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Habeas Corpus com Pedido de Liminar

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO COLENDO 
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA 
 
 
Origem: UNIDADE REGIONAL DE DEPARTAMENTO ESTADUAL 
DEEXECUÇÃO CRIMINAL DEECRIM 6ª RAJ 
PEC nº: xxxxxx 
Impetrante: Fernanda Paula Sousa Cruz 
Paciente: xxxxx 
Autoridade Coatora: Ministro do Superior Tribunal de Justiça 
 
 
FERNANDA PAULA SOUSA CRUZ, brasileira, casada, advogada inscrita na 
OAB/SP sob o nº400.678, com escritório de advocacia na Rua Dr. Marrey Junior, 
nº 2305, sala 8, CEP 14400-830, Franca/SP, com fundamento no artigo 5 º, 
LXVIII, da Constituição Federal, e nos artigos 647 e 667 do Código de Processo 
Pena, vêm respeitosamente, imperar o presente 
 
 
 HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR 
 
 
Em favor de xxxxxxxxxxx, atualmente recluso na Penitenciária de 
Franca/SP. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. DOS FATOS: 
 
1. O sentenciado cumpre pena pelas condenações presentes no 
processo de execução penal de nº 0002856-74.2018.8.26.0496. 
2. Contudo, durante o cumprimento de sua pena, teria cometido uma 
falta e, em razão disso, foi instaurado procedimento para apurar a 
responsabilidade do sentenciado pela prática de falta disciplinar de natureza 
grave, supostamente ocorrida em 05/01/2020, cuja gravidade foi reconhecida 
judicialmente. 
3.Importante ressaltar que não ocorreu a devida oitiva do 
sentenciado em sede judicial, de forma que uma decisão judicial quanto ao 
processo administrativo se mostra ilegítima diante da falta desta oitiva. 
 
2. DO DIREITO: 
2.1 DA NECESSÁRIA AUDIÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO: 
 
1.Primeiramente, urge ressaltar a nítida lesão ao princípio 
constitucional da ampla defesa, tendo em vista que o Paciente não foi ouvido em 
momento algum acerca dos fatos, NA PRESENÇA DO JUIZ, não podendo 
apresentar sua versão do ocorrido. 
2. Sendo assim, requeremos a efetiva designação de audiência de 
justificação, nos termos do art. 118, §2º da Lei de Execução Penal, a fim de 
oportunizar ao sentenciado o exercício em juízo de seu direito à autodefesa, 
tendo em vista o caráter jurisdicional do procedimento de execução penal, 
consagrado no art. 194 da mesma lei. 
3.Assim decide o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo: 
 
1. AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. Recurso 
defensivo. 2. Falta Grave. Sindicância. Irregularidades. 
Não verificação. 3. Falta Grave. Prescrição. 
Semestralidade prevista na Lei 8.112/90 e lapso de doze 
meses constante de decretos presidenciais concessivos de 
indulto e de comutação de penas. Não aplicação. 
 
 
Inocorrência da causa extintiva da punibilidade. 4. Falta 
grave. Abandono do cumprimento de pena em regime 
semiaberto. Inobservância do art. 118, § 2º, da LEP. 
Nulidade. Ocorrência. Dz[...] Diante da natureza 
indiscutivelmente jurisdicional do processo de 
execução, conforme previsto no art. 2º da LEP, é evidente 
que a prévia oitiva do condenado deve ocorrer em 
juízo, sob as garantias constitucionais processuais do 
contraditório e da ampla defesa, não sendo suprida 
pelas declarações do sentenciado na esfera 
administrativa, como verificado no presente casodz. ȋTJ-
SP. Agravo em Execução Penal de nº 7003680-
87.2017.8.26.0482. 12ª Câmara de Direito Criminal. Rel. 
Des. Carlos Vico Mañas. J. 02/08/2017) – destaque nosso. 
 
 
EMENTA: AGRAVO EM EXECUÇÃO - APURAÇÃO DE 
FALTA GRAVE - PRELIMINAR DE NULIDADE - 
INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE REALIZAÇÃO DE 
AUDIÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO - OCORRÊNCIA DE 
CERCEAMENTO DE DEFESA - HOMOLOGAÇÃO DE 
FALTA GRAVE COM BASE APENAS NO PAD - 
APURAÇÃO JUDICIAL DA FALTA GRAVE - 
IMPRESCINDIBILIDADE - PROCEDIMENTO 
ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR QUE NÃO SUPRE A 
FASE JUDICIAL - AUDIÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO - 
NECESSIDADE - PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E 
DA AMPLA DEFESA - DECISÃO CASSADA - 
PRELIMINAR ACOLHIDA - PREJUDICADA A ANÁLISE 
DO MÉRITO RECURSAL. EMENTA: AGRAVO EM 
EXECUÇÃO - APURAÇÃO DE FALTA GRAVE - 
PRELIMINAR DE NULIDADE - INDEFERIMENTO DO 
PEDIDO DE REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE 
JUSTIFICAÇÃO - OCORRÊNCIA DE CERCEAMENTO DE 
 
 
DEFESA - HOMOLOGAÇÃO DE FALTA GRAVE COM 
BASE APENAS NO PAD - APURAÇÃO JUDICIAL DA 
FALTA GRAVE - IMPRESCINDIBILIDADE - 
PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR QUE 
NÃO SUPRE A FASE JUDICIAL - AUDIÊNCIA DE 
JUSTIFICAÇÃO - NECESSIDADE - PRINCÍPIOS DO 
CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA - DECISÃO 
CASSADA - PRELIMINAR ACOLHIDA - PREJUDICADA A 
ANÁLISE DO MÉRITO RECURSAL EMENTA: AGRAVO 
EM EXECUÇÃO - APURAÇÃO DE FALTA GRAVE - 
PRELIMINAR DE NULIDADE - INDEFERIMENTO DO 
PEDIDO DE REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE 
JUSTIFICAÇÃO - OCORRÊNCIA DE CERCEAMENTO DE 
DEFESA - HOMOLOGAÇÃO DE FALTA GRAVE COM 
BASE APENAS NO PAD - APURAÇÃO JUDICIAL DA 
FALTA GRAVE - IMPRESCINDIBILIDADE - 
PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR QUE 
NÃO SUPRE A FASE JUDICIAL - AUDIÊNCIA DE 
JUSTIFICAÇÃO - NECESSIDADE - PRINCÍPIOS DO 
CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA - DECISÃO 
CASSADA - PRELIMINAR ACOLHIDA - PREJUDICADA A 
ANÁLISE DO MÉRITO RECURSAL. EMENTA: AGRAVO 
EM EXECUÇÃO - APURAÇÃO DE FALTA GRAVE - 
PRELIMINAR DE NULIDADE - INDEFERIMENTO DO 
PEDIDO DE REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE 
JUSTIFICAÇÃO - OCORRÊNCIA DE CERCEAMENTO DE 
DEFESA - HOMOLOGAÇÃO DE FALTA GRAVE COM 
BASE APENAS NO PAD - APURAÇÃO JUDICIAL DA 
FALTA GRAVE - IMPRESCINDIBILIDADE -- 
PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR QUE 
NÃO SUPRE A FASE JUDICIAL - AUDIÊNCIA DE 
JUSTIFICAÇÃO - NECESSIDADE - PRINCÍPIOS DO 
CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA - DECISÃO 
CASSADA - PRELIMINAR ACOLHIDA - PREJUDICADA A 
 
 
ANÁLISE DO MÉRITO RECURSAL - A realização do PAD 
não supre a integral apuração judicial de eventual falta 
grave praticada pelo reeducando, devendo ser 
designada a audiência de justificação - A apuração da 
falta grave deve ser realizada por meio de 
procedimento com plena defesa e contraditório, nos 
moldes do processo penal - Preliminar de nulidade 
acolhida. Prejudicada a análise do mérito recursal. (TJ-MG 
- AGEPN: 10481160003192001 Patrocínio, Relator: 
Doorgal Borges de Andrada, Data de Julgamento: 
24/06/2020, Câmaras Criminais / 4ª CÂMARA CRIMINAL, 
Data de Publicação: 26/06/2020) 
 
4. Ainda, tendo em vista que a decisão administrativa que reconhece 
a falta grave não vincula o juiz da execução, requeiro efetiva análise e julgamento 
do mérito do procedimento disciplinar. 
5. Com efeito, ouvido em sede administrativa, o acusado afirma que 
o objeto apreendido não estava escondido, mas que estava às vistas dos 
agentes o tempo todo, uma vez que se destina UNICAMENTE ao reparo de 
bancos. Nesse sentido, toda a situação se trata de um mal-entendido entre os 
envolvidos. 
6. O depoimento, mesmo que ainda em sede administrativa, deve 
possuir presunção de veracidade– o que não afasta a obrigatoriedade de ser 
ouvido em sede judicial, como já pedido. Ainda, sobre o réu recai a presunção 
de inocência, até que se cabalmente provado o contrário. 
7. Aduz-se assim a mera probabilidade da imputação pela indução ou 
presunção dos agentes penitenciários, além da não comprovação da 
especificidade do material apreendido. 
8. As fotos do objeto anexadas ao processo são de péssima 
qualidade, não podendo sequer ser apurada a possível ameaça que ele poderia 
ocasionar. Pelas fotos, sequer podemos saber de que objeto se trata. 
Vejamos: 
 
 
 
 
 
 
 
 
9. Sendo assim, não há como confirmar que se tratava do objeto que 
os agentes penitenciários afirmam que se trata – podendo ser um objeto que não 
representa nenhuma periculosidade. 
10. A questão é que, diante da falta de provas inteligíveis não é 
possível confiar cegamente na palavra dos instauradores do processo 
disciplinar. 
11. Da mesma forma, os objetos não foram periciados. 
12. Assim, inexistentes quaisquer outros elementos de convicção a 
não ser a palavra dos agentes penitenciários, tem-se um conjunto probatório 
frágil e insuficiente para embasar a aplicação de qualquer penalidade, uma vez 
que o haviamvários sentenciados presentes capazes de comprovarem ou não 
o suposto fato. 
13. É certo que, à luz do princípio da presunção de inocência, a versão 
do acusado só pode ser afastada quando existentes elementos consistentes a 
 
 
contradizê-la, o que aqui não ocorreu, sobretudo tendo em vista que nenhuma 
outra testemunha foi ouvida, embora houvessem diversos indivíduos presentes 
no local. 
14. Verifica-se, assim, que, não tendo realizado as diligências 
necessárias para adequadamente apurar o ocorrido, a autoridade administrativa 
não se desincumbiu do ônus de demonstrar a culpa do sindicado quantos aos 
fatos narrados, motivo pelo qual sua absolvição é de rigor. 
15. Portanto, requer-se a nulidade da decisão que homologou a 
falta grave, sem audiência de justificação para oitiva do sentenciado. 
 
2.2 AFASTAMENTO DAS GRAVES CONSEQUÊNCIAS: FALTA É LEVE! 
 
1. Ainda, merece atenção especial o fato de que a falta imputada ao 
reeducando é de natureza LEVE, e não de natureza grave como foi estabelecido 
no procedimento administrativo disciplinar. 
2. Consta do procedimento que, no dia 05 de janeiro de 2020, ao 
realizar o procedimento de “blitz aleatória”, localizou no fundo do banheiro, 
dentro de um saco plástico, dois cabos artesanais, um de madeira e outro de 
plástico, ambos uma ponta de ferro afiadas. 
3. Com efeito, ouvido em sede administrativa, E SE TIVESSE SIDO 
OUVIDO EM JÚIZO, teria tido a oportunidade de se JUSTIFICAR, o paciente 
afirmou que o objeto apreendido não estava escondido, mas que estava às vistas 
dos agentes o tempo todo, uma vez que se destina UNICAMENTE ao reparo de 
bancos. Nesse sentido, toda a situação se trata de um mal-entendido entre os 
envolvidos. 
4. Contudo, ainda assim, podemos facilmente verificar que a conduta 
do reeducando se encaixa no que foi descrito pelo art.44, inciso IV: 
 
Artigo 44: Consideram-se faltas disciplinares de natureza 
leve: [...] IV–manusear equipamento de trabalho sem 
autorização ou sem conhecimento do responsável, 
mesmo a pretexto de reparos ou limpeza. 
 
 
 
 
3. Ainda, a falta atribuída ao reeducando poderia, no máximo, ser, 
subsidiariamente, entendida como falta de natureza MÉDIA, incidindo no art. 
45, inciso II: 
 
Artigo 45 Consideram- se faltas disciplinares de natureza 
média: [...] II –portar material cuja posse seja proibida. 
 
4. Portanto, é de suma importância que a falta grave imputada ao 
reeducando seja desclassificada para falta de natureza LEVE, ou, no 
máximo, MÉDIA. 
 2.3 DA PRESERVAÇÃO DOS DIAS REMIDOS: 
Sufraga o paciente o entendimento de que a falta grave não gera a 
perda dos dias remidos, mormente, quando tal pena não foi cominada por ocasião 
da regressão obrada pelo termo de audiência. 
Nada tendo sido deliberado na audiência de justificativa de falta grave– 
a qual redundou na alteração da data base do reeducando ante a falta grave 
cometida – tem-se que foi assegurado ao apenado o cômputo dos dias remidos, 
passando a incorporar seu patrimônio pessoal. 
 
A calhar com o aqui expendido, transcreve-se a mais nitiscente 
jurisprudência, digna de compilação ainda que parcial: 
TACRSP: "O cometimento de falta grave que gerou severa 
punição administrativa não deve impedir a concessão da 
remição dos dias trabalhados, se o reeducando apresenta 
boa conduta carcerária, pois negar-lhe o benefício seria, 
além de grande desestímulo, uma quebra da correlação que 
deve existir entre o acontecido e a resposta estatal 
respectiva". (RJDTACRIM 41/71) 
 
 
De resto, a perda dos dias trabalhados implica em dupla punição, visto 
que pela falta grave já amargou a alteração da data base. 
Assim, a persistir o despacho hostilizado estar-se-á consagrando e 
dando curso ao bis in idem, na medida que por um único fato gerador (falta 
grave), temos a incidência de duas medidas penalizadoras, o que afronta de forma 
fidagal e visceral a tríade lógica, axiológica e jurídica. 
Nesta senda afigura-se obrigatório o decalque, ainda que parcial, da 
explicação feita pelo Professor PAULO LÚCIO NOGUEIRA, São Paulo, 1994, 
Editora Saraiva, onde à folha 176, aduz: 
"O ilustre Procurador do Estado Rui Carlos Machado Alvim, 
em trabalho sobre o assunto, chega à conclusão de que ‘o 
cometimento de uma falta grave não tem o Dom de eliminar 
todo o período remicional anterior: há que buscar- se certa 
polaridade temporal entre a data da realização da falta 
grave e o período remido anteriormente’. 
 
"Também os citados autores Odir da Silva e José Boschi 
chegam a dizer que ‘ofende a nossa consciência jurídica e 
o nosso sentimento de justiça a solução preconizada pela 
lei’. 
"Realmente, embora a falta grave implique um regime 
regressivo para o condenado, nem por isso o impedirá de 
continuar trabalhando, tanto no regime fechado como no 
semi-aberto, não havendo assim razão para que perca o 
tempo remido pelo trabalho, o que constitui verdadeiro 
desestímulo ao condenado e injustiça ao seu esforço 
laborativo. Melhor seria que lhe fosse aplicada somente uma 
sanção disciplinar, mas não perder o tempo remido, o que não 
deixa de ser desanimador." 
Logo, mostra-se inabalável a necessidade de modificar a decisão aqui 
fustigada, para o efeito de garantir-se ao agravante o cômputo dos dias 
. 
 
 
laborados no Presídio, como forma de incentivo e incremento ao fim teleológico 
da pena que é o da ressocialização do apenado, e não de sua vexação, humilhação 
e degradação. 
Consequentemente, a decisão guerreada, por se encontrar lastreada em 
premissas inverossímeis, estéreis e claudicantes, clama e implora por sua 
retificação, missão esta, reservada aos Sobre eminentes Desembargadores, que 
compõem essa Augusta Câmara Criminal. 
 
3. DO PEDIDO LIMINAR: 
 
A concessão da medida é de rigor. Verifica-se a existência do 
periculum in mora, pois grave e irreparável está sendo o dano causado ao coacto 
que está indevidamente sofrendo as consequências da falta grave, sem ter sido 
ouvido judicialmente. O fumus boni iuris está presente, haja vista a plausibilidade 
do que foi alegado na impetração, com base em remansosa jurisprudência. 
Diante do exposto, requer-se, concedida a liminar, determinando a 
anulação da falta aplicada ao paciente, bem como para designação de audiência 
de justificação para sua oitiva. 
 
4. DOS PEDIDOS: 
 
Diante do exposto, requer de Vossa Excelência a concessão da 
ordem de Habeas Corpus, após serem apresentadas as informações pela 
autoridade coatora, a fim de designar audiência de justificação. 
Ao final, requer o processamento da Ordem para desconsiderar a falta 
anotada no prontuário do Paciente. 
De maneira subsidiária, requer-se a desclassificação da falta grave 
para a falta média ou leve. 
. 
 
 
Caso, ainda assim não se entenda, requer-se a preservação dos dias 
remidos, ante a ausência de decisão nestes autos determinando a perda. 
 
Franca, 22 de outubro de 2020. 
 
FERNANDA PAULA SOUSA CRUZ 
OAB/SP 400.678

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