Prévia do material em texto
partes, privilegie o todo, o organismo, a ecologia, instaurando, dessa forma, uma perspectiva holística, sistêmica, expressa no “pensamento sistêmico” (CAPRA, 2001, p. 33). Outro aspecto que pode contribuir para essa transformação é que a ideia de ordem estabelecida pela Física não newtoniana chegue à escola, permitindo que as relações entre professores e alunos mudem drasticamente, as quais “(...) exemplificarão menos o professor instruído que informa os alunos não instruídos, e mais um grupo de indivíduos interagindo juntos na mútua exploração de questões relevantes” (DOLL JR, 1997, p. 37). Profícuas também são as investigações sobre a satisfação que os alunos têm com o (ou no) prédio escolar. Loureiro (1999, p. 69-70) relata que as crianças das escolas pública e particular “têm diferentes formas de estruturar sua satisfação com o prédio escolar – o foco central para os dois grupos é a experiência direta com a sala de aula”. Para as primeiras, porém, a disponibilidade de biblioteca e quadra de esporte é valorizada, enquanto que para as outras, a satisfação depende da qualidade do ensino ministrado. As imagens falam por si mesmas. A “escola-jaula” está aí a nos lembrar a necessidade de superar a escola que priva da liberdade, que adestra por meios de castigo e, mais ainda, que produz o “tédio e a revolta” própria aos animais enjaulados: por um lado, a “escola-açougue”, este lugar que destrincha, que divide, que esquartela, que tortura física e mentalmente, precisa ser superado por uma escola que tenha como função social a produção da unidade e da homogeneidade. Nesse ambiente, a diferenciação, base da hierarquia educativa, é fruto da ação dos próprios sujeitos – as crianças –, observados e conduzidos pelo professor, que, é bom observar, também incorporou outras funções e qualificações na nova ordem escolar: a de psicólogo e a de analista. (FARIA FILHO, 2000, p. 79). A violência simbólica na (e da) escola, portanto, se manifesta no seu distanciamento em relação à realidade, permeada de contradições. Para romper esse isolamento, essa atitude de dar as costas aos conflitos e às demandas crescentes (atingíveis?), é preciso desenvolver uma Educação transformadora, crítica, que não tem medo de enfrentar os desafios de quem luta por uma sociedade mais justa, verdadeira e livre (GONÇALVES, 1994, p. 124). Essa também é a opinião de França (1994, p. 67), pois, diante do divórcio entre a vida e a universidade, denunciada pelos alunos, advoga a noção de que os valores educacionais devem ser repensados. Por isso, ela postula a noção de que a escola seja utilizada como “um território da contradição, onde pode surgir uma contracorrente, uma contraideologia, ou qualquer outra variação semântica”, permitindo-nos formular, assim, uma perspectiva de mudança (FRANÇA, 1994, p. 99). Ao longo da sua existência, a escola desenvolve, em virtudes de motivações diversas (políticas, religiosas, epistemológicas), as quais devem ser entendidas de forma contextualizada e numa perspectiva relacional, práticas que objetivam o disciplinamento, o controle do corpo. Rocha (2000) elaborou cuidadosa e detalhada pesquisa sobre as formas de como o exercício do controle, da vigilância na escola se transformou. Embora as estratégias, os meios, tenham se atualizado, a intenção permaneceu a mesma: “disciplinar, manter, aprisionar, anestesiar, acalentar, educar” (ROCHA, 2000, p. 144). Essa mudança dos meios, que se tornaram, pelo menos no discurso, mais doces, justos, científicos, humanos e fraternos, vislumbravam, na verdade, ser “mais econômicos, mais produtivos, mais abrangentes, menos violentos (entendendo-se sempre violência como força, coação física)”. Para tanto, o aparato tecnológico é indispensável (ROCHA, 2000, p. 144-145). 44