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SÍNDROME NEFRÓTICA e SÍNDROME NEFRÍTICA NA INFÂNCIA Glomerulopatias: · São doenças que acometem os glomérulos, muito variadas, algumas de natureza aguda, outras de curso crônico; umas de caráter eminentemente inflamatório, outras não · Podem ter origem nos rins e acometer somente esses órgãos, sendo chamadas primárias ou podem ser secundárias a outras doenças como diabetes, hepatites (glomerulonefrite membranosa), doenças autoimunes (ex: lúpus) · Os pacientes podem ser assintomáticos ou apresentarem sintomas urinários ou edemas · O exame de urina pode revelar a presença de hematúria e/ou proteinúria · Podem ser divididas em doenças que apresentam-se como Síndrome Nefrítica e doenças que apresentam se como Síndrome Nefrótica Achados no exame de urina: · Proteinúria (urina espumosa): síndrome nefrótica · Hematúria: síndrome nefrítica Achados clássicos - TRÍADES CLÁSSICAS: · Síndrome nefrítica: edema, hematúria e HAS · Síndrome nefrótica: edema, proteinúria e hipoalbuminemia *Nefrótico hipertenso evolui com doença renal ou secundária ao tratamento *Nefrítico mais rápido *Nefrótico fica mais inchado, mas ambos apresentam edema Fisiopatologia do edema: · Líquido no interstício é edema · Nefrótica: diminuição da albumina · Nefrítica: aumento da pressão hidrostática · O que mantém o líquido dentro do vaso? · Albumina (responsável pela pressão oncótica) puxa o líquido que está fora para manter dentro do vaso · Pressão hidrostática: empurra para fora o líquido · Equilíbrio das pressões (pressão oncótica e pressão hidrostática) mantém o intravascular. Se tiver desequilíbrio, há edema (aumento da hidrostática e diminuição da pressão oncótica) SÍNDROME NEFRÓTICA INTRODUÇÃO: · Grupo de sinais e sintomas comumente observados em pacientes com doenças glomerulares · Caracterizadas por um aumento significativo da permeabilidade da parede capilar, causando proteinúria, hipoalbuminemia e edema · Associação frequente com hiperlipidemia CLASSIFICAÇÃO: · Antes de 1 ano de idade: · Congênita: intra útero ou nos 3 primeiros meses de vida · Infantil: quando ocorre dos 4 aos 12 meses · Primária ou idiopática: principal causa entre 1 e 11 anos de idade. Não tem associação com doença sistêmica identificável. · Secundária: associada à doença sistêmica identificável, infecções virais, uso de drogas ou neoplasias, lúpus, hepatite e TORCHS SÍNDROME NEFRÓTICA IDIOPÁTICA: · 66% dos casos na infância · Sinônimos: doença renal de lesão mínima (por biópsia, mas quase não faz), nefrose lipoídica · Idade de início: 2-6 anos · Sexo: 2M:1F · Raça: mais frequente em brancos e amarelos *Um gatilho pode desencadear síndrome nefrótica em pessoas já predispostas, como EBV FISIOPATOLOGIA · Aumento da permeabilidade glomerular (podocitopatias) por perda da principal proteína: a albumina · Hiperalbuminúria · Hipoalbuminemia: diminui pressão oncótica, gerando EDEMA · Diminui volume plasmático, fazendo retenção de água e sal, estimulação da secreção de aldosterona e contribuindo para o edema generalizado · Perda urinária de imunoglobulinas · ↓ resistência às infecções (> risco de sepse e peritonite na criança nefrótica) · Perda urinária de antitrombina e plasminogênio, concentrando os fatores I, VII, VIII e X (mais comum de fazerem fenômenos trombolíticos) · Perda urinária da proteína ligadora da vitamina D e de complexos de vitamina D + perda urinária de proteína carreadora do cálcio (diminui absorção intestinal de cálcio) → maior facilidade de fazer alterações ósseas (também por conta do tratamento com corticoide) · Hiperlipidemia: leva a hipotonicidade e hipovolemia, estimula a síntese hepática de lipoproteína, fazendo redução da atividade da lipase lipoproteica → favore desenvolvimento de dislipidemia QUADRO CLÍNICO · Edema: geralmente intenso, de instalação insidiosa, tendência a invadir serosas (ascite, derrame pleural, coleção de líquido nas bolsas escrotais) · Edema de cacifo + · Estrias abdominais e raízes das coxas · Hérnia umbilical · Pele friável · Cabelos quebradiços, unhas frágeis · Desnutrição · Quadro infeccioso · Umbigo ‘’fechado’’, sem aspecto circular: mostra abdome com presença de ascite · Ascite: fazer Piparote EXAMES: · Fita urinária: identificação de proteinúria, pode haver hematúria · Solicitar: parcial de urina com aspecto espumoso, proteinúria, cilindrúria, hematúria (menos frequente) · Hemograma, PCR, ureia, creatinina, sódio, potássio, cálcio, proteínas totais e frações, colesterol e frações, triglicerídeos (hiperlipidemia) · Na sequência: sorologias, hepatites, CMV, EBV Criança no 1° ano de vida TORCHS. Nas áreas endêmicas, de malária, esquistossomose (tratar a doença infeciosa) Exames laboratoriais: · Na fita: mais de +++ é intensa · Urina de 24 horas com proteinúria ≥ 50mg/kg/dia ou > 1000 mg/m2/dia · Calcular superfície corporal: SC = [(P x 4) + 7] / P + 90 · Urina isolada – relação proteína/creatinina: · Normal ≤ 0,2 · Proteinúria (+): 0,2 -0,5 · Proteinúria (++): 0,5-2,0 · Proteinúria síndrome nefrótica > 2,0 COMPLICAÇÃO: · Processos infecciosos: peritonite, celulite ou erisipela, pneumonia e sepse · Agentes: S. pneumoniae, E. coli, H. influenzae, Pseudomonas e estafilococo · Fenômenos trombóticos · IRA (diminuição do fluxo sanguíneo) · Hipocalcemia TRATAMENTO: · Objetivos: indução rápida de remissão e diminuição de complicações graves relacionadas à Sd. nefrótica; prevenção de recidivas; minimização dos efeitos colaterais da terapêutica *NÃO PRECISA SABER DOSE Corticoterapia: precisa saber!! primeiro tto · Prednisona ou prednisolona: 2mg/kg/dia (60 mg/m2/dia) em dose única pela manhã (máximo 60 mg/dia), durante 4-6 semanas, seguidas de mais 4 a 6 semanas da corticoterapia na dose de 40mg/m2 ou 1,5 mg/kg em dias alternados. Posteriormente, retirar 20% da droga semanalmente até retirada total · Afastar tuberculose · Tratar estrongiloidíase FASE AGUDA: Diuréticos (período de descompensação): espironolactona, hidroclorotiazida, furosemida **CUIDADO: escolher o diurético dependendo da intensidade da descompensação Albumina (infusão EV): crianças com sinais de hipovolemia, hipotensão, oligúria com insuficiência renal funcional e edema clínico importante Dieta: restrição hidrossalina (sódio e água) durante descompensação e corticoterapia diária Repouso relativo: pelo risco de trombose DEFINIÇÕES: Proteinúria nefrótica: relação proteína/creatinina ≥ 200 mg/mmol (2mg/mg) na 1° urina da manhã ou acima de 1000 mg/m2 na urina de 24 horas, o que equivale a 3 ou 4 cruzes na fita urinária Síndrome nefrótica córtico-sensível (responde ao corticóide): remissão completa dentro de 4 semanas do tratamento com prednisona ou prednisolona na dose plena padrão (60 mg/m2 /dia ou 2 mg/kg/dia – máximo de 60mg/dia) Síndrome nefrótica córtico-resistente (não responde ao corticoide): falta de remissão completa dentro de 4 semanas do tratamento com prednisona ou prednisolona na dose plena padrão. Posso fazer mais 2 semanas e avaliar · Necessário associar IECA ou BRA · Pode associar por quadro infeccioso, não resistente → prestar atenção Período de confirmação: período de tempo entre 4 e 6 semanas após o início da corticoterapia em dose plena, durante o qual é avaliada a resposta à corticoterapia oral ou EV com Metilprednisolona e inibição do sistema RAA em pacientes que tiveram apenas remissão parcial nas 4 semanas. Um paciente que atinja remissão com 6 semanas é definido como tendo resposta tardia. Um paciente que não atinja remissão completa com 6 semanas, embora tenha tido remissão parcial com 4 semanas, é definido como córtico resistente Remissão completa: negativo por 3 ou mais dias consecutivos Remissão parcial: responde “meia boca”, melhorou, mas não negativou Recaída: alguém que respondeu e tem de novo o quadro **Os que têm fatores genéticos não respondem aos corticóides, podem responder a ciclosporina Tratamento sequencial: · Metilprednisolona (pulsoterapia) · Ciclofosfamida (CD) · Ciclosporina (CD e CR) · Micofenolato mofetil (CD e CR) · Levamisol (CD) – descontinuado – vermífugo · Tacrolimus(CD e CR) · Rituximab (CD e CR) Obs: CD: corticodependente / CR: corticorresistente Tratamento das complicações: · Infecções: antibiótico adequado, cobertura para pneumococo (peritonite primária e sepse), estafilococo (celulite) e gram negativo (sepse) · Hipocalcemia: administração de vitamina D · Prevenção de fenômenos trombóticos: evitar uso indiscriminado de diuréticos, punção venosa profunda VACINAÇÃO · São pacientes imunossuprimidos, precisa esperar suspender corticoide ou estar em uma dose muito baixa para fazer de vírus vivo · Vírus morto: em qualquer período do tto · Pneumococo e Haemophilus importante · Vacinação no nefrótico: · Vacina anti-pneumocócica · Vacina contra influenza anualmente para a criança e seus contatos domiciliares · Adiar a aplicação das vacinas com vírus vivo até a dose de prednisona esteja menor que 1 mg/kg/dia ou 2 mg/kg em dias alternados · Não dar vacina de vírus vivo em quem está usando outros imunossupressores · Vacinar os contatos domiciliares com as vacinas de vírus vivos para minimizar o risco de infecção do paciente imunossuprimido, porém, o paciente não pode ter contato com nenhuma secreção respiratória, urina ou vômitos e fezes da pessoa que se vacinou durante 3-6 semanas (melhor isolar) · Em casos de contato íntimo com portadores de varicela, se a criança ainda não for imunizada, se disponível, aplicar imunoglobulina anti-varicela PROGNÓSTICO: · Lesões mínimas: bom, maioria responde à corticoterapia, a frequência das recidivas diminui com o tempo e a remissão permanente ocorre, em geral, após a adolescência · 50%: 1 a 2 recidivas em 5 anos · 20%: continua tendo recidivas após 10 anos do diagnóstico · 30% nunca recidiva após o 1° episódio · 3% evolui para corticorresistente após a resposta positiva inicial · < 1% evolui para insuficiência renal progressiva · Mortalidade: associada a infecções e outras complicações extra-renais · Sinais de mau prognóstico: extremos de idade, hematúria, hipertensão, início precoce INDICAÇÃO DE BIÓPSIA: · Idade < 2 anos ou > e 5 anos (relativa) · Presença de hematúria macroscópica · Hipertensão + hematúria microscópica · Complemento diminuído · Insuficiência renal · Corticorresistente · Recidivas frequentes · Corticodependente PROVA: não respondeu após 4 semanas → fazer o período de confirmação (mais duas semanas de corticoide + IECA ou BRA) SÍNDROME NEFRÍTICA OU GNDA Definição: doença inflamatória não supurativa que acomete difusamente os glomérulos de ambos os rins. É um processo inflamatório imunologicamente mediado e resulta na instalação de uma síndrome nefrítica aguda EPIDEMIOLOGIA: · Incidência: indeterminada · Idade: crianças em idade escolar (7 anos); rara antes dos 2 anos de idade · Sexo: predomínio no sexo masculino (2:1) ETIOLOGIA: · Agente mais comum: Estreptococo beta-hemolítico do grupo A nefritogênico · Em adultos, principalmente idosos tem crescido a incidência por Staphylococcus aureus · Manifestações clínicas surgem após infecções de vias aéreas superiores ou pele · Tempo de aparecimento dos sintomas: 10 a 20 dias, máximo de 6 semanas FISIOPATOLOGIA · Penetração do agente infeccioso no organismo, formando anticorpos e complexos antígeno-anticorpo, fazendo deposição de complexos imunes na parede glomerular, ativa o sistema complemento, libera aminas vasoativas e faz atração de neutrófilos, gerando uma lesão glomerular como reação inflamatória, o que faz passagem de hemácias e proteínas para o espaço de Bowman → hematúria e proteinúria · Lesão glomerular: tumefação das paredes dos capilares glomerulares, diminuição da filtração glomerular, retenção de sódio e água e diminuição da diurese → edema e hipertensão arterial QUADRO CLÍNICO TRÍADE CLÁSSICA: EDEMA, HAS E HEMATÚRIA (coca-cola) · Sintomas gerais: inespecíficos (mal-estar, palidez, febre, fraqueza, anorexia, vômitos, dor abdominal) · Edema: sintoma mais frequente; pouco intenso; comum na região peri-orbitária, região sacra e membros inferiores, inaparente na criança pequena · Hipertensão arterial: segundo sinal mais comum, geralmente moderada · Hematúria: macroscópica nos primeiros dias de doença (‘’lavado de carne’’, ‘’cor de coca-cola’’); microscópica detectada com auxílio de exames complementares TRATAMENTO: · Sintomático · Cura completa na quase totalidade · Tratamento ambulatorial nos casos leves · Internação nos casos em que as manifestações clínicas são intensas · Repouso: limitado a fase aguda da doença, enquanto persistirem o edema, HAS e hematúria macroscópica · Dieta: restrição hídrica, de sódio, de potássio e de proteína · Antibioticoterapia: Penicilina Benzatina ou Eritromicina nos alérgicos. Não é para curar, mas para eliminar qualquer cepa existente · Diuréticos: quando há hipervolemia com manifestação hemodinâmica - furosemida · Hipotensores: quando os diuréticos não conseguirem controlar a PA, dar preferência para os BCC (anlodipino) · Digitálicos: usar somente quando houver insuficiência do miocárdio (digoxina). Em caso de IRA, a dose deverá ser ajustada de acordo com o ritmo de filtração glomerular apresentado pelo paciente · Diálise peritoneal ou hemodiálise: indicada em casos de evolução grave, que não cederam às medidas terapêuticas como a IRA e a sobrecarga cardíaca, na tentativa de reduzir o volume intravascular COMPLICAÇÕES: · Anemia leve · Congestão circulatória: complicação mais frequente, com sinais e sintomas decorrentes de hipervolemia (dispneia, tosse, estase jugular, sopro sistólico suave, estertores subcrepitantes em bases pulmonares, hepatomegalia dolorosa) · Edema agudo de pulmão · Encefalopatia hipertensiva: observada quando há HAS grave · Manifestações clínicas: cefaléia, vômito, agitação psicomotora, confusão mental, sonolência, coma, convulsões repetidas · Se tratada adequadamente não se prolonga e raramente leva a óbito · Lesão na RNM em região posterior · Predominância do sexo masculino, HAS grave (80% dos casos), manifestações neurológicas inicial em ¾ dos casos com crises convulsivas, cefaleia, confusão mental e distúrbios visuais · Alteração da função renal: depois pode ser que normalize o Glomerulonefrite rapidamente progressiva · Cronificação: é mais raro · Outras doenças associadas: ex: síndrome urêmica *Pode ter alteração de função renal, glomerulonefrite rapidamente progressiva, cronificação (mais raro, mas podem evoluir para doença renal crônica, principalmente na GNRP ou pós-infecciosa) INDICAÇÃO DE BIÓPSIA · Hematúria macroscópica por > 4 semanas · Hipertensão arterial por > 4 semanas · Associação com Sd. nefrótica por > 4 semanas · Oligoanúria por > 48-72 horas · Ureia elevada por > 4 semanas ou piora progressiva da função renal · Complemento baixo por > 8 semanas ACOMPANHAMENTO AMBULATORIAL: · Primeira consulta: 7 dias após a alta · Retorno mensal até completar 12 meses do início da doença · Verificar nas consultas: queixas do paciente, exame físico completo, incluindo medida da PA e realização de fita urinária Principal glomerulopatia mundial é a glomerulonefrite primária por IgA - doença por Berger image1.png image4.png image2.png image3.png