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32. Hassan coloca como correlatos de indeterminação os termos seguintes: ambiguidade, descontinuidade, heterodoxia, pluralismo, acaso, revolta, perversão, deformação. O termo deformação ele desdobra em vários outros de mesmo campo semântico: descriação, desintegração, desconstrução, descentramento, deslocamento, diferença, descontinuidade, disjunção, desaparecimento, decomposição, desdefinição, desmistificação, destotalização, deslegitimação. 33. As noções de transcendência e imanência suscitam uma série de possibilidades, que resumiremos aqui na forma de construir e ler os textos. A transcendência normalmente se vincula a um tipo de escrita e leitura em que os símbolos e imagens são de certa forma pré-determinados, isto é, o significado e a compreensão transcendem a escrita em direção a um objeto preestabelecido. A imanência pressupõe que os símbolos vão sendo reconstruídos e ressignificados dentro do próprio texto literário, em sua interação com o leitor. Essa é uma concepção de símbolo tipicamente blanchotiana. A metafísica ocidental caracteriza-se pelo desprezo ao outro, ao diferente, à multiplicidade. Tudo o que ameaça a determinação deve ser excluído. A ambivalência é sinônimo de desorganização; colocar ordem na desordem é excluir. Algumas das propostas pós-modernas procuram fugir dessa estética da exclusão, da delimitação, levando-nos a pensar nessa arte do infinito, que se exerce no espaço do ambíguo e do enigmático, rumo à exterioridade da linha histórica. A obra contemporânea recusa revelar a verdade que garante o desfecho; ao contrário, parece manter a obscuridade do incomunicável, do silêncio que lhe é próprio. Sem a facilidade de classificar as obras em termos de gênero, estilo, cultura, só podemos pensar a arte de outra maneira. Para Blanchot, a literatura deve ser pensada em termos de uma busca de sua origem; ainda que impossível, essa busca tem que ser empreendida. São várias as expressões utilizadas por ele para tentar designar esse momento original: "murmure", "bruissement anonyme", "parole errante", "le dehors" etc. "murmure", "bruissement anonyme", "parole errante", "le dehors" etc.; MURMURE, BRUISSEMENT ANONYME, PAROLE ERRANTE, LE DEHORS ETC. -- Tradução: 'murmúrio', 'ruído anônimo', 'palavra errante', 'o fora' etc) No caso da poesia, por exemplo, a palavra empreende um movimento paradoxal de tentar ser ao mesmo tempo som e sentido, materialidade e significação. A linguagem literária, em geral, sofre uma constante tensão entre a projeção ao futuro e a busca do momento que a precede. 67