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Planejamento e Gestão de Espaços Psicopedagógicos Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Rutinéia Cristina Martins Revisão Textual: Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos Psicopedagogia Escolar: O Planejamento Psicopedagógico Frente à Gestão Psicopedagogia Escolar: O Planejamento Psicopedagógico Frente à Gestão • Caracterizar a escola como um espaço de intervenção psicopedagógica; • Verificar como se dá a atuação do psicopedagogo como um gestor escolar e como ocorre a gestão compartilhada com os outros gestores; • Entender como o planejamento psicopedagógico é inserido nas necessidades da escola. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • A Escola como Espaço de Intervenção Psicopedagógica; • O Psicopedagogo como Gestor e a Gestão Compartilhada; • Planejamento Psicopedagógico Frente às Necessidades da Escola. UNIDADE Psicopedagogia Escolar: O Planejamento Psicopedagógico Frente à Gestão Contextualização Turma do Balão Mágico (ou simplesmente Balão Mágico) é uma banda de música infantil brasileira da década de 1980. Originou o programa infantil Balão Mágico na Rede Globo (1983- 1986). Seus álbuns venderam mais de 10 milhões de cópias no Brasil. O grupo lançou 5 álbuns, sendo uma das maiores bandas infantis da história do Brasil. Emplacou muitas músicas de sucesso, sendo as mais famosas Amigos do Peito, Superfantástico e Ursinho Pimpão. Outras músicas que ficaram na lembrança foram Baile dos Passarinhos, É Tão Lindo, Se Enamora, Tia Josefina, Barato Bom é da Barata e Tic-Tac. Leia e ouça esta bela canção gravada pelo grupo Balão Mágico em 1983: Amigo e compa- nheiro Disponível em: https://bit.ly/3sk0kuM Os autores citam uma relação de amizade entre colegas de colégio e afirmam que a escola é a luz que ilumina o caminho da gente, ou seja, trazem gratas lembranças dos tempos escolares. Com a escolarização obrigatória, passamos grande parte das nossas vidas na escola, são pelo menos 14 anos entre Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Época de crescimento, desenvolvimento, frustrações, alegrias, aprendi- zagens e também dificuldades. Por tratar de aprendizagens e das dificuldades que podem surgir nesse processo, a escola é um dos principais espaços de atuação psicopedagógica. Assim, como o profis- sional gerencia o seu trabalho na instituição escolar? Como planeja suas intervenções nesse espaço? Vamos conhecer um pouco? 8 9 A Escola como Espaço de Intervenção Psicopedagógica A escola é a instituição criada para socialização do saber. Na concepção de Visca (1987, p. 78), é onde se realiza a aprendizagem sistemática: [...] aquela que se opera na interação com as instituições educativas, media- doras da sociedade, órgãos especializados para transmitir os conhecimentos, atitudes e destrezas que a sociedade estima para necessárias para a sobrevi- vência, capazes de manter uma relação equilibrada entre identidade e mudan- ça. Essas instituições, além disso, provêm ao sujeito as aprendizagens instru- mentais que irão permitir o acesso a níveis mais elaborados de pensamento. Figura 1 – Escola Fonte: Getty Images Por conta dessa importância enquanto local que viabiliza a aprendizagem, a escola é um sujeito do trabalho do psicopedagogo. Não é um sujeito enquanto pessoa, mas na condição de conjunto de pessoas que deve ser estudado e analisado para que se possa oferecer o melhor atendimento individual e coletivo. Essa atuação pode ocorrer nos se- guintes contextos (BOSSA, 2000, p. 89): • Diagnóstico e busca da identidade da escola: o diagnóstico das aprendizagens e de outras necessidades da escola tem como objetivo buscar dados para o planeja- mento de ações para a instituição, em geral e especificamente para alunos que reque- rem maior atenção ou estratégias diferenciadas para construção de conhecimentos; • Priorização de projetos diversos: para atender aos diferentes grupos etários e necessidades de aprendizagem; • Instrumentalização de professores, coordenadores, orientadores e diretores so- bre práticas e reflexões diante do processo de aprender: momento de formação continuada em que o psicopedagogo orienta a equipe escolar sobre as particularida- des das aprendizagens dos alunos de determinada escola. Sendo assim, a pauta des- sas orientações é composta de esclarecimentos sobre como promover boas situações didáticas para alunos com transtornos, distúrbios e dificuldades de aprendizagem; 9 UNIDADE Psicopedagogia Escolar: O Planejamento Psicopedagógico Frente à Gestão • Reprogramação curricular, implantação de programas e sistemas avaliativos: em conformidade com o ritmo e as características da aprendizagem do grupo, bus- cando atender aqueles que estão dentro das expectativas de aprendizagem, ou seja, aqueles que têm conhecimentos compatíveis com o ano em que estão. Junta-se a isso a preocupação em atender aqueles que estão além das aprendizagens dos de- mais e aqueles que estão em ritmo mais lento ou precisam de estratégias diferentes para alcançar os objetivos propostos; • Oficinas para vivências de novas formas de aprender: referem-se à elaboração de atividades para fomentar o desempenho cognitivo dos alunos atendidos pelo psicopedagogo por apresentarem dificuldades de aprendizagem. São atividades di- ferentes daquelas preparadas por professores para ministrarem em sala de aula; • Análise de conteúdo e reconstrução conceitual: no sentido de verificar se o conte- údo é significativo para todos os alunos ou se é preciso que haja um processo de res- significação para aqueles que não conseguem apreendê-lo de maneira convencional; • Releitura, ressignificando sistemas de recuperação e reintegração dos alunos no processo: de modo que consigam aprendizagens essenciais de cada conteúdo, conseguindo dar aplicabilidade a ele; • Mediação da promoção do diálogo entre família e escola, tendo em vista que ambas precisam trocar informações e serem parceiras para o sucesso de todos os alu- nos, principalmente daqueles que estão em atendimento psicopedagógico por pos- suírem peculiaridades na aprendizagem, em que cada detalhe revelado pode ajudar. Epistemologia Convergente A Epistemologia Convergente, teoria elaborada pelo argentino Jorge Visca (1935-2000), pro- cura compreender a contribuição dos aspectos afetivos, cognitivos e do meio socioeduca- cional no processo da aprendizagem do indivíduo e as possíveis dificuldades apresentadas, tendo como base a integração dos conhecimentos da psicologia genética, da psicanálise e da psicologia social. A articulação entre as dimensões afetivas e cognitivas do indivíduo só se completa no estabelecimento da relação contínua dessas dimensões com o meio onde o indivíduo vive, formando uma unidade, um sistema com características únicas. É nesse pa- tamar que o psicopedagogo precisa atuar, ou seja, propiciar condições para que o aprendiz construa seu conhecimento tomando como referencial uma postura reflexiva, isto é, de re- visão pessoal, visando à possibilidade da construção de novos valores, de novas concepções. Outro fator importante nessa construção é a mediação junto ao aprendiz, para que este tenha a possibilidade de expressar suas ideias no grupo desbloqueando elementos imobi- lizadores inconscientes que estiveram impedindo este crescimento pessoal (VISCA, 1987). O Psicopedagogo como Gestor e a Gestão Compartilhada Para começar a entender o que seria a gestão compartilhada, na qual o psicopedago- go se insere no ambiente escolar e divide a gestão pedagógica com outros profissionais, vamos ler parte de um texto de renomado jornal mineiro, O Estado de Minas Guri (2015): 10 11 Fábula mostra a importância do trabalho em equipe Solidariedade marca a história do livro ‘Todos juntos somos fortes ’ Uma longa e difícil viagem marca a história do livro Todos juntos somos fortes, de Esko- -Pekka Tiitinen e ilustrações de Nikolai Tiitinen. Uma velha coruja, com dificuldade para voar, está sentada na torre da prefeitura quando uma pomba se esbarra nela e pede ajuda para voltarpara a África. Começa aí a narrativa que trata sobre a importância da solidariedade e do trabalho em equipe. Debilitada fisicamente, a coruja deseja ajudar, mas está com as asas tão pesadas que que não suportaria uma viagem longa. A pomba percebe então que a causa do proble- ma é que a nova amiga está coberta de areia. Para ajudá-la, a pomba passa a noite inteira limpando-a. Para retribuir o favor, a coruja decide auxiliar a pomba a voltar para a casa. Leia a matéria íntegra. Disponível em: https://bit.ly/3djKPOY O comentário sobre a fábula nos ajuda a pensar um pouco sobre o papel do psico- pedagogo na gestão da escola, quando necessita de olhares e informações de outros profissionais para desenvolver seu trabalho: coordenador pedagógico, orientador educa- cional, professor de educação especial e professores regentes de sala de aula, lembrando sempre que cada rede de ensino, pública ou privada, tem seus quadros específicos de gestores, mas todos egressos do curso de Pedagogia e/ou pós-graduações em Educação. Figura 2 – Capa do livro Todos juntos somos fortes, de Esko-Pekka Tiitinen e Nikolai Tiitinen Fonte: Divulgação Em Dimensões da gestão escolar e suas competências, Lück (2009) apresenta dimensões da gestão realizada nas escolas: resultados educacionais, pessoas, dimen- são pedagógica, dimensão administrativa, clima e cultura escolar e cotidiano escolar. Dentre essas, pode-se dizer que o psicopedagogo lida principalmente com a dimen- são pedagógica, com vistas aos resultados educacionais, que se trata da organização, coordenação, liderança e avaliação de todos os processos e ações diretamente vol- tados para a promoção da aprendizagem dos alunos e sua formação (LÜCK, 2009, p. 93). Nesta obra, Debesse e Milaret (apud LÜCK, 2009) esclarecem que o adjetivo “pedagógica” é diretamente oriundo da Pedagogia, a ciência e a arte de influenciar 11 UNIDADE Psicopedagogia Escolar: O Planejamento Psicopedagógico Frente à Gestão sistemática e organizadamente os processos de aprendizagem de pessoas, mediante método compatível com os resultados pretendidos. Assim, pode-se explicar como o psicopedagogo compartilha a gestão pedagógica e de resultados com outros gestores escolares: • Professor regente de sala de aula: esse profissional não se responsabiliza pela aprendizagem da escola toda, mas, do seu grupo, em caso de professores de educa- ção básica I, ou grupos de alunos, no caso de professores especialistas. Essa parce- ria se dá no momento em que há o debate e a troca de ideias entre os profissionais no sentido de buscar os melhores meios para efetivar a aprendizagem daqueles que apresentam dificuldades ou não aprendem pelos meios convencionais. O professor da sala de aula recebe orientações específicas do psicopedagogo sobre como pro- ceder com tais alunos e atingir os objetivos específicos traçados para eles; • Professor de Educação Especial: é o responsável pela realização do atendimen- to educacional especializado (AEE) na escola, cujo público-alvo engloba todos os alunos da educação básica e superior com deficiência física, intelectual, mental ou sensorial, alunos com transtornos globais do desenvolvimento, ou seja, espectro autista (MEC/SECADI, 2014). Juntam-se a eles alunos com síndrome de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação, alunos com altas habilidades e superdotação. De maneira paralela ao professor de Educação Especial, o psicopedagogo desenvolve seu trabalho no sentido de auxiliar a criança com deficiência, transtornos e síndromes já citadas a se adaptar no ambiente escolar, promovendo a verdadeira inclusão ao pro- por que a instituição reveja posturas e possibilite a orientação dos profissionais para tal trabalho. Desta forma, o professor de Educação Especial faz o atendimento com as crianças ou alunos de outras faixas etárias, enquanto o psicopedagogo forma os profis- sionais para efetivar a inclusão. Os dois profissionais trabalham juntos no que se refere ao atendimento às famílias dessas crianças. O que é a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva? A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva tem como objetivo assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos ní- veis mais elevados do ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especia- lizado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessi- bilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informação; e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (MEC/SECADI, 2008). Quanto à coordenação pedagógica e orientação educacional, é preciso distinguir as diferentes realidades encontradas no país, levando em conta que em algumas o psicope- dagogo trabalha junto com esses profissionais no mesmo espaço, com frentes distintas. Em outras realidades, além das funções atribuídas ao psicopedagogo, este exerce as tarefas de coordenador pedagógico e/ou orientador educacional. 12 13 O orientador educacional é o profissional que zela pela formação dos alunos como cidadãos, ajuda os professores a compreender os comportamentos das crianças e cuida das relações com a comunidade (PASCOAL, 2013). Torna-se um suporte para a apren- dizagem por promover uma reflexão sobre os valores da escola, favorecer a construção de relações interpessoais entre os alunos e mediar conflitos entre os alunos, professores e outros membros da escola, cuidando das questões emocionais e disciplinares. Figura 3 – Professora consola aluno chorando Fonte: Getty Images Por conta dessas atribuições, seu trabalho se relaciona com o trabalho do psicopeda- gogo à medida que muitos alunos com dificuldades de aprendizagem, por razões diver- sas, são também alunos que têm problemas disciplinares e precisam ser acompanhados pelo orientador educacional. Assim, esses profissionais têm muitos atendimentos em comum e precisam estar conectados para a realização de projetos que envolvam a auto- estima e afetividade, no sentido de promover situações em que o aluno se sinta bem no ambiente escolar, consiga relacionar-se bem, respeitar regras e, por fim, responder bem às situações de aprendizagem. Para as instituições em que o mesmo profissional responde pelas duas funções, Lina (apud SILVA, 2006, p. 28-29) esclarece que a atividade de orientação educacional pode ser definida numa dimensão psicopedagógica. Segundo ela, o orientador não é um psi- copedagogo, no entanto suas atividades estão na área da Psicopedagogia. Isso ocorre porque seu trabalho prevê a preocupação e vincula-se estreitamente ao sucesso ou ao fracasso na aprendizagem. É o profissional que atua na dinâmica inter-relacional da ins- tituição e nesse caso busca a adaptação do indivíduo às finalidades da escola. O coordenador pedagógico tem como foco de seu trabalho a atuação do professor em sala de aula, a análise de sua prática no sentido de melhor direcioná-la para a efe- tivação da aprendizagem dos alunos (PMF, 2017, p. 102). Para isso, faz um trabalho de acompanhamento, formação continuada e orientação ao trabalho docente. Nesse ponto, seu trabalho afiniza-se com o trabalho do psicopedagogo. Precisam trabalhar em conjunto pela aprendizagem das crianças que recebem atendimento pedagógico e também nas orientações dadas aos professores, tanto nas orientações gerais dadas pelo coordenador pedagógico, como nas orientações específicas dadas pelo psicopedagogo. 13 UNIDADE Psicopedagogia Escolar: O Planejamento Psicopedagógico Frente àGestão Devido ao seu conhecimento dos processos de aprendizagem e formação de professo- res, em determinados locais, o psicopedagogo pode assumir a coordenação pedagógica ou acumular as duas funções em cargo único. Entretanto, legalmente e funcionalmente não é o ideal, pois mesmo que tratem dos mesmos assuntos, os focos de psicopedagogo e coordenador pedagógico são diferentes; enquanto o foco do primeiro são os alunos, o coordenador dedica-se, primordialmente, ao professor. Figura 4 – Reunião de gestoras escolares Fonte: Getty Images Pessoas e Lugares – Madre Cristina Sodré Dória O primeiro curso regular de Psicopedagogia no Brasil foi inaugurado em 1979, na cidade de São Paulo, no Instituto Sedes Sapientiae, cuja fundação se deve à madre Cristina Sodré Dória. Brasileira, educadora e psicóloga. Nascida Célia Sodré Dória, religiosa da Congregação de Nossa Senhora - Cônegas de Sto. Agostinho. Filha de advogado, nascida em Jaboticabal (1916), São Paulo, cresceu entre discussões políticas e o aprendizado cristão de respeito e disponibilidade para com o próximo. Formou-se professora e veio para a capital fazer facul- dade (1937-1940). Licenciou-se em Filosofia e Pedagogia pela Faculdade Sedes Sapientiae, entrou para a vida religiosa e começou a lecionar para os universitários. Estudou Freud so- zinha e mais tarde foi para o exterior complementar os estudos em Psicologia (1955), esta- giando na Sourbone (França) e doutorando-se em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Dos estudos, resultaram vários livros e artigos publicados, principalmente, nas décadas de 1960 e 1970. Lutou pela liberdade, pela igualdade de direitos e pela transformação social na época da ditadura militar, lutou até o desespero para salvar vidas e ideais. Foi chamada de comunista e radical. Recebia ameaças de morte e de prisão. Escondia perseguidos políticos e interme- diava encontros. Ao fundar o Instituto Sedes Sapientiae (1977) definiu-o “como um espaço aberto aos que quiserem estudar e praticar um projeto para a transformação da sociedade, visando atingir um mundo onde a justiça social seja a grande lei”. Faleceu no dia 26/11/97. (INSTITUTO SEDES SAPIENTAE, 1998). 14 15 Planejamento Psicopedagógico Frente às Necessidades da Escola O planejamento e a gestão do psicopedagogo na escola devem antever, além dos atendimentos psicopedagógicos, em que o profissional desenvolve atividades diretamen- te com alunos, as necessidades da escola, no que se refere à rotina diária, como ao planejamento anual, tendo em vista que diferentemente da Psicopedagogia Clínica, que se configura em atendimento à parte ou complementar, o trabalho do psicopedagogo na escola compõe a rotina de uma instituição. Além das particularidades da escola, é preci- so levar em conta que o reconhecimento do trabalho do psicopedagogo como um aliado para a promoção de um ensino sadio é uma forma de identificar a cooperação estudantil como compromisso total com o aluno e a recíproca é legítima (PINHEIRO, 2015). Ciente dessas condições, o planejamento considera questões do cotidiano da escola, como horários de entrada, saída, merenda, recreio e aulas com especialistas das áreas de Educação Física, Artes, Música e outros existentes de acordo com cada realidade. Formar um grupo de alunos ou fazer atendimentos individualizados exige pensar até a geografia da escola, ou seja, dependendo de onde se localiza a sala do psicopedagogo, é conveniente atender uma criança ou grupo antes ou depois do recreio ou outra atividade escolar por conta de barulho, movimentação de pessoas ou outra situação própria de cada realidade. Figura 5 – Recreio Fonte: Getty Images Vamos tomar como exemplo uma escola1 de 700 alunos de 1º ao 5º ano, divididos em 26 turmas de 25 a 30 alunos nos períodos de manhã e tarde. No geral, há 87 alunos atendidos ou acompanhados pela psicopedagoga, que atende em média 4 alunos por grupo e em casos específicos atende individualmente. Os demais são acompanhados, por meio de observações em sala de aula e análise de desempenho e desenvolvimento. 1 Exemplo baseado em dados reais de uma escola pública de anos iniciais do Ensino Fundamental. 15 UNIDADE Psicopedagogia Escolar: O Planejamento Psicopedagógico Frente à Gestão Os dados obtidos nas análises são socializados e discutidos em reuniões e devolutivas para suas famílias e professores, além das reuniões com os demais profissionais da equi- pe pedagógica da escola. Nessa escola, a psicopedagoga cumpre carga horária de 40 horas e precisa dividir-se entre reuniões de equipe gestora, participação e/ou condução de reuniões de formações de professores, atendimento a crianças, atendimento às famílias, orientações a profes- sores e formação continuada (reuniões de estudo e cursos), desenvolvimento de projetos para alavancar aprendizagens, sem contar as trocas informais de ideias com os profis- sionais da equipe pedagógica (Professor de Educação especial, Orientador educacional e Coordenador pedagógico). Acompanhemos o quadro de tarefas: Tabela 1 Horário Segunda Terça Quarta Quinta Sexta 7h30-9h20 Formação continuada Grupo 1 2º ano Grupo 1 4º ano Registros, orientações a professores e atendimento a famílias Grupo 1 3º ano Grupo 1 3º ano Grupo 1 5º ano Grupo 1 4º ano Intervalo 9h40-11h30 Formação continuada Desenvolvimento de projetos Grupo 1 1º ano Observação de alunos em sala de aula Grupo 1 5º ano Grupo 1 2º ano Grupo 1 1º ano Almoço 13h-14h50 Grupo 2 2º ano Observação de alunos em sala de aula Grupo 2 3º ano Grupo 2 4º ano Desenvolvimento de projetosGrupo 2 3º ano Grupo 2 1º ano Grupo 2 5º ano Intervalo 15h10-17h Grupo 2 4º ano Grupo 2 1º ano Formação continuada de professores Reunião de equipe Registros, orientações a professores e atendimento a famílias Grupo 2 5º ano Grupo 2 2º ano Além das situações rotineiras, existem os eventos maiores realizados na escola, prin- cipalmente aqueles que exigem a participação ativa do psicopedagogo, como as reuni- ões de pais, planejamento, formação de professores e conselho de ano. As participações em reuniões de formação de professores, na maioria das redes de ensino, acontecem semanalmente – as famosas ATPCs (aulas de trabalho pedagógico coletivo) ou com a denominação de cada região – e por isso estão no planejamento semanal do psicope- dagogo, seja na condição de líder da formação ou de participante, quando é feita por outro gestor escolar. Entretanto, as reuniões de planejamento, conselho de ano e de pais acontecem menos vezes por ano e exigem que o psicopedagogo prepare devolutivas e orientações, no caso dos conselhos de ano e reuniões de pais e outros apontamentos específicos do trabalho, no caso das reuniões de planejamento escolar. 16 17 O Que é o Conselho de Classe ou Conselho de Ano O Conselho de Classe é órgão colegiado de natureza consultiva e deliberativa em assuntos didático-pedagógicos, fundamentado no Projeto Político Pedagógico da escola e no Regi- mento Escolar. É o momento em que professores, equipe pedagógica e direção se reúnem para discutir, avaliar as ações educacionais e indicar alternativas que busquem garantir a efetivação do processo de ensino e aprendizagem dos estudantes. O Conselho de Classe pode ser organizado em três momentos: Pré-conselho: levantamento de dados do processo de ensino e disponibilização aos conse- lheiros (professores) para análise comparativa do desempenho dos estudantes, das obser- vações, dos encaminhamentos didático-metodológicos realizados e outros, de forma a dar agilidade ao Conselho de Classe. É um espaço de diagnóstico. Conselho de Classe: momento em que todos os envolvidos no processo se posicionam frente ao diagnóstico e definem em conjunto as proposições que favoreçam a aprendizagem dos alunos. Pós-conselho: momento e que as ações previstas no Conselho de Classe são efetivadas. As discussões e tomadas de decisões devem estar respaldadas em critérios qualitativos,como: os avanços obtidos pelo estudante na aprendizagem, o trabalho realizado pelo profes- sor para que o estudante melhore a aprendizagem, a metodologia de trabalho utilizada pelo professor, o desempenho do aluno em todas as disciplinas, o acompanhamento do aluno no ano seguinte, as situações de inclusão, as questões estruturais, os critérios e instrumentos de avaliação utilizados pelos docentes e outros. Cabe à equipe pedagógica a organização, articulação e acompanhamento de todo o processo do Conselho de Classe, bem como a me- diação das discussões que deverão favorecer o desenvolvimento das práticas pedagógicas (PARANÁ, 2020). O quadro a seguir exemplifica um cronograma de ações de uma escola de anos ini- ciais do Ensino Fundamental. Nele, pode-se visualizar que eventos a escola contempla. Em alguns deles, o psicopedagogo tem ações direcionadas à sua prática. Em outros, pre- cisa modificar sua rotina de atendimentos para ser um colaborador nas ações da escola. Tabela 2 – Cronograma de ações Ações Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Atendimento Psicopedagógico2 x x x x x x x x x Avaliações externas x x x x Avaliações internas x x x x Confraternização de Funcionários x x Conselho de Ano x x x Avaliação do Projeto Político Pedagógico x Reunião de Pais e Mestres x x x x x Dia dos Professores/Funcionários x 2 Na rede municipal de ensino de onde se retirou o cronograma de ações que serviu como exemplo, não há a con- tratação de psicopedagogos. As crianças de Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental que possuem dificuldades de aprendizagem ou outra necessidade de acompanhamento sistemático são atendidas por pedagogos (nota da autora). No entanto, adaptamos o quadro para que o aluno possa compreender como o atendimento psi- copedagógico pode ser inserido no cronograma de ações. 17 UNIDADE Psicopedagogia Escolar: O Planejamento Psicopedagógico Frente à Gestão Ações Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Mostra de Ações Educaciomais x Família e Comunidade/Dia da Família na Escola x Festa Junina x Meio Ambiente x Passeios: Cultural e/ou Lazer x Planejamento e Replanejamento x x Recreio Dirigido Recuperação Paralela x x x x x x Semana da Criança x Semana do Trânsito TIC/Sala de Informática x x x x x x x x x Fonte: PMF, 2019 Dessa maneira, podemos verificar que o psicopedagogo deve promover o planeja- mento e a gestão do seu trabalho, mediante a sua participação nas micro e macrossi- tuações que envolvem a sua ação profissional, sempre buscando meios de auxiliar o educando a buscar a sua aprendizagem, compreendendo-o como alguém sujeito de sua própria aprendizagem. 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Dimensões da gestão escolar e suas competências LÜCK, H. Dimensões da gestão escolar e suas competências. Curitiba: Positi- vo, 2009. Neste livro, Lück ressalta que o diretor de escola, o diretor assistente ou adjunto, o supervisor pedagógico e orientador educacional, assim como os demais membros da equipe de gestão escolar e seus professores, desempenham um papel de desen- volvimento na liderança da escola. São eles que incentivam os demais na constru- ção do desenvolvimento educacional. Psicopedagogia: a instituição educacional em foco OLIVEIRA, A. Psicopedagogia: a instituição educacional em foco. Curitiba: IBPEX, 2009. O objetivo do livro é caracterizar a atuação do psicopedagogo no âmbito da ins- tituição educacional sob o enfoque do diagnóstico e de diferentes modalidades de intervenção psicopedagógica institucional. Para isso, Oliveira (2009, p. 3) aborda: Psicopedagogia institucional e intervenção psicopedagógica na instituição escolar, abordagens teóricas (Teoria sistêmica e epistemologia convergente), grupos opera- tivos, psicodrama e dinâmicas de grupo. Além disso, as técnicas para intervenção institucional e atuação preventiva na instituição escolar . Vídeos Os desafios da educação O vídeo traz uma entrevista com a pesquisadora e psicopedagoga argentina Alícia Fernandez (1946-2015) sobre os desafios da educação. Autora de obras importan- tes para a Psicopedagogia Institucional na área de educação, como A Inteligência aprisionada (1991) e O saber em jogo (2000), traz, nesta entrevista, informações e discussões importantíssimas para a área educacional . https://youtu.be/uuB_RyeyTIE Filmes O discurso do rei O filme não trata exatamente da ação do psicopedagogo, mas de uma interven- ção profissional que muda os rumos de um tratamento que inclui a aprendizagem. Desde os 4 anos, George (Colin Firth) é gago. Este é um sério problema para um integrante da realeza britânica, que frequentemente precisa fazer discursos. George procurou diversos médicos, mas nenhum deles trouxe resultados eficazes. Quando sua esposa, Elizabeth (Helena Bonham Carter), o leva até Lionel Logue (Geoffrey Rush), um terapeuta de fala de método pouco convencional, George está desespe- rançoso. Lionel se coloca de igual para igual com George e atua também como seu psicólogo, de forma a tornar-se seu amigo. Seus exercícios e métodos fazem com que George adquira autoconfiança para cumprir o maior de seus desafios: assumir a coroa, após a abdicação de seu irmão David (Guy Pearce) . https://youtu.be/MBw-pEMr4Wo 19 UNIDADE Psicopedagogia Escolar: O Planejamento Psicopedagógico Frente à Gestão Leitura Psicopedagogia no cotidiano escolar: impasses e descobertas com o ensino de nove anos A Ampliação do Ensino Fundamental para nove anos vem provocando discussões e impasses, apesar de ser uma prática corrente em uma parcela das escolas priva- das do país. No ensejo de contribuir para a reflexão sobre o tema, articulamos três movimentos: buscar depoimentos de profissionais inseridos no cotidiano escolar privado e público; organizar interlocuções teóricas situando o pensamento e a ação da Psicopedagogia em suas interfaces com Educação, Pedagogia e História Social, para assim problematizar o lugar da infância em nossa sociedade atual e, desse modo, compreender, psicopedagogicamente, as relações de aprendizagem que se apresentam nesta nova configuração escolar. https://bit.ly/3mHZCWQ 20 21 Referências ALMEIDA JÚNIOR, C. O psicopedagogo na educação especial. Estação Científica (UNIFAP), Macapá, vol. 2, n. 1, p. 1-10, jan. - jul. 2012. BOSSA, N. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artmed, 2000. INSTITUTO SEDES SAPIENTAE. Madre Cristina Sodré Dória. Psicologia: Ciência e profissão, vol. 18, nº 1, Brasília, 1998. 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