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AMF PRÉ-VESTIBULAR - APOSTILA DE SOCIOLOGIA
Prof. Vinícius Reccanello de Almeida
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA SOCIOLOGIA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA
A sociologia objetiva compreender a sociedade a partir de um conjunto de conclusões coerentemente estruturadas sobre a realidade social. Ela busca uma abordagem científica da realidade. Dessa forma, a sociologia (como ciência) pretende explicar racionalmente os acontecimentos que têm suas origens na sociedade.
Em outras palavras, a sociologia, como toda ciência, parte da observação sistemática de casos particulares para daí chegar à formulação de generalizações sobre a vida social. Portanto, a observação sistemática dos fatos da sociedade é uma condição sem a qual não há possibilidade de se produzir o conhecimento sociológico.
OBJETO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA
O objeto de Estudo da sociologia são os problemas sociais. A sociologia surgiu da busca por soluções racionais, científicas, de acordo com a pretensão de Aguste Comte, para os problemas sociais provocados pela Revolução Industrial e pela decomposição da ordem social aristocrática na França do início do século XIX.
O problema da falta de moradia urbana, por exemplo, pode ser considerado um problema social por ter conseqüências sociais.
É importante salientar que a sociologia, por outro lado, não tem por escopo solucionar os problemas sociais, mas tão somente explicá-los, sobretudo as suas causas. Os problemas sociais são de interesse do sociólogo porque são fenômenos sociais possíveis de serem observados e compreendidos cientificamente.
No entanto, a realidade que nos circunda é complexa. Nesse caso, para estudar os fenômenos sociais é necessário classificá-los, como assinalou René Descartes em sua obra Discurso do Método: “para compreender e resolver um problema é necessário, antes de mais nada, dividi-lo em tantas parcelas quantas pudessem ser e fossem exigidas”.
CARACTERÍSTICAS DA SOCIOLOGIA:
OBJETIVIDADE: a sociedade deve ser observada objetivamente, de forma científica e analítica. A subjetividade pode não trazer consigo a verdade social, mas o “achismo” do analisador.
NEUTRALIDADE: a sociologia, ao contrário de ética, por exemplo, não é valorativa e, portanto, não julga o que é
bom ou mau na sociedade; nem é normativa, pois não dita normas para as relações sociais.
TRANSITORIEDADE: A sociologia não almeja explicar tudo o que ocorre na sociedade, mas apenas o que é de algum modo observável nas relações sociais. O que não é observável poderá vir a sê-lo no futuro. A ciência é um processo de pesquisa contínua e de ininterrupta reformulação de teorias.
SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA
O século XVIII tornou-se um marco importante para a história do pensamento ocidental, dadas as transformações econômicas, políticas e culturais que se aceleraram nesse período e que apresentaram problemas inéditos para as sociedades.
A Revolução Industrial, um dos fatos que contribuíram para o início da sociologia, não se restringiu à introdução de máquinas e aperfeiçoamento dos modos de produção. Também representou o triunfo da indústria, comandada pelo empresário capitalista que, pouco a pouco, concentrou a propriedade das máquinas, das ferramentas e das terras, transformando populações inteiras em trabalhadores despossuídos e recrudescendo o aumento da desigualdade social.
A Revolução Francesa também merece destaque, visto que trouxe reformas sociais. A França forneceu as idéias, o vocabulário do nacionalismo e os temas da política liberal para a maior parte do mundo. As exigências da burguesia foram delineadas na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. O desejo primordial foi a formação de uma sociedade democrática e igualitária.
Entretanto, ao final da Revolução Francesa, os anseios de igualdade social viram-se frustrados, pois a burguesia conservava a hegemonia política e, por esse motivo, impunha os interesses de sua classe social. A igualdade política ficou comprometida, pois os direitos de votar e ser votado ficaram, de fato, restritos à elite econômica.
A partir do Iluminismo ocorreu uma transformação que promoveu uma progressiva substituição das crenças pela indagação racional como explicação para os fenômenos naturais. Os iluministas, pensadores dessa corrente, acreditavam que o uso sistemático da razão levaria o ser humano à compreensão de todas as áreas do conhecimento e, por esse motivo, pregavam o uso da razão pura que será.
Já o Positivismo, escola também surgida no final do século XVIII, propõe a infalibilidade, a objetividade e a exatidão da ciência. O positivismo estabeleceu critérios rígidos para a ciência e propõe que toda afirmação e toda
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lei deve apoiar-se na observação dos fatos, nas provas recolhidas pelos pesquisadores. Quando o pensamento sociológico se organizou, adotou o positivismo para definir o objeto, estabelecer conceitos e uma metodologia de investigação para a sociologia. Comte foi seu principal representante e é considerado o fundador da sociologia como ciência. Os positivistas apresentaram um esforço concreto de análise científica da sociedade.
2 A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
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Auguste Comte
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Comte foi fundador da sociologia, preocupou-se com a compreensão dos problemas sociais resultantes das transformações econômicas, sociais, políticas e culturais trazidas pela Revolução Industrial e pela Revolução Francesa. Foi, assim, o primeiro a mencionar a necessidade de se estabelecer uma ciência responsável pela compreensão da sociedade. Em seu curso de filosofia positiva, em 1839, recorreu à utilização do termo sociologia para se referir ao estudo da sociedade.
“Física Social”
As ciências, no decurso da história, não se tornaram "positivas" na mesma data, mas numa certa ordem de sucessão que corresponde à célebre classificação: matemáticas, astronomia, física, química, biologia, sociologia.
Das matemáticas à sociologia a ordem é a do mais simples ao mais complexo, do mais abstrato ao mais concreto e de uma proximidade crescente em relação ao homem.
Assim, no topo da pirâmide das ciências estaria a sociologia, a qual foi denominada por Auguste Comte como a “física social”. Todo ser humano deveria ter conhecimento dessa disciplina tão importante para o desenvolvimento da sociedade.
Lei dos Três Estados
O espírito humano, em seu esforço para explicar o universo, passa sucessivamente por três estados:
ESTADO TEOLÓGICO OU "FICTÍCIO": explica os fatos por meio de vontades análogas à nossa (a tempestade, por exemplo, será explicada por um capricho do deus dos ventos, Eolo). Este estado evolui do fetichismo ao politeísmo e ao monoteísmo.
ESTADO METAFÍSICO: substitui os deuses por princípios abstratos como "o horror ao vazio", por longo tempo atribuído à natureza. A tempestade, por exemplo, será explicada pela "virtude dinâmica" do ar. Este estado é no fundo tão antropomórfico quanto o primeiro (a natureza tem
"horror" do vazio exatamente como a senhora Baronesa tem horror de chá). O homem projeta espontaneamente sua própria psicologia sobre a natureza. A explicação dita teológica ou metafísica é uma explicação ingenuamente psicológica. A explicação metafísica tem para Comte uma importância, sobretudo histórica como crítica e negação da explicação teológica precedente. Desse modo, os revolucionários de 1789 são "metafísicos" quando evocam os "direitos" do homem - reivindicação crítica contra os deveres teológicos anteriores, mas sem conteúdo real.
ESTADO POSITIVO: é aquele em que o espírito renuncia a procurar os fins últimos e a responder aos últimos "por quês". A noção de causa (transposição abusiva de nossa experiência interior do querer para a natureza) é por ele substituída pela noção de lei. Contentar-nos-emos em descrever como os fatos se passam, em descobrir as leis (exprimíveis em linguagem matemática) segundo as quais os fenômenos se encadeiam uns nos outros. Tal concepção do saber desemboca diretamente na técnica: o conhecimento das leis positivas da natureza nos permite,com efeito, quando um fenômeno é dado, prever o fenômeno que se seguirá e, eventualmente agindo sobre o primeiro, transformar o segundo. ("Ciência donde previsão, previsão donde ação").
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Herbert Spencer
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Spencer foi o primeiro sociólogo inglês. Ele acreditava, assim como Comte, que os agrupamentos humanos podiam ser estudados cientificamente. Em sua obra “Os princípios da sociologia”, ele desenvolveu uma teoria de organização do homem, apresentando uma vasta série de dados históricos e etnográficos para fundamentá- la. Para Spencer, todos os domínios do universo – físico, biológico e social – desenvolvem-se segundo princípios semelhantes. A tarefa da sociologia é aplicar esses princípios ao que ele denominou de campo superorgânico.
Para Spencer a evolução da sociedade engloba o crescimento e a complexidade que é gerenciada pela interdependência e pelo poder. Se os padrões da interdependência e as concentrações de poder falham ao surgir a sociedade, ou são inadequados à tarefa, ocorre a dissolução e a sociedade se desmorona.
Funções-chave em uma sociedade complexa
As sociedades complexas revelam divisões e padrões de especialização:
· Operacional (reprodução e produção);
· Distribuidora (fluxo de materiais e informação);
· Reguladora (concentração de poder para regular e coordenar);
Teoria do funcionalismo
Essa teoria expressa a idéia de que tudo o que existe em uma sociedade contribui para o seu
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funcionamento equilibrado; tudo que nela existe tem um sentido, um significado.
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Emile Durkhein
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Esse sociólogo positivista se empenhou para conferir à sociologia o status científico. A objetividade e a identidade na análise da vida social foram questões fundamentais na sua proposição do método sociológico.
Para Durkheim, a sociedade não é a “simples soma de indivíduos”; ela constitui um sistema que representa determinada realidade com características próprias. Para que exista o coletivo, as consciências individuais devem estar associadas de algum modo.
Assim, a teoria dos fatos sociais é o ponto de partida dos estudos de Durkheim. Três características distinguem os fatos sociais:
COERÇÃO SOCIAL: liga-se à força que os fatos sociais exercem sobre os indivíduos e que os levam a conformar- se às regras da sociedade em que vivem, independentemente de sua escolha ou vontade.
EXTERIORIDADE: os fatos sociais existem e atuam sobre os indivíduos independentemente de sua vontade ou de sua adesão. As regras sociais, os costumes e as leis já existem.
GENERALIDADE: é social todo fato que é geral, que se aplica a todos os indivíduos ou à maioria deles. Na generalidade encontra-se a natureza coletiva dos fatos sociais, seu estado comum ao grupo.
A educação para Durkheim
Cabe à educação, seja ela formal ou não, a importante tarefa da conformação dos indivíduos à sociedade em que vivem. As regras devem ser aprendidas, internalizadas e transformadas em hábitos de conduta. Toda sociedade tem que educar os indivíduos para que aprendam as regras necessárias à organização da vida social.
Solidariedade Mecânica e Solidariedade Orgânica
A solidariedade é formada pelos laços que unem cada indivíduo ao grupo.
A solidariedade é chamada de mecânica quando liga diretamente o indivíduo à sociedade, sem nenhum intermediário (o indivíduo não se pertence), constituindo-se em um conjunto mais ou menos organizado de crenças e sentimentos comuns a todos os membros do grupo: é o chamado tipo coletivo.
Durkheim, ainda sobre a solidariedade mecânica, diferencia a densidade moral da densidade material: a primeira é resultado da generalização das relações sociais que se tornam mais numerosas e se estendem. Já a segunda corresponde à concentração da população, à formação de cidades, ao aumento da natalidade e das vias de comunicação e transmissão rápidas e em quantidade,
suprimindo ou diminuindo os vazios que separavam os segmentos sociais.
A solidariedade orgânica se acentua à medida que a divisão do trabalho aumenta, gerando um processo de individualização. Sendo essa sociedade um sistema de funções diferentes e especiais, onde cada órgão tem um papel diferenciado, a função que o indivíduo desempenha é o que marca seu lugar na sociedade.
Livro: “O suicídio”
Para Durkheim, a sociedade age sobre o indivíduo. Cada grupo social tem uma inclinação para o suicídio, e desta derivam as inclinações individuais. Trata-se das correntes de “egoísmo”, de “altruísmo” e de “anomia” que afligem a sociedade.
SUICÍDIO EGOÍSTA: é causado pela decepção, pela melancolia e pela sensação de desamparo moral, provocadas pela desintegração social. Atualmente, isso pode ser compreendido no mundo capitalista, cada vez mais individualista, em que as pessoas valorizam mais o “ter” do que o “ser”.
SUICÍDIO ALTRUÍSTA: é mais freqüente em “sociedades inferiores”, chamadas também de primitivas. São exemplos: enfermos ou pessoas que chegam ao limiar da velhice, viúvas por ocasião da morte do marido, etc.
SUICÍDIO ANÔMICO: é aquele que se deve a um estado de desregramento social no qual as normas estão ausentes ou perderam respeito. Como exemplo, podemos citar como fatos que provocam a anomia: corrupção praticada por políticos e funcionários públicos, a frieza da sociedade moderna, bem como sua falta de diálogo coletivo, o divórcio etc.
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Karl Marx
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Sua obra “O Capital” é considerada sua obra-prima, centro de seu pensamento. Marx teve como objetivo analisar o funcionamento do capitalismo e prever sua evolução. Contudo, seu esforço foi concentrado para demonstrar cientificamente a evolução do regime capitalista, inevitável, segundo sua opinião.
Enquanto o positivismo se preocupa com a manutenção da ordem capitalista, o marxismo elabora uma crítica radical ao capitalismo, evidenciando seus antagonismos e suas contradições.
RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO: constituem a base de toda estrutura social. São elas que definem os dois grupos da sociedade capitalista: de um lado os trabalhadores, aqueles que nada possuem além do corpo e da disposição para o trabalho, também chamados de proletários ou operários; do outro, os capitalistas, que possuem os meios de produção necessários para transformar a natureza e produzir mercadorias.
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MAIS VALIA: o capitalista paga um salário ao trabalhador e,
no final da produção, fica com o lucro, valor a mais que não retorna ao operário, incorpora-se na mercadoria e é apropriado pelo capitalista. Esse valor excedente produzido pelo operário é a Mais Valia. A história da humanidade é, para Marx, a história da luta de classes, da luta constante entre interesses que se opõem, embora esse conflito nem sempre se manifeste de forma clara.
MATERIALISMO HISTÓRICO: as relações materiais que os homens estabelecem, o modo como produzem seus meios de vida formam a base de todas as suas relações. Mas esse modo de produção não corresponde à mera reprodução da existência física dos indivíduos. A forma como os indivíduos manifestam sua vida reflete muito exatamente aquilo que são. O que são coincide, portanto, com a sua produção, isto é, tanto com aquilo que produzem como com a forma como produzem.
Ao adquirirem novas forças produtivas, os homens mudam seu modo de produção e com o modo de produção mudam as relações econômicas, que não eram mais que as relações necessárias daquele modo concreto de produção.
IDEOLOGIA: segundo o materialismo dialético marxista, as idéias devem ser compreendidas no contexto histórico vivido pela comunidade. No entanto, Marx vai além, mostrando que muitas vezes esse conhecimento aparece de maneira distorcida, como ideologia, ou seja, como conhecimento ilusório que tem por finalidade mascarar os conflitos sociais e garantir a dominação de uma classe sobre outra, quando se vive em uma sociedade dividida em classes, com interesses antagônicos.
Para Marx, as concepções filosóficas, éticas, políticas, estéticas, religiosas da burguesiasão estendidas para o proletariado, perpetuando os valores a elas subjacentes como verdades universais. E desse modo, impedem que a classe submetida desenvolva uma visão do mundo mais universal e lute por sua autonomia.
PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO: Um primeiro pressuposto de toda existência humana e, portanto, de toda história, é que os homens devem estar em condições de poder viver a fim de fazer a história. Mas, para viver, é necessário, antes de tudo, beber, comer, ter um teto onde se abrigar, vestir-se etc. O processo de produção e reprodução da vida através do trabalho é, para Marx, a principal atividade humana, aquela que constitui sua história social; é o fundamento do materialismo histórico, o método de análise da vida econômica, social política e intelectual.
INFRA-ESTRUTURA E SUPERESTRUTURA: A infra-
estrutura é o conjunto de forças produtivas e das relações sociais de produção. É a base sobre a qual se constituem as demais instituições sociais. Já as ideologias políticas, as concepções religiosas, os códigos morais e estéticos, os sistemas legais, de ensino, de comunicação, o conhecimento filosófico e científico, as representações coletivas etc, constituem a superestrutura.
Para Weber, a pesquisa histórica é essencial para a compreensão das sociedades. Para esse autor, é a pesquisa baseada em fontes documentais e no esforço de interpretá-las que permite a compreensão das diferenças sociais. O conhecimento histórico é um poderoso instrumento para a sociologia. Por isso os seguidores de Weber são chamados de weberianos ou historicistas.
DIFERENÇA ENTRE DURKHEIM E WEBER:
· Durkheim pretendia fazer da Sociologia uma ciência tão racional e objetiva quanto à Física ou a Biologia. Mas, como fazer isso, se a Sociologia lida com seres humanos que mudam a todo momento, que têm sentimentos, emoções, idéias e vontade própria, ao contrário dos fenômenos físicos ou biológicos?
Durkheim tentou resolver esse complexo problema postulando como princípio fundamental da Sociologia que os fatos sociais devem ser considerados como coisas, assim como uma reação química é uma “coisa” para um químico, isto é, algo objetivo, capaz de ser estudado, analisado, compreendido e explicado racionalmente.
Os fatos sociais seriam, assim, coisas externas e objetivas, que não dependem da consciência individual das pessoas para existir.
Os fatos sociais, dizia Durkheim, são “maneiras coletivas de agir ou de pensar” que podem ser reconhecidas pelo fato de exercerem uma “influência coercitiva sobre as consciências particulares”. Ou seja, os fatos sociais têm existência própria e são capazes de obrigar (influência coercitiva) as pessoas a se comportar desta ou daquela maneira.
· Para Weber, os métodos e investigação da Sociologia não deveriam seguir o caminho aberto pelas Ciências Naturais, como queria Durkheim. Isso porque os fatos humanos têm também uma dimensão subjetiva – formada pela consciência pelas intenções das pessoas - o que não ocorre com os fenômenos da natureza.
AÇÃO SOCIAL: Weber definia a sociologia como “uma ciência voltada para a compreensão interpretativa da ação social e, por essa via, para sua explicação causal no seu transcurso e nos seus efeitos”. Por ação social Weber entendia uma modalidade de conduta dotada de sentido e voltada para a ação de outras pessoas. Contudo, nem toda espécie de ação constitui uma ação social. Por exemplo, não há contato social no fato de duas pessoas se cruzarem em uma rua. Haveria, apenas, no caso dessas pessoas se cumprimentarem.
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Max Weber
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TIPOS DE AÇÃO SOCIAL: São quatro os tipos de ação social:
- Ação racional com relação a um objetivo: é definida pelo fato de que o indivíduo concebe seu objetivo com base em seus conhecimentos e combina os meios possíveis para atingi-lo. Exemplos: a ação do engenheiro ao construir um edifício.
· Ação racional com relação a um valor: corresponde ao indivíduo que age racionalmente para permanecer fiel à sua idéia de honra. É, por exemplo, a ação do capitão que afunda com seu navio.
· Ação emocional ou afetiva: é ditada pelo estado de consciência ou humor do indivíduo. É o soco dado por um jogador de futebol que perdeu o controle durante a partida. Pode ser também o grito de gol da torcida.
· Ação tradicional: é aquela estabelecida pelas crenças, pelos hábitos e pelos costumes. Exemplo: o ato de ir à Igreja.
Livro: “A ética protestante e o espírito do capitalismo”
Nesse livro Weber chamou a atenção para a relação entre uma ética que valorizava o trabalho árduo e o espírito de poupança, a ética calvinista, ou puritana – um ramo da religião protestante -, e o espírito racional da burguesia dos séculos XVI e XVII. O espírito de certo protestantismo ajusta-se à adoção d determinada atitude em relação à atividade econômica, que é adequada ao espírito do capitalismo.
Classes, Estamentos e Partidos
Para Weber, as classificações que ocorrem na sociedade (classes, estamentos, partidos) são conseqüências da distribuição de poder; para ele tudo é influenciado pelo poder, principalmente o poder econômico, mesmo este não sendo reconhecido (geralmente) como base de honras sociais, a forma que essas honras são distribuídas é chamada de ordem social.
Para uma pessoa estar numa classe ela deve se encontrar numa situação de classe comum às outras pessoas da classe. Porém, as classes não devem ser confundidas com comunidades, pois a ação comunitária que cria a situação de classe é uma ação entre membros de classes diferentes. As principais categorias para se classificar alguém numa situação de classe é a “propriedade” ou a “falta de propriedade”. As propriedades se distinguem pelo seu tipo e pelo tipo de serviço prestado, quem não tem propriedade se diferencia pelo tipo de serviço que presta e pela forma que faz uso deste serviço, como isso é uma situação de mercado, nesse caso a situação de classe é uma situação de mercado.
Os estamentos são diferentes das classes pois eles são comunidades e são determinados pela honra e não pela situação econômica. Um estamento pode evoluir para uma “casta” fechada, mas só chegam a esse ponto
quando há grandes diferenças “étnicas”. As classes se estratificam de acordo com suas relações com a produção e aquisição de bens enquanto os estamentos se estratificam de acordo com os princípios de seu consumo de bens, representado por estilos de vida especiais.
Os partidos vivem sob o signo do “poder” e tem em oposição às classes e ao estamento que suas ações significam sempre uma socialização e a meta dessa ação pode ser uma causa ou ser pessoal; sua reação é orientada para a aquisição de poder e pretendem influenciar o domínio existente. Os partidos podem representar situações classistas ou estamental.
Assim, Weber definiu os termos com base nas relações econômicas e de poder, fala pouco sobre luta de classes (só faz um pequeno resumo cronológico de como essas lutas vem evoluindo no decorrer do tempo), , dá impressão que ele pensa como um cientista e não como uma pessoa da sociedade como nos textos de Marx que foram lidos.
Monopólio da força legítima
Para Weber, o Estado é a instituição social que dispõe do monopólio do emprego da força legítima sobre um determinado território. A expressão “força legítima” pressupõe que o Estado tem o direito de recorrer à força sempre que isso seja necessário, e que esse direito é reconhecido pela sociedade sobre a qual esse Estado exerce seu poder. É diferente, por exemplo, da violência utilizada por malfeitores, considerada ilegítima.
Nas democracias modernas, a lei confere ao Estado o direito de recorrer a várias formas de pressão, inclusive a violência, para que suas decisões sejam obedecidas.
O poder do Estado
Segundo ainda Max Weber, o termo poder, em sentido amplo, designa “a probabilidade de impor a própria vontade dentro de uma relação social, mesmo contra toda resistência”. Poder significa, assim, a probabilidade de alguém se fazer obedecer por outra pessoa.
Nas democraciasrepresentativas, o poder do Estado tem por base uma Constituição livremente elaborada e aprovada por uma assembléia de pessoas eleitas com essa finalidade, a Assembléia Constituinte.
ASPECTOS GERAIS SOBRE A SOCIEDADE HUMANA
A espécie humana (homo sapiens sapiens) sempre se constituiu por meio de grupos. Uma de suas características é a comunicabilidade humana. O homem transmite idéias, sentimentos, sons, interesses, emoções, e essa capacidade evoluiu ao longo do tempo, passando de gestos e sinais ao desenvolvimento da linguagem e às primeiras manifestações artísticas – ainda no período paleolítico (190000 a.C. – 8000 a.C.) – e à escrita, criadas em diferentes regiões do planeta.
A tendência do ser humano a viver em grupo pode ser comprovada de forma positiva pela experiência empírica, cotidiana: seja na escola, na família ou no país,
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fazemos parte de um conjunto mais amplo de pessoas ligado a um conjunto ainda maior, a sociedade em que vivemos.
SOCIALIZAÇÃO
É na vida em grupo que as pessoas se tornam realmente humanos. A sociabilidade, capacidade natural da espécie humana para viver em sociedade, desenvolve-se pelo processo de socialização. Para os sociólogos Brigitte Berger e Peter Berger, a socialização “é o processo pelo qual o indivíduo aprende a ser membro da sociedade”.
Ou seja, a socialização é um processo pelo qual o mundo social, com seus significados, hábitos de vida e valores, penetra na mente da criança e passa a fazer parte de seu mundo interior. E a socialização varia de sociedade para sociedade ou mesmo de grupo para grupo. Têm-se como exemplo os contrastes existentes entre os padrões de vida no Oriente Médio e no mundo Ocidental.
Com a globalização e o advento de novas tecnologias de comunicação, o tempo histórico se acelerou e profundas transformações começaram a ocorrer em todas as esferas da sociedade. Nos grandes centros urbanos, o tribalismo se tornou uma das formas de expressão dos novos tipos de sociabilidade. Exemplos desses novos grupos são os punks, os skinheads, as torcidas organizadas de futebol e as gangues da periferia urbana.
ISOLAMENTO SOCIAL
Por outro lado, a ausência de contatos sociais caracteriza o isolamento social. As comunidades amish nos EUA, por exemplo, vivem em situação de relativo isolamento social em relação à sociedade norte-americana. Trata-se, nesse caso, de um autoisolamento, pois os amish rejeitam os valores da sociedade industrial.
As atitudes de ordem social podem envolver diferenças culturais, como as de costumes e de hábitos de vida, entre dois grupos, ou a impossibilidade de comunicação em razão das diferenças de língua. Outra causa de isolamento podem ser vários tipos de preconceito (racial, religioso, de sexo etc), tendo como exemplo o antissemitismo (contra judeus) e o apartheid (contra negros
· África do Sul).
Segundo o sociólogo Karl Mannheim, a timidez, o preconceito e a desconfiança também podem levar o indivíduo a um isolamento semelhante ao dos deficientes físicos, muitas vezes segregados dentro do seu próprio grupo primário.
INTERAÇÃO E INTERATIVIDADE
A interação social supõe, assim, a existência de reciprocidade nas ações entre indivíduos. Entretanto, com o desenvolvimento dos meios de comunicação, novos tipos de contato social vêm se afirmando. Para explicá-los teoricamente, foi criado o conceito de interatividade.
Interatividade é a troca simultânea de informações e o acesso imediato a qualquer parte do mundo; ela traduz,
particularmente, uma qualidade técnica das chamadas “máquinas inteligentes”.
Em seu livro Cibercultura (1997), Pierre Lévy se refere a diferentes tipos de interatividade:
· MENSAGEM LINEAR: se dá por intermédio de meios de comunicação como a imprensa, o rádio, a TV, o cinema e até as conferências eletrônicas.
· MENSAGEM PARTICIPATIVA: é aquela que utiliza dispositivos como os videogames, redes de computadores, sites de busca, endereços eletrônicos etc.
RELAÇÕES SOCIAIS
A relação social tem por base um comportamento recíproco entre duas ou mais pessoas. Nos termos de Max Weber, essa reciprocidade é dotada de um sentido comum às pessoas envolvidas. As relações de autoridade- obediência, por exemplo, são relações sociais, pois envolvem pessoas que exercem a autoridade e pessoas que obedecem, as quais se submetem às vezes a contragosto.
Em uma perspectiva diferente, Karl Marx considerava que as relações sociais eram decorrentes das relações de produção, ou seja, das relações desenvolvidas no processo produtivo, material, da sociedade. Um exemplo típico dessas relações seria a existente entre o dono da fábrica e seus empregados. Ainda, para Marx, as relações sociais também se constituem na sala de aula, nos laços familiares, nos vínculos entre as instituições etc.
PROCESSOS ASSOCIATIVOS E DISSOCIATIVOS
Os processos associativos estabelecem formas de cooperação, convivência e consenso no grupo. Geram, portanto, laços de solidariedade. Já os dissociativos estão relacionados a formas de divergência, oposição e conflito, que podem se manifestar de modos diferentes. São responsáveis por tensões no interior da sociedade. Os principais processos sociais associativos são a cooperação, a acomodação e a assimilação. Os principais processos dissociativos são a competição e o conflito.
· COOPERAÇÃO: são exemplos: reunião de vizinhos para limpar a rua, ou de pessoas para fazer uma festa; sociedades cooperativas, etc.
· COMPETIÇÃO: é uma forma de interação que envolve luta ou disputa por bens limitados ou escassos. Contudo, a competição tende a excluir o uso da força. Isso porque ela constitui um tipo de interação regulada por normas, por leis, ou mesmo pelos costumes. Quando a competição viola essas normas, transforma- se em conflito.
· CONFLITO: Quando a competição assume características de elevada tensão social, sobrevém o conflito. O conflito social é um tipo de interação que se desenrola no tempo e provoca mudanças na sociedade. Exemplos: combates na Colômbia entre tropas do
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governo e guerrilheiros ou narcotraficantes; ocupações de fazendas pelo MST no interior do Brasil, ás vezes seguidas de assassinatos; terrorismo.
· ACOMODAÇÃO: em alguns casos, o derrotado no conflito pode aceitar as condições impostas pelo vencedor para fugir à ameaça da destruição. A escravização de povos vencidos, comum na Antiguidade, é um caso típico de acomodação.
· ASSIMILAÇÃO: é a solução definitiva e mais ou menos pacífica de um conflito social. Trata-se de um processo de ajustamento pelo qual os indivíduos ou grupos antagônicos tornam-se semelhantes. Um exemplo de assimilação é o do imigrante que se integra inteiramente à sociedade que o acolhe.
COMUNIDADE
As comunidades possuem características comuns que as identificam:
· NITIDEZ: são os limites territoriais da comunidade, ou seja, onde ela começa e onde termina do ponto de vista espacial-geográfico.
· PEQUENEZ: a comunidade é uma unidade de pequenas dimensões, limitando-se quase sempre a uma aldeia ou conjunto de aldeias.
· HOMOGENEIDADE: as atividades desenvolvidas por pessoas de mesmo sexo e faixa de idade, assim como suas expectativas, são muito parecidas entre si; o modo de vida de uma geração é semelhante ao da precedente.
· RELAÇÕES PESSOAIS: em uma comunidade, as pessoas se relacionam por meio de vínculos pessoais, diretos e geralmente de caráter efetivo ou emocional. Predominam, portanto, os contatos primários sobre os secundários.
São exemplos de comunidades: punks, hippies, skinheads, gays, além das novas comunidades virtuais como o Orkut, o Facebook, o MSN, etc.
Assim, a comunidade é um tipo de agrupamento humano no qual se observa um elevado grau de intimidade e coesão entre seus membros. Nela predominam os contatos sociais primários e a família tem um papel especial. A sociedade, em contrapartida, é formada por um conjunto de leis e regulamentos racionalmente elaborados. É o queocorre, por exemplo, nas grandes sociedades urbanas industriais. Portanto, a expressão sociedade designa agrupamentos humanos que se caracterizam pelo predomínio de contatos sociais secundários e impessoais, havendo complexa divisão do trabalho e o Estado é sustentado pelo forte aparato burocrático.
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA
Algumas características da sociedade contemporânea atuam no sentido de desagregar valores cultivados não só nas antigas comunidades, mas também na própria sociedade societária até meados do século XX.
Entre esses valores estão a solidariedade, a vida familiar, a igualdade de oportunidades, a participação política, etc.
Entretanto, no interior da própria sociedade societária moderna existem forças que se opõem fortemente a essas tendências desagregadoras. Isso acontece porque as sociedades pós-industriais são geralmente sociedades democráticas.
O regime democrático se caracteriza pela liberdade, pelo respeito aos direitos humanos, pelo “império da lei” (todos são iguais perante a lei, ninguém está acima dela), pela pluralidade de partidos, pelo voto livre e universal e pela alternância no poder. Nessas condições, ele favorece a participação política e estimula a associação de pessoas em torno de interesses comuns, como sindicatos, organizações estudantis, associações de bairro, movimentos reivindicatórios, etc. Ambas as tendências, por sua vez, favorecem o estreitamento dos laços entre os participantes, a solidariedade e a agregação de interesses.
Um dos fundamentos do regime democrático é o conceito de cidadania. Segundo o sociólogo Herbert de Souza (Betinho), “cidadão é um indivíduo que tem consciência de seus direitos e deveres e participa ativamente de todas as questões da cidade. Tudo o que acontece no mundo, acontece comigo. Então eu preciso participar das decisões que interferem na minha vida. Um cidadão com um sentimento ético forte e consciente da cidadania não deixa passar nada, não abre mão desse poder de participação (...).”
“Cidadania” – afirma o jornalista e escritor Gilberto Dimenstein – “é o direito de se ter uma idéia e poder expressá-la. É poder votar em quem quiser sem constrangimento. É processar um médico que cometa um erro. É devolver um produto estragado e receber o dinheiro de volta. É o direito de ser negro sem ser discriminado, de praticar uma religião sem ser perseguido.
Há detalhes que parecem insignificantes, mas que revelam estágios de cidadania: respeitar o sinal vermelho no trânsito, não jogar papel na rua, não destruir telefones públicos. Por trás desse comportamento está o respeito à coisa pública.”
ESTRATIFICAÇÃO E MOBILIDADE SOCIAL
Por estratificação social entendemos a distribuição de pessoas e grupos em camadas hierarquicamente superpostas dentro de uma sociedade. Essa distribuição se dá pela posição social dos indivíduos, das atividades que eles exercem e dos papéis que desempenham na estrutura social.
Podemos dizer que, em certas sociedades, as pessoas a elas pertencentes estão distribuídas entre as camadas alta (classe A), média (classe B) ou inferior (classe C), que correspondem a graus diferentes de poder, riqueza e prestígio.
Podemos ressaltar desde já que estratificação social não é sinônimo de desigualdade social.
São tipos de estratificação:
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· Estratificação Econômica: definida pela posse de bens materiais, cuja distribuição pouco equitativa faz com que haja pessoas ricas, pobres e em situação intermediária.
· Estratificação Política: estabelecida pela posição de mando na sociedade (grupos que têm poder e grupos que não têm). Geralmente, as pessoas mais ricas detêm também mais poder.
· Estratificação Profissional: baseada nos diferentes graus de importância a cada profissional pela sociedade. Por exemplo, em nossa sociedade a profissão de médico é muito mais valorizada do que a de pedreiro.
SOCIEDADES ESTRATIFICADAS
O sistema de castas
Nesse tipo de sociedade não há mobilidade social. A posição social é atribuída ao indivíduo por ocasião do nascimento, independentemente de sua vontade. A pessoa carrega consigo, pelo resta da vida, esse status social herdado de seus ancestrais.
As castas são grupos fechados, cujos integrantes devem se comportar de acordo com normas preestabelecidas de origem religiosa. Em certas regiões da Índia o casamento só é permitido entre pessoas da mesma casta.
Pode-se esquematizar a estratificação social indiana por meio da seguinte hierarquia, que apresenta apenas as castas principais, já que existem na Índia mais de 2 mil castas:
BRÂMANES: são os sacerdotes da religião hinduísta e os mestres da erudição sacra. Segundo sua crença, a eles compete preservar a ordem social, estabelecida por orientação divina.
XÁTRIAS: são os guerreiros que formam a aristocracia militar.
VAIXÁS: é formada pelos comerciantes, artesãos e camponeses.
SUDRAS: formam a base da pirâmide. Eles executam trabalhos manuais e diversas tarefas servis. São uma casta depreciada, tendo o dever de servir as três castas “superiores”.
Fora do sistema de castas estão os párias, também chamados de intocáveis. Eles são desprovidos de direitos e não tem profissão definida. São eles que executam as tarefas consideradas “sujas”, como coletar o lixo, limpar fossas e lavar cadáveres. Os párias não podem banhar-se nas águas sagradas do Rio Ganges, nem ler os Vedas, que são os livros sagrados dos hindus.
Apesar de a Constituição indiana ter abolido o sistema de castas há mais de 50 anos, a divisão social baseada nas crenças do hinduísmo ainda persiste na Índia, que tem hoje mais de 2 mil castas e 20 mil subcastas. Mesmo assim, na segunda metade do século XX, reformas
sociais e mudanças na economia da Índia, impulsionadas pela industrialização, começaram a romper o sistema de divisão em castas. Assim, nos grandes centros urbanos do país, como Nova Délhi, Bombaim e Calcutá, a abolição do sistema vem ocorrendo gradativamente. Entretanto, ele ainda perdura na maior parte da Índia rural.
A sociedade estamental
O grande exemplo de sociedade estratificada em estamentos foi o modo de produção feudal, vigente na Idade Média. Para o sociólogo alemão Max Weber, o conceito de estamento está ligado a certos valores, como honra e prestígio social, que por sua vez expressam determinados estilos de vida.
O estamento é uma camada social semifechada. A posição social de uma pessoa nesse regime também lhe é atribuída desde o nascimento. Na sociedade estamental, a mobilidade social é difícil, mas não impossível, ao contrário do que ocorre na sociedade estratificada de castas.
Na sociedade feudal, a ascensão era possível. Por exemplo: os servos poderiam ser emancipados por seus senhores; o rei poderia conferir um título de nobreza a um homem do povo; a filha de um comerciante poderia se casar com um nobre, etc.
A pirâmide feudal era assim hierarquizada: nobreza e alto clero, comerciantes, artesãos, camponeses livres e baixo clero, servos.
A sociedade de classes
Marx dizia que a história da humanidade é “a história da luta de classes”. As classes sociais eram para Marx a burguesia e o proletariado. Ainda, para esse filósofo, os conflitos constituem o principal fator de mudança social.
Por outro lado, as classes sociais mudam ao longo do tempo, conforme as circunstâncias econômicas, políticas e sociais. As contradições que mantêm entre si forjam e estruturam a própria sociedade. Quando os conflitos chegam a um ponto insuportável, ocorre uma revolução que transforma a sociedade, modificando o modo de produção.
No sistema de classes há grande mobilidade social. As pessoas que integram o estrato de baixa renda (classe C), podem eventualmente ascender ao estrato de renda média (classe B) ou, mais raramente, ao de alta renda (classe A), como ocorreu com o empresário Sílvio Santos.
A mobilidade social pode ser vertical ou horizontal. A vertical varia de acordo com a renda. O sujeito sofre ascensão social quando melhora sua posição no sistema de estratificação social,passando a integrar um grupo econômico superior. Por outro lado, se a posição do indivíduo piora economicamente (perda do emprego, perda de um cargo importante, falência de uma empresa), há queda social.
Quando a pessoa experimenta alguma mudança de posição social, mas que, apesar disso, permanece no mesmo estrato social (mesma classe), então a mobilidade é chamada de horizontal. É o caso da família que se muda do interior para a capital e passa a conhecer novos serviços,
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nova cultura, novos lugares, mas continua pertencendo à classe C, por exemplo, pois possui a mesma renda.
CULTURA
A cultura é a nossa herança social. Independentemente de qualquer definição adotada, todos os estudiosos concordam que a aquisição e a perpetuação da cultura é um processo social, resultante da aprendizagem. Cada sociedade transmite às novas gerações o patrimônio cultural que recebeu de seus antepassados.
Cada sociedade elabora sua própria cultura ao longo da história. Todas as sociedades, desde as mais simples até as mais complexas, têm sua própria cultura. Não há sociedade sem cultura.
A cultura pode ser definida como um estilo de vida próprio, um modo de vida particular que todas as sociedades desenvolvem e que caracteriza cada uma delas. Assim, os indivíduos que compartilham a mesma cultura apresentam o que se chama de identidade cultural.
Multiculturalismo
São características do multiculturalismo: reconhecimento da filiação de cada pessoa a um grupo cultural; destaque à herança cultural de cada grupo, para que os demais possam apreciá-la e respeitá-la; afirmação da equivalência dos vários grupos étnico-culturais de uma dada sociedade; postulação do direito dos grupos sociais manterem sua singularidade cultural; enaltecimento da diversidade.
Nos Estados Unidos, o multiculturalismo tomou vulto nos últimos dez anos, em resposta às atitudes racistas e xenófobas contra os imigrantes latinos pela população branca.
Na Europa, o problema da diversidade étnico- cultural é mais antigo e complexo. As migrações de países da África e da Ásia ocorridas nas décadas de 1970 e 1980, motivadas por conflitos étnicos, guerras, fenômenos sociais e físicos (fome, seca), criaram a categoria dos “refugiados”.
A educação antirracista, ideário que se declarou concomitante ao multiculturalismo em escolas européias, foi a primeira a apontar as contradições do multiculturalismo. Ou seja, a exposição pura e simples da diversidade cultural e a celebração da diferença não problematizam os conflitos e as contradições das relações étnico-raciais assimétricas; não aprofundam a discussão do racismo, do sexismo e da xenofobia.
A educação antirracista, ao contrário do multiculturalismo, compreende o racismo como elemento estrutural das sociedades modernas, como um conjunto de políticas, concepções institucionais e práticas da vida cotidiana que reiteram a primazia de um grupo pretensamente superior sobre outros.
Padrão cultural
É um conjunto de normas que regem o comportamento dos indivíduos de determinada cultura ou
sociedade. Quando os membros de uma sociedade agem de uma mesma forma estão expressando os padrões culturais do grupo. Por exemplo, o casamento monogâmico é um dos padrões culturais da sociedade brasileira.
Subcultura
No interior de uma cultura podem aparecer diferenças significativas, caracterizando a existência de uma subcultura. Assim, por exemplo, há comunidades no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, nas quais certos costumes e valores se diferenciam claramente dos praticados em outras regiões do país. Isso ocorre em razão da presença nessas áreas de imigrantes de origem européia – principalmente italianos e alemães – que ali se instalaram no final do século XIX e que, por seu isolamento, mantiveram traços culturais dos países de origem.
Aculturação
Durante a colonização do Brasil, houve intenso contato entre a cultura do conquistador português e as culturas dos povos indígenas e dos africanos escravizados.
Em decorrência, ocorreram modificações, tanto na cultura dos europeus recém-chegados – que assimilaram muitos traços culturais dos outros povos – quanto na dos indígenas e africanos, que foram subjugados e perderam muitas de suas características culturais. Desse processo de contato e mudança cultural resultou a cultura brasileira.
Esse processo de mudança cultural provocada pelo contato entre dois ou mais grupos culturalmente distintos, e no qual um desses grupos assimila aspectos da cultura de outro grupo, é tradicionalmente conhecido como aculturação.
O antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997) e outros cientistas sociais diziam que a adoção de traços culturais de um grupo por outro geralmente envolve desigualdades ou assimetrias, como ocorre, por exemplo, com relação entre os povos indígenas e a sociedade capitalista no Brasil. Não se trata de uma relação entre iguais, mas de uma relação de dominação. Essa dominação pode ser de tal forma intensa que não deixa ao grupo subordinado nenhuma alternativa senão aculturar-se.
Cultura e contracultura
A oposição aos valores culturais vigentes em uma sociedade se chama contracultura.
Na década de 1950, os Estados Unidos conheceram o beat generation, que contestava o consumismo do pós-guerra norte-americano, o American way of life (estilo norte-americano de vida) que os filmes de Hollywood apregoavam, o anticomunismo generalizado e a ausência de um pensamento crítico.
Na década de 60, também nos Estados Unidos, surgiu o movimento hippie. Como o beat generation, foi um fenômeno de contracultura, porque contestava os valores fundamentais da sociedade industrial: a competição desenfreada, a acumulação de riquezas, a luta pela ascensão social a qualquer preço, etc. Além disso, era
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radicalmente contrário à Guerra do Vietnã (1959-1975), à estrutura familiar convencional, à sociedade de consumo e aos hábitos alimentares baseados em comida industrializada e fast food – traços culturais típicos da sociedade norte-americana.
Muitos jovens dessa época deixaram casa e universidade para viver em comunidades no campo, onde plantavam e produziam a própria comida e educavam seus filhos com base em valores mais humanizados. Alguns abraçaram religiões orientais, como o zen-budismo e o hinduísmo. Seu principal lema era: “faça amor, não faça a guerra”.
O movimento hippie desapareceu por volta da década de 80.
Indústria cultural e cultura de massa
A indústria cultural e a cultura de massa apareceram apenas após a Primeira Revolução Industrial, no século XVIII. Durante as revoluções industriais, é criado um quadro de submissão do ritmo humano de trabalho ao ritmo da máquina, traço este que marca a sociedade capitalista liberal, em que é nítida a oposição de classes e em cujo interior começa a surgir a cultura de massa.
Entretanto, a cultura de massa vem se instalar definitivamente a partir do século XX, quando o capitalismo de organização cria condições para uma efetiva sociedade de consumo baseada em veículos como a televisão.
De acordo com a filósofa Marilena Chauí, a massificação e o consumo culturais podem acarretar alguns riscos às artes, principalmente no que diz respeito a três de suas características:
a) de expressivas, tornarem-se reprodutivas e repetitivas;
b) de trabalho da criação, tornarem-se eventos para o consumo;
c) de experimentação do novo, tornarem-se consagração do consagrado pela moda e pelo consumo;
O controle econômico e ideológico das empresas de produção artística subverte essa finalidade intrínseca à arte: em vez de um evento para dar visibilidade à engenhosidade do artista, a industrialização da arte torna invisível a realidade e o próprio trabalho criador das obras.
Democracia cultural
Implica o direito ao acesso e ao conhecimento das obras culturais, bem como o direito à informação e à formação culturais, tão fundamentais quanto o direito à produção cultural. Entretanto,a indústria cultural produz um resultado contrário com a massificação da cultura.
Alienação e Revelação
Existem diversas suposições sobre o que a indústria cultural ocasiona sobre o indivíduo. Uma delas é que essa indústria provedora de alienação humana, um processo em
que o indivíduo é levado a não pensar por si mesmo sobre a totalidade do meio social, transformando-se em uma mera peça do tabuleiro, um simples produto alimentador do sistema que o envolve.
Existem duas grandes tendências quando se trata de saber se a indústria cultural provoca a alienação ou produz a revelação. Karl Marx, por exemplo, dizia que todo produto traz em si os vestígios, as marcas do sistema produtor que o engendrou. Esses traços estão no produto, mas permanecem “invisíveis”.
Tornam-se visíveis quando o produto é submetido a uma análise. É que a força da estrutura, das condições de produção da indústria cultural, se apresenta maior do que a força das mensagens veiculadas, que se vêem anuladas ou diminuídas pelo poder da estrutura. Nesse sistema podem estar presentes forças contrárias à força caracterizadora da natureza dessa indústria, esse produto só pode apresentar essa mesma característica. E não seria, em rigor, aceitável a hipótese de uma mudança no sistema social. Por exemplo, passando-se do sistema capitalista para o socialista, os meios de comunicação existentes não poderiam ser postos a serviço da nova ideologia, uma vez que estariam impregnados da ideologia que os criou e manter sua utilização poderia até mesmo colaborar para um movimento de retrocesso na direção do sistema que se desejou superar.
Embora radical, essa análise não vem sendo propriamente colocada sobre bases equivocadas. O problema é que, nesse caso, o único modo de eliminar totalmente uma ideologia e seus efeitos seria a destruição total de tudo aquilo que estivesse por ela afetado, solução pouco prática e pouco viável.
Caso contrário, chegar-se-ia à constatação de que, por exemplo, o meio por excelência de comunicação de massa, a televisão, não poderia jamais ser usado revolucionariamente. Fica patente que nenhuma sociedade existente, que queira dar início ao processo de profundas alterações sociais em seu interior, jamais poderá dispensar um meio como a televisão e os produtos culturais por ela gerados.
IDEOLOGIA
A palavra ideologia foi criada no começo do século XIX para designar uma teoria geral das idéias. Foi Karl Marx quem começou a fazer uso político dela quando escreveu um livro com Friedrich Engels, intitulado “A ideologia alemã”.
A ideologia constitui um corpo de idéias produzidas pela classe dominante que será disseminado por toda a população, de modo a convencer todos de que aquela estrutura social é a melhor ou mesmo a única possível. Com o tempo, essas idéias se tornam idéias de todos. Ou seja, as idéias das classes dominantes se tornam as idéias dominantes na sociedade.
Quando uma ideologia funciona de fato, ela se distribui por toda a sociedade, de forma a fazer com que cada indivíduo, em cada ato, reproduza aquelas idéias. O triunfo de uma ideologia acontece quando todo um grupo social está definitivamente convencido de sua verdade.
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A ideologia dominante, hoje, dissemina a idéia de que vivemos numa sociedade de oportunidades e de que o sucesso é possível, bastando que, para atingi-lo cada indivíduo se esforce ao máximo. Em contrapartida, vemos milhões de pessoas vivendo na miséria.
No âmbito da política, a ideologia aparece da mesma forma. Observe as propagandas em época de eleição. Elas sempre tocam nas necessidades das pessoas. Os candidatos vencedores das eleições são sempre aqueles que melhor conseguirem tocar nos desejos dos eleitores, que conseguirem produzir neles a idéia de uma satisfação futura.
AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS
Instituição é toda forma ou estrutura social estabelecida, constituída, sedimentada na sociedade e com caráter normativo. São elas: o Estado, a Igreja, a escola, a família, o trabalho remunerado, a propriedade privada, etc. As instituições são formadas para tender a necessidades sociais.
Características das instituições sociais:
· EXTERIORIDADE: são experimentadas como algo dotado de realidade externa aos indivíduos.
· OBJETIVIDADE: as pessoas reconhecem a existência e a legitimidade das instituições.
· COERCITIVIDADE: elas possuem o poder de exercer pressões sobre as pessoas.
· AUTORIDADE MORAL: mais uma vez, possuem não apenas o poder coercitivo, mas também a legitimidade para atuar em sociedade, a qual é reconhecida pelas pessoas.
· HISTORICIDADE: elas têm sua própria história e permanecem na sociedade ao longo dos anos.
A família
Grupo primário de forte na formação do indivíduo, a família é o primeiro corpo social no qual os indivíduos convivem. É um tipo de agrupamento social cuja estrutura varia em alguns aspectos no tempo e no espaço. Existem, por exemplo, famílias monogâmicas e poligâmicas. Algumas das principais funções da família são: a função sexual e reprodutiva, a função econômica e a função educacional.
A sociedade pós-industrial criou um novo padrão de família. Na cidade de São Paulo, por exemplo, apenas 54,6% das famílias pertencem ao modelo formado por pai, mãe e filhos.
No novo modelo, em rápido desenvolvimento, o “chefe da família” já não é apenas o pai. A mãe, por sua vez, deixou de ser sinônimo de “rainha do lar”. Os filhos são criados normalmente por pai e mãe que trocam constantemente de papéis entre si, não sendo raro verem- se pais em casa que cuidam dos filhos e mães que trabalham fora para sustentar a família. A participação do
homem em tarefas domésticas cresceu 43% na década de 90.
A Igreja
As crenças religiosas são um fato social universal, porque ocorrem em toda parte, desde os tempos mais remotos. Cada povo tem nas crenças religiosas um fator de estabilidade, de aceitação da hierarquia social e de obediência às normas que a sociedade considera necessárias para a manutenção do equilíbrio social.
As religiões sofreram profundas modificações com o desenvolvimento da economia industrial, quando o progresso da ciência e das artes fez com que o ser humano passasse a ter uma nova visão de si mesmo e do universo. Nessas circunstâncias, boa parte das religiões vem procurando conciliar suas doutrinas com o avanço do conhecimento científico.
Na América Latina, essa preocupação com os problemas sociais deu origem à Teologia da Libertação (1979), doutrina defendida por alguns sacerdotes e bispos da Igreja católica que defende o engajamento da instituição religiosa na luta contra as desigualdades e por justiça social. Hoje, alguns movimentos religiosos defendem uma participação maior das Igrejas na solução de problemas sociais e vêm procurando ressaltar mais as questões éticas do que os dogmas religiosos.
Em contrapartida, os grupos mais conservadores das Igrejas caminham em direção oposta, defendendo o apego à tradição e dando ênfase às atividades missionárias e à salvação da alma.
O Estado
O Estado é a instituição responsável pela regulamentação social e manutenção da ordem. O recolhimento de tributos, por exemplo, só é possível porque os integrantes da sociedade reconhecem que o Estado tem esse direito e porque o Estado detém forte poder de coerção. Esse poder permite ao governo recorrer a várias formas de pressão (multas, processos judiciais, prisão, etc.) para fazer valer seu direito de cobrar tributos.
O Estado possui três importantes componentes:
· Território: constitui sua base física, sobre a qual ele exerce sua jurisdição;
· População: é composta pelos habitantes do território que forma a base física e geográfica do Estado;
· Instituições políticas: entre elas sobressaem os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário; o
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núcleo do poder do Estado está nas mãos do
governo;
Estado e nação
Nação é um conjunto de pessoas ligadas entre si por laços permanentes de idioma, tradições,costumes e valores; é anterior ao Estado, podendo existir sem ele. Já um Estado pode compreender várias nações, como é o caso do Reino Unido (ou Grã-Bretanha, formada por Escócia, Irlanda do Norte, País de Gales e Inglaterra).
Antes de 1948 os judeus formavam uma nação sem Estado, como ocorre atualmente com os curdos, por exemplo, os quais estão dispersos em países como Síria, Líbano, Turquia e Iraque.
Estado de Governo
O Estado é uma instituição social permanente, ou de longa duração, que exerce o poder. Já o governo é apenas um componente transitório do Estado. O governo pode mudar, mas o Estado continua.
Como o Estado é uma entidade abstrata, que não tem “querer” nem “agir” próprios, o governo age em seu nome. Por exemplo: a Presidência da República é um órgão fundamental do Estado brasileiro desde 1889.
Formas de governo
Resumindo, os três poderes do Estado são:
· Executivo – incumbido de executar as leis;
· Legislativo – encarregado de elaborar as leis;
· Judiciário – responsável pela distribuição de justiça e pela interpretação da Constituição.
O governo pode adotar as seguintes formas:
· Monarquia – o governo é exercido por uma só pessoa (rei ou rainha), que herda o poder e o mantém até a morte;
· República – o poder é exercido por representantes do povo eleitos periodicamente pelos cidadãos;
Atualmente, em certos países na Europa, como Grã-Bretanha, Espanha, Suécia e Noruega, a forma de governo é monárquica, mas os reis têm apenas um papel simbólico e protocolar, cabendo ao Parlamento, cujos representantes são democraticamente eleitos, o exercício efetivo do poder. São as chamadas monarquias constitucionais.
Nas repúblicas modernas, por outro lado, há dois tipos de regime: o parlamentarista e o presidencialista. Nos países em que foi instituído o regime presidencialista, a escolha do presidente é feita diretamente pelos eleitores. Esse modelo de democracia funciona em países como o Brasil, a Argentina e o Peru. Já nos regimes parlamentaristas os eleitores elegem seus representantes no Parlamento e cabe unicamente a estes a escolha dos membros do poder Executivo. O regime parlamentarista é aplicado especialmente na Europa, tanto em repúblicas como Portugal e Itália quanto em monarquias como a Grã- Bretanha e a Suécia.
SOCIOLOGIA NO BRASIL
No Brasil e na América Latina como um todo, o desenvolvimento das idéias sociais reflete relações coloniais com a Europa e o avanço do capitalismo dependente.
Do século XIX em diante, a burguesia brasileira vai adquirindo primazia no sentido de conduzir as direções econômicas, políticas e culturais, segundo as quais se organizarão as interações sociais na cidade e no campo, na agricultura e no comércio, no governo e na educação. No fim do século XIX, a modernização do país passa a ser importante para a burguesia emergente. Ela necessitava de um saber mais pragmático, que não estivesse vinculado à herança colonial. Por essa razão, organiza um movimento para modificar a sociedade e a cultura e orienta o pensamento social. Nesse momento, surgem estudos históricos, críticas literárias e análises de caráter sociológico, como Os Sertões, de Euclides da Cunha.
Nessa obra, o jornalista E. da Cunha explicita o conflito de uma sociedade dividida em duas partes aparentemente irreconciliáveis: a sociedade das cidades litorâneas, aberta à influência estrangeira, e a sociedade agrária e tradicional do interior.
Escola de Recife
A Escola de Recife revelou a contribuição de intelectuais inspirados nas concepções de linhas de pensamento sociológico alemãs e inglesas adaptadas a um modelo tropical “mundializado”. Assim, a formulação das Ciências Sociais no Brasil teve como um dos principais cenários acadêmicos, no fim do século XIX e início do século XX, o curso de Ciências Jurídicas e Sociais de Recife, em Pernambuco, criada em 11 de agosto de 1827, por Dom Pedro I.
As influências dos intelectuais Tobias Barreto, Sílvio Romero e, numa segunda fase, de Gilberto Freyre são consideradas fundamentais para explicar as correntes do
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pensamento sociológico, que predominaram na história da
instituição pernambucana, que teve forte influência no Nordeste, e posteriormente, em outras escolas pelo Brasil. As bases germânicas e inglesas nortearam as teses defendidas pelos acadêmicos, que as adaptaram a um modelo tropical “mundializado”.
PRIMEIRA FASE DA ESCOLA DE RECIFE
A primeira fase da Escola de Direito do Recife, iniciada por Tobias Barreto, foi objeto de polêmica em muitos círculos intelectuais do período. Alguns críticos acusavam Barreto de ser o protótipo da bacharelice latino- americana, com características erudita, agressiva, provinciana e alienada dos problemas políticos e sociais concretos. O componente germânico na linha de pensamento do acadêmico e escritor pernambucano surge a partir de 1871. Foi simpatizante de Kant e do monismo evolucionista de Heckel e Spencer, enquanto em São Paulo, predominava o positivismo de Comte.
Tobias Barreto foi o primeiro a perceber os maus efeitos que produzia no Brasil, a excessiva influência francesa, que era a única influência européia do período. Barreto afirmava em seus discursos que não aderia ao socialismo e nem ao liberalismo. Ele era Kantiano no Brasil, antes dos alemães, e também recusava o determinismo econômico. Barreto era indignado com o sociologismo da sua época, o qual era para ele um simplismo mecanicista ou organicista.
Por outro lado, Sílvio Romero distinguiu as ciências da natureza como fenômenos mecânicos regidos pela lei de causalidade, alheios aos fatos conscientes e voluntários, das ciências da humanidade, na qual estariam todos os fenômenos nos quais se acham inerentes a consciência e a vontade, regidos pela lei da finalidade. Segundo ele, é justamente aí que a sociologia se encaixaria.
SEGUNDA FASE DA ESCOLA DE RECIFE
Nessa fase a Escola foi coordenada por Gilberto Freyre. Coube a este estudioso implementar os empreendimentos institucionais das Ciências Sociais em Pernambuco, já no século XX. Freyre se esforçou para construir um espaço institucional autônomo. Também inovou ao acrescentar a antropologia aos seus estudos, quando escreveu “Casa Grande e Senzala” (1933) e a “Ecologia do Nordeste” (1937), estendendo esses parâmetros ao internacional mundo tropical.
No século XXI, a herança da Primeira Escola do Recife e da Segunda continuará sendo a da insistência nos estudos das questões e soluções dos problemas brasileiros, mesmo num mundo cada vez mais globalizado.
Alguns autores da sociologia brasileira e suas influências teóricas
LAURO SODRÉ: foi influenciado por Auguste Comte. Foi discípulo de Benjamim Constant. A filosofia de Comte vai influenciar muito no Brasil, principalmente junto aos republicanos, quando eles vinham com o intuito de ordem social. Benjamin Constant foi um dos responsáveis pela divulgação da filosofia positivista entre os republicanos que buscavam organizar a sociedade.
FERNANDO DE AZEVEDO: foi seguidor de Durkheim. Sua preocupação era estritamente metodológica, de como analisar os fenômenos sociais, qual era a postura que o investigador e o cientista deveriam ter. No entanto, em nenhum momento sua sociologia se volta para os fatos sociais.
BRANDÃO LOPES: influenciado pelo historicismo weberiano (Max Weber), Lopes dizia que deve-se exigir do investigador o rigor metodológico, o recorte da realidade que é complexa, e utilizar o tipo ideal para a comparação daquilo que se busca entender, isto é, a realidade do estudo.
A revolução científica só é consolidada quando chega ao Brasil a teoria marxista. A dialética vai permitir. A dialética vai permitir que a discussão venha para a área acadêmica mais crítica e vai exigir que se coloque uma prática nessa teoria.
Ao chegar ao Brasil, a corrente marxista é dividida em duas vertentes:
· Marxismo Confessional: é o marxismo mais prático, militante. Essa vertente vai orientar a formação de sindicatos, a formação dos partidos de massa. Expoentes:CAIO PRADO JÚNIOR, LEANDRO KONDER e CARLOS NELSON COUTINHO.
· Marxismo Metodológico: é constituído pelos teóricos que trabalhavam mais o plano da ciência, a plano da discussão, do materialismo filosófico, dialético, do Socialismo científico, e no qual se concentra a discussão do plano teórico de Marx. Expoentes: OTÁVIO IANNI e FRANCISCO WEFFORT.
As primeiras instituições
A sociologia, como conhecimento sistemático e metódico da sociedade, surge no Brasil na década de 1930, com a fundação da Escola Livre de Sociologia e Política
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(1933) em São Paulo, mais voltada para os estudos da sociologia norte-americana.
Em 1934, funda-se mais uma faculdade de sociologia, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP), tendo como fundador Armando Salles de Oliveira, de forte influência francesa.
Para a formação dos professores dessas duas faculdades vieram vários professores convidados (franceses e norte-americanos), dentre eles Claude Lévi- Strauss, Roger Bastide, Georges Gurvicht e Fernand Braudel, constituindo a chamada “Missão Francesa”; e Radcliffe Brawn e Donald Pierson, ambos norte- americanos.
OS PRINCIPAIS INTELECTUAIS BRASILEIROS
Escola de 30
Destacaram-se nessa escola: Caio Prado Júnior, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Fernando Azevedo.
CAIO PRADO JÚNIOR (1907-1990): Formado em Direito, Caio Prado foi um historiador de orientação marxista. Tomou como ponto de partida a situação colonial brasileira para a compreensão da realidade atual de nosso país. Ele afirma que só é possível entender o Brasil do século XX resgatando as relações internacionais capitalistas desde a expansão européia até os dias atuais. Isso porque é no sentido da formação inicial do Brasil (a herança colonial) que encontramos as causas explicativas para o nosso subdesenvolvimento. Escreveu importantes obras como “Evolução Política do Brasil (1933)”, “História Econômica do Brasil (1945)” e “Formação do Brasil Contemporâneo (1942)”.
Nesta obra o autor analisa o país a partir de uma ótica econômica, mostrando que o Brasil faz parte de um empreendimento maior - o contexto da expansão marítima portuguesa em busca dos mercados orientais. Em sua mais ilustre passagem da obra, na qual discute o sentido da colonização, mostra que o desenvolvimento da colônia (povoamento, atividades comerciais, agricultura) atendeu aos interesses da metrópole (Portugal). Caio Prado afirma que o Brasil só se constitui "para fornecer tabaco, açúcar, alguns outros gêneros; mais tarde, ouros e diamantes; depois, algodão, e em seguida café, para o comércio europeu". Ao final, Caio Prado faz um balanço negativo dos três séculos da colonização, pois tratou-se somente de uma "exploração extensiva e simplesmente especuladora, instável no tempo e no espaço, dos recursos naturais do país."
SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA (1902-1982): O
elemento central para a compreensão de nossa realidade social, política e econômica reside na formação oligárquica e autoritária das elites culturais e políticas brasileiras. Sua influência vem do historicismo de Max Weber. Suas
principais obras são: “Visão do Paraíso (1959)” e “Raízes do Brasil (1936)”.
Em Raízes do Brasil, Sérgio Buarque interpretou o “homem cordial”. O brasileiro é chamado de “homem cordial” por ter um caráter hospitaleiro tão admirado por visitantes. Sua generosidade e sua prestatividade são herança de nossa sociedade rural, da hospitalidade do senhor de engenho e sua família para com o viajante.
Na verdade, essa cordialidade é dissimulada, é mascarada de suas emoções. É a maneira que o homem usa para se libertar de si mesmo. Mesmo assim não consegue libertar-se de sua individualidade, apesar de ele parecer bem sociável, essa sociabilidade não chega ao ponto da solidariedade, da coletividade. O brasileiro gosta da intimidade, da proximidade, prefere acreditar nas qualidades pessoais de uma pessoa “íntima” a acreditar em sua competência. A preferência é por relações emotivas, vistas no tratamento pessoal, na religião ou mesmo na vida financeira. O brasileiro não gosta de rigorismo, de obrigações, nossos cultos e nossa religiosidade são bem superficiais.
(OBS: baixe o fichamento do livro Raízes do Brasil no site www.centrodecursosamf.com.br).
GILBERTO FREYRE (1900-1987): Formado na
Universidade de Columbia nos Estados Unidos, Freyre recebeu influência do antropólogo Franz Boas. Ficou bastante conhecido após a publicação de sua obra “Casa Grande e Senzala (1933). Trata-se de um estudo profundo das relações sociais do período colonial e da identidade cultural brasileira, evidenciando a contribuição do negro e do mestiço e a fusão de raças e culturas para a formação da sociedade brasileira. Freyre considera a miscigenação racial no Brasil o pressuposto para a constituição de uma grandiosa democracia racial.
Casa-grande ressaltou muito mais a importância da cultura que da raça, ao mesmo tempo em que apontou como elemento essencial da sociedade brasileira colonial a mestiçagem. E fez isso numa época em que, internacionalmente, ganhavam terreno as teorias racistas de cunho supostamente científico desenvolvidas nos século 19 e que ainda influíam nas ciências sociais, enquanto internamente, intelectuais respeitados como Oliveira Viana creditavam ao papel da raça branca um eventual sucesso da civilização em nosso país.
Já na obra “Sobrados e Mucambos”, Freyre aprofunda o estudo e discute a decadência do patriarcado rural e o desenvolvimento do urbano: o caráter de “novidade” que causou tanto impacto no primeiro livro já não aparece no segundo.
Escola de 50
FLORESTAN FERNANDES: de forte influência marxista, Florestan desenvolveu uma crítica contundente sobre a obra freyriana, e em especial, critica o que ele chama de “mito da democracia racial”. Nega o caráter pacífico e integrador do processo de miscigenação de raças, defendido por Gilberto Freyre, e escreve uma obra importante, “A integração do negro na sociedade de
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classes”, mostrando as dificuldades da integração dos negros recém-libertos na sociedade capitalista agrária que ora se consolidava no Brasil. Segundo Florestan Fernandes, para os negros o resultado do processo histórico de nascimento da sociedade de classes gerou a sua exclusão.
Por outro lado, Florestan também releu criticamente as teses de Sílvio Romero, Oliveira Viana, Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, retomando teses esboçadas por Euclides da Cunha, Manuel Bonfim, Caio Prado Júnior e outros.
A produção intelectual de Florestan retrata um estilo de reflexão que questiona a realidade social e o pensamento, as suas contribuições sobre as relações raciais entre o negro e o branco, os problemas indígenas, escravatura e abolição, educação e sociedade, folclore e cultura, revolução burguesa, revolução socialista e outros temas das histórias brasileiras e latino-americana.
Nas reflexões desse intelectual sobre os fundamentos lógicos e históricos da explicação sociológica, localiza-se a análise das três matrizes clássicas do pensamento sociológico: o método funcionalista, ou objetivo, sistematizado por Durkheim; o compreensivo, formulado por Weber; e o dialético, criado por Marx. As contribuições teóricas dos clássicos tiveram desenvolvimentos diversos e às vezes notáveis.
CELSO FURTADO: inovou as interpretações sociológicas do passado a respeito da formação econômica do Brasil. É considerado o pai da economia política brasileira, participando ativamente da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina). Sua maior crítica se baseia no conceito de subdesenvolvimento como uma etapa histórica das sociedades em direção ao capitalismo desenvolvido.
Para Celso Furtado, o subdesenvolvimento refere- se a uma formação econômica específica produzida pelo capitalismo internacional. O elemento mais evidente dessa análise é a crítica ao caráter dependente esubordinado aos interesses do capitalismo praticado pelas potências econômicas mundiais. Contudo, suas formulações teóricas encontraram abrigo no plano das políticas de governo, com a defesa da substituição das importações e o incentivo à produção industrial nacional e à formação de uma amplo mercado nacional de base popular.
Sua obra de destaque foi “Formação Econômica do
Brasil”.
Pós década de 60
OTÁVIO IANNI: foi contemporâneo de Fernando Henrique Cardoso, Marialice Foracchi e Luiz Pereira. Ao lado desses nomes e orientado por Florestan Fernandes, Otávio Ianni exerceu forte militância. Era visto pelos militares como um comunista subversivo infiltrado na universidade.
Com o processo de redemocratização no Brasil, a queda física e simbólica do Muro de Berlim e o colapso da URSS, o foco de Ianni passou para as questões levantadas pela sociedade global e a era da informação. Escreveu nesse período que vai do final dos anos 1980 ao início do século 21 livros como “A sociedade global” e “Teorias da Globalização”, valiosas contribuições de um sociólogo experiente aos debates sobre o tema.
Otávio Ianni teve tempo ainda de acompanhar – e refletir sobre – o primeiro grande evento do século 21, o atentado de 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center e ao Pentágono.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO: Como sociólogo, FHC escreveu obras importantes para a teoria do desenvolvimento econômico e das relações internacionais. Sua teoria sugere que os países subdesenvolvidos devam se associar entre si, buscando um caminho capitalista alternativo para o desenvolvimento, livrando-se da dependência das grandes potências. FHC era contrário à tese de que os países do terceiro mundo se desenvolveriam só se tivessem uma revolução socialista. Junto ao chileno Enzo Falletto, FHC escreveu a obra Dependência e Desenvolvimento na América Latina em 1969.
HERBERT DE SOUZA: otimista ativo, o sociólogo conhecido como Betinho driblou a saúde frágil e transformou-se em um agente da solidariedade. Seus esforços voltaram-se para a cidadania e para a ação. Betinho foi vítima do exílio e morou no Uruguai, em algumas regiões da Europa, até ir para o Chile, onde assessorou o então presidente Salvador Allende. Também esteve na embaixada do Panamá, Canadá e México.
Betinho dizia: “não creio no Estado como solução, creio na sociedade. Não creio no poder, creio na liberdade. Não creio nos que se acomodam e desistem. Creio nos que pensam e agem em função do futuro e da felicidade de todos”.
DARCY RIBEIRO: foi antropólogo, escritor, senador e ministro da Educação (um dos autores da Lei de Diretrizes e Bases em 1996). Sua obra de destaque saiu em 1995: “O povo brasileiro”. Nesse livro o autor produz um ensaio etnográfico fantástico sobre a formação da cultura e da identidade do povo brasileiro. Utiliza-se da noção de matrizes étnicas (indígena, negro e europeu). Como etnólogo das comunidades indígenas brasileiras, rompeu com as abordagens funcionalistas e denunciou as relações entre esses povos e a comunidade branca européia, que resultaram no extermínio, muitas vezes, dessas culturas e etnias.
Suas participações na sociedade foram marcantes. Fez parte dos “Caras Pintadas” e comemorou, posteriormente, a destituição de Fernando Collor. Participou em 1990, do movimento Terra e Democracia e esteve na liderança, em 1992, do Movimento Pela Ética na Política. A partir desse movimento Herbert de Souza procurou atender os pobres.
Embora frágil fisicamente (até um simples corte nos lábios era motivo de preocupação), Betinho era um gigante nas idéias, que não ficavam apenas no papel: ele era idealizador e executor de seus próprios projetos. E, sem dúvida, duas das maiores realizações foram Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida e o Natal sem Fome.
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Guerreiro Ramos e Florestan Fernandes dominou a cena
SOCIOLOGIA BRASILEIRA A PARTIR DOS ANOS 60
Na década de 60 a sociologia se preocupou com o processo de industrialização do país, nas questões de reforma agrária e movimentos sociais na cidade e no campo e a partir de 1964 o trabalho dos sociólogos se voltou para os problemas sócio-políticos e econômicos originados pela tensão de se viver em um pais cujo a forma de poder é o regime militar.
Surgiu nessa época também a Teoria da libertação, onde, onde a igreja passou a radicalizar com seus pensamentos. Nessa época, no Brasil, em que os militantes católicos se aproximaram dos movimentos no campo, surge a Comissão Pastoral da Terra, entidade que está na origem do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST. Essa mudança delinear-se já na metade da década de 1950, configurando-se plenamente de 1960 em diante.
Na década de 60, os estudos sobre a formação do moderno operariado fabril no Brasil e América Latina, centravam-se em alguns binômios representativos: industrialização/urbanização, moderno/tradicional, migração rural/urbana; mobilidade social/acesso aos bens materiais e simbólicos da sociedade moderna, o meio urbano- industrial/baixa organização sindical dos trabalhadores.
A classe operária foi revisitada, perdendo determinações e teleologias, recuperando-se experiências, cultura e cotidianidade que permitem discuti-la em sua multiplicidade, fora dos limites de sua representatividade externo-organizativa e também do chamado “chão de fábrica”, das tecnologias, dos processos. As relações sociais no mundo do trabalho passam a ser analisadas imbricadas com o mundo da vida onde fatores como família e redes de sociabilidade informais, demonstram possuir um peso antes desconsiderado.
A classe com o sujeito se multiface ta nos indivíduos que a compõem: homens, mulheres, crianças, jovens, velhos, com seus projetos e perspectivas. A análise dessas práticas permite compreender os sentidos atribuídos pelos trabalhadores às suas condições de existência e à construção de identidades sociais.
O período da Sociologia Científica
O início do período da Sociologia Contemporânea corresponde à fase de emergência da Sociologia Científica, que buscava, sob a égide do paradigma estrutural- funcionalista, a consecução de um padrão de institucionalização e prática do ensino e da pesquisa em sociologia, similar ao dos centros sociológicos dos países centrais. A concepção de desenvolvimento desta abordagem teve sua expressão na Teoria da Modernização e em sua análise do processo de transição da sociedade tradicional para a sociedade moderna. Os anos 50 foram marcados também pelo surgimento da proposta de uma “Sociologia Autêntica”, nacionalista, que buscava contribuir para o processo de libertação nacional e que tem na obra de Guerreiro Ramos (1957 e 1965) sua referência principal. Teoricamente, a controvérsia entre
da comunidade sociológica brasileira durante esse período, tendo por fulcro central a questão da particularidade e/ou universalidade do conhecimento social produzindo no Brasil A Teoria da Modernização concebe o processo de desenvolvimento como uma transição de uma sociedade rural tradicional para uma sociedade industrial moderna.
A “Sociologia Científica” caracterizada pela “adoção dos princípios básicos do conhecimento científico em geral, embora tenha suas próprias especificidades”, assim como pelo “desenvolvimento de procedimentos de pesquisa extremamente refinados e muito mais poderosos do que os previamente utilizados”. As conseqüências disso são uma “tecnificação crescente da Sociologia, dada à estandardização dos procedimentos de pesquisa, o uso generalizado de instrumentos selecionados de pesquisa, a
„rotinização ecoletivização das atividades, a necessidade crescente de recursos financeiros, espaços físicos e equipamentos, e de pessoal técnico e administrativo”.
O Período de crise e diversificação da Sociologia Brasileira, em fins dos anos 50 e início dos anos 60, foi resultado de uma crítica marxista e implicou uma crescente diferenciação paradigmática que foi potencializada, já no decorrer do período de crise e diversificação da Sociologia brasileira,

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