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PADRE CICERO

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Padre Cícero
Padre Cícero ficou conhecido por ter presenciado um milagre eucarístico em 
Juazeiro, no Ceará. Ele se tornou uma importante figura política e religiosa no 
começo do século XX.
"Padre Cícero foi uma importante figura religiosa que atuou no vale do Cariri, no sul do estado do 
Ceará. Ele viu sua vida religiosa se transformar quando, supostamente, presenciou um milagre na 
realização da Eucaristia em Juazeiro. Também se transformou em uma importante liderança política
naquela região.
A notícia do milagre, que teria acontecido durante uma missa, fez Juazeiro atrair peregrinos de 
todas as partes do Nordeste, e padre Cícero se tornou em uma figura de devoção popular. A Igreja 
Católica não reconheceu o milagre e excomungou o padre, sendo que sua reabilitação só foi 
anunciada em 2015."
"Nascimento e juventude"
"Cícero Romão Batista, marcado na história brasileira como padre Cícero, nasceu no dia 24 de 
março de 1844, na cidade de Crato, no Ceará. Muitos afirmam que ele nasceu no dia 23 de março, 
mas não existem evidências disso. Ele era filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência 
Romana, também conhecida como dona Quinô.
Seu pai era um pequeno comerciante em Crato. Da sua lojinha, Joaquim sustentava sua família, que 
se completava, ainda, com as filhas Maria Angélica, mais velha, e Angélica Vicência, mais nova. 
Cícero teve uma infância simples, mas, ainda assim, ele teve acesso aos estudos.
Ele recebeu educação formal por meio de um tutor, depois se matriculou em uma escola régia, e, 
por fim, foi enviado para uma escola no sertão da Paraíba. Seus estudos foram interrompidos com a 
notícia do falecimento de seu pai, quando ele tinha 18 anos de idade. Retornando para Crato, ele, 
além de lidar com a morte do pai, teve de lidar com a notícia da falência do comércio que 
sustentava a família.
A historiadora Jacqueline Hermann aponta o fato de que os relatos da vida de Cícero já mostram 
que, desde pequeno, ele possuía forte ligação com certo misticismo, anunciando que tinha visões e 
revelações|1|. Foi supostamente em um desses acessos místicos que Cícero teve uma visão de seu 
pai anunciando que a família não passaria por dificuldades.
Isso de fato aconteceu porque seu padrinho, o coronel Antônio Luiz Alves Pequeno, socorreu a 
família de seu afilhado no momento de maior necessidade. O coronel, que era um homem 
riquíssimo, decidiu financiar os estudos de Cícero em Cajazeiras (Paraíba), e depois pagou por seus 
estudos no Seminário de Prainha, em Fortaleza.
"
"ida religiosa
No cursinho, Cícero encontrou grandes diferenças entre a religiosidade de Fortaleza e a do vale do 
Cariri (onde fica a cidade de Crato). Isso se deveu ao fato de que o interior do Ceará sofria com a 
pouca presença de autoridades eclesiásticas, sobretudo pelo fato de que essas autoridades não 
estavam dispostas a visitar tais regiões.
O jornalista Lira Neto aponta que essa situação criou um problema do ponto de vista do controle 
realizado pela Santa Sé. Ele afirma que esse “vácuo [de presença das autoridades católicas] deu 
origem a uma religiosidade espontânea no meio do povo, um misticismo rico em manifestações, 
mas pouco afeito ao controle e aos rituais da Igreja oficial”.|2|
Em sua formação como padre, Cícero encontrou um ensino rígido no seminário de Fortaleza. Lá, 
ele não era considerado um dos melhores alunos, sobretudo nas disciplinas de oratória e canto 
gregoriano. Além disso, teve problemas com o reitor do seminário, que não concordava com suas 
opiniões místicas.
O reitor do seminário, o francês Pierre-Auguste Chevalier, chegou a sugerir que Cícero não fosse 
ordenado padre, mas o bispo do Ceará, dom Luis Antônio dos Santos, decidiu ir contra essa 
recomendação e ordenou Cícero Romão padre no dia 30 de novembro de 1870. Conhecido como 
padre Cícero agora, ele decidiu retornar para Crato depois de sua ordenação.
Em 1871, padre Cícero foi convidado para celebrar uma missa em Juazeiro, povoado vizinho a 
Crato. Lá, ele supostamente teve um sonho, interpretado como uma mensagem divina para que ele 
ficasse no povoado e cuidasse de suas questões religiosas. Padre Cícero recebeu um convite para 
permanecer no povoado em abril de 1872. No mesmo ano, ele se tornou o capelão da Capela de 
Nossa Senhora das Dores.
Milagre
A vida de padre Cícero mudou radicalmente quando ele tinha 45 anos. Em março de 1889, durante 
uma missa, supostamente um milagre aconteceu, quando Maria de Araújo, uma lavadeira de 28 
anos, viu sua hóstia tornar-se vermelha como o sangue. O milagre seguiu ocorrendo em outras 
missas, até que o reitor do seminário de Crato anunciou para os fiéis que a hóstia de Maria de 
Araújo tinha sido tingida pelo sangue do próprio Jesus Cristo.
O caso virou notícia na imprensa, sobretudo porque anunciava que o suposto milagre eucarístico 
(relativo à Eucaristia) repetia-se. O acontecido acabou forçando as autoridades da Igreja Católica a 
investigarem o que acontecia no vale do Cariri. O bispo do Ceará, dom Joaquim José Vieira, por sua
vez, recusava-se a aceitar os acontecidos em Juazeiro e anunciou que a transformação da hóstia pelo
sangue de Jesus Cristo era falsa.
Padre Cícero insistiu para que a diocese de Fortaleza enviasse uma comissão, a fim de investigar os 
supostos milagres que aconteciam no Cariri. A comissão foi enviada para a região em 1891 e foi 
formada por Clycério da Costa, Francisco Ferreira Antero, ambos padres, e também por dois 
médicos, Marcos Rodrigues Madeira e Ildefonso Correia Lima.
Tanto os médicos quanto os padres concluíram que não havia explicação natural para a 
transformação da hóstia em sangue, o que fazia do acontecido um milagre. O bispo ordenou que 
uma segunda comissão investigasse o caso, e foi concluído que o evento era uma farsa. Bispo dom 
Joaquim optou por favorecer a segunda comissão.
Essa situação deixou padre Cícero sem apoio da Igreja Católica. Ele lutou durante toda a sua vida 
pelo reconhecimento do milagre, mas a Igreja da época não o reconheceu, pois os supostos milagres
eucarísticos não se adequavam à teologia católica do período. Apesar do não reconhecimento da 
Igreja Católica, os milagres de Juazeiro atraíram uma multidão de fiéis para a cidade, 
transformando-a num local de peregrinação.
A insistência de padre Cícero em defender os milagres fez com que a Igreja Católica o punisse. Em 
1892, ele foi proibido de pregar, celebrar missas e de se confessar, e, em 1894, uma ordem vinda de 
Roma anunciou que os acontecidos em Juazeiro não seriam considerados milagres. A Igreja também
anunciou que peregrinações para a cidade estavam proibidas."
"Padre Cícero como figura de devoção
A decisão da Igreja Católica só reforçou as diferenças que existiam entre a religiosidade popular no 
interior do Brasil e o que era celebrado pelas autoridades eclesiásticas. Apesar das decisões da 
Igreja contra o milagre, as peregrinações e padre Cícero, nada mudou na crença popular. As pessoas
continuaram peregrinando para o vale do Cariri, tornando a região muito relevante.
Padre Cícero, por sua vez, mesmo punido pela Igreja, tornou-se uma personalidade local bastante 
relevante, transformando-se em figura de veneração popular e conquistando enorme capital político 
no Cariri. O resultado disso foi que ele se consolidou com uma liderança no povoado de Juazeiro.
A devoção em Juazeiro fortaleceu a peregrinação de pessoas para o Cariri e permitiu o surgimento 
de quatro irmandades no local. O crescimento das irmandades, sobretudo da Legião da Cruz, fez 
com que a mensagem do padre Cícero se fortalecesse, garantindo mais fiéis e financiamento para a 
igreja liderada por ele em Juazeiro.
Assim, como definiu Jacqueline Hermann, “quanto mais se via repudiado pela Igreja, mais 
aumentava o prestígio do Patriarca de Juazeiro”.|3| O termo “patriarca” se refere ao fato de que  
padre Cícero ocupava uma posição de autoridade tanto religiosa quanto política em Juazeiro. Sua 
popularidade se expressou pela própria irmandade Legião de Cristo, que teve 10mil adeptos."
"Enquanto liderança política, padre Cícero se aliou a outros nomes da política local e defendeu a 
emancipação do povoado de Juazeiro. Em 1911, a emancipação de Juazeiro foi reconhecida 
politicamente, e a cidade se desligou de Crato. Depois disso, padre Cícero foi eleito primeiro 
prefeito de Juazeiro. O nome atual da cidade (Juazeiro do Norte) só foi adotado na década de 1940.
Padre Cícero, ainda, articulou um pacto entre os coronéis da região. Esse acordo, assinado em 4 de 
outubro de 1911 e conhecido como “pacto dos coronéis”, foi um acordo político no qual os coronéis
da região do vale do Cariri se comprometiam a pôr fim nas suas desavenças para apoiar o governo 
do Ceará e o chefe da oligarquia desse estado, Antônio Pinto Nogueira Accioly. Muitos falam 
também que padre Cícero teria tido laços com membros do cangaço.
Morte"
"O poder político de padre Cícero declinou a partir da década de 1920, bem como a sua saúde. A 
Revolução de 1930 marcou o fim de qualquer influência política do padre em Juazeiro e no Ceará. 
Com a idade bastante avançada, restou a ele aceitar os novos tempos, principalmente porque sua 
saúde já não era a mesma.
Os últimos anos de padre Cícero foram marcados pela ocorrência de uma catarata que o deixou 
cego do olho esquerdo e com visão mínima do olho direito. O padre, ainda, passou por uma cirurgia
para tentar recuperar sua visão, mas não obteve sucesso nisso. Também teve nefrite e graves 
problemas intestinais.
Seus últimos meses foram de grande agonia por conta do seu estado de saúde, e seu falecimento 
aconteceu no dia 20 de julho de 1934. Padre Cícero lutou por toda a vida pelo reconhecimento do 
milagre de Juazeiro e por sua reabilitação, mas não viveu para ver isso acontecer.
A reabilitação do “padim Ciço”, como é popularmente conhecido, só aconteceu no dia 13 de 
dezembro de 2015, depois de nove anos de trabalho de uma comitiva da Igreja Católica criada para 
estudar a vida do padre brasileiro."

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