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Roxanne Cabral – M8 – 2020.2 – Doenças Infecto-Parasitárias 1 PROFILAXIA DE INFECÇÕES NA PRÁTICA CIRÚRGICA E TRAUMA & ABORDAGEM TERAPÊUTICA DE COMPLICAÇÕES INFECCIOSAS CLÍNICAS E CIRÚRGICAS CONCEITO DE ANTIBIOTICOPROFILAXIA E SUA IMPORTÂNCIA NA PRÁTICA CLÍNICA Infecção do sítio cirúrgico (ISC) é uma infecção relacionada a um procedimento operatório que ocorre na incisão cirúrgica (incisional ou órgão / espaço) dentro de 30 dias do procedimento ou dentro de 90 dias se material protético é implantado na cirurgia. O objetivo da profilaxia antimicrobiana é prevenir a infecção do sítio cirúrgico (ISC), reduzindo a carga de microrganismos no local cirúrgico durante o procedimento operatório. Existem muitas medidas, além de antibiótico, que podem ser tomadas para evitar infecção em sítio cirúrgicos, tais quais: MEDIDAS PRÉ-OPERATÓRIAS Internar o mais próximo da cirurgia Isso evita a colonização por microrganismos do hospital (a microbiota da pele começa a mudar após internação em 72 horas); Controle de DM Restrição do tabagismo próximo ao período da cirurgia Redução de peso Não fazer cirurgia na vigência de foco infecioso Adequada limpeza corpórea pré-cirúrgica banho antes da cirurgia (água e sabão ou com clorexidina) Pesquisa de colonização por S.aureus sensível ou estafilo resistente (swab nasal), se positiva há indicação de Mupirocina nasal e banho com clorexidina por 3 a 5 dias para descolonização, isso é mais importante para cirurgia cardíaca e ortopédica. Tricotomia com lâmina não deve ser realizada (não há aumento de infecção com ou sem pelo). Se for fazer, tem que ser o mais próximo à cirurgia e não pode usar lâmina porque pode causar microlacerações e a pessoa pode ser colonizada por S. aureus, por exemplo, causando infecção. Se a tricotomia for feita, essa deve ser realizada com tesoura ou máquina elétrica. MEDIDAS RELACIONADAS À CIRURGIA Técnica cirúrgica (menor tempo cirúrgico, melhor técnica) Adequada paramentação Higiene das mãos Degermação cirúrgica Em geral de duração de 3 a 5 minutos, da ponta dos dedos até o cotovelo, pode ser feita com clorexidina ou com soluções alcoólicas. Temperatura da sala (18 a 23oC) Para manutenção da normotermia do paciente: colchões térmicos, infusão de solução aquecida, etc. Uso material estéril Antibiótico Critérios de seleção do antibiótico profilático: microrganismos potencialmente envolvidos, efeitos colaterais e custos Idealmente, a profilaxia antimicrobiana deve: Prevenir Infecção de Sítio Cirúrgico Evitar morbimortalidade Reduzir duração e custo dos cuidados de saúde Causar efeitos adversos mínimos Ter efeitos adversos mínimos para a flora microbiana do paciente ou do hospital Para atingir esses objetivos, um antimicrobiano deve ser ativo contra os patógenos com maior probabilidade de contaminar o local, ser administrado em uma dose apropriada e em um momento adequado para garantir níveis séricos e teciduais durante o período de possível contaminação e ser administrado durante período efetivo mais curto para minimizar efeitos adversos, emergência de resistência e custo. Um ponto importante na escolha do ATB depende do tipo de cirurgia e principalmente do sítio cirúrgico. Microrganismos da Pele Gram-positivos Principais: Estafilococos e Estreptococos; Secundários: Micrococcus, Corynebacterium, difteriodes. Microrganismos da Mucosa Gram positivo & Gram-negativos & Anareróbios (variando com os sítios). CAVIDADE ORAL: há muito Estreptococos do grupo viridans; MUCOSA GENITAL: predomínio de gram-negativos. Microrganismos do TGI Predomínio de Gram-Negativos de uma forma geral. No cólon há Gram-Negativos e muitos anaeróbios. Classificação das Cirurgias Segundo o Potencial de Contaminação De acordo com os riscos de contaminação, as cirurgias são classificadas em: limpas, potencialmente contaminadas, contaminadas e infectadas. 1.CIRURGIAS LIMPAS São realizadas em tecidos estéreis ou passíveis de descontaminação, na ausência de processo infeccioso local. Consideram-se limpas as cirurgias realizadas na epiderme, tecido celular subcutâneo, sistemas músculo-esquelético, nervoso e cardiovascular. Cirurgia na qual podemos inibir a maior parte das bactérias por assepsia. Roxanne Cabral – M8 – 2020.2 – Doenças Infecto-Parasitárias 2 Cirurgias limpas que necessitam de ATB são aquelas cirurgias com chance muito baixa de infecção, mas se ocorrer infecção, as consequências podem ser muito danosas ao paciente. Exemplos: neurocirurgia e cirurgia cardíaca (risco de mediastininite). 2. CIRURGIAS POTENCIALMENTE CONTAMINADAS São as realizadas em tecidos colonizados por flora microbiana pouco numerosa, em tecidos cavitários com comunicação com o meio externo, ou de difícil descontaminação, na ausência de processo infeccioso local. Consideram-se potencialmente contaminadas as cirurgias realizadas nos tratos gastrintestinal (exceto cólon), respiratório superior e inferior, genito-urinário, cirurgias oculares e de vias biliares. Em resumo: cirurgias em locais que podem ou não ter microbiota. 3. CIRURGIAS CONTAMINADAS São as realizadas em tecidos colonizados por flora microbiana abundante, de difícil descontaminação, na ausência de processo infeccioso local. Consideram-se contaminadas as cirurgias realizadas no cólon, reto e ânus; em tecido com lesões cruentas e cirurgias de traumatismo crânio encefálicos abertos. 4. CIRURGIAS INFECTADAS São as realizadas em qualquer tecido, na presença de processo infeccioso local. Ex.: abscesso, drenagem de empiema de vesícula. Antibioticoprofilaxia - Aspectos Gerais Bom perfil para gram-positivos Abrange gram-negativos mais sensíveis (enterobactérias) A cefazolina é a droga de escolha para muitos procedimentos e os motivos incluem: a cefazolina é o agente antimicrobiano mais amplamente estudado com eficácia comprovada para profilaxia antimicrobiana. A cefazolina tem uma duração de ação desejável, espectro de atividade contra organismos comumente encontrados em cirurgia e possui um excelente perfil de segurança e baixo custo. A cefazolina atua contra: Estreptococo Estafilococos suscetíveis à meticilina Muitos organismos gram-negativos As cefalosporinas de 2ª geração (como a cefuroxima) teoricamente têm uma cobertura mais ampla contra organismos gram-negativos que a cefazolina, mas a resistência a esses antimicrobianos está aumentando. A cefoxitina e o cefotetano também têm alguma atividade anaeróbica Antibióticos Alternativos à Cefazolina - em cirurgias simples - Outras cefalosporinas Amoxicilina + Clavulanato Clindamicina Vancomicina Gentamicina (aminoglicosídeo): abrange gram negativo e S. aureus, com isso pode ser utilizado para profilaxia de cirurgia de abdome. Azitromicina: utilizada apenas para procedimentos dentários. ATB gerais segundo sítio Cirurgias cardíacas Cefazolina ou Cefuroxima Vesícula A profilaxia é cefazolina, porém cefalosporinas não abrangem adequadamente enterococos. Intestino delgado e estômago Cefazolina Intestino grosso Pensar em gram negativo e anaeróbio Amoxicilina + Clavulanato Ampicilina + Sulbactam Cefazolina + Metronidazol Cirurgias que não necessitam de ATBprofilaxia Tireoidectomia (assepsia é mais importante) Colecistectomia videolaparoscópica sem risco aumentado Próteses mamárias Cirurgias odontológicas ou Procedimentos Dentários Simples e Antibioticoprofilaxia Quando a cirurgia é realizada em cavidade oral, é necessária ATB profilaxia e essa normalmente é feita com amoxicilina (1 dose), pois é uma região rica em Estreptococos. Se for alérgico a amoxicilina, podemos fazer clindamicina ou azitromicina. Vale ressaltar quegestantes podem fazer uso de amoxicilina sem problemas. O antibiótico mais utilizado na prática clínica, principalmente em eletivas, é a CEFALOZINA. Roxanne Cabral – M8 – 2020.2 – Doenças Infecto-Parasitárias 3 No contexto dos procedimentos dentários, devemos ainda avaliar se o paciente apresenta risco para endocardite infecciosa (EI), pois com a manipulação da cavidade oral nessas cirurgias, bactérias da mucosa oral podem atingir a circulação (bacteremia) e se houver um ambiente propício no tecido cardíaco pode ocorrer uma EI; algumas situações nas quais é favorável a ocorrência de EI são: Paciente com prótese valvar; Histórico de endocardite infeciosa; Cardiopatia congênita cianótica não corrigida. Princípios básicos: indicação, momento de administração e duração da antibioticoprofilaxia A profilaxia antibiótica deve ser administrada em doses suficientes para atingir níveis adequados de drogas séricas e teciduais para o intervalo durante o qual o local cirúrgico está aberto. Para a maioria dos adultos, é aceitável usar doses antimicrobianos com base em padrões de segurança, eficácia e conveniência. No entanto, as concentrações séricas e teciduais de alguns medicamentos administrados a pacientes obesos podem diferir daqueles em pacientes não obesos por várias razões, incluindo a variabilidade farmacocinética relacionada à lipofilicidade do medicamento administrado. Dose e Forma de Administração A dose do antibiótico é determinada de acordo com o peso e a cirurgia deve iniciar em até 60 minutos da administração do ATB, pois, se atrasar muito o início, o nível sérico começa a decair e pode levar a uma redução de proteção antibiótica do paciente. Administração do ATB: Bolus Infusão Se o agente preferido for vancomicina ou fluoroquinolona, a administração deve começar 120 minutos antes da cirurgia devido aos tempos prolongados de infusão necessários para esses medicamentos. Em geral, não é necessário repetir a dose antimicrobiana após a cirurgia e se essa for mantida pode causar danos ao paciente devido a um aumento no risco de desenvolvimento de resistência aos antimicrobianos e infecção por C. difficile. Se a profilaxia continuar além do tempo da cirurgia, a duração não deve exceder 24 horas Assim... se a cirurgia transcorreu bem, na maioria dos casos, não é necessária nova dose de ATB durante ou após a cirurgia. o Não há redução da chance de infecção se for mantido ATB, por isso não deve ser feito. Os casos de complicações durante a cirurgia ou cirurgia com manutenção de dreno também não são indicativos para manutenção do ATB. Motivo para MANUTENÇÃO do ATB Cirurgia na vigência de infecção (por ex.: após drenagem de abscesso). Nessas situações o ATB é para TRATAMENTO da infecção. Cirurgias cardíacas e ortopédicas com próteses tem indicação para antibioticoprofilaxia por 24h após cirurgia. Repetição de Dose do ATB Complicação hemorrágica Cirurgias Longas (excedem 2x a meia vida da droga) Para garantir concentrações séricas e teciduais antimicrobianas adequadas, aa repetição da dosagem intraoperatória deve ser assegurada para procedimentos que excedam duas meias-vidas da droga e para procedimentos em que há perda excessiva de sangue (> 1500 mL). Caso 1A Paciente de 65 anos realiza craniotomia (acesso via pele) de urgência para descompressão cerebral devido a um AVE hemorrágico. No preparo cirúrgico o anestesista faz cefazolina 15 minutos antes da incisão. A cirurgia durou cerca de 2h e foi tecnicamente complicada (sangramento de difícil controle), por isso o cirurgião principal decidiu que a profilaxia com cefazolina fosse estendida por 72h. O paciente é hipertenso e não fez uso prévio de antibiótico durante sua internação hospitalar. Craniotomia = acesso via pele, com isso devemos considerar microrganismos de pele. Gram-positivos de pele (Estreptococos, Estafilococos) Escolha principal de ATB: CEFAZOLINA Condutas erradas: Manter por 72h Essa profilaxia foi inadequada pois não há necessidade de estender a antibioticoterapia nesse caso. Se hemorragia > 1,5L repetição de dose do ATB sem adições adicionais. Não tem problema o uso de ATB 15 minutos antes da cirurgia, pois o certo é fazer dentro dos 60 minutos da cirurgia. Entretanto, é preferível que essa seja feita 30- 60minutos antes da cirurgia. Roxanne Cabral – M8 – 2020.2 – Doenças Infecto-Parasitárias 4 Indicações de antibioticoprofilaxia nas principais situações cirúrgicas CIRURGIA CARDÍACA S. aureus, S. epidermidis Cefazolina IV CIRURGIA TGI Cirurgia Gastroduodenal Se envolver entrada no lúmen: Bacilo entérico gram negativo e cocos gram positivos Cefazolina IV. Se não houver entrada no lúmen, só fazer administração de Cefazolina IV se for procedimento de alto risco. Cirurgia no Trato biliar (incluindo pâncreas) Procedimento laparoscópico de baixo risco: Nenhuma profilaxia Aberto ou laparoscópico de alto risco Bacilos entéricos gram negativos, enterococo, clostridia Cefazolina IV Vesícula local com muitos enterococos Cirurgia de apêndice (apendicectomia) Bacilo entérico gram negativo, anaeróbio e enterococo ↓ Metronidazol + Cefazolina OU Cefoxitina Cirurgia do intestino delgado SEM obstrução Bacilo entérico gram negativo e cocos gram positivos Cefazolina IV COM obstrução: Bacilo entérico gram negativo, anaeróbio, enterococo. Metronidazol + Cefazolina OU Cefoxitina Cirurgia para Reparo de Hérnia Aeróbios gram positivo Cefazolina Cirurgia Colorretal Bacilo entérico gram negativo, anaeróbio e enterococo ↓ Metronidazol + Cefotaxima ou Cefazolina (ou Ampicilina + Sulbactam) Para todas as cirurgias do TGI Se houver alergia a penicilina ou cefalosporinas, podemos fazer os seguintes ATB: Clindamicina ou Vancomicina + Gentamicina ou Ciprofloxacino ou Lefloxacina Ou ainda... somente Aztreonam CIRURGIA GÊNITO-URINÁRIA Bacilo entérico gram negativo e enterococo Cirurgia aberta ou laparoscópica Cefazolina Cistoscopia de alto risco Sulfametoxazol + Trimetoprim (ou Ciprofloxacino) Cistoscopia com manipulação ou instrumentação do trato superior Sulfametoxazol + Trimetoprim. CIRURGIA GINECOLÓGICA OU OBSTÉTRICA Qualquer forma de histerectomia e procedimentos de reconstrução pélvica Cefazolina ou Cefoxitina ou Cefotetan Cesariana Cefazolina Se a cesariana ocorrer na vigência de ruptura de membranas ou em trabalho de parto adicionar azitromicina. Laparotomia sem entrar em instestino ou vagina Cefazolina. Qualquer evacuação uterina (aborto cirúrgico, p. ex) Doxaciclina Histerosalpingografia e laparoscopia Nenhuma profilaxia CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO Limpa Nenhuma profilaxia Limpa com colocação de prótese S.aureus, S.epidermidis e estreptococo ↓ Cefazolina Contaminada Anaeróbio, bacilo entérico gram negativo e S. aureus ↓ Cefazolina + Metronidazol NEUROCIRURGIA S. aureus e S. epidermidis ↓ Cefazolina (ou vancomicina ou clindamicina) Roxanne Cabral – M8 – 2020.2 – Doenças Infecto-Parasitárias 5 CIRURGIA ORTOPÉDICA Limpa (mão, joelho, pé) Nenhuma profilaxia Coluna, quadril, fixação interna, artrodese S.aureus e S.epidermidis ↓ Cefazolina CIRURGIA TORÁCICA NÃO CARDÍACA S.aureus, S.epidermidis, estreptococo Bacilos entéricos gram negativos ↓ Cefazolina (ou ampicilina com sulbactam ou vancomicina ou clindamicina) CIRURGIA VASCULAR Cirurgia arterial envolvendo: prótese, aortabdominal ou incisão em virilha S. aureus, S. epidermidis e bacilo entérico gram negativo ↓ Cefazolina (ou vancomicina ou clindamicina) Amputação de MMII por isquemia: S.aureus, S.epidermidis, bacilo entérico gram negativoClostridia ↓ Cefazolina (ou vancomicina ou clindamicina) CIRURGIA DE MAMA Procedimentos oncológicos S.aureus, S.epidermidis e estreptococos ↓ Cefazolina Outros (mamoplastias em geral, mastectomia profilática) Nenhuma profilaxia PROCEDIMENTOS PERCUTÂNEOS Colocação de endopróteses S.aureus e S.epidermidis ↓ Cefazolina (ou vancomicina ou clindamicina) Outros mNenhuma profilaxia ANTIBIÓTICO NO TRAUMA O problema das fraturas expostas é que um quadro de osteomielite pode se desenvolver como resultado da contaminação fratura. Os patógenos envolvidos podem ser da microbiota da pele, organismos ambientais ou patógenos nosocomiais. A maioria organismos comuns incluem Staphylococcus aureus, estafilococos coagulase-negativos e bacilos gram-negativos aeróbicos. Outros patógenos menos comumente implicados incluem enterococos, anaeróbios, fungos e micobactérias. Se a fratura estiver associada à água, infecção pode ser causada por espécies de Pseudomonas, Aeromonas ou Vibrio. Após uma fratura exposta, o tratamento inicial consiste em desbridamento com irrigação da lesão, obtenção de biópsia óssea para cultura, fixação de fratura (se necessário) e terapia antimicrobiana adaptada aos dados de cultura e suscetibilidade. Caso 1B Paciente masculino, 23 anos, sofre acidente automobilístico e dá entrada na emergência 2 horas após com dor abdominal e fratura exposta em tíbia e fíbula esquerdas (tipo II). Após entrada, TC de abdome não demonstrou lesões viscerais (exclui ruptura de víscera). Qual conduta a ser realizada nesse caso? Deve ser feito desbridamento cirúrgico e administração de ATB em até 6h. Essas ações reduzem a chance de ocorrência de osteomielite no futuro. Com relação as fraturas, temos a classificação de Gustilo-Anderson. Quanto maior a classificação, maior a gravidade. Tipo Ferida Contaminação Partes Moles Fratura I < 1cm Limpa Lesão mínima, pequenos ferimentos cutâneos Simples II > 1cm Limpa ou contaminada Laceração sem perda tecidual siginificativa, flaps ou avulsões Simples ou cominutiva IIIA > 10cm Contaminação grosseira Lesão de partes moles extensa e gravem COM cobertura ósseo Cominutiva IIIB Perda tecidual extensa que impede cobertura óssea Cominutiva IIIC Lesão vascular associada que exige reparo cirúrgico de slavação Cominutiva Microrganismos envolvidos em fraturas abertas: Gram positivos (principalmente) Gram negativas (contato da pele com solo) Em geral, pode-se realizar profilaxia com cefazolina/cefuroxima para cobertura de gram positivos de pele e alguns gram negativos. Seleção de antibióticos Para pacientes com fraturas do tipo I e tipo II, a antibioticoterapia deve incluir atividade contra organismos gram-positivos. Roxanne Cabral – M8 – 2020.2 – Doenças Infecto-Parasitárias 6 A cefazolina é um regime razoável. Para pacientes em risco de S. aureus resistente à meticilina, a cobertura gram-positiva deve consistir em vancomicina. Para pacientes com fraturas do tipo III, a antibioticoterapia deve incluir atividade contra microrganismos gram-positivos e gram negativos. Cefazolina + Gentamicina Ceftriaxona (monoterapia) é uma alternativa aceitável. Considerações importantes na ATBprofilaxia Para pacientes com fratura exposta associada à contaminação do solo, é recomendada a adição de metronidazol aos esquemas acima, para cobertura de Clostridium spp. Para pacientes com fratura exposta associada à contaminação de água doce, indica-se piperacilina-tazobactam para atividade contra patógenos gram-negativos, como Pseudomonas e Aeromonas. Para pacientes com fratura exposta associada à contaminação da água do mar, indica-se piperacilina-tazobactam (como para água doce), bem como doxiciclina para atividade contra as espécies Vibrio. Duração A duração da antibioticoterapia depende da classificação da fratura Nas fraturas expostas a Gustilo tipo I e II, os antibióticos podem ser descontinuados após 24 horas do início da antibioticoprofilaxia (se atendimento após 6h do trauma, continuar o ATB por 48h). Para fraturas expostas ao Gustilo tipo III, os antibióticos podem ser descontinuados após 72 horas ou dentro de um dia após o fechamento das lesões de partes moles. A administração prolongada de antibióticos não reduz o risco de infecção e pode levar à desenvolvimento de organismos resistentes. RESUMOS Antibióticos indicado para GA tipo I e II: CEFAZOLINA Atendimento precoce (até 6h): fazer profilaxia antes da cirurgia e manter por 24h. Atendimento tardio: fazer profilaxia antes da cirurgia e manter por 48h. O paciente possivelmente precisará de cirurgia também e a antibioticoprofilaxia será a mesma daquela usada para a fratura. Antibióticos indicado para GA tipo III: CEFAZOLINA + GENTAMICINA Fazer profilaxia antes da cirurgia e manter por 72h. E se houvesse indícios de lesão abdominal como rupturas de vísceras? Nesse caso, devemos também incluir ATB que cubra TGI, com isso, devemos abranger: GRAM NEGATIVOS ANAERÓBIOS Cefazolina + Metronidazol. Amoxicilina + Clavulanato Ampicilina + Sulbactam TRATAMENTO DE INFECÇÕES POR BACTÉRIAS MULTIRESISTÊNTES (ESBL E CARBAPENEMASES) Bactérias multirresistentes produtoras de ESBL As beta-lactamases são enzimas que abrem o anel beta- lactâmico, inativando o antibiótico. As beta-lactamases de espectro estendido (ESBL) são enzimas que conferem resistência à maioria dos betalactâmicos, incluindo penicilinas, cefalosporinas e o monobactâmico aztreonam. Os ESBLs variam em atividade contra diferentes substratos oximino-beta-lactâmicos, mas não podem atacar o cefamicinas (cefoxitina, cefotetana e cefmetazol) e os carbapenêmicos (imipenem, meropenem, doripenem e ertapenem). Eles também são geralmente suscetíveis à inibidores de beta-lactamase, como clavulanato, sulbactam e tazobactam, que consequentemente podem ser combinados com um substrato beta-lactâmico para testar a presença desse mecanismo de resistência. ESBLs foram encontrados exclusivamente em organismos gram-negativos, principalmente em Klebsiella pneumoniae, Klebsiella oxytoca e Escherichia coli. As opções terapêuticas comprovadas e preferidas para infecções graves causadas por organismos produtores de beta-lactamase de espectro estendido (ESBL) são carbapenêmicos. Usamos meropenem ou imipenem para a maioria das infecções por ESBL. Ertapenem é uma opção aceitável na ausência de resistência ou sepse grave e pode ser particularmente útil no ambiente ambulatorial. PS: Carbapêmicos cobrem também anaeróbios. Roxanne Cabral – M8 – 2020.2 – Doenças Infecto-Parasitárias 7 Posologia, em geral: Meropenem e Imipenem: 8/8h o Cobre pseudomonas. Ertapenem: dose 1x/dia, IM. o Não cobre pseudomonas. Carbapenamases A partir dos anos 2000, a Klebisiela começou a se tornar resistentes aos carbapnêmicos através da produção de enzimas chamadas carbapenamases. As carbapenemases representam a família mais versátil de β-lactamases, com uma amplitude de espectro inigualável por outras enzimas que hidrolisam a β- lactâmicos. Embora conhecidas como "carbapenemases", muitas dessas enzimas reconhecem quase todas as β- lactamas hidrolisáveis e a maioria é resistente à inibição de todos os inibidores da β-lactamase comercialmente viáveis. Dentro do grupo das ERC, existem subdivisões que determinam diferentes graus de resistência. Poucos antibióticos são eficazes contra ERC. Opções em uso: Tigeciclina Polimixina B Aminoglicosídeos (eventualmente) Em geral, mantemos a droga a qual a bactéria se tornou resistente e adicionamos ao esquema uma dessas 3 drogas acima. Exemplo: Meropenem + Polimixina B + GentamicinaINFECÇÕES INTRA-ABDOMINAIS As infecções intra-abdominais geralmente surgem após uma violação da barreira de defesa da mucosa normal isso permite que a flora intestinal normal inocule a cavidade abdominal. A microbiota colônica é especialmente comum em infecções intra-abdominais, refletindo a frequência de doenças associadas neste sítio anatômico, incluindo apendicite, diverticulite, carcinoma do cólon, doença inflamatória intestinal e cirurgia prévia do cólon. As bactérias envolvidas nessas infecções são: Coliformes (por exemplo, Escherichia, Klebsiella spp, Proteus spp, Enterobacter spp) Estreptococos Bactérias anaeróbicas. Embora os enterococos sejam frequentemente isolados, sua relevância clínica é geralmente limitada aos serviços de saúde. A perfuração do intestino proximal, como na úlcera péptica perfurada, resulta em uma infecção que é microbiologicamente distinta, refletindo a microbiota do trato gastrointestinal superior. As espécies predominantes nesses casos geralmente incluem: Bactérias gram-positivas aeróbias e anaeróbicas Candida spp. Terapia antimicrobiana prévia e exposições a serviços de saúde estão associadas a alterações microbiológicas na microbiota intestinal, e infecções intra-abdominais em tais situações são, portanto, mais propensas a envolver patógenos nosocomiais, como Pseudomonas aeruginosa e outros organismos resistentes a medicamentos. É provável que os enterococos sejam clinicamente relevantes em infecções relacionadas à assistência à saúde, particularmente em infecções pós-operatórias, em contraste com infecções adquiridas na comunidade, nas quais são frequentemente isolados, mas geralmente não são patógenos importantes. Candida spp também são mais comuns, tanto em intestino delgado e grosso, entre pacientes com infecção hospitalar, antibioticoterapia prévia, condições que comprometam a imunidade ou em casos de história de infecção recorrente. Antibioticoterapia Para tratamento empírico de pacientes com infecções intra- abdominais leves a moderadas adquiridas na comunidade (por exemplo, apêndice perfurado ou abscesso apendicular) que não apresentam fatores de risco para resistência a antibióticos ou falha no tratamento devemos garantir cobertura para: Estreptococos entéricos não resistentes Enterobactérias Anaeróbios Antes... a principal bactéria associada a carbapenamases era a Klebisiela... ↓ KPC: Klebisiela Pneumoniae c/ Carbapenemases Agora... várias enterobactérias adquiriram a informação de resistência, então... ↓ ERC: Enterobactéricas Resistentes aos Carbapenêmicos Roxanne Cabral – M8 – 2020.2 – Doenças Infecto-Parasitárias 8 Podendo ser utilizado: Ertapenen Piperacilina-Tazobactam Metronidazol + (cefazolina ou cefuroxima ou ceftriaxone, etc.) Para tratamento empírico de infecções intra-abdominais adquiridas na comunidade que são graves ou de pacientes com alto risco ou resistência, geralmente incluímos um agente com atividade gram-negativa ampla o suficiente para cobrir Pseudomonas aeruginosa e enterobactérias resistentes a cefalosporinas de 3ª geração não pseudomonais, além da cobertura contra estreptococos entéricos e anaeróbios Imipenem-cilastatin Meropenem Metronidazol + (Cefepime ou Ceftazidime) Pacientes de alto-risco: Pacientes com viagens recentes para áreas do mundo com altas taxas de organismos resistentes a antibióticos Colonização conhecida por organismos resistentes Idade avançada Imunocomprometidos Outras comorbidades médicas importantes. Caso 1 C Paciente de 28 anos, masculino, sofreu acidente de trânsito com trauma abdominal fechado. Foi levado para emergência onde foi diagnosticado ruptura de vísceras abdominais com hemoperitônio. Foi submetido a esplenectomia e colectomia parcial (cólon descendente e 1/3 do transverso) recebendo cefazolina como profilaxia em dose única. Até o 4° dia de pós operatório evoluía bem, mas começou a apresentar febre e dor abdominal, que piorou nos dias subsequentes. Tomografia mostrou líquido em cavidade abdominal e presença de ar. Na reabordagem cirúrgica foi evidenciado deiscência de suturas em cólon com presença de secreção purulenta em cavidade peritoneal (pode ter ocorrido contaminação na cavidade peritoneal por fezes que leva microbiota intestinal podendo causar peritonite) quando foi iniciado ceftriaxone. A conduta profilática na 1ª abordagem foi adequada? Não. Em cirurgia colo-retal é necessário cobrir, além de bacilos gram negativos entéricos, as bactérias anaeróbias (bacterioides fragilis). Desse modo, poderíamos adicionar metronidazol ao esquema ou usar amoxicilina com Clavulanato. Esquema ATB profilático para o caso: Metronidazol + cefazolina ou ceftriaxone ou gentamicina Amoxilina + clavulanato A cefoxitina abrange anaeróbios e por isso pode ser usada em monoterapia para infecções do TGI. Para tratamento de infecções intestinais, SEMPRE temos que nos preocupar com ANAERÓBIOS, mesmo que se em cultura crescer outro tipo de bactérias. PS.: A única quinolona que cobre anaeróbio é o moxifloxino. Se em cultura do material purulento da cavidade peritoneal for notado crescimento de ESBL, devemos considerar o seguinte: Paciente está em uso de ceftriaxone Devemos retirar o ceftriaxone Adicionar carbapenêmicos (meropenen, imepenem) Para quais fármacos os ESBL apresentam resistências? Penicilinas, cefalosporinas e monobactâmicos. Em caso de apendicite, é realizada de praxe uma profilaxia ATB cirúrgica. Porém, se após visualização do apêndice for notado: Apêndice íntegro: a conduta é ressecção do apêndice, lavagem da cavidade e não há mais necessidade de ATB após cirurgia Apêndice supurado: ressecção, lavagem da cavidade abundante e ATB profilaxia por 3 dias após a cirurgia. USO DE ATB EM INFECÇÃO DE FERIDA CIRÚRGICA, PÉ DIABÉTICO E ÚLCERA DE PRESSÃO. INFECÇÃO EM FERIDA CIRÚRGICA Os organismos predominantes que causam infecções do sítio cirúrgico (ISC) após procedimentos limpos são: Microrganismos presentes na pele Estreptococos e Estafilococos (Staphylococcus aureus e Staphylococcus epidermidis). Em procedimentos contaminados, os organismos predominantes incluem: Bacilos gram-negativos e enterococos, além da flora da pele. Quando o procedimento cirúrgico envolve uma víscera, os patógenos refletem a flora endógena da viscera ou da superfície mucosa próxima; tais infecções são tipicamente polimicrobianas. INFECÇÃO NO PÉ DIABÉTICO As infecções do pé diabético estão associadas a morbimortalidade substancial. Fatores de risco importantes para o desenvolvimento de infecções do pé diabético incluem neuropatia, doença vascular periférica e mau controle glicêmico. Roxanne Cabral – M8 – 2020.2 – Doenças Infecto-Parasitárias 9 NEUROPATIA: no cenário da neuropatia sensorial, há diminuição da percepção de dor e temperatura; assim, muitos pacientes demoram a reconhecer a presença de uma lesão em seus pés. A neuropatia autonômica pode causar redução do suor, resultando em pele seca e rachada, facilitando assim a entrada de microrganismos nas estruturas mais profundas da pele. Além disso, o mecanismo a neuropatia pode levar a deformidades nos pés, que levam a danos nos tecidos moles induzidos por pressão. DOENÇA ARTERIAL PERIFÉRICA: pode prejudicar o fluxo sanguíneo necessário para a cura de úlceras e infecções. HIPERGLICEMIA: prejudica a função dos neutrófilos e reduz as defesas do hospedeiro. Úlcera plantar em pé diabético Trauma em pacientes com um ou mais desses fatores de risco precipita o desenvolvimento de feridas que podem demorar para cicatrizar e predispor a infecção secundária. Manejo da infecção no pé diabético O manejo de infecções nos pés diabéticos requercuidado com as feridas, boa nutrição, terapia antimicrobiana, controle glicêmico e equilíbrio de líquidos e eletrólitos. O manejo inclui cuidados com feridas locais, incluindo desbridamento de calos e necrose tecidual, limpeza de feridas e alívio da pressão sobre a úlcera. É importante consulta com um cirurgião com experiência na infecção do pé diabético para casos graves e moderados. O desbridamento cirúrgico imediato é fundamental para a cura de infecções complicada por abscesso, envolvimento ósseo ou articular extenso, crepitação, necrose, gangrena ou fasceíte necrosante e é importante para o controle do foco infeccioso em pacientes com sepse grave. Microrganismos e Pé Diabético A maioria das infecções de pé diabéticas são polimicrobianas. A microbiologia das feridas diabéticas nos pés é variável, dependendo da extensão do envolvimento: Infecções superficiais do pé diabético (incluindo celulite e úlceras infectadas em uso de antibióticos provavelmente) devido a cocos Gram-positivos aeróbicos: Staphylococcus aureus Streptococcus agalactiae Streptococcus pyogenes Estafilococos coagulase-negativos Úlceras profundas, cronicamente infectadas e/ou previamente tratadas com antibióticos são mais provavelmente polimicrobianos. Tais feridas podem envolver os organismos acima, além de: Enterococos Enterobacteriaceae Pseudomonas aeruginosa Anaeróbios Feridas com inflamação local extensa, necrose, drenagem fétida ou gangrena e sinais de toxicidade sistêmica podem ter organismos anaeróbicos, além dos patógenos acima. Patógenos potenciais incluem estreptococos anaeróbicos, espécies de: Bacteroides & Espécies de Clostridium Staphylococcus aureus resistente O S. aureus resistente à meticilina (MRSA) é um patógeno comum em infecções diabéticas do pé, particularmente naqueles que tiveram infecções por MRSA anteriores ou colonização conhecida. EM RESUMO... Gram-positivos: estreptocos e estafilococos Gram-negativos intestinais (enterobactérias) Anaeróbios Pé Diabético e Osteomielite Osteomielite pode ocorrer em um ferimento diabético no pé com ou sem evidência de infecção de partes moles. As características clínicas associadas à osteomielite subjacente em pacientes com úlcera no pé diabético incluem: Feridas presentes por tempo > 2 semanas Feridas extensas (>2cm) Feridas profundas com exposição óssea VHS > 70mm/h Suspeita-se de osteomielite principalmente quando há exposição óssea pela úlcera e ela pode ocorrer principalmente por contiguidade. O tratamento do pé diabético associado à osteomielite é muito mais difícil. Além da necessidade de desbridamento de tecido desvitalizado, há necessidade de antibioticoterapia por mais tempo. Caso 1D Paciente do sexo feminino, 65 anos, diabética mal controlada, chega a UPA queixando-se de ferida em pé direito há cerca de 20 dias, mas que há três dias está pior. Ao exame: BEG, temperatura axilar 36,2o C, FR 22 irpm, FC 100 bpm, PA 140x90 mmhg. Presença de úlcera em planta do pé direito de cerca de 3 cm de diâmetro e com halo de hiperemia de 4 cm com saída de secreção purulenta e odor fétido. Roxanne Cabral – M8 – 2020.2 – Doenças Infecto-Parasitárias 10 Paciente com úlcera diabética infectada com sinais sistêmicos, mas sem sepse, qual antibioticoterapia pode ser sugerida incluindo via e tempo de uso? Amoxicilina com Clavulanato – VO – 7D. ou Amoxicilina com Clavulanato – VO – 7D. + Sulfametaxozol-Trimetropim – VO (pensando em CA-MRSA) Para úlcera diabética, cobrir: Cocos gram positivos o Estafilococos aureus (MSSA e CA-MRSA) o Estreptococos pyogenes Enterobactérias Anaeróbios (B. fragilis) ↓ MONOTERAPIA Beta-lactâmicos a única droga que cobrirá o Bacterioides fragilis é a Cefoxitina Carbapenêmicos ertapenem, meropenem ou imipenem Tigeciclina Moxifloxacino COMBINADA Amoxicilina com Clavulanato (= ampicilina ou amoxicilna + sulbactan) Piperacilina + Tazobactam Ticarcilina + Clavulanato (cobrem também pseudomonas) Metronidazol + Cefazolina ou Cefuroxina ou Ceftriaxone Metronidazol + Ciprofloxacino Metronidazol + Gentamicina (não serve para o pé diabético porque só cobre gram negativo e anaeróbio, serviria para sepse abdominal) Se a paciente estivesse apresentando sinais de gravidade (SEPSE), qual antibioticoterapia pode ser sugerida? Errar o ATB nesse caso pode ser crítico, pois aumenta a mortalidade. Com isso devemos aumentar o espectro, pensando em Pseudomonas e MRSA. Indicações: VANCOMICINA (MRSA, enterococos e todos os outros gram positivos) + PIPERACILINA + TAZOBACTAN (enterococos, gram positivos e gram negativos) Outros: Vancomicina e cefepime não cobre bem anaeróbios. Vancomicina e ceftriaxone não cobre bem anaeróbios. Vacomina + Carbapenêmicos indicado quando o paciente tem sinais de gravidade importantes. Quais os fatores de risco para osteomielite em úlcera diabética? Feridas abertas com exposição óssea Feridas com > 2 semanas Feridas extensas (>2cm) VHS > 70mm/h Esses fatores determinam extensão da lesão e indicam acometimento ósseo. COLETA ADEQUADA DE MATERIAL PARA CULTIVO A coleta e transporte de sangue ou outro material de origem humana implica na adoção de cuidados compatíveis com o procedimento a ser executado, para evitar a transmissão de infecções independentes do diagnóstico ou condição do paciente (“precauções universais”). Não são confiáveis, necessariamente, os resultados de exames de material clínico coletado, transportado ou processado de forma inadequada. Sempre que possível, o material biológico a ser coletado para diagnóstico etiológico deverá ser obtido antes da introdução de antimicrobianos, pois a presença do antimicrobiano poderá, além de reduzir a quantidade de microrganismos na amostra a ser processada, interferir posteriormente com o crescimento in vitro. Entretanto, se por alguma razão o início da terapêutica antimicrobiana já tiver ocorrido e não houver possibilidade clínica de interrupção do esquema, isto não deverá impedir a realização de culturas ou de outros exames que estiverem indicados. Nestas circunstâncias é fundamental que o laboratório de microbiologia esteja ciente das drogas em uso, de forma a adotar metodologias alternativas para minimizar o efeito negativo dos antimicrobianos sobre o rendimento das técnicas de isolamento em cultivo. É recomendável que as amostras sejam colocadas em recipientes estéreis sem resíduos de detergentes, desinfetantes, antibióticos ou anestésicos, pois até mesmo traços destas substâncias podem ter efeito inibitório sobre o crescimento de microorganismos. Todos os recipientes (frascos, tubos, lâminas, swabs etc.) contendo amostras biológicas para diagnóstico devem ser cuidadosamente identificados no momento em que forem obtidos, para que não reste qualquer dúvida quanto à identificação do indivíduo fonte e sua localização, e quanto à natureza do material e ao momento da coleta. Os dados contidos nestes recipientes devem estar de acordo com a solicitação médica do exame. Números de registros (prontuário, inscrição no laboratório) devem constar em ambos. Roxanne Cabral – M8 – 2020.2 – Doenças Infecto-Parasitárias 11 Materiais encaminhados ao laboratório sem que estes cuidados tenham sido adotados devem ser rejeitados. Locais com Microbiota A cultura de material coletado de locais que possuem uma microbiota residente, na maioria das vezes, tem pouca utilidade clínica em razão da possibilidade de contaminação. Contudo, quando se procura um agente que não faz habitualmente parte da microbiota, ou seja, um patógeno primário, as culturas de materiais destas regiões podem resultar na confirmação etiológica do diagnóstico clínico.Lesões cutâneas A pele é dotada de numerosa microbiota residente. As culturas, no entanto, são bastante úteis e com resultados que têm valor confirmatório, no caso de lesões ulceradas que têm agentes etiológicos que habitualmente não fazem parte da microbiota de pele, como ectima (Streptococcus pyogenes) e difteria cutânea (Corynebacterium diphtheriae). São úteis também no caso de lesões fechadas, como bolhas, abscessos, furúnculos e celulites. Oro e nasofaringe Culturas são úteis nos casos de suspeita de amigdalite estreptocócica (Streptococcus pyogenes) e difteria (Corynebacterium diphtheriae). Trato respiratório inferior O trato respiratório inferior não tem microbiota residente. A microbiota da orofaringe, contudo, contamina o escarro expectorado (espontaneamente ou após indução), o que torna pouco confiável o resultado de culturas. A contaminação (em maior ou menor grau) também ocorre quando o material é obtido por aspiração endotraqueal ou mesmo pelo lavado bronco-alveolar. As culturas, no entanto, são úteis no caso de suspeita de doenças, como a tuberculose. A bacterioscopia pelo Gram é extremamente útil na avaliação etiológica das pneumonias, uma vez que possibilita a verificação da representatividade da amostra colhida (presença de neutrófilos e macrófagos), e uma análise quantitativa e morfotintorial da bactéria predominante Em um Gram de escarro com mais de vinte e cinco polimorfonucleares e menos de dez células epiteliais por campo de 100 aumentos, o predomínio (observado na imersão) de cocos gram-positivos agrupados em pares sugere fortemente o Streptococcus pneumoniae como agente etiológico. Streptococos pneumoniae pelo método de gram Evidências de que a amostra de escarro é verdadeira e não saliva: Ausência de células epiteliais Presença homogênea de microrganismos Presença de muitos PMN Urina Os rins, os ureteres, a bexiga e a porção proximal da uretra são habitualmente isentos de microrganismos, porém a porção distal da uretra (ou uretra anterior) possui numerosa microbiota residente. Em razão da contaminação durante a micção por bactérias da uretra anterior, a urina obtida espontaneamente não é estéril. Para minimizar a contaminação, o primeiro jato de urina deve ser desprezado, utilizando-se o segundo (jato intermediário, jato médio). Não há benefício comprovado na higienização da genitália (feminina inclusive) imediatamente antes da coleta. A contaminação também pode ocorrer quando a urina é obtida através de cateterismo, em função da passagem do cateter pela uretra anterior. Á semelhança da micção espontânea, recomenda-se desprezar o “jato” urinário inicial (10 a 15 mL). Nesta circunstância, contudo, está indicada a anti-sepsia da genitália, antes da inserção do cateter. Quando obtida por punção suprapúbica a urina é habitualmente estéril. A urina é um excelente meio de cultivo para muitas bactérias, particularmente em temperatura adequada. A urina deve ser rapidamente encaminhada ao laboratório para cultura. Se não for possível encaminhar o material em tempo hábil (em até um máximo de 2 horas), a urina deverá ser imediatamente refrigerada a uma temperatura entre 2 e 8°C, por não mais que 12 horas. Roxanne Cabral – M8 – 2020.2 – Doenças Infecto-Parasitárias 12 Trato genital O útero, trompas de Falópio, testículos e epidídimo, habitualmente, são isentos de microrganismos, porém a vagina, a genitália externa e a uretra anterior possuem numerosa microbiota residente. A doença pélvica inflamatória (DPI) pode ser causada por patógenos primários (principalmente a Neisseria gonorrhoeae) e por patógenos secundário presentes na microbiota vaginal, aeróbicos (cocos Gram- positivos) o anaeróbicos (Bacteroides fragilis). O Gram, em geral, permite o diagnóstico de uretrite e cervicite gonocócica, quando se demonstra a presença diplococos gram-negativos intraleucocitários agrupado em pares. Neisseria gonorrhoeae O Gram também pode permitir a confirmação do diagnóstico da vaginite por Gardnerella vaginalis, uma vez que torna possível a visualização de grande número destas bactérias aderidas às células da mucosa vaginal (células-indício ou clue cells). Garnerella vaginallis Fezes Os intestinos possuem numerosa microbiota residente. As coproculturas têm indicação na investigação de diarréias nas quais se suspeite de etiologia bacteriana, principalmente as passíveis de tratamento antibiótico (como as causadas por Shigella sp). Também são empregadas para determinar a condição de portador assintomático (Salmonella sp). As coproculturas devem ser obtidas a partir de amostra fecal fresca e o laboratório deve ser informado da suspeita etiológica, uma vez que algumas bactérias (Vibrio cholerae, Campylobacter jejuni, Clostridium difficile) necessitam de meios especiais. Locais sem Microbiota Em geral, a presença de bactérias em locais que não possuem microbiota residente (sangue, tecido celular subcutâneo etc.) significa um processo infeccioso grave ou potencialmente grave. Nestas circunstâncias, as culturas e os testes de sensibilidade aos antimicrobianos são, como regra, essenciais. A coleta de material deve ser feita obedecendo a técnica asséptica, como o objetivo de evitar contaminação com a microbiota residente e permitir a interpretação correta de um isolamento bacteriano. Bactérias como o Staphylococcus epidermidis e difteróides fazem parte da microbiota residente habitual da pele e podem ser contaminantes, mas podem também ser causas de infecções graves em pessoas com próteses e em imunodeficientes. O Staphylococcus aureus, uma causa comum de processos infecciosos também pode, transitoriamente, fazer parte da microbiota residente. O Gram é, em geral, essencial para a avaliação inicial de amostras obtidas de locais sem microbiota residente habitual (estéreis), uma vez que permite a presunção etiológica do agente através da análise de características morfotintoriais. Em razão disto, torna possível o início precoce e racional da terapêutica antibiótica. Além disto permite ainda uma interpretação mais segura dos resultados de cultura, pela verificação da coerência entre os resultados. Alguns processos infecciosos, em geral abcessos (cerebrais, hepáticos, peritoniais, subfrênicos etc.), têm a participação importante (cerca de 90%) de bactérias anaeróbicas. Nestas condições, alguns cuidados devem ser tomados: O material para cultura deve ser coletado por aspiração e o ar presente na seringa deve ser imediatamente eliminado. Encaminhamento rápido ao laboratório e a suspeita de anaeróbios deve ser informada, para que a semeadura ocorra em meios adequados. Alguns laboratórios dispõem de meios de transportes próprios para anaeróbios, o que permite a inoculação antes do encaminhamento. Em qualquer circunstância deve ser evitada a refrigeração destes materiais, pois o oxigênio se difunde mais rapidamente em materiais com temperatura mais baixa. Sangue As hemoculturas tem posição de destaque na investigação etiológica das doenças infecciosas, sendo particularmente úteis na abordagem dos casos mais graves (sepses). Nas infecções bacterianas com disseminação hematogênica, as bactérias estão presentes no sangue, em geral de modo intermitente e em pequeno número. Em razão disto, o isolamento de bactérias do sangue depende da coleta de várias amostras (duas a três, em geral) com intervalo de poucos minutos a algumas horas, dependendo das condições clínicas do paciente. Roxanne Cabral – M8 – 2020.2 – Doenças Infecto-Parasitárias 13 As hemoculturas, em situações de emergência (como no choque séptico), podem ser coletadas até simultaneamente, desde que em locais diferentes.Procedimentos para Coleta de Hemocultura O sangue para hemoculturas deve ser coletado exclusivamente através de punção venosa. Amostras coletadas a partir de acessos venosos estabelecidos (cateterismo, dissecção) são inadequadas em razão do elevado risco de contaminação. Tubos de Hemocultura Quando a coleta de amostras é feita em vigência de antimicrobianos, é recomendável a utilização de meios especiais contendo carvão ativado ou resinas de vidro no intuito de minimizar a interferência do antimicrobiano com o crescimento bacteriano in vitro. Líquido cefalorraquidiano A meningite bacteriana aguda é uma emergência infecciosa. A obtenção e análise do líquido cefalorraquidiano (LCR) é etapa fundamental. É recomendável ainda, neste contexto, obter paralelamente hemoculturas (no mínimo duas), para aumentar as chances de isolamento do agente (a bacteremia é comum nas meningites) e realização de testes de susceptibilidade aos antimicrobianos. O LCR coletado deve ser transportado ao laboratório o mais rapidamente possível, uma vez que podem ocorrer lise de células, consumo de glicose, e as bactérias (em especial a N. meningitidis) podem perder a viabilidade quando submetidas a variações térmicas. O início da antibioticoterapia nas meningites bacterianas agudas não deve ser retardado. Quando não for possível a obtenção de LCR antes do início do tratamento, a punção lombar deverá ser feita a posteriori, tão logo as condições permitam. Articulações, pleura e pericárdio As articulações, a pleura e o pericárdio são locais que não possuem microbiota residente. O material deve ser coletado através de seringas e, para evitar a coagulação, com a utilização anticoagulante estéril. Os processos infecciosos destes locais, particularmente os da pleura, também podem envolver a participação de bactérias anaeróbicas, o que implica em cuidados adequados para o isolamento destes microorganismos. Medula óssea A medula óssea não possui microbiota residente. A obtenção de aspirado ou biópsia de medula óssea pode ser útil na investigação de quadros febris de evolução subaguda, particularmente quando há alteração periférica detectável das células sanguíneas no hemograma. A cultura tende a ter sensibilidade elevada na febre tifóide, na tuberculose miliar, na histoplasmose disseminada e no calazar. USO DE ATB NO PACIENTE IDOSO E NA INSUFICIÊNCIA RENAL. Antibióticos para pacientes com Doença Renal Crônica A Doença Renal Crônica (DRC) é uma condição patológica comum que altera tanto a farmacocinética como a farmacodinâmica de diversos fármacos utilizados na prática clínica. Este fato condiciona tanto a sua eficácia terapêutica como, e principalmente, a sua toxicidade. A maioria das alterações é previsível e pode ser evitada se realizado ajuste posológico adequado ao estágio desta patologia. A mudança na função renal, se associada com idade ou com doença, pode ocasionar profundos efeitos na farmacologia dos agentes antimicrobianos. Principalmente no ambiente de terapia intensiva, a presença de pacientes que desenvolvem insuficiência renal é comum, levando à necessidade de diálise peritoneal ou de hemodiálise. Nestas condições há necessidade do ajuste da dose de drogas para evitar o seu acúmulo ou a sua remoção... Roxanne Cabral – M8 – 2020.2 – Doenças Infecto-Parasitárias 14 ... e pacientes em Hemodiálise? Os métodos de hemofiltração contínua podem remover moléculas grandes do fármaco, sendo mais eficazes na remoção da droga do que a diálise convencional. Após a sessão de hemodiálise, deve haver um cuidado especial na administração da próxima dose, sendo necessária a suplementação de alguns antimicrobianos. Isso ocorre porque as membranas utilizadas para a filtração na diálise são cada vez mais permeáveis, permitindo maior remoção destas drogas. Impactos da não adequação da posologia de antimicrobianos em DRC/idosos? Diminuição da eficácia do tratamento; Comprometimento da função renal dos pacientes; Eventos adversos indesejáveis. Quais efeitos adversos de ATB em DRC, de uma forma geral? A maioria dos eventos adversos relatados em pacientes com insuficiência renal que recebem antimicrobianos está relacionada à dose inadequada. Dentre os eventos mais descritos destacam-se: Neurotoxicidade: incluindo psicose, alucinações visuais e auditivas. Mioclonias e convulsões têm sido relatadas com o uso de penicilinas, imipenem, cefepima, aciclovir, amantadina e quinolonas. Ototoxicidade: em virtude de altas doses de eritromicina. É uma disfunção reversível, quando corrigida a dose. Nefrotoxicidade: pode ser observada durante uso de aminoglicosídeos e vancomicina. Fluoroquinolonas têm sido associadas com ruptura espontânea do tendão aquileo em pacientes com insuficiência renal. Conclusão A avaliação diária do paciente com os dados clínicos e laboratoriais de melhora ou piora da função renal permitirá um melhor ajuste da dosagem de antimicrobianos neste grupo de pacientes.
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