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TEA eTEA e FunçõesFunções ExecutivasExecutivas na Escolana Escola TEA e Funções Executivas na Escola Ingrid Carla Aldicéia Oliveira do Nascimento Patricia Braun TEA e Funções Executivas na Escola Ingrid Carla Aldicéia Oliveira do Nascimento Patricia Braun Rio de Janeiro 2023 Linha de Pesquisa: Alunos com necessidades educacionais especiais e seus processos de ensino e aprendizagem. CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/REDE SIRIUS/BIBLIOTECA CAP/A N244 Nascimento, Ingrid Carla Aldicéia Oliveira do TEA e funções executivas na escola / Ingrid Carla Aldicéia Oliveira do Nascimento, Patrícia Braun. – Rio de Janeiro: CAp-UERJ, 2023. 79 p. ISBN: 978-65-88405-90-1 (e-book). 1 Educação especial. 2. Autismo em crianças. I. Braun, Patrícia. II. Título. CDU 376 Para Céia, que nunca me permitiu desistir, exigindo sempre o meu melhor. Que em meio às suas 'pérolas' e peculiaridades, me mostrou que eu poderia sempre fazer mais. Minha gratidão será eterna! PATRICIA BRAUN Graduada em Pedagogia Habilitação Educação Especial - DM pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1991), especialista em Psicopedagogia, também pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1995), mestre (2004) e doutora (2012) em Educação, pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).Atua como Professora Associada do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp- UERJ) como professora e chefe do Departamento do Atendimento Educacional Especializado (DAEE), professora do Programa de Pós- Graduação de Ensino em Educação Básica (PPGEB). É pesquisadora convidada do Grupo de Pesquisa "Observatório de Educação Especial e Inclusão Educacional (ObEE)", registrado no CNPq e vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares (PPGEduc/UFRRJ). Tem experiência na área de Educação, com ênfase sobre formação de professores e os processos de escolarização, ensino e aprendizagem de estudantes com deficiência intelectual e autismo. INGRID CARLA ALDICÉIA OLIVEIRA DO NASCIMENTO Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2013), onde participou do grupo de pesquisa Plano de Desenvolvimento da Educação nos Municípios da Baixada Fluminense: concepções e práticas (FAPERJ) e do Projeto de Extensão Educação como Política Pública (2010-2013). Especialista em Psicopedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2019) e Neurociências aplicadas à Aprendizagem pela Universidade Federal do Rio de janeiro (2019). Hoje, professora do Atendimento Educacional Especializado no Município do Rio de Janeiro, atuando como professora do Atendimento Educacional Especializado em Salas de Recursos Multifuncionais com alunos com deficiência. Mestranda em Educação pelo CAp-UERJ, mantenho minha pesquisa voltada para a Educação Especial. Professoras Colaboradoras Alessandra Evelyn dos Santos De Jesus Silva Alexandra Sudário Galvão Queiroz Angela Raucci Roque Bárbara Nielsen Brum Ferreira Cristiane Menezes Dandara Cristina Conceição de Paula Deise Gomes de Oliveira Elizabeth de Souza Gomes Souza Joelma de Carvalho da Silva Rocha Leda Silva Loureiro Luciane Gonçalves dos Santos Marcela Silveira Constant Maria Cristina Menezes de Azeredo Miriam Christiane Cunha de Paula Renata dos Santos Bernardo Rita de Cassia Estabill Brito Rosiana Martins Ramos Simone Macedo Alcantara Vanêsa Vieira Silva de Medeiros ÍN DI CE O9Apresentação Introdução Iniciando a conversa: O que precisamos saber a respeito de pessoas com TEA? 12 19 Unidade 1 - TEA e Funções Executivas 22 Unidade 2 - Controle Inibitório 26 Controle Inibitório e a teoria hitórico-cultural 29 TEA e Controle Inibitório 31 Algumas sugestões 33 ÍN DI CE Unidade 3 - Memória de Trabalho 41 Memória de Trabalho e a teoria hitórico-cultural 49 TEA e Memória de Trabalho 51 Algumas sugestões 53 Unidade 4 - Flexibilidade Cognitiva 59 Flexibilidade Cognitiva e a teoria hitórico-cultural 63 TEA e Flexibilidade Cognitiva 66 Algumas sugestões 68 Para Pensarmos 74 Referências Bibliográficas 75 Prezado(a) professor(a), Este material é o resultado de um trabalho elaborado durante a realização do projeto de pesquisa "Efeitos de um programa de formação docente sobre funções executivas em crianças com autismo" desenvolvido durante o Mestrado Profissional do Programa de Pós-Graduação de Ensino em Educação Básica (PPGEB), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O projeto buscou proporcionar discussões sobre práticas educacionais e reflexões teóricas sobre o desenvolvimento das funções executivas de estudantes público da Educação Especial, tendo como destaque aqueles no espectro do Autismo. As discussões foram realizadas em encontros semanais com professoras das séries iniciais do Ensino Fundamental de uma escola da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro, e do Atendimento Educacional Especializado (AEE) de um colégio de aplicação de uma universidade pública. . Apresentação 9 Os encontros ocorreram durante um curso de formação continuada, desenvolvido como parte essencial do projeto de pesquisa, onde foram propostas reflexões conceituais sobre a importância do desenvolvimento das funções executivas, pela perspectiva da Neurociência cognitiva, e também pela teoria histórico-cultural. O curso de formação continuada denominado “Funções executivas em estudantes com autismo” propôs a elaboração de ações e recursos que possam ser utilizados por professores com estudantes com autismo e outras necessidades educacionais especiais durante as aulas nas turmas regulares. O conteúdo aqui apresentado foi abordado com as professoras participantes do curso de formação continuada. E, seus apontamentos e contribuições ajudaram a compor este material, tanto em sua estrutura, quanto nas sugestões de atividades que ajudam a estimular o desenvolvimento das funções executivas. Considerando que todo recurso e atividade didática deve estar embricada ao compromisso do(a) professor(a) atuar como mediador(a) nos processos de ensino-aprendizagem, este material 10 Bons estudos! tem como objetivo proporcionar aos educadores reflexões teóricas e práticas sobre o desenvolvimento das funções executivas de estudantes com autismo. Destacamos que, para isso, é necessário que professores(as) que façam uso deste material compreendam a importância da relação entre a mediação docente, uso dos recursos necessários e análise dos resultados (Figura 1). Dessa forma, esperamos que, por meio dos conteúdos aqui explorados, possam ser elaboradas práticas de ensino voltadas para o desenvolvimento das funções executivas de estudantes com autismo. Práticas essas dotadas de intencionalidade, reflexões e flexibilidade necessária voltadas para a inclusão escolar desses estudantes. 11 FIGURA 1: Dinâmica nos processos de ensino-aprendizagem. Nos últimos anos os debates sobre a escolarização de pessoas com deficiência têm ganhado maior destaque. Isso ocorre devido o crescente número de matrículas de estudantes público-alvo da Educação Especial nas classes regulares de ensino (BRASIL, 2021). Aumento que, ao mesmo tempo em que oportuniza à . IntroduçãoIntrodução que pode existir em diferentes espaços educacionais. (Luz; Gomes; Lira, 2017). Isso porque, há que se considerar a necessidade de ampliar os recursos a fim de garantir uma educação de qualidade para todos os estudantes, sobretudo aqueles com necessidades educacionais especiais (NEE). Pois, além do direito à matrícula nas classes regulares de ensino, é de suma importância que seja assegurada a infraestrutura adequada, atendimento educacional especializado (AEE), recursos materiais e humanos (Figura 2). comunidade escolar a convivência com as diversidades, tornando os processosde ensino- aprendizagem mais ricos e valiosos, mostra também a fragilidade . Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om 12 FIGURA 2: Matrículas de estudantes de 2010 a 2021 Fonte: INEP Afinal, práticas inclusivas requerem espaços educacionais que se adequem às necessidades dos estudantes com NEE, e isso inclui aulas com recursos e estratégias diferenciadas que garantam acesso de qualidade à escolarização. Para Del Prette e Del Prette (2001), é de suma importância que professores usem de sua criatividade para elaborar suas aulas, de maneira que possam desenvolver diferentes recursos e estratégias que os permita agir com flexibilidade suficiente dentro de seu planejamento, colaborando com o melhor desempenho dos estudantes. . 13 Isso porque estudantes com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), entre outras NEE, apresentam demandas que envolvem questões .comportamentais e emocionais, em grande parte das vezes, ligadas aos déficits no desenvolvimento da linguagem. (REGIER; KUHL; KUPFER, 2013) No caso das pessoas com TEA, devemos considerar que os déficits no desenvol- vimento da linguagem podem causar prejuízos não somente na comunicação, mas também no desenvolvimento das funções executivas, que são habilidades cognitivas responsáveis por organizar e gerenciar diferentes aspectos de nossas vidas, principalmente por nos possibilitar desenvolver o autocontrole, a capacidade de planejar e avaliar os resultados, sendo imprescindíveis nos processos de ensino-aprendizagem (DIAMOND, 2013). Estudantes com TEA entre outras NEE podem ter dificuldade em manter a atenção sustentada nas atividades, realizar tarefas em sequência de etapas e/ou ter também dificuldade de mudar de perspectivas/estratégias ao se deparar com . Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om 14 alguma atividade desafiadora. Dificuldades essas que se como caracterizam déficits no desenvolvimento das funções executivas (SIMPSON; CARROL, 2019). Além disso, é importante salientarmos que a maneira como o TEA influenciará a vida de cada sujeito dependerá do nível de suporte necessário a cada sujeito, bem como os contextos dos quais participam, e dos estímulos recebidos. O DSM-5 (APA, 2013), que descreve alguns especificadores (critérios) que ajudam a determinar as variações do espectro em três níveis diferentes de suporte: Nível 1 - "Exigindo apoio" - caracteriza-se pela restrição, repetição e inflexibilidade comportamental. E também dificuldade na organização e planejamento. Nas interações sociais, os sujeitos demonstram pouco interesse, e dificuldade nas habilidades sociais. A comunicação ocorre de maneira verbal, mas com falas muitas vezes descontextualizadas. Nível 2 - "Exigindo apoio substancial" - nesse nível as dificuldades comportamentais e nas habilidades sociais são mais acentuadas. E a comunicação pode ocorrer de maneira verbal ou não. Os prejuízos sociais ocorrem mesmo quando esses sujeitos recebem apoio, pois o comportamento é acentuadamente inflexível, restrito e repetitivo. 15 Nível 3 - "Exigindo apoio muito substancial" - nesse nível, os prejuízos na comunicação, verbal e não verbal são graves. Além dos prejuízos nas habilidades sociais. A inflexibilidade, restrição e repetição comportamental são ainda mais acentuadas, causando prejuízos substanciais em todas as esferas das vidas desses sujeitos. As funções executivas são comumente estudadas pela Neurociência Cognitiva, que as define a partir de uma variedade ampla de componentes, sendo que, de acordo com o modelo revisado de Diamond (2013) podem ser divididas em funções executivas de alta ordem (planejamento, monitoramento de desempenho, entre outras), e funções executivas de base: Controle inibitório, memória de trabalho (ou memória operacional) e flexibilidade cognitiva. Habilidades que servem como base para alcançarmos as funções executivas de alta ordem. Para uma melhor compreensão sobre a importância das funções executivas para os processos de ensino-aprendizagem, suas definições e desenvolvimento em estudantes com TEA, será realizada a aproximação teórica entre a Neurociência Cognitiva e a teoria histórico-cultural (Figura 3). 16 Por meio da teoria histórico-culural, desenvolvida a partir dos estudos de Lev Vigotski e Alexander Luria, é possível perceber que, com o desenvolvimento da linguagem, são desenvolvidas também as funções psicológicas superiores (FPS) conhecidas no campo das Neurociências como funções executivas (Quadro 1). Para a teoria histórico- cultural o sujeito se constitui como ser humano a partir do contexto social e histórico no qual, através da interação com os outros, aprende, se modifica e se apropria de conhecimentos e bens culturais que o humanizam. A Neurociência cognitiva objetiva investigar a estrutura e o funcionamento cerebral, de maneira a contribuir com uma prática pedagógica mais assertiva, de modo a estimular algumas capacidades humanas como a memória e a linguagem, por exemplo. FIGURA 3: Teoria histórico-cultural e Neurociência cognitiva como estudos complementares. ht tp s: // w w w .m ar xi st s. or g/ ar ch iv e/ lu ria /im ag es /in de x. ht m ht tp s: // w w w .m ar xi st s. or g/ ar ch iv e/ vy go ts ky /im ag es /in de x. ht m 17 https://www.marxists.org/archive/vygotsky/images/index.htm Quadro 1: Funções Executivas de acordo com a Neurociência Cognitiva e Teoria histórico- cultural O pensamento consciente dos sujeitos é um reflexo do contexto em que vivem. É constituído ao longo dos processos e experiências vivenciadas por eles. Ou seja, todos os processos humanos, sejam eles físicos, químicos, biológicos, socioculturais e . 18 psicológicos estão conectados às suas influências e interações sociais (DAMASCENO, 2020). E, mesmo cada sujeito concebendo e vivenciando as experiências de maneira individual, a mediação pedagógica é imprescindível para que os conhecimentos adquiridos possam ser internalizados e ressignificados até que possam fazer sentido, sobretudo no caso de estudantes com NEE. Nos espaços educacionais, é muito comum encontrarmos professores com dificuldade em elaborar e adaptar atividades, de maneira que essas atendam as demandas de estudantes com NEE (NUNES; SAIA; TAVARES, 2015). Pensando nisso, este material tem como objetivo fornecer aos professores elementos teóricos envolvendo sugestões práticas sobre como, por meio da ação pedagógica, as funções executivas de base podem ser estimuladas em estudantes com TEA e outras NEE. 19 O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que causa diversos comprometimentos de base neural. Ou seja, ocorrem diferentes distúrbios nas conexões neurais, como se as mesmas estivessem incorretas causando comportamento atípico. Por isso podemos observar a dificuldade no .. O que precisamos saber aO que precisamos saber a respeito das pessoas com TEA?respeito das pessoas com TEA? desenvolvimento da linguagem, na habilidade de autorregulação e na integração sensorial (APA, 2013; KANDEL, 2014). Os prejuízos na integração sensorial acontecem devido o transtorno do processamento sensorial. Um distúrbio no sistema nervoso central, que prejudica o processamento das informações recebidas pelos órgão sensoriais (órgãos dos sentidos) (ARBERAS; RUGGIERI, 2019). Esse transtorno pode acarretar uma baixa tolerância aos estímulos ambientais, dificultando a adaptação e autorregulação das pessoas com autismo (Figura 4). Iniciando a conversa...Iniciando a conversa... FIGURA 4: Sistema sensorial. Existem sete sistemas que fazem parte do nosso processamento sensorial: Sistema visual, oral, olfativo, vestibular, tátil e proprioceptivo. Caso a pessoa com TEA tenha hipersensibilidade, não conseguirá tolerar estímulos; em caso de hipossensibilidade, buscará estímulos. 20 Banc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om Sistema visual - Responsável por captar informações visuais. Hi pe rs ens íve l Hipossensível Sistema olfativo - Responsável por captar odores. Hi pe rs ens íve l Hipossensível Sistema tátil - Responsável por captar texturas. Hi pe rs ens íve l Hipossensível Iluminação forte é incômoda, e por isso pode ser evitada; pode ter medo de objetos em movimento e evita contato visual direto. Procura olhar diretamente para luzes; olha fixamente para objetos em movimento, ou os segura bem próximo a si; procuram estímulos visuais como ventiladores, por exemplo. Evita alguns odores; podem engasgar com algumas comidas devido seu cheiro; evitam locais públicos ou pessoas. Preferem cheiros fortes nos alimentos e pessoas; não identificam cheiros perigosos. Algumas roupas, meias, calçados, algumas texturas de tecido incomodam; não gostam de se sujar; tomar banho ou pentear o cabelo incomoda bastante; evitam contato físico, principalmente abraços. Preferem roupas justas; costumam ser sujar; toleram dor; se mordem; se beliscam; tocam em tudo e colocam objetos da boca. 21 Sistema oral - Responsável por captar sabores. Hi pe rs ens íve l Hipossensível Sistema vestibular - Responsável pelo equilíbrio. Hi pe rs ens íve l Hipossensível Sistema proprioceptivo - Responsável pela percepção do nosso próprio corpo no espaço que ocupamos. Hi pe rs ens íve l Hipossensível Sistema auditivo - Responsável por captar sons. Hi pe rs ens íve l Hipossensível Não toleram sons altos ou inesperados. Falam alto; fazem sons altos em lugares calmos; gostam de barulhos de diferentes aparelhos. Evitam algumas texturas de comidas; evitam comidas moles. Preferem certas comidas; mordem ou frequência pessoas ou objetos; preferem comidas quentes ou apimentadas. Não gostam de atividades com movimento; parecem desajeitados/descoorden ados; parecem teimosos. Não conseguem ficar parados; são impulsivos e correm em todos os lugares. Aparentam cansaço constante; preferem ficar parados; não gostam de ser tocados; parecem descoordenados. Usam muita força; sobem em móveis ou pessoas; não tem noção de espaço; preferem roupas justas. 22 Atualmente o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é mais discutido do que a alguns anos. Isso acontece porque, além de um maior número de diagnósticos, podemos observar a presença de pessoas no . espectro em diversos espaços da sociedade. Sobretudo nos espaços escolares. O TEA é um transtorno do neurodesenvolvi- mento que pode causar prejuízos na interação social, gerar interesses em assuntos ou temas restritos, com padrões de comportamento estereotipados, limitados e repetitivos (APA, 2013; KANDEL et. al., 2014). . TEA e FunçõesTEA e Funções ExecutivasExecutivas UNIDADE 1 da linguagem e das funções executivas (APA, 2013; KANDEL et. al., 2014). Características que podem dificultar o desenvolvi- mento acadêmico, pessoal e profissional desses sujeitos. O que pode gerar, consequentemente, limi- tações no desenvolvimento Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om 23 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om FLEXIBILIDADE ATENÇÃO COMPARTILHADAPLANEJAMENTO MONITORAMENTO REGULAÇÃO EMOCIONAL FIGURA 5: Habilidades cognitivas desenvolvidas por meio das funções executivas. Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om O distúrbio na conectividade das redes neurais de pessoas com autismo pode causar prejuízos no controle executivo. Isso porque a rigidez e repetição comportamental podem prejudicar o desenvolvimento da linguagem, afetando, sobretudo, o desenvolvimento das funções executivas (KANDEL et. al., 2014; ABBOTT et. al., 2016; VOORHIES et. al., 2018). Dessa maneira, funções como controle inibitório, que ajuda na autorregulação das emoções e pelo uso da atenção; que junto a memória de trabalho auxilia no planejamento de ações e monitoramento de desempenho, assim como a flexibilidade cognitiva são prejudicados (Figura 5). UNIDADE 1 - TEA E FUNÇÕES EXECUTIVAS 24 CONTROLE INIBITÓRIO Controle atencional Autorregulação Inibição Cognitiva Gerenciamento da vida FUNÇÕES EXECUTIVAS Alternância de Perspectiva Memória Verbal Memória Visual MEMÓRIA DE TRABALHO FLEXIBILIDADE COGNITIVA Monitoramento de metas Controle das Emoções Córtex pré-frontal Sistema Límbico As funções executivas são desenvolvidas no córtex pré-frontal, com participação também do sistema límbico. O córtex pré-frontal, sendo responsável pela cognição e monitoramento das metas, e o sistema límbico pelo gerenciamento das emoções, controlando o estresse, o medo, as frustrações. É por meio das interações sociais e à medida que as crianças vão adquirindo mais experiências que os sistemas cerebrais vão se moldando e as funções executivas se desenvolvem (VIGOTSKI, 2009; DIAMOND, 2013; LURIA, 2015). As funções executivas de base são: Controle inibitório, memória de trabalho (ou memória operacional) e flexibilidade cognitiva (Figura 6). UNIDADE 1 - TEA E FUNÇÕES EXECUTIVAS FIGURA 6: Funções executivas de base. Com o bom desenvolvimento das funções executivas podem ser suprimidos pensamentos e respostas inadequadas, situações podem ser analisadas e ações planejadas. Além disso, podemos executar ações e monitorar o desempenho. 25 Controle Inibitório É responsável pelo controle atencional e pela inibição de comportamentos e respostas impulsivas mediante a situações ou durante a realização de uma tarefa. Para estudantes com autismo, tem função primordial para estimular o desenvolvimento cognitivo. UNIDADE 1 - TEA E FUNÇÕES EXECUTIVAS Memória de Trabalho A memória de trabalho é elaborada a partir de um conjunto de experiências , cujas informações podem ser evocadas e manipuladas de acordo com a necessidade de cada sujeito. Estudantes com autismo podem apresentar prejuízos no desenvolvimento da memória de trabalho, uma vez que estes podem ter dificuldade em compreender conceitos de maneira global. Flexibilidade Cognitiva A flexibilidade cognitiva é a habilidade de modificar estratégias e perspectivas diante de situações difíceis. E também é responsável pela elaboração do conhecimento, mediante articulação de diferentes informações adquiridas em momentos diferentes. 26 Banco de Imagens Canva: www.canva.com Banco de Imagens Canva: www.canva.com Banco de Imagens Canva: www.canva.com ControleControle InibitórioInibitório UNIDADE 2 O controle inibitório é uma função executiva de base que desempenha papéis de grande importância, atuando como inibidor comportamental, por suprimir comportamentos e respostas inadequadas mediante diversas situações; e também como controlador de interferências, ou controlador atencional, por ser responsável pelo foco atencional durante a realização de tarefas (VERBRUGGEN; LOGAN, 2008; PADMANABHAN et al., 2015). Sendo assim, quando bem desenvolvido, consegue desempenhar suas funções (Figura 7) ao suprimir comportamentos e/ou interferências em prol de um objetivo. FIGURA 7: Funções do controle inibitório. 27 O controle atencional se divide em atenção seletiva, atenção sustentada e atenção dividida (Figura 8). Ou seja, quando os sujeitos conseguem inibir as interferências ao realizar uma tarefa (atenção seletiva), conseguindo sustentar o foco naquilo que estão fazendo - atenção sustentada - e, mesmo que seja necessário voltar sua atenção para outra informação em algum momento, conseguem retomar aquilo que estavam fazendo, dando continuidade a tarefa - atenção dividida (MOURÃO JR; MELO, 2011; TIEGO et. al., 2018). A atenção tem como principal função direcionar o processamento básico das informações que são captadas pelos estímulos sensoriais . UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO Controle Atencional FIGURA 8: Controle atencional. 28 AutorregulaçãoInibição Cognitiva UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO Ao desenvolver o controle atencional, os sujeitos passam a controlar as interferências internas e/ou externas durante a realização de uma tarefa, podendo também controlar o próprio comportamento. Isso acontece porque, a autorregulação permite a supressão de estímulos internos, através da memória (ao lembrar de regras ou tarefas), e os externos, pela funcionalidade dos órgãos sensoriais (MOURÃO JR; MELO, 2011; TIEGO et. al., 2018).. A inibição cognitiva ocorre quando os sujeitos conseguem controlar os pensamentos impulsivos. O que é também muito importante para o controle comportamental (MOURÃO JR; MELO, 2011; TIEGO et. al., 2018). 29 Controle Inibitório e a teoriaControle Inibitório e a teoria histórico-culturalhistórico-cultural UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO Comportamento consciente que tem origem nas relações sociais dos sujeitos com o ambiente, e se aprimoram com o desenvolvimento da linguagem. ht tp s: // w w w .m ar xi st s. or g/ ar ch iv e/ lu ria /im ag es /in de x. ht m ht tp s: // w w w .m ar xi st s. or g/ ar ch iv e/ vy go ts ky /im ag es /in de x. ht m Em seus estudos, Vigotski (2007) e Luria (2015) evidenciam que a atenção tem como função primordial direcionar o processamento básico das percepções que chegam até os sujeitos por meio dos estímulos sensoriais. Eles incluem também os impulsos motores pois, ao modificar seu foco atencional, os sujeitos podem também realizar movimentos em direção a ele (Vigotski, 2009). Em resumo, podemos dizer que a percepção ajuda os sujeitos a notar uma informação, interpretar e organizar de maneira contextualizada para que ela passe a ter sentido. Por isso é . 30 https://www.marxists.org/archive/vygotsky/images/index.htm Isso porque, compreendendo que a linguagem faz parte de um processo de interação entre o que compreendemos e comunicamos, é importante lembrar que, à medida em que os sujeitos crescem e aprendem . importante que, ao pensarmos em espaços escolares, por exemplo, conteúdos sejam apresentados de diferentes maneiras com diferentes estímulos/recursos. Dessa forma, os estudantes poderão perceber as informações que mais lhe chamarem a atenção, e com isso sua atenção será ativada e a informação será memorizada. UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO recursos nos processos de ensino-aprendizagem são importantes para estimular o desenvolvimento da linguagem que, segundo Vigotski (2008) e Luria (2010) é fundamental para que os sujeitos possam compreender e controlar melhor os ambientes dos quais fazem parte. passam também a desenvolver o comportamento consciente, o que pode melhorar suas relações sociais com os ambientes de convívio (VIGOTSKI, 2007). Além disso, o uso de diferentes 31 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om Para as pessoas com TEA, o controle inibitório pode ser considerado a função executiva de maior relevância para seu desenvolvimento cognitivo, e autocontrole. Pois ajuda no desenvolvimento da habilidade de adaptação aos diferentes contextos, além do controle atencional (KELLY et. al., 2021; . UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO TEA e Controle InibitórioTEA e Controle Inibitório MIRABELLA, 2021). Controlar respostas e comportamentos inadequa- dos geralmente significa desafiar comportamentos dominantes de grande parte dos sujeitos com TEA, pois seu autocontrole, seja ele atencional, emocional ou comportamental, nem sempre acontece de maneira espontânea (KELLY et. al., 2021) . É importante destacar que uma das principais causas para a dificuldade de autocontrole para pessoas com TEA é o comprometimento no processamento das informações sensoriais, que pode dificultar o desenvolvimento/aprimoramento de sua percepção e atenção; gerar comportamentos considerados inadequados, e prejuízos na comunicação e interação social. 32 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO Para melhor compreensão, devemos considerar, principalmente, a dificuldade no desenvolvimento da linguagem desses sujeitos, que dificulta sua comunicação. Em decorrência disso, pessoas com TEA podem ter déficits em seu processo de escolarização, uma vez que, nos espaços educacionais, é necessário lidar com situações que alterem sua rotina, compreender e respeitar as regras de convivência, interagindo adequadamente com todos. Além disso, é preciso considerar também que nos espaços educacionais pessoas com TEA costumam encontrar diferentes estímulos sensoriais (sons, odores e informações visuais e táteis) numa frequência que, para elas, podem ser extremamente incômodas (ARBERAS; RUGGIERI, 2019; PASTOR-CEREZUELA et. al., 2020). O que, além de gerar comportamentos considerados inadequados, também pode prejudicar seu controle atencional. E, uma vez seu controle atencional estimulado e desenvolvido, suas habilidades cognitivas e comportamentais podem se aprimorar. O controle inibitório permite às pessoas com autismo adequar seu comportamento e respostas às diferentes demandas dos ambientes e aos acontecimentos. 33 UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO Algumas sugestões: Conforme a linguagem dos sujeitos se desenvolve, seu comportamento tende a melhorar. Por isso é importante o uso de recursos diversificados que ajudem esses sujeitos a se organizar nos diferentes espaços. No entanto, é importante que eles não sejam considerados apenas "produtos do meio", mas sujeitos ativos que participam de ambientes dinâmicos de aprendizagem. Considerando isso, quais atividades podem auxiliá-los no contato com diferentes regras e demandas, de modo a estimular apercepção e atenção desses estudantes para que o controle inibitório possa ser desenvolvido? 34 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om Desenho Livre - oferecer ao estudante folha de papel, tamanho A4 ou A3, limpa e materiais para o desenho (lápis de cor, giz de cera, caneta hidrocor, outros), observar qual material lhe favorece o manuseio quanto à textura e forma de grafar (traço mais forte ou leve). Dialogar com o estudante sobre o que realiza com perguntas, desenhando em outra folha, junto com ele, mostrando e dizendo o que faz, de forma a promover troca de informações, contextualizar o que é dialogado, mesmo que apenas com imagens. Observar e cuidar o que deixa o estudante confortável, pois apontar, tocar ou mesmo desenhar na mesma folha do estudante pode ser algo que o incomoda, desestrutura sua atenção e forma de interação com você, como o outro. A proposta de desenho livre não significa deixar o estudante sem intervenção ou apenas ofertar as folhas sem estruturar mediação que dialogue, provoque a construção do contexto e sentido do que é vivido e apresentado ao desenhar. A atividade de desenho livre, quando realizada de maneira mediada, além de estimular a combinação entre as respostas motoras (por meio dos movimentos) e as visuoespaciais (figuras desenhadas e os espaços das folhas), pode estimular também a percepção dos estudantes, que é fundamental para o desenvolvimento do controle atencional, componente do controle inibi- UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO 35 tório. Isso porque, ao dialogar com o estudante sobre o contexto que está sendo construído no desenho, o(a) docente, pode levá-lo a perceber ou reproduzir imagens ou detalhes que ajudem a compor o contexto desenhado. É importante que a idade e o nível de desenvolvimento do(a) estudante sejam respeitados.. O desenho livre é uma atividade que pode organizar e construir muitos significados. Veja outras dicas neste link: em: https://box.novaescola.org.br/etapa/1/educacao- infantil/caixa/99/o-poder-do-desenho-na- educacao-infantil/conteudo/19039 UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO 36 Atividades de comparação ou pareamento com imagens - pode ser proposta a partir de figuras, pequenosbrinquedos/objetos de um grupo como coisas de casinha, de carrinhos, da fazenda, da horta, do supermercado, da praça, animais, cores, formas, letras, número, quantidades, entre outros grupos com conceitos de aprendizagem previstos ou que se aproximam do currículo escolar. A princípio, usar algo que seja do interesse do estudante e ampliar, na medida da investidas pedagógicas, o campo de inserção de novos grupos, novos desafios para as comparações e associações. https://box.novaescola.org.br/etapa/1/educacao-infantil/caixa/99/o-poder-do-desenho-na-educacao-infantil/conteudo/19039 UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO 37 As atividades de comparação e pareamento de imagens são importantes também para estimular o esboço visuoespacial mas, sobretudo, a percepção. Isso porque é importante que o estudante, com a mediação docente, seja levado a comparar os detalhes, o que estimula o desenvolvimento de sua percepção, diretamente ligada ao controle atencional. A atividade pode ser realizada, inicialmente, com imagens cujas diferenças sejam de fácil identificação, com aumento no número de diferenças ou detalhes, à medida que o desenvolvimento perceptual do estudante se aprimora. Ajuda também a controlar as ações impulsivas porque requer que os estudantes observem os detalhes, façam comparações para alcançar o objetivo proposto. Um exemplo de atividade nesse contexto pode ser observada neste link: https://youtu.be/iy5rgTlX3As Atividade de sequenciação - essa atividade pode ser realizada com cores, objetos ou imagens. Para isso, deve ser apresentada ao estudante uma sequência com duas ou mais informações, e solicitar que o mesmo as repita na mesma ordem apresentada, . Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om https://youtu.be/iy5rgTlX3As UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO 38 realizando uma sequência lógica. A repetição deve acontecer duas ou mais vezes. As atividades de sequenciação estimulam o controle inibitório porque requerem o uso da percepção (ao comparar e perceber a repetição da sequência) e controle atencional. Principalmente a atenção seletiva, pois é importante que o(a) estudante observe o que é solicitado na atividade, e iniba a ação impulsiva., respeitando a ordem da sequência colocada a ele(a). O número de elementos a sequenciar pode variar de acordo com a faixa etária e nível de desenvolvimento do(a) estudante. Outras sugestões e descrições poderão ser encontradas no link: https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/ sequenciacao-seriacao-relacoes-necessarias-para- construcao.htm Jogos com 2 ou mais participantes - esses jogos são importantes para incentivar o desenvolvimento da paciência, pois estimulam a capacidade de espera. Além disso, a confiança nos professores e colegas também podem ser trabalhada, ação fundamental para a inclusão escolar. Além disso, a atenção e concentração também são estimuladas, uma vez que é necessário o estudante saber sua tarefa no jogo, e o momento exato de realizar a ação. Os jogos podem ser de cooperação, com bolas, cartas, tabuleiro etc. Os jogos com dois ou mais participantes podem ser considerados estratégias lúdicas para desenvolver o controle inibitório, porque requerem o autocontrole diante dos impulsos (sobretudo diante da espera), ajuda a inibir as informações irrelevantes, estimulando o controle atencional. Para mais informações e sugestões de jogos, acesse o link: https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/VRNS- 9NJEU9/1/a_importancia_dos_jogos_com_regras_par a_o_desenvolvimento_in.pdf UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO 39 Quebra-cabeças - inicialmente, podem ser oferecidos aos estudantes imagens de duas a quatro peças. De preferência com personagens ou temas de interesse do estudante. A montagem também pode ser feita com uso de sequência numérica para indicar a Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om ordem das peças. Os quebra-cabeças além de estimular o pensamento lógico, a motricidade por meio dos encaixes, e aumentar a capacidade de resolução de problemas, quebra-cabeças são ótimos para estimular o controle inibitório, pois requer o uso da atenção e percepção visual. UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO Quebra-cabeças - inicialmente, podem ser oferecidos aos estudantes imagens de duas a quatro peças. De preferência com personagens ou temas de interesse do estudante. A montagem também pode ser feita com uso de sequência numérica para indicar a ordem das peças. Os quebra-cabeças são comumente utilizados para estimular o pensamento lógico. Mas, além disso, pode ser considerados também como material capaz de estimular a motricidade (por meio dos encaixes), aumentar a capacidade de resolução de problemas, mas também ajudam a estimular o controle inibitório. Isso porque os quebra-cabeças requerem o uso da percepção visual, que, por conseguinte, ajuda a estimular o controle atencional, pois é importante que o(a) estudante se atenha aos detalhes da imagem para encontrar seus encaixes. Dessa forma, a atividade consiste numa alternância entre perceber os detalhes para o encaixe correto, e a inibição de outros detalhes irrelevantes para completar a atividade.ink a seguir podem ser encontradas . mais informações sobre essa importante ferramenta: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cade rnospde/pdebusca/producoes_pde/2013/2013_unic entro_edfis_artigo_claudia_aparecida_piscinini.pdf 40 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om Brincadeiras com troca de turno - a troca de turnos durante brincadeiras é importante para que os estudantes aprendam a esperar e desenvolvam a atenção, pois precisam estar atentos para sua vez de realizar a ação. Dessa forma, as habilidades e . UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO 41 rotinas sociais também começarão a ser estimuladas, pois o respeito ao tempo de espera pode ocorrer e até ser aumentado de maneira gradual. A troca de turnos pode ser realizada durante a realização de diferentes brincadeiras. Ao usar blocos de montar, o adulto que medeia a brincadeira pode indicar sua vez de brincar, fazendo com que a criança espere, inicialmente, por um curto período. O mesmo pode ser feito com outros brinquedos e brincadeiras como bolas, bolhas de sabão, massa de modelar etc. As brincadeiras de troca de turno estimulam o desenvolvi- mento do controle inibitório por meio da espera, que estimula a inibição das ações impulsivas, e do controle atencional. Nos links a seguir, são dados diferentes exemplos de atividades que envolvem a troca de turno durante brincadeiras: https://www.youtube.com/watch?v=v4LqXRFL64M https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/236667 Memória deMemória de TrabalhoTrabalho UNIDADE 3 A memória de trabalho, conhecida também como memória operacional é um processador ativo que permite aos sujeitos manipular informações armazenadas na memória de curto e longo prazo (DIAMOND, 2013; DIAMOND; LING, 2016). É formada por alguns componentes: alça fonológica, retentor episódico e esboço visuoespacial, que são coordenados pelo executivo central (Figura 9). FIGURA 9: Componentes da memória de trabalho. 42 O executivo central não participa do armazenamento de informações, ainda assim, é o principal componente da memória de trabalho. Isso porque é o executivo central que coordena todo o fluxo de informações que fica armazenada na memória, garantindo assim o bom funcionamento de todos os seus componentes (UEHARA; LANDEIRA-FERNANDEZ, 2010). UNIDADE 3 - MEMÓRIA DE TRABALHO Ajudando na atenção seletiva, na seleção e execução de planos, elaboração de estratégias, além de evocar informações armazenadas na memória de longo- prazo (BADDELEY; HITCH, 2019). ALÇA FONOLÓGICA ESBOÇO VISUOESPACIAL RETENTOR EPISÓDICO EXECUTIVO CENTRAL 43 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om UNIDADE 3 - MEMÓRIA DE TRABALHO A alça fonológica participa ativamente no processamento da linguagem. Ela recebe e codificainformações verbais e acústicas. Ela é composta pelo armazenador fonológico e pela alça articulatória (BADDELEY, 2012). ALÇA FONOLÓGICA O armazenador fonológico é o componente responsável pelo armazenamentos das informações verbais, e a alça articulatória pela reprodução dessas informações Apesar de ser um componente da memória, no caso a de trabalho, a alça fonológica é um local de armazenamento das informações auditivas, de maneira temporária. Ainda assim, sua participação no desenvolvimento da linguagem é imprescindível, porque à medida que os estímulos auditivos vão sendo recebidos, processados e organizados, os códigos fonológicos vão sendo construídos de modo que os sujeitos começam a compreender e reproduzir fonemas e palavras (BADDELEY; HITCH, 2019). 44 UNIDADE 3 - MEMÓRIA DE TRABALHO ESBOÇO VISUOESPACIAL O esboço visuoespacial é também um componente de armazenamento temporário mas, nesse caso, armazenará informações visuais (BADDELEY, 2012; BADDELEY; HITCH, 2019). VISUO | ESPACIAL Por permitir aos sujeitos perceber as caracteríticas (cor, textura, tamanho, forma etc) de um objeto ou cenário Por permitir aos sujeitos perceber as trajetórias, posições, movimentos realiza- dos de um local ao outro. Dessa forma, podemos dizer que o esboço visuoespacial permite que os sujeitos se localizem nos espaços/cenários, ajuda também na identificação e localização de objetos, além de ajudar na percepção dos detalhes. 45 UNIDADE 3 - MEMÓRIA DE TRABALHO RETENTOR EPISÓDICO O retentor episódio é um componente responsável pela conexão entre vários subsistema da memória de trabalho. E, por articular várias informações entre a memória de longo prazo e a nossa percepção, ele ajuda os sujeitos a comparar informações mais antigas, armazenadas na memória de longo prazo, às informações novas que vão sendo armazenadas temporaria- mente (BADDELEY, 2012; BADDELEY; HITCH, 2019). Percepção e MemóriaPercepção e Memória Se pensarmos na importância da percepção, tanto do ponto das Neurociências quanto da teoria histórico-cultural, compreenderemos sua importância para o desenvolvimento da atenção e também da memória. Isso porque, ao perceber uma informação, por meio dos órgãos sensoriais, os sujeitos ativam sua atenção, que levará a informação até sua memória (VIGOTSKI, 2009). 46 Banco de Imagens Canva: www.canva.com Por exemplo, quando um sujeito visualiza um objeto. Ele ativa sua percepção visual que vai fazer com que ele note detalhes como: tamanho, cor, textura, função, o espaço que ocupa etc. Posteriormente, ao pensar no mesmo objeto, o sujeito pensará em sua totalidade, por meio dos detalhes percebidos anteriormente. E, quanto maior o número de detalhes percebidos, maior será nossa rede de associação (LURIA, 1981; LURIA, 2010). E, quanto maior o número de órgão sensoriais envolvidos no processo de percepção, maior será a cadeia associativa para o processo de aprendizagem. Porque os órgão sensoriais ajudam a formar uma base de associação de informações. E, quando os sujeitos conseguem articular estímulos externos às informações armazenadas na memória de longo prazo, podemos dizer que é quando sua aprendizagem está acontecendo (LURIA 1981; ARBERAS; RUGGIERI, 2019). UNIDADE 3 - MEMÓRIA DE TRABALHO É importante compreender- mos que, o pensamento se desenvolve posteriormente à percepção e experiências , que, por sua vez, antecedem a representação. 47 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om Ressaltamos que, quando falamos em memória não nos referimos apenas às informações que chegam até os sujeitos e vão para a memória de curto e, posteriormente para a de longo prazo. O processo de composição de nossas lembranças envolve diferentes tipos de memória (Figura 10). A memória de trabalho, por sua vez, é composta por alças que se comunicam com os diferentes tipos de memória para manter o processamento ativo das informações. Ou seja, articulando informações antigas a novas, para a resolução de problemas (BADDELEY, 2012; BADDELEY; HITCH, 2019). UNIDADE 3 - MEMÓRIA DE TRABALHO FIGURA 10: Memórias. 48 Memória sensorial - É uma memória de processamento rápido, que capta as informações recebidas pelos órgão sensoriais, enviando-as em seguida para a memória de curto prazo. Memória de curto prazo - Responsável pelo armazenamento temporário de uma quantidade pequena de informações, que podem variar bem rápido. Memória declarativa - Armazena informações que podem ser evocadas de forma consciente. Trata-se de memórias pessoais, que podem ter valor emocional. Memória de procedimento - Armazena procedimentos (ações motoras) para realizar tarefas. É acionada de maneira automática, independente da nossa consciência. Memória prospectiva - Armazena informações esporádicas, e não é acionada automaticamente. Memória semântica - Armazena informações sobre os conhecimentos e fatos do mundo, atuando como um dicionário interno ou enciclopédia. Memória de longo prazo - É onde as informações ficam armazenadas de maneira definitiva, podendo ser evocadas sempre que necessário. UNIDADE 3 - MEMÓRIA DE TRABALHO 49 Memória de Trabalho e a teoriaMemória de Trabalho e a teoria histórico-culturalhistórico-cultural UNIDADE 3 - MEMÓRIA DE TRABALHO A memória está ligada à percepção, e se desenvolve sob a influência de estímulos externos, mas seu constructo pode fazer parte de operações mediadas. ht tp s: // w w w .m ar xi st s. or g/ ar ch iv e/ vy go ts ky /im ag es /in de x. ht m ht tp s: // w w w .m ar xi st s. or g/ ar ch iv e/ lu ria /im ag es /in de x. ht m Para Vigotski (2009) e Luria (2015), a medida que se desenvolvem os sujeitos aprimoram sua capacidade de perceber e organizar informações, eles passam também à interpretá-las, pois elas começarão a ter maior sentido. Isso porque a percepção fará com que os sujeitos busquem por detalhes, e são os detalhes que lhes darão condições de memorizar as informações. Por exemplo, se considerarmos o esboço visuoespacial ligado à capacidade de percepção, compreenderemos que é formado um sistema complexo ligado à linguagem e também à cognição (DIAMOND, 2013). 50 https://www.marxists.org/archive/vygotsky/images/index.htm PERCEPÇÃO LINGUAGEM FUNÇÕES COGNITIVAS COMPLEXAS UNIDADE 3 - MEMÓRIA DE TRABALHO Assim, se pensarmos nesses componentes da memória de trabalho sob a perspectiva histórico- cultural nos espaços escolares, perceberemos a importância de se apresentar os conteúdos curriculares com diferentes recursos, mas, principalmente, de nos atentarmos para suas respostas e reações àquilo que lhes for apresentado. Isso porque, para nortear as práticas pedagógicas, é importante que os docentes percebam, de maneira geral, sob quais contextos os estímulos (e quais estímulos) podem ser utilizados. Vigotski (2007) e Luria (2010) nos deixam evidente a importância dessa percepção pois, os processos mentais conscientes são guiados pelas ações humanas, envolvendo também o sistema de linguagem. Ou seja, a medida que os sujeitos vão adquirindo novas experiências, vão elaborando novas e diferentes memórias e, por conseguinte, desenvolvendo/aprimorando sua linguagem. 51 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om UNIDADE 3 - MEMÓRIA DE TRABALHO TEA e Memória de TrabalhoTEA e Memória de Trabalho As pessoas com TEA podem ter o desenvolvimento da memória de trabalho prejudicado devido sua dificuldade em compreender conceitos e informações integralmente. Geralmente elas captam as informações de maneira fragmentada, se prendendo aos detalhes que mais lhe chamam a atenção (WANG et. al., 2017). informações de maneira diferente. Por exemplo, nos espaços escolares alguns estudantes com TEA conseguem fazer atividades de classificação de imagens ou de localização de figuras sem dificuldade. Entretanto, pode haver situações em que esses mesmos sujeitos não consigam realizar a tarefa proposta, por se aterema detalhes diferentes daqueles solicitados. Isso explica porque alguns sujeitos com TEA percebem, em algumas situações, detalhes que passam desapercebidas para a maioria das pessoas a sua volta. Pois eles tendem a processar as 52 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om UNIDADE 3 - MEMÓRIA DE TRABALHO Além disso, a dificuldade para integrar as informações de maneira contextualizada os impede muitas vezes de desenvolver um pensa- .mento coerente gerando, consequente-mente, falas que aparentam ser incoerentes. .O que também se explica devido a atenção difusa, dificultando a integração das informações visuais, e até mesmo as verbais dentro de um contexto para que elas façam sentido. 53 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om UNIDADE 3 - MEMÓRIA DE TRABALHO Com base na teoria histórico-cultural, o desenvolvimento da linguagem faz parte do desenvolvimento intelectual dos sujeitos. Isso porque será responsável pelas habilidades de planejar, controlar as emoções, manter o foco atencional, além de ajudar a evocar informações na memória. Dessa maneira, compreendemos que a memória de trabalho é formada pelo conjunto de experiências vivenciadas, sendo utilizada a medida que os sujeitos conseguem evocar e manipular as informações ao realizarem atividades. 54 Algumas sugestões: Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO Atividades de noção espacial - para essa atividade sugere-se que sejam disponibilizadas aos estudantes bolas de diferentes tamanhos, bambolês, bacias, entre outros recipientes de .tamanhos variados para que os estudantes possam arremessar as bolas dentro dos espaços disponibilizados. Ainda nessa categoria, podem ser realizadas brincadeiras de percurso. Para isso, precisariam ser construídos percursos para os estudantes com cones, bambolês, entre outros objetos para que eles possam se deslocar entre os obstáculos. As atividades de noção espacial são muito importantes para o desenvolvimento da memória de trabalho. Isso porque podem incentivar o esboço visuoespacial dos(as) estudantes, por estimular sua capacidade de se localizar nos espaços. Além de requerer o uso da memória de trabalho também para evocar informações que os auxilie no planejamento e elaboração de estratégias para realizar atividades de percurso. No link abaixo pode ser encontradas essa e outras sugestões para a realização desse tipo de atividade: https://novaescola.org.br/planos-de- aula/habilidades/ei02eo03 Encontre a(s) diferença(s) - para realização dessa atividade, podem ser utilizadas fichas com imagens semelhantes ao "jogo dos 7 erros", que podem ser encontradas na internet ou em aplicativos. 55 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO Mas, podem ser utilizadas imagens com poucas diferenças. Inicialmente, o(a) professor(a) pode selecionar o par de imagens para mostrar as diferenças entre uma e outra ao estudantes, estimulando-os a observar atentamente os detalhes. As atividades com imagens são importantes para estimular a memória de trabalho, por meio da percepção. Pois é a percepção que ativa a atenção evocando a memória. Além de, por meio da imagem, também estimular o esboço visuoespacial, que ajuda a analisar e comparar as imagens. Para uma descrição mais ampla e sugestões de imagens, acesse o link: https://www.soescola.com/2021/05/encontre-as- diferencas-um-jogo-para-estimular-o-desenvolvimento- infantil.html#:~:text=Tamb%C3%A9m%20ajuda%20a%20 desenvolver%20suas,a%20aten%C3%A7%C3%A3o%20e% 20a%20concentra%C3%A7%C3%A3o. Palavra dentro da palavra - para realizar esta atividade, o(a) professor(a) deverá dispor de pares de fichas com palavras e imagens. Cada par de fichas deverá conter uma palavra, cuja decomposição formará a outra palavra que estará escrita na ficha que compõe o par. Essa atividade, além de estimular a atenção e a consciência fonológica para estudantes que estão em processo de alfabetização, estimula também a memória de trabalho por meio da alça fonológica. Este componente da memória de trabalho ajuda também na memória semântica, imprescindível para o vocabulário. 56 Nos links abaixo será possível encontrar um vídeo com sugestões de palavras e figuras que podem ser utilizadas nessa atividade, e um estudo onde o jogo foi utilizado: https://www.youtube.com/watch?v=dy1ORSDi900 https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/103334 Imitar sons de animais e brincadeiras musicais - ao desenvolver essas brincadeiras, o(a) professor(a) estará explorando, junto aos estudantes, diferentes fontes sonoras. O que é importante para estimular a atenção, percepção, comunicação e estimular a alça fonológica. Para isso, o(a) professor(a) poderá dispor de fichas com imagens de animais ou cenários correspondentes a músicas que sejam do conhecimento dos estudantes. As diferentes formas como a mediação pode ocorrer nesta atividade, dependerão do nível de desenvolvimento do(a) estudante, e também de sua faixa etária. Ela pode estimular o desenvolvimento da memória de trabalho porque através da alça fonológica e do retentor episódico, ajuda a evocar informações armazenadas nas memórias de curto e longo prazo. UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO 57 UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO Com as brincadeiras musicais poderá ainda aproveitar para também realizar a troca de turno, onde cada participante canta uma parte da música. Algumas sugestões poderão ser encontradas no seguinte link: https://novaescola.org.br/planos-de- aula/habilidades/ei02ts03 Dominó - jogos de dominó são clássicos por proporcionar entretenimento a grupos de até seis participantes. Há algum tempo este jogo tem sido produzido de forma diferenciada (com letras, sílabas, palavras, imagens etc) para atender estudantes em fase de alfabetização. O modelo de jogo a ser utilizado dependerá da necessidade educacional do estudante, bem como de seu desenvolvimento e faixa etária. 58 Os jogos de dominó alfabéticos (com imagens, letras, sílabas ou palavras) ajudam a estimular a memória semântica, por meio da alça fonológica, que será ativada diante das informações verbais do jogo. O jogo de dominó clássico ou numérico (com números e quantidades) ajuda a estimular a memória de trabalho por requerer não só atenção, mas também maior nível de planejamento e estratégia. Para além disso, os jogos de dominó podem ativar também o retentor episódico, por evocar também informações armazenadas na memória de longo prazo. UNIDADE 2 - CONTROLE INIBITÓRIO 59 No link abaixo será possível encontrar diferentes sugestões de jogos para práticas inclusivas de aprendizagem, incluindo o uso do jogo de dominó: http://repositorio.unis.edu.br/bitstream/prefix/2147/1/Nath %c3%a1lia%20de%20Paiva%20Lemes.pdf, Até aqui falamos sobre o controle inibitório, que é responsável pelo controle atencional e controle comportamental. E, tendo suas capacidades atencionais e de autorregulação bem desenvolvidas, os sujeitos começam a captar melhor as informações que serão levadas para a memória. Por esse motivo, considerando os espaços educacionais, o diálogo entre a Neurociência Cognitiva e a teoria histórico-cultural é tão importante. Pois, durante uma atividade escolar, por exemplo, se o estudante perceber as informações/estímulos, ele vai se atentar, captar e processar melhor as informações que comporão o conteúdo curricular. FlexibilidadeFlexibilidade CognitivaCognitiva UNIDADE 4 60 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om Por isso, quanto maior o número de estímulos, maior será a capacidade de percepção. Com isso, seu cérebro começará a desenvolver uma rede maior de associações, ativando diferentes tipos de memória, ajudando a garantir um melhor funcionamento da memória de trabalho. Mas, como isso pode interferir na flexibilidade cognitiva? Antes de responder a essa pergunta, precisa- mos entender o queé a flexibilidade cognitiva. Trata-se de uma função executiva que é ativada nos momentos em que nos deparamos com algum desafio ou impedimento para realizar uma atividade, nos permitindo modificar nossa estratégia, ou ponto de vista (DIAMOND, 2013). UNIDADE 4 - FLEXIBILIDADE COGNITIVA É também a flexibilidade cognitiva que nos permite articular melhor informações já aprendidas, a novas informações nos processos de ensino-aprendizagem (DIAMOND; LING, 2016). No entanto, a flexibilidade cognitiva depende do bom desenvolvimento do controle inibitório e da memória de trabalho para ter seu bom funcionamento garantido (Figura 11). Isso porque, para modificar uma estratégia ou perspectiva durante a realização de uma tarefa, é importante a ativação do controle inibitório para inibir o foco . 61 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om UNIDADE 4 - FLEXIBILIDADE COGNITIVA anterior, direcionando-o para a nova estratégia, que será elaborada mediante a lembrança de experiências anteriores (METRING, 2016). Essas experiências anteriores são evocadas da memória de longo prazo para ser manipulada junto às novas informações, fazendo uso da memória de trabalho (DIAMOND, 2014; METRING, 2016). FIGURA 11: Estrutura básica de funcionamento da flexibilidade cognitiva. Isso significa que, ao se deparar com um problema, os sujeitos conseguem inibir sua ideia anterior, interrompendo ações que não funcionam, e lembrar de experiências similares para, com base nelas, elaborar novas ideias sobre como resolver o problema atual. 62 Flexibilidade e CriatividadeFlexibilidade e Criatividade UNIDADE 4 - FLEXIBILIDADE COGNITIVA Por permitir ao sujeitos alternar a perspectiva e o foco atencional com maior facilidade e velocidade, a flexibilidade cognitiva é a habilidade necessária para que possa ser desenvolvida a criatividade (DIAMOND, 2014). Basta pensarmos nos sujeitos que, diante de situações inesperadas apresentam atitudes criativas. Isso acontece porque eles conseguem com facilidade evocar e manipular suas memórias e informações com facilidade e velocidade. 63 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om Flexibilidade Cognitiva e aFlexibilidade Cognitiva e a Teoria histórico-culturalTeoria histórico-cultural UNIDADE 4 - FLEXIBILIDADE COGNITIVA Os processos mentais são ancorados pela maneira como os sujeitos refletem sobre a realidade. Essa reflexão conta também com as operações mediadas, ao longo da vida, e pelo desenvolvimento e uso da linguagem. ht tp s: // w w w .m ar xi st s. or g/ ar ch iv e/ vy go ts ky /im ag es /in de x. ht m ht tp s: // w w w .m ar xi st s. or g/ ar ch iv e/ lu ria /im ag es /in de x. ht m A teoria histórico-cultural esclarece que a atividade mental de cada sujeito é única e particular. No entanto, ressalta que ela ocorre de maneiras variadas porque dependem diretamente das condições em que os estímulos, informações e/ou recursos são fornecidos aos sujeitos. Por isso é importante que docentes, ao mediarem o conhecimento, conciliem a didática de ensino ao nível de desenvolvimento dos alunos (VIGOTSKI, 2009; LURIA, 2010). Sobre isso, ao buscarmos o trabalho de Vigotski (2007), veremos sua descrição sobre as zonas de desenvolvimento real, proximal e potencial. Ou seja, como docentes, é importante perceber e . 64 https://www.marxists.org/archive/vygotsky/images/index.htm considerar o nível de desenvolvimento das funções mentais dos nossos estudantes nos ciclos de aprendizagem. Sendo assim, os ciclos de aprendizagem completos indicam a zona de desenvolvimento real; os ciclos que são desenvolvidos ou completados com a mediação docente são considerados pertencentes a zona de desenvolvimento potencial; e o caminho que os estudantes percorrem entre uma zona e outra é chamada de zona de desenvolvimento proximal (VIGOTSKI, 2007). UNIDADE 4 - FLEXIBILIDADE COGNITIVA Segundo Vigotski (2007), a zona de desenvolvimento proximal é a que merece especial atenção, pois se trata do período mais dinâmico da aprendizagem dos estudante. In st ru m en to s m at er ia is (r ec ur so s/ m at er ia is co nc re to s) Instrum entos psicológicos (signos) Mediação MEDIAÇÃO INTERNA Isso porque é onde nós docentes temos que evocar o que nossos estudantes aprenderam anteriormente e, com uso de instrumentos materiais e psicológicos podemos mediar a aprendizagem para trabalhar aquilo que está ainda em processo de desenvolvimento e compreensão. 65 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om Os instrumentos físicos são de orientação externa. Materiais concretos/recursos que são utilizados por docentes para adequar as práticas de ensino para melhor compreensão dos estudantes. Instrumentos psicológicos são de orientação interna, os quais Vigotski (2007) chamou de signos. Segundo ele, são os signos que auxiliam na formação da mente e do comportamento dos sujeitos, e podem ser: a linguagem, a escrita, sistema de contagem etc. UNIDADE 4 - FLEXIBILIDADE COGNITIVA O que Luria (2010) nos leva a concluir sobre os instrumentos materiais e psicológicos, é sua importância para a mediação realizada por docentes nas práticas de ensino- aprendizagem. Pois à medida que são utilizados diferentes instrumentos e a linguagem dos estudantes se aprimora, é que eles começam a realizar a mediação interna, elaborando as próprias estratégias para a resolução de problemas, e se adaptar melhor a diferentes contextos. Tornando- se mais flexíveis cognitivamente (VIGOTSKI, 2008; LURIA, 2015). 66 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om UNIDADE 4 - FLEXIBILIDADE COGNITIVA TEA e Flexibilidade CognitivaTEA e Flexibilidade Cognitiva A flexibilidade cognitiva depende diretamente do desenvolvimento do controle inibitório e da memória de trabalho. Por esse motivo, essa função executiva é considerada uma das mais difíceis de se intervir em pessoas com TEA (GEURTS; .CORBETT; SOLOMON, 2009; DIAMOND, 2013;). Ainda assim, é importante esclarecer que o comprometi- .mento em seu desenvolvimento, como pode ser entendido por muitos, não deve ser considerado uma característica comum a todas as pessoas com TEA. Pois, assim como afirmam alguns autores, devemos considerar que muitas pesquisas sobre o desenvolvimento da flexibilidade cognitiva em pessoas com TEA têm como base testes realizados em ambientes de controle (consultórios ou laboratórios, por exemplo). Ou seja, em atividades cotidianas esses sujeitos podem demonstrar flexibilidade (GEURTS; CORBETT; SOLOMON, 2009). 67 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om UNIDADE 4 - FLEXIBILIDADE COGNITIVA No entanto, devido o déficit no desenvolvimento da linguagem, e consequente prejuízo na comunicação, pessoas com TEA podem ter dificuldade no uso de elementos da linguagem para que a fluência na comunicação seja mantida. Além disso, a flexibilidade cognitiva também é responsável pela articulação realizada entre os assuntos aprendidos para a construção do conhecimento (VIGOTSKI, 2008; LEUNG; ZAKZANIS, 2014; LURIA, 2015). Sobre isso, devemos considerar também os estímulos e ambientes de convívio das pessoas com TEA. Nos espaços escolares, por exemplo, os déficits nas habilidades sociocomunicativas podem prejudicar seu processo de aprendizagem. Por isso, é importante que professores(as) estejam atentos(as) à maneira como as atividades serão apresentadas a esses estudantes, bem como os recursos utilizados. 68 UNIDADE 3 - MEMÓRIA DE TRABALHO Ao pensar na flexibilidade cognitiva sob a perspectiva da teoria histórico-cultural, devemos considerar, principalmente, o que Vigotski chamou de zona de desenvolvimento proximal. Período no qual a mediação com uso de materiais concretos e signos é fundamental para que os sujeitos possam ser estimulados a elaborar estratégias que formarão seu conhecimento. Para, dessaforma, conseguirem realizar mediações internas, desenvolvendo o que a Neurociência cognitiva denomina flexibilidade cognitiva. 69 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om Algumas sugestões: Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om Brincadeira com fantoches para contar uma história - para realizar essa atividade, o(a) professor(a) pode fornecer ao aluno fantoches, dedodoches ou desenhos com personagens colados em palitos de picolé. A atividade pode ocorrer, inicialmente de forma livre, para que os estudantes possam se familiarizar om o material fornecido e elaborar suas próprias histórias. O(a) professor(a) . UNIDADE 4 - FLEXIBILIDADE COGNITIVA pode ainda utilizar personagens que sejam de interesse dos estudantes para aumentar seu engajamento. Em outro momento, o(a) professor(a) poderá também, apresentar uma proposta de história para que os estudantes a desenvolvam ou deem continuidade. Brincar com fantoches é uma atividade interessante para estimular a flexibilidade cognitiva porque, além de estimular a oralidade dos estudantes, também incentiva o uso da criatividade. E, por meio da contação de histórias, podem ser exploradas diferentes situações e até mesmo a resolução de problemas, que requeiram a mudança de perspectiva. Essa atividade pode ser desenvolvida em contextos variados para abordar diferentes assuntos, como pode ser observado através dos links abaixo: https://repositorio.ipcb.pt/handle/10400.11/1609 https://www.scielo.br/j/ep/a/bdS9KRXMQLDCMmnRcwzz yJN/abstract/?lang=pt 70 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om UNIDADE 4 - FLEXIBILIDADE COGNITIVA Completar desenhos a partir de figuras e linhas - desenhos livres ajudam a estimular o pensamento criativo dos estudantes, trabalhar a representação do que aprende e observa, auxiliando até mesmo em sua comunicação. Os desenhos realizados com a mediação/interferência de professores(as) também proporcionam o mesmo, no entanto, a criatividade da criança também envolverá o uso de estratégias próprias para que a figura seja completada, além de trabalhar as noções de percepção espacial de maneira mais direcionada. Nesse caso, o(a) professor(a) deverá fornecer aos estudantes folhas com desenhos (de fácil identificação) pela metade, ou faltando partes a serem completadas, ou folhas com colagens de elementos (folhas mortas, figuras geométricas, partes do corpo etc) que estimulem os estudantes a completar as imagens utilizando sua imaginação, ou com um direcionamento específico do(a) professor(a). Além das folhas, podem ser fornecidos aos estudantes lápis, borracha, régua e materiais para colorir. A atividade ajuda a estimular a flexibilidade cognitiva porque o(a) estudante precisará usar sua criatividade para completar os desenhos, além de fazer uso da percepção espacial, para realizar o desenho nas dimensões adequadas. Nos links a seguir, podemos encontrar maiores esclarecimentos e sugestões sobre a importância dos desenhos realizados a partir de figuras e linhas: https://www.poderdascores.mundobic.com.br/atividades /atividade-de-criatividade/ http://culturainfantilearte.blogspot.com/2013/06/desenh o-infantil-observar-compreender-e.html 71 Massa de Modelar ou argila - brincadeiras com massa de modelar ou argila são muito utilizadas com estudantes da Educação Infantil para que sejam estimulados/aprimorados os movimentos motores finos, ensinar cores, formas etc. Mas, além disso, o uso desses materiais pode também ajudar na criatividade dos(as) estudantes e, consequentemente, sua flexibilidade cognitiva pois, da mesma forma que os desenhos, ajuda a criança a fazer representações do que conhece, quando esta faz a representação de um bolo de aniversário, uma bola de futebol, uma boneca etc. As brincadeiras com massa de modelar ou argila também podem acontecer com a mediação de um adulto, fazendo com que o(a) estudante trabalhe sua flexibilidade ao montar objetos específicos, modelar expressões faciais, ou até contar histórias, por exemplo. Para realizar essas atividades, bem como a forma de mediação, é importante considerar o nível de desenvolvimento do estudante bem como a faixa etária. UNIDADE 4 - FLEXIBILIDADE COGNITIVA 72 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c omCaso o(a) professor(a) opte pelo uso da massa de modelar, é importante oferecer massas de cores variadas, e uma boa definição dos objetivos que se deseja alcançar na aula. No .caso do uso da argila, poderão ser oferecidas tintas e pincéis para que o estudante possa pintar a imagem que modelar. UNIDADE 4 - FLEXIBILIDADE COGNITIVA Jogo Uno - o Uno é um jogo muito conhecido e utilizado por crianças, adolescentes e adultos. Mas, seu conjunto de regras envolve uma complexidade que pode representar um elevado grau de dificuldade para estudantes com NEE. Nem por isso, o jogo deve ser descartado como recurso para estimular o desenvolvimento da atenção, do pensamento lógico, estimular e a capacidade de espera. Podendo ser um grande aliado no estímulo ao desenvolvimento da flexibilidade cognitiva, o jogo Uno estimula a elaboração de estratégias quando os jogadores têm a oportunidade de escolher as cores a jogar, e mudar de perspectiva dependendo das cartas que tirarem ou que forem lançadas pelos demais jogadores. Ao explorar o jogo, o(a) professor(a) poderá estabelecer as regras iniciais por pareamento de cores e números, por exemplo. Utilizando as cartas de "bloqueio" e de "inversão" como formas de estimular a mudança de estratégia. 73 Abaixo podem ser encontradas algumas sugestões e orientações sobre como explorar esse rico material: https://novaescola.org.br/planos-de-aula/educacao- infantil/creche/brincadeiras-com-massinha/3406 https://novaescola.org.br/planos-de-aula/educacao- infantil/pre-escola/o-que-mais-tem-na-rua-uma- historia-contada-com-massinha/3890 UNIDADE 4 - FLEXIBILIDADE COGNITIVA Através dos links abaixo, poderão ser encontradas algumas sugestões de aplicação e informações adicionais sobre o Uno: https://www.youtube.com/watch?v=N-bs3jQU1Vc http://www.sbgames.org/sbgames2013/proceedings/cd/_ Silvia%20Trentin_CD_2013.pdf 74 Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om Jogos de Tabuleiro - jogos de tabuleiro costumam ser um clássico divertimento para muitas famílias e estudantes, e podem ser usados por pessoas de diferentes idades. Jogos como xadrez, damas, Banco Imobiliário, Jogo da Vida, Jogo da Velha, entre outros, podem ser considerados recursos lúdicos para estimular a espera e a atenção. Além disso, os jogos de tabuleiro também estimulam a flexibilidade cognitiva, através da elaboração de estratégias e pela necessidade de mudança de perspectiva, que pode ocorrer devido às jogadas dos oponentes. No link abaixo podemos encontrar a descrição de um trabalho realizado com estudantes com NEE, fazendo uso de jogos de tabuleiro: https://diversa.org.br/relatos-de-experiencias/jogos-de- tabuleiro-versao-gigante-desenvolvem-raciocinio-logico- alunos/ Ba nc o de Im ag en s Ca nv a: w w w .c an va .c om Através dos links abaixo, poderão ser encontradas algumas sugestões de aplicação e informações adicionais sobre o Uno: O conteúdo apresentado neste material não faz parte de um manual de práticas para educadores que atendam estuantes como NEE. Pois, é importante compreendermos que a educação inclusiva só acontece por meio de práticas reflexivas e flexíveis. Ou seja, é importante que os docentes tenham, sim, pontos de partida por meio de reflexões teóricas e trocas de experiência para que possam ampliar suas práticas pedagógicas a partir de seus próprios conhecimentos didáticos e metodológicos. Mas, acima de tudo, seus conhecimentos sobre os estudantes aos quais desejam ensinar. Nesse sentido, é imprescindível que professores(as) assumam o papel de mediadores pedagógicos em suas práticas, observando os avanços, habilidades e potencialidades discentes para que possam realizarseu planejamento com práticas mais assertivas e, ao mesmo tempo, flexíveis. Para pensarmos... 75 Referências Bibliográficas ABBOTT, A. E. et al. Patterns of Atypical Functional Connectivity and Behavioral Links in Autism Differ between Default, Salience, and Executive Networks. Cerebral Cortex, v. 26, n. 10, p. 4034–4045, 2016. 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