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entre narrador e público a transforma" (WARNER, 1999:458). A utopia é um dos portais por eles abertos: Quem não gostaria de transformar o planeta? Tornar-se rei ou rainha de um reino harmônico? Os contos despertam a criatividade e transportam-nos para o mundo do faz de conta, o mundo do possível – "os contos de fadas sondam as regras: a porta proibida abre para uma terra nova onde regras diferentes podem vigorar" (WARNER, 1999: 455). É por meio deles que intuímos aspirações e preconceitos, medos e desejos, alegrias e tristezas, lágrimas e risos, mas, acima de tudo, prazer. Esse prazer pode ser originado tanto pelo conto como pelo seu reconto. Hoje, muito se tem realizado na linha do reconto. O que dizer da história de "Os Três Porquinhos"sob a voz do lobo mau? Ou da atualização de "Cinderela", agora com um par de tênis? É nessa perspectiva que textos como A verdadeira história dos três porquinhos, de Jon Scieszka, O par de tênis, de Pedro Bandeira, Chapeuzinho amarelo, de Chico Buarque, vêm sendo produzidos. O mesmo ocorre com filmes tais como: "A floresta negra", "Inteligência artificial" e "Sherek". Nessas produções, procura-se desvendar algo que talvez não tenha sido elucidado na história original: uma voz que se calou; um final que não agradou... enfim, uma palavra não dita, ou dita sob um único enfoque. Seja pelo conto, ou seu reconto, o importante é que o texto, por intermédio do maravilhoso, conduz o leitor a um universo de magia. Não é pois, de estranhar, o dito por Ângela Kleiman: "Ler é identificar-se com o apaixonado ou com o místico. É ser um pouco clandestino, é abolir o mundo exterior, deportar-se para uma ficção, abrir o parêntese do imaginário. Ler é muitas vezes trancar-se (no sentido próprio e figurado). É manter uma ligação através do tato, do olhar, até mesmo do ouvir (as palavras ressoam). As pessoas leem com seus corpos. Ler é também sair transformado de uma experiência de vida, é esperar alguma coisa. É um sinal de vida..." Quando esse sinal de vida se manifesta, as produções começam a brotar de forma encantadora e outras tantas histórias começam a surgir como retrato, já modificado, do mundo de magia já vislumbrado pelo universo infantil. ATIVIDADE DE PORTFÓLIO Assista ao filme SHREK 1, dirigido por Andrew Adamson e Vicky Jenson, e estabeleça, a partir da análise dessa película, uma contraposição entre os contos de fada tradicionais e os recontos desse gênero discursivo na atualidade. Procure observar: enredo, caracterização dos personagens, a intencionalidade do texto, entre outras questões. REFERÊNCIAS ABRAMOVICH, Fanny. A literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997. BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. COELHO, Nelly Novaes. O conto de fadas. São Paulo: Ática, 1998. GILLIG, Jean-Marie. O conto na psicopedagogia. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. KHEDE, Sônia Salomão. Personagens da literatura infanto-juvenil. São Paulo: Ática, 1986. MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 1999. PERRAULT, Charles. Contos de Perrault. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989. PROPP, Vladimir. As raízes históricas do conto maravilhoso. São Paulo: Martins Fontes, 1997. _______________. Morfologia do conto maravilhoso. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1984. SILVA, Victor Manuel de Aguiar e. Teoria da literatura. Coimbra: Livraria Almedina, 1988. 14