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Para proteger a vida, a conduta inicialmente reprovável pode se tornar honrosa. Ética e relações de cidadania____________________________________________________Capítulo 3 CAPÍTULO 3 A Ética Prática e Ética dos Fins Após tecer nos dois primeiros capítulos considerações sobre a compreensão, alcance e finalidade da ética, torna-se oportuno caminhar para a um aspecto mais prático da ética, isto é, mais aplicável na vida do homem, sobretudo, nas circunstâncias mais complexas em que se exige do homem, inevitavelmente, o assumir uma postura ética cuja interpretação passa a uma instância mais flexível diante de bens que não podem ser tocados, como por exemplo, a vida. Em outras palavras, para proteger a vida, a conduta inicialmente reprovável pode se tornar honrosa. A ética prática não se resume a uma moralidade que normalmente é vista como um sistema de puritanas proibições irritantes, cujo resultado seja impedir que as pessoas sejam felizes e se divirtam. A ética prática tematiza a vida, em seu mais amplo alcance, ou seja, suas questões se dirigem a problemas que ensejam uma certa universalidade e um prejuízo ao valor humano, ainda que este humano seja uma pessoa de um outro estado, país, continente. Afirmar que a vida é sagrada, significa dizer que a vida tem um valor mais elevado que os demais valores, como se houvesse uma hierarquia destes valores e a vida estivesse no topo dos mesmos. Tematizar a vida é garantir a existência não apenas de um indivíduo, mas a própria coexistência social. É bem possível que a sociedade não sobrevivesse se permitisse que seus membros se matassem entre si. A ética prática e ética dos fins 1 Ética e relações de cidadania____________________________________________________Capítulo 3 O Estado e a própria sociedade brasileira, ainda que não concorde com o ato de um ser humano retirar a vida do outro, admite que existem circunstâncias em que a prática de tal ato receberá um tratamento especial. Por Exemplo, a morte da vítima pode não ocorrer por intenção do agente como também pode ser um caso de legítima defesa. O juízo ético dever orientar a prática e nesta medida ser aproveitável. Não pode ser uma regra simples tal como não mentir. Exemplo: Na Alemanha nazista os judeus foram duramente perseguidos. Havia situações em que os judeus se escondiam na residência de não judeus. Quando a Gestapo1 (Polícia Secreta do Estado Nazista) batia à porta de uma casa em busca de judeus, o chefe da casa poderia dizer a verdade entregando para o holocausto mais um grupo de almas semitas, ou, mentir e salvar a vida da família judia apavorada que estava escondida no sótão que nunca declarou guerra ao Estado alemão, mas que só desejava sobreviver. No exemplo acima a finalidade (ética prática e ética dos fins) de assegurar a vida como tema da ética é cumprida. 3.1. Os Deontologistas: A ética deontológica não é uma ética do ser, mas é uma ética do dever-ser. A ética em sentido prático, não é também o que pensam os deontologistas que afirmam- na como um sistema de normas. Os deontologistas concentram-se no estudo e na formulação de um tratado de deveres. Tal sistema, naturalmente, que diante das 1 A Gestapo – Na Alemanha nazista havia uma Polícia Secreta do Estado chamada Gestapo (abreviação de Geheime Staatspolitzei), a qual era encarregada da repressão política a fim de assegurar o regime e que foi considerada como organização criminosa pelo Tribunal de Nuremberg. A ética prática e ética dos fins 2 A ética prática tematiza a vida, em seu mais amplo alcance. Ética e relações de cidadania____________________________________________________Capítulo 3 complexidades e das peculiaridades das circunstâncias não conseguirá atingir todas as particularidades contidas nas relações humanas, e por esta razão, os deontologistas procuram estabelecer uma espécie de hierarquia no sistema das normas a fim de tentar resolver os problemas surgidos da imprevisibilidade de circunstâncias. 3.2. Os consequencialistas: Esta concepção da ética avalia o conteúdo ético de uma ação pelo seu resultado. Seus adeptos não partem de ações morais, mas do objetivo, isto é, de quanto uma ação favorece um objetivo. O critério de aferição deste ponto pode assumir uma interpretação relativa, o que ocorre na medida em que o juízo ético é realizado a partir das conseqüências. O Utilitarismo é a mais conhecida das teorias consequencialistas, considerando uma ação correta desde que, comparada a uma ação alternativa, produza um aumento igual, ou maior, da felicidade, de todos que são por ela atingidos, e errada desde que não consiga fazê-lo. Para o utilitarista, mentir será mau em algumas circunstâncias e bom em outras. Relembrando: • A ética não se situa exclusivamente num sistema abstrato de idéias acerca das sensações humanas diante de uma conduta. • O tema da ética vai além de normas. • O juízo ético dever orientar a prática e nesta medida ser aproveitável. Não pode ser uma regra simples tal como não mentir. • Os deontologistas concentram-se no estudo e na formulação de um tratado de deveres. • Os consequencialistas não partem de ações morais, mas do objetivo, isto é, de quanto uma ação favorece um objetivo. • O Utilitarismo é a mais conhecida das teorias consequencialistas. A ética prática e ética dos fins 3