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Resposta: O pensamento de Maquiavel é célebre por ter rompido com a moralidade cristã da época – é bom lembrar que estamos falando da época do Renascimento, quando as explicações religiosas começam a ceder espaço para o pensamento racional, baseado na capacidade humana de explicar o mundo. Deste modo, Maquiavel é racional e totalmente pragmático, elaborando um tratado político – “O príncipe”, do qual provavelmente foi retirado esse excerto – que funciona como uma espécie de manual, com conselhos extremamente práticos e realistas para se obter e manter o poder, sem menção a qualquer restrição de ordem moral. 50. (Unesp 2011) Texto I Por isso também nós, desde o dia em que soubemos, não cessamos de rezar por vós e pedir a Deus que vos conceda pleno conhecimento de sua vontade, perfeita sabedoria e inteligência espiritual, a fim de vos comportardes de maneira digna do Senhor, procurando agradar-lhe em tudo, dando fruto de toda obra boa e crescendo no conhecimento de Deus, animados de grande energia pelo poder de sua glória para toda a paciência e longanimidade. Com alegria, agradecemos a Deus Pai, que vos tornou capazes de participar da herança dos santos no reino da Luz. Que nos livrou do poder das trevas e transportou ao reino do seu Filho amado, no qual temos a redenção: a remissão dos pecados. (Bíblia Sagrada. Epístola aos Colossenses 1, 9-14, texto escrito no século I.) Texto II Olhe ao redor deste universo. Que imensa profusão de seres, animados e organizados, sensíveis e ativos! Examine, porém, um pouco mais de perto essas criaturas dotadas de vida, os únicos seres dignos de consideração. Que hostilidade e destrutividade entre eles! Quão incapazes, todos, de garantir a própria felicidade! Quão odiosos ou desprezíveis aos olhos de quem os contempla! O conjunto de tudo isso nada nos oferece a não ser a ideia de uma natureza cega, que despeja de seu colo, sem discernimento ou cuidado materno, sua prole desfigurada e abortiva. (David Hume. Diálogos sobre a religião natural, texto escrito em 1779. Adaptado.) Compare ambos os textos e comente uma diferença entre eles no que diz respeito à concepção de natureza humana e uma diferença referente à concepção de moralidade. Resposta: O texto I integra a Epístola de Paulo do Novo Testamento, literatura cristã, e revela uma concepção divina do Universo, marcado por uma ordem moral e com sentido. A antropologia cristã entende o homem como criatura (criação de Deus), como ser em estado de guerra (pecado original), porém, agraciado pela mensagem de Cristo que ofereceu um sentido moral à existência humana. O texto II, do filósofo David Hume, nascido em Edimburgo, representante do empirismo inglês, aparece a visão do homem natural (e não sobrenatural), cuja existência é marcada pelo caos e pela desordem que resultam de suas inclinações para o egoísmo, hostilidade destrutividade. Para o filósofo, adotamos regras de moral e de justiça, não com bases abstratas, mas com sentidos pragmáticos, em outras palavras, as decisões éticas e morais são sempre relativas a uma situação específica e a um determinado momento histórico, não se fundando em nenhum princípio eterno e universal. 51. (Unesp 2011) Enquanto os homens se contentaram com suas cabanas rústicas, enquanto se limitaram a costurar com espinhos ou com cerdas suas roupas de peles, a enfeitarem-se com plumas e conchas, a pintar o corpo com várias cores, a aperfeiçoar ou embelezar seus arcos e flechas, a cortar com pedras agudas algumas canoas de pescador ou alguns instrumentos grosseiros de música – em uma palavra: enquanto só se dedicavam a obras que um único homem podia criar e a artes que não solicitavam o concurso de várias mãos, viveram tão livres, sadios, bons e felizes quanto o poderiam ser por sua natureza. O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não teria poupado ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: “Defendei-vos de acreditar nesse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém”. (Jean-Jacques Rousseau. Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens. Adaptado.) Cite a principal diferença estabelecida por Rousseau entre a vida em estado de natureza e a vida na sociedade civil, e explique o significado dessa diferença no âmbito da filosofia política. Resposta: Jean-Jacques Rousseau, filho de um relojoeiro de poucas posses, nasceu em Genebra (Suíça) e, vivendo em Paris em 1752, testemunhou arder as ideias que inspiraram a Revolução Francesa em 1789. Assim como seus antecessores, Hobbes e Locke, Rousseau procurou legitimar o poder político fundamentado na teoria do contrato social. Em seu livro, Origem sobre a Desigualdade entre os Homens, revela-se um filósofo contratualista. Para ele, os homens, no passado, teriam vivido o estado de natureza, movidos pelo instinto de forma sadia, benevolente e feliz, voltados unicamente para a própria sobrevivência. Em determinado momento, porém, como bem mostra o texto, teria sido criada a propriedade privada, estabelecendo-se relações entre senhores e escravos, uns trabalhando para outros, gerando as desigualdades sociais. Isso gerou a necessidade do artifício da vida em sociedade. A vida na sociedade civil começa quando o indivíduo de abdica de todos os seus direitos para viver em comunidade, desde que todos se abdiquem igualmente. É na sociedade civil que os interesses de todos e de cada um, enquanto componentes do corpo coletivo, transformam o estado de guerra de todos contra todos, numa existência humana marcada pelo desenvolvimento marcada pelo afeto. 52. (Unesp 2011) “O Iluminismo é a saída do homem de um estado de menoridade que deve ser imputado a ele próprio. Menoridade é a incapacidade de servir-se do próprio intelecto sem a guia de outro. Imputável a si próprios é esta menoridade se a causa dela não depende de um defeito da inteligência, mas da falta de decisão e da coragem de servir-se do próprio intelecto sem ser guiado por outro. Sapere aude! Tem a coragem de servires de tua própria inteligência!” (Immanuel Kant, 1784.) Esse texto do filósofo Kant é considerado uma das mais sintéticas e adequadas definições acerca do Iluminismo. Justifique essa importância comentando o significado do termo “menoridade”, bem como os fatores sociais que produzem essa condição, no campo da religião e da política. Resposta: Ao definir a menoridade como “a incapacidade de servir-se do próprio intelecto sem a guia de outro”, Kant está fazendo uma crítica ao modo restritivo pelo qual o pensamento humano estava condicionado até aquele período, isto é, até o Iluminismo. Esta restrição ao livre pensamento era levado a cabo sobretudo pelas instituições religiosas, isto é – e de modo geral -, pela Igreja, que não deixava espaço para outras interpretações do mundo e de seus fenômenos. É, portanto, justamente contra esta tutela, esta “menoridade”, este “ser guiado por outro”, que Kant e o movimento Iluminista se rebelam, influenciando a mentalidade da época e criando condições para as revoluções burguesas – como a francesa, por exemplo -, determinando a queda dos regimes absolutistas – baseados na religião e apoiados pela Igreja – em prol do estabelecimento de um Estado laico, governado pelo próprio povo. 53. (Unesp 2011) “Em troca dos artigos que enriquecem suavida, os indivíduos vendem não só seu trabalho, mas também seu tempo livre. As pessoas residem em concentrações habitacionais e possuem automóveis particulares com os quais já não podem escapar para um mundo diferente. Têm gigantescas geladeiras repletas de alimentos congelados. Têm dúzias de jornais e revistas que esposam os mesmos ideais. Dispõem de inúmeras opções e inúmeros inventos que são todos da mesma espécie, que as mantêm ocupadas e distraem sua atenção do verdadeiro problema, que é a consciência de que poderiam trabalhar menos e determinar suas próprias necessidades e satisfações”. (Herbert Marcuse, filósofo alemão, 1955.) Caracterize a noção de liberdade presente no texto de Marcuse, considerando a relação estabelecida pelo autor entre liberdade, progresso técnico e sociedade de consumo. Resposta: Marcuse faz uma breve descrição da vida moderna (especialmente no contexto do pós- guerra, mas vale também para a nossa vida contemporânea) para caracterizar a sociedade que daí emerge como baseada no consumo. Neste sentido, o progresso técnico funciona como uma mola propulsora desta sociedade, retroalimentando-a, criando novos produtos para suprir novas necessidades. Este mundo, que se apresenta ao indivíduo como dado, não lhe proporciona outras escolhas que não aquelas que façam parte da engrenagem da sociedade. E aí reside a contradição deste modelo, pois ele se apresenta como produto da liberdade dos indivíduos, dando a falsa impressão de que vivemos num mundo no qual temos acesso a todo tipo de opinião e no qual também podemos expressar a nossa, quando na verdade apenas reproduzimos e vemos reproduzidos os ideais que sustentam o consumo e a sociedade que se baseia nele. Deste modo, a noção de liberdade presente no texto estaria na tomada de consciência pelo indivíduo de sua real situação dentro desta sociedade de consumo e, a partir daí sim, ele poderia fazer suas próprias escolhas baseadas nas “suas próprias necessidades e satisfações”. Somente assim o indivíduo seria capaz de desfrutar plenamente de sua liberdade. 54. (Unesp 2011) Num mundo onde cresce sem parar a compulsão para obrigar as pessoas a levar uma vida “correta” no maior número possível das atividades que formam o seu dia a dia, a mesa tornou-se uma das áreas que mais atraem a atenção dos gendarmes empenhados em arbitrar o que é realmente bom para você. É uma provação permanente. Médicos, nutricionistas, personal trainers, editores e editoras de revistas dedicadas à forma física, ambientalistas, militantes da produção orgânica, burocratas, chefs de cozinha, críticos de restaurantes e mais uma multidão de diletantes prontos a dar testemunho expedem decretos cada vez mais frequentes, e cada vez mais severos, sobre os deveres do cidadão na hora de comer. O fato é que toda essa gente, quase sempre com as melhores intenções, acabou construindo um crescente sistema de ansiedade em torno do pão nosso de cada dia – e o resultado é que o prazer de comer bem vai sendo substituído pela obrigação de comer certo. Modelos, atrizes e outras pessoas que precisam pesar pouco para fazer sucesso chegam aos 30 anos de idade, ou