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3 FÉRIAS E DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO Pedro Edmundo Boll 1 1 Pedro Edmundo Boll é Mestre em Ciências Empresariais e Especialista em Contabilidade e Auditoria pela UFP – Universidade Fernando Pessoa de Portugal, Especialista em Administração e Planejamento para Docentes e Bacharel em Ciências Contábeis pela ULBRA – Universidade Luterana do Brasil, Bacharel em Direito pela UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos. É sócio de escritório contábil desde 1988, atuando em assessoria e consultoria empresarial nas áreas contábil, fiscal, tributária, pessoal e societária. É perito-contador atuando em processo judiciais desde 1992 nas esferas trabalhista, cível e federal. INTRODUÇÃO No presente capítulo será abordado dois temas relevantes na contabilidade trabalhista: As férias e o décimo terceiro salário. As férias consistem em um período de descanso remunerado do empregado e o décimo terceiro consiste em uma gratificação legal de direito do empregado. Ambos institutos possuem peculiaridades quanto à sua concessão e a sua forma de cálculo. Vide os respectivos temas, como segue: 3.1 FÉRIAS Conforme mencionado anteriormente, a legislação trabalhista prevê diversos períodos de descanso ao empregado, sendo as férias o mais longo deles. O empregado terá direito às férias somente após completar 12 meses de contrato de trabalho, chamado de período aquisitivo. Nos 12 meses subseqüentes, o empregado poderá gozar das férias adquiridas, chamado de período concessivo. O número de dias de férias a ser gozado pelo empregado varia conforme o número de faltas injustificadas ocorridas no período aquisitivo. Deste modo estabelece o art. 130 da CLT: FALTAS INJUSTIFICADAS DIAS DE FÉRIAS Até 5 faltas 30 dias corridos De 6 a 14 faltas 24 dias corridos De 15 a 23 faltas 18 dias corridos De 24 a 32 faltas 12 dias corridos Esclarece-se que a contagem das férias é em dias corridos, ou seja, inclui domingos e feriados no período. E ressalta-se que a contagem é de faltas injustificadas, ou seja, não inclui as ausências consideradas legais (hipóteses de interrupção do contrato de trabalho). 3.1.1 Concessão das férias As férias serão concedidas por ato do empregador e a época da concessão será a que melhor atender os interesses da empresa (art. 134 e 136 da CLT). Há exceção, contudo, quanto ao empregado estudante menor de 18 anos, que terá direito de usufruir as férias no mesmo período das férias escolares. A concessão das férias deverá ser comunicada ao empregado com antecedência mínima de 30 dias e deverá ser informada por escrito, com indicação do período aquisitivo a que se refere, ao que o empregado deverá dar recibo/ciência. Ainda, a concessão das férias deverá ser anotada na CTPS do empregado, em local próprio, e na ficha de registro do empregado (Art. 135, § 1º e § 2º, da CLT). As férias, de regra, deverão ser concedidas em um único período. Entretanto, havendo concordância do empregado, as férias poderão ser usufruídas em até 3 períodos, sendo que um deles não poderá ser inferior a 14 dias corridos e os demais não poderão ser inferiores a 5 dias corridos, cada um. É vedado o início das férias nos dois dias que antecedem feriado ou dia de repouso semanal remunerado (Art. 134, § 3º da CLT acrescentado pela Lei nº 13.467/2017). O pagamento das férias e, se for o caso, do abono pecuniário, deverá ser efetuado até 2 dias antes do respectivo período (art. 145 da CLT). Caso o empregador não observe esse prazo estará sujeito ao pagamento das férias em dobro (vide Súmula nº 450 do TST). https://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_401_450.html#SUM-450 3.1.2 Remuneração das férias As férias deverão ser pagas com base no salário vigente à época em que forem concedidas. Durante o período de férias, o empregado deverá receber o que receberia se estivesse trabalhando. Assim, se eventualmente ocorrerem reajustes salariais na empresa, com início da vigência durante as férias do empregado, este fará jus ao complemento do valor pago por ocasião da concessão. Salário por hora, com jornadas variáveis: deve-se apurar a média aritmética do número de horas do período aquisitivo, aplicando-se o valor da remuneração horária vigente à data da concessão das férias. Salário por tarefa: apura-se a média aritmética da produção, dentro do período aquisitivo, aplicando-se ao resultado o valor da tarefa vigente à data da concessão das férias. Salário por percentagem ou comissão: apura-se a média percebida pelo empregado, dentro dos dez meses que antecedem a data da concessão das férias. Na hipótese de o empregado também ter parte fixa, à média apurada acrescentar-se-á o fixo vigente à época da concessão das férias. Os adicionais percebidos pelo empregado por hora extra, por trabalho noturno, insalubre, ou perigoso devem integrar o salário para efeito de pagamento de férias. Se, na época da concessão, o valor pago a título de adicional não for o mesmo do período aquisitivo, ou se os pagamentos não tiverem sido uniformes, deverá ser apurada a média duodecimal recebida naquele período, após a atualização das importâncias pagas, mediante incidência dos percentuais de reajustes salariais supervenientes. Quando o adicional for de horas extras ou noturnas, poderá ser apurada a média duodecimal da quantidade de horas realizadas no período aquisitivo, a serem pagas conforme valor/hora correspondente vigente à época da concessão das férias. A Constituição Federal de 1988 assegura aos trabalhadores urbanos e rurais, inclusive domésticos, “gozo de férias anuais remuneradas com pelo menos um terço a mais do que o salário normal”. Salienta-se que o entendimento predominante na Justiça do Trabalho é que este acréscimo de 1/3 é devido tanto em férias integrais quanto proporcionais, gozadas ou não (Súmula 328 do TST). Para ilustrar: um empregado efetua 360 horas extras durante o período aquisitivo das férias. No mês em que irá usufruir as férias o seu salário básico é de R$ 2.200,00 sendo contratado na modalidade 220 horas mensais. Logo, o salário-hora normal do mês de férias é R$ 10,00 (R$2.200,00 ÷ 220h). Para calcular as horas extras devidas nas férias deve ser feito o seguinte cálculo: Média Duodecimal de Horas Extras = 360 horas ÷ 12 meses = 30 horas extras por mês. Valor da hora extra com adicional de 50% = R$ 10,00 x 1,50 = R$ 15,00 Valor da média de horas extras de 50% = R$ 15,00 x 30 = R$ 450,00 Subtotal de férias apuradas = R$ 2.200,00 + R$ 450,00 = R$ 2.650,00 Acréscimo 1/3 constitucional = R$ 2.650,00 ÷ 3 = R$ 883,33 Total das férias deste empregado = R$ 2.650,00 + R$ 883,33 = R$ 3.533,33 Quanto ao demais aspectos sobre as férias, como forma perda do direito às férias, abono das férias, férias em atraso, férias proporcionais e férias coletivas, podem ser estudados por meio do seguinte material: ASPECTOS SOBRE FÉRIAS https://drive.google.com/file/d/1K8f_z2yNJ8caHt70IN3fgS1GnXfr1k0E/view?usp=sharing 3.2 DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO O 13º Salário, também conhecido como Gratificação Natalina, está previsto no Art. 7º, VIII, Constituição Federal de 1988, e encontra-se regrado pelas Leis nº 4.090/62 e nº 4.749/65. O pagamento do 13° salário é devido a todo empregado urbano, rural ou doméstico, e aos trabalhadores avulsos, independente da forma de remuneração a que fizer jus no mês. A gratificação de Natal corresponde a 1/12 da remuneração integral devida em dezembro ao empregado, por mês de serviço. Conta-se como mês de serviço a fração igual ou superior a 15 dias de trabalho. Quanto às faltas injustificadas, deve-se analisar cada mês, individualmente, para verificar se o empregado trabalhou ou não, pelo menos 15 dias. Assim, por exemplo, o empregadocom 12 meses de serviço que tenha 25 faltas num determinado mês receberá somente 11/12 de sua remuneração, isto é, perderá apenas o avo correspondente àquele mês, pois trabalhou menos de 15 dias. O 13º salário é pago, convencionalmente, em duas parcelas: a primeira entre os meses de fevereiro e novembro de cada ano e a segunda, até o dia 20 de dezembro. Há diversas particularidades quanto ao pagamento e ao cálculo dessa parcela, conforme será abordado a seguir: 3.2.1 Pagamento da primeira parcela O pagamento da primeira parcela do 13° salário deve ser realizado até o dia 30 de novembro, observando a época de interesse do empregador. Contudo, é facultado ao empregado solicitar o pagamento da primeira parcela juntamente com as férias a serem usufruídas, desde que faça tal requerimento no mês de janeiro do correspondente ano. A primeira parcela do 13° salário deve ser equivalente à metade do salário mensal do mês anterior, para os empregados mensalistas, horistas (para os quais se consideram 220 horas) e diaristas (considerados 30 dias). Para os empregados que percebem remuneração variável (comissões, por tarefa, etc.) deve ser paga a metade da média mensal apurada até o mês de outubro. Vejamos os seguintes exemplos: Empregado mensalista: Recebe como salário o valor de R$ 1.800,00. Logo, receberá na primeira parcela do 13º salário o valor de R$ 900,00. Empregado horista: Recebe salário-hora no valor de R$ 8,00. Calcula-se R$ 8,00 x 220 horas = R$ 1.760,00 ÷ 2 = R$ 880,00. A primeira parcela do 13° será no valor de R$ 880,00. Empregado comissionista: Recebeu salário em comissões no período conforme segue: Janeiro - R$ 1.200,00, Fevereiro - R$ 1.412,00, Março - R$ 1.315,00, Abril – R$1.100,00, Maio – R$ 1.830,00, Junho – R$ 1.520,00, Julho – R$ 1.222,00, Agosto – R$ 1.425,00, Setembro – R$ 1.180,00 e Outubro – R$ 1.620,00. A soma de todas as comissões equivale a R$ 13.824,00. Dividindo-se pelo número de meses trabalhados a média mensal é de R$ 1.382,40 (R$ 13.824,00 ÷ 10 meses). Logo, a primeira parcela de 13° salário será devida no valor de R$ 691,20 (R$ 1.382,00 ÷ 2). Caso o empregado seja comissionista misto e, além das comissões acima, ele receba R$ 500,00 fixos por mês, este também deverá ser integrado no 13° salário. Logo, R$ 500,00 ÷2 = R$ 250,00. A primeira parcela de 13° salário devida a esse comissionista misto será no valor de R$ 941,20 (R$ 250,00 + 691,20). Empregado tarefeiro: Recebe R$ 2,80 por peça e de janeiro a outubro de um determinado ano produziu 6.000 peças. A média será de 600 peças por mês (6.000 ÷ 10 meses). Logo, 600 x R$ 2,80 = R$ 1.680,00 ÷ 2 = R$ 840,00. A primeira parcela de 13° salário do empregado será no valor de R$ 840,00. 3.2.1.1 Empregados admitidos no curso do ano – 13° proporcional No caso de empregados admitidos no curso do ano os cálculos da primeira parcela do 13º salário deverão ser feitos na forma dos exemplos anteriores, considerando-se, porém, a proporção de meses trabalhados no ano. Para tanto, no cálculo observa-se 1/12 avos do salário mensal por mês de serviço a partir da admissão até o mês de novembro. Conta-se como mês de serviço a fração igual ou superior a 15 dias. Por exemplo: empregado mensalista contratado em 14 de maio com salário mensal de R$ 1.800,00. Teremos 7 meses trabalhados, maio é considerado mês integral. Calcula-se a primeira parcela da seguinte forma: R$ 1.800,00 ÷ 12 meses = R$ 150,00 x 7 meses trabalhados = R$ 1.050 ÷ 2 = R$ 525,00. A primeira parcela de 13° salário do empregado será no valor de R$ 525,00. 3.2.2 Pagamento da segunda parcela A segunda parcela do 13º salário, conforme já referido, deve ser paga até o dia 20 de dezembro. O valor a ser pago, nessa ocasião, corresponde a: a) Para mensalistas, horistas e diaristas: um salário mensal; b) Para os que percebem salário variável (comissionistas, tarefeiros, etc.): média mensal dos valores recebidos no período de janeiro a novembro, ou média do total de tarefas/ peças executadas no período de janeiro a novembro, multiplicada pelo valor da peça/tarefa vigente em dezembro; c) Para os que percebem, além da parte variável, uma parte fixa: a soma da parte fixa em vigor no mês de dezembro com média relativa à parte variável no período de janeiro a novembro. Após a apuração do 13º salário integral, deduz-se o valor pago a título de 1ª parcela. Vide alguns exemplos, como segue: Empregado mensalista: Recebeu como salário o valor de R$ 1.500,00 no mês de dezembro. Logo, receberá na segunda parcela do 13º salário o valor de R$ 1.500,00 menos o valor pago na primeira parcela. Empregado horista: Recebeu salário-hora no valor de R$ 9,00 no mês de dezembro. Calcula-se R$ 9,00 x 220 horas = R$ 1.980,00 menos o valor pago na primeira parcela do 13° salário. Empregado comissionista: Recebeu salário fixo de R$ 296,00 no mês de dezembro e recebeu, a título de comissão, entre os meses de janeiro a novembro, o total de R$ 13.828,00. Calcula-se R$ 13.828,00 ÷ 11 meses = R$ 1.257,09 como média mensal de comissões. Soma-se a parte fixa e a variável: R$ 1.257,09 + R$ 296,00 = R$ 1.553,09. Logo, receberá na segunda parcela do 13º salário o valor de R$ 1.553,09 menos o valor pago na primeira parcela. 3.2.2.1 Empregados admitidos no curso do ano – 13° proporcional Assim como ocorre na primeira parcela, no pagamento da segunda parcela do 13° salário deverá ser observada a proporção com os meses trabalhados pelo empregado no ano. Para tanto, no cálculo observa-se 1/12 avos do salário mensal por mês de serviço a partir da admissão até o mês de dezembro. Conta-se como mês de serviço a fração igual ou superior a 15 dias. Nesses casos, tratando-se de salário variável, a média será apurada no período que se estende desde a admissão até o mês de novembro. Por exemplo: um empregado tarefeiro, admitido em 12 de setembro recebe como salário o valor de R$ 2,80 por peça no mês de dezembro. O empregado teve a seguinte produção até novembro: Setembro – 400 peças, Outubro – 530 peças e Novembro – 600,00. A média mensal será de 510 peças (400 + 530 + 600 = 1530 peças ÷ 3 meses de trabalho). Logo, 510 x R$ 2,80 = R$ 1.428,00 de média mensal. Divide-se a média por 12 meses: R$ 1.428,00 ÷ 12 meses = R$ 119,00, e multiplica pelo número de meses de trabalho : R$ 119,00 x 4 (setembro à dezembro) = R$ 476,00. . Logo, receberá na segunda parcela do 13º salário o valor de R$ 476,00 menos o valor pago na primeira parcela. Para o aprofundamento da matéria quanto ao décimo terceiro salário, em especial quanto à base de cálculo, remuneração variável e encargos sociais incidentes sobre as parcelas, solicita- se a leitura do seguinte material complementar: REMUNERAÇÃO E ENCARGOS DO DÉCIMO TERCEIRO SALÁRIO RECAPITULANDO Neste capítulo foi estudado dois institutos trabalhistas de relevância na contabilidade: as férias e o décimo terceiro salário. Primeiramente, foi abordado a rubrica férias com estudo, por meio do presente capítulo e do material complementar: a) as condições para implementação do direito do empregado às férias; b) as hipóteses de perda do direito das férias; c) os regramentos quanto à concessão de férias, a possibilidade de fracionamento do período e de conversão de parte do período em abono pecuniário; d) a forma de cálculo da remuneração das férias, inclusive quanto às férias proporcionais na extinção do contrato de trabalho; e) o pagamento de multa em dobro quando a concessão das férias não observa o respectivo período concessivo; e f) a concessão de férias coletivas na empresa. Na segunda parte do capítulo foi apresentada a rubrica da gratificação natalina, chamada de 13° salário, e foram contemplados os seguintes pontos no capítulo e no material complementar: a) a forma de pagamento da primeira e da segunda parcela do décimo terceiro salário de acordo com a forma de remuneraçãodo empregado; b) a proporcionalidade do 13° salário para os empregados contratados no curso do ano; c) as parcelas abarcadas na base de cálculo do 13° salário; d) a forma de apuração do 13° salário no caso de empregados que percebem remuneração variável como em comissões, por tarefa, etc.; e) as incidências de encargos sobre o 13° salário. Em que pese tenha sido estudado os principais tópicos sobre férias e 13° salário, ambas matérias são complexas, não havendo esgotamento do assunto no presente capítulo, razão pela qual se indica ao aluno a busca constante de informações complementares, em especial para a aplicação prática dessas parcelas. https://drive.google.com/file/d/1xe3qLYsmVHUjRmdsg4aYySR7VHdYTiEq/view?usp=sharing https://drive.google.com/file/d/1xe3qLYsmVHUjRmdsg4aYySR7VHdYTiEq/view?usp=sharing REFERÊNCIAS E OBRAS CONSULTADAS BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm> BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Alterada pela Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm> BRASIL. Lei Complementar n.° 123, de 14 de dezembro de 2006. 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