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UMA ANÁLISE SOBRE O ANTROPOCENTRISMO NOS SERMÕES E CÂNTICOS NA IGREJA

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UMA ANÁLISE SOBRE O ANTROPOCENTRISMO NOS SERMÕES E CÂNTICOS NAS IGREJAS CONTEMPORÂNEAS
PAES, Amon Maciel. Bacharelando em Teologia no Centro Universitário Internacional Uninter
SOBRENOME, Nome do Professor orientador convidado (o nome do professor Corretor deve ser colocado após a primeira postagem e correção)
RESUMO
Este estudo aborda a crescente presença do antropocentrismo na liturgia de cultos de igrejas evangélicas, com foco na composição de cânticos e sermões. Diante dessa problemática, o objetivo central é promover uma reflexão crítica sobre o afastamento da sã doutrina e a predominância de mensagens egocêntricas, desviando o enfoque da glória divina para as questões humanas. Através de uma revisão bibliográfica do tipo narrativa e abordagem qualitativa, a pesquisa realiza um levantamento bibliográfico sobre antropocentrismo, analisando sua manifestação na liturgia atual e avaliando as implicações práticas desse fenômeno. Destaca-se a escassez de discussões sobre o tema em periódicos e igrejas, apesar da importância teológica. A solução proposta é o retorno à centralidade das Sagradas Escrituras nos sermões e cânticos, visando restabelecer um culto alinhado com os princípios bíblicos. Portanto, conclui-se que a abordagem teocêntrica é essencial para preservar a autenticidade do culto religioso. 
Palavras-chave: Antropocentrismo. Liturgia. Sã doutrina. Sagradas Escrituras.
1 Introdução 
No que concerne ao antropocentrismo na composição da liturgia dos cultos em igrejas evangélicas, a relevância teológica da temática proposta se destaca. A problematização envolvendo a presença do antropocentrismo nas artes, como livros, filmes cristãos e nos púlpitos das igrejas, merece atenção especial. No entanto, é nos cânticos e sermões que o antropocentrismo se revela como objeto principal de estudo, carecendo de uma abordagem mais aprofundada no contexto teológico.
Torna-se evidente a necessidade de levantar apontamentos e reflexões que possam avaliar o afastamento da sã doutrina em prol de mensagens antropocêntricas, as quais colocam a valorização do homem no centro, relegando a glória de Deus a segundo plano.
Diante desse contexto, a presença do antropocentrismo em igrejas evangélicas torna-se potencialmente nociva ao cristianismo. A motivação para o pouco confronto dessas filosofias no âmbito da igreja pode estar relacionada à falta de conscientização sobre os impactos negativos que essa abordagem pode ter na fé e na adoração genuína.
Para abordar essa problemática, o estudo visa elaborar uma reflexão crítica sobre como a igreja contemporânea tem se afastado da sã doutrina, concentrando-se nas questões humanas por meio da composição antropocêntrica nos cânticos e sermões, elementos essenciais na liturgia do culto. Especificamente, o estudo propõe: (i) realizar um breve levantamento histórico do antropocentrismo; (ii) analisar o antropocentrismo na composição de cânticos e sermões na liturgia do culto, avaliando as aplicações e implicações práticas desse processo; e (iii) apontar possíveis soluções para normalizar um culto religioso aceitável à luz das sagradas escrituras.
O antropocentrismo, como filosofia humanista, expande-se nas artes, ciências e religião. Desde a Idade Média, há uma tendência de enfatizar o homem em detrimento de Deus como o alvo central do culto. Esta pesquisa foca no caráter antropocêntrico nos cânticos e sermões das igrejas evangélicas, justificado pela necessidade de reflexão crítica sobre como essa abordagem tem ocupado espaço na liturgia do culto, por meio de mensagens egocêntricas que buscam agradar e enaltecer as vontades humanas.
O tema escolhido justifica-se pela escassez de debates nos periódicos e revistas teológicas, bem como pela falta de confronto nas próprias igrejas, mesmo nas mais tradicionais. Em contraposição, as sagradas escrituras são apresentadas como norma de fé e prática para a igreja de Cristo. O retorno da centralidade das Escrituras nos sermões e cânticos é apontado como uma solução crucial para restabelecer um culto aceitável à luz dos ensinamentos bíblicos.
Quanto à metodologia, o estudo adota uma abordagem bibliográfica narrativa. A coleta de dados foi realizada por meio da consulta a livros, SciELO, Google Scholar, repositórios de bibliotecas universitárias e periódicos de Teologia, evidenciando a robustez metodológica do estudo.
2 Contexto histórico do antropocentrismo
Antropocentrismo é um ponto de vista filosófico que sustenta que os seres humanos ocupam uma posição central e significativa no mundo. Essa perspectiva fundamental está enraizada em diversas religiões e filosofias ocidentais, considerando os humanos como entidades separadas e superiores à natureza (Stoppa; Viotto, 2014). Segundo relatado por Domanska (2013), o antropocentrismo argumenta que a vida humana possui valor intrínseco, enquanto outras formas de vida, como animais, plantas e recursos minerais, são meros recursos a serem explorados em prol da humanidade.
As origens do antropocentrismo podem ser rastreadas até a narrativa da Criação presente no livro de Gênesis da Bíblia judaico-cristã. Nessa narrativa, Duarte (2014) relata que os seres humanos são criados à imagem de Deus e são incumbidos de "subjugar" a Terra e "ter domínio" sobre todas as outras criaturas vivas. Essa passagem tem sido interpretada como uma expressão da superioridade da humanidade sobre a natureza, justificando uma abordagem instrumental, na qual o valor do mundo natural é reconhecido apenas quando beneficia a humanidade. Vale ressaltar que essa linha de pensamento não se restringe à teologia judaico-cristã, estendendo-se também à Política de Aristóteles e à filosofia moral de Immanuel Kant.
Antes do surgimento da ética ambiental como um campo acadêmico distinto, figuras proeminentes no movimento de conservação, como John Muir e Aldo Leopold, defendiam a ideia de que o mundo natural possui um valor intrínseco. Essa abordagem era informada tanto pela apreciação estética da beleza da natureza quanto por uma rejeição ética da visão puramente exploratória do mundo natural (Brito et al., 2015). 
Na década de 1970, acadêmicos que trabalhavam no campo emergente da ética ambiental apresentaram dois desafios significativos ao antropocentrismo. Eles questionaram a suposta superioridade humana sobre outras formas de vida e sugeriram que o ambiente natural poderia ter valor intrínseco, independentemente de sua utilidade para a humanidade (Sarlet; Fensterseifer, 2014). 
A filosofia resultante, conhecida como biocentrismo, concebe os humanos como apenas uma espécie entre muitas em um ecossistema específico. Essa abordagem sustenta que o ambiente natural possui um valor intrínseco, independentemente de sua capacidade de ser explorado pelos seres humanos (Stoppa; Viotto, 2014).
3 O antropocentrismo nos sermões 
Possivelmente em um período histórico anterior, o conceito de "pregação teocêntrica" poderia ter sido considerado redundante, uma vez que toda pregação tinha como foco a majestade, glória e obra salvadora de Deus. Contudo, na contemporaneidade, observa-se uma transição dos sermões de uma perspectiva teocêntrica para uma orientação antropocêntrica. Antes de analisar as implicações dessa mudança, torna-se imperativo definir os termos "teocêntrico" e "antropocêntrico" no contexto da pregação.
Conforme a definição de Esteves (1992), "antropocêntrico" caracteriza uma apresentação que coloca o homem ou a mulher como ponto focal. Essa abordagem hermenêutica se reflete na concentração nas reações, lições e exemplos de personagens bíblicos, influenciando, por conseguinte, os sermões a serem centrados no ser humano não apenas na aplicação, mas também na orientação.
Em contraposição, "teocêntrico" refere-se à abordagem interpretativa das Escrituras que direciona o foco para Deus. Essa perspectiva reconhece Deus como a figura central da revelação, destacando Sua obra redentora como a atividade mais significativa registrada na Bíblia (Pereira et al., 2011).
Cardoso (2010), em seu artigo, discerne três tipos de abordagensantropocêntricas na pregação contemporânea. A primeira delas é a pregação terapêutica, onde o pastor concentra-se nas necessidades percebidas pelas pessoas, abordando questões como relacionamentos, estresse, finanças, parentalidade e resolução de conflitos. Contudo, Cardoso (2010) alerta que essa abordagem pode resultar em autoajuda e narcisismo, pois muitas vezes amplia o significado das passagens bíblicas para atender às demandas da alma humana.
Roxburgh e Romanuk (2006) destacam que, nesse modelo, o sermão assemelha-se à cena em que Jesus chama Lázaro da sepultura, porém, em vez de enfocar o poder de Deus, a maior parte da pregação concentra-se em lidar com as dificuldades da vida. Driscoll (2009) aponta cinco características da pregação terapêutica que contradizem o plano original de Deus para o indivíduo, como a falta de ênfase no amor a Deus e ao próximo, a inversão da missão de Deus para a missão pessoal do indivíduo e a utilização da igreja para benefício individual.
A segunda abordagem antropocêntrica é a pregação moralista, que, segundo Cardoso (2010), destaca a aplicação na vida e as etapas práticas para implementação. Piper (2013) defende que os pastores não devem evitar temas cotidianos, mas, ao abordá-los, devem direcionar o foco principalmente para Deus, não apenas para as pessoas. A pregação moralista, conforme Piper (2013), tende a criar moralismo, gerando orgulho para aqueles que seguem as regras e derrotismo para os que não conseguem.
Wilson (2020) identifica duas categorias principais de sermões que transmitem moralismo, nomeadamente, sermões "como fazer" e sermões "biográficos", que utilizam personagens como exemplos morais. Chester e Honeysettl (2021) alertam sobre os perigos de mensagens que incentivam a imitação sem considerar os elevados padrões de Jesus.
Em síntese, a pregação antropocêntrica contemporânea, seja terapêutica ou moralista, apresenta desafios teológicos e hermenêuticos, desviando-se da essência da pregação teocêntrica que enfoca a majestade e a obra de Deus. Essa mudança de perspectiva levanta questões fundamentais sobre a natureza e a qualidade da pregação na atualidade.
A segunda categoria de mensagem "seja", conforme Chester e Honeysettl (2021), é denominada "seja bom", cujo foco recai sobre o comportamento em detrimento das biografias. Esta abordagem, caracterizada por Wilson (2020) como pregação moralista, suscita uma preocupação quanto à falsa suposição gerada nos ouvintes. Os congregados, ao depararem-se com mensagens que enfatizam a bondade, podem erroneamente presumir que a garantia de seu relacionamento com Deus está intrinsecamente vinculada a comportamentos apropriados. Chester e Honeysettl (2021) advertem que, a longo prazo, tais mensagens minam os distintivos cristãos, comprometendo a obra de Deus na santificação.
O terceiro e último tipo de mensagem "seja" identificado por Chester e Honeysettl (2021) é a mensagem "seja disciplinado". Esses sermões instigam os crentes a aprimorar seu relacionamento com Deus por meio do uso diligente dos meios da graça. A ênfase não se restringe meramente ao comportamento moral, mas, conforme Chester e Honeysettl (2021) destacam, incentiva os crentes de maneira mais regular, sincera, prolongada ou metodicamente a praticar disciplinas que supostamente os elevarão a níveis mais elevados de aprovação divina. Vale ressaltar que, embora mensagens "ser" possam ser identificadas na Bíblia, elas estão sempre contextualizadas dentro de um quadro redentor.
A terceira abordagem antropocêntrica é a alegórica, destacada por Silva e Mariano (2023) como o tipo mais comum de pregação centrada no ser humano. Nesse contexto, passagens bíblicas como a tempestade acalmada por Jesus, a história de Davi e Golias, e o milagre do vinho em Caná são frequentemente utilizadas de forma alegórica. Wilson (2020) adverte sobre os perigos associados ao uso impróprio de alegorias na pregação, reconhecendo a ameaça que isso representa à autoridade das Escrituras como registro da autorrevelação de Deus em eventos históricos.
Apesar dos riscos, Wilson (2016) ressalta que a alegoria é mais difundida na Bíblia e na história da interpretação bíblica do que comumente se reconhece. O autor aponta a necessidade de os pregadores distinguirem entre alegorias prejudiciais e benéficas, destacando que negar completamente o papel da alegoria na história interpretativa é impraticável. A resistência a discutir alegorias, segundo Wilson (2016), reflete não apenas temor, mas também falta de compreensão sobre os critérios que distinguem uma alegoria bem fundamentada.
Alegorias, como as mensagens "ser", também são identificadas na Bíblia. Jesus utilizou alegorias ao conferir significados adicionais a certas passagens, seja por meio de parábolas, como a do semeador, a do bom samaritano, ou a da figueira estéril, ou ao citar as Escrituras para indicar seu cumprimento em seu tempo. O cuidado na interpretação adequada das alegorias é destacado por Wilson (2016), que reconhece a existência tanto de alegorias benéficas quanto daquelas que comprometem o sentido histórico-literal.
Portanto, enquanto reconhecemos a presença de boas alegorias na pregação, é crucial abordar sua utilização apropriada, evitando uma abordagem que negue o sentido histórico-literal. A pregação antropocêntrica, embora busque a relevância para a congregação, enfrenta desafios teológicos e não reflete adequadamente as Escrituras. Em contrapartida, os sermões teocêntricos, alinhados com as Escrituras, refletem o caráter e a intenção divina na prática da pregação.
4 O antropocentrismo nos cânticos 
No cenário contemporâneo, surge uma contenda no âmbito das músicas e cânticos, com argumentos que sustentam a viabilidade de empregar qualquer forma de cântico e adoração, desde que acompanhados por palavras. Afirma-se que não existe um princípio universal dominante para regular e controlar a música utilizada nesse contexto (Schaeffer, 2021).
Schaeffer (2021) propõe uma perspectiva cristã que concebe o Cristianismo não como uma coleção de verdades plurais, mas sim como a Verdade com "T" maiúsculo; uma verdade que abrange a totalidade da realidade, transcende o âmbito religioso e serve como sustentáculo intelectual para a vivência à luz dessa verdade. A centralidade da verdade se revela como um elemento fundamental na adoração bíblica.
A influência da verdade na adoração não se limita apenas às palavras, mas se estende também à música. Este entendimento decorre da premissa de que se a Bíblia representa a verdade total, ela abrange todos os aspectos da adoração, não apenas as expressões verbais. O presente contexto eclesiástico enfrenta desafios doutrinários, especialmente em relação ao propósito e função da igreja local, bem como ao papel do ministério pastoral e ao culto coletivo.
É importante notar que a música gospel contemporânea também tem sido percebida por sua capacidade de alcançar e tocar pessoas fora do ambiente eclesiástico, transmitindo o evangelho aos quatro cantos da terra. Além disso, a música é uma forma de expressão artística e cultural, e sua evolução e adaptação fazem parte do desenvolvimento natural da música ao longo do tempo (Benzi e Mildenberg, 2023, p. 15).
A relevância da música na adoração é ressaltada nas Escrituras, onde se destaca sua importância, especialmente em Efésios 5:19, relacionando-a ao enchimento do Espírito Santo. O ensinamento de João 4:25 reforça a necessidade de adorar em Espírito e em verdade, com o termo grego antigo "pneuma" (espírito ou alma) sendo utilizado para denotar o Espírito Santo.
A palavra "pneuma" é empregada em diversos contextos nos Evangelhos, indicando uma conotação instrumental por meio do Espírito, reforçando a ideia de adorar a Deus por intermédio do Espírito. Essa perspectiva se alinha com Efésios 5:18 e 6:18, onde se menciona a oração por meio do Espírito, evidenciando que o Espírito Santo energiza a adoração como parte de Seu ministério santificador na era da igreja. Portanto, a adoração é qualificada em João 4:24 por meio do Espírito e daverdade.
É crucial destacar que a adoração não pode ser definida arbitrária ou subjetivamente, conforme desejado pelo adorador. A crença de que a adoração é determinada pelo coração do adorador e que Deus deve honrar qualquer expressão trazida a Ele é questionada à luz de exemplos bíblicos, como o caso de Caim. A adoração autônoma é rejeitada, enfatizando que a adoração deve ocorrer em comunhão, por meio do Espírito Santo e à luz da verdade, implicando que todos os aspectos da adoração estão sujeitos a um critério abrangente de verdade absoluta.
O cântico "Ressuscita-me", canção conhecida na voz da cantora Aline Barros e composição de Anderson Ricardo Freire, descreve uma narrativa de busca por um milagre divino em meio a situações desafiadoras. Utiliza-se de imagens vívidas, como a referência bíblica a Lázaro, para descrever a profunda necessidade de intervenção de Deus. As palavras e metáforas empregadas criam uma atmosfera visual, destacando a escuridão, a tentativa de sepultar a alegria e a urgência de ver a luz do dia.
No trecho "Remove a minha pedra, Me chama pelo nome", esses versos justificam a necessidade de intervenção divina. A "pedra" simboliza os obstáculos na vida, enquanto o chamado pelo nome representa a individualidade do relacionamento entre o suplicante e Deus. A remoção da pedra é uma metáfora poderosa para a remoção de impedimentos.
Em outro trecho: “Muda a minha história, Ressuscita os meus sonhos", aqui, há uma aspiração por uma transformação profunda. A mudança na história e a ressurreição dos sonhos indicam uma busca por renovação, não apenas de circunstâncias, mas também de perspectivas e esperanças. 
Neste contexto, o cântico apresenta um argumento central em torno da necessidade humana de um milagre divino. O uso repetitivo do pedido enfatiza a intensidade do desejo por uma transformação, enquanto a alusão a Lázaro reforça a crença na capacidade exclusiva de Deus de trazer vida ao que está morto. A argumentação baseia-se na dependência da intervenção divina diante das limitações humanas, refletindo uma teologia da providência e do poder sobrenatural de Deus.
Em outro momento, o compositor declama: "Tu és a própria vida, A força que há em mim, Tu és o filho de Deus, Que me ergue pra vencer". Estes versos justificam a confiança na resposta divina, ancorando-se na natureza de Deus como fonte de vida e força. A referência ao Filho de Deus como aquele que capacita a vitória fortalece a convicção na possibilidade de superação.
"Me chama para fora, Ressuscita-me". Aqui, há uma repetição final, a qual pode ser interpretada como a culminação do pedido, indicando a expectativa da experiência de ressurreição, não apenas como um evento, mas como uma chamada pessoal para emergir de situações desafiadoras.
Destaca-se a progressão lógica que perpassa as estrofes. Inicia-se com uma apresentação da necessidade do milagre, evolui para a invocação do poder divino por meio de referências bíblicas, como o episódio de Lázaro, e culmina na expressão de confiança na resposta divina. A dissertação segue uma estrutura coesa, onde cada parte contribui para a construção do argumento central, revelando uma jornada emocional e espiritual. Assim, o cântico, por meio de uma descrição intensa, argumentação coerente e dissertação progressiva, transmite uma profunda experiência espiritual de busca por renovação e intervenção divina.
O pressuposto básico da música contemporânea é que ela é totalmente utilizável e pode ser utilizada da maneira que o sujeito quer. De acordo com Tindo (2013), os defensores da música cristã contemporânea dizem que você pode falar sobre música boa e música ruim dentro de estilos ou categorias, mas não pode falar sobre música boa versus música ruim. Então o que eles fizeram foi segregar um aspecto da criação de Deus do Seu papel como criador e torná-la independente e autônoma, o que é a base para qualquer tipo de idolatria. 
Quando se pega qualquer aspecto da criação e o separa da revelação de Deus e da autoridade de Deus, é o primeiro passo para estabelecer a idolatria. Assim, é notório que o fato de Jesus dizer que a adoração deve enquadrar-se num padrão absoluto de verdade universal, isso se aplicaria, no mínimo, ao aspecto musical da adoração, e isso vai contra a suposição básica da filosofia da música cristã contemporânea.
Também é possível encontrar esse mesmo pensamento de en pneumati em Efésios 5:18: “E não vos embriagueis com vinho, porque isso é dissipação, mas enchei-vos por meio do Espírito, [19] falando uns com os outros com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e entoando melodias com o coração ao Senhor”. Vemos que o v. 19 está ligado ao enchimento do Espírito. Para permitir que o Espírito Santo tenha esta expressão de adoração nas vidas individuais, isso significa que se deve conhecer os hinos. A vida espiritual tem a ver com pensar, aprender e memorizar coisas, torná-las parte da bagagem intelectual cotidiana.
Assim, é reconhecido que a adoração começa com o indivíduo em termos de estar em comunhão e, em segundo lugar, estende-se à humildade e à orientação para Deus. A segunda coisa é que a adoração inclui os estilos e formas de adoração, incluindo a música, e que isto não é uma questão de gosto pessoal. E terceiro, a música originou-se na mente de Deus.
A letra da música "Canção do Apocalipse", do Ministério Avivah e composta por Jennie Lee Riddle revela uma abordagem cristocêntrica, centrando-se na figura de Jesus Cristo como o Cordeiro digno, santo e poderoso. A narrativa da canção apresenta um retrato teológico e adorativo do Salvador, explorando diversas dimensões de Sua divindade e soberania. 
A referência inicial a Jesus como "Digno é o cordeiro, que foi morto" remete diretamente à simbologia do Cordeiro de Deus, uma imagem recorrente no Novo Testamento, especialmente no livro de Apocalipse. Essa associação conecta-se à ideia da redenção através do sacrifício de Cristo, evidenciando Sua santidade e o ato redentor na cruz.
O "novo cântico" mencionado, entoado ao que se assenta sobre o trono do céu, expressa a magnificência e singularidade de Deus. A repetição do tríplice invocação "Santo, santo, santo" é uma alusão ao louvor celestial descrito em passagens bíblicas, como Isaías 6:3, enfatizando a santidade tripla de Deus.
O trecho "Está vestido do arco-íris, Sons de trovão, luzes, relâmpagos" evoca imagens apocalípticas presentes no livro de Apocalipse, ressaltando a majestade e o poder divino. Esses elementos visuais, associados à experiência teofânica, reforçam a grandiosidade de Deus e a reverência devida a Ele.
A afirmação "Jesus, teu nome é força, É fôlego de vida, Misteriosa água viva" destaca a natureza multifacetada de Jesus, que não apenas é o Cordeiro redentor, mas também a fonte de força, vida e água viva. A alusão à água viva remete à narrativa bíblica, como em João 4:10-14, onde Jesus se apresenta como a fonte de água que jorra para a vida eterna.
A conclusão da música reitera a tríplice invocação "Santo, santo, santo" e declara que Deus é "todo poderoso, Que era, e é, E há de vir". Essa afirmação ressalta a eternidade e a onipotência de Deus, conectando-se novamente à linguagem apocalíptica que descreve o Senhor como aquele que é, que era e que há de vir. Assim, a letra da música constrói uma narrativa robusta e adorativa, revelando uma compreensão teológica centrada em Jesus Cristo como o Cordeiro digno de adoração, o Santo, e o todo poderoso Deus.
Em vista deste cenário comparativo, onde de um lado temos um cântico antropocêntrico (Ressuscita-me) e do outro, um cristocêntrico (Canção do Apocalipse), é possível compreender que a adoração é basicamente como um ato pelo qual o indivíduo subordina e submete cada pensamento, cada aspecto de seu ser na vida à autoridade de Deus e à revelação de Deus sobre si mesmo. Começa com Deus e tem a ver com a atitude individual de submissão à autoridade divina. À medida que o indivíduo se submete à Sua autoridade divina e Deus fala através da Sua Palavra, no processo de Romanos 12:2, o ser humanoestaria se livrando desse ponto de vista humano, quadro de referência cultural mundano, e substituindo-o pelo ponto de vista divino. 
Logo, em primeiro lugar, é possível concluir que os cânticos fazem parte da criação de Deus desde o seu início. Entende-se que, como o criador desde a eternidade passada, a música está na mente de Deus. Passagens como Jó 38, que falam dos anjos cantando juntos de alegria quando Deus lançou os fundamentos da terra. Em segundo lugar, a música é uma parte central da adoração e é resultado do enchimento do Espírito Santo. E terceiro, é possível reconhecer que o cântico, portanto, deve estar em conformidade com a verdade absoluta, o que significa que, como parte da criação de Deus, não é neutra, não é independente da autoridade de Deus ou da Sua Palavra revelada.
5 Adoração em tempos hodiernos e a necessidade do retorno à sã doutrina
A doutrina transcende a mera transmissão de conhecimento; constitui um conjunto específico de preceitos fundamentados na verdade absoluta. Conforme enfatizado por Berkhof (2022), a doutrina representa o que é estabelecido como verídico por um instrutor ou mestre. A fonte primordial da doutrina genuína é a Sagrada Escritura, a qual, ao referir-se à sã doutrina, alude à verdade absoluta delineada por Deus em Sua Palavra. Cristo, como Cabeça da Igreja, confere à sã doutrina sua função axial.
A primazia da doutrina é manifesta na passagem de 2 Timóteo 3:16, que proclama: "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir na justiça…". Neste excerto, ressalta-se a doutrina como o elemento preeminente entre as coisas proveitosas. Ela representa a verdade fundamental da Palavra de Deus, sendo o elemento essencial para o desenvolvimento espiritual e o agente catalisador da transformação.
Nesse contexto, as palavras de Cave (1996) ecoam ao afirmar que as crenças doutrinárias fundamentam nossas convicções, as quais, por sua vez, informam uma visão de mundo, moldando assim as ações cotidianas dos seres humanos. A doutrina, portanto, é um alicerce progressivamente construído por meio de um processo direcionado, permeado por instrução, fé e obediência, seguindo o princípio delineado em Isaías 28:10: "preceito deve ser sobre preceito, preceito sobre preceito; linha sobre linha, linha sobre linha; um pouco aqui, e um pouco ali”. 
À medida que a Verdade da Palavra de Deus é compreendida, assimilada e aplicada, ela engendra gradualmente a formação de um caráter congruente com o de Cristo, como expresso em Hebreus 5:14, onde aqueles que, devido ao constante exercício, têm os sentidos treinados para discernir tanto o bem quanto o mal.
Berkhof (2022) sustenta que a doutrina da salvação pela graça mediante a fé em Cristo confere a bênção da vida eterna. No princípio, Deus proferiu Sua palavra, e instantaneamente a vida se manifestou, assemelhando-se ao segundo nascimento. Quando um indivíduo se arrepende de seus pecados e acolhe Jesus Cristo como Senhor e Salvador, o Espírito, que ressuscitou Cristo dentre os mortos, habita imediatamente e vivifica o espírito do novo crente. Este fenômeno desencadeia uma transformação interior significativa; dois espíritos tornam-se um (1Co 6:17), marcando uma transição sobrenatural da morte espiritual para a vida espiritual.
Neste contexto, a importância da sã doutrina é evidente, uma vez que a fé repousa sobre uma mensagem específica, conforme destacado por Anchieta (1992). Embora o ensino eclesiástico abranja diversos elementos, a mensagem central é precisamente delineada: "Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras" (1 Coríntios 15:3-4). Anchieta (1992) sustenta que essa mensagem detém uma significância fundamental, uma vez que qualquer alteração nela resultaria na mudança da base da fé, transferindo o foco de Cristo para outras instâncias. Assim, o destino eterno do ser humano está intrinsecamente ligado à recepção da palavra da verdade, ou seja, o evangelho da salvação, e à não interferência na comunicação divina com o mundo.
Portanto, a conduta humana emerge como uma extensão da teologia, estabelecendo uma correlação direta entre as convicções e as ações individuais. Ilustrativamente, a crença divergente entre duas pessoas no topo de uma ponte, uma crendo que pode voar e a outra que não, resultará em comportamentos substancialmente distintos. 
Analogamente, a adesão a padrões morais bem definidos por um indivíduo difere notavelmente da postura de outro que não reconhece tal distinção. A lista de pecados na Bíblia abrange desde rebelião e assassinato até mentira e comércio de escravos, culminando com a inclusão de "tudo o que for contrário à sã doutrina" (1 Timóteo 1:9-10). De maneira sucinta, o pecado enraíza-se na oposição à "sã doutrina", enquanto o verdadeiro ensino promove a justiça.
Exorta-se a uma análise minuciosa da vida e da doutrina, ressaltando a necessidade de perseverança, uma vez que tal prática assegura a própria salvação e a daqueles que estão sob influência (1 Timóteo 4:16). Contrastantemente, a doutrina distorcida culmina em destruição, como indicado pelas palavras de Judas 1:4, que alerta sobre a presença de homens ímpios que corrompem a graça divina para justificar a imoralidade, negando a soberania de Jesus Cristo. A modificação da mensagem da graça é classificada como uma ação ímpia, cuja condenação é expressa de forma severa, como evidenciado em Gálatas 1:6-9, proclamando um anátema eterno sobre aqueles que pregam um evangelho distinto.
O amor pela Palavra de Deus, conforme expresso no Salmo 119:165, confere uma profunda paz, e aqueles que proclamam a paz e a salvação são considerados verdadeiramente belos, conforme declarado em Isaías 52:7. Portanto, é imperativo que um pastor se apegue firmemente à mensagem confiável, conforme ensinado, para encorajar outros por meio da sã doutrina e refutar aqueles que se opõem a ela, em conformidade com Tito 1:9.
É relevante ponderar que a orientação contida em Provérbios 22:28 advoga pela preservação do antigo marco estabelecido pelos pais, considerando tal preceito como aplicável à sã doutrina. A lição extraída é a imperatividade de sua preservação integral, evitando qualquer desvio da simplicidade inerente a Cristo, conforme expresso em 2 Coríntios 11:3.
Contudo, constata-se uma proliferação substancial de obras sobre adoração na contemporaneidade. Uma mera pesquisa no Google ou na Amazon revela a vastidão de livros e artigos dedicados à adoração cristã, indicando a amplitude de perspectivas sobre o tema. Segundo Wright (2022), uma parcela considerável da literatura dedicada à adoração, carece de utilidade para os cristãos, notadamente pela ausência de abordagens bíblicas e cristocêntricas. A espiritualidade presente em muitos desses textos, ainda que permeados por referências bíblicas, revela a necessidade premente de uma autêntica teologia bíblica da adoração, evitando assim a superficialidade que se traduz apenas em argumentos de posição.
A obra de Petersen (1991) destaca-se ao interagir com as linguagens bíblicas, empregar retórica teológica e conduzir sua argumentação de maneira acadêmica. O autor identifica razões subjacentes à complexidade da adoração, todas interconectadas organicamente. A contínua divisão gerada pela adoração é apontada como uma questão perene na igreja, manifestando-se sempre que ocorrem reuniões, sendo um tema recorrente em discussões e, consequentemente, propiciando a produção abundante de obras sobre o assunto.
Lamentavelmente, a adoração permanece como uma questão divisiva, não apenas entre denominações, mas também no interior de congregações específicas. Mesmo entre aqueles que aspiram submeter sua teologia e prática à crítica e controle da revelação bíblica, Petersen (1991) destaca a possibilidade de surgirem conflitos significativos entre eles.
O que se destaca nas palavras de Petersen (1991) é a veracidade de sua observação de que mesmo aqueles que desejam alinhar suas práticas de adoração com a Bíbliapodem, paradoxalmente, encontrar-se divididos em suas conclusões. Este fenômeno instiga uma indagação: por que a Bíblia, que deveria ser a autoridade final esclarecedora sobre a adoração na igreja, não é suficiente para mitigar essas divergências? No entanto, conforme assinalado por Peterson (1991), a complexidade subjacente a esse cenário advém da influência de costumes, tradições e preferências que frequentemente condicionam as abordagens à adoração, dificultando a renúncia a essas "vacas sagradas" mesmo quando submetidas à autoridade das Escrituras.
Apesar da proliferação de experiências de adoração contemporâneas, observa-se que os fiéis frequentemente manifestam insatisfação e incerteza em relação ao significado e propósito daquilo que comumente é denominado adoração. A defensiva postura em relação às tradições existentes, bem como a busca incessante por um padrão específico de ministério que agrade ao indivíduo, corroboram a constatação de Petersen (1991).
A centralização no homem, ou antropocentrismo, revela-se como um aspecto preponderante nas disputas intra e interdenominacionais relacionadas à adoração. Muitas vezes, o que é percebido como uma "guerra de adoração" em uma igreja consiste em diferentes grupos de pessoas disputando o controle sobre o estilo musical, os instrumentos utilizados e a quantidade de liturgia adotada. Essas questões, embasadas em preferências individuais e na relutância em ceder em prol da unidade, refletem um enfoque centrado no homem.
Uma questão mais sutil, destacada por Benzi e Mildenberga (2023), está relacionada à má definição da adoração. A falta de uma definição clara nos níveis mais fundamentais contribui para as divergências e mal-entendidos sobre a natureza da adoração. A associação predominante do culto cristão com atividades religiosas públicas, como frequentar a igreja e participar de rituais, contrasta com a subestimação da importância das devoções privadas, conforme observado por Peterson (1991). Esse equívoco subjacente acerca da natureza da adoração manifesta-se nos anseios por experiências subjetivas e sentimentos pessoais durante as reuniões cristãs.
Ryle (2022) levanta questionamentos essenciais sobre a adoração, indagando se esta é, essencialmente, uma experiência ou sentimento, se deve ser identificada com um sentido especial da presença de Deus, êxtase religioso ou expressões de humilhação diante Dele. O autor pondera sobre a possibilidade de momentos específicos durante as reuniões cristãs serem verdadeiros atos de adoração, questionando ainda se os serviços religiosos devem ser avaliados pela capacidade de proporcionar tais experiências aos participantes. Essa abordagem subjetiva, frequentemente evidenciada nos comentários sobre as reuniões cristãs, destoa do ensino bíblico sobre adoração.
Petersen (1991) destaca acertadamente a necessidade de identificáveis atitudes na adoração, ao mesmo tempo que adverte contra a equiparação equivocada entre a autogratificação espiritual e a verdadeira adoração. Adicionalmente, Shedd (2015) ressalta a problemática de todos utilizarem a mesma terminologia, "adoração", enquanto suas concepções e práticas podem diferir substancialmente. Essa ambiguidade terminológica contribui para os mal-entendidos persistentes em torno do conceito de adoração.
Com frequência, a terminologia empregada pelo pregador, como o termo "adoração", é utilizada para formar definições baseadas nas origens etimológicas da palavra. A etimologia de 'adoração', que deriva da noção de 'atribuir valor', tem levado os cristãos a tradicionalmente conceituar a adoração como o ato de render a Deus toda a glória e louvor devido à sua dignidade, conforme embasado em passagens bíblicas como Salmos 96:7-8 e Apocalipse 5:12.
A observação de que certos tipos de adoração no Antigo Testamento eram considerados inaceitáveis para Deus (por exemplo, Gn. 4:3-7; Êx. 32; Is. 1) destaca a subjetividade daquilo que pode ser considerado apropriado ou impressionante para os seres humanos. O Novo Testamento também aponta para a existência de atitudes e atividades que desagradam a Deus, delineando a dualidade de adoração aceitável e inaceitável (Romanos 12:1-2; 14:17-18; Hebreus 12:28-29; 13:16).
Outro desafio na compreensão da adoração, conforme apontado por Shedd (2015), reside em sua abrangência. A adoração é considerada o objetivo primordial de todas as coisas, incorporando todos os temas e ênfases teológicas, pois essencialmente relaciona-se à questão fundamental do relacionamento correto com Deus. Petersen (1991) concorda, destacando que, no Antigo Testamento, as disposições rituais são situadas dentro de um contexto mais amplo de ensinamentos sobre a vida sob a soberania divina, indicando uma teologia do culto que expressa dimensões de uma orientação de vida e relacionamento abrangente com o Deus verdadeiro e vivo.
A visão restrita e habitual da palavra "adoração" é criticada por Petersen (1991), que argumenta que os cristãos contemporâneos muitas vezes limitam sua aplicação a eventos corporativos, negligenciando a abrangência da adoração que permeia todas as esferas da vida. A ênfase de Romanos 12:1 na apresentação do corpo como um sacrifício vivo é destacada como uma expressão de "adoração espiritual" que transcende os limites dos cultos dominicais.
Uma última complexidade na compreensão da adoração, enfatizada por Ryle (2022), é sua natureza dual. A adoração é considerada uma via de mão dupla, e a Bíblia não retrata o homem como objeto de adoração e Deus como sujeito que adora. A definição unidimensional que a considera apenas como resposta humana a Deus é considerada incompleta. De acordo com Petersen (1991) e Shedd (2015), a adoração aceitável sob ambos os pactos envolve a resposta à iniciativa de Deus na salvação e na revelação, de acordo com suas exigências.
A ênfase de Shedd (2015) na incapacidade humana de apresentar qualquer forma de adoração aceitável sem a intervenção divina ressalta a necessidade da graça de Deus para possibilitar uma adoração verdadeira. Em última análise, essas considerações suscitam importantes questões teológicas, como a natureza do conhecimento e abordagem a Deus, o papel de Jesus na perspectiva bíblica e a relação entre atividades na reunião cristã e a adoração na vida cotidiana.
Conclui-se que, segundo Peterson (1991), Shedd (2015), e Ryle (2022), a definição de adoração é intrinsecamente ligada ao evangelho. A compreensão inadequada ou superficial desse elo pode resultar em uma adoração inaceitável e coloca os cristãos em grave risco.
6 Considerações finais
O presente estudo buscou realizar uma reflexão crítica sobre o afastamento da igreja contemporânea da sã doutrina, focalizando a concentração nas questões humanas por meio da composição antropocêntrica nos cânticos e sermões, elementos cruciais na liturgia do culto. Ao analisar a presença do antropocentrismo nas expressões litúrgicas, tornou-se evidente a necessidade urgente de redirecionamento para uma adoração mais alinhada com os princípios bíblicos.
O foco específico nos cânticos e sermões das igrejas evangélicas revelou uma tendência contemporânea preocupante, na qual as mensagens egocêntricas muitas vezes superam a exaltação da glória divina. Vivemos em uma era desafiadora para a prática da pregação. Gradualmente, observa-se que muitos pregadores deslocaram o foco de sua atenção da majestade de Deus e da Sua obra redentora por meio de Jesus Cristo para as necessidades e comportamentos humanos. Essa transição resultou no surgimento do legalismo e na prevalência da pregação antropocêntrica no contexto eclesiástico. Torna-se imperativo, para os pregadores contemporâneos, resgatar a abordagem teocêntrica na pregação.
A potencial nocividade do antropocentrismo no contexto cristão foi delineada, destacando a necessidade de conscientização sobre os impactos negativos dessa abordagem na fé e na genuinidade da adoração. A falta de confronto dessas filosofias no âmbito eclesiástico foi abordada, ressaltando a importância de um retorno à centralidade das sagradas escriturascomo base para uma adoração autêntica.
É essencial que os pregadores conduzam os fiéis para além de uma mentalidade egocêntrica e individualista, apresentando uma perspectiva mais abrangente das Escrituras e de Deus. Acima de tudo, é necessário cultivar nos cristãos um senso de pertencimento e uma dependência total de Deus. 
Ao apontar possíveis soluções para normalizar um culto religioso aceitável à luz das escrituras, reafirmou-se a relevância das Escrituras como norma de fé e prática. O estudo sugere que o restabelecimento da centralidade bíblica nos sermões e cânticos é vital para combater o avanço do antropocentrismo e fortalecer a base teológica da igreja.
Portanto, conclui-se que este trabalho visa incitar uma reflexão contínua sobre a direção da adoração na igreja contemporânea. Ao reconhecer os desafios associados ao antropocentrismo, pretende-se encorajar líderes, membros e estudiosos a buscar uma liturgia que, em sua essência, glorifique a Deus e reafirme os princípios fundamentais da fé cristã.
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