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é a vida que palmilhamos em caminho tortuoso, é um dar sem dar, viver sem viver. Vida insossa, que utilidade há em juntar os cacos do passado, de tão frágeis que eles são? São as negações, hesitações do ser humano, o ser não sendo, o estar não estando, o riso das contradições da vida: Fonte [10] Tão errado, esse mundo nosso, que Deus se pergunta no céu se teria sido certo criá-lo, e fica triste por sentir que a resposta é mais para não do que para sim. Já que nosso mundo é torto, pode-se tentar estar também em outros mundos; no mundo, por exemplo, da poesia, levado pela contemplação, ou no mundo da memória, como em "A um hotel em demolição": Vai, Hotel Avenida, vai convocar teus hóspedes no plano de outra vida. Se o mundo não vale a pena, vale construir um outro feito de palavras, reservando este para quem o quiser viver: Meu bem, usemos palavras. Façamos mundos: ideias. Deixemos o mundo aos outros já que o querem gastar. Ele, entretanto, resiste e insiste em continuar sendo mundo, sem se sentir ameaçado pela poesia: Pois deixa o mundo existir! Irredutível ao canto, superior à poesia, rola, mundo, rola, mundo, rola o drama, rola o corpo. ("Rola mundo") A busca de uma "Vida menor" contém o desejo de simplificação da vida num estado de paz e descanso (Não a morte, contudo), sem 120