contribuições feitas após o deferimento da primeira ATC/APESP. Espécies de aposentadoria, tempo de serviço e contribuição Antes de responder mais objetivamente a essa pergunta, vale a pena verificar a mudança de paradigma iniciada na EC 20/98: T. Serviço x T. Contribuição. Falamos em “iniciada” porque a Lei 8.213/91 (LBPS) continuou usando a expressão tempo de serviço e, como não há definição legal do que deve ser considerado como tempo de contribuição, consideram-se ainda aplicáveis (em muitos casos) os conceitos de tempo de serviço para este fim. O artigo 4º da Emenda Constitucional nº 20/1998 determinou que, “observado o disposto no artigo 40, § 10 da CRFB [vedação à contagem de tempo de contribuição fictício], o tempo de serviço considerado pela legislação vigente para efeito de aposentadoria, cumprido até que a lei discipline a matéria, será contado como tempo de contribuição”. O artigo 55 da Lei 8.213 retrata a ideia de tempo de serviço – regra do caput: atividades de qualquer das categorias de segurados de que trata o artigo 11 desta Lei [segurados obrigatórios], mesmo que anterior à perda da qualidade de segurado (vale a observação de que tempo de serviço não se perde – o que se perde é qualidade de segurado e carência cumprida). Além disso, também é considerado como tempo de serviço (art. 60 do Decreto 3.048/99): Período intercalado em que esteve em gozo de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez. Tempo de serviço militar ou de serviço civil alternativo. Período de gozo de licença-maternidade. Período de contribuição como segurado facultativo. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 17/67 Período de licença remunerada, desde que tenha havido contribuição. RPPS mediante contagem recíproca. Mandato eletivo quando não contado para outro regime. Vitimado por atos de exceção que tenham sido compelidos ao afastamento de atividade remunerada no período de 18/09/46 a 05/10/88. Período como aluno-aprendiz referente ao período de aprendizado profissional em escola técnica, desde que comprovada a remuneração, mesmo que indireta, à conta do orçamento público e o vínculo empregatício. A comprovação de tempo de serviço exige início de prova material (art. 55 § 3º da Lei 8.213/91) – prova exclusivamente testemunhal apenas é aceita em caso fortuito ou de força maior. Essa posição é reforçada pela Súmula 149 e Tema 297 STJ. Sobre a comprovação documental, temos uma lista no artigo 62 § 2º do Dec. 3.048/99 (não exaustiva - § 4º diz que é exemplificativa) dos documentos geralmente aceitos. Sobre as contribuições do CI (contribuinte individual) que presta serviço a empresas, a partir de 04/2003 (Lei 10.666/03), basta declaração na GFIP (Guia de Recolhimento do FGTS e de Informações à Previdência Social) por parte da empresa, independentemente de efetivo recolhimento (cuja atribuição é da empresa). Já a Retroação de DICA (Data de início de contribuição) é uma sistemática de indenização ao INSS quando comprovada a efetiva atuação do CI (segurado obrigatório) em data anterior às contribuições constantes do CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais). Previsão no artigo 45 da Lei 8.212/91 e, depois na Lei Complementar (LC) 128/08, através do art. 45-A da Lei 8.212/91, além do artigo 96, inciso IV, da Lei 8.213/91 para o mecanismo de indenização a favor do INSS. Até aqui, vimos os principais benefícios programados, aqueles que, de alguma forma, podem ser planejados e obtidos por meio do transcurso do tempo e do adimplemento dos critérios de concessão. Agora, entraremos no rol dos denominados benefícios por incapacidade (que se enquadram na modalidade de benefícios não programados). Benefícios por incapacidade 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 18/67 Os benefícios por incapacidade são: auxílio-doença (AD), aposentadoria por invalidez (APIN) e auxílio-acidente (AA). Trataremos desses benefícios de modo conjunto, pois todos têm em comum a ocorrência de algum infortúnio, seja pela ocorrência de um acidente, seja pelo desenvolvimento de alguma patologia. Para que um benefício previdenciário seja deferido, tal infortúnio deve gerar algum grau de incapacidade, que deve se impor ao segurado enquanto ele preserva vínculo com a Previdência Social. Vamos a algumas distinções entre essas modalidades de benefício: No auxílio-doença (AD), a incapacidade deve ser parcial ou temporária por mais de 15 dias. A aposentadoria por invalidez (APIN) exige incapacidade total e permanente. No acréscimo de 25% sobre APIN, o segurado deve necessitar de ajuda permanente de terceiros. O auxílio-acidente é devido quando sucede uma redução da capacidade após a consolidação das lesões. Beneficiários são todos os segurados (até o facultativo de baixa renda, não obstante a necessidade de maiores restrições nesse caso). Pré- existência da patologia (não confere direitos)/ agravamento da patologia (confere direito a benefício por incapacidade)/ filiação oportunista (zona cinzenta). Se a incapacidade não for total, cabe reabilitação, e o segurado não deve ser aposentado. Dependendo do grau de instrução e idade, pode ocorrer a concessão de APIN pela inviabilidade de reabilitação. A filiação oportunista representa uma zona cinzenta pelo fato de, algumas vezes, confundir-se com eventual agravamento da patologia, que confere direito ao benefício por incapacidade (BI). A filiação oportunista é aquela em que a pessoa, mesmo não sendo incapaz no momento da filiação ao sistema, sabe que, necessariamente, irá se tornar incapaz em um horizonte de tempo breve e previsível. A carência corresponde a 12 contribuições (12 meses). As exceções são: Sofrer acidente de qualquer natureza ou causa. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 19/67 Sofrer acidente de trabalho, seja em razão de doença profissional, seja do trabalho.Ser acometido por alguma das doenças especificadas no art. 151 da Lei 8.213/91, bem como na Portaria Interministerial 2.998, de 23.8.2001. (Mas tem de ser acometido depois do ingresso no sistema – não pode ser incapacidade decorrente de agravamento). Segurados especiais – isentos do cumprimento de carência, devendo comprovar exercício de atividade rural nos 12 meses anteriores à data de entrada do requerimento (DER). Sobre a Data do Início do Benefício (DIB): Na APIN: dia da cessação do AD. No auxílio-acidente (AA): dia da cessação do AD. No auxílio-doença (AD), para Empregados: 16º dia após o afastamento. Demais segurados (inclusive empregado doméstico): data do afastamento (se a incapacidade for superior a 15 dias) ou na DER (se requerimento for posterior a 30 dias do afastamento). A renda mensal inicial sofreu severa modificação com a EC 103/19, em especial para a aposentadoria por invalidez. Então, temos na APIN: Antes da EC 103/19: 100% do salário de benefício – SB (em todos os casos). Depois da EC 103/19 (art. 26 § 2º c/c § 3º II): 100 % do SB no caso de acidente do trabalho, doença profissional ou doença do trabalho //ou// 60% + 2% por ano de contribuição além dos 20 anos (H) ou 15 anos (M), nas demais APIN (acidente de qualquer natureza ou doença não ocupacional). Para incapacidade posterior a 13/11/2019 (Reforma da Previdência), a APIN fica menor que o AD quando se tem menos de 35 anos de contribuição. No AD: 91% do SB e no AA: 50% do SB (antes da Lei 9.528/97 era 30%, 40% ou 60% a depender se a incapacidade parcial fosse leve, média ou grave). Data da cessação do benefício (DCB): No AA: morte ou concessão da aposentadoria. Na APIN: morte ou cessação da incapacidade. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 20/67 No AD: Art. 60 § 8º da LBPS: “Sempre que possível, o ato de concessão ou de reativação de auxílio-doença, judicial ou administrativo, deverá fixar o prazo estimado para a duração do benefício”. Auxílio-doença Não há AD quando afastamento é inferior a 15 dias. Para o empregado, a empresa paga o salário integral nos 15 primeiros dias de afastamento (considera-se o contrato de trabalho interrompido). Durante o recebimento do auxílio-doença, o contrato é considerado suspenso, ficando o empregado licenciado. Atenção! Alta programada (art. 78 § 1º do Dec. 3.048/99): “O INSS poderá estabelecer, mediante avaliação médico-pericial, o prazo que entender suficiente para a recuperação da capacidade para o trabalho do segurado, dispensada nessa hipótese a realização de nova perícia”. Esse comando é mitigado pelo § 2º: “Caso o prazo concedido para a recuperação se revele insuficiente, o segurado poderá solicitar a realização de nova perícia médica”. Na jurisprudência, criou-se muita resistência em aplicar isoladamente o § 1º (como chegou a proceder o INSS administrativamente em diversos casos no passado, impossibilitando o segurado que continuasse se sentindo incapaz de marcar nova perícia). Depois, a Lei 13.457/17 veio respaldar a aplicação conjunta dos §§ 1º e 2º do Decreto 3.048/99 (a aplicação conjunta dos dispositivos permite a fixação de um prazo, com possibilidade de pedido de prorrogação pelo segurado). Para aprofundamento sobre esse tema, pode-se verificar o julgamento do Tema 164 pela TNU. O Requerimento de prorrogação deve ocorrer nos últimos 15 dias do AD. Regra de escape (art. 60 § 9º da LBPS com redação da Lei 13.457/17): na ausência de fixação do prazo, o benefício cessará após o prazo de 120 dias, contado da data de concessão ou de reativação do AD, exceto se o segurado requerer a sua prorrogação. Tema 232 TNU (julgado em 12/2019: “O auxílio-doença é inacumulável com o seguro-desemprego, mesmo na hipótese de reconhecimento retroativo da incapacidade em momento posterior ao gozo do benefício da Lei 7.998/90, hipótese na qual as parcelas do seguro-desemprego devem ser abatidas do valor devido a título de auxílio-doença”. Dever de Cooperação na Recuperação (Art. 101 da Lei 8.213/91): o segurado em gozo de AD, APIN e o pensionista inválido estão obrigados, sob pena de suspensão do benefício a: 1) submeter-se 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 21/67 a exame médico a cargo da Previdência Social; 2) processo de reabilitação profissional prescrito e custeado pelo INSS (nas situações de incapacidade parcial); 3) tratamento dispensado gratuitamente, exceto o cirúrgico e a transfusão de sangue, que são facultativos. Se quem tem AD ou APIN voltar à atividade, cessa automaticamente o auxílio (art. 60 § 6º) e a APIN (art. 46 da Lei 8.213/91) – Tal aferição é possível de se fazer através de informações prestadas pelas empresas ao INSS (em especial, pelo sistema CNIS). Na APIN, se nova perícia concluir pela recuperação, o benefício é cancelado nos seguintes moldes (art. 47 da Lei 8.213/91): 1) Se a recuperação é total e recebeu (AD + APIN) por menos de 5 anos: de imediato, em se tratando de segurado empregado e se a empresa receber na mesma função que executava, ou, para os demais segurados, depois de tantos meses quantos anos tiverem durado o (AD + APIN); 2) Se a recuperação é parcial ou recebia (AD + APIN) por mais de 5 anos: recebe 6 meses de forma integral, depois recebe 50% de 6 meses a 1 ano e, por fim, 25% de 1 ano a 18 meses, cessando por completo depois dos 18 meses. Acidente do trabalho Tendo em vista que, além do valor diferenciado numa eventual APIN, algumas consequências advêm em favor do trabalhador quando ocorre um acidente do trabalho, é interessante buscar seu conceito legal: é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho do segurado especial, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (art. 19 da LBPS). A caracterização do acidente do trabalho é feita através da conjunção de quatro elementos: Exterioridade: o acidente é causado por ação contundente de um agente externo (não é congênito, não se trata de enfermidade preexistente, ou suas consequências). Obs.: apesar da existência de um agente externo, é passível de provocação pela própria vítima. Violação à integridade física. Evento súbito: fato causador abrupto durante curto lapso temporal (não decorre do desenvolvimento progressivo de patologia). Relação com a atividade laboral: ocorre em razão do exercício da atividade laborativa. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 22/67 Trabalhador Foi incluído o empregado doméstico pela LC 150/15. Há quem defenda a inconstitucionalidade da exclusão do contribuinte individual (tratamento não isonômico com os demais segurados). Atividade laborativa Não necessariamente no ambiente de trabalho. Ocorrências fora do local e horário de trabalho que caracterizam acidente do trabalho (art. 21, inciso IV, da LBPS): Na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa ou, ainda, para evitar prejuízo ou proporcionar proveito ao empregador. Em viagem a serviço da empresa. Nos percursos da residência para o trabalho, e vice-versa. Veremos a seguir as consequências para o trabalhador. Estabilidade O segurado que sofreu acidente do trabalho tem garantia de estabilidade no emprego por 12 meses após a cessação do auxílio- doença acidentário, independentemente de percepção de auxílio- acidente (art. 118 da LBPS). No caso de acidente do trabalho, o empregador tem de continuar a depositar a contribuição para o FGTS na conta vinculada do empregado (art. 15 § 5º da Lei 8.036/90). Doenças pro�ssionais e do trabalho Doenças ocupacionais são as deflagradas em virtude da atividadelaborativa desempenhada, resultado de constante exposição a agentes físicos, químicos e biológicos, ou mesmo do uso inadequado dos recursos disponíveis ao trabalhador (uso indevido de equipamentos de informática). As doenças ocupacionais dividem-se em (art. 20 da LBPS): Doenças profissionais: Decorrentes de situações comuns aos integrantes de determinada categoria de trabalhadores, ou exercício de trabalho peculiar a determinada atividade. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 23/67 Doença do trabalho: Adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relaciona diretamente. Competência: os benefícios derivados de acidente do trabalho possuem a peculiaridade de serem julgados na Justiça Estadual (art. 109, I, da CRFB). Doenças ocupacionais Diferenciação em relação ao acidente do trabalho: não decorrem de evento súbito nem dependem de evento violento. As doenças ocupacionais derivam das contingências do trabalho desempenhado ao longo do tempo, que estabelecem o nexo causal entre a atividade laborativa e a doença. O caput do art. 20 da LBPS equipara as doenças ocupacionais a acidente do trabalho nos seus efeitos. Com isso, são geradas as mesmas consequências de Direito (ex.: estabilidade de 12 meses, depósito do FGTS, valor maior de APIN). Doença do trabalho Não são consideradas como doença do trabalho (art. 20 § 1º da LBPS): Doença degenerativa; Inerente a grupo etário; Que não produza incapacidade laborativa; Doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho. Auxílio-acidente (AA) Sobre este benefício, é necessário fazer algumas considerações: Decorre de acidente, seja acidente do trabalho, equiparado a acidente do trabalho (doença ocupacional) ou acidente de qualquer natureza. Ou seja, não se defere auxílio-acidente em razão de doença que não seja ocupacional. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 24/67 Mas atenção: Não se pode acumular o AA com aposentadoria (art. 86 § 2º da LBPS) – mas seu valor entra no cômputo dos SC (não era essa a sistemática antes da Lei 9.528/97). Na passagem do AD para o AA, a incapacidade que era total passa a ser parcial, ao mesmo tempo em que deixa de ser temporária e passa a ser permanente. Tem caráter indenizatório (não substitui a renda mensal do segurado), é recebido quando resultam sequelas após a consolidação das lesões que impliquem redução da capacidade para a atividade habitual (art. 86 da LBPS). Portanto, é recebido em conjunto com a remuneração do trabalho que o segurado vier a executar (em razão do seu resíduo laborativo). O AA pode ter valor inferior ao SM, pois não é substitutivo do salário (não viola o art. 201 § 2º da CRFB). Hipóteses de concessão (art. 104 do Dec. 3.048/99): I - redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia; II – seja exigido maior esforço para o desempenho da mesma atividade que exercia à época do acidente; III - impossibilidade de desempenho da atividade que exercia à época do acidente, porém permite o desempenho de outra, após processo de reabilitação profissional. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 25/67 As prestações da Previdência Social Neste vídeo, você conhecerá um pouco mais sobre as prestações da Previdência Social 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 26/67 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 As aposentadorias são um dos principais benefícios previstos no Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Sobre elas, é possível afirmar corretamente que: A O requisito etário (atingimento de certa idade) não se aplica à aposentadoria por tempo de contribuição, independentemente da data em que o segurado complete as contribuições necessárias para o gozo do benefício. B A perda da qualidade de segurado não influencia na concessão de aposentadoria por tempo de contribuição e aposentadoria por idade. C O fator previdenciário deixa de existir depois da Reforma da Previdência para os novos segurados (que entrarem no RGPS depois da EC 103/19) e de acordo com as regras de transição (para os que já estavam vinculados ao RGPS quando foi publicada a EC 103/19). 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 27/67 Parabéns! A alternativa B está correta. A opção A não é verdadeira depois da EC 103/19 (Reforma da Previdência). A opção B é verdadeira, pois apenas a aposentadoria por invalidez exige qualidade de segurado para a sua concessão. A opção C é falsa porque uma das regras de transição dispostas na EC 103/19 ainda utiliza o fator previdenciário. A opção D é falsa porque é necessária contribuição no patamar de 20% para que esses segurados venham a receber ATC. Questão 2 Em relação aos benefícios não programados, assinale a alternativa correta. D O segurado especial, o contribuinte individual e o segurado facultativo têm direito à aposentadoria por tempo de contribuição, caso contribuam com alíquota de 11%. E Após a EC 103/19 a idade mínima para as mulheres se aposentarem passou para 65 (sessenta e cinco) anos de idade. A O valor do auxílio-doença pago pelo INSS às diversas categorias de segurado não engloba os primeiros 15 (quinze) dias de afastamento. B Os benefícios por incapacidade, como auxílio- doença, auxílio-acidente e aposentadoria por invalidez, não exigem que a incapacidade ocorra depois da vinculação ao RGPS. C Não é possível a concessão de benefício por incapacidade para o segurado facultativo que exerça apenas atividades domésticas no âmbito de sua própria residência. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 28/67 Parabéns! A alternativa E está correta. O acidente de trabalho é causado por ação contundente de um agente externo, há violação à integridade física, assim como um fato causador abrupto durante curto lapso temporal e há de ocorrer- se em razão do exercício da atividade laborativa. 2 - Processo administrativo, judicial e previdenciário Ao �nal deste módulo, você será capaz de descrever os processos administrativo, judicial e previdenciário. D Quem sofre acidente de qualquer natureza, ainda que não seja caracterizado como acidente de trabalho, não é dispensado do cumprimento da carência. E A caracterização do acidente de trabalho é feita através de quatro elementos: exterioridade, violação à integridade física, relação com a atividade laboral e evento súbito. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 29/67 Prova Antes de entrarmos nas características fundamentais dos processos administrativo e judicial que instrumentalizam o Direito Previdenciário, é interessante ter em mente o quanto esse ramo do Direito depende de boa produção de prova. As questões de Direito, apesar dos inúmeros debates doutrinários e precedentes jurisprudenciais existentes, não exigem maiores demonstrações, seja no processo administrativo, seja no processo judicial. A princípio, o juiz ou analista administrativo tem o dever de saber do que se trata e, de fato, conhece a legislação e as teses defendidas, pois Previdência Social é matéria que atinge todo mundo e acaba que, pela repetição de demandas no dia a dia de quem opera na área, tem-se conhecimentodo que geralmente é defendido pelas partes. Já as questões de fato, relativas à vida pessoal de quem está demandando, exigem maior cuidado e necessidade de demonstração, pois o juiz ou o analista administrativo não as conhece. Nesse ponto, entra a importância da prova! É principalmente através da prova que se faz o convencimento do juiz ou do analista. Quanto à valoração da prova, existem três grandes sistemas passíveis de serem utilizados pelo órgão julgador: Livre convencimento motivado (regra). Íntima convicção (não tolerado no Direito Previdenciário). Prova tarifada (há resquícios no Direito Previdenciário). Apesar de ser preponderante o uso do livre convencimento motivado, é notório que, especialmente no Direito Previdenciário, determinados fatos da vida laborativa sejam provados preponderantemente, em certa época, através de certos documentos. O resultado é que, mesmo diante da possibilidade do livre convencimento motivado, o julgador possua um rol de “provas preferidas”, conforme o ponto que se deseja provar. É um ramo no qual, frequentemente, confere-se à prova documental ou pericial maior credibilidade do que à prova testemunhal ou depoimento pessoal. Ex.: a prova pericial é uma regra (quase que absoluta) em casos que envolvam benefícios por incapacidade; PPP e Laudo Técnico 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 30/67 são os documentos geralmente aceitos como prova para contagem majorada na exposição a gentes nocivos; fotos da moradia ajudam muito no julgamento de BPC-LOAS. Livre convencimento motivado Quando o julgador expõe quais fundamentos que, no caso concreto, convenceram-no e levaram-no à conclusão exposta no dispositivo do julgamento. Sobre prova tarifada A LBPS, no art. 55 § 3º, exige início de prova material para comprovação de tempo de serviço. Mais adiante, no artigo 106, há um elenco de provas materiais para a comprovação da atividade rural (esse rol é ampliado pelos art. 47 e 54 da IN 77/15). Desde 2019, a MP 871/19 (convertida na Lei 13.876/19) introduz § 5º no artigo 16 da LBPS, fazendo com que a união estável e a dependência econômica também passem a exigir início de prova material contemporânea aos fatos (não admite prova exclusivamente testemunhal, exceto na ocorrência de motivo de força maior e/ou caso fortuito). Não basta que seja prova oral reduzida a termo (apenas formalmente documental), como no caso de declarações escritas de pessoas próximas. Feitas estas considerações iniciais sobre a necessidade probatória, vamos ao processo! Processo administrativo previdenciário De acordo com a IN 77/15 (art. 658): Considera-se processo administrativo previdenciário o conjunto de atos administrativos praticados nos Canais de 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 31/67 Atendimento da Previdência Social, iniciado em razão de requerimento formulado pelo interessado, de ofício pela Administração ou por terceiro legitimado, e concluído com a decisão definitiva no âmbito administrativo. IN 77/15 (art. 658) Fases do PAP: inicial, instrução, decisão, recursos, julgamento dos recursos. Princípios que regem o PAP Estão previstos nos artigos 5º e 37 da CRFB e art. 2º da Lei 9.784/99 os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, do contraditório e ampla defesa, duração razoável do processo, isonomia, do devido processo legal, segurança jurídica, do interesse público, finalidade, motivação, razoabilidade e proporcionalidade. Os preceitos do PAP constantes do art. 659 da IN77/15 dão contornos mais concretos a estes princípios. Vamos a eles: É direito do cidadão conhecer as razões pelas quais seu requerimento foi indeferido ou parcialmente deferido, o que é necessário para o exercício do contraditório (oportunidade de contraditar o ato administrativo) e ampla defesa. Liga-se ao preceito do art. 659, X, da IN77: Fundamentação das decisões, indicando os documentos e os elementos que levaram à concessão ou ao indeferimento do benefício ou serviço. Princípio da motivação Presunção de boa-fé 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 32/67 Dos atos praticados pelos interessados (art. 659, I, IN77). Que contempla os preceitos da identificação do servidor responsável por cada ato e a data em que cada ato foi praticado (art. 659, XI, IN77). Que contempla o preceito de garantia à comunicação, à apresentação de alegações finais, à produção de provas e à interposição de recursos (art. 659, XIV, IN77). Que define que o julgador deve buscar a verdade, ainda que tenha que se valer de outros elementos além daqueles trazidos aos autos pelos interessados. Utilizando-se de sua experiência na matéria, o julgador pode determinar certas provas úteis a desvendar situações que, dentro de um juízo de probabilidade, costumam ocorrer em situações similares ao caso concreto em análise. Legitima, por exemplo, a pesquisa externa, a justificação administrativa e qualquer outra solicitação de documentos ou informações feitas a órgãos ou empresas. Mas isso não retira do segurado a obrigação de trazer elementos indicativos aos autos, bem como informações e documentos quando solicitado (Obs.: Não basta o “quero me aposentar”). Este princípio complementa- se com a ideia de cooperação (art. 5º do NCPC). Que impõe à Administração o dever de dar prosseguimento ao processo, impulsionando-o de ofício, sem prejuízo da atuação Princípio da publicidade Princípio da ampla defesa e contraditório Princípio da primazia da verdade material Princípio da oficialidade 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 33/67 dos interessados (art. 659, XVI, IN77). Que contempla a regra hermenêutica de interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público (art. 659, XVII, IN77), que, no caso da Previdência Social, é conceder o benefício a quem tem direito e negar aos que ainda não completaram os requisitos necessários. Além desses, há ainda os princípios específicos do PAP: Princípio do interesse público Obrigatoriedade da concessão do benefício mais vantajoso Os servidores do INSS devem verificar as provas produzidas nos autos e, no momento do julgamento, mesmo que o segurado ou dependente requeira espécie de benefício diverso ou sejam possíveis duas ou mais interpretações sobre o caso, se constatado o direito ao benefício diverso do requerido e/ou mais vantajoso economicamente, deve-se informar tal fato ao interessado. No caso de anuência do segurado, deve-se proceder a concessão. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 34/67 Direito de esclarecimento O servidor do INSS deve prestar ao segurado, em todas as fases, os esclarecimentos necessários para o exercício dos seus direitos, tais como documentação indispensável, prazos para a prática de atos, abrangência e limite dos recursos (art. 659, VII, IN77) com formas e vocabulário simples, evitando-se o uso de siglas ou palavras de uso interno da Administração que dificultem o entendimento pelo interessado (art. 659, XII, IN77). Presunção de veracidade dos dados constantes nos sistemas corporativos da Previdência (ART. 29-A e §§ da LBPS) Por um lado, caberá ao INSS comprovar que a informação inserida no sistema não é verdadeira para que possa desconsiderá-la. Por outro lado, cria-se resistência (necessidade de prova robusta) para considerar períodos e remunerações que não estejam nos sistemas (onde cidadão pode verificar com regularidade os dados constantes do CNIS e solicitar, a qualquer tempo,a inclusão, exclusão ou retificação de informações). Gratuidade Proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei (art. 659, XV, IN77). Informalismo procedimental (aplicado em favor do segurado e d d ) 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 35/67 Artigo 690 da IN 77/15 – Reafirmação da DER (Data da Entrada do Requerimento): “Se durante a análise do requerimento for verificado que na DER o segurado não satisfazia os requisitos para o reconhecimento do direito, mas que os implementou em momento posterior, deverá o servidor informar ao interessado sobre a possibilidade de reafirmação da DER, exigindo-se para sua efetivação a expressa concordância por escrito”. A reafirmação da DER em processo judicial foi admitida pelo STJ em 10/2019, com o julgamento do Tema 995: É possível a reafirmação da DER para o momento em que implementados os requisitos para a concessão do benefício, mesmo que isso se dê no interstício entre o ajuizamento da ação e a entrega da prestação jurisdicional nas instâncias ordinárias. Há também o direito de desistência previsto no artigo 181-B do Dec. 3.048/99. Apesar de serem irreversíveis e irrenunciáveis, o segurado pode desistir da sua aposentadoria (ex.: acreditava que o benefício viria num valor mais alto e veio mais baixo, preferindo continuar trabalhando e pedir em outro momento). Essa desistência deve ser logo após a concessão e antes da ocorrência de um dos seguintes atos: I - recebimento do primeiro pagamento do benefício; ou II - saque do respectivo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ou do Programa de Integração Social (PIS). Reconhecimento automático de direitos Além dos princípios do PAP, há algo que esbarra no material e no processual (ao mesmo tempo) e que é um objetivo perseguido pelo INSS: o reconhecimento automático de direitos. É um dos objetivos estratégicos do INSS. A diretriz que o precede é manter um cadastro fidedigno da vida laboral e profissiografia do cidadão com vistas a seus dependentes) Determina que erros formais não devem prejudicar o requerente, desde que seja possível aproveitar seu ato e fazê-lo atingir sua finalidade. Com base neste princípio, pode-se até mesmo alterar um pedido depois de realizada a instrução e gozar de direitos que só seriam alcançados no curso do processo. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 36/67 facilitar a obtenção de prestações previdenciárias e serviços, como a reabilitação profissional e o serviço social. O desafio é lidar com situações ocorridas há cinco décadas. Ex.: GFIP foi criada em 1999, e a obrigatoriedade em meio magnético para todas as empresas, só em 2004. Ciência dos atos As formas de ciência dos atos processuais são as seguintes: Ciência nos autos, preferencialmente. Via postal com AR, telegrama ou outro meio que assegure ciência ao interessado. Presumem-se válidas as comunicações dirigidas ao endereço declinado nos autos, ainda que sejam recebidas por terceiros. Outro meio que assegure ciência, desde que registrado no processo. Ciência Comparecimento supre a falta de comunicação e dá início à contagem de prazos. Para os processos de suspensão de benefício por indício de erro ou irregularidade, a ciência inicial será preferencialmente pela rede bancária. Contagem de prazos Sobre a contagem de prazos, veja as etapas: Início: data da cientificação. Contagem: em dias corridos, excluindo o dia inicial e incluindo o dia final. Prorrogação: nos casos de dia sem expediente, primeiro dia útil subsequente. No PAP, o não atendimento da comunicação não implica o reconhecimento da verdade dos fatos de modo desfavorável à pretensão formulada pelo interessado. Porém, pode prejudicar a instrução, com aumento das chances de insucesso. O art. 678 § 7º da 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 37/67 IN 77 determina que, esgotado o prazo para cumprimento de exigências, o INSS deve analisar os dados presentes nos sistemas e proferir a decisão. Fase inicial ou postulatória Em regra, dá-se por requerimento da parte (exceção: início de ofício pelo INSS). Elemento essencial: definição do objeto (concessão, revisão, atualização cadastral, prestação de serviços) + documentos (que provam o direito). A formalização do processo se dá com: Requerimento assinado; Procuração, se for o caso; Comprovante de agendamento, quando cabível; Cópia do documento de identificação do requirente e representante legal; Documentação comprobatória relacionada ao pedido, caso haja. Mas atenção a estas informações: Solução no caso de recusa ao protocolo por parte do servidor: contatar a Ouvidoria. Documentação incompleta causa expedição de carta de exigência, na fase instrutória, com prazo de 30 dias para o cumprimento. No PAP, o requerimento geralmente é padrão, mas é possível melhorar seu conteúdo através de anexo construído pelo segurado. Requerimento pode ser formulado pelos canais: A) Portal do INSS na Internet; B) Central de Atendimento 135; C) Agência de Atendimento da Previdência Social - APS (1.500 pontos de atendimento no Brasil). Qualquer que seja o canal utilizado, fixa-se a Data da Entrada do Requerimento – DER. Fase instrutória Nos âmbitos administrativo e judicial, o mais importante é a boa produção das provas. No Direito Previdenciário, a maior parte das 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 38/67 provas são pré-constituídas. As provas que instruem o processo administrativo são praticamente as mesmas utilizadas na via judicial. Todavia, uma das principais diferenças do âmbito administrativo para o judicial é a liberdade na apreciação das provas. A valoração de provas no PAP é muito atrelada ao que determina a IN 77/15, que apresenta listas de provas geralmente aceitas para cada situação (a tarifação de provas diminui no âmbito judicial). A carta de exigências é o expediente comum para o servidor do INSS requerer complementação de documentação, isso quando já não comunica de pronto no atendimento inicial. Prazo para cumprimento das exigências: 30 dias, prorrogável por mais 30 mediante justificativa do interessado. Espécies de provas Sobre as espécies de provas, elas podem ser: Documental. Oral: justificação administrativa (JA) para testemunhas; entrevista rural para verificar a situação dos segurados no campo. Registros em cadastros públicos. Pesquisa externa: feita pelo servidor do INSS, previamente designado para atuar nas empresas, nos órgãos públicos ou em relação aos contribuintes em geral e beneficiários, com o objetivo de verificar a veracidade de documentos, conferir dados constantes nos sistemas, dentre outros. Prova pericial: destinada a avaliar a capacidade laborativa do segurado e a invalidez ou deficiência para fins de prorrogação da qualidade de dependente após os 21 anos de idade, bem como a deficiência/impedimentos para fins de percepção de benefício assistencial (BPC-LOAS). Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS) Os dados constantes no CNIS relativos a vínculos, remunerações e contribuições valem como prova de filiação à Previdência Social, relação de emprego, tempo de serviço ou de contribuição e salário-de- contribuição, salvo comprovação de erro ou fraude. A comprovação dos 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 39/67 dados divergentes, extemporâneos ou não constantes no CNIS caberá ao requerente. O que alimenta o CNIS? GFIP, que entrou em funcionamento em 1999, e obrigatoriedade em meio magnético para todas as empresas em 2004. RAIS, que começouem 1974. CAGED, que foi instituído em 1965. Recolhimentos em bancos e lotéricas. Fase decisória Na fase decisória, o servidor responsável analisa as provas e o requerimento e emite uma decisão administrativa. A decisão, em qualquer hipótese, deverá conter despacho sucinto com objeto do requerimento administrativo, fundamentação com análise das provas constantes nos autos e conclusão, deferindo ou indeferindo o pedido formulado. Reconhecido o direito ao benefício, como regra geral, os efeitos financeiros retroagem à data de entrada do agendamento (Central 135 ou internet) ou do requerimento – DER. Fase recursal Em primeira análise, corresponde a uma fase aberta ao administrado que não concordar com a decisão administrativa. Porém, o INSS também poderá recorrer (não contra si próprio, mas pode recorrer das decisões proferidas pelas JR – Juntas de Recursos, já que o Tribunal Administrativo não compõe a estrutura organizacional do INSS, mas, sim, do Ministério a que é associado). O CRSS (Conselho de Recursos do Seguro Social) é composto de 29 JR e 4 Câmaras de Julgamento (CaJ), com as mesmas competências. Fase aberta É possível voltar à produção de provas na fase recursal (mais uma manifestação da busca pela verdade material e informalismo procedimental. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 40/67 JR – Juntas de Recursos As JR têm jurisdição (administrativa) no estado ou região onde são localizadas, e as CaJ têm jurisdição em todo o território nacional. CRSS O CRSS é um tribunal administrativo, e suas decisões têm força de coisa julgada para o INSS, mas não para o particular (que pode ingressar com uma ação no Judiciário). Recurso ordinário para a JR O prazo para recurso é de 30 dias a partir da intimação da decisão de indeferimento. Prazo para Contrarrazões (do INSS): 30 dias do protocolo do recurso. O INSS tem o poder de revisar a decisão com base nos argumentos trazidos em recurso ordinário. Se acolher, o processo se encerra. Se não acolher, faz despacho expondo as razões do não acolhimento (contrarrazões). Se não houver o despacho de contrarrazões, considera-se a manutenção da decisão de indeferimento pelos seus próprios fundamentos. Atenção! A intempestividade não impede a revisão de ofício pelo INSS quando a decisão administrativa estiver incorreta. Ocorrido o julgamento pela JR, o processo retorna ao INSS para que proceda a comunicação ao interessado. Recurso especial para a CaJ O prazo para recurso é de 30 dias. Podem recorrer tanto a parte quanto o INSS. Também é possível a conversão em diligência. É vedado ao INSS escusar-se de cumprir as diligências solicitadas pelo CRSS, bem como deixar de dar cumprimento às decisões definitivas daquele colegiado, reduzir ou ampliar o seu alcance ou executá-las de modo que contrarie ou prejudique seu evidente sentido. A propositura, pelo interessado, de ação judicial que tenha por objeto idêntico pedido sobre o qual versa o processo administrativo importa 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 41/67 renúncia ao direito de recorrer na esfera administrativa e desistência do recurso interposto. Processo judicial Tem início com a petição inicial, que deve vir acompanhada de documentos essenciais: identidade, CPF, procuração e comprovante de residência. Conforme o caso, haverá termos necessários à comprovação da regularidade da representação (termo de curatela, por exemplo). Além desses documentos, deverá ser juntada renúncia ao excedente a 60 salários-mínimos quando se opta por ajuizamento nos juizados especiais federais (JEF). Destaques úteis na petição inicial conforme a pretensão: Esclarecer a doença/especialidade médica (múltiplas patologias, mas, em regra, geram perícia com médico do trabalho ou clínico geral), se pretende concessão/reestabelecimento, Número do Benefício no INSS (NB) e Data do Início do Benefício (DIB). Se for indeferido administrativamente por perda da qualidade de segurado, precisará comprovar o vínculo com o RGPS no início da incapacidade, ainda que tenha perdido posteriormente. Comprovar o tempo de carência alcançado, elencar os vínculos não computados pelo INSS, NB e DIB. Usar uma planilha de contagem de carência ajuda. Os casos mais comuns de indeferimento de APID derivam de: a. INSS desconsiderar vínculos da CTPS que não estão no CNIS. b. Não computar AD como carência. c. Recolhimento em atraso não computado como carência. Na situação b, devemos observar se o AD está intercalado com período contributivo para que possa ser considerado. Na AD/APIN APID 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 42/67 situação c, devemos verificar se foi perdida a qualidade de segurado no momento do recolhimento em atraso. Fazer uma lista de vínculos especiais, agente nocivo / enquadramento por profissão e se foi considerado ou não pelo INSS, elencar os outros vínculos comuns, NB, DIB e usar uma planilha de contagem de tempo de contribuição ajuda. Informações necessárias: dados do segurado falecido, idade da parte autora e tempo de convivência, data do óbito e DER. Esclarecer se o de cujus recebia benefício ou contribuía para o RGPS (comprovação da qualidade de segurado) e trazer lista de provas que comprovem a união estável (ou dependência econômica). Quanto à lista de provas, pode-se consultar as listadas no artigo 22 § 3º do Dec. 3048/99 e artigo 135 da IN 77/15. Caso o segurado tenha morrido sem qualidade de segurado, averiguar se ele teria algum direito a benefício do RGPS no momento do falecimento (AD, APIN, ATC ou APID). O direito a qualquer benefício impede a perda da qualidade de segurado. Vínculos não considerados pelo INSS, remunerações divergentes na carta de concessão, NB, DIB (há decadência de 10 anos para as revisionais). APESP Pensão Ações revisionais fáticas 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 43/67 Destaque para qual é a tese, NB e DIB (há decadência de dez anos para as revisionais, mas não para as de reajustes remuneratórios). Revelia (ausência de resposta do réu – no caso, o INSS): A partir do art. 20 (parte final) da Lei nº 9.099/95, extrai-se que a decretação da revelia somente implica presunção de veracidade dos fatos alegados na inicial se o contrário não resultar da convicção do juiz. Decadência (art. 103 da LBPS): Prazo de 10 anos para revisão do ato de concessão, indeferimento, revisão ou cessação por parte do INSS. Para consultar julgados importantes sobre decadência, veja o Explore +. Competência: A competência dos JEF é de natureza absoluta (art. 3º § 3º da Lei 10.259/01), e a maioria das ações previdenciárias tramita nos JEF. Exceções: Causas com valor acima de 60 SM (Varas Previdenciárias). Causas que envolvam acidente do trabalho (AD derivado de acidente do trabalho; APIN derivada de acidente do trabalho; pensão por morte derivada de acidente do trabalho; revisões de benefícios por acidente do trabalho). Causas que envolvam competência delegada: opção do segurado pela Justiça Estadual caso more em comarca que não seja sede de Vara/JEF da Justiça Federal. O exercício da competência delegada é restrito às comarcas estaduais localizadas a mais de 70 quilômetros da sede da vara federal cuja circunscrição abrange o município-sede da comarca. Nos casos de acidente de trabalho, a competência recursal é do Tribunal de Justiça (estadual) e, nos casos de competência delegada, a competência recursal é do Tribunal Regional Federal. Con�itos de competência JEF versus JEF – decidido pela Turma Recursal Revisionais por tese ou reajustes remuneratórios 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de PrevidênciaSocial https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 44/67 JEF versus Vara Federal – decidido pelo TRF Vara Estadual versus Vara Federal – decidido pelo TRF Vara Estadual versus JEF – há jurisprudência com julgamento no STJ e em TRF. A necessidade de requerimento administrativo prévio ao processo judicial foi julgada pelo STF, em sede de repercussão geral, que o ajuizamento de ação cujo objeto seja a concessão de benefício previdenciário depende de prévio indeferimento administrativo. A exigência de prévio requerimento, contudo, não se confunde com o exaurimento das vias administrativas, ou seja, não é necessário o recurso administrativo em relação ao indeferimento. O STF fixou que a prévia exigência de requerimento administrativo não deve prevalecer nos seguintes casos: Excesso de prazo legal para análise do requerimento (demora superior a 45 dias). Entendimento da Administração notório e reiteradamente contrário à postulação do segurado (teses não aceitas pelo INSS). Pretensão de revisão, restabelecimento ou manutenção de benefício anteriormente concedido (salvo, neste último caso, se depender da análise de matéria de fato ainda não levada ao conhecimento da Administração). Apreciação da prova na via judicial As espécies de provas admitidas (já estudadas no âmbito do PAP) são as mesmas que instruirão as ações judiciais. A diferença do direito probatório nas vias administrativa e judicial reside na menor tarifação e limitações imposta ao juiz, ao contrário do servidor administrativo, que deve necessariamente observar o Decreto 3.048/99 e a IN 77/2015. Na via judicial, a jurisprudência acaba só admitindo a tarifação imposta pela Lei. Nos demais casos, vigora a ampla liberdade para apreciação do acervo probatório. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 45/67 No âmbito previdenciário, o principal exemplo de tarifação imposta pela lei é a exigência de início de prova material para comprovação de vínculo (art. 55 § 3º da Lei 8.213/91). Depois da MPV 871/19 (convertida na Lei 13.846/19), passou-se a exigir início de prova material também para dependência econômica. Dica 1) Priorizar as provas pré-constituídas. Nem sempre é fácil conseguir documentação em prazos judiciais exíguos. Ex.: PPP ou prova contemporânea de vínculo. 2) Impugnação de laudos médicos periciais. Via de regra, são acolhidas em impugnação apenas contradições internas do laudo ou questão muito evidente (internação atual/ laudo pela capacidade). Lembrar que já houve dois peritos (1 administrativo e 1 judicial) apontando na mesma direção, bem como a função executada pelo médico-assistente da parte (que eventualmente opina pela incapacidade) não é a mesma do perito. 3) Impugnar o perito ou especialidade tem mais eficácia no momento da nomeação, e não depois de apresentado o laudo desfavorável. 4) A jurisprudência é forte no sentido de que só é necessária especialização do perito em casos médicos muito complexos. Via de regra, médicos do trabalho ou clínicos gerais são nomeados para as perícias quando se alega muitas patologias ou comorbidades. Deste modo, se há diversas patologias, mas algumas nitidamente não geram incapacidade, é mais indicado pedir perícia na área realmente crítica. Psiquiatria e oftalmologia são os casos que se costumam ser mais restritivos com a especialidade. 5) A lei 13.876/19 entrou em vigor em 09/2019, limitando o pagamento (pelo Poder Executivo) de apenas uma perícia por processo (art. 1º § 3°). Exceção: determinação de instâncias superiores (§4º). Só cabe recurso (inominado/ordinário) de sentença definitiva (art. 5º da Lei 10.259/01). Consequências: 1. Não cabe recurso de sentença que extingue o processo sem julgamento do mérito. Obs.: tem-se admitido recurso inominado/ordinário quando a sentença terminativa gera negativa de jurisdição, pois acarretaria violação constitucional (inafastabilidade da jurisdição - art. 5º XXXV da CRFB). 2. Não cabe recurso de decisão interlocutória, exceto quanto ao deferimento de medidas cautelares (art. 4º da Lei 10.259/01). Obs.: em face de decisão interlocutória (inclusive em fase executiva), admite-se a impetração de mandado de segurança 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 46/67 perante as turmas recursais (súmula 376 do STJ e enunciado 88 do FONAJEF). Decisões de turma recursal desafiam Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei Federal (PEDILEF): No prazo de 10 dias Dirigido à Turma Regional de Uniformização quando se tratar de divergência entre turmas da mesma região judiciária. No prazo de 15 dias Dirigido à Turma Nacional de Uniformização dos JEF – TNU quando se tratar de divergência entre turmas de regiões diferentes (Art. 14 da Lei n.º 10.259/01 c/c art. 13 Res. 345/15 CJF). Além de PEDILEF, cabe também recurso extraordinário para o STF em face das decisões das turmas recursais no prazo de 15 dias (art. 15 da Lei 10.259/01 e súmula 640 do STF). Quando a orientação acolhida pela TNU contrariar súmula ou jurisprudência dominante STJ, a parte interessada poderá usar do Incidente de Uniformização de Jurisprudência – IUJ (PUIL) para provocar a manifestação do STJ, que dirimirá a controvérsia (art. 14 § 4º da Lei 10.259/01). Fase executiva As execuções previdenciárias se concretizam, na maioria dos casos, em duas obrigações, sendo uma de fazer, consistente na implantação ou revisão do benefício previdenciário, e outra de pagar quantia certa, que são as parcelas atrasadas. As implantações ou revisões são feitas através das Centrais de Análise de Benefícios – Demandas Judiciais (CEAB-DJ), antigas AADJ ou EADJ. Os cálculos dos atrasados são apresentados pelo Setor de Contadoria da Procuradoria Especializada do INSS – a chamada Execução Invertida (não é o autor, e sim o réu – INSS – que apresenta o cálculo dos atrasados). Alguns juízos fazem os cálculos mais simples na secretaria da Vara/ Juizado. O pagamento é feito via Requisição de Pequeno Valor (RPV) na Caixa Econômica Federal ou no Banco de Brasil no prazo de até 60 dias 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 47/67 a partir da transmissão do juízo, ou segue a dinâmica dos precatórios (art. 100 da CRFB), se o valor a pagar superar 60 salários mínimos e não houver renúncia do excedente. Processos administrativo e judicial previdenciário Neste vídeo, você conhecerá um pouco mais sobre o processos administrativo, judicial e previdenciário 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 48/67 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Assinale a alternativa que descreve corretamente um dos aspectos dos sistemas de prova e sua relação com o Direito Previdenciário. A Prevalece o sistema do livre convencimento motivado, em que o julgador considera as provas determinadas pela lei e as usa livremente na fundamentação de sua decisão. B Tendo em vista que, no Direito Previdenciário, certos fatos da vida laborativa são provados preponderantemente, em certa época, através de certos documentos, o sistema probatório que prevalece é o da prova tarifada. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 49/67 Parabéns! A alternativa C está correta. Opção A está errada, pois a determinação de provas pela lei configura o sistema de prova tarifada. Opção B está errada, porque, apesar da consideração sobre os documentos vigentes em cada época de fato ser um traço da operação com o Direito Previdenciário, prevalece o sistema do livre convencimento motivado.Opção C é a correta, e podemos citar como exemplo as provas periciais em benefício por incapacidade e documentais em aposentadoria especial. A opção D está errada, pois não se tolera o sistema da íntima convicção no Direito Previdenciário, sob pena de violação da ampla defesa e contraditório. Questão 2 Assinale a alternativa que apresenta uma afirmativa correta sobre os princípios que regem o Processo Administrativo Previdenciário (PAP): C Apesar de o sistema do livre convencimento motivado prevalecer no Direito Previdenciário, há, conforme o benefício pretendido, maior credibilidade de certas espécies de prova. D O sistema da íntima convicção, apesar de não ser regra no Direito Previdenciário, pode, ocasionalmente, nortear o julgamento sobre existência de união estável em requerimentos de pensão por morte. E O sistema da prova tarifada prevalece no Direito Previdenciário, tendo em vista o valor probatório de algumas provas essenciais ao Direito Previdenciário. A O princípio da motivação tem estreita ligação com o princípio do impulso. B Caso exista a possibilidade de conceder mais de um benefício, o INSS deixará a cargo do beneficiário optar pelo melhor benefício para si, a fim de 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 50/67 Parabéns! A alternativa E está correta. O art. 659, XVI, IN77, encampa o princípio da oficialidade ao PAP, eis dispor o seguinte: “Nos processos administrativos previdenciários serão observados, entre outros, os seguintes preceitos - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem prejuízo da atuação dos interessados”. proteger o princípio do menor ônus financeiro para o INSS. C O princípio da verdade material não se aplica no PAP, prevalecendo, por assim, o princípio da verdade formal. D O PAP observa o princípio do impulso, cabendo ao requerente (interessado) impulsionar o processo e promover as diligências para provar seu direito perante o INSS. E O princípio da oficialidade impõe à Administração o dever de dar prosseguimento ao processo, impulsionando-o de ofício, sem prejuízo da atuação dos interessados. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 51/67 3 - Crimes previdenciários Reconhecer os principais crimes previdenciários. Primeiras palavras Inicialmente, alguns crimes previdenciários estavam previstos no artigo 95 da Lei de Custeio da Previdência Social (LCPS – Lei 8.212/91), mas, a partir do ano 2000, com o advento da Lei 9.983/00, houve uma migração desses tipos penais para o Código Penal. Vale dizer que não houve revogação, anistia, ou o que se denomina no Direito Penal como abolitio criminis, ou seja, não houve perdão ou retirada desses crimes do ordenamento jurídico, mas apenas uma alteração do diploma legislativo que os prevê. Apropriação indébita previdenciária O empregador possui entre as suas obrigações acessórias tributárias reter o valor de contribuição dos segurados a seu serviço e recolher aos cofres da Previdência. A retenção feita em cima do salário pago ao empregado coloca nas mãos do empregador um valor que a ele não 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 52/67 pertence: é um valor do seu empregado que deve ser destinado à Previdência Social, ou seja, o empregador, por uma questão de otimização da lógica fiscalizatória, fica de posse desse valor de terceiros (seus empregados e contribuintes individuais que lhe prestam serviço) até a data designada para o recolhimento das contribuições, sendo que a legislação prevê o crime de apropriação indébita previdenciária caso tais valores não sejam repassados à Previdência Social no tempo oportuno. Previsão legal: artigo 168-A do CP / pena prevista: reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa. O caput do art. 168-A prevê que constitui crime “deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional”, sendo que o § 1º estende a previsão para as seguintes condutas: Deixar de recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público. Deixar de pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela Previdência Social. Há, ainda, dentre os incisos do §1º, uma previsão relacionada a valores derivados de venda de produtos e serviços, que se aplicam a casos especiais, em que algumas empresas, em razão de sua operação, estão sujeitas à substituição tributária (ficar responsável por tributos devidos por terceiros) em cima de contribuições substitutivas (que não incidem sobre valores de remuneração, mas em razão de venda de produtos). Nesses casos, também há a caraterização de apropriação indébita previdenciária caso não haja o repasse: “Deixar de recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços”. Quando a empresa deixa de recolher as contribuições devidas por ela própria, não está caracterizada a apropriação indébita previdenciária. Há necessidade de que o valor tenha sido retido de um terceiro para a configuração dessa espécie de delito. Quem pratica o crime? O responsável legal pelo recolhimento, ainda que tenha delegado essa tarefa a terceiro que venha a agir em seu nome. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 53/67 Trata-se de crime próprio. Veja os exemplos abaixo: Apenas punível na modalidade dolosa (não há previsão de apropriação indébita previdenciária culposa). Para a configuração do crime, não se exige dolo específico, como se beneficiar pessoalmente dos valores não repassados. Trata-se de dolo genérico, com caráter omissivo, que se perfectibiliza pelo não repasse do valor retido no tempo devido. É aceita, por parte da jurisprudência, a inexigibilidade de conduta diversa (excludente de culpabilidade) ou estado de necessidade (excludente da ilicitude), quando comprovada dificuldade financeira. Geralmente, tais excludentes são admitidos apenas em hipóteses excepcionais em que a apropriação indébita previdenciária não se protraia longamente no tempo. Vale dizer que esses entendimentos não são expressamente previstos em lei – o que está expressamente previsto em lei é a possibilidade de extinção de punibilidade e o perdão judicial, que veremos na sequência. Ocorre se o agente, antes do início da ação fiscal (caracterização da autodenúncia espontânea), declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições. O juiz pode deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a multa se o agente for primário e de bons antecedentes e tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios (multa e juros). Há também a possibilidade Elemento subjetivo Excludentes Extinção de punibilidade (no CP) Perdão judicial (no CP) 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 54/67 de perdão (desde que o agente seja primário e de bons antecedentes) quando o valor das contribuições, inclusive acessórios, seja igual ou inferior ao estabelecido como mínimo para o ajuizamento de execuções fiscais. Apesar de a lei colocar como uma faculdade do juiz, o entendimento que prevalece é que se trata de um direito subjetivo do réu, de modo que o juiz é obrigado a conceder o perdão caso estejam presentes as condições. É pública incondicionada (promoção pelo MinistérioPúblico Federal, independentemente de provocação, apesar de regularmente se dar através de notícia por parte do ente fiscalizador) com competência para julgamento da Justiça Federal (ente atingido – INSS – atrai a competência da Justiça Federal). Sonegação �scal previdenciária Com a migração dos tipos penais da LCPS para o CP, a sonegação fiscal previdenciária passou a ser prevista no capítulo dos crimes praticados por particular contra a administração em geral. O que se visa coibir com essa previsão na lei penal são as condutas direcionadas a ocultar fatos geradores de contribuições previdenciárias, procurando impedir, através do peso de uma condenação criminal, que o contribuinte acarrete uma supressão, redução ou omissão de informações relativas às contribuições que está obrigado a recolher. Caracteriza-se a sonegação fiscal previdenciária quando alguém suprime ou reduz contribuição social previdenciária, mediante: Ação penal Omissão na folha de pagamento da empresa ou em documento de informações previsto pela legislação id iá i ( l G i d FGTS 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 55/67 Percebe-se a extensão do tipo penal quando nele se insere “[...] demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias”, ou seja, depois de uma série de exemplos mais específicos, o tipo, ao final, abre- se para configurar, como sonegação fiscal previdenciária, toda omissão (seja total, seja parcial) de qualquer fato gerador de contribuição previdenciária. Atenção! É importante que se diga que a ausência de pagamento do tributo (obrigação principal sob o ponto de vista tributário) não configura sonegação. O crime de sonegação dá-se em razão da omissão, redução ou supressão dos fatos geradores aos olhos do Fisco (obrigação acessória sob o ponto de vista tributário). Uma vez expostos ao Fisco, os recolhimentos devidos poderão ser cobrados regularmente do contribuinte; por outro lado, a ocultação dos fatos geradores acarreta necessidade de movimento da máquina fiscalizatória para descortiná- los. A configuração penal da sonegação fiscal previdenciária visa justamente coibir essa ocultação, que retarda ou impede o funcionamento regular da máquina de cobrança tributária. previdenciária (por exemplo: na Guia do FGTS e Informações à Previdência – GFIP) segurados (empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado) que lhe prestem serviços. Falta de lançamento dos títulos próprios da contabilidade, as quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços. Omissão total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 56/67 Apesar de a sonegação fiscal pretender coibir precipuamente a má declaração (obrigação acessória tributária – que se revela uma obrigação de fazer), acaba sendo uma consequência natural fiscal que, uma vez descoberta, também acarreta lançamento fiscal para pagamento (uma obrigação principal tributária – a obrigação de pagar), com multas mais pesadas integrando o processo administrativo fiscal. Em suma, o mesmo fato (sonegação) pode gerar consequências penais e administrativas (fiscais). Previsão legal: artigo 337-A do CP /pena prevista: reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Quem pratica o crime? O responsável legal pela declaração (contribuinte da Previdência Social), ainda que tenha delegado essa tarefa a terceiro que venha a agir em seu nome. Trata-se de crime próprio. Apenas punível na modalidade dolosa – o agente deve ter consciência e vontade de praticar a supressão, redução ou omissão. Não há previsão de sonegação fiscal previdenciária culposa. Ocorre se o agente, antes do início da ação fiscal (caracterização da autodenúncia espontânea), declara e confessa, prestando as informações devidas. Não é necessário que efetue o pagamento das contribuições para que se extinga a punibilidade, pois, como visto, a previsão de persecução penal se debruça sobre a obrigação acessória tributária. O juiz pode deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a multa se o agente for primário e de bons antecedentes e o valor das contribuições, inclusive acessórios, for igual ou inferior ao estabelecido como mínimo para o ajuizamento de execuções fiscais. Apesar de a lei colocar como uma faculdade do juiz, o entendimento que prevalece é que se trata de um direito Elemento subjetivo Extinção da punibilidade (no CP) Perdão judicial (no CP) 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 57/67 subjetivo do réu, de modo que o juiz é obrigado a conceder o perdão caso estejam presentes as condições. É pública incondicionada (promoção pelo Ministério Público Federal) com o entendimento prevalente (apesar de controvertido) no sentido de que só pode ser iniciada depois de encerrado o procedimento administrativo que concluiu pelo reconhecimento definitivo da obrigação tributária (crime de resultado que exigiria o lançamento definitivo como condição de procedibilidade). A competência para julgamento é da Justiça Federal (ente atingido – INSS – atrai a competência da Justiça Federal). Extinção da punibilidade pelo pagamento As previsões no Código Penal para a extinção da punibilidade e perdão judicial (que vimos acima) foram ampliadas pelas Leis 10.684/03 (PAES) e 11.941/09 (REFIS da Crise). Essas leis supervenientes permitem a extinção da punibilidade através do recolhimento das contribuições e acessórios a qualquer tempo (mesmo depois de iniciada a ação penal). No entanto, apesar de não haver necessidade de se cumprir nenhum outro requisito, para essa modalidade de extinção da punibilidade, tem de haver o pagamento integral do tributo. A Lei 12.382/11 admite que, no caso de parcelamento antes do oferecimento da denúncia, haverá a suspensão da pretensão punitiva e do prazo prescricional até que se conclua o pagamento de todas as parcelas. Se rescindir o parcelamento, pode ser oferecida a denúncia. Se concluir o pagamento, extingue-se a punibilidade. Até aqui, vimos delitos que atentam contra o sistema arrecadatório da Previdência Social. Agora, nosso próximo passo é explorar o principal tipo penal que visa coibir a prática de atos fraudulentos no sistema de concessão de benefícios. Ação penal 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 58/67 Estelionato previdenciário A ideia central do tipo penal de estelionato (art. 171 CP) é prevenir e punir ações que atentem contra a confiança e boa-fé das pessoas para obtenção de vantagem (via de regra, econômica). Mais especificamente, esse tipo de estelionato prevê penas para quem, dolosamente, pretende enganar alguém, utilizando-se de algum meio fraudulento, para obter, para si ou para terceiro, vantagem ilícita. A previsão legal apresenta como núcleos: “Obter vantagem ilícita” e “induzir ou manter” alguém em erro, utilizando-se como meios o “artifício”, o “ardil”, ou “qualquer outro meio fraudulento”. E quando o INSS é o ente enganado? Aplica-se a causa de aumento de pena prevista no §3º: aumento de 1/3 na pena “se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público”. A súmula 24 do STJ (de 1991) menciona explicitamente a aplicação do art. 171 § 3º quando a vítima é entidade autárquica da Previdência Social. Até hoje, é pacificada essa interpretação. Na prática, quais os meios mais comuns utilizados para induzir o INSS a erro? Documentos falsos, especialmente os que visam comprovação de tempo de serviço, ou relação de dependênciaentre pessoas (sobretudo comprovação de união estável), ou, ainda, declarações falsas de inexistência de união estável e coabitação, quando o benefício pretendido é o BPC-LOAS (pois a renda de um(a) companheiro(a) pode impedir a percepção do benefício assistencial). Como muitas vezes são utilizados documentos falsos para a prática do estelionato, é comum que se depare com o concurso de crimes: artigo 171 (estelionato) e artigo 304 (uso de documento falso), ou, então, artigo 171 (estelionato) e artigo 299 (falsidade ideológica). Todavia, a jurisprudência entende, na linha da súmula 14 do STJ, que, “quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”. Deste modo, é comum, nos casos de estelionato previdenciário, mesmo que haja uso de documento falso (art. 304) ou documento verdadeiro com conteúdo falso (art. 299), que se aplique apenas a pena do artigo 171 § 3º do CP. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 59/67 Não obstante as críticas da doutrina no que concerne à topologia, foram incluídos, pela Lei 9.983/00, certos crimes específicos (que seriam espécie de “falsidade ideológica”) como §§ 3º e 4º do artigo 297 (que trata de “falsidade material”). De toda maneira, há enquadramento específico para condutas de quem insere (ou faz inserir): Pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório na folha de pagamento ou em documento de informações (ex.: GFIP) que seja destinado a fazer prova perante a previdência social. Declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir efeito perante a previdência social, bem como em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado às obrigações da empresa perante a previdência social. O § 4o prevê a mesma punição para quem omite, nestes documentos, o nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços. Elemento subjetivo: Apenas punível na modalidade dolosa – o agente deve ter consciência e vontade de obter a vantagem ilícita para si ou para outrem. Não há previsão de estelionato previdenciário culposo. É um delito que pode ser praticado pelo próprio beneficiário (quem receberá o benefício indevido), por terceiro (externo à administração pública), agindo em favor do beneficiário, ou por funcionário público, que, sabendo da irregularidade, concede o benefício mediante fraude. A depender da situação (de conluio entre agentes), poderão ser configurados, além do próprio estelionato previdenciário, os crimes de corrupção ativa (art. 333 CP), corrupção passiva (art. 317 CP), ou, ainda, formação de quadrilha (art. 288 CP). Atualmente, é majoritária a jurisprudência no sentido de que a análise deve levar em conta o ponto de vista do agente: 1. Para o beneficiário que, em interesse próprio, mantém o INSS em erro ao longo do tempo, percebendo o benefício indevido, o delito teria natureza de crime permanente; 2. Para o agente que pratica um ato fraudulento, levando um terceiro a receber indevidamente, sem se locupletar ao longo do tempo com o benefício indevido, o delito teria natureza de crime instantâneo de efeitos permanentes. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 60/67 Uma questão jurídica relevante, sob o ponto de vista da prescrição, é saber se o estelionato previdenciário é um crime permanente (enquanto o INSS for mantido em erro, pagando um benefício que não deveria, estaria ocorrendo o crime), ou se é um crime instantâneo de efeitos permanentes (ocorreu o crime apenas no momento da indução do INSS a erro, sendo o pagamento do benefício fraudulento ao longo do tempo apenas um efeito do crime já ocorrido). A depender de quando se descubra a fraude, poderia haver prescrição ou não da pretensão punitiva, conforme a visão adotada. Inserção de dados falsos em sistema de informações Com a crescente informatização, no ano 2000, a Lei 9.983 alterou o CP, para incluir um tipo específico destinado a coibir e punir quem insere dados falsos nos sistemas de informação da Administração Pública. Não se trata de crime especificamente previdenciário, mas, sem dúvida, pode ocorrer com o fim de obter vantagem indevida perante a Previdência Social. Previsão legal: Art. 313-A do CP / Pena prevista: reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Trata-se de um crime próprio (só pode ser cometido por funcionário público) e exige dolo específico: “O fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano”. Tem como núcleos “inserir” ou “facilitar a inserção” de dados falsos, ou ainda “alterar” ou “excluir” indevidamente dados corretos. Obs.: se há invasão do sistema ou banco de dados por terceiro, que não funcionário público, o enquadramento é outro, pois o crime do artigo 313-A do CP, por expressa determinação legal, só se aplica ao funcionário público. Elemento subjetivo: Apenas punível na modalidade dolosa – o agente deve ter consciência e vontade de inserir ou facilitar a inserção de dados falsos, ou alterar ou excluir dados verdadeiros. Não há previsão de modalidade culposa. Outro crime que também pode vir a atentar contra a previdência social é o previsto no artigo 313-B do CP, que prevê a modificação ou alteração do sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente, com pena de 3 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 61/67 meses a 2 anos. Tal como o delito do artigo 313-A, só pode ser cometido por funcionário público e na modalidade dolosa. Vistos os principais crimes previdenciários, que podem atentar tanto contra os mecanismos de arrecadação quanto contra o sistema de concessão de benefícios, passamos à nossa atividade. Crimes previdenciários Neste vídeo, falaremos sobre crimes previdenciários 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 62/67 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Tício, responsável legal pela empresa TTT, de 2015 a 2019, contratou Mévio como funcionário de sua empresa, ajustando-se o pagamento mensal de um salário mínimo como remuneração. Durante todo o período de trabalho, houve desconto de 8% sobre o salário de Mévio, tendo a ele sido afirmado que se tratava de contribuições previdenciárias devidas pelo empregado à Previdência Social. Ocorre que Tìcio nunca recolheu tais contribuições aos cofres públicos. Diante dessa narrativa, devemos reconhecer que Tício estaria incurso nas penas de que tipo penal? A Estelionato previdenciário. B Apropriação indébita previdenciária. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 63/67 Parabéns! A alternativa B está correta. Os valores retidos do empregado a título de contribuição previdenciária devem ser recolhidos aos cofres públicos na época própria, sob pena de configuração do crime previsto no artigo 168-A do CP (Apropriação indébita previdenciária). Questão 2 Sobre a sonegação fiscal, marque a alternativa correta: C Sonegação fiscal previdenciária. D Inserção de fados falsos em sistema de informações. E Prevaricação. A Caracteriza-se crime de sonegação fiscal o lançamento errôneo, ainda que de boa-fé, dos títulos próprios da contabilidade, as quantias descontadas dos segurados ou devidas pelo empregador ou tomador de serviço. B Caracteriza-se crime de sonegação fiscal apenas a omissão total de receitas e lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradoresde contribuições sociais previdenciárias. C Caracteriza-se crime de sonegação fiscal deixar de recolher, aos cofres da Previdência, quantias expressivas que tenham sido regularmente declaradas ao Fisco e comprovadamente devidas à Previdência Social. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 64/67 Parabéns! A alternativa E está correta. Por se tratar de crime próprio, quem responderá pelo crime de sonegação fiscal será aquele responsável legal pela declaração. Considerações �nais Neste tema, oferecemos uma apresentação dos principais benefícios administrados pelo INSS, sejam programáveis, como as aposentadorias, sejam não programáveis, como é o caso dos benefícios por incapacidade. Além disso, tratamos dos aspectos processuais relevantes para a concessão e revisão de benefícios nos campos administrativo e judicial, já que o segurado, inevitavelmente, terá de formalizar um processo quando precisar de um benefício previdenciário e for requerê-lo. Por fim, reunir noções a respeito dos principais crimes previdenciários nos ajuda a compreender o sistema como um todo, por diferentes óticas de proteção. Com estas informações, aumentamos nossos recursos pessoais para lidar com os desafios do campo previdenciário, conhecendo os direitos e deveres perante a Previdência Social e, como resultado, aprimoramos o planejamento de uma vida futura. Podcast D A pena prevista para a sonegação fiscal é de reclusão, de 03 (três) a 06 (seis) anos, e multa. E O responsável legal pela declaração (contribuinte da Previdência Social) é quem pratica o crime, ainda que tenha delegado essa tarefa a terceiro que venha a agir em seu nome. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 65/67 Neste podcast, ouça um resumo dos principais tópicos abordados no conteúdo. Explore + Para conhecer as modalidades específicas de aposentadoria para a categoria dos professores e para as pessoas com deficiência, bem como os benefícios de pensão por morte, salário-família e salário- maternidade, procure e leia o texto Modalidades específicas de aposentadoria, de Marcos Góes. Para conhecer a jurisprudência associada e aprofundar aspectos relacionados às aposentadorias, leia o texto Jurisprudência e aprofundamento em aposentadorias, também de Marcos Góes. Referências CASTRO, C. A. P.; LAZZARI, J. B. Manual de Direito Previdenciário. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. ABREU, S. M. Direito Previdenciário. Rio de Janeiro: SESES, 2016. OLIVEIRA, R. M. Prática Previdenciária. Rio de Janeiro: SESES, 2016. 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 66/67 Material para download Clique no botão abaixo para fazer o download do conteúdo completo em formato PDF. Download material O que você achou do conteúdo? Relatar problema 20/05/2024, 14:57 Regime Geral de Previdência Social https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/01193/index.html?brand=estacio# 67/67 javascript:CriaPDF()