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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 2 1. LITISCONSÓRCIO ......................................................................................... 3 1.1. Litisconsórcio facultativo ................................................................................. 5 1.1.1. Limitando o número de litisconsortes ............................................................. 7 1.2. Litisconsórcio necessário .............................................................................. 10 1.2.1. Consequências processuais da não formação do litisconsórcio necessário 12 1.3. Litisconsórcio simples ................................................................................... 14 1.4. Litisconsórcio unitário ................................................................................... 15 1.5. A posição dos litisconsortes em relação uns aos outros .............................. 17 2. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS ................................................................ 19 2.1. Formas de intervenção de terceiros ............................................................. 21 2.1.1. Assistência ................................................................................................... 21 2.1.2. Denunciação da lide ..................................................................................... 30 2.1.3. Chamamento ao processo ............................................................................ 36 2.1.4. Desconsideração da personalidade jurídica ................................................. 38 2.1.5. Do amicus curiae .......................................................................................... 42 3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 44 INTRODUÇÃO Prezado aluno, O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 1. LITISCONSÓRCIO Com base no princípio da economia processual, o litisconsórcio é definido como um fenômeno processual o qual se caracteriza pela existência de duas ou mais pessoas tanto no polo ativo, quanto no passivo, ou até mesmo em ambos os polos da relação processual jurídica. Vejamos alguns conceitos na doutrina: O litisconsórcio é a pluralidade de partes no polo ativo, no passivo, ou em ambos, do mesmo processo. Daí falar-se, respectivamente, em litisconsórcio ativo, passivo e misto (ou bilateral). Haverá um único processo, com mais de um autor ou de um réu. Trata-se de fenômeno bastante comum no processo civil, que ocorre talvez na maior parte dos processos.1 Além da economia processual, o litisconsórcio se baseia em alguns princípios: Litisconsórcio é a existência de mais de uma parte em pelo menos um dos polos do mesmo processo. Mais de um autor, mais de um réu, ou, ainda, mais de um autor ou mais de um réu concomitantemente. A pluralidade de partes em um mesmo processo quer realizar a eficiência processual prevista no art. 5º, LXXVIII, da CF (replicado no art. 4º do CPC de 2015) e é também forma de viabilizar o atingimento da isonomia, princípio fundante do Estado brasileiro (arts. 3º, IV, e 5º, caput e I, da CF). Sim, porque o litígio conjunto favorece a prática de atos processuais tendentes a afetar um maior número de sujeitos com maior eficiência e viabilizar, até mesmo, o proferimento de decisão desejavelmente uniforme (se não igual) para todos os envolvidos. Há casos, como o prezado leitor verá abaixo, em que a decisão deverá ser igual para todos os litisconsortes.2 1 Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017. Pag 277. 2 Bueno, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil : inteiramente estruturado à luz do novo CPC, de acordo com a Lei n. 13.256, de 4-2-2016. 2. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo : Saraiva, 2016. Pag. 171. 4 Gonçalves fundamenta a autorização da norma para que haja o litisconsórcio em dois princípios: São duas as razões fundamentais para que a lei autorize e, de certa forma, estimule e facilite a formação do litisconsórcio: a economia processual e a harmonização dos julgados. É inequívoco que, do ponto de vista econômico, é mais vantajoso que haja um processo só, com uma única instrução e uma só sentença, abrangendo mais de um autor ou mais de um réu, do que vários processos. Mas a razão principal é mesmo a harmonização dos julgados. Para que se forme o litisconsórcio, é preciso que os vários autores ou réus tenham, pelo menos, afinidades por um ponto comum, estejam em situação semelhante. Ora, se fossem propostas várias ações individuais, haveria o risco de que cada qual fosse distribuída a um diferente juízo. Com o que, haveria juízes diferentes julgando situações que têm semelhança, com o risco de resultados conflitantes, risco evitado com o litisconsórcio, em que haverá um só processo e sentença única3 Vejamos a definição doutrinária e suas classificações a respeito do litisconsórcio: Litisconsórcio é a reunião de duas ou mais pessoas no polo ativo ou no polo passivo da ação. Ele pode ser: a) Ativo, passivo ou misto: ativo é o litisconsórcio de autores; passivo é o de réus; e misto é o que ocorre nos dois polos. b) Inicial ou ulterior: inicial é o que se forma com a formação do processo; ulterior é o que se forma posteriormente. c) Unitário ou simples: Unitário é aquele em que o provimento jurisdicional tem que decidir de modo uniforme a situação jurídica dos litisconsortes, não se admitindo, para eles, julgamento diferente; simples é aquele que a decisão não precisa ser igual para os litisconsortes. d) Necessário e facultativo: necessário é o litisconsórcio quando a presença conjunta de todos os litisconsortes é indispensável; facultativo é quando a sua formação fica a critério exclusivo do autor.4 3 Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017. Pag 277. 4 AUGUSTO, Fernando. Manual de Direito Processual Civil. 2.ed. São Paulo: Rideel, 2018, p.95 5 Uma informação interessante sobre o litisconsórcio é que as partes gozarão de prazo dobrado em caso de litisconsortes que possuam advogados diferentes e escritórios diferentes conforme o art. 229 do CPC “ Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de requerimento. ”5 1.1. Litisconsórcio facultativo O litisconsórcio facultativo, denominado dessa forma pois cabe exclusivamente ao autor formá-lo manifestando sua vontade e presentes um dos os requisitos previstos no art. 113: Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando: I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide; II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir; III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito. § 1º O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença. § 2º O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou resposta, que recomeçará da intimação da decisão que o solucionar.6 5 BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em 05/04/2021. 6 BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em 05/04/2021. 6 Para facilitar nosso entendimento vamos recorrer à doutrina para ilustrar exemplos referentes aos requisitos para que possa ocorrer o litisconsórcio facultativo iniciando pelo exemplo referente ao inciso I: De acordo com o inc. I deste artigo, é possível que duas ou mais pessoas litiguem em juízo, se entre elas houver comunhão de direitos ou obrigações relativas à mesma lide, como exemplifica Celso agrícola Barbi: comunhão de obrigações existirá quando os vários devedores o sejam em conjunto, quer solidariamente, quer em partes definidas. Temos o exemplo de várias pessoas que adquiriram uma coisa a prazo, responsabilizando-se cada uma por uma parte do preço ou mesmo assumindo a posição de devedores solidários. Existe aí uma obrigação comum, que pode ser exigida pelo credor. Se não houver uma obrigação comum que pode ser exigida pelo credor. Se não houver solidariedade, o credor poderá cobrar de cada um a sua parte, em ações distintas; mas pode preferir cobrar de todos, reunindo suas diversas ações num só processo. Da mesma forma, se houver solidariedade naquela dívida, tanto poderá o credor acionar cada um separadamente como propor suas várias ações contra todos ou alguns em um só processo”. (SARRO, Luís Antônio. CAMARGO, Luiz Henrique. LUCON, Paulo Henrique. Apud BARBI. 1998. P. 201)7 Para dar continuidade a fixação de nosso conteúdo, seguiremos com o exemplo referente ao inciso II: De acordo com o inc. II do art. 113, o litisconsórcio poderá se formar se entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir. Leva-se em consideração aqui os elementos objetivos da demanda (pedido mediato e causa de pedir remota). Esse dispositivo pode ser interpretado em consonância com o Art. 55, § 3º, do CPC que autoriza a reunião de demandas mesmo quando não houver conexão em sentido estrito entre elas, mas sim risco de decisões conflitantes ou contraditórias.8 7 SARRO, Luís Antônio. CAMARGO, Luiz Henrique. LUCON, Paulo Henrique. Código de Processo Civil Anotado e Comentado. 1.ed. São Paulo: Rideel, 2020, p.83 8 SARRO, Luís Antônio. CAMARGO, Luiz Henrique. LUCON, Paulo Henrique. Código de Processo Civil Anotado e Comentado. 1.ed. São Paulo: Rideel, 2020, p.83 7 E por fim, seguimos ao exemplo do inciso III: O inc. III do art. 113, por sua vez, permite a formação do litisconsórcio nas hipóteses em que “ocorrer afinidade de questões por ponto comum ou fato de direito”. Trata-se de figura genérica e abrangente, já que nos casos de afinidade a relação entre as demandas é tênue, bastando, portanto, para a formação do litisconsórcio com base neste inciso mera identidade entre litisconsortes com relação a um ponto de fato ou de direito.9 Atenção: “Litisconsórcio ativo, sempre será facultativo.”10 1.1.1. Limitando o número de litisconsortes Devido à falta de limitação no litisconsórcio, antes não prevista no CPC de 73, gerava a problemática de um número exacerbado de litisconsortes, conforme nos ensina Gonçalves: O CPC de 1973 não fazia nenhuma restrição quanto ao número de litisconsortes num ou noutro polo da ação, nem dava ao juiz poderes para reduzir o número de participantes, mesmo no caso em que o reputasse excessivo. Em razão disso, alguns abusos acabaram ocorrendo, com milhares de pessoas que se agrupavam para propor uma única demanda, ou em que uma só pessoa demandava contra centenas ou milhares. O litisconsórcio acabava tendo a sua finalidade desvirtuada, pois o que tinha sido criado para facilitar acabava ensejando a formação de processos infindáveis, que se arrastavam por tempo intolerável. Foi então que o legislador editou a Lei n. 8.952, de 13 de dezembro de 1994, que acrescentou ao art. 46 um parágrafo único, com a seguinte redação: “O juiz poderá limitar o litisconsórcio quanto ao número de litigantes, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa. O pedido de limitação interrompe o prazo para resposta, que recomeça da intimação da decisão”. O CPC atual manteve a regra no art. 113, § 1º.11 9 SARRO, Luís Antônio. CAMARGO, Luiz Henrique. LUCON, Paulo Henrique. Código de Processo Civil Anotado e Comentado. 1.ed. São Paulo: Rideel, 2020, p.83 10 AUGUSTO, Fernando. Manual de Direito Processual Civil. 2.ed. São Paulo: Rideel, 2018, p.96 11 Gonçalves, Marcus Vinicius Rios Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017. Pág. 278. 8 O juiz poderá limitar o número de litisconsortes quando este for facultativo (ativo ou passivo) sempre que entender que o alto número de partes pode comprometer a solução rápida do litígio, conforme prevê o art. 113 §1º do CPC, vejamos um exemplo prático com a seguinte decisão do STJ/DF: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA. LITISCONSÓRCIO ATIVO FACULTATIVO. LIMITAÇÃO. AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO. MANUTENÇÃO. RECURSO DESPROVIDO. Agravo de instrumento interposto contra r. decisão que, em ação declaratória, indeferiu o pleito de limitação do litisconsórcio ativo multitudinário. Quando ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito, duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, conforme previsto no art. 113, inc. II, do Código de Processo Civil. O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença. No caso, não se observa a ocorrência de tumulto processual ou de óbice ao exercício do direito de defesa que justifique a limitação do litisconsórcio facultativo - mormente porquanto todos os autores encontram-se patrocinados pelo mesmo causídico. Recurso conhecido e desprovido.12 Vale ressaltar que conforme prevê o art. 113 §1º a limitação ocorre apenas no litisconsórcio facultativo quando houver presente um dos requisitos; comprometer a rápida solução do litígio; dificultar a defesa; dificultar o cumprimento da sentença. Presente qualquer dos requisitos será requerido o desmembramento do processo podendo ser feito pelo réu ou de ofício pelo juiz. 12 (Acórdão 1062434, 07119613220178070000, Relator: CESAR LOYOLA, 2ª Turma Cível, data de julgamento: 22/11/2017, publicado no DJE: 6/12/2017. <https://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos- web/sistj?visaoId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&contr oladorId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.ControladorBuscaAcordao&visaoAn terior=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&nomeDaPagina= resultado&comando=abrirDadosDoAcordao&enderecoDoServlet=sistj&historicoDePaginas=buscaLivr e&quantidadeDeRegistros=20&baseSelecionada=BASE_ACORDAOS&numeroDaUltimaPagina=1&b uscaIndexada=1&mostrarPaginaSelecaoTipoResultado=false&totalHits=1&internet=1&numeroDoDoc umento=1062434>. Acesso em 05/04/2021. 9 O pedido de exclusão de litisconsorte deve ser realizado no prazo da resposta e caberá agravo de instrumento, também caberá o recurso na decisão do juiz que rejeitar o pedido da limitação do litisconsórcio conforme o art. 1015, VII e VIII do CPC: “Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: [...] VII - exclusão de litisconsorte; VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio[...]”13. Também devemos nos atentar pois o requerimento de exclusão interrompe o prazo conforme mencionado no art. 113 §2º “O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou resposta, que recomeçará da intimação da decisão que o solucionar. ”14 A doutrina nos explica de forma mais objetiva e exemplar os requisitos para pedido de exclusão: Requisitos para que haja o desmembramento São dois: que o litisconsórcio seja facultativo e não necessário. Este, como o nome sugere, exige a presença de todos para que o processo possa ter regular seguimento, o que torna impossível dividi-lo. Além disso, uma das três situações seguintes há de estar presente: que o número seja tal que comprometa a rápida solução do litígio; que dificulte a defesa ou ainda que dificulte o cumprimento de sentença. Ao determinar o desmembramento, o juiz deverá fundamentar a sua decisão em uma dessas três circunstâncias. Um dos princípios constitucionais do processo civil é o da duração razoável do processo. Um número excessivo de participantes, sobretudo no polo passivo, pode trazer demoras inaceitáveis. Se a demanda for ajuizada, por exemplo, em face de um grande número de réus, haverá delongas para concluir o ciclo citatório, sendo que o prazo de contestação para todos só passa a fluir depois que todos estiverem citados. Também haverá desmembramento quando houver dificuldade de defesa. É o que ocorrerá, por exemplo, se muitos autores, cada qual em uma situação particular, ajuizarem demanda em face de um único réu. Citado, ele terá de se defender no prazo de quinze dias, o que pode ser insuficiente para que consiga examinar a situação de cada autor, munindo-se do necessário para apresentar defesa específica. Por fim, se o juiz verificar que o número excessivo de participantes poderá trazer dificuldades ou embaraços ao cumprimento da sentença, também estará autorizado a proceder ao desmembramento. 15 13 BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em 05/04/2021. 14 BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em 05/04/2021 15 Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017. Pag 278 10 1.2. Litisconsórcio necessário Conforme já trabalhamos na introdução ao conteúdo, litisconsórcio necessário é aquele que surgirá advindo de força de lei ou relação jurídica, sendo indispensável a formação com todos os envolvidos para garantir a eficácia da sentença. Vejamos um exemplo de litisconsórcio necessário: Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens. § 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação: I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens; II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles; III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família;16 Observa-se que em caso de direito real imobiliário quando a parte possuir união matrimonial é necessária a anuência do cônjuge. Segue outro exemplo: Mas há uma segunda hipótese de necessariedade, mesmo não havendo lei que imponha a sua formação: quando no processo, discute-se uma relação jurídica de direito material que seja unitária — isto é, única e incindível — que tenha mais um titular. O direito material prevê relações jurídicas dessa espécie. Uma delas, por exemplo, é o casamento. O matrimônio é uma relação única e incindível. Não se quer dizer com isso que não possa ser desfeita. Por incindível, deve-se entender a relação que não pode ser desconstituída para um, sem que o seja para o outro, como ocorre no casamento. Não é possível que o juiz, por exemplo, decrete uma separação apenas para um dos cônjuges: ou ambos estarão separados, ou permanecerão casados. Além disso, o casamento forçosamente tem sempre dois titulares: o marido e a mulher. Outro exemplo é o dos contratos. Quando há o acordo de vontades de duas ou mais pessoas, haverá um contrato, relação incindível, que tem sempre mais de um titular. A relação é incindível, porque, por exemplo, não é possível desfazer a compra e venda apenas para o comprador ou para o vendedor. Desfeito o negócio, ambos serão atingidos, afetados, porque a relação diz respeito aos dois. Em todas as demandas em 16 BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em 05/04/2021. 11 que se busca desconstituir, ou, de qualquer forma, atingir relações jurídicas dessa espécie, haverá necessidade de participação de todos aqueles a quem tal relação jurídica diz respeito, porque todos serão atingidos.17 O litisconsórcio necessário possui a característica de que sempre será passivo, conforme sumulado pelo TST: I - O litisconsórcio, na ação rescisória, é necessário em relação ao pólo passivo da demanda, porque supõe uma comunidade de direitos ou de obrigações que não admite solução díspar para os litisconsortes, em face da indivisibilidade do objeto. Já em relação ao pólo ativo, o litisconsórcio é facultativo, uma vez que a aglutinação de autores se faz por conveniência e não pela necessidade decorrente da natureza do litígio, pois não se pode condicionar o exercício do direito individual de um dos litigantes no processo originário à anuência dos demais para retomar a lide. (ex-OJ nº 82 da SBDI- 2 - inserida em 13.03.2002) II - O Sindicato, substituto processual e autor da reclamação trabalhista, em cujos autos fora proferida a decisão rescindenda, possui legitimidade para figurar como réu na ação rescisória, sendo descabida a exigência de citação de todos os empregados substituídos, porquanto inexistente litisconsórcio passivo necessário. (ex-OJ nº 110 da SBDI-2 - DJ 29.04.2003)18 https://images.unsplash.com/photo-1423592707957- 3b212afa6733?ixid=MnwxMjA3fDB8MHxwaG90by1wYWdlfHx8fGVufDB8fHx8&ixlib=rb- 1.2.1&auto=format&fit=crop&w=1189&q=80 17 Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017. Pag 281-282 18TST. Súmula 406. <https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_401_450.html#SUM-406> acesso em 05/04/2021. 12 1.2.1. Consequências processuais da não formação do litisconsórcio necessário Cabe ao autor requerer a citação dos litisconsortes necessários, caso não faça, o juiz determinará o prazo para que o autor requeira as citações indispensáveis, decorrido o prazo determinado pelo juiz caso o autor não tenha requerido as devidas citações, o juiz extinguirá o processo sem resolução do mérito. Vejamos a súmula 631 do STF “Extingue-se o processo de mandado de segurança se o impetrante não promove, no prazo assinado, a citação do litisconsorte passivo necessário.”.19. Ademais, devemos destacar o art. 115 do CPC: Art. 115. A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do contraditório, será: I - nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação a todos que deveriam ter integrado o processo; II - ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não foram citados. Parágrafo único. Nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz determinará ao autor que requeira a citação de todos que devam ser litisconsortes, dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo. De forma mais sucinta para ilustrar o que acabamos de ler no art. 115, caso não haja a citação dos litisconsortes necessários: Litisconsórcio unitário = A sentença será nula. Litisconsórcio simples = A sentença proferida se torna ineficaz aos que não foram citados. 19 STF. Súmula nº 631. < https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula631/false > acesso em 05/04/2021. 13 Seguindo com a fixação, vejamos um breve comentário acerca do art. 115 do CPC: O art. 115 combina dois critérios classificatórios, o relativo à obrigatoriedade do litisconsórcio (facultativo ou necessário) e o relativo ao resultado do processo (simples ou unitário), tendo presente, para mitigá-la, a regra constante da segunda parte do art. 114, de que, nos casos de litisconsórcio necessário, a eficácia da sentença depende da citação de todos os que devam ser litisconsortes. Se, a despeito da obrigatoriedade, todos os litisconsortes necessários não tiverem integrado o processo (no sentido de não terem sido citados), a decisão de mérito será nula quando o litisconsórcio for também unitário (art. 115, I). A decisão de mérito será, contudo, ineficaz com relação aos litisconsortes não citados quando se tratar de litisconsórcio necessário e simples (art. 115, II). Para obviar tais situações, o parágrafo único dispõe que “Nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz determinará ao autor que requeira a citação de todos que devam ser litisconsortes, dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo”. A intervenção litisconsorcial, em tais casos, é exemplo seguro de litisconsórcio ulterior, isto é, formado ao longo do processo. E o que dizer acerca do litisconsórcio ativo necessário? O CPC de 2015 não se refere a ele de maneira expressa, embora não seja errado entender aplicável à hipótese o regime do próprio art. 115. É que “citação” não é, coerentemente com o que se lê do art. 238, apenas convocação do réu ou do executado, mas também do interessado “para integrar a relação processual” (isto é, o processo). É irrecusável que o litisconsorte faltante, mesmo quando no polo ativo mereça ser tratado como interessado para aquela finalidade. Seria, contudo, constitucional a figura? Alguém pode ser obrigado a litigar? Supondo que alguma relação de direito material imponha o litígio conjunto, as respostas devem ser no sentido de que não há qualquer agressão ao “modelo constitucional” justamente porque não se trata de obrigar alguém a litigar. Menos que isso, é bastante dar ciência ao “interessado” para que, querendo, atue no processo. O CPC de 2015 também não se refere expressamente à intervenção litisconsorcial. Não no sentido do parágrafo único do art. 115 (por vezes denominada pela doutrina brasileira de iussu iudicis), que trata do litisconsórcio necessário, mas na perspectiva do litisconsórcio facultativo. A figura não deve ser descartada aprioristicamente, cabendo ao magistrado, diante das peculiaridades do caso concreto, admiti-la ou não. Não se trata – é esta a crítica usual – de viabilizar ao litisconsorte “escolher” o órgão jurisdicional perante o qual litigará. Trata-se, mais do que isso, de concretizar outros princípios processuais, inclusive o da isonomia e o da eficiência em um mesmo processo.20 20 Bueno, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil : inteiramente estruturado à luz do novo CPC, de acordo com a Lei n. 13.256, de 4-2-2016. 2. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo : Saraiva, 2016. Pag.173-174. 14 1.3. Litisconsórcio simples O litisconsórcio simples é aquele que mesmo que exista litisconsórcio a sentença proferida pode ser diferente para as partes no que se refere a seus efeitos produzidos. Seguimos para uma definição doutrinária: Quanto às possíveis soluções a serem reconhecidas aos litisconsortes, o litisconsórcio pode ser simples ou unitário. Será simples quando, ao menos em tese, embora não desejável, é possível que cada litisconsorte receba uma solução diversa da do outro no plano do processo. (...) Quando cada litisconsorte for sujeito de sua própria situação de direito material, a hipótese é de litisconsórcio simples. 21 Vejamos na doutrina um exemplo de como isso pode ocorrer: É o caso, por exemplo, de uma ação de despejo por falta de pagamento cumulada com cobrança de alugueres, movida em face do inquilino e do fiador, em litisconsórcio passivo. Procedente a ação, decretar-se-ão o despejo e o pagamento da obrigação locatícia inadimplida, na mesma sentença. Todavia os seus efeitos, em relação aos litisconsortes, não serão os mesmos: do despejo, apenas o inquilino será atingido, ao passo que, do pagamento dos alugueres, ambo os litisconsortes serão condenados.22 21 Bueno, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil : inteiramente estruturado à luz do novo CPC, de acordo com a Lei n. 13.256, de 4-2-2016. 2. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo : Saraiva, 2016. Pag.173. 22 AUGUSTO, Fernando. Manual de Direito Processual Civil. 2.ed. São Paulo: Rideel, 2018, p.97 15 1.4. Litisconsórcio unitário O art. 116 prevê o chamado litisconsórcio unitário, “o litisconsórcio será unitário quando, pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir o mérito de modo uniforme para todos os litisconsortes. ”23. Conforme previsto no art. em comento a sentença deverá produzir efeitos iguais aos litisconsortes, Augusto ainda acrescenta, “Mas nem todo litisconsórcio necessário será unitário, como é o caso, por exemplo, da ação de usucapião, em que há litisconsórcio necessário, mas simples. ”24. O litisconsórcio será unitário: (...)quando a solução for igual (ou uniforme, como se lê do art. 116) a todos os litisconsortes. O que acaba se mostrando decisivo para discernir essas duas classes é a constatação de haver uma ou mais de uma situação de direito material subjacente ao processo. Quando a situação for uma só, embora relativa a diversos sujeitos (vários contratantes de um mesmo contrato em relação a um só contratado, por exemplo), a hipótese é de litisconsórcio unitário. (...) É mais corriqueiro, de qualquer sorte, que o litisconsórcio necessário sejam também unitário e que o litisconsórcio facultativo seja também simples justamente pela unidade da relação de direito material no primeiro caso e a pluralidade no segundo. Embora excepcionalmente, contudo, há casos em que o litisconsórcio necessário será simples (como se dá, por exemplo, na “ação popular”, na “ação de improbidade administrativa” ou quando o pedido de tutela jurisdicional for de usucapião) e em que o litisconsórcio facultativo será unitário, que é o que ocorre sempre que houver a possibilidade de atuação de um legitimado extraordinário ou substituto processual em juízo ao lado do substituído.25 23 BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em 05/04/2021. 24 AUGUSTO, Fernando. Manual de Direito Processual Civil. 2.ed. São Paulo: Rideel, 2018, p.98 25 Bueno, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil : inteiramente estruturado à luz do novo CPC, de acordo com a Lei n. 13.256, de 4-2-2016. 2. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo : Saraiva, 2016. Pag.173. 16 Gonçalves destaca a necessidade da sentença ser uma em seus efeitos para os litisconsortes unitários: É aquele em que a sentença forçosamente há de ser a mesma para todos os litisconsortes, sendo juridicamente impossível que venha a ser diferente. Só existe quando, no processo, discute-se uma relação jurídica una e incindível, como o contrato e o casamento, que não pode desconstituir-se para um dos participantes, e não para outro. Em regra, quando o litisconsórcio é unitário será também necessário, já que todos os titulares da relação terão de participar, pois serão afetados pela sentença. Só haverá litisconsórcio facultativo e unitário nas hipóteses de legitimidade extraordinária26 https://images.unsplash.com/photo-1571844305128-244233caa679?ixlib=rb- 1.2.1&ixid=MnwxMjA3fDB8MHxwaG90by1wYWdlfHx8fGVufDB8fHx8&auto=format&fit=crop&w=1051 &q=80 26Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017. Pag. 286-287 17 1.5. A posição dos litisconsortes em relação uns aos outros Para tratarmos das relações dos litisconsortes iniciaremos com a leitura dos artigos 117 e 118 do CPC: Art. 117. Os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte adversa, como litigantes distintos, exceto no litisconsórcio unitário, caso em que os atos e as omissões de um não prejudicarão os outros, mas os poderão beneficiar. Art. 118. Cada litisconsorte tem o direito de promover o andamento do processo, e todos devem ser intimados dos respectivos atos.27 Ambos os litigantes são considerados distintos em relação a parte adversa promovendo os atos que lhe competem, sendo totalmente independentes na prática dos atos, devido a essa distinção, todos devem ser intimados individualmente dos atos processuais, pois a falta da intimação causará a nulidade. Augusto explica: Como são distintos, os atos praticados por um não devem interferir nos praticados pelo outro. Assim, seja qual for o tipo de litisconsórcio que se estabelecer no processo, a regra geral é que a conduta determinante de um não pode prejudicar os demais. Todavia se tratando de litisconsórcio unitário (art. 166 do CPC) os atos praticados por um dos litisconsortes poderão beneficiar os demais. “TST, Súm. Nº 128 (...) III - Havendo condenação solidária de duas ou mais empresas, o depósito recursal efetuado por uma delas aproveita as demais, quando a empresa que efetuou o depósito não pleiteia sua exclusão da lide.”. De se observar, exemplarmente, a regra definida no art. 345, I, do CPC de que não haverá revelia se havendo litisconsórcio, um ou alguns dos réus contestarem a ação.28 27 BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em 05/04/2021. 28 AUGUSTO, Fernando. Manual de Direito Processual Civil. 2.ed. São Paulo: Rideel, 2018, p.98 18 Bueno também comenta: A ressalva feita pelo dispositivo quando se tratar de litisconsórcio unitário – “exceto no litisconsórcio unitário, caso em que os atos e as omissões de um não prejudicarão os outros, mas os poderão beneficiar” – é coerente com o que sempre foi sustentado para aquela espécie litisconsorcial. Nesse caso, justamente pela unidade da relação de direito material subjacente ao processo, não há como conceber dualidade de resultados para os diversos litisconsortes individualmente considerados. A regra, contudo, limita-se a mitigar os impactos processuais dos atos e das omissões dos litisconsortes: eles só podem beneficiar, não prejudicar os demais. No plano material, é correto o entendimento de que os atos e as omissões tendem a surtir seus efeitos plenos, inclusive, se for o caso, os eventualmente prejudiciais. Tanto assim que os atos e as omissões de um litisconsorte podem beneficiar os demais, não prejudicá-los, o que não deixa de ganhar ainda maior relevo, ainda que em perspectiva diversa, diante da opção feita pelo CPC de 2015 sobre a coisa julgada não poder prejudicar terceiros, como se verifica do art. 506. Se, por qualquer razão, os litisconsortes concordarem com eventuais atos dispositivos praticados por um deles, é irrecusável que seus efeitos, mesmo os prejudiciais, podem alcançar o processo. O entendimento, de qualquer sorte, vai além da previsão literal do art. 117, cuja incidência pressupõe a falta de concordância entre os litisconsortes a justificar a vedação nele imposta. A regra do art. 117 é harmônica com outras dispersas no CPC de 2015: a do inciso I do art. 345, que afasta a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor quando pelo menos um dos litisconsortes apresentar contestação; a do caput do art. 391, segundo a qual a confissão judicial faz prova contra o confitente mas não prejudica os litisconsortes (trata-se de ato dispositivo de direito) e, por fim, a do art. 1.005 (o recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou opostos os seus interesses sendo que se se tratar de solidariedade passiva o recurso interposto por um dos devedores aproveitará aos outros se as defesas opostas ao credor lhes forem comuns. Em qualquer caso, contudo, cada litisconsorte – e isto é pertinente para todas as suas espécies – tem o direito de promover o andamento do processo, devendo todos ser intimados dos respectivos atos (art. 118). O prazo para qualquer manifestação dos litisconsortes, em qualquer grau de jurisdição, é dobrado quando representados por procuradores diversos e, em se tratando de advogados privados, pertencentes a escritórios de advocacia diversos. Isso independentemente de prévio deferimento judicial (art. 229, caput).29 29 Bueno, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil : inteiramente estruturado à luz do novo CPC, de acordo com a Lei n. 13.256, de 4-2-2016. 2. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo : Saraiva, 2016. Pag.175-176. 19 2. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS Antes de conhecermos os tipos de intervenção, vejamos como a doutrina conceitua a intervenção de terceiros Augusto nos traz uma breve definição: Intervenção de terceiros é o ingresso, no processo, de pessoas estranhas a ele. “Autorizados por lei, terceiros que, originalmente, eram estranhos à relação jurídica, poderão, em determinadas situações, ingressar no processo, seja no polo ativo, seja no polo passivo”. [...] A intervenção de terceiros é, pois, uma maneira de trazer para dentro do processo quem dele não é parte, ampliando, subjetivamente, a relação processual (as hipóteses de intervenção de terceiros previstas no novo Código de Processo Civil são todas de ampliação subjetiva, não havendo mais hipóteses de substituição processual).30 Nas palavras de Bueno: O Título III do Livro III da Parte Geral do CPC de 2015 reúne cinco institutos sob o rótulo “intervenção de terceiros”, bastante diversos entre si, já que em duas dessas situações o terceiro interveniente continuará a sê-lo para todos os fins do processo (assistência e amicus curiae) enquanto nas demais, o terceiro passará a ser parte (denunciação da lide, chamamento ao processo e desconsideração da personalidade jurídica).31 30 AUGUSTO, Fernando. Manual de Direito Processual Civil. 2.ed. São Paulo: Rideel, 2018, p.97 31 Bueno, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil : inteiramente estruturado à luz do novo CPC, de acordo com a Lei n. 13.256, de 4-2-2016. 2. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo : Saraiva, 2016. 20 O terceiro deve possuir interesse jurídico, exceto no caso de amicus curiae: a intervenção implicará que aquele que não figurava até então no processo passe a figurar. Em qualquer caso, porém, só se justifica a intervenção do terceiro que possa, em razão do processo em andamento, ter sua esfera jurídica atingida pela decisão judicial. Não se admite ingresso de um terceiro absolutamente alheio ao processo, cujos interesses não possam, de qualquer maneira, ser afetados. Ressalva-se a posição do amicus curiae, cujo papel será o de manifestar-se sobre questão jurídica relevante, específica ou que possa ter grande repercussão social.32 Mello pontua algumas questões presentes na intervenção de terceiros: As intervenções de terceiros possibilitam também uma maior otimização da prestação jurisdicional, além de resolver as questões fáticas mais complexas de forma isonômica com maior coerência nas decisões judiciais. Vale lembrar que as decisões interlocutórias que admitirem ou não o ingresso de terceiro (salvo no caso de amicus curiae) na relação jurídica processual estão sujeitas a agravo de instrumento de acordo com o artigo 1.015, inciso IX do CPC. Vale destacar que em sede de juizados especiais não cabe qualquer forma de intervenção de terceiros. “não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio”, salvo o incidente de desconsideração da personalidade jurídica que aplica-se ao processo de competência dos juizados especiais (artigo 1.062, CPC). 33 32 Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017. Pag. 298 33 MELLO, Cleyson de Moraes. Teoria Geral do Processo. 1.ed. Rio de Janeiro: Editora Processo, 2019. Pag. 187-188. 21 2.1. Formas de intervenção de terceiros 2.1.1. Assistência A assistência é a modalidade utilizada por um terceiro, pessoa estranha ao processo (que não se caracteriza parte), que por algum motivo possua interesse jurídico que a sentença seja favorável a uma das partes podendo assisti-la. Sendo assim vejamos o que é o interesse jurídico: Interesse jurídico é aquele “decorrente de uma potencialidade da sentença a ser proferida em repercutir sobre a sua esfera jurídica, afetando, assim, uma relação material que não foi deduzida a do terceiro”. Já Didier Jr. Explica que “o interesse jurídico é pressuposto da intervenção. Não se autoriza quando o interesse for meramente econômico ou afetivo. Seja pelo fato de manter relação jurídica vinculada à que está deduzida, seja por ser ela própria que está deduzida”. (AUGUSTO, 2018, p.100. Apud MACHADO. P.59. AUGUSTO, 2018, p.100. Apud DIDIER JR. P. 305)34 A norma prevê dois tipos de assistência, sendo elas, simples e litisconsorcial que serão melhores abordadas no decorrer dos tópicos. 34 AUGUSTO, Fernando. Manual de Direito Processual Civil. 2.ed. São Paulo: Rideel, 2018, p. 99- 100. 22 2.1.1.1 Procedimento de assistência Para intervir no processo, o terceiro interessado que possuir interesse jurídico irá recebe-lo no estado em que se encontra, o pedido de intervenção poderá ser impugnado no prazo de 15 dias, na falta de impugnação o juiz deferirá o pedido, salvo se houver rejeição liminar, se alguma parte alegar que não há interesse jurídico do requerente, caberá ao juiz decidir sem suspensão dos autos, conforme prevê a redação do art. 119 e 120 que trata das disposições gerais: Art. 119. Pendendo causa entre 2 (duas) ou mais pessoas, o terceiro juridicamente interessado em que a sentença seja favorável a uma delas poderá intervir no processo para assisti-la. Parágrafo único. A assistência será admitida em qualquer procedimento e em todos os graus de jurisdição, recebendo o assistente o processo no estado em que se encontre. Art. 120. Não havendo impugnação no prazo de 15 (quinze) dias, o pedido do assistente será deferido, salvo se for caso de rejeição liminar. Parágrafo único. Se qualquer parte alegar que falta ao requerente interesse jurídico para intervir, o juiz decidirá o incidente, sem suspensão do processo.35 O recurso cabível contra a decisão que defere ou não o pedido de intervenção será o Agravo de instrumento conforme previsão legal no art. 1015, IX do CPC. 35 BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em 05/04/2021. 23 2.1.1.2 Assistência simples A assistência simples ocorre quando um terceiro ingressa ao processo devido ao interesse jurídico de beneficiar alguma das partes, visto que o resultado da ação gerará reflexos em outra relação jurídica material que o terceiro mantém com o assistido, vejamos o exemplo reproduzido por MELLO: É o caso, por exemplo, da relação jurídica de direito material entre o sublocatário e o locatário, no caso de eventual ação de despejo entre o locador e o locatário (inquilino). A decisão judicial proferida na ação de despejo vai influenciar a relação jurídica entre o sublocatário (assistente) e o locatário (assistido). Ora, o sublocatário possui um interesse jurídico indireto no resultado da demanda. O assistente é, pois, um auxiliar.36 Diante o exemplo é correto afirmar que o terceiro ao ingressar como assistente não possui relação jurídica direta alguma com outra parte que não seja o assistido. O assistente conforme previsto no art. 121 do CPC será um auxiliar da parte que assiste, exercendo os mesmos poderes e se sujeitando aos mesmos ônus que o assistido. Se o assistido for revel, ou for omisso de qualquer outra forma, o assistente será considerado seu subtítulo processual, de sorte que poderá dar continuidade ao processo no lugar daquele, inclusive apresentando contestação, afastando os efeitos da revelia.37 36 MELLO, Cleyson de Moraes. Teoria Geral do Processo. 1.ed. Rio de Janeiro: Editora Processo, 2019. Pag. 187-188. 37 AUGUSTO, Fernando. Manual de Direito Processual Civil. 2.ed. São Paulo: Rideel, 2018, p.100 24 A assistência simples é meramente auxiliar, sendo assim, não impede que a parte principal “(...)reconheça a procedência do pedido, desista da ação, renuncie ao direito sobre o que se funda a ação ou transija sobre direitos controvertidos. ” (art. 122 CPC). 38 Sobre a assistência simples Gonçalves explica: É o mecanismo pelo qual se admite que um terceiro, que tenha interesse jurídico em que a sentença seja favorável a uma das partes, possa requerer o seu ingresso, para auxiliar aquele a quem deseja que vença. O requisito indispensável é que o terceiro tenha interesse jurídico na vitória de um dos litigantes. É fundamental, pois, que se identifique quando o terceiro tem interesse e quando pode ser considerado jurídico. O terceiro pode ter interesse de vários tipos sobre determinada causa: econômico, porque um dos litigantes é seu devedor, e se vier a perder a causa, empobrecerá e terá menos recursos para pagá-lo; afetivo, por ligação com uma das partes, a quem deseja a vitória. Esses tipos de interesse não podem justificar a intervenção do terceiro no processo. Somente o interesse jurídico. Como identificá-lo? Terá interesse jurídico aquele que tiver uma relação jurídica com uma das partes, diferente daquela sobre a qual versa o processo, mas que poderá ser afetada pelo resultado.39 https://image.freepik.com/vetores-gratis/conceito-de-propriedade-intelectual- ilustrado_52683-48609.jpg 38 BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em 05/04/2021. 39 Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017. Pag. 302-303. 25 2.1.1.3 Coisa julgada na assistência simples e na litisconsorcial. Para tratarmos dos efeitos da sentença em caso de assistência simples faremos uma breve análise do art. 123 do CPC: Art. 123. Transitada em julgado a sentença no processo em que interveio o assistente, este não poderá, em processo posterior, discutir a justiça da decisão, salvo se alegar e provar que: I - pelo estado em que recebeu o processo ou pelas declarações e pelos atos do assistido, foi impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença; II - desconhecia a existência de alegações ou de provas das quais o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu. Como regra geral a sentença transitada em julgado proveniente da ação que o assistente interveio não pode ser rediscutida em outra ação, salvo exceções tratadas nos incisos I e II explicadas a seguir por Augusto: a) ficou impedido de produzir prova capaz de influir na decisão, ou pelo estado em que adentrou no processo, por exemplo, em fase recursal, após a prolação da sentença, ou pelas alegações e atos do assistido, por exemplo, a sua confissão; e b) não tinha conhecimento da existência de fatos ou provas das quais o assistido, por dolo ou culpa, não utilizou no processo, ou seja, decorrentes da má gestão processual do assistido (exceptio male gesti processos)40 40 AUGUSTO, Fernando. Manual de Direito Processual Civil. 2.ed. São Paulo: Rideel, 2018, p.101 26 Com relação aos efeitos da coisa julgada Mello ensina: A coisa julgada não pode prejudicar o assistente simples, somente nos casos em que a coisa julgada beneficie terceiros, conforme a regra do artigo 506 do CPC que diz: “a sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros”. De forma contrária, o assistente litisconsorcial é atingido pelos efeitos da coisa julgada, seja favorável ou desfavorável ao assistente.41 Seguimos com uma breve análise: Preocupou-se o legislador com as consequências do processo em relação ao assistente simples. Para que ele as sofra é preciso, em primeiro lugar, que efetivamente tenha sido admitido nessa condição no processo. Essa observação, que parece óbvia, é fundamental, porque o assistente litisconsorcial é atingido pelos efeitos da coisa julgada, intervindo ou não. Diversamente, o simples só será atingido se efetivamente intervier. Além disso, é preciso que, de alguma forma, possa ter tido a oportunidade de influir no resultado, de participar efetivamente do processo. Isso porque há três situações em que, conquanto tenha intervindo, não terá podido influenciar o resultado. São aquelas previstas nos incisos do art. 123(...) Será na futura ação de regresso, envolvendo assistente e assistido, que este poderá invocar a justiça da decisão, para obstar que aquele rediscuta fundamentos já decididos.42 Como fixação é importante a leitura Bueno acerca da eficácia da intervenção: O art. 123 veda ao assistente que discuta a “justiça da decisão” proferida no processo em que interveio após seu trânsito em julgado. Por “justiça da decisão” deve ser entendida a inviabilidade de o assistente, em processo posterior, discutir os fundamentos da decisão tomada no processo em que interveio. Isto porque, é a pressuposição, é na fundamentação da decisão que a razão de ser da intervenção é apreciada. É como se a previsão do art. 123 fosse uma exceção ao disposto nos incisos I e II do art. 504 sobre os limites objetivos da coisa julgada. A eficácia da intervenção, contudo, não 41 MELLO, Cleyson de Moraes. Teoria Geral do Processo. 1.ed. Rio de Janeiro: Editora Processo, 2019. Pag. 191. 42 Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo: Saraiva, 2017. Pag. 311-312. 27 incide em duas hipóteses, previstas nos dois incisos do art. 123. Na primeira, quando a intervenção do assistente tiver sido tardia e, como tal, incapaz de modificar o resultado desfavorável; na segunda, terá que comprovar o desconhecimento de alegações ou de provas não empregadas pelo assistido por dolo ou culpa, que o prejudicaram. É o que a doutrina, comumente, chama de exceptio male gesti processus. E a coisa julgada? Ela atinge o assistente? O melhor entendimento é o de que a coisa julgada, favorável ou desfavorável, atinge o assistente litisconsorcial. Isto porque em tais casos, há, por definição, hipótese de legitimação extraordinária a justificar a ocorrência da coisa julgada material. Ainda que aquele que pudesse intervir como assistente litisconsorcial não o faça, ele estará sujeito à coisa julgada, precisamente em função da regra de legitimação extraordinária existente na hipótese. Com relação ao assistente simples, o melhor entendimento sempre foi no sentido de poupá-lo da coisa julgada por ser ele terceiro, conservando este status mesmo após a sua intervenção no processo. O art. 506, contudo, convida à reflexão diversa. Isto por causa da novidade trazida naquele dispositivo de que a coisa julgada pode beneficiar terceiros, assim aquela formada no processo em que contendem o assistido e o seu adversário. Não há como em tais casos, de qualquer sorte, admitir que a coisa julgada possa querer prejudicar o assistente simples.43 Acerca da coisa julgada material e do agente litisconsorcial: Só pode ingressar como assistente litisconsorcial aquele que tenha a condição de substituído processual, sendo titular ou cotitular da relação jurídica material alegada e discutida no processo. Proferida sentença de mérito e não cabendo mais recurso, haverá coisa julgada não apenas para as partes, mas também para o assistente litisconsorcial. Tomemos mais uma vez o exemplo das ações reivindicatórias ou possessórias de bens em condomínio. Ainda que ajuizadas por só um dos cotitulares, a demanda versará sobre todo bem, sobre a fração ideal daquele que figura como autor e dos demais condôminos. Por isso, todos serão atingidos pela coisa julgada. Se os demais quiserem, poderão ingressar como assistentes litisconsorciais, mas, ingressando ou não, para todos haverá coisa julgada material. Aquele que pode ingressar como assistente litisconsorcial sofrerá os efeitos da coisa julgada material, intervindo ou não. Mesmo que opte por ficar fora, será afetado, porque tem a qualidade de substituído processual.44 43 Bueno, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil : inteiramente estruturado à luz do novo CPC, de acordo com a Lei n. 13.256, de 4-2-2016. 2. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo : Saraiva, 2016. P. 183 44 Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017. Pag. 309. 28 2.1.1.4 Assistência litisconsorcial Diferente da simples que o assistente não possui relação jurídica direta com a parte contrária na assistência litisconsorcial a sentença terá efeitos diretos entre assistente e adversário assistido, é o que prevê o art. 124 do CPC “Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente sempre que a sentença influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido. ”45 Augusto define a assistência litisconsorcial e acrescenta acerca das atribuições do assistente: A assistência é litisconsorcial quando a relação jurídica do assistente é direta, ou seja, quando o seu interesse na causa é imediato. Isso ocorre quando a sentença puder afetar diretamente a relação jurídica de que o terceiro seja titular, sozinho ou em conjunto com o assistido, que mantém com a parte contrária ao assistido. [...] A assistência litisconsorcial se afigura, pois, como espécie de litisconsórcio unitário facultativo ulterior. E, por todas essas razões, atuando como litisconsorte da parte, o seu tratamento no processo é igual ao conferido ao assistido, garantindo-se-lhe os mesmos direitos processuais e com a mesma intensidade, não se aplicando as regras do art. 122 do CPC, que o põe em posição secundária.46 Vemos aqui que diferente da assistência simples, a litisconsorcial não se sujeita aos atos que a parte possa praticar no art. 122 “reconheça a procedência do pedido, desista da ação, renuncie ao direito sobre o que se funda a ação ou transija sobre direitos controvertidos. ”47 45BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em 05/04/2021. 46 AUGUSTO, Fernando. Manual de Direito Processual Civil. 2.ed. São Paulo: Rideel, 2018, p.101-102 47 BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em 05/04/2021. 29 Seguimos com uma breve explicação acerca da assistência litisconsorcial: A assistência litisconsorcial só existe no campo da legitimidade extraordinária, pois só o substituído processual pode assumir a condição de assistente. Também vimos que, nos casos de legitimidade extraordinária concorrente, aquele que ingressa como assistente litisconsorcial poderia, se quisesse, ter proposto a ação junto com os demais cotitulares do direito alegado. Por isso, a condição do assistente litisconsorcial é a de um litisconsorte facultativo unitário ulterior: ele tem os mesmos poderes que o litisconsorte unitário, com a ressalva de que, tendo ingressado com o processo já em curso, passará a atuar no estado em que o processo se encontra. O regime aplicável a ele é o mesmo do litisconsórcio unitário. A sua participação não é subordinada ao assistido, que não tem poderes de veto, como no caso da assistência simples. Aplica-se o regime da unitariedade: o assistente litisconsorcial pode praticar isoladamente os atos que sejam benéficos, e o benefício se estenderá à parte. Mas os atos desfavoráveis serão ineficazes até mesmo em relação a ele, salvo se praticados em conjunto pelos assistidos e pelo assistente litisconsorcial. Não se aplica o art. 122 do CPC ao assistente litisconsorcial, mas somente ao simples. Desde que haja a intervenção do primeiro no processo, a parte assistida não pode mais renunciar ao direito, reconhecer o pedido, transigir ou mesmo desistir da ação, sem que haja concordância do assistente litisconsorcial, que é cotitular da relação jurídica una e incindível, discutida no processo. Como o assistente litisconsorcial é tratado como verdadeiro litisconsorte unitário, desde o seu ingresso, ele e o assistido passarão a ter prazos em dobro, caso os procuradores sejam diferentes, pertencentes a escritórios distintos, e desde que não se trate de processo eletrônico (CPC, art. 229).48 48 Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017. P. 308-309 30 2.1.2. Denunciação da lide Modalidade de intervenção de terceiro provocada (quando a parte que já integra os autos chama um terceiro estranho ao processo para dele participar) a denunciação da lide pressupõe a existência de um direito de regresso, podendo esse direito ser exercido A denunciação à lide é uma espécie de intervenção de terceiros no qual o denunciante (autor ou réu) apresenta pedido de tutela jurisdicional em face do denunciado (terceiro), com o firme propósito de exercer o direito de regresso no caso de sucumbência. Melhor dizendo: é uma ação de regresso no mesmo processo, com vistas a economia processual.49 São três características da denunciação da lide: a) É forma de intervenção de terceiros, que pode ser provocada tanto pelo autor quanto pelo réu, diversamente do chamamento ao processo, que só pode ser requerido pelo réu. b) Tem natureza jurídica de ação, mas não implica a formação de um processo autônomo. Haverá um processo único para a ação e a denunciação. Esta amplia o objeto do processo. O juiz, na sentença, terá de decidir não apenas a lide principal, mas a secundária. Por exemplo: em ação de acidente de trânsito, em que há denunciação à seguradora, o juiz decidirá sobre a responsabilidade pelo acidente, e a da seguradora em reembolsar o segurado. c) Todas as hipóteses de denunciação são associadas ao direito de regresso. Ela permite que o titular desse direito já o exerça nos mesmos autos em que tem a possibilidade de ser condenado, o que favorece a economia processual.50 49 MELLO, Cleyson de Moraes. Teoria Geral do Processo. 1.ed. Rio de Janeiro: Editora Processo, 2019. Pag. 191. 50 Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017. P. 312 31 2.1.2.1 Hipóteses que autorizam a denunciação da lide Os casos em que se autoriza a denunciação da lide são expressamente precistos no art. 125 do CPC, vejamos: Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes: I - ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam; II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo. § 1º O direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida. § 2º Admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra seu antecessor imediato na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo, não podendo o denunciado sucessivo promover nova denunciação, hipótese em que eventual direito de regresso será exercido por ação autônoma.51 O CPC de 2015 dispõe que a denunciação da lide é admissível, diferente do CPC de 73 que dizia ser obrigatória, em todas as hipóteses, inclusive nos casos em que ela se fundamenta no exercício do direito decorrente da evicção. 51 BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em 05/04/2021. 32 A admissão da denunciação da lide somente ocorrerá nas hipóteses previstas nos incisos, sendo assim: a) ao alienante imediato, no processo relativo à coisa que foi transferida ao denunciante para que ele possa exercer os direitos resultantes da evicção; A evicção, prevista nos arts. 447 a 457 do CC, é a perda judicial da coisa adquirida, e traz como efeito o direito de obter a restituição integral do preço pago, além de eventual indenização. Assim, se o denunciante é acionado judicialmente numa ação em que alguém pleiteia o bem adquirido, poderá fazer a denunciação para que, em caso de procedência da ação principal (e, consequentemente, a perda da coisa), obtenha o direito de receber do denunciado o valor pago. b) àquele que por lei ou por contrato, estiver obrigado a indenizar, em ação regressiva, aquele que perder o processo. É o caso do direito de regresso clássico de garantia, quando a lei ou o contrato obriga alguém a suportar o prejuízo de outrem decorrente da sucumbência em um processo, sem que haja necessidade de discutir ou introduzir na demanda fatos novos, como ocorre por exemplo no contrato de seguro.52 https://image.freepik.com/vetores-gratis/conceito-de-propriedade-intelectual- ilustrado_52683-48609.jpg 52 AUGUSTO, Fernando. Manual de Direito Processual Civil. 2.ed. São Paulo: Rideel, 2018. Pag. 103 33 2.1.2.2 Denunciação sucessiva No CPC de 1973 não havia limite para denunciação, o novo código só permite apenas uma conforme apresentada a redação do art. 125 § 2º: Admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra seu antecessor imediato na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo, não podendo o denunciado sucessivo promover nova denunciação, hipótese em que eventual direito de regresso será exercido por ação autônoma.53 Isso significa que, feita a denunciação pelo autor ou réu, cabe ao denunciado, requerer a denunciação sucessiva, porém o denunciado sucessivo não poderá requerer nova denunciação, cabendo a ele buscar direito de regresso em ação autônoma. 2.1.2.3 Procedimento da denunciação A denunciação será feita pelo autor através da petição inicial e pelo réu através da contestação, conforme redação do art. 126 do CPC. ” A citação do denunciado será requerida na petição inicial, se o denunciante for autor, ou na contestação, se o denunciante for réu, devendo ser realizada na forma e nos prazos previstos no art. 131 .”54 Requerida a denunciação, o juiz determinará a citação do denunciado no prazo de trinta dias, caso não resida na comarca sessenta dias (art. 126 c.c. art. 131). Se o prazo não for cumprido por falta do denunciante promover 53 BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em 07/04/2021. 54 BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em 07/04/2021. 34 algum ato necessário para a citação, a denunciação ficará sem efeito, prosseguindo- se apenas em face dele. Mas se o atraso ocorrer por fato alheio a sua vontade, ele não poderá ser prejudicado. Cabe agravo de instrumento da decisão que indeferir ou indeferir a denunciação da lide. 2.1.2.3.1 Denunciação feita pelo autor Devido a denunciação da lide ter natureza jurídica de ação, o autor estabelecerá nova relação processual com o denunciado, que terá como ônus se defender da denunciação. Entretanto ele pode assumir posição de litisconsorte na ação originária, vejamos o exemplo: O autor também pode requerer a denunciação da lide quando, temendo os prejuízos decorrentes de uma eventual improcedência, queira, no mesmo processo, exercer direito de regresso contra o terceiro, que tem obrigação de responder por tais prejuízos. A denunciação será requerida pelo autor na petição inicial. Ele exporá os fatos e fundamentos jurídicos e formulará o seu pedido contra o réu, postulando o seu acolhimento. Mas, para a hipótese de eventual improcedência, já fará a denunciação da lide, postulando que o juiz condene o denunciado ao ressarcimento dos prejuízos que dela advierem. Se o juiz deferir a denunciação, mandará primeiro citar o denunciado e depois o réu, porque, na condição de litisconsorte do autor, na lide principal, aquele terá o direito de acrescentar novos argumentos à inicial (CPC, art. 127). (...) assim, no mesmo processo ele é simultaneamente réu (da denunciação) e coautor (da ação principal). Por isso, citado, poderá acrescentar novos argumentos à inicial (na condição de coautor da lide principal, que não participou da elaboração dessa peça) e oferecer contestação à lide secundária. O juiz, ao final, proferirá sentença única que, se de procedência, implicará a extinção sem resolução de mérito da denunciação.55 55 Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017. P. 320 35 2.1.2.3.2 Denunciação feita pelo réu O réu, citado, requerendo a denunciação da lide na contestação deve indicar os fundamentos de fato e de direito que garantem o direito de regresso e qual o pedido, nesse caso não é necessária atribuição de valor da causa. Cabe ao juiz verificar se estão presentes as situações que autorizam o direito de regresso. Deferido o pedido, deverá a citação ser cumprida no prazo tratado no item 3.1.2 (art. 126 c.c. art. 131). Vejamos acerca das atribuições do denunciado após citado: O denunciado poderá apresentar contestação. Como, desde o comparecimento, assume a qualidade de litisconsorte, poderá impugnar os fatos alegados pelo autor na petição inicial, complementando aquilo que já fora alegado pelo réu. Além disso, pode impugnar o objeto da denunciação propriamente dita, negando a existência do direito de regresso. Se o denunciado for revel, o denunciante pode deixar de prosseguir com sua defesa, eventualmente oferecida, e abster-se de recorrer, restringindo sua atuação à ação regressiva. E se o denunciado confessar os fatos alegados pelo autor na ação principal, o denunciante poderá prosseguir com sua defesa ou, aderindo a tal reconhecimento, pedir apenas a procedência da ação de regresso. Ao final, o juiz proferirá sentença conjunta, na qual julgará ambas as ações. Em caso de procedência da lide principal, e condenação do réu denunciante, decidirá se ele tem ou não direito de regresso contra o denunciado. Em caso de improcedência do pedido na lide principal, a denunciação ficará prejudicada, e o juiz a julgará extinta sem resolução de mérito.56 56 Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017. P. 319 36 2.1.3. Chamamento ao processo O chamamento ao processo ocorre quando o réu chama o terceiro, passando a ser litisconsorte passivo, com o objetivo de ser responsabilizado de forma conjunta e imediata em face do autor. Sendo cabível apenas nas hipóteses do art. 131 do CPC: Art. 130. É admissível o chamamento ao processo, requerido pelo réu: I - do afiançado, na ação em que o fiador for réu; II - dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles; III - dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida comum.57 https://img.rawpixel.com/s3fs-private/rawpixel_images/website_content/k-199-eye- 0615402_1.jpg?w=1000&dpr=1&fit=default&crop=default&q=65&vib=3&con=3&usm=15&bg=F4F4F3 &ixlib=js-2.2.1&s=8b8f3aecd0a843d92fb9a8e9498950da 57 BRASIL. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em 07/04/2021. 37 2.1.3.1 Procedimento do chamamento ao processo O art. 131 determina o chamamento ao processo: Art. 131. A citação daqueles que devam figurar em litisconsórcio passivo será requerida pelo réu na contestação e deve ser promovida no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de ficar sem efeito o chamamento. Parágrafo único. Se o chamado residir em outra comarca, seção ou subseção judiciárias, ou em lugar incerto, o prazo será de 2 (dois) meses. Requerido pelo réu na contestação, deve a citação ser ocorrer no prazo de 30 dias, sob pena de ineficácia. Procedida a citação, surgirá o litisconsórcio no polo passivo, na figura da ação de litisconsórcio será facultativo simples. Interessante observarmos o questionamento da doutrina: Caberia perguntar se o autor pode desistir da ação em relação a um dos chamados. Parece-nos que não, pois não foi ele quem os incluiu no polo passivo, mas sim o chamante. Com relação a este poderá haver desistência, cuja homologação dependerá de seu consentimento se já tiver havido resposta, mas não com relação aos chamados.58 58 Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017. Pag. 329. 38 2.1.4. Desconsideração da personalidade jurídica A desconsideração jurídica ocorre quando se torna necessário atingir o patrimônio dos sócios para que se cumpra uma obrigação, como regra geral, a pessoa jurídica é pessoa de direito e autônoma, podendo ela contrair direitos e obrigações das quais ela será responsável no limite de seu patrimônio, entretanto, essa proteção patrimonial não é absoluta, surgindo a figura da desconsideração da personalidade jurídica como um meio de evitar que essas pessoas jurídicas no gozo dessa proteção seja utilizada como meio para a prática de fraudes e abusos de direito, em detrimento dos credores. Há muito, a regra da autonomia patrimonial das pessoas jurídicas vem admitindo restrições, sobretudo nos casos em que ela é utilizada como instrumento para a prática de fraudes e abusos de direito, em detrimento dos credores. A teoria da desconsideração da personalidade jurídica (disregard doctrine), que autoriza o juiz a estender, em determinadas situações, a responsabilidade patrimonial pelos débitos da empresa aos sócios, sem que haja a dissolução ou desconstituição da personalidade jurídica, vem sendo acolhida em nossa doutrina desde o final dos anos 1960, sobretudo a partir dos estudos de Rubens Requião. Como não havia previsão legal para aplicá- la no âmbito do direito privado, de início os tribunais se valeram do art. 135 do Código Tributário Nacional. Posteriormente, o Código de Defesa do Consumidor passou a autorizá-la expressamente no art. 28 e seus parágrafos quando “em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social”, bem como nos casos de “falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração” ou ainda “sempre que a sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores”. O Código Civil no art. 50 dispôs que “Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica”. Compete ao direito material estabelecer quais são as exigências para que se possa aplicar a desconsideração da personalidade jurídica. No âmbito civil, essas exigências estão no art. 50 do CC; e no âmbito consumerista, no art. 28 do Código do Consumidor. Além da desconsideração comum, há ainda a inversa. Na comum, a responsabilidade patrimonial pelas dívidas da empresa é estendida aos sócios; na inversa, a responsabilidade pelas dívidas dos sócios é estendida à empresa. No primeiro caso, embora a dívida seja da pessoa jurídica, o sócio passa a responder judicialmente pelo débito com seu patrimônio pessoal; no segundo, conquanto o débito seja do sócio, será 39 possível alcançar bens da empresa, a quem a responsabilidade é estendida.59 Introduzido o tema vejamos o incidente de desconsideração da personalidade jurídica a seguir. 2.1.4.1 Procedimento do incidente de desconsideração da personalidade jurídica Antes para alcançar o patrimônio dos sócios já havia norma, entretanto bastava mero despacho do juiz, pois o CPC não previa procedimento algum, Novidade no CPC de 2015. Agora previsto no art. 133 e seguintes do CPC, deverá a desconsideração ser requerido pelo autor ou ministério público, não cabendo ao juiz decretar de ofício e cabendo a ele somente instaurar em observância das normas materiais como por exemplo o Código de defesa do consumidor ou código civil.60 O CPC de 2015 vai além e admite também o emprego do mesmo incidente para a hipótese de querer responsabilizar pessoa jurídica por atos praticados pelas pessoas naturais que a controlam ou comandam. É o sentido da previsão do § 2º do art. 133, ao se referir à “desconsideração inversa da personalidade jurídica”, admitindo, portanto, que pessoa jurídica seja responsabilizada por atos praticados por pessoas naturais de seus quadros sociais.61 59 Gonçalves, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. – São Paulo : Saraiva, 2017. Pag. 329-330. 60 Bueno, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil : inteiramente estruturado à luz do novo CPC, de acordo com a Lei n. 13.256, de 4-2-2016. 2. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo : Saraiva, 2016. 61 BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de direito processual civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. p. 322-323 40 Após o requerimento cabível a qualquer das fases do processo ocorrerá a sua instauração, vejamos a explicação de Gonçalves a partir do deferimento do pedido: deverá ser comunicada ao distribuidor para as anotações devidas. Ao suscitar o incidente, a parte ou o Ministério Público devem indicar quais os fundamentos, de fato e de direito, em que se funda o pedido de desconsideração. São os fundamentos estabelecidos pela lei material, isto é, pelos arts. 50 do Código Civil e 28 do CDC. Se o requerimento não os indicar, o juiz deverá dar oportunidade para que o vício seja sanado, sob pena de indeferir de plano o incidente. Se o receber, determinará a suspensão do processo, que ficará paralisado até a decisão do incidente. O processo deverá ficar suspenso desde o momento em que a parte ou o Ministério Público protocolar o pedido de desconsideração. Se o juiz o indeferir de plano, há de se considerar que, pelo menos entre o protocolo e a intimação da decisão do juiz que o indeferiu, o processo terá ficado suspenso, tal como acontecia com as exceções rituais na vigência do Código de 1973. A suspensão perdurará até que o incidente seja decidido. Mas, proferida a decisão, o processo retoma o curso, ainda que venha a ser interposto recurso pelo prejudicado. A suspensão não se estende, portanto, para depois que o incidente for decidido, ressalvada a hipótese de ao recurso interposto (agravo de instrumento) ser deferido efeito suspensivo pelo relator. Instaurado o incidente, o juiz determinará a citação do sócio (na desconsideração direta) ou da pessoa jurídica (na inversa), para que se manifestem no prazo de 15 dias. O incidente assegura contraditório prévio, permitindo que o sócio ou a pessoa jurídica apresentem as suas alegações e procurem demonstrar que não estão presentes os requisitos da lei material para a desconsideração. Além da manifestação do sócio, o pedido de desconsideração poderá ser impugnado, na desconsideração direta, também pela pessoa jurídica, como tem reconhecido o Superior Tribunal de Justiça. Embora as partes do incidente sejam o suscitante e o sócio (no caso da desconsideração direta), a pessoa jurídica poderá manifestar-se, postulando o não acolhimento do incidente. Pelas mesmas razões, na desconsideração inversa, embora as partes sejam o suscitante e a pessoa jurídica, o sócio poderá manifestar-se, postulando o indeferimento do pedido. O juiz poderá determinar as provas necessárias para que suscitante e suscitado comprovem as suas alegações. Concluída a instrução, ele decidirá o incidente, que será resolvido por decisão interlocutória, contra a qual poderá ser interposto recurso de agravo de instrumento (art. 1.015, IV, do CPC). Como o incidente pode ser instaurado em qualquer fase do processo de conhecimento, é de se admitir que o seja mesmo que o processo se encontre em grau de recurso,