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Poesia Marginal Brasileira

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É evidente que sempre existiu a marginalização do autor "novo" e 
anónimo, face à crítica e ao mercado editorial. desde os primórdios, as 
histórias literárias estão cheias de exemplos de grandes poetas ou grandes 
artistas que, em seu tempo, foram "marginais", e hoje gozam de 
consagração mundial. Mas neste caso específico, "poe-marginal" brasileira 
resultou de um determinado comportamento anti-sistema e que nasceu no 
clima tropicalista, "salada-de-frutas" ou "geleia geral" que envolveu, ao 
mesmo tempo, o público "rockeiro" e o intelectualizado.
Ampliou-se o interesse da faixa mais jovem pela poesia (ou por tudo 
que pudesse ser poesia) justamente (e não, por acaso) no momento em 
que foi baixado o AI-5 (Acto Institucional n.º 5) endurecendo a censura à 
palavra escrita, falada ou cantanda. Surge a "geração mimeógrafo", a que 
fora do circuito editorial, imprime seus poemas em toscos folhetos 
mimeografados e os vende nos bares, portas de teatro, praças públicas ou 
nos meios boémios noctunos.
No confuso ambiente de contracultura que se impõe principalmente 
nos grandes centros urbanos (São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba ...), a 
poesia marginal identifica-se não só como produção "fora do 
sistema" (como várias outras manifestações da literatura e da arte), mas 
por sua intencionalidade de contestação pelo "desbunde", pelo palavrão, 
pela apologia do lado sórdido da vida ... Daí ser chamada também de 
"lixeratura", a literatura do lixo, da sujeira.
Termo emprestado das ciências sociais (para definir o indivíduo que, 
entre duas culturas, vive em conflito ou à margem de ambas), Passou à 
área da poesia e da arte mais como padrão de comportamento ético-social 
e não de grau de conhecimento. da avalanche de "poetas marginais" que 
surgiram nos anos 70/80 (alguns dos quais acabaram realizando obra de 
autêntica poesia, como Ulisses Tavares, Chacal, Ana Cristina César, Nicolas 
Behr ...), destaca-se a participação feminista: a mulher expressando uma 
linguagem-do-corpo agressiva, descrevendo as relações eróticas de 
maneira vulgar e obscena, buscando o avesso da chamada "lírica feminina". 
Uma das mais activas dinamizadoras dessa produção feminista foi Leila 
Miccolis, responsável pela organização de varias antologias, exposições de 
poesia, espctáculos públicos, etc.
Em seguida, apresentamos alguns poemas de Ana Cristina Cesar, representantes dessa poesia, para 
sua apreciação e comentários:
Cartilha da cura
As mulheres e as crianças são as primeiras que desistem de afundar navios.
Preciso voltar e olhar de novo aqueles dois quartos.
vazios
A história está completa: wide sargasso sea, azul azul que não me espanta, e 
canta como uma
sereia de papel.
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