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INVENTARIAMENTO DE FLORA AULA 5 Profª Dayane May 2 CONVERSA INICIAL Um profissional capacitado para a realização de estudos ambientais relacionados à flora deve compreender a ecologia das plantas e suas relações com o meio ambiente. Pode atuar em diversas áreas, como pesquisa, conservação, educação, consultoria, gestão e planejamento ambiental. A visão macro da gestão ambiental inclui os conhecimentos sobre a diversidade, a ecologia, a fisiologia, a anatomia, a genética e a evolução das plantas, bem como sobre as leis e normas que regulam o uso e a proteção dos recursos vegetais. O profissional ainda deve ter habilidades para coletar, identificar, classificar, catalogar e analisar amostras de plantas e dados ambientais, utilizando técnicas e equipamentos adequados. Além disso, deve ter capacidade para elaborar relatórios, laudos, pareceres e projetos que contribuam para o desenvolvimento sustentável e a conservação da biodiversidade vegetal. Objetivos: • definir conceitos básicos de ecologia da restauração no contexto de florestas inseridas em paisagens antrópicas; • aprofundar o conhecimento sobre os instrumentos de planejamento das ações de recomposição/recuperação de uma área degradada, bem como seu enriquecimento florístico (PRAD e PTRF); • conhecer os parâmetros definidos em lei para cobertura vegetal em Áreas de Preservação Permanente (APP) e de Reserva Legal (RL); • conhecer os seguintes instrumentos da legislação referentes à flora: Cadastro Ambiental Rural (CAR), Avaliação Ecológica Rápida (AER), Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), Avaliação Ambiental Integrada (AAI), Estudo de Análise de Risco (EAR), Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA); • compreender a dinâmica de estoque de carbono nas florestas naturais ao longo dos processos de sucessão, visando o manejo e a conservação desses remanescentes florestais nativos. 3 TEMA 1 – RESTAURAÇÃO ECOLÓGICA A restauração de ecossistemas degradados é definida como “processo de alterar intencionalmente um local para reestabelecer um ecossistema que ocupava aquele local originalmente”, ou seja, o processo de auxílio ao reestabelecimento de um ecossistema que foi degradado, danificado ou destruído, podendo ser parcial ou completo. Outros conceitos no ramo da ecologia e biologia da conservação também são adotados: recuperação e reabilitação. A recuperação é o processo pelo qual o ecossistema reestabelece sua composição, estrutura e funcionalidade em relação ao ecossistema de referência. Na reabilitação, há ações diretas ou indiretas para a renovação e a continuidade do fornecimento de serviços ecossistêmicos, sem necessariamente restaurar o ecossistema, mas deixando-o funcional (Rodrigues, 2013). Em paisagens antrópicas, comumente áreas fragmentadas e degradadas, apenas a proteção dos poucos fragmentos florestais pode não ser suficiente para a conservação da biodiversidade em médio e longo prazo. Nessas condições críticas, a restauração ecológica deverá reestabelecer os processos ecológicos e as espécies que auxiliam no estabelecimento da biodiversidade, de modo a tornar a floresta viável e sustentável, mesmo em paisagens antrópicas (Peres et al., 2013). A maioria dos projetos de restauração ecológica de florestas tropicais biodiversas foca o reestabelecimento de comunidades vegetais ricas em espécies nativas como forma de estimular dinâmica florestal e os processos ecológicos que permitem a sustentabilidade da área restaurada. Dessa forma, a formação de florestas é favorecida pela riqueza de espécies vegetais condizente com o ecossistema de referência (Rodrigues, 2013). O planejamento da restauração ecológica deve ser feito de acordo com os objetivos propostos para basear e conduzir as atividades subsequentes. As características da área e o grau de degradação também interferem no planejamento de ações. Em paisagens pouco fragmentadas e de elevada resiliência, por exemplo, apenas seu isolamento em relação aos fatores de degradação pode fornecer o reestabelecimento da biodiversidade. Mas, em locais de paisagens muito fragmentadas, solo degradado, fauna escassa, o número de espécies que permanece em área restaurada é mais restrito em função das limitações atribuídas pela degradação (Peres et al., 2013). 4 Os projetos de restauração ecológica atendem a legislação vigente no que se refere ao número de espécies consideradas ao solicitar o mínimo de riqueza. Por exemplo, a Resolução SMA n. 008/2007 (São Paulo, 2007) estabeleceu que os projetos com escopo em florestas naturais com fitofisionomia de Cerradão, Floresta Estacional Semidecidual e Floresta Ombrófila Densa devem compreender riqueza de pelo menos oitenta espécies de ocorrência regional, o que é correspondente à metade do naturalmente encontrado nessas formações florestais conservadas. No passado, eram consideradas em média trinta espécies arbóreas, entre regionais e não regionais (Peres et al., 2013). A restauração florestal pode ser alcançada de diferentes formas, como a restauração ecológica com árvores nativas, puramente para fins de conservação, ou por outros modelos, como florestas produtivas, para proporcionar benefícios comercializáveis. Para tanto, devem ser considerados todos os custos e benefícios, incluindo os aspectos sociais e ecológicos, uma vez que a implementação de uma nova floresta é uma tarefa de longo prazo (Resende et al., 2023). Para caracterizar os ambientes e as comunidades a serem restauradas, primeiramente identifica-se a unidade fitogeográfica original que ocorria antes do processo de degradação. Também deve ser feita uma descrição da flora por meio de levantamentos florísticos nos fragmentos naturais remanescentes da paisagem regional (Piratelli; Francisco, 2013). Para atender os objetivos do levantamento florístico em projetos de restauração ecológica, podem ser consideradas as atividades: • avaliação dos fragmentos florestais da área do projeto para determinar o estado de conservação, bem como sua importância para a conectividade da paisagem e biodiversidade; • inventários florestais em remanescentes da região para listagem das espécies da flora regional que poderão ser utilizadas em ações de restauração ecológica, como plantio em áreas degradadas, adensamento e enriquecimento; • marcação de matrizes de espécies arbóreas e arbustivas para coleta de sementes e perpetuação da diversidade florística e genética de espécies empregadas em ações de restauração; 5 • implantação de trilhas ecológicas como ferramenta de valorização e conservação da biodiversidade por meio de atividades de sensibilização e educação ambiental. O conhecimento e a valorização dos fragmentos florestais remanescentes são fundamentais para as ações de restauração e conservação. A proposição de ações de manejo pode abranger indução e condução de regenerantes naturais, controle de superpopulações de lianas em desequilíbrio, enriquecimento florístico e genético e implantação de corredores ecológicos e faixas de tampão para amenizar os efeitos danosos de paisagens antropizadas do entorno dos fragmentos (Primack; Rodrigues, 2001). Dessa forma, restaurar ecossistemas florestais e conservar eficazmente os remanescentes é vital para enfrentar o surto global de desmatamento, destruição florestal, degradação, alterações climáticas, injustiça social e crise da biodiversidade (Resende et al., 2023). TEMA 2 – INSTRUMENTOS DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS E ENRIQUECIMENTO DA FLORA Estudos técnicos são instrumentos que avaliam os aspectos ambientais relacionados a uma atividade ou empreendimento, apresentando subsídios para a análise da licença requerida pelo órgão ambiental competente. Os principais instrumentos que visam a recuperação de áreas que sofreramalgum tipo de degradação ambiental, por ação humana ou natural, são o PRAD (Plano de Recuperação de Áreas Degradadas) e o PTRF (Projeto Técnico de Reconstituição da Flora). A principal diferença entre eles é que o PRAD considera tanto o sistema vegetal quanto o solo, enquanto o PTRF concentra-se apenas na flora. Além disso, o PRAD é mencionado na legislação federal e aplicado em diversos estados, enquanto o PTRF é mais específico para algumas regiões. 2.1 Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) O Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) é um estudo que visa restaurar ou recuperar o equilíbrio ambiental de áreas que sofreram alterações por ação humana ou natural. Deve conter informações, diagnósticos, levantamentos e estudos que permitam avaliar a degradação ocorrida e definir 6 as medidas adequadas para a recuperação da área. Esse estudo é solicitado pelos órgãos ambientais como parte do processo de licenciamento ambiental ou como forma de reparação de danos ambientais, de modo a assegurar condições adequadas de uso do solo e a conservação dos recursos naturais. A legislação sobre o PRAD varia de acordo com o âmbito – federal, estadual ou municipal –, mas em geral segue as diretrizes do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). No âmbito federal, a Instrução Normativa Ibama n. 4, de 13 de abril de 2011, estabelece procedimentos para elaboração, análise, aprovação e acompanhamento da execução de Projetos de Recuperação de Áreas Degradadas – PRAD ou Áreas Alteradas, para fins de cumprimento da legislação ambiental. No âmbito estadual, cada estado pode ter sua própria legislação sobre PRAD, complementando ou adaptando as normas federais. No âmbito municipal, cada município pode ter sua própria legislação sobre PRAD, respeitando as normas federais e estaduais. A elaboração e o acompanhamento devem ser feitos por um profissional habilitado e de acordo com as diretrizes e orientações técnicas colocadas pela legislação ambiental. As etapas de elaboração de um PRAD são as seguintes: • caracterização da área degradada, seu entorno e agente causador da degradação; • proposta de recuperação para a área degradada, considerando os objetivos, as metas e os indicadores de recuperação; • definição dos parâmetros a serem recuperados com base numa área de controle com características semelhantes; • proposição de um modelo de recuperação, seja natural, seja assistido ou conduzido; • ações para a recuperação, como preparo do solo, controle de erosão, plantio de espécies nativas, manejo da vegetação, controle de pragas e doenças, entre outras; • proposta de monitoramento e avaliação da efetividade da recuperação; • levantamento dos custos, insumos e responsáveis pela execução e manutenção das atividades de recuperação; • elaboração de cronograma físico e financeiro referente às ações de recuperação da área. 7 As principais técnicas de recuperação utilizadas em um PRAD dependem do tipo e do grau de degradação da área, bem como das condições de regeneração do ecossistema afetado. No entanto, algumas técnicas comuns são: recomposição topográfica para estabilização de solos e taludes e controle da erosão; sistema de drenagem com escoamento superficial e subterrâneo da água; manejo do solo com melhorias das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo; e manejo da vegetação com base na inserção ou no estímulo de espécies vegetais nativas ou exóticas que contribuam para a recuperação da área. Nesse caso, pode envolver plantio direto ou indireto, semeadura manual ou mecanizada, transplante de mudas ou propágulos, condução da regeneração natural, poda, desbaste ou enriquecimento. 2.2 Projeto Técnico de Reconstituição da Flora (PTRF) O Projeto Técnico de Reconstituição da Flora (PTRF) é um estudo que apresenta o processo de revegetação proposto por empreendimentos que causaram ou causarão algum tipo de impacto ambiental em áreas com vegetação nativa, especialmente em Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL). O objetivo do PTRF é recuperar as características ecológicas e paisagísticas da área afetada, utilizando espécies nativas e regionais adequadas à região. O PTRF deve ser elaborado por um profissional habilitado e aprovado pelo órgão ambiental competente. O PTRF pode ser solicitado tanto nos casos em que se deseja obter a licença ambiental, sendo parte integrante dos estudos ambientais para licenciamento, quanto para um pedido de autorização para intervenção ambiental. As intervenções em APP podem ser com ou sem supressão da vegetação nativa e em RL trata-se da regularização da Reserva Legal (demarcação e averbação ou registro, relocação, recomposição, compensação e desoneração). O PTRF deverá indicar qual tipo de intervenção ambiental está sendo solicitada e qual será a utilização pretendida para a área: agricultura, pecuária, mineração, silvicultura, entre outras. O PTRF deve conter, no mínimo, os seguintes itens: diagnóstico da área, justificativa da intervenção, objetivos e metas, metodologia, cronograma, orçamento e monitoramento. O conteúdo deve abordar a caracterização edáfica, hídrica e climática, o inventário qualitativo de fauna e qualiquantitativo da flora. No que se refere à reconstituição da flora, deve-se indicar a área abrangida 8 georreferenciada e as formas de reconstituição: regeneração natural ou reflorestamento. O projeto deve mencionar as espécies indicadas classificadas como pioneiras, secundárias, clímax, frutíferas e exóticas. Deve ainda informar como será feito o plantio, as ações para a execução e a metodologia para avaliação e monitoramento dos resultados. TEMA 3 – COBERTURA VEGETAL EM ÁREAS PROTEGIDAS O Código Florestal Brasileiro – Lei n. 12.651/2012 (Brasil, 2012) – estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação nativa no Brasil, incluindo as Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL) e as áreas de uso restrito. Neste tópico, serão abordados esses dois conceitos importantes na legislação ambiental brasileira, que visam proteger a vegetação nativa e os recursos hídricos do país. 3.1 Área de Preservação Permanente (APP) Área de Preservação Permanente (APP) é uma área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, preestabelecida por lei, independentemente do uso e da ocupação do espaço. Tem a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas (Snif, 2023). As APPs são áreas naturais sensíveis às ações antrópicas e, portanto, com rígidos limites de exploração, sendo consideradas intocáveis, ou seja, não podem ser desmatadas ou exploradas economicamente, exceto em casos excepcionais previstos na lei. Somente órgãos ambientais podem autorizar o uso ou o desmatamento de uma APP, mediante comprovação de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental (Snif, 2023). Devem ser preservadas de qualquer intervenção humana, pois desempenham funções ecológicas essenciais, como proteção do solo contra erosão e deslizamentos, dos rios, das nascentes, da biodiversidade e do clima (IBF, 2023). A Figura 1 mostra placas de identificação de APP que sinalizam essas áreas protegidas por lei em propriedades ou posses rurais. 9 Figura 1 – Sinalização de APPs por meio de placas de identificação dispostas em locais visíveis Crédito: rafapress/Shutterstock. Crédito: Dayane May. A APP pode estar localizada em áreas rurais ou urbanas e abrange locais frágeis como nascentes, margens dos cursos d’água e mata ciliar, banhados, encostas íngremes, restingas e dunas, manguezais, veredas, topos de morro e outras situações definidasna lei (Brasil, 2012), conforme mostra a Figura 2. Figura 2 – Exemplos de APPs Crédito: Elias Dahlke. A vegetação nativa de um lugar desempenha uma importante função ecológica e social. As APPs, como áreas protegidas, destinam-se a resguardar solos e, principalmente, as matas ciliares. Esse tipo de vegetação cumpre a função de proteger os rios e reservatórios de assoreamentos, evitar transformações negativas nos leitos, garantir o abastecimento dos lençóis freáticos e a preservação da vida aquática (IBF, 2023). As APPs podem estar inseridas nas RLs, nas Unidades de Conservação (UCs) e até mesmo em áreas urbanas. Devem ser cadastradas no Cadastro 10 Ambiental Rural (CAR), um registro público eletrônico nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais (Brasil, 2012). 3.2 Reserva Legal (RL) Reserva Legal (RL) é uma área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, que deve ser mantida com cobertura vegetal nativa, podendo ser explorada de forma sustentável, desde que não comprometa a função ecológica da área (Snif, 2023). Assim como a APP, a RL tem como objetivo conservar a biodiversidade, os recursos hídricos e o solo, além de facilitar o fluxo gênico da fauna e da flora. No entanto, a RL é tocável, ou seja, pode ser manejada ou utilizada para atividades econômicas compatíveis com a conservação da vegetação nativa. As RLs podem ser exploradas economicamente de forma sustentável, mediante autorização dos órgãos ambientais competentes, respeitando-se os critérios e as normas estabelecidos pela lei. Algumas das atividades permitidas nas RLs são: coleta de produtos florestais não madeireiros, manejo florestal eventual sem finalidade comercial, exploração agroflorestal, silvicultural ou agrossilvipastoril, ecoturismo e turismo rural (Embrapa, 2023). A extensão da RL é determinada pelo Código Florestal Brasileiro (Brasil, 2012) e varia de acordo com o bioma e a região em que se encontra a propriedade ou posse rural. Essa lei estabelece os percentuais mínimos de RL que devem ser mantidos em cada propriedade ou posse rural: na Amazônia Legal, deve ser de 80% em áreas de floresta, 35% em áreas de cerrado e 20% em áreas de campos gerais; nas demais regiões do país, a RL deve ser de 20%. De acordo com o Código Florestal Brasileiro (Brasil, 2012), é permitida a soma das áreas de APPs no cálculo do percentual da RL do imóvel, desde que: o benefício previsto não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo; a área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação; e o imóvel esteja inscrito no Cadastro Ambiental Rural (CAR) (Embrapa, 2023). Assim, o proprietário rural deve delimitar uma área específica para lavrar a RL, que deve estar coberta por vegetação natural ou regenerada, abrigando uma parcela representativa do ambiente natural da região onde está inserida e 11 que, por isso, torna necessária a manutenção da biodiversidade local (Snif, 2023). Para a regularização da RL, é possível recompor por meio do plantio de mudas, semeadura, regeneração natural ou compensação. A recomposição poderá ser realizada mediante o plantio intercalado de espécies nativas com espécies exóticas ou frutíferas, em sistema agroflorestal. O plantio de espécies exóticas deverá ser combinado com o de espécies nativas de ocorrência regional. Além disso, a área recomposta com exóticas não poderá exceder a 50% da área total a ser recuperada (Brasil, 2012). A compensação consiste em destinar uma área fora da propriedade rural para a conservação. Deve ser equivalente em extensão e padrões ecológicos à área a ser compensada, estar localizada no mesmo bioma e em área prioritária para conservação (Embrapa, 2023). As RLs, assim como as APPs, devem estar cadastradas no CAR, instrumento para a regularização ambiental obrigatório para todos os imóveis rurais com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais (IBF, 2023). TEMA 4 – INSTRUMENTOS AMBIENTAIS RELACIONADOS À FLORA Estudos ambientais são instrumentos da legislação que avaliam os aspectos ambientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentando subsídios para a análise da licença requerida pelo órgão ambiental competente. Existem diversos tipos de estudos ambientais, dependendo do porte, da localização e do impacto da atividade ou empreendimento. Alguns instrumentos relacionados à flora são: Cadastro Ambiental Rural (CAR), Avaliação Ecológica Rápida (AER), Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), Avaliação Ambiental Integrada (AAI), Estudo de Análise de Risco (EAR), Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA). 4.1 Cadastro Ambiental Rural (CAR) Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um registro público eletrônico nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, cuja finalidade é integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para 12 controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento (CAR, 2023). Criado pela Lei n. 12.651/2012 (Brasil, 2012), que também instituiu o Código Florestal Brasileiro, o CAR é um instrumento para a regularização ambiental dos imóveis rurais que permite identificar as Áreas de Preservação Permanente (APP), de uso restrito, de Reserva Legal (RL), de remanescentes de vegetação nativa e de áreas consolidadas. O CAR também é uma condição para a adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), que oferece benefícios e incentivos aos proprietários e possuidores rurais que promoverem a recuperação das áreas degradadas ou alteradas. Desse modo, o CAR contribui para a conservação da biodiversidade, dos recursos hídricos e do solo no país. O CAR é gerenciado pelo Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar), uma plataforma on-line que permite acesso, cadastro, análise, validação e monitoramento das informações ambientais dos imóveis rurais. O Sicar é integrado pelos órgãos ambientais federais, estaduais e municipais, que são responsáveis pela gestão do CAR em suas respectivas competências (IBF, 2023). 4.2 Avaliação Ecológica Rápida (AER) Avaliação Ecológica Rápida (AER) é um método de diagnóstico para gerar informações sobre o estado de conservação de ecossistemas naturais terrestres. É uma metodologia ágil de levantamento de espécies vegetais e fauna de uma área e considerada uma ferramenta, estratégia, programa ou avaliação de conservação. É realizada por uma equipe multidisciplinar de especialistas, que utilizam técnicas simples e rápidas para obter uma visão geral da área de estudo. O objetivo da Avaliação Ecológica Rápida é fornecer informações científicas confiáveis e relevantes para o planejamento e a gestão ambiental, bem como para a sensibilização e a educação da sociedade (WWF, 2023). A AER utiliza indicadores biológicos e/ou biofísicos, elementos ou processos que refletem as condições ambientais de uma área, por exemplo, a presença ou ausência de determinadas espécies, a diversidade e a abundância de grupos taxonômicos, a estrutura e a composição da vegetação, a qualidade e a quantidade da água, entre outras (PNLA, 2023). A AER é escolhida para áreas muito grandes, que exigem muitos recursos financeiros e humanos para a execução, ou locais de difícil acesso. Alguns 13 instrumentos utilizados na AER incluem sensoriamento remoto, sobrevoos de reconhecimento e coleta de dados em campo. Pode ser aplicada para identificar áreas prioritárias para a conservação, avaliar o impacto de atividades humanas, monitorar mudanças ambientais, entre outras finalidades (WWF, 2023). 4.3 Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) Avaliação Ambiental Estratégica(AAE) é um instrumento de planejamento que visa integrar a dimensão ambiental nas políticas, planos e programas (PPPs) de diferentes setores e níveis de governo. A AAE busca identificar, avaliar e mitigar os impactos ambientais potenciais e cumulativos de um conjunto de ações propostas em uma determinada área ou tema, considerando as alternativas estratégicas e os cenários futuros possíveis. A AAE também envolve a participação dos atores sociais relevantes e a comunicação dos resultados para apoiar a tomada de decisão (PNLA, 2023). 4.4 Avaliação Ambiental Integrada (AAI) Avaliação Ambiental Integrada (AAI) é um instrumento de planejamento e gestão ambiental que visa avaliar os impactos cumulativos e sinérgicos de um conjunto de empreendimentos ou atividades em uma determinada região. Permite identificar as potencialidades e fragilidades ambientais da região, bem como as medidas de prevenção, mitigação e compensação dos impactos. É muito usado para avaliar a situação ambiental de uma bacia hidrográfica com empreendimentos hidrelétricos implantados e potenciais barragens. A AAI é um instrumento obrigatório para o licenciamento ambiental de empreendimentos hidrelétricos em algumas regiões do Brasil (PNLA, 2023). 4.5 Estudo de Análise de Risco (EAR) Estudo de Análise de Risco (EAR) é um documento técnico que avalia os possíveis impactos de uma atividade ou empreendimento sobre a vegetação nativa e as espécies vegetais ameaçadas de extinção. O objetivo do EAR é identificar, quantificar e qualificar os riscos ambientais associados à implantação, operação e desativação de um projeto, bem como propor medidas de prevenção, mitigação e compensação desses riscos. O EAR deve seguir as normas e diretrizes do órgão ambiental competente e ser elaborado por equipe 14 multidisciplinar qualificada. O EAR deve conter, no mínimo, os seguintes itens: caracterização da área de influência do projeto, diagnóstico da flora existente, análise dos cenários de risco, avaliação dos efeitos potenciais sobre a flora, definição das medidas de gestão de risco e monitoramento ambiental (PNLA, 2023). 4.6 Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) são ferramentas utilizadas para identificar, prever, analisar, mitigar e compensar os impactos ambientais decorrentes de um empreendimento ou atividade, bem como propor medidas para seu licenciamento ambiental. O EIA consiste em um estudo técnico-científico que identifica, descreve e analisa os impactos ambientais e propõe medidas mitigadoras, compensatórias e monitoramento. O RIMA é um documento que apresenta as informações do EIA de forma acessível ao público geral. Deve ser elaborado por uma equipe multidisciplinar, composta por profissionais habilitados nas áreas de biologia, engenharia florestal, ecologia, geografia, entre outras (PNLA, 2023). TEMA 5 – MONITORAMENTO E QUANTIFICAÇÃO DA BIOMASSA E DOS ESTOQUES DE CARBONO EM FORMAÇÕES VEGETAIS O estoque de carbono é a quantidade de carbono armazenada em um reservatório, como uma floresta, um solo ou uma atmosfera. O estoque de carbono pode variar ao longo do tempo, dependendo dos fluxos de entrada e saída de carbono entre os reservatórios (Embrapa, 2023). Um dos principais desafios da ecologia é entender como as florestas naturais sequestram e armazenam carbono ao longo do tempo, em resposta a diferentes fatores ambientais e distúrbios. Essa compreensão é fundamental para o planejamento e a implementação de estratégias de manejo e conservação desses ecossistemas, que desempenham um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas (Torres et al., 2013). A dinâmica de estoque de carbono em florestas naturais considera os efeitos da diversidade de espécies, da estrutura da vegetação, do clima e do 15 solo. O estoque de carbono aumenta com o avanço da sucessão, mas varia de acordo com as condições locais e regionais. Além disso, a diversidade de espécies influencia positivamente o estoque de carbono, especialmente nas fases iniciais da sucessão. Esses achados fornecem subsídios para o desenvolvimento de políticas públicas e práticas de manejo sustentável das florestas naturais, visando a conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos (Portela et al., 2020). O estoque de carbono é medido em unidades de massa, como toneladas ou gigatoneladas, e pode ser estimado por meio de métodos diretos ou indiretos. Os métodos diretos envolvem a coleta e a análise de amostras físicas, enquanto os métodos indiretos usam modelos matemáticos ou sensoriamento remoto. A seguir, os diferentes métodos para estimar a biomassa e o carbono das plantas. • Método destrutivo: consiste na seleção e derrubada de árvores-amostra, que são pesadas e analisadas para determinar a quantidade de biomassa e carbono em cada componente da planta (tronco, galhos, folhas e raízes). Este método é mais preciso, mas também mais trabalhoso, custoso e invasivo, pois requer o sacrifício de árvores e a coleta de amostras do solo. • Método indireto: utiliza equações matemáticas que relacionam a biomassa e o carbono com variáveis facilmente mensuráveis das árvores, como o diâmetro, a altura e a densidade da madeira. Os dados coletados são usados em equações alométricas para estimar a biomassa da vegetação e esses valores são convertidos em estoques de carbono. Essas equações podem ser gerais, aplicáveis a diferentes espécies e regiões, ou específicas, desenvolvidas para determinada formação vegetal. Este método é mais prático, econômico e menos impactante, mas também menos acurado, pois depende da qualidade e da adequação das equações utilizadas. o Sensoriamento remoto: ferramenta fundamental nos estudos de quantificação de biomassa vegetal e estoques de carbono. Modelos de previsão são calculados por análise de regressão linear múltipla. o Modelagem da biomassa florestal: métodos avançados para modelagem da biomassa florestal, mapeamento e estimativa que unem as práticas de campo e o sensoriamento remoto. 16 Cada método tem suas próprias vantagens e desvantagens e a escolha do método depende das necessidades específicas do estudo. Uma das etapas importantes na pesquisa sobre a biomassa florestal é a seleção de árvores- amostra que representem adequadamente a população de interesse. Essas árvores devem ser medidas e pesadas para se obterem dados sobre o volume, a densidade e o teor de carbono da madeira. A seleção de árvores-amostra deve levar em conta fatores como a idade, o diâmetro, a altura, a forma e a distribuição espacial das árvores na área de estudo. O objetivo é obter uma amostra que seja suficiente em número e variabilidade para estimar com precisão a biomassa florestal (Snif, 2023). NA PRÁTICA Atividade: restauração de um ecossistema degradado. Objetivo: demonstrar o processo de restauração ecológica e os fatores que influenciam a recuperação de um ecossistema degradado. Materiais: sementes de plantas nativas, ferramentas de jardinagem, solo, água, fertilizante orgânico. Procedimento: escolha uma área degradada para restaurar. Pode ser uma área desmatada, uma área com solo contaminado ou uma área com espécies invasoras. • Remova as espécies invasoras e limpe a área. • Prepare o solo adicionando fertilizante orgânico e água. • Plante sementes de plantas nativas na área. • Regue as plantas regularmente e monitore seu crescimento. Discussão: 1. Quais foram os principais desafios encontrados durante o processo de restauração? 2. Quais foram as estratégias utilizadas para superar esses desafios? 3. Como a restauração afetou a biodiversidade da área? 4. Como a restauração afetou a qualidade do solo? 5. Quais são as implicações da restauração ecológica para a comunidade local?17 FINALIZANDO • Restauração é o processo de auxílio ao reestabelecimento de um ecossistema que foi degradado, danificado ou destruído; a recuperação é o processo pelo qual um ecossistema reestabelece sua composição, estrutura e funcionalidade; reabilitação é quando ações diretas ou indiretas têm o objetivo de reestabelecer certo nível de funcionalidade ecossistêmica sem buscar a restauração ecológica, mas a renovação e continuidade da provisão de serviços ecossistêmicos. • Estudos técnicos são instrumentos que avaliam os aspectos ambientais relacionados a uma atividade ou empreendimento, apresentando subsídios para a análise da licença requerida pelo órgão ambiental competente. Os principais instrumentos que visam a recuperação de áreas são o PRAD e o PTRF. • Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reservas Legais (RL) são áreas protegidas por lei, mas com características e finalidades distintas. A APP é intocável e abrange qualquer área natural que tenha relevância ambiental. A RL é tocável e restringe-se às áreas rurais que devem reservar uma parte da vegetação nativa. Ambas as áreas devem ser cadastradas no Cadastro Ambiental Rural (CAR), que é um instrumento para o controle e monitoramento das áreas protegidas no país. • Existem diversos tipos de estudos ambientais, dependendo do porte, da localização e do impacto da atividade ou empreendimento. Alguns instrumentos relacionados à flora são: Cadastro Ambiental Rural (CAR), Avaliação Ecológica Rápida (AER), Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), Avaliação Ambiental Integrada (AAI), Estudo de Análise de Risco (EAR), Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA). • O estoque de carbono é a quantidade de carbono armazenada em um reservatório, como uma floresta, um solo ou uma atmosfera. É medido em unidades de massa e pode ser estimado por meio de métodos diretos ou indiretos. 18 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 12.651, de 25 de maio de 2012. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 28 maio 2012. CAR – CADASTRO AMBIENTAL RURAL. Inscrever imóvel rural no Cadastro Ambiental Rural (CAR). 21 jul. 2023. Disponível em: <https://www.gov.br/pt- br/servicos/inscrever-imovel-rural-no-cadastro-ambiental-rural-car>. Acesso em: 18 dez. 2023. EMBRAPA. Código Florestal. Disponível em: <https://www.embrapa.br/codigo- florestal/area-de-reserva-legal-arl>. Acesso em: 18 dez. 2023. IBF – INSTITUTO BRASILEIRO DE FLORESTAS. Novo Código Florestal: entenda o que mudou na legislação! Disponível em: <https://www.ibflorestas.org.br/conteudo/novo-codigo-florestal>. Acesso em: 18 dez. 2023. PERES, C. A. et al. (Org.). Conservação da biodiversidade em paisagens antropizadas do Brasil. Curitiba: Ed. da UFPR, 2013. PIRATELLI, A. J.; FRANCISCO, M. R. (Org.). 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