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Introdução à Parasitologia


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PARASITOLOGIA 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Mariana Forgati 
 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Introdução à parasitologia 
Nesta aula da disciplina de Parasitologia você irá conhecer o objeto de 
estudo da Parasitologia, que é a relação entre parasitos e seus hospedeiros. Ao 
mesmo tempo, entraremos em contato com a terminologia utilizada na 
Parasitologia e com conceitos gerais da Epidemiologia. Ao final da nossa aula, 
você será capaz de compreender a importância do estudo da Parasitologia e 
perceberá como ela está presente em seu cotidiano. 
Na sequência, você conhecerá as principais técnicas utilizadas no 
diagnóstico das infecções parasitárias. Você conhecerá, também, as principais 
características dos protozoários e duas das principais parasitoses causadas por 
esses organismos: leishmaniose e doença de Chagas. 
Em aulas posteriores, daremos continuidade ao estudo das infecções 
parasitárias humanas causadas pelos protozoários. Você verá as principais 
características da giardíase, tricomoníase, malária, toxoplasmose e amebíase. 
Nas próximas aulas, veremos as características gerais dos helmintos, 
bem como as principais parasitoses humanas causadas pelos platelmintos: 
esquistossomose, faciolíase, teníase e cisticercose. 
Mais adiante, continuaremos o estudo das parasitoses causadas pelos 
helmintos, como maior ênfase às infecções causadas pelos nematódeos: 
ascaridíase, enterobiose, estrongiloidíase, ancilostomíase e filariose. 
Por fim, conheceremos os principais artrópodes vetores e parasitos do ser 
humano (pulgas, carrapatos, piolhos e ácaros), moluscos hospedeiros de 
helmintos e as parasitoses emergentes. 
TEMA 1 – A PARASITOLOGIA 
Os seres vivos relacionam-se entre si de diversas maneiras. Essas 
relações, também chamadas de interações ecológicas, são fundamentais à 
manutenção da vida, já que todos os seres vivos dependem de outros para a 
sobrevivência e a reprodução. As interações ecológicas podem ser: 
• positiva para ambos os organismos em interação, como ocorre nas 
colônias, sociedades, protocooperação e mutualismo; 
 
 
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• positiva para um dos organismos, neutra para o outro, como no 
comensalismo e inquilinismo; 
• prejudicial para ambos os organismos, como na competição; 
• positiva para um dos organismos e prejudicial para o outro, como no 
parasitismo e predatismo. 
 O parasitismo é a relação ecológica estudada na Parasitologia que 
envolve a relação de um parasito com um hospedeiro, conforme veremos na 
seção seguinte. 
Embora vários organismos possam ser considerados parasitos, uma vez 
que prejudicam seu hospedeiro, muitos deles são estudados pela Microbiologia. 
É o caso dos vírus (que são parasitos intracelulares obrigatórios), bactérias e 
fungos patogênicos. Além disso, não podemos nos esquecer dos parasitos 
vegetais, ou fitoparasitos (ex.: erva de passarinho e cipó chumbo), que são 
estudados na Botânica. Então, nessa disciplina de Parasitologia estudaremos as 
principais relações parasita-hospedeiro entre protozoários, helmintos, 
artrópodes e moluscos que participam do ciclo parasitário envolvendo os seres 
humanos, não nos esquecendo de que muitas das doenças causadas pelos 
parasitos são zoonoses. 
TEMA 2 – PARASITISMO 
A Parasitologia é a ciência que estuda a relação desarmônica 
interespecífica, em que há unilateralidade de benefícios, chamada de 
parasitismo. Nesse tipo de relação íntima e duradoura, um dos organismos, o 
parasito, beneficia-se utilizando o hospedeiro como hábitat, onde obtém 
nutrientes e se reproduz (Rey, 2008). 
A origem do termo parasito é grega, sendo pará (ao lado, junto) e sîtos 
(alimento), significando “aquele que come ao lado de outro”. Essa expressão era 
originalmente utilizada para se referir a alguns cidadãos pensionistas do Estado 
que participavam de banquetes oficiais misturados às classes dos magistrados 
e outros integrantes das classes superiores. O termo parasito passou a ser 
depreciativo, designando pessoas que viviam à custa dos outros (Gonçalves; 
Minuzi-Souza, 2008). 
O significado biológico do termo parasito é ser vivo, ou vírus, de menor 
porte, que vive associado a outro ser vivo de maior porte, retirando matéria para 
 
 
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sua nutrição e causando-lhe danos variáveis a pequenos distúrbios, ou doenças 
graves que levam à morte (Soares, 1993). 
2.1 Adaptações parasitárias 
A origem do parasitismo ocorreu quando, na evolução das espécies, um 
organismo menor se beneficiou da associação ao seu hospedeiro, seja pela 
proteção, seja pela obtenção de alimento. A princípio, essa associação 
provavelmente foi ao acaso. Mas, com o passar do tempo, a seleção natural agiu 
para que houvesse um melhor relacionamento do parasito com seu hospedeiro. 
Dessa forma, com o passar do tempo, houve uma seleção de alterações 
metabólicas, estruturais e morfológicas que assegurassem maior probabilidade 
de associação dos parasitos aos seus hospedeiros. Essas adaptações foram 
classificadas por Neves (2016) em morfológicas e biológicas. 
Dentre as adaptações morfológicas podemos citar a degeneração, que 
consiste na perda ou atrofia de estruturas vitais, como sistema digestório, 
sistema locomotor etc. Isso justifica a dependência metabólica, em grau variável, 
que os parasitos têm de seus hospedeiros. 
A hipertrofia também é uma adaptação morfológica que pode ser 
observada em alguns parasitos. A hipertrofia consiste no aumento de estruturas 
que facilitam a interação com o hospedeiro, como estruturas de fixação (lábios, 
ventosas etc.), estruturas alimentares (ex.: aparelho bucal de insetos 
hematófagos é hipertrofiado, favorecendo o acesso ao sangue do hospedeiro) e 
que aumentem o sucesso reprodutivo do parasito, como hipertrofia de estruturas 
reprodutoras, como ovários e testículos. 
 Em relação às adaptações biológicas dos parasitos podemos citar a 
estratégia reprodutiva, que consiste na produção de grandes quantidades das 
formas infectantes (ex.: ovos e cistos), que garantem maior sucesso na interação 
com o hospedeiro. 
 Além disso, uma diversidade de tipos de reprodução (como 
hermafroditismo, partenogênese e poliembrionia) favorece o encontro de 
machos e fêmeas e, consequentemente, a perpetuação da espécie. 
 A capacidade de resistir às agressões do hospedeiro também é uma 
adaptação parasitária relevante. Ser capaz de resistir à ação do suco gástrico, 
de anticorpos e células de defesa, por exemplo, também garantem um maior 
sucesso do parasito. 
 
 
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 Por fim, temos a diversidade de tropismos, que são sinais utilizados pelos 
seres vivos para sua orientação espacial. Temos, por exemplo, o geotropismo 
(que é a orientação vertical na terra, podendo ser positivo, quando o organismo 
busca abrigar-se na terra, ou negativo, quando o organismo procura a 
superfície), termotropismo (orientação por temperatura), quimiotropismo 
(orientação pela presença de substâncias químicas específicas, como 
nutrientes), heliotropismo (orientação pela luz solar) etc. A diversidade de 
tropismos favorece a sobrevivência e reprodução dos parasitos, logo, também é 
considerada uma adaptação relevante. 
2.2 Tipos de parasitos, ciclo biológico, hospedeiro e vetor 
 Para um maior aproveitamento e compreensão da relação parasito-
hospedeiro, é necessário que você compreenda alguns termos que veremos 
com frequência nessa disciplina. Você poderá, também, consultar glossários 
bem completos da terminologia da Parasitologia nos livros de Rey (2008) e 
Neves (2016). 
 Os parasitos podem ser classificados de acordo com o número de células, 
podendo ser acelulares (vírus), unicelulares (bactérias, protozoários, alguns 
fungos) e multicelulares (helmintos e artrópodes, por exemplo). 
Além disso, os parasitos podem ser classificados como endoparasitos, 
quando vivem dentro do corpo do hospedeiro, ectoparasitos, quando vivem 
externamente ao corpo do hospedeiro, hiperparasitos, quandoo parasito habita 
outro parasito (ex.: o protozoário Entamoeba histolytica pode ser parasitado por 
fungos ou bactérias). 
Ainda em relação aos parasitos, sua especificidade em parasitar 
hospedeiros também é variável. Os parasitos eurixenos possuem muitas 
espécies de hospedeiros naturais, enquanto os estenoxenos possuem apenas 
um, ou um número muito reduzido de hospedeiros. O parasitismo também pode 
ser ocasional ou acidental, sendo denominado parasito facultativo. 
 Os hospedeiros podem ser de dois tipos: hospedeiro intermediário ou 
definitivo. O hospedeiro intermediário é aquele que apresenta o parasito em sua 
fase imatura (larval, por exemplo) ou quando o parasito se reproduz 
assexuadamente. O hospedeiro definitivo é aquele que apresenta o parasito em 
sua fase adulta ou quando ele se reproduz de forma sexuada. 
 
 
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 Em relação aos tipos de ciclos biológicos, temos o ciclo monoxênico (ou 
monogenético), quando ocorre a participação de apenas o hospedeiro definitivo. 
Já o ciclo heteroxênico (ou digenético), envolve tanto o hospedeiro intermediário 
(em que se desenvolvem as formas infectantes) quanto o definitivo. 
 Por fim, precisamos compreender o papel dos vetores no parasitismo. 
Vetor, para a Parasitologia, é o veículo capaz de transmitir o parasito entre 
hospedeiros. O vetor pode ser biológico, quando um ser vivo (artrópode ou 
molusco) está envolvido no ciclo de vida do parasito, além da sua transmissão 
para o hospedeiro definitivo. O vetor pode ser mecânico, quando ele está 
envolvido apenas com o transporte do parasito. Por fim, o vetor pode ser fômite 
(ou inanimado), quando o transporte do parasito ocorre por meio de objetos 
(seringas, copos etc.). 
TEMA 3 – PARASITOSES 
Como consequência da relação parasito-hospedeiro, pode ocorrer o 
desenvolvimento de uma parasitose (ou infecção parasitária), que prejudica a 
saúde do hospedeiro, podendo, inclusive, levá-lo à morte (Gonçalves; Minuzi-
Souza, 2008). 
3.1 Mecanismos de transmissão e vias de infecção 
Antes de abordarmos os mecanismos de transmissão e vias de infecção 
propriamente ditos, precisamos diferenciar os seguintes termos, que são 
comumente confundidos entre si: contaminação, infecção e infestação. 
A contaminação refere-se à presença de um agente infeccioso na 
superfície de objetos, corpos etc. Por exemplo, a superfície de uma folha de 
alface pode estar contaminada com ovos de helmintos e precisa ser higienizada 
antes do consumo. Infecção refere-se à entrada, desenvolvimento ou 
proliferação de um parasito (inclusive vírus, bactérias e fungos) no corpo do seu 
hospedeiro. Por sua vez, infestação refere-se a alojamento, desenvolvimento ou 
multiplicação de artrópodes na superfície de objetos, corpos etc. (Neves, 2016). 
Ou seja, refere-se a ectoparasitos. Por exemplo, um cão pode estar infestado de 
carrapatos, uma criança pode ter sua cabeça infestada de piolhos etc. 
 
 
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 Os mecanismos de transmissão das parasitoses dependem da via de 
entrada do parasito em seu hospedeiro e pela forma em que se deu essa 
infecção. Os principais mecanismos de transmissão são: 
• pessoa a pessoa, por meio do compartilhamento de objetos contaminados 
(fômites); 
• pela água, alimentos, mãos ou poeira contaminados; 
• pelo solo contaminado; 
• por vetores ou hospedeiros intermediários; 
• mecanismos diversos. 
 Existem, no entanto, alguns fatores que limitam a transmissão dos 
parasitos aos seus hospedeiros. Climas secos, por exemplo, dificultam a eclosão 
de ovos ou o desenvolvimento larval de helmintos que dependem da umidade 
do solo. Baixas temperaturas diminuem a viabilidade dos parasitos, em todas as 
suas fases de vida, e de seus vetores (Rey, 2008). 
 As vias de infecção consideram as formas pelas quais os parasitos 
penetram no corpo do seu hospedeiro. Neves (2016) e Rey (2008) propuseram 
a seguinte classificação para as vias de infecção: oral, quando o parasito é 
ingerido por seu hospedeiro; cutânea, mucosa ou genital, quando o parasito 
penetra pela pele, mucosa ou trato genital, respectivamente; transplacentária, 
quando o parasito ultrapassa a membrana placentária da mãe gestante atingindo 
o feto; transfusional, quando o parasito é inoculado via transfusão sanguínea. 
 Por fim, as formas de infecção do parasito em seu hospedeiro podem ser 
passiva, quando não há gasto energético, ou ativa, quando há gasto energético 
(Avelar, 2016). 
3.2 Ações do parasito em seu hospedeiro 
 As parasitoses manifestam-se de diferentes formas porque cada parasito 
tem uma ação específica sobre seu hospedeiro. Veja, a seguir, as principais 
ações do parasito em seu hospedeiro, segundo Neves (2016). 
 Por exemplo, durante sua migração no hospedeiro, um parasito pode 
obstruir estruturas, como intestino e fígado, sendo essa uma ação mecânica. 
 É possível que o parasito cause uma ação irritativa, ou até mesmo 
traumática, quando o parasito danifica estruturas do corpo do hospedeiro. 
 
 
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 O parasito pode ter ação espoliativa em seu hospedeiro. Nesse caso, o 
parasito espolia, isto é, retira nutrientes importantes do hospedeiro, 
principalmente daqueles que se alojam no intestino delgado. 
A resposta do sistema imune do hospedeiro pode se intensificar diante da 
presença do parasito, intensificando também a gravidade da parasitose, sendo 
essa ação denominada imunogênica. 
 Além disso, a presença do parasito ou dos produtos do seu metabolismo 
podem estimular uma resposta inflamatória do hospedeiro. A inflamação 
constitui a principal lesão nas parasitoses, seja na fase aguda ou crônica, cujas 
principais características serão abordadas na sessão 4.1. 
 Alguns parasitos utilizam enzimas para conseguir atingir as estruturas-
alvo em seus hospedeiros, sendo essa ação denominada enzimática. 
Por meio da ação tóxica, produtos do metabolismo do parasito podem 
prejudicar o hospedeiro de alguma forma. 
 Por fim, alguns parasitos podem provocar um quadro de anóxia, ou seja, 
privação de oxigênio nos tecidos, em seu hospedeiro, principalmente os 
parasitos de hemácias. 
3.3 Fatores para a ocorrência das parasitoses 
A ocorrência de parasitoses depende de algumas condições 
indispensáveis, que são particulares para cada espécie de parasito. 
Primeiramente, cada parasito possui uma especificidade parasitária, 
relacionada tanto à região geográfica a qual o parasita está adaptado, como 
também ao órgão de preferência em seu hospedeiro (Neves, 2016). Ou seja, um 
parasito adaptado a uma região de clima tropical dificilmente irá parasitar um 
hospedeiro de clima temperado. Assim como um parasita do trato 
gastrointestinal não parasitará, na maioria dos casos, o coração, por exemplo. 
Outros fatores a serem considerados na ocorrência de parasitoses são 
aqueles que aumentam a probabilidade de interação do parasito com seu 
hospedeiro. Os mais relevantes são: 
• coincidência de hábitats entre os parasitos, vetores e hospedeiros; 
• quantidade suficiente de hospedeiros e vetores; 
• quantidade suficiente de parasitos; 
 
 
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• condições ambientais favoráveis para a transmissão facilitam a interação 
parasito-hospedeiro e, consequentemente, a ocorrência da parasitose 
(Neves, 2016). 
Diante de condições favoráveis ao parasito, a parasitose manifesta-se no 
hospedeiro. Porém, a evolução dessa parasitose não ocorre sempre da mesma 
maneira, sendo necessário considerar fatores inerentes ao parasito e ao 
hospedeiro. Como fatores inerentes ao parasito temos, por exemplo, o número 
de exemplares que atingiu o hospedeiro, virulência da cepa parasitária 
(virulência é a gravidade das lesões decorrentes do parasitismo, nesse caso) e 
localização. Já os fatores inerentes ao hospedeiro são: idade, nutrição, 
qualidade da resposta imune (Neves, 2016). 
Uma pessoa subnutrida, vivendo em condições de higiene precárias, 
idosa e exposta a uma grande quantidade de parasitos irá desenvolver uma 
parasitose muitomais severa e debilitante que uma pessoa jovem, bem nutrida 
e saudável. 
Além disso, as manifestações clínicas, frente a uma infecção parasitária, 
não ocorrem em todos os casos. Nesses casos, temos infectados 
assintomáticos. Porém, quando ocorre um desequilíbrio na relação parasito-
hospedeiro, as lesões causadas pelos parasitos são significativas e/ou as 
agressões do próprio sistema imune do hospedeiro são intensas. Nesses casos, 
os hospedeiros desenvolvem um quadro clínico da parasitose, com sinais e 
sintomas característicos de determinada doença parasitária (Neves, 2016). 
TEMA 4 – EPIDEMIOLOGIA 
As parasitoses são consideradas problemas médico-sanitários 
importantes nos países em desenvolvimento, mesmo com todo o conhecimento 
científico-tecnológico e sanitário do século XXI. Segundo a Organização Mundial 
da Saúde, as infecções parasitárias são as principais causadoras de óbito no 
mundo, principalmente nos continentes africano e americano (Rey, 2008). 
Neves (2016) afirmou o seguinte: “A maioria dos parasitos é ao mesmo 
tempo causa e consequência do subdesenvolvimento”. Ou seja, as populações 
mais carentes não conseguem se desenvolver devido às parasitoses, que 
prejudicam o desenvolvimento adequado de crianças, limitam as atividades dos 
adultos e oneram o Estado, com custos elevados de assistência médica e social. 
 
 
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Ao mesmo tempo, nas comunidades mais carentes, os parasitos encontram 
condições propícias para sua transmissão, tais como: inexistência ou deficiência 
de saneamento básico, moradias em condições precárias, práticas inadequadas 
de higiene e baixa qualidade na água, por exemplo (Vieira; Benetton, 2013). 
Então, ao estudarmos Parasitologia, precisamos ter em mente quais os 
fatores de risco envolvidos na distribuição, transmissão e desenvolvimento de 
doenças, de uma forma geral. Sendo assim, precisamos conhecer alguns 
conceitos de Epidemiologia, que é a ciência que estuda a distribuição de 
doenças e suas determinantes para a população humana. Lembrando que as 
definições a seguir valem, também, para outros tipos de agentes infecciosos e 
doenças, não apenas para as parasitoses. 
4.1 Aplicação de conceitos epidemiológicos na Parasitologia 
 Agente etiológico é o ser vivo causador ou responsável pela origem da 
doença. Quando a doença é exclusiva de seres humanos, é denominada 
antroponose. As doenças transmitidas entre humanos e outros vertebrados é 
denominada zoonose, sendo que pode ser anfixenose (quando a doença circula 
entre humanos e animais de forma indiferente. Ex.: Trypanosoma cruzi circula 
entre humanos e animais silvestres), antropozoonose (quando a doença é 
primariamente de outros animais e passa a ser transmitida a humanos. Ex.: 
brucelose, que é uma doença de bovinos e pode ser transmitida aos humanos 
de forma acidental), ou zooantroponose (quando o ser humano é reservatório da 
doença, mas ela pode ser transmitida a outros animais. Ex.: esquistossomose 
no Brasil, cujo hospedeiro definitivo é o ser humano, mas pode infectar roedores, 
bovinos e outros primatas). 
Reservatório é qualquer local ou ser vivo onde determinado parasito vive 
e se multiplica, ou seja, é o hábitat do parasito. É a partir do reservatório que ele 
é transmitido a outros hospedeiros. Por exemplo, a capivara é um reservatório 
do Trypanosoma evansi. 
Em relação à evolução das patologias (doenças), precisamos definir os 
seguintes conceitos: profilaxia, período de incubação, período pré-patente, 
período patente, fase aguda, fase crônica, quadro clínico e quadro subclínico 
(Neves, 2016). 
Profilaxia é o conjunto de medidas de prevenção, controle ou erradicação 
de uma doença. 
 
 
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O período de incubação é definido como o intervalo entre a exposição ao 
agente infeccioso (parasito, no caso) e o aparecimento dos sintomas. O período 
de incubação depende, entre outros fatores, do agente infeccioso e da imunidade 
do hospedeiro. 
Já o período pré-patente é o intervalo de tempo entre a penetração do 
parasito em seu hospedeiro e o aparecimento das primeiras formas detectáveis 
em exames laboratoriais (fezes, sangue, imunológicos etc.). Já o período patente 
é o intervalo entre a fase adulta e morte do parasito. Nesse período, é possível 
a detecção dos ovos, cistos, oocistos e larvas por meio de exames laboratoriais 
simples e, geralmente, coincide com o período sintomático (fase aguda) da 
parasitose. 
 A fase aguda de determinada doença ocorre logo após a infecção. Os 
sintomas, nessa fase, costumam ser bem evidentes. A doença pode evoluir para 
uma fase crônica ou levar o indivíduo a óbito. A fase crônica procede da aguda, 
caracterizada pelo equilíbrio na relação parasito-hospedeiro, o que resulta em 
sintomas mais discretos, sendo capaz de ser diagnosticada apenas por exames 
laboratoriais específicos. Um princípio fundamental na relação parasito-
hospedeiro é o de que os efeitos negativos tendem a ser menores quando a 
interação é mais antiga (crônica), enquanto as associações recentes (aguda) 
estão mais sujeitas a uma patogenia mais severa (Odum, 2012). 
Indivíduos com quadro clínicos são aqueles que manifestam os sintomas 
da doença, sendo, usualmente, os indivíduos responsáveis pela maior 
transmissão da doença. Enquanto os indivíduos infectados que apresentam 
quadro subclínicos não desenvolveram sintomas da doença em questão. 
Normalmente, a proporção de indivíduos com quadro subclínico é maior que os 
com quadro clínico. Infecções assintomáticas podem ser comuns em algumas 
enfermidades e têm papel fundamental nos casos de epidemias, já que os 
indivíduos assintomáticos podem transmitir a doença. 
 Em relação à dinâmica da distribuição das doenças, podemos classificá-
las como endemias, epidemias ou pandemias. Endemia é a prevalência usual de 
uma enfermidade em determinada área. Normalmente, considera-se como 
endêmica a doença cuja incidência permanece constante por vários anos, dando 
uma ideia de equilíbrio entre a doença e a população (Neves, 2016). Na 
epidemia, os casos aumentam de forma progressiva, inesperada e 
descontrolada, acima do observado nas endemias, sem especificação sobre a 
 
 
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região geográfica afetada (bairro, cidade, estado ou país), podendo estender-se 
por diferentes períodos (horas, como nas infecções alimentares, semanas, como 
nas gripes, ou vários anos, como a Aids). Por fim, pandemias são epidemias que 
ocorrem simultaneamente em vários locais do planeta (Moura; Rocha, 2012). 
TEMA 5 – PRINCIPAIS PARASITOS DO HOMEM E SEUS VETORES 
A diversidade de parasitos na natureza é imensa. Em todos os reinos dos 
seres vivos existem representantes adaptados ao parasitismo. Antes de 
iniciarmos o estudo dos principais parasitos dos seres humanos, precisamos 
compreender como os seres vivos estão organizados. 
5.1 Classificação biológica 
A classificação biológica, ou sistemática, tem como objetivo organizar os 
organismos vivos segundo suas características e padrões. Para separar os seres 
vivos em grupos, são usados diversos critérios, como semelhanças nos vários 
níveis de organização, do indivíduo ao material genético. 
O agrupamento básico para a classificação dos seres vivos é a espécie, 
seguida pelo gênero, família, ordem, classe, filo e reino. 
Ao escrever um nome científico, você deverá seguir as seguintes normas, 
elaboradas pelo naturalista sueco Carolus Linnaeus (1707-1778), em 1735. Os 
nomes científicos das espécies devem ser escritos em itálico (quando digitados), 
sendo que o nome de cada espécie é composto de duas palavras: a primeira 
palavra deve indicar o gênero, e a segunda é chamada epíteto específico. O 
nome do gênero deve iniciar com letra maiúscula, enquanto o epíteto específico 
deve ser escrito com letras minúsculas. Ex.: Trypanosoma cruzi. Quando uma 
espécie possuir subespécie, essa palavra virá em seguida à do epíteto 
específico. Exemplo: Culex pipiens fatigans. Quando a espéciepossuir 
subgênero, este nome estará entre o gênero e o epíteto específico, entre 
parênteses. Ex.: Anopheles (Kerteszia) cruzi. 
Os organismos vivos estão atualmente divididos em três grandes 
domínios: bactérias (Bacteria), aquebactérias (Archaea), ambos procariotos, e 
eucariotos (Eukarya). 
Dentro do domínio Eukarya temos os seguintes grandes reinos: 
 
 
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• Protoctista, que inclui os eucariotos unicelulares, coloniais e 
multicelulares simples. Ex.: protozoários e algas. 
• Plantae, que inclui os eucariotos multicelulares autótrofos. Ex.: plantas 
terrestres (briófitas, pteridófitas, gimnospermas e angiospermas). 
• Fungi, que inclui os eucariotos multicelulares e heterótrofos (absorvem 
seus nutrientes do ambiente). Ex.: bolores, leveduras e cogumelos. 
• Animalia, que inclui os eucariotos multicelulares, heterótrofos (ingerem 
alimentos) e que se movimentam em alguma fase do seu ciclo de vida. 
Ex.: invertebrados e vertebrados. 
É importante ressaltar que a classificação dos organismos se encontra em 
constante reestruturação. Isso porque novos estudos, principalmente que 
utilizam ferramentas da biologia molecular, reavaliam o que já era conhecido, 
trazendo novas considerações. Por isso, é comum que, ao pesquisar 
bibliografias mais antigas, você se depare com uma classificação dos 
organismos diferentes da apresentada nessa disciplina. 
Nas demais aulas da nossa disciplina de Parasitologia estudaremos com 
mais detalhes as principais espécies de interesse parasitológico no Brasil. 
NA PRÁTICA 
Para finalizarmos nossa aula, gostaria de propor a seguinte atividade: leia 
o texto abaixo e responda às questões propostas. 
A giardíase é uma doença causada pelo protozoário Giardia lamblia. A 
cidade fictícia de Mato Belo, Paraná, com cerca de 20 mil habitantes, registrou 
aumento do número de casos da doença no segundo semestre de 2020. A 
vigilância sanitária de Mato Belo fez um levantamento de dados sobre a 
incidência de giardíase na cidade, entre os anos de 2017 e 2020. Os resultados 
podem ser verificados no Gráfico 1. 
 
 
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Com base na análise dos dados epidemiológicos do município fictício de 
Mato Belo, Paraná, e no que discutimos nessa aula, responda: 
- Qual o agente etiológico da giardíase? 
- Qual o período de epidemia de giardíase na cidade de Mato Belo? 
- Pode-se afirmar que a giardíase é uma doença endêmica na cidade de 
Mato Belo? Justifique. 
FINALIZANDO 
 Nessa nossa primeira aula, você entrou em contato com os conceitos 
básicos da Parasitologia. Vamos, então, retomar os principais pontos abordados 
nessa aula. 
Os aspectos relacionados ao parasitismo, definidos como relação 
ecológica desarmônica entre um parasito e hospedeiro, são os principais objetos 
de estudo da Parasitologia. 
O processo evolutivo selecionou adaptações nos parasitos de forma a 
otimizar sua interação com o hospedeiro. A classificação desses parasitos pode 
ser realizada com base nos seguintes critérios: número de células, localização 
em seu hospedeiro, ou número de hospedeiros. Já os hospedeiros podem ser 
classificados em hospedeiro intermediário ou definitivo. 
Quando a relação parasito-hospedeiro é estabelecida, pode ocorrer o 
desenvolvimento de uma parasitose, cuja evolução depende de vários fatores, 
como: mecanismos e vias de transmissão, ação do parasito em seu hospedeiro 
e fatores inerentes ao parasito e ao hospedeiro. 
Ao estudarmos a Parasitologia, é preciso considerar os fatores envolvidos 
na distribuição, transmissão e desenvolvimento de doenças, inclusive de 
 
 
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parasitoses. Logo, precisamos entrar em contato com alguns conceitos de 
Epidemiologia que serão mais bem explorados ao longo da nossa disciplina. 
Vimos, também, a importância da classificação biológica e regras de 
nomenclatura científica, bem como a classificação dos principais parasitos do 
ser humano. Por fim, vimos uma aplicação prática dos conceitos abordados em 
nossa aula de Parasitologia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
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etimológica e semântica do termo parasito em diferentes idiomas. Acta 
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Nescon/UFMG, 2012. 
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ODUM, E. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. 
REY, L. Parasitologia: parasitos e doenças parasitárias do homem nos trópicos 
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