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Drenagem Subterrânea - Considerações Gerais 2 9 3. DRENAGEM SUBTERRÂNEA – CONSIDERAÇÕES GERAIS 1. Introdução As primeiras referências sobre drenagem subter- rânea foram feitas no ano 2 AC, na antiga Roma, onde já era recomendada a abertura de valas que eram preenchidas com cascalho. O cascalho atuava ao mesmo tempo como meio coletor de água do solo e condutor desta para fora da área drenada. A próxima referência data do ano de 1620, onde, pela primeira vez, em um convento da França, foi feita drenagem subterrânea através de tubos de barro, sendo a prática depois repetida na Inglaterra em 1810. De uma maneira geral, pode-se afirmar que o grande avanço da drenagem subterrânea, por meio de condutores subterrâneos, ocorreu nas últimas quatro décadas. Este fato deu-se devido à grande demanda de alimentos causada pela explosão demográfica, considerando-se que a população do planeta dobrou nos períodos de 1500 a 1900 e de 1900 a 1950, bem como de 1950 até por volta de 1970 apesar das duas grandes guerras mundiais. A drenagem subterrânea tem por finalidade rebaixar o lençol freático através da remoção da água gravitativa localizada nos macroporos do solo. Propicia, em áreas agrícolas, melhores condições para o desenvolvimento das raízes das plantas cultivadas. Em regiões semi-áridas e semi- úmidas evita o encharcamento e também a salinização de solos irrigados. De uma maneira geral os projetos de irrigação e drenagem têm sido implantados sem que sejam feitos os estudos necessários da parte relativa à drenagem subterrânea dos solos, o que tem propiciado condições favoráveis ao encharcamento e salinização de grande parte das áreas irrigadas. No presente momento a drenagem subterrânea é feita utilizando-se mais comumente o tubo corrugado de material plástico perfurado, com a finalidade de coletar e escoar o excesso de água do subsolo. Enquanto a drenagem superficial visa à remoção do excesso de água da superfície do solo ou piso construído, a drenagem subterrânea visa à remoção do excesso de água do solo até uma profundidade predeterminada. Em regiões úmidas e muito úmidas, com precipi- tações médias anuais maiores que 1.000 mm, a drenagem subterrânea visa evitar o encharcamento do solo por período de tempo prolongado, que venha a prejudicar, de maneira significativa, o rendimento econômico das plantas cultivadas. No aumento da produção de alimentos a drenagem contribui não só como fator de aumento da produtividade, como de incorporação de terras encharcáveis ao processo produtivo. No Brasil esta técnica tende a expandir-se, principalmente em função dos trabalhos desenvol- vidos pelo Programa Nacional de Aproveitamento Racional das Várzeas e, também, em função da crescente salinização dos solos irrigados no nordeste brasileiro, onde a irrigação começou a ser feita em maior escala a partir da década de 70. Da mesma maneira, como tem acontecido em quase todos os países, a drenagem é uma prática que vem sempre a reboque da irrigação em decorrência do surgimento de problemas de encharcamento e/ou salinização. A implantação de projeto de irrigação sem que seja dada a devida atenção ao fator drenagem, decorre muitas vezes da falta de conhecimento 3 0 Drenagem como Instrumento de Dessalinização e Prevenção da Salinização de Solos ou descuido, nesta área, dos técnicos envolvidos nos estudos e preparo do projeto. Felizmente já existe uma maior conscientização quanto à importância da drenagem subterrânea em relação aos cultivos e à preservação dos solos. 2. Estimativa de Áreas que Requerem Drenagem Subterrânea A drenagem subterrânea é importante para evitar o encharcamento em regiões de baixo ou nulo déficit hídrico e para evitar o encharcamento e também a salinização em zonas de alto déficit hídrico, como na maioria das áreas do Nordeste Brasileiro. São muitas as áreas de terras do Brasil, irrigadas ou não, que necessitam de drenagem subterrânea, tendo, dentre elas, as várzeas úmidas e todas as demais áreas cultivadas que apresentam problemas de drenabilidade de perfil. A incorporação de várzeas não exploradas ou pouco produtivas a um processo de exploração intensa depende da instalação de sistema de drenagem subterrânea. Em nosso país, o Programa Nacional de Aprovei- tamento de Várzeas - PROVÁRZEAS promoveu a drenagem e sistematização de 768.000 ha, entre os anos de 1973 e 1987. A drenagem dessas áreas foi em quase sua totalidade feita através de valas abertas. As valas abertas têm o custo de instalação mais baixo, mas por outro lado as perdas de áreas de terra, os custos elevados de manutenção e a maior dificuldade oferecida por este sistema ao trabalho das máquinas agrícolas fazem com que, a médio prazo, a drenagem subterrânea por valas abertas se torne mais dispendiosa do que aquela efetuada através dos condutos subterrâneos. Nas regiões do Nordeste Brasileiro e do Vale do Rio São Francisco estima-se que existam um mínimo de 50.000 ha com teores médios a altos de salinização, onde a instalação de drenos subterrâneos é prática indispensável. Somente na região do sub-médio São Francisco existem em torno de 15.000 ha salinizados. Esses solos começaram a ser irrigados a partir dos anos 50, motivo porque se tornaram salinos, o que tem redundado no abandono de muitas áreas e sub- utilização de outras, tornando evidente, na região, que solos rasos e de textura leve a média, irrigados com baixa eficiência, são salinizadas em poucos anos de irrigação. Nos perímetros Maniçoba e Curaçá, situados em Juazeiro/BA, muitas áreas se tornaram encharcadas, já nas primeiras irrigações e a seguir, em período aproximado de 5 anos de irrigação, se tornaram salinos o que, sem dúvida, reflete o quadro esperado para as zonas nordestinas de baixas precipitações pluviais e má drenabi- lidade. Como nas regiões semi-úmidas e semi-áridas do Brasil, norte de Minas e parte do Nordeste, muitas áreas estão sendo irrigadas pela iniciativa privada e pública, é de se prever que a necessidade de fazer drenagem subterrânea seja cada vez maior, principalmente para prevenir processos de salinização. 3. Drenagem Subterrânea com Fins não Agrícolas 3.1. Drenagem de rodovias e ferrovias É constituída de drenos subterrâneos interceptores e rebaixadores do lençol freático nas proximidades e/ou sob a obra. São drenos instalados geralmente em trechos em cortes ou em trechos de baixada onde haja formação e ascensão do lençol freático a níveis que possam comprometer a capacidade de carga do sistema. Drenagem Subterrânea - Considerações Gerais 3 1 3.2. Drenagem subterrânea de áreas de recreação, residenciais, comerciais e parques industriais É a drenagem subterrânea de praças de esporte, como campos de futebol, tênis, etc, bem como a drenagem de áreas baixas, residenciais ou industriais, para melhorar as condições fitossani- tárias de uso e/ou de suporte dos solos e de cultivo de plantas ornamentais. Aqui se inclui também a drenagem permanente de proteção das edificações situadas em zona de flutuações do lençol freático onde sejam construí- das dependências a nível de subsolo como garagem, etc. 3.3. Drenagem de áreas de jardinagem É a drenagem subterrânea de floreiras ou jardins internos e externos, concebidos em leito confinado de edificações. Evita o encharcamento prolongado do solo, propiciando condições de umidade favorável às plantas e a obra. 3.4. Drenagem temporária com fins construtivos Consiste na instalação, nas proximidades de uma obra, de sistema de drenagem subterrânea com a finalidade de interceptar e rebaixar temporaria- mente o lençol freático para permitir que os trabalhos se desenvolvam normalmente. É o tipo de drenagem chamada comumente de ponteira vertical ou horizontal. No caso da ponteira horizontal a água é coletada através de tubos perfurados ou condutos subterrâneos, tendo ao seu redor um envoltório de cascalho, brita ou manta sintética. De uma maneira geral,a água captada é escoada da área por bombeamento. 3.5. Drenagem subterrânea de pistas de aeroportos São obras que visam, em áreas sujeitas ao encharcamento, evitar que haja elevação do lençol freático a níveis que possam comprometer a capacidade de carga da pista. 3.6. Drenagem de fossa através de “sumidouro horizontal ou vala de infiltração” Trata-se de um caso atípico onde a drenagem da fossa é feita através de um sistema de valas de infiltração. Neste caso o sistema de sumidouro por tubos perfurados instalados em valas tem função inversa daquela da drenagem subterrânea ou seja: tem a função de perder água e não de captar. O sistema é instalado de forma idêntica aos casos anteriores tendo, no entanto, a finalidade de criar uma grande área de infiltração e assim facilitar o fluxo de água da fossa para o solo. É uma prática de baixo custo e bastante eficiente, principalmente em se tratando de solos profundos e permeáveis como os latossolos. Em áreas de solo que possuam a camada impermeável situada próxima da superfície ou zonas que possuam o lençol freático alto é mais eficiente que o sistema de sumidouro tipo cisterna. O sistema fornece ainda condições favoráveis a realização de sub-irrigação de plantas, principal- mente quando instalado em regiões sujeitas a períodos de seca prolongados. Apresenta também a vantagem de propiciar a fertilização do solo pela ferti-irrigação que automaticamente se processa. 4. Drenagem subterrânea com fins agrícolas É a drenagem que tem como finalidade propiciar às raízes das plantas cultivadas condições 3 2 Drenagem como Instrumento de Dessalinização e Prevenção da Salinização de Solos favoráveis de umidade, aeração e balanço de sais. Em regiões úmidas e muito úmidas, com precipita- ções médias anuais maiores que 1.000 mm a drenagem subterrânea visa evitar o encharcamento do solo por período de tempo prolongado que venha a prejudicar, de maneira significativa, o rendimento econômico das plantas cultivadas. Em regiões semi-áridas a drenagem subterrânea é utilizada para evitar o encharcamento e também a salinização de solos irrigados. É importante lembrar que tanto para a drenagem superficial como para a drenagem subterrânea, a existência de ponto de descarga próximo da área a ser drenada é de fundamental importância, podendo as condições de acesso e distância a esse ponto inviabilizarem a implantação de sistema de drenagem subterrânea de determinada área. 5. Tipos de Drenos Drenos são condutos abertos ou subterrâneos, tubulares ou de material poroso, destinados a remover o excesso de água proveniente de sua área de influência. Ao comentarmos sobre sistemas de drenagem, a nível de parcela, podemos abordar o assunto sobre dois modos diferentes ou dois métodos distintos, com suas vantagens e desvantagens. No primeiro método utilizamos as valetas ou drenos abertos e no segundo método os drenos subterrâneos ou drenos cobertos. 5.1. Drenos a céu aberto (valas abertas) Nas regiões úmidas este método tem sido o mais comum na drenagem. Apresenta a dupla finalidade de coleta e transporte das águas de drenagem superficial e subterrânea. São mais favoráveis à drenagem superficial por apresentarem maior velocidade de escoamento. Apresentam as desvantagens de: • Perda de área na sua abertura o que, em solos de alto valor econômico e com culturas intensivas, tem grande importância; • Dificulta o trabalho de máquinas - manejo do solo; • Custo do espalhamento do material ou alto custo do descarte como bota-fora, quando não apropri- ado para ser espalhado; • Alto custo de manutenção devido ao crescimento de ervas daninhas terrestres em seus taludes, e aquáticas em seu leito. O talude adequado e bem construído evita desmoronamento. A seguir apresenta-se uma estimativa prática para a escolha de taludes, de acordo com o tipo de solo: Tipo de Solo Talude Usual (V:H) Arenoso até 1:3 Franco arenoso 1:2 Franco com cascalho 1:1,5 Siltoso 1:1 a 1:1,5 Argiloso + cascalho 1:1 Argiloso 1:0,75 a 1:0,5 5.2. Drenos subterrâneos Condutos subterrâneos utilizados para coletar e conduzir, por gravidade, a água proveniente do lençol freático de sua área de influência. Apresentam a vantagem de dispensar a manuten- ção tradicional. 5.3. Drenos toupeira São drenos subterrâneos não revestidos, abertos artificialmente no sub-solo. A construção é efetuada com um subsolador equipado com torpedo que permite a sua cons- Drenagem Subterrânea - Considerações Gerais 3 3 trução, normalmente na profundidade de 50 a 70 cm com diâmetro de 7 a 10 cm. Como não há revestimento a durabilidade deste dreno é, via de regra, de um ano. Em solos argilosos e turfosos a eficiência e vida útil desse tipo de dreno é maior. Para a construção do dreno-toupera o solo deve possuir condições adequadas de umidade e lençol freático baixo o suficiente para possibilitar o deslocamento do trator equipado com o subsolador e torpedo. Para dar maior capacidade de tração e evitar o atolamento o trator deve ser equipado com rodado duplo ou ser de esteira. 6. Vantagens da Drenagem Subterrânea Através de Tubos • Economia de área. Como exemplo de perda de área verifica-se que a implantação de um sistema de drenagem subter- rânea, através de valas abertas, utilizando os seguintes parâmetros: Profundidade média .................1,20 m Talude .....................................1:1 (H:V) Espaçamento entre valas ......... 30 m, resulta em perda significativa, pois cada dreno com base mínima de 0,30 m, terá uma base superior de 2,70 m. Ao adicionarmos uma faixa sem cultivo de 0,50 m de cada lado do dreno, teremos um total de 3,70 m perdidos ao longo de cada vala, o que resulta em 12% de perdas de superfície de solo. • Facilidade no trabalho de máquinas agrícolas. O sistema evita que as máquinas tenham que trabalhar dando voltas em faixas estreitas de terras, o que resulta em maior desgaste destas, trabalho de pior qualidade e perda de áreas de solo. • Diminuição da incidência de focos de mosquitos. Isto se dá pela ausência de água empoçada por muito tempo na área. • Custo de manutenção mais baixo. Comparado com as valas abertas, que em nossas condições devem ser limpas de um a duas vezes ao ano, a manutenção de um sistema de drenagem subterrânea por tubos tem um custo muito reduzido. 7. Tipos de Condutos Subterrâneos • Cascalho ou brita; • Bambu em feixes de 15 a 25 unidades; • Telha canal, tijolos perfurados, etc.; • Manilhas de cimento; • Manilhas de barro; • Tubos de PVC liso perfurado; • Tubos corrugados de materiais plásticos. Tubos de drenagem de barro, de concreto e mesmo de material plástico liso, já tiveram seu emprego em drenagem subterrânea superado em muitos países, o que atualmente está acontecendo também no Brasil devido a introdução de tubos corrugados para drenagem. Cascalho ou brita empregados como condutores de águas de drenagem é prática superada e antieconômica. O uso de bambu pode ser econômico em casos muito especiais quando o bambu situar-se na periferia da área a ser drenada e a mão de obra for de custo baixo. A drenagem empregando telha canal, tijolo, etc, é uma prática pouco técnica e econômica, não devendo ser recomendada. Os tubos corrugados oferecem vantagens em termos técnicos e econômicos, como: custo de aquisição 3 4 Drenagem como Instrumento de Dessalinização e Prevenção da Salinização de Solos e instalação mais baixo; alta resistência a deforma- ções e ao ataque químico; facilidades de transporte e instalação, razão pela qual dominaram o mercado de todos os países desenvolvidos. No Brasil a produção deste tipo de conduto teve início no ano de 1988, propiciando um grande impulso à prática da drenagem subterrânea. Bibliografia 1- LUTHIN, James N. Drainage engineering. New York: Robert E. Engineering, 1973. 250p. i l. 2-EGGELSMANN, Rudolf. Subsurface drainage instructions. Hamburg/Berlin: Parey, 1984. 293p. il. (Bulletin/GermanAssociation for Water Resources and Land Improvement, 6)