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HISTOLOGIA M3 – 2020.1 | Débora Fragoso HISTOLOGIA DO SISTEMA REPRODUTOR FEMININO O sistema reprodutor feminino é composto por órgãos reprodutores femininos internos e estruturas genitais externas. Os órgãos internos estão localizados na pelve, e as estruturas genitais externas estão situadas na parte anterior do períneo (vulva). Os órgãos reprodutores femininos internos são constituídos por ovários, tubas uterinas, útero e vagina. A genitália externa inclui o monte púbis, lábios maiores e menores do pudendo, clítoris, vestíbulo e abertura da vagina, hímen e óstio externo da uretra. A partir da menarca, primeira menstruação, o sistema reprodutor sofre modificações cíclicas em sua estrutura e atividade funcional, controladas por mecanismos neuro-humorais. A menopausa é um período no qual as modificações cíclicas tornam-se irregulares e acabam cessando. No período de pós- menopausa há uma lenta involução do sistema reprodutor. As funções desse sistema reprodutor é: Produz gametas femininos haploides (ovócitos secundários; Recebe os espermatozoides antes da fertilização; Fornece ambiente adequado para fertilização; Fornece um ambiente físico e hormonal adequado para a implantação do embrião; Acomoda e nutre o feto durante a gestação; Expele fetos maduros ao final da gestação. OVÁRIOS Os ovários estão fixados à superfície posterior do ligamento largo do útero por uma prega peritoneal, o mesovário. O polo superior do ovário está fixado à parede pélvica pelo ligamento suspensor do ovário, que confere vascularização do útero e tuba uterina. Os ovários têm a forma de amêndoas, sua superfície é coberta por um epitélio pavimentoso ou cúbico simples, o epitélio germinativo. Sob o epitélio germinativo há uma camada de tecido conjuntivo denso, a túnica albugínea, que é responsável pela cor esbranquiçada do ovário. Abaixo da túnica albugínea há uma região cortical, na qual predominam os folículos ovarianos, conjunto do ovócito e das células foliculares que o envolvem. Os folículos se localizam no estroma conjuntivo frouxo da região cortical, que contém fibroblastos. A parte mais interna do ovário é a região medular, que contém tecido conjuntivo frouxo com um rico leito vascular (composta basicamente pelo hilo). O limite entre a região cortical e a medular não é muito distinto. As funções do ovário são: Produção de gametas femininos; Secreção de estrogênio e progesterona; Regulação do crescimento pós-natal dos órgãos reprodutores; Desenvolvimento das características sexuais secundárias. Os estágios iniciais da ovocitogênese ocorrem durante a vida fetal, quando as divisões mitóticas aumentam o número de ovogônias. Os ovócitos param sua divisão na prófase I da meiose I ao nascimento do feto. Na puberdade, a cada ciclo ovariano um novo ovócito/folículo sofre além do crescimento, maturação. A primeira ovulação ocorre cerca de 1 ano após a menarca. Os ovócitos que permanecem após menopausa sofrem gradual degeneração. CICLO OVARIANO: O ciclo ovariano é compatível ao ciclo menstrual, define a maturação de ovócitos e apresenta três fases: HISTOLOGIA M3 – 2020.1 | Débora Fragoso o Folicular: crescimento e maturação do folículo; o Ovulatória: liberação do ovócito II; o Lútea: formação do corpo lúteo ou amarelo. FASE FOLICULAR: Histologicamente, podem ser identificados 5 tipos de folículos ovarianos: o Folículo primordial; Predominante durante o ciclo menstrual. Esses folículos surgem no 3º mês de desenvolvimento e seu crescimento inicial é independente de gonadotropinas. Os folículos primordiais se localizam no estroma do córtex. O ovócito é circundado por uma camada única de células foliculares pavimentosas, limitadas externamente por uma lâmina basal. O ovócito apresenta núcleo excêntrico, e o citoplasma é denominado de ooplasma, o qual contém o corpúsculo de Balbiani (acúmulo de CG, REL, centríolos, mitocôndrias e lisossomos) – característica comum a todas as fases de desenvolvimento. Os ovócitos contêm lamelas anulares e várias vesículas. o Folículo primário (unilaminar); Apresenta camada única de células foliculares – agora cuboides/colunares ao se tornarem células da granulosa – se torna estratificada graças à rápida proliferação mitótica, e passa a ser denominada de membrana granulosa. A lâmina basal é mantida, e entre as células da granulosa começam a se desenvolver junções comunicantes, mas sem zônulas de oclusão (e, portanto, sem barreira hematofolicular). Por fim, é possível observar dois tipos de folículo primário: um folículo unilaminar (imaturo), com epitélio único de células foliculares cuboides; e outro folículo multilaminar (maduro). o Folículo primário (multilaminar); Apresenta epitélio estratificado com células da granulosa (membrana granulosa). Com a proliferação das células da granulosa, as células estromais que circundam a lâmina basal formam uma bainha de células conjuntivas, denominada de teca folicular. Essa teca se diferencia em duas camadas: a teca interna – altamente vascularizada com células secretoras cuboides com receptores para LH e futuras produtoras de esteroides, e com fibroblastos e feixes de colágeno – e teca externa – com células musculares lisas e fibras colágenas. A lâmina basal separa o rico leito vascular da teca interna, da camada granulosa, avascular durante o crescimento folicular. Há ainda a formação da zona pelúcida, acelular, rica em substância amorfa e com junções comunicantes. Essa é invadida por microvilosidades do ovócito e prolongamentos das células da granulosa. HISTOLOGIA M3 – 2020.1 | Débora Fragoso o Folículo secundário (antral); O folículo move-se mais profundamente no estroma cortical à medida que aumenta de tamanho. Alguns fatores que induzem o crescimento dos folículos são o FSH, fatores de crescimento (EGF, IGF-I), e íons cálcio. Com a estratificação da camada granulosa, surgem cavidades repletas de líquido rico em ácido hialurônico (líquido folicular). Essas cavidades começam a se coalescer, formando o antro. o Folículo de Graaf (maduro ou pré-ovulatório). O folículo se estende por toda a espessura do córtex do ovário e provoca abaulamento na sua superfície. Apresenta atividade mitótica reduzida, e estrato granuloso delgado com o aumento do antro. As células que circundam o ovócito formam a coroa radiada, estão frouxamente aderidas e acompanham o ovócito na ovulação. O pedículo que liga essas células ao restante das células da granulosa (murais) é denominado de cúmulo oóforo. Na maturação folicular, as camadas da teca se tornam mais proeminentes e surgem gotículas lipídicas no citoplasma nas células da teca interna (produção de esteroides). Na camada granulosa, nota-se a ação de alguns hormônios e substâncias que influenciam sua atividade: o Hormônio anti-Mülleriano: controla a disponibilidade do ovócito para a foliculogênese; o OMI: inibidor da maturação do ovócito I, isto é, da continuação da prófase I; o Fator de células-tronco: sobrevivência dos ovócitos; o LH: estimula a ovulação e o desenvolvimento do corpo lúteo, e a secreção de progesterona (sintetizada por células foliculares e lúteas). o FSH: estimula secreção de estrogênio e o desenvolvimento e maturação dos folículos. o Ativina: aumenta capacidade de resposta a FSH. o Inibina: inibe a liberação de FSH; OVULAÇÃO: A ovulação é o processo pelo qual um ovócito II é liberado do folículo de Graaf. Durante a ovulação o ovócito atravessa toda a parede folicular, inclusive o epitélio germinativo. Nessa fase, o ovócito I do folículo de Graaf completa sua primeira divisão meiótica, se diferencia em ovócito II e libera o 1º corpúsculo polar. Logo, com a ovulação é liberado um ovócito II, juntamente à zona pelúcida e coroa radiada. Apósa ovulação a progesterona inibe a secreção de LH. Dentre os fatores que estimulam a liberação do ovócito tem-se: o Proteólise da parede folicular – LH aumenta níveis de ativador de plasminogênio nos folículos; o Maior volume e pressão do líquido folicular; o Estímulo hormonal para o depósito de glicosaminoglicanos entre o complexo ovócito- cúmulo e o estrato granuloso; o Contração de fibras musculares lisas na camada externa da teca, estimuladas por prostaglandinas; o Aumento do LH circulante, graças aos altos níveis de estrogênio que inibem a secreção de FSH. OBS: O LH é o hormônio adeno-hipofisário responsável pela indução da meiose. Atresia folicular: Somente 1 folículo conclui a foliculogênese, os demais degeneram por um processo apoptótico chamado de atresia. Nele há morte de células da granulosa (núcleos picnóticos), descamação dessas células (no líquido folicular) e morte do ovócito por alterações nucleares e pregueamento da zona pelúcida. Os folículos atrésicos apresentam material amorfo espesso, membrana vítrea, zona pelúcida relativamente intacta, remanescentes dos ovócitos degenerados e das células granulosas, e macrófagos. HISTOLOGIA M3 – 2020.1 | Débora Fragoso FASE LÚTEA: Após a ovulação, as células da granulosa e as células da teca interna do folículo que ovulou formam uma glândula endócrina temporária chamada corpo lúteo. Essa transformação envolve: o Rompimento da lâmina basal; o Invasão do antro por vasos sanguíneos, com coagulação sanguínea local e formação do corpo hemorrágico transitório. O coágulo de fibrina é penetrado por vasos sanguíneos recém formados (angiogênese), fibroblastos e fibras colágenas; o Transformação de células granulosas murais e células da teca interna em células granuloluteínicas (secretoras de esteroides e progesterona – estímulo: LH e FSH) e células tecoluteínicas (produzem androstenediona e progesterona – estímulo: LH), respectivamente. MEDULA OVARIANA: A medula é composta por uma matriz de tecido conjuntivo fibroelástico, com presença de grandes vasos sanguíneos, linfáticos e fibras nervosas. Há as células do hilo, epitelioides semelhantes às células de Leydig, e secretoras de andrógenos. TUBA UTERINA As trompas de Falópio são um par de tubos musculares que se estendem bilateralmente ao útero até os ovários. Possui na sua extremidade próxima aos ovários o infundíbulo – que possui uma abertura para a cavidade peritoneal e projeções na forma de franjas denominadas de fímbrias. Logo, há a ampola – onde ocorre a fecundação e início da clivagem do zigoto –, istmo e, por fim, região intramural. Em toda a extensão da tuba há 3 camadas com mesma organização histológica: Mucosa: mais interna, revestida de epitélio cilíndrico simples ciliado com células ciliadas e não-ciliadas secretoras de muco (escuras); e lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo. Além disso, apresenta pregas longitudinais finas. Muscular: composta de músculo liso organizado em camada circular interna relativamente espessa, e longitudinal externa mais delgada. Serosa: mesotélio e tecido conjuntivo frouxo (folheto visceral de peritônio). No infundíbulo, há projeções da mucosa denominadas de fímbrias. O estrogênio, ao longo da ovulação as torna dilatadas para impedir que o ovócito caia na cavidade abdominal, e também provoca alteração na conformação do epitélio da mucosa. Ele estimula a ciliogênese em células ciliadas e a produção de muco (nutrição do zigoto) pelas não-ciliadas. O infundíbulo e a ampola têm mucosa e pregas muito desenvolvidas e camada muscular pouco desenvolvida. No istmo, seguindo em direção à região intramural, a mucosa gradualmente involui e a muscular cresce. Os movimentos ciliares das células do epitélio da mucosa e movimentos peristálticos (longitudinal externa) proporcionam a movimentação do ovócito. ÚTERO O útero recebe a mórula em desenvolvimento, e abriga o embrião e o feto. O útero é dividido em: o Corpo: porção superior, grande e dilatada; cuja parte superior, é chamada fundo do útero e a inferior estreitada, é a cérvice ou colo uterino. o Colo: parte inferior. O óstio interno se comunica com a cavidade uterina e o externo, com a vagina. A parede do útero é formada por três camadas: Perimétrio: Quando serosa, é constituído de mesotélio e tecido conjuntivo. Próximo à cérvice há revestimento por adventícia de tecido conjuntivo denso. HISTOLOGIA M3 – 2020.1 | Débora Fragoso Miométrio: Camada espessa de musculo liso com 3 estratos. A camada externa, próxima ao miométrio, e a camada interna, próxima a mucosa, possuem fibras musculares longitudinais e oblíquas (para expulsão do feto na hora do parto. A contração no momento do parto é estimulada por ocitocina (hormônio hipotalâmico); a relaxina, hormônio ovariano e placentário, impede a contração durante a gestação e induz o relaxamento da cérvice uterina no parto. As células musculares sofrem hipertrofia e hiperplasia nesse período. Após gestação há apoptose dessas células. O estrato vascular, entre elas, apresenta muitos vasos sanguíneos de grande calibre e fibras musculares dispostas circularmente. Endométrio: Possui 2 camadas mal delimitadas. Uma delas, a camada basal é profunda e adjacente ao miométrio, constituída por tecido conjuntivo e porção inicial das glândulas uterinas e das aa. espiraladas. A outra, a camada funcional possui tecido conjuntivo da lâmina própria, epitélio simples colunar, porção final das glândulas e parte superior das aa. espiraladas. Ela sofre muitas alterações morfológicas por ação do estrogênio e progesterona, e é descamada na menstruação. CICLO UTERINO: MENSTRUAL: Dura cerca de 5 dias, após queda da progesterona decorrente da não implantação do blastocisto (sincíciotrofoblasto produz HCG e mantém o corpo lúteo) e vasoconstrição das artérias espiraladas (hipóxia e isquemia da camada funcional). PROLIFERATIVA/FOLICULAR: Regeneração endometrial, a partir da camada basal. O começo dessa fase coincide com o crescimento de folículos que estão na transição entre pré·antrais e antrais. Quando a teca interna se desenvolve, esses folículos começam a secretar estrogênio, que age no endométrio induzindo proliferação celular. Na microscopia as glândulas uterinas são retilíneas. SECRETORA/LUTEAL: As células conjuntivas se diferenciam em deciduais pela ação da progesterona (impede a invasão excessiva do bastocisto). As glândulas ficam tortuosas. OBS: As células deciduais da placenta têm função de modular a invasão trofoblástica até o miométrio, além de um papel endócrino secretor de prolactina que mantém a produção de progesterona no corpo lúteo. CÉRVICE: A endocérvice (mucosa) é revestida por epitélio simples colunar secretor de muco, possui poucas fibras de músculo liso e apresenta tecido conjuntivo denso. A mucosa da cérvice contém as glândulas mucosas cervicais, que se ramificam intensamente. Na época da ovulação, as secreções mucosas são mais fluidas e facilitam a penetração do esperma no útero. Na fase luteal ou na gravidez, os níveis de progesterona alteram as secreções as tornam viscosas, prevenindo a passagem de esperma e microrganismos. A ectocérvice (distal) é revestida por epitélio estratificado pavimentoso. VAGINA o Mucosa: epitélio pavimentoso estratificado pouco queratinizado com ausência de glândulas. Há presença de lâmina própria de tecido conjuntivo frouxo com fibras elásticas, neutrófilos e linfócitos; o Muscular: composta, principalmente, por feixes longitudinais de fibras musculares lisas; o Adventícia: composta de tecido conjuntivo denso, rico em fibras elásticas e células nervosas. GENITÁLIA EXTERNA o Monte púbis: proeminência sobre a sínfise púbica formada por tecido adiposo subcutâneo e cobertade pelos púbicos; o Lábios maiores: pregas longitudinais de pele com glândulas sebáceas e sudoríparas, pelos púbicos e tecido adiposo. Há delgada camada muscular lisa; o Lábios menores: apresenta células pigmentadas de melanina, fibras elásticas e glândulas sebáceas; o Clítoris: tecido erétil do tipo estratificado pavimentoso com presença de corpos cavernosos; o Vestíbulo: presença de glândulas mucosas vestibulares menores (Skene) próximas ao clítoris e vestibulares maiores (Bartholin) próximas ao canal vaginal. Ambas secretam muco. Fase proliferativa Fase secretora Fase menstrual HISTOLOGIA M3 – 2020.1 | Débora Fragoso