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se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo. < De Alguma poesia (1930) São frequentes nessa seção o sentimento de abandono e desesperança, a solidão em meio à multidão, a encruzilhada do homem, o beco sem saída para os problemas existenciais: Meu Deus, por que me abandonaste (“Poema de sete faces”) Perdi o bonde e a esperança Volto pálido para casa. (“Soneto da perdida esperança”) Estou só, sem amigo (“A bruxa”) A injustiça não se resolve. À sombra do mundo errado murmuraste um protesto tímido (“Consolo na praia”) E como reage o indivíduo a tantos reveses, a tanta incompreensão, a tanta falta de perspectiva? Apesar de tudo, há que resistir, há que buscar uma saída: Você marcha, José! / José, para onde? (“José”). Há que desabafar, pelo menos, fazer confidências: Companheiros, escutai-me! (“A bruxa”). Ninguém me fará calar, gritarei sempre (“Idade madura”). Há que se conquistar a eternidade: Entretanto há muito tempo nós gritamos: sim! ao eterno. (“Soneto da perdida esperança”). Se nada é possível fazer, há os consolos já feitos, que podem embalar o sono do homem: Mas a vida não se perdeu... o coração continua... tens um cão... e o humour?... virão outros... (“Consolo na praia”). No meio de tanta sujeira, injustiça, no meio de tanto ódio pode haver algum consolo: 101