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INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA DE SAÚDE Definição: · Infecção que os pacientes adquirem em serviços de saúde durante o tratamento para outras condições · Infecções cujos sinais e sintomas ocorrem após 72 horas de permanência no hospital ou que estão diretamente relacionadas a um procedimento invasivo · Maioria está relacionada ao uso de procedimentos invasivos (cirurgia, VM, sonda vesical, cateter venoso ou linha arterial · Microbiota envolvida: flora do paciente e do ambiente. Bactérias resistentes a antimicrobianos são frequentes, mas não só apenas essas Classificação: Para o clínico: · Pneumonia (associada a VM) · Bacteriemia · Infecção de sítio cirúrgico, pele, partes moles e TU · Outras: surtos (RSV, VZV, conjuntivites, C. difficile) Para o controle de infecção: · Critérios diagnósticos: ANVISA e CDC - NHSN · Indicadores para comparação Medida mais simples para prevenir a disseminação de bactérias e ocorrência de IRAS no ambiente hospitalar: rotina de desinfecção das mãos com solução clorada antes de procedimentos Importância: é muito comum, sendo a segunda causa mais comum de evento adverso em paciente hospitalizado, aumentando mortalidade, taxa de readmissão, tempo de permanência e custos. 60% das infecções em cirurgias limpas são preveníveis Fatores de risco: · Quem é o paciente? Qual procedimento foi feito? Condições do próprio hospital? · Patogenicidade e virulência dos microrganismos (flora endógena ou meio externo) · Tamanho do inóculo, virulência do patógeno (produção de toxinas, enzimas proteolíticas) · Sobre o hospedeiro · Quebra de mecanismos de defesa: · Barreira física (integridade de pele e mucosas) · Obstrução das secreções mucosas e sucos digestivos e reações inflamatória · Alterações de flora endógenas (Clostridium, Monilíase) · Quebra de integridade da barreira física: grande queimado, politraumatizado, feridas traumáticas, roturas ou perfurações intestinais, feridas cirúrgicas, cateter venoso, sonda vesical e nasogástrica → facilita entrada de patógenos · Estado clínico: doenças agudas ou crônicas descompensadas e infecção em sítio distante, sendo essencial avaliação clínica criteriosa · Tempo de internação pré-operatório: relacionado à colonização da pele pela microbiota hospitalar · Estado nutricional: desnutrição, principalmente protéica e obesidade · Imunodepressão e uso de corticosteróides: retardamento do processo de cicatrização Obs: ruptura da continuidade da pele é o principal fator!! · Sobre procedimento: · Microrganismos atingem a ferida operatória em geral durante o ato cirúrgico · Quando não há fechamento primário ou há dreno, ocorreu manipulação excessiva da ferida ou deiscência → contaminação pode ocorrer no pós-operatório · Implante secundário de patógenos por via hematogênica · Rompimento da barreira epitelial: interrupção do aporte de nutrientes · Alterações no campo operatório: hipóxia + acidose + deposição de fibrina *Hipóxia + acidose: dificultam a ação dos neutrófilos Deposição de fibrina: sequestro de bactérias e alteração dos mecanismos locais de defesa · Classificação da cirurgia de acordo com o potencial de contaminação (fator clássico de risco): limpa, potencialmente contaminada, contaminada e infectada Cirurgias limpas (< 1%) · Eletivas, primariamente fechadas e sem drenos · Feridas não traumáticas e não infectadas, sem sinais inflamatórios · Não há quebra de técnica e não há abordagem de vísceras ocas · Cirurgia simples, rápidas e com baixo risco de infecção · Ex: herniorrafia e safenectomia Cirurgias potencialmente contaminadas (< 5%) · Há abordagem dos tratos digestivo, respiratório, genitourinário e orofaringe sob situações controladas, sem sinais de processo inflamatório · Pequena quebra de técnica ou implantação de dreno · Ex: gastrectomia e nefrectomia Cirurgia contaminadas (<10%) · Feridas traumáticas recentes (< 4h), abertas · Contaminação grosseira durante cirurgia do trato digestivo · Manipulação de via biliar ou genitourinária na presença de bile ou urina infectadas · Quebras maiores de técnica · Inflamação, mas não secreção purulenta · Ex: colecistectomia com inflamação Cirurgia infectada: · Presença de secreção purulenta · Tecidos desvitalizados · Corpos estranhos · Contaminação fecal · Trauma penetrante há > 4h · Muitos casos já vem com infecção, a missão é não causar uma nova infecção · Ex: ceco perfurado · Outros riscos têm relação com duração, maior exposição ao ambiente externo, maior complexidade, menos experiência da equipe e desorganização da sala cirúrgica · Cirurgias de urgência: preparo inadequado do paciente, pior estado clínico e técnica menos rigorosa Principais agentes: · Microbiota do próprio paciente: importância da topografia da cirurgia, da técnica, do tempo de duração e das condições infecciosas prévias do paciente - saber onde foi operado · Equipe de saúde: antissepsia pré-operatória e condições infecciosas em todos os momentos · Ambiente inanimado, incluindo material cirúrgico: falha no processo de esterilização Staphylococcus aureus e Estafilococos Coagulase Negativa (ENPC) · Colonizantes de pele · Erradicação para antissepsia impossível · Aumento da concentração no decorrer do procedimento (quanto mais tempo, mais chance) · Descamação da pele · Atinge tecidos lesados pela cirurgia Enterobactérias (BGNs) E. coli, Klebsiella, Enterobacter · Presentes em grandes concentrações em cavidades ocas: cirurgias do tubo digestivo, vias biliares e urinárias · Uso abusivo de cefalosporinas (seletividade cada vez maior) Gram negativas não fermentadores P. aeruginosa, Acinetobacter · Internação prolongada, uso prévio de antimicrobianos, maior gravidade clínica Anaeróbios: · Principalmente cirurgias do trato digestivo, em geral acompanhados de outros patógenos · Complicações intra abdominais Enterococos: · Frequência elevada, predominando em cirurgias do trato digestivo e ginecológicas · Uso abusivo de cefalosporinas Estreptococos: · Menos frequente, porém curto período de incubação e maior gravidade · Profissionais de saúde são colonizados · Associada a surtos Importante: · Considerar as características específicas da instituição em cada uma das suas partes · População atendida · Principais patologias cirúrgicas · Normais e disponibilidade para uso de antimicrobianos · Média de permanência antes do procedimento Classificação: Tempo de observação: · Do início até 30 dias após procedimento · No caso de implante de prótese: início até 1 ano ou até a retirada da prótese se esta ocorrer em período inferior · Micobactéria de crescimento rápido - até 1 ano Localização - sítio cirúrgico: · Incisional superficial: pele e tecido celular subcutâneo do local da incisão · Incisional profunda: envolve obrigatoriamente tecidos moles profundo, como fáscia e camadas musculares · Órgão/espaço específico: envolve órgão ou espaço profundo manipulados durante a cirurgia, mas não necessariamente a incisão. Meningite pós manipulação do SNC. Não se vê, mas paciente está mal Obs: define tratamento, precisa de tratamento Prevenção da ISC: Medidas no pré-operatório · Identificar e tratar infecções · Não remover pêlos, a menos que interfiram com o sítio operatório · Se remover, fazê-lo imediatamente antes da cirurgia, com tricótomo elétrico · Controle glicêmico adequado de DM · Recomendar cessar tabagismo no mínimo 30 dias antes · Solicitar ao paciente tomar banho com anti séptico no mínimo na noite anterior · Lavar rigorosamente o local ao redor da incisão antes da antissepsia · Usar um antisséptico apropriado para preparo de pele, aplicar em movimento circular, do centro para periferia · Diminuir ao máximo o período de hospitalização no pré-operatório Preparo de mãos e braços pela equipe cirúrgica: · Manter unhas curtas, não usar postiça · Degermar mãos e braços até o cotovelo por 2-5 min · Após escovação, manter mãos elevadas e longe do corpo, secando com compressa estéril e calçar luva estéril · Limpar sob as unhas antes da 1a cirurgia · Não usar adornos nas mãos e braços Manejo da equipe: · Educarequipe para reportar condições infecciosas transmissíveis · Obter culturas ou afastar do trabalho aqueles com lesões drenantes · Não afastar da equipe colonizados com S. aureus ou Strepto GA, a menos que sejam a fonte do surto Profilaxia antimicrobiana: · Administrar profilático quando indicado · Primeira dose IV, manter níveis adequados durante a cirurgia até algumas horas após o fechamento da incisão - junto com anestésico · Preparo mecânico de cólon antes de cx colorretal e ATB oral no dia anterior · Não utilizar vanco (amplo espectro) rotineiramente Ventilação: · Manter em pressão positiva em relação ao corredor (de forma que, ao abrir a porta da sala, o ar saia e não entre) · Manter pelo menos 15 trocas por hora, com pelo menos 3 de ar fresco · Usar filtros adequados · Manter portas fechadas · Considerar cirurgia ortopédicas com implante em salas ultra-limpas · Limitar o número de pessoas na sala (mas não ocorre muito) Esterilização dos instrumentos cirúrgicos: · Deve-se limpar sempre os aparelhos, mesmo que seja difícil · É uma falha de processo, cabendo reparação pelo paciente Vestimenta da equipe: · Máscara cobrindo boca e nariz, material aberto até o final da cirurgia · Gorro cobrindo todo o cabelo · Não é necessário usar sapatilhas · Avental e luva estéril Limpeza e desinfecção do ambiente: · Existe toda uma técnica para a limpeza de cada procedimento e sala, com materiais adequados, tempo de fazer e o modo · Controlado pela comissão de controle de infecção daquele setor Técnica cirúrgica e de assepsia: · Seguir os princípios de assepsia para inserção de cateter central, anestesia epidural, espinhal e administração de medicação EV · Minimizar tecidos desvitalizados, espaço morto e cuidar com hemostasia, não deixar o tecido secar · Cicatrização por segunda intenção se cirurgião considerar sítio cirúrgico contaminado · Se necessário dreno, usar sistema fechado, com local de saída diferente da incisão, tirando o mais logo possível Medidas no pós-operatório · Proteger com curativo estéril por 24 a 48 horas · Lavas as mãos antes e após manipular o curativo · Se precisar trocar curativo, usar técnica asséptica ANTIBIOTICOPROFILAXIA · Ferida limpa - uso seletivo (ver risco) · Ferida potencialmente contamina ou contaminada → sempre · Ferida infectada → uso terapêutico Princípios · Usar o que tem mais chance de reduzir os riscos de infecção, com rápido tempo de ação e menos efeitos colaterais · Atualmente uso durante o momento da indução anestésica em dose adequada · Pode ter uma segunda dose depende do peso · Mais usadas: cefalosporinas de 1a geração Sugestões · Cefazolina: mastectomia, histerectomia, ooforectomia, abdominoplastia, mamoplastia, gastrectomia e colecistectomia - não indicada outra dose (apenas em algumas cirurgias com mais de 4 horas) - para parede, pele · Cefazolina + metronidazol: cólon - por 24 horas Alternativa para pacientes alérgicos a beta-lactâmicos (cefalosporinas): · Ciprofloxacino - cobertura de gram-negativos (geralmente para cavidade abdominal) · Clindamicina - cobertura de gram-positivos (geralmente para pele em geral) **Deve-se seguir os 5 momentos preconizados para higiene de mãos: PROVA · As pessoas lembram pouco de lavar as mãos. Aumenta risco de contaminação 1. Antes de ter contato com o paciente 2. Antes de realizar um procedimento, principalmente asséptico 3. Após realizar um procedimento (risco de exposição a fluídos corporais) 4. Após o contato com o paciente 5. Após o contato com áreas próximas do paciente Prevenção de IPCS: · Boa técnica de inserção do CVC (técnica estéril) · Manipulação do CVC com técnica asséptica · Uso de CVC por menor tempo possível · Seguir Guidelines específicos Prevenção de PAV: · Boa técnica de inserção de TOT · Uso de antissépticos orais · Aspiração subglótica · Posição e dieta enteral adequadas · Sedação adequada durante o uso de VM · Guidelines específicos para evitar pneumonia · Manter a cama à 45° e tirar o tubo o quanto antes, cuidar da cavidade oral (dentistas) Uso racional de antimicrobianos: · Alguém usa mal, todo mundo paga → efeito colateral social → cria resistência na sociedade Bactérias resistentes: S. aureus R a oxacilina e a todos os beta lactâmicos (MRSA): glicopeptídeos (vanco e teicoplanina), linezolida, daptomicina, tigeciclina e dependendo da cepa pode ser sensível a quinolonas e SMZ-TMP Enterococcus spp R a ampicilina: vancomicina Enterococcus spp R a vancomicina: tigeciclina, linezolida e daptomicina Enterobactérias R a cefalosporinas de 3/4a geração: carbapenêmicos, aminoglicosídeos, quinolonas e tigeciclina · Produtoras de ESBL (E. coli, Klebsiella spp, Enterobacter spp) · Gen AMPc (Cinetobacter, Enterobacter, Serratia, Morganella) · É uma resistência intrínseca, pois pode mostrar que é sensível, mas ao longo do tratamento, tem 30-40% de chance de virar resistente, pois produz beta-lactamase, virando de amplo espectro, virando resistente a todas cefalosporinas Pseudomonas aeruginosa S CBP (geralmente resistentes a cefalosporinas - intrínseco também): carbapenêmicos, piperacilina-tazobactam, aztreonam, aminoglicosídeo Acinetobacter baumannii S CBP (geralmente resistentes a quinolonas e ampicilina-sulbactam - intrínseco também): carbapenêmicos, tigeciclina Bactérias PAN resistentes: Pseudomonas aeruginosa R carbapenêmicos; enterobactérias R carbapenêmicos e Acinetor baumannii R carbapenêmicos: polimixina, aminoglicosídeo *Tigeciclina é opção para enterobactérias e A. baumannii R polimixina (pseudo intrinsecamente resistente a esse) E se for resistente a todos? ESKAPE: Enterococcus faecium, Staphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae, Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa e Enterobacter sp. · Medo da atualidade · São os que têm muita resistência desenvolvida · Aumento dos custos · Uso racional é focado em usar o que é necessário, no momento que for necessário, parando o quanto antes, para dar vida longa aos antimicrobianos e aos pacientes Princípios do uso adequado: **Febre não é sinônimo de infecção · Principais causas de febre: infecções, doenças reumatológicas, doenças malignas e medicações, incluindo antibióticos · Maioria é prescrito desnecessariamente, até para infecção viral, como a maioria das respiratórias altas (otites agudas, faringites agudas, rinossinusites agudas, traqueobronquites agudas) · Investigar outras causas image1.png