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ISBN 978-65-5821-151-8
9 786558 211518
Código Logístico
I000643
SANEAMENTOSANEAMENTO
SAÚDEe
AMBIENTAL
SANEAMENTOSANEAMENTO
e SAÚDE
AMBIENTALAMBIENTAL
Patricia Bilotta
SAÚDE
Patricia Bilotta
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AMBIENTAL
SAÚDE
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ENTO
SANEAM
ENTO
SAÚDE
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AMBIENTAL
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SANEAM
ENTO
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ENTO
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Patricia Bilotta
Patricia Bilotta
Patricia Bilotta
SAÚDEAMBIENTAL
SAÚDEAMBIENTAL
SAÚDEAMBIENTAL
Saneamento e 
saúde ambiental 
Patricia Bilotta
IESDE BRASIL
2022
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
© 2022 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Anusorn Nakdee/Shutterstock
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
B495s
Bilotta, Patricia
Saneamento e saúde ambiental / Patricia Bilotta. - 1. ed. - Curitiba 
[PR] : IESDE, 2022. 
118 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5821-151-8
1. Saneamento. 2. Saneamento - Aspectos ambientais. 3. Água - Uso. 
I. Título.
22-77929 CDD: 628.5
CDU: 628
Patricia Bilotta Doutora e mestre em Engenharia Hidráulica e 
Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos 
da Universidade de São Paulo (EESC-USP). Especialista 
em Projetos Sustentáveis e de Mitigação das Mudanças 
Climáticas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) 
e em Geoprocessamento pela Pontifícia Universidade 
Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Graduada em 
Química Industrial pela Universidade Federal de São 
Carlos (UFSCar). Professora permanente do Programa 
de Pós-Graduação em Desenvolvimento Local (PPGDL) 
e pesquisadora-membro do Núcleo de Estudos em 
Ecossocioeconomia dos programas de Pós-Graduação 
em Meio Ambiente e Desenvolvimento e em 
Desenvolvimento Territorial Sustentável da UFPR. Atua 
nas seguintes linhas de pesquisa: economia circular 
(água, energia e resíduos); economia de baixo carbono 
(mitigação e gestão de emissões de Gases de Efeito 
Estufa – GEE, estratégias de adaptação às mudanças do 
clima); e nature based solutions (NBS).
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SUMÁRIO
1 Saneamento e saúde 9
1.1 Introdução ao saneamento 9
1.2 Saneamento básico e saneamento ambiental 11
1.3 Doenças de veiculação hídrica 16
1.4 Política Nacional de Saneamento Básico 20
1.5 Saneamento e urbanização 23
2 Controle da poluição hídrica 31
2.1 Instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos 31
2.2 Indicadores de qualidade da água 41
2.3 Parâmetros e limites de qualidade da água 44
3 Sistemas de tratamento de água de abastecimento 52
3.1 Usos múltiplos da água 52
3.2 Tratamento convencional da água 58
3.3 Tratamento avançado da água 62
4 Sistemas de tratamento de efluentes 70
4.1 Origem e características dos efluentes 70
4.2 Tratamento convencional dos efluentes 74
4.3 Tratamento avançado dos efluentes 79
4.4 Reúso de água 84
5 Resíduos sólidos 91
5.1 Introdução aos resíduos sólidos 92
5.2 Origem e classificação dos resíduos sólidos 96
5.3 Tratamento e destinação dos resíduos sólidos 100
5.4 Recuperação de energia e materiais 105
 Resolução das atividades 112
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Esta obra reúne os elementos fundamentais para a 
compreensão da importância do investimento dos municípios 
em saneamento básico, sobretudo em áreas urbanas. O 
texto está organizado em cinco capítulos: i) Saneamento 
e saúde; ii) Controle da poluição hídrica; iii) Sistemas de 
tratamento de água de abastecimento; iv) Sistemas de 
tratamento de efluentes; e v) Resíduos sólidos. O livro trata 
de teoria, conceitos e aplicação de soluções práticas para os 
problemas que envolvem os eixos do saneamento básico e 
traz recomendações de leituras e vídeos que complementam 
o conteúdo abordado no texto.
O primeiro capítulo contextualizará e descreverá os cinco 
eixos do saneamento básico, sua relação com as doenças 
de veiculação hídrica, a poluição ambiental, o processo 
de urbanização e a importância da Política Nacional do 
Saneamento Básico (Lei n. 14.026/2020) na mitigação dos 
impactos ambientais, sociais e econômicos negativos. 
O segundo capítulo discutirá os instrumentos da Política 
Nacional dos Recursos Hídricos (Lei n. 9.433/1997) na gestão 
sustentável das águas brasileiras, apresentará os indicadores 
de avaliação da qualidade dos corpos hídricos superficiais e 
subterrâneos e os limites de acordo com os usos múltiplos. 
O terceiro capítulo descreverá o funcionamento do 
sistema de abastecimento de água e exemplificará algumas 
alternativas de tratamento convencional e avançado. 
O quarto capítulo exporá as principais características das 
águas residuais (esgoto doméstico e efluentes industriais), 
segundo a fonte geradora, retratará os principais aspectos do 
sistema de esgotamento sanitário, as tecnologias de tratamento 
convencional e avançado de efluentes e o reuso de água.
APRESENTAÇÃOVídeo
8 Saneamento e saúde ambiental
Por fim, o quinto capítulo caracterizará a geração de resíduos sólidos 
(origem e classificação) e apresentará as orientações e regulações de 
manejo sustentável (coleta, tratamento, recuperação de energia e de 
materiais e destinação) previstas na Política Nacional dos Resíduos Sólidos 
(Lei n. 12.305/2010).
Ao final do estudo, o aluno será capaz de compreender os problemas 
que resultam da carência de infraestrutura de saneamento básico e suas 
múltiplas dimensões, de conceber as soluções de gestão e tecnologia 
atualmente disponíveis e de entender os instrumentos previstos na 
legislação brasileira, para minimizar os impactos sobre o meio ambiente e 
a saúde humana.
Desejamos que seu estudo seja bastante proveitoso!
Saneamento e saúde 9
1
Saneamento e saúde
Este capítulo trata da importância do saneamento e sua relação com 
as quatro dimensões da Agenda 2030 das Nações Unidas (17 Objetivos 
do Desenvolvimento Sustentável – ODS): ambiental, social, econômica e 
institucional. O conteúdo desta parte está organizado em cinco partes 
que irão abordar o saneamento básico e ambiental; as doenças de vei-
culação hídrica; a política brasileira vigente; e o papel do saneamento no 
processo de urbanização. 
O texto também apresenta conceitos e fundamentação teórica, bem 
como destaca os principais aspectos da legislação brasileira vigente, tra-
zendo dados oficiais sobre o saneamento básico no país. 
Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:
• apresentar e contextualizar os cinco eixos do saneamento básico;
• discutir a diferença entre saneamento básico e saneamento 
ambiental;
• descrever o impacto do saneamento básico na qualidade de vida 
e na saúde humana;
• apresentar os principais aspectos da política nacional de sanea-
mento básico; 
• discutir o papel do saneamento na urbanização.
Objetivos de aprendizagem
1.1 Introdução ao saneamento 
Vídeo
O termo saneamento é definido pela Organização Mundial da Saú-
de (OMS) como o domínio das condições físicas que podem resultar em 
impactos negativos para a saúdefísica, mental e social humana (AMA-
TO-LOURENÇO, 2019). Em outras palavras, há o reconhecimento de que 
o saneamento contempla um conjunto de ações socioeconômicas com 
10 Saneamento e saúde ambiental
o objetivo de assegurar a salubridade ambiental, pois, assim, pode-se 
minimizar o impacto dos fatores físicos na qualidade de vida humana.
O conceito de salubridade ambiental, por sua vez, é compreendido 
como a “qualidade ambiental capaz de prevenir doenças, que são veicula-
das pelo meio ambiente, e de aperfeiçoar as condições favoráveis à saúde 
da população urbana e rural” (VALVASSORI; ALEXANDRE, 2012, p. 2). 
Portanto, pode-se concluir que esses dois conceitos se sobrepõem 
exatamente na dimensão socioambiental, reforçando a importância da 
qualidade das relações diretas e indiretas existentes entre o ser huma-
no e o meio ambiente onde ele está inserido. 
Nesse sentido, o saneamento – com vistas à salubridade ambiental 
– pode ser entendido como um instrumento de promoção da saúde da 
população, seja no meio urbano ou rural, com impacto também na eco-
nomia, pois estima-se que cada R$ 1,00 investido no setor de saneamen-
to reduz em R$ 4,00 os gastos com a medicina curativa (BRASIL, 2004).
Sob uma perspectiva integradora da saúde pública, o saneamento 
da qualidade ambiental e da sustentabilidade econômica pode ser en-
tendido em sua plenitude por meio dos 17 objetivos (ODS) da Agenda 
2030 das Nações Unidas (Figura 1).
Erradicação 
da pobreza 
energia limpa 
e acessível 
ação contra 
a mudança 
global do clima 
saúde e 
bem-estar 
indústria, 
inovação e 
infraestrutura 
vida terrestre 
igualdade de 
gênero 
cidades e 
comunidades 
sustentáveis 
parcerias 
e meios de 
implementação 
Fome zero e 
agricultura 
sustentável 
trabalho decente 
e crescimento 
econômico 
vida na água 
educação de 
qualidade
redução das 
desigualdades 
paz, justiça e 
instituições 
eficazes 
água potável e 
saneamento 
consumo e 
produção 
sustentáveis 
Figura 1
17 objetivos da Agenda 2030 
Fonte: ONU, 2022.
Assista ao vídeo O que são 
os Objetivos de Desenvolvi-
mento Sustentável da ONU?, 
do canal ONU Brasil, para 
entender melhor quais 
são os 17 ODS da Agenda 
2030, por que eles são 
importantes para o desen-
volvimento sustentável e 
como o saneamento está 
inserido nesse assunto. 
Disponível em: https://www. 
youtube.com/watch?v=u2K0F 
f6bzZ4. Acesso em: 7 abr. 2022.
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=u2K0Ff6bzZ4
https://www.youtube.com/watch?v=u2K0Ff6bzZ4
https://www.youtube.com/watch?v=u2K0Ff6bzZ4
Saneamento e saúde 11
1.2 Saneamento básico e saneamento ambiental 
Vídeo
Os conceitos de saneamento básico e saneamento ambiental 
são, muitas vezes, tratados como sinônimos, entretanto isso é um 
grande engano. 
As ações contempladas na esfera do saneamento básico se restrin-
gem a um número bastante reduzido de intervenções físicas conside-
radas indispensáveis (básicas) para minimizar o impacto dos fatores 
ambientais sobre a saúde humana. Essas ações englobam um conjun-
to de serviços públicos, de infraestrutura e de instalações 
operacionais que se concentram em cinco eixos de atua-
ção, como vemos na Figura 2: 
Já o saneamento ambiental, por outro lado, é um con-
ceito muito mais complexo e abrangente. Ele envolve um 
amplo leque de serviços direcionados para diferentes 
setores da sociedade, cujos benefícios são sentidos in-
tensivamente pela população, seja de maneira direta ou 
indireta. 
Sendo assim, os serviços destinados à promoção do sa-
neamento ambiental, apesar de englobarem os mesmos 
serviços do saneamento básico, vão muito além das ações 
simplificadas. Esses serviços demandam infraestrutura físi-
ca, educacional, legal e institucional (SOARES; BERNARDES; 
CORDEIRO NETTO, 2002). Em outras palavras, o saneamen-
to ambiental se destina a alcançar o estado de salubridade 
ambiental (AMATO-LOURENÇO, 2019). O Quadro 1 compa-
ra o nível de abrangência de cada conceito.
Figura 2
Eixos de atuação
água 
potável; águas 
residuais; 
resíduos 
sólidos; 
drenagem 
urbana; 
limpeza pública. 
Fe
el
pl
us
Cr
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r/
Sh
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rs
to
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Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 2020a.
As ações previstas nesses objetivos têm como finalidade “acabar 
com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que 
as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de pros-
peridade” (ONU, 2022). E o saneamento vem de encontro com essas 
orientações, pois compreende um conjunto de práticas que tem como 
objetivo proporcionar condições ambientais favoráveis para o pleno 
desenvolvimento da sociedade humana.
12 Saneamento e saúde ambiental
Quadro 1
Saneamento básico e ambiental: serviços
Saneamento básico Saneamento ambiental
 • Abastecimento de água, com garan-
tia de qualidade à saúde humana e em 
quantidade suficiente para as demandas 
básicas de conforto.
 • Coleta, tratamento e disposição ade-
quada e segura de águas residuárias 
(efluentes domésticos, industriais e agrí-
colas).
 • Conservação, coleta, tratamento e des-
tinação de resíduos sólidos (domésticos, 
industriais, agrícolas, comerciais, de lim-
peza pública).
 • Coleta de águas pluviais e controle de 
inundações e alagamentos.
 • Limpeza de vias públicas.
 • Abastecimento de água, com garan-
tia de qualidade à saúde humana e em 
quantidade suficiente para as demandas 
básicas de conforto.
 • Coleta, tratamento e disposição 
adequada e segura de águas residuais 
(efluentes domésticos, industriais e agrí-
colas).
 • Conservação, coleta, tratamento e des-
tinação de resíduos sólidos (domésticos, 
industriais, agrícolas, comerciais, de lim-
peza pública).
 • Coleta de águas pluviais e controle de 
inundações e alagamentos.
 • Limpeza de vias públicas.
 • Controle de vetores de transmissão de 
doenças (insetos, roedores etc.).
 • Segurança alimentar (qualidade e 
quantidade).
 • Saneamento dos meios de transporte.
 • Saneamento e planejamento territo-
rial.
 • Saneamento habitacional, laboral, 
educacional, recreativo e dos serviços de 
saúde.
 • Controle da poluição ambiental (água, 
ar, solo, acústica, visual).
Fonte: Adaptada de Amato-Lourenço, 2019.
Embora as ações na esfera do saneamento ambiental tragam, sem 
dúvida, muito mais benefícios sociais, ambientais e econômicos para a 
sociedade, sua implantação, entretanto, depende de recursos (tecnoló-
gicos, orçamentários, profissionais capacitados, políticas públicas e ca-
pacidade gestora) que a absoluta maioria dos municípios não dispõem 
(AMATO-LOURENÇO, 2019). Por isso, o saneamento básico é a solução 
indicada para promover a salubridade ambiental.
Ainda assim, a situação do saneamento básico no cenário brasileiro 
é muito precária, segundo o relatório do Sistema Nacional de Infor-
mações sobre Saneamento (SNIS), órgão subordinado ao Ministério do 
Desenvolvimento Regional (MDR) (BRASIL, 2020b). 
Faça o levantamento de 
informações a respeito 
da situação do abaste-
cimento de água e da 
coleta e tratamento de 
esgoto do município em 
que você vive, por meio 
de uma consulta à base 
de dados do SNIS (http://
www.snis.gov.br/). Analise 
os resultados, compare-
-os com os dados do ce-
nário nacional e observe 
as informações obtidas.
Desafio
Saneamento e saúde 13
A Figura 3 destaca os principais dados da realidade atual, com dados 
que se referem ao percentual de serviços realizados nos municípios.
Figura 3
Panorama do saneamento básico no Brasil
Rede de 
abastecimento 
de água potável: 
84,1%
Rede coletora de 
esgoto: 55%
Tratamento do 
esgoto coletado: 
50,8%
Coleta de resíduos 
sólidos urbanos: 90,5%
Coleta seletiva dos 
resíduos sólidos 
urbanos: 36,3%
Resíduos sólidos 
domésticos destinados 
a lixões: 14,6%
Resíduos sólidos 
domésticos 
destinados a 
aterro sanitário: 
73,8% Infraestrutura exclusiva 
para drenagem urbana 
de água da chuva: 
45,3%Gestão 
municipal de 
risco hidrológico 
(enchentes e 
inundações): 
28,8%
>50% da população 
residente em áreas de 
risco de inundação:18 
municípios
Sistema de 
alerta de risco 
hidrológico 
(chuvas intensas): 
15,1%
Mapeamento de áreas 
de risco (deslizamento, 
desmoronamento etc.): 
67,7%
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te
rs
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ck
Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 2020b.
Essas informações mostram um cenário bastante preocupante, com 
graves consequências para a saúde coletiva. Os principais destaques no 
relatório do SNIS são os seguintes: apenas 25% da população brasileira, 
aproximadamente, tem acesso a serviços de coleta e tratamento de esgo-
14 Saneamento e saúde ambiental
to doméstico (50% do que é coletado pela rede é tratado, o que correspon-
de a cerca de 25% do total geral de esgoto produzido no país); somente 
28,8% dos municípios possuem um plano de gestão de risco de enchentes 
e inundações; e 26,2% do lixo urbano coletado (soma dos lixões e dos ater-
ros controlados) é destinado para lixões ou aterros controlados. Os piores 
resultados municipais para infraestrutura de esgotamento e destinação 
de resíduos estão nas regiões Norte e Nordeste.
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População total 
atendida com coleta 
domiciliar 190,9 milhões
População total 
atendida 
114,6 milhões
Investimentos em sistemas de esgoto Municípios 
com cobrança
Despesas Totais
R$25,25 bilhões
R$141,22/hab
Custos cobertos 
pela cobrança
1.851
56,5%
1.851
2019
R$5,33 bilhões R$5,89 bilhões
2020
13,1% 
Norte
80,7% 
Norte
30,3% 
Nordeste
83,1% 
Nordeste
80,5% 
Suldeste
96,1% 
Suldeste
47,4% 
Sul
91,5% 
Sul
59,5% 
Centro-Oeste
91,3% 
Centro-Oeste
Figura 4
Coleta de esgoto e de resíduos sólidos por região brasileira
Fonte: Adaptada de Brasil, 2020b.
A B
O esgoto sanitário é uma das principais fontes de disseminação de 
doenças humanas e de poluição dos cursos de águas superficiais (rios, 
riachos, lagos etc.) e águas subterrâneas (lençóis freáticos e poços arte-
sianos) (FORESTI, 2012). 
A Figura 4 apresenta dados da Agência Nacional de Águas e Sanea-
mento Básico (ANA) sobre o panorama da capacidade dos corpos hídri-
cos do país diluírem esgotos municipais. Os resultados desses dados 
sinalizam que a maioria dos cursos d’água do Brasil se enquadram na 
categoria ruim ou nula para diluição de esgoto (ANA, 2017). 
Portanto, o lançamento de esgoto bruto nesses corpos hídricos deve 
resultar em um grave impacto ambiental e na perda da capacidade de 
atendimento da demanda por abastecimento de água potável da re-
gião, devido ao comprometimento da qualidade da água.
Mapa A – Índice de 
atendimento total de esgoto. 
Mapa B – Índice total de coleta 
de resíduos sólidos urbanos.
Saneamento e saúde 15
Figura 5
Capacidade de diluição de esgotos municipais
Fonte: ANA, 2017.
Os lixões são áreas totalmente inadequadas para descartar resí-
duos sólidos porque essas áreas não possuem qualquer infraestrutura 
de controle e manejo do material ali depositado. 
Esse tipo de alternativa, ainda utilizada por muitos municípios bra-
sileiros, traz diversos impactos negativos para a saúde da população 
(transmissão de várias doenças; proliferação de insetos, roedores e 
aves indesejadas; e maus odores) e para a qualidade ambiental (con-
taminação do solo; poluição dos lençóis freáticos e poços artesianos; 
desvalorização imobiliária da região; e poluição visual). 
16 Saneamento e saúde ambiental
A solução recomendada é a coleta seletiva dos 
resíduos sólidos, a recuperação de materiais que 
têm valor econômico (como papel, papelão, plástico, 
vidro e alumínio) e a destinação dos resíduos orgâ-
nicos para aterros sanitários com infraestrutura de 
recuperação de energia, isto é, produção de biogás 
por meio da decomposição biológica dos compostos 
orgânicos (SOUTO; POVINELLI, 2012).
A drenagem urbana é outra medida de sanea-
mento básico muito importante para promover a 
saúde humana e ambiental. Chuvas intensas po-
dem provocar inundações, alagamentos, erosão e 
assoreamento, e esses fenômenos causam vários prejuízos, como mor-
tes e perda de bens materiais (por enchentes), transmissão de doenças 
de veiculação hídrica (como a leptospirose), danos e estragos em in-
fraestruturas urbanas (parques, asfalto, calçamento, sinalização, pon-
tes etc.), tendo maior impacto sobre a população residente em áreas 
mais vulneráveis. 
Portanto, obras de engenharia são recomendadas (reservatórios 
subterrâneos, galerias e canais de água de chuva etc.) a fim de favorecer 
o escoamento da água em dias de intensa precipitação (CHRISTOFIDIS; 
ASSUMPÇÃO; KLIGERMAN, 2019).
1.3 Doenças de veiculação hídrica 
Vídeo
Cerca de 15 mil mortes, além de 350 mil internamentos, são regis-
tradas anualmente no Brasil em razão da precariedade dos serviços 
de saneamento básico, e as crianças são as mais vulneráveis (84%), 
segundo as Nações Unidas (LEMOS, 2020). Essa lamentável realidade 
é o resultado do panorama precário de atendimento dos serviços de 
saneamento básico (água, esgoto, resíduos, drenagem, limpeza públi-
ca) prestados pelos municípios brasileiros, sendo as regiões Norte e 
Nordeste as mais impactadas por esse problema.
O Quadro 2 destaca as doenças predominantes causadas pelo con-
tato direto (consumo) ou indireto (utilização na preparação de alimen-
tos e atividades diárias) com águas contaminadas. A diarreia aguda é a 
principal doença responsável por morbimortalidades no Brasil e em 
morbimortalidade: 
relação entre casos de 
enfermidade/morte e 
número de habitantes em 
um lugar e momento.
Glossário
Dm
ytro Falkowskyi/Shutterstock
Saneamento e saúde 17
países subdesenvolvidos e a transmissão também ocorre pelo contato com um indivíduo 
doente (BRASIL, 2010).
Quadro 2
Doenças de veiculação hídrica
Doenças Origem/consequência
Diarreia aguda
 • Ausência ou precariedade no sistema de esgotamento sanitário (precariedade nos 
serviços de saneamento básico).
 • Consumo de água contaminada.
 • Falta de higiene adequada (corporal, domiciliar, laboral).
 • Fonte: a) bactérias (staphylococcus aureus, campylobacter jejuni, escherichia coli 
enterotoxigênica, escherichia coli enteropatogênica, escherichia coli enteroinvasiva, 
escherichia coli enterohemorrágica, salmonella, shigella dysenteriae, yersinia 
enterocolitica, vibrio cholerae); b) vírus (astrovírus, calicivírus, adenovírus entérico, 
norovírus, rotavírus); c) parasitas (entamoeba histolytica, cryptosporidium, balantidium 
coli, giardia lamblia, isospora belli).
Cólera
 • Ingestão de água contaminada por esgoto sanitário (precariedade nos serviços de 
saneamento básico).
 • Consumo de alimentos preparados ou produzidos com água contaminada (exem-
plos: irrigação de verduras, moluscos e crustáceos).
 • Falta de higiene adequada (corporal, domiciliar, laboral).
Febre tifoide
 • Ingestão de água contaminada por esgoto sanitário (precariedade nos serviços de 
saneamento básico).
 • Consumo de alimentos preparados ou produzidos com água contaminada (exem-
plos: irrigação de verduras, moluscos e crustáceos).
 • Falta de higiene adequada (corporal, domiciliar, laboral).
Verminoses
 • Ingestão de água contaminada por esgoto sanitário (precariedade nos serviços de 
saneamento básico).
 • Consumo de alimentos preparados ou produzidos com água contaminada (exem-
plos: irrigação de verduras, moluscos e crustáceos).
 • Falta de higiene adequada (corporal, domiciliar, laboral).
 • Fonte: parasitas (amebíase, giardíase).
Hepatite A
 • Ingestão de água contaminada por esgoto sanitário (precariedade nos serviços de 
saneamento básico).
 • Consumo de alimentos preparados ou produzidos com água contaminada (exem-
plos: irrigação de verduras, moluscos e crustáceos).
 • Falta de higiene adequada (corporal, domiciliar, laboral).
Leptospirose
 • Ingestão de água contaminada por enchentes (precariedade nos serviços de sanea-
mento básico).
 • Contato com esgoto sanitário lançado em rios e lagos sem tratamento adequado.
 • Contato com animais contaminados (doentes).
 •Consumo de alimentos preparados ou produzidos com água contaminada (exem-
plos: irrigação de verduras, moluscos e crustáceos).
 • Falta de higiene adequada (corporal, domiciliar, laboral).
 • Fonte: urina de rato (transmissão por via cutânea).
Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil, 2010.
18 Saneamento e saúde ambiental
Entre as formas de contaminação, o esgoto sanitário é a principal 
fonte de disseminação de doenças por veiculação hídrica. Isso ocorre 
nos casos de ausência de serviços municipais de esgotamento sanitário 
(coleta, transporte e tratamento de esgoto) ou mesmo quando as insta-
lações existentes são precárias e não operam adequadamente. 
O efluente sanitário contém uma grande diversidade e elevada con-
centração de microrganismos patogênicos (bactérias, vírus, protozoá-
rios, vírus e helmintos) expelidos nas fezes de indivíduos doentes. Se 
esses microrganismos não são eliminados corretamente por alguma 
técnica de desinfecção – como a cloração em uma estação de trata-
mento de esgoto – eles se tornam fonte de contaminação de indivíduos 
saudáveis que tiveram contato com o esgoto, por exemplo, crianças 
brincando nos arredores de locais onde o esgoto é despejado no solo, 
a céu aberto (DANIEL, 2012).
A contaminação pode ocorrer também de modo indireto, geralmen-
te de maneira imperceptível. Por exemplo, esgoto lançado no rio ou 
no solo, sem tratamento adequado, pode provocar a contaminação de 
fontes de água potável (poços artesianos e lençóis freáticos). Isso re-
sulta na alteração e no comprometimento da qualidade da água dos 
reservatórios naturais e põe em risco a saúde da população que utiliza 
a água desses locais para suas atividades diárias (higiene, alimentação, 
dessedentação, recreação etc.) (DANIEL, 2012).
Da mesma forma, o consumo e a produção de alimentos irriga-
dos com água contaminada por esgoto também podem acarretar 
enfermidades graves para o consumidor e para os produtores agrí-
colas e seus familiares. A OMS estabelece medidas para a aplicação 
segura de esgoto no cultivo de determinadas culturas (WHO, 2006). 
No Brasil, a Resolução n. 498/2020 define critérios e condições para 
o uso de lodo de estação de tratamento de esgoto como fertilizante 
para o solo (BRASIL, 2020c).
A Figura 6 descreve o mecanismo de disseminação de doenças por 
veiculação hídrica.
Para aprofundar o 
conhecimento nesse 
assunto, é recomendado 
assistir ao vídeo Doenças 
veiculadas pela água, do 
canal Mais ciências – 
Profa. Rafaela Lima. 
Disponível em: https://www. 
youtube.com/watch?v=RBB8p 
0RbNQE. Acesso em: 9 maio 2022. 
Vídeo
dessedentação: matar a 
sede de alguém, de algo 
ou de si próprio.
Glossário
https://www.youtube.com/watch?v=RBB8p0RbNQE
https://www.youtube.com/watch?v=RBB8p0RbNQE
https://www.youtube.com/watch?v=RBB8p0RbNQE
Saneamento e saúde 19
Excretas
(esgoto sanitário)
Mãos Vetores Água
Alimentos
Boca/Pele
Doença
Figura 6
Transmissão de doenças por veiculação hídrica
Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 2004.
Solo
Para evitar o contágio e a transmissão de doenças por veiculação 
hídrica, são recomendadas as seguintes medidas: 
 • Utilizar sempre água encanada, água fervida ou filtrada (caso o 
município não disponha de rede de abastecimento de água), ou 
água mineral (envazada). 
 • Nunca consumir água bruta de procedência desconhecida (rio, 
mina, poço etc.).
 • Evitar o contato com água de enchentes e alagamentos (pode ha-
ver contaminação por esgoto lançado irregularmente). 
 • Utilizar corretamente a rede coletora de esgoto (água de chuva 
não pode ser lançada na rede de esgoto) e se a residência não é 
atendida por esse serviço, utilizar sistema de tanque séptico.
 • Dar a destinação correta para os resíduos sólidos.
Além disso, algumas práticas cotidianas são muito importantes, 
como lavar bem os alimentos com água filtrada antes de consumi-los e 
sempre ter hábitos de higiene pessoal (banhos regulares, limpeza bucal 
etc.) e domiciliar (higienização da residência).
20 Saneamento e saúde ambiental
1.4 Política Nacional de Saneamento Básico 
Vídeo
A Lei n. 14.026, publicada em 2020 pela Secretaria Geral da Presidên-
cia da República, atualiza o marco legal do saneamento básico no Brasil 
e traz alterações em alguns aspectos da lei anterior (Lei n. 9.984/2000). 
Um ponto bastante polêmico na Lei n. 14.026/2020 é, sem dúvida, 
a abertura dos serviços de saneamento básico para empresas priva-
das. Essa estratégia tem o objetivo de atrair maior investimento para o 
setor com recursos financeiros privados (BRASIL, 2020a). Porém, a mu-
dança na legislação brasileira tem gerado muita preocupação e dúvida 
com relação ao impacto no valor da tarifa de água e esgoto (TEMÓTEO; 
ANDRETTA, 2020) além de que parte das companhias de saneamento, 
as quais atuam no país há décadas e são estatais ou empresas de eco-
nomia mista, protestam contra essa legislação.
O novo marco do saneamento básico aprova a criação de mecanis-
mos legais e administrativos que facilitam a entrada de empresas pri-
vadas no setor, mas esse marco também gera vários obstáculos para a 
participação de empresas públicas na livre concorrência a fim de prestar 
serviços aos municípios, entre outras determinações (BRASIL, 2020a). A 
seguir, resume-se os principais pontos da atualização do novo marco le-
gal do saneamento básico brasileiro (BRASIL, 2020a; VERDÉLIO, 2020).
• Objetivo: universalização do saneamento básico até 31 de dezembro de 
2033.
• Meta: atendimento nacional de 99% da população com abastecimento 
de água potável; 90% na cobertura dos serviços de coleta e tratamento 
de esgoto até 2033 (com possibilidade de prorrogação desse prazo até 
2040, se comprovada a inviabilidade técnica ou financeira).
• Investimento previsto em 13 anos: aproximadamente R$ 700 bilhões.
• Abertura para consórcios participarem nos editais de contratação de ser-
viços de saneamento básico, com o objetivo de viabilizar os serviços nos 
municípios de menor capacidade técnica e financeira, e reduzir custos 
(plano regional de saneamento básico). “Pode ser estruturado por regiões 
metropolitanas, por unidades regionais, instituídas pelos estados e cons-
tituídas por municípios não necessariamente limítrofes, e por blocos de 
Para aprofundar o conhe-
cimento nesse assunto, é 
recomendado assistir ao 
vídeo Webinar ANA – O Novo 
Marco Legal do Saneamento, 
do canal AnaGovBr.
Disponível em: https://www. 
youtube.com/watch?v=Lamzmo2_ 
1SQ. Acesso em: 9 maio. 2022.
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=Lamzmo2_1SQ
https://www.youtube.com/watch?v=Lamzmo2_1SQ
https://www.youtube.com/watch?v=Lamzmo2_1SQ
Saneamento e saúde 21
referência criados pelos municípios de forma voluntária para gestão asso-
ciada dos serviços” (VERDÉLIO, 2020).
• Obrigatoriedade de conter em contrato informações sobre as metas pro-
gressivas e graduais e o cronograma para o atendimento dos serviços 
prestados (isto é, apresentar as condições para expansão dos serviços 
e sua qualidade), além de descrever as fontes de receitas (por exemplo, 
fundos internacionais, recursos privados etc.) e os critérios de divisão de 
riscos (entre usuários, empresas de saneamento e municípios).
• Contratos em andamento podem ser mantidos se as empresas presta-
doras dos serviços contratados comprovarem sua capacidade econômi-
ca e financeira para atender à meta de universalização da nova lei até 
2033 (99% da população com abastecimento de água potável, 90% na 
cobertura dos serviços de coleta e tratamento de esgoto).
• Obrigatoriedade de conter em contrato as metas para o controle de per-
das na distribuição de água tratada (rede de abastecimento de água dos 
municípios), “da qualidade, da eficiência, uso racional da água, da ener-
gia e de outros recursos naturais” (BRASIL, 2020a).
• Estabelece vários critérios para a licitação e a contratação de serviços.
• Planos municipais de saneamento podem ser elaborados com base em 
estudos realizados pelos prestadores de serviço, mas devem ser compa-
tíveiscom os planos das bacias hidrográficas e os planos diretores dos 
municípios participantes. 
• “As taxas ou as tarifas decorrentes da prestação de serviço de limpeza 
urbana e de manejo de resíduos sólidos considerarão a destinação ade-
quada dos resíduos coletados e o nível de renda da população da área 
atendida, de forma isolada ou combinada, e poderão, ainda, considerar 
as características dos lotes e as áreas que podem ser neles edificadas, o 
consumo de água e a frequência de coleta” (BRASIL, 2020a).
• Estabelece cronograma para a disposição ambientalmente correta dos 
resíduos sólidos urbanos para os municípios que possuem plano inter-
municipal ou integrado de gestão de resíduos (de acordo com o número 
de habitantes e características geopolíticas).
• Empresas públicas que atuam na área de saneamento básico não po-
dem mais ser contratadas diretamente pelo município para prestar ser-
viços - agora é necessário realizar licitação com a livre concorrência, 
inclusive com a participação de empresas privadas.
22 Saneamento e saúde ambiental
Em teoria, o objetivo do novo marco legal do saneamento básico 
brasileiro é viabilizar a universalização dos serviços (água, esgoto, re-
síduo, drenagem e limpeza pública) até 2033, por meio da entrada de 
recursos vindos de empresas privadas, reduzindo os gastos públicos 
com o setor, caso o Estado fosse obrigado a arcar com o investimento 
necessário para alcançar a meta. 
Outro ponto a ser destacado no novo marco do saneamento é a quali-
dade dos serviços. Com a implantação dos critérios estabelecidos na Lei n. 
14.026/2020, espera-se serviços de melhor qualidade. Por exemplo, o for-
necimento de água com regularidade e em quantidade adequada, o lan-
çamento de efluentes tratados condizentes com os critérios da legislação 
ambiental (redução de impacto nos corpos hídricos por contaminação de 
águas residuais), a minimização de perda de água tratada na rede de abas-
tecimento (atualmente estima-se perda superior a 40%) (BRASIL, 2020b).
Porém, os críticos da nova lei afirmam que a privatização do se-
tor de saneamento deve trazer mais prejuízos do que benefícios, por 
exemplo, pode encarecer os serviços prestados (água, esgoto, resíduos, 
drenagem urbana e limpeza pública), recaindo o ônus na população. 
Nesse caso, o Estado deixará de subsidiar e destinar recursos da União 
para os municípios, e, desse modo, regiões periféricas podem nunca 
ser atendidas, pois não são economicamente atrativas para empresas 
privadas, visto que há baixo retorno do investimento. Os municípios e 
a agência reguladora (ANA) não dispõem de corpo técnico suficiente 
para fiscalizar a qualidade dos serviços prestados, entre outros pontos 
apontados como fragilidades da nova lei.
Entende-se iniciativa privada no setor como sendo a economia mis-
ta público-privada. Atualmente “6% das cidades são atendidas pela ini-
ciativa privada, como nos mostra Temóteo; Andretta (2020). Nas outras 
94%, o serviço é feito por companhias estaduais ou municipais, com 
ajuda do governo federal. Apesar dessa diferença, as empresas priva-
das respondem por 20% de todo investimento no setor”. 
Com a Lei n. 14.026/2020, a ANA passa a atuar ativamente nas nor-
mas de regulação desses serviços de saneamento nos municípios do 
país (BRASIL, 2020a). 
A seguir, destaca-se as principais atribuições administrativas e re-
guladoras da ANA diante do novo marco legal do saneamento básico 
brasileiro (BRASIL, 2020d).
Saneamento e saúde 23
• Definir parâmetros de fiscalização do atendimento das metas.
• Estabelecer indicadores de avaliação da potabilidade da água.
• Criar critérios de composição de custos pagos pelos usuários finais 
pelos serviços prestados.
• Elaborar mecanismos de subsídios para usuários de baixa renda e 
de compartilhamento de ganhos de produtividade empresarial com 
os usuários.
• Avaliar práticas regulatórias.
• Realizar consultas e audiências com a representação de atores públi-
cos municipais e entidades reguladoras/fiscalizadoras dos serviços 
de saneamento básico.
• Declarar situação de escassez hídrica nos rios de domínio da União 
quando detectado risco por alteração da qualidade ou quantidade de 
água disponível para abastecimento dos municípios.
• Definir regras para o reuso de efluente sanitário tratado.
• Fiscalizar a execução das regras de uso da água para as múltiplas 
finalidades quando declarada situação de escassez.
• Elaborar o novo Plano Nacional de Saneamento Básico com ações, 
objetivos e metas.
• Estabelecer normas e metas para a troca de sistemas unitários (tanque 
séptico) pelo modelo separador absoluto (redes coletoras de esgoto 
sanitário).
Em resumo, a ANA passa a assumir atribuições de regulação das 
normas que se referem ao saneamento básico no território brasileiro.
1.5 Saneamento e urbanização 
Vídeo
Conforme já discutido anteriormente, existe uma forte inter-relação 
entre o saneamento, a saúde pública e a qualidade ambiental. Assim, o 
saneamento deve estar intensivamente presente no processo de urba-
nização de um município.
24 Saneamento e saúde ambiental
Nesse sentido, deve-se analisar essas questões de maneira integra-
da para construir soluções eficientes e sustentáveis, e isso aponta inevi-
tavelmente para a escala municipal-urbana, pois é ali que se concentra 
a maioria da população do país. Segundo levantamento realizado pelo 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 84,7% da população 
brasileira vive nas cidades, sendo o Sudeste a região com o maior per-
centual (93%) e o Nordeste com o menor percentual (73%) (IBGE, 2015). 
Paralelo a isso, tem-se o fato de que a situação atual do saneamento bá-
sico nos municípios brasileiros é bastante preocupante na esfera urbana, 
como mostram os dados oficiais do último relatório do SNIS (Figura 7). 
Figura 7
Situação do saneamento básico nas cidades brasileiras
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97,2 milhões de 
pessoas não são 
atendidas em suas 
residências por 
coleta e tratamento 
de esgoto sanitário.
153,6 milhões de pessoas têm acesso ao sistema 
de coleta de esgoto (redes), porém o esgoto 
coletado é despejado, sem qualquer tratamento, 
em rios, lagos, reservatórios de água etc., ou no 
solo (isso representa cerca de 30,7 milhões de 
m3 de esgoto bruto por dia).
36,3 milhões 
de pessoas não 
recebem água 
tratada.
20,8 milhões de pessoas não têm coleta 
domiciliar de resíduos sólidos.
9,8 milhões de 
toneladas de 
resíduos por ano são 
destinados a lixões 
pelo país.
71,4% dos municípios brasileiros não têm redes 
ou canais para escoamento de água de chuva.
218,4 mil pessoas 
foram desabrigadas 
por eventos 
hidrológicos.
Apenas 30,4% das cidades brasileiras possuem 
um plano municipal de saneamento básico 
(previsto na Lei n. 11.445/2007).
Apenas 35,6% dos 
municípios são 
pavimentados.
Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 2020b; Amato-Lourenço, 2019. 
O saneamento básico é um problema histórico no país. As cidades 
brasileiras cresceram e se desenvolveram de modo desarticulado – isto 
é, sem planejamento – e a infraestrutura sanitária implantada no passa-
Saneamento e saúde 25
do para atender às necessidades da população não foram efetivas. Isso 
resultou em problemas ambientais e sociais sentidos ainda nos dias 
de hoje, relacionados à carência de sistemas eficientes de saneamento 
básico. O “processo de urbanização acelerado tornou inadequada a in-
fraestrutura das cidades, sendo os efeitos sentidos no abastecimento 
de água, transporte e tratamento de esgoto doméstico, drenagem ur-
bana e controle de cheias” (VALVASSORI; ALEXANDRE, 2012, p. 2).
Em outras palavras, isso mostra a grande dimensão do problema 
enfrentado pela administração pública (municipal, estadual e federal) 
para atender o ODS 6 – água potável e saneamento – da Agenda 2030 
da ONU nas áreas urbanas. O Quadro 3 reúne os instrumentos utiliza-
dos na avaliação do atendimento do ODS 6 para os países signatários 
nas Nações Unidas, comoé o caso do Brasil.
Quadro 3
Meta e indicadores do ODS 6 da Agenda 2030
Meta Assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e do saneamento
Indicadores
1. Até 2030, alcançar o acesso universal e equitativo à água potável e segura para todos.
2. Até 2030, alcançar o acesso a saneamento e higiene adequados e equitativos para to-
dos, e acabar com a defecação a céu aberto, com especial atenção para as necessidades 
das mulheres e meninas e daqueles em situação de vulnerabilidade.
3. Até 2030, melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição, eliminando o despejo 
e minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos, reduzindo pela 
metade a proporção de águas residuais não tratadas e aumentando substancialmente a 
reciclagem e reutilização segura globalmente.
4. Até 2030, aumentar substancialmente a eficiência do uso da água em todos os seto-
res, assegurar retiradas sustentáveis e o abastecimento de água doce para enfrentar a 
escassez de água, e reduzir substancialmente o número de pessoas que sofrem com a 
escassez de água.
5. Até 2030, implementar a gestão integrada dos recursos hídricos em todos os níveis, 
inclusive via cooperação transfronteiriça, conforme apropriado.
6. Até 2020, proteger e restaurar ecossistemas relacionados com a água, incluindo mon-
tanhas, florestas, zonas úmidas, rios, aquíferos e lagos.
6a. Até 2030, ampliar a cooperação internacional e o apoio à capacitação para os países 
em desenvolvimento em atividades e programas relacionados à água e saneamento, in-
cluindo a coleta de água, a dessalinização, a eficiência no uso da água, o tratamento de 
efluentes, a reciclagem e as tecnologias de reuso.
6b. Apoiar e fortalecer a participação das comunidades locais, para melhorar a gestão da 
água e do saneamento.
Fonte: ONU, 2022.
O novo marco legal do saneamento básico brasileiro 
(Lei n. 14.026/2020) está perfeitamente alinhado com o ODS 6 da 
Agenda 2030 ao estabelecer como meta a universalização dos ser-
26 Saneamento e saúde ambiental
viços de saneamento básico para toda a população até 2033. Entre-
tanto, muitos desafios ainda devem ser superados para que esse 
objetivo seja alcançado pelo Estado (como políticas públicas, gestão, 
investimento, tecnologia e capacitação técnica).
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou em 2015 
um estudo direcionado para a avaliação do nível de fragilidade social 
dos municípios brasileiros, denominado Índice de Vulnerabilidade Social 
(IVS). No cálculo do índice são consideradas três dimensões (renda, 
educação e saúde), e o acesso da população a serviços de saneamento 
básico é um dos critérios analisados pelo IVS (COSTA; MARGUTI, 2015). 
A Figura 8 mostra o resultado da aplicação do índice (vermelho re-
presenta os municípios altamente vulneráveis e azul escuro os municí-
pios muito pouco vulneráveis). Quanto maior a vulnerabilidade social de 
um município, menor é a qualidade de vida da população (em termos 
de saúde, habitação, educação, infraestrutura urbana etc.). Em termos 
de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Brasil ocupa a 75ª po-
sição no ranking internacional em uma lista de 195 país (PNUD, 2022).
Legenda
 0,501 - 1 | Muito Alta
 0,401 - 0,500 | Alta
 0,301 - 0,400 | Média
 0,201 - 0,300 | Baixa
 0.000 - 0,200 | Muito Baixa
 Sem dados
Legenda
 75,500 - 78,640
 74,150 - 75,500
 72,710 - 74,150
 70,620 - 72,710
 65,300 - 70,620
 Sem dados
Figura 8
Mapa da situação social dos municípios brasileiros
A – Índice de vulnerabilidade social B – Longevidade da população
Fonte: Ipea, 2022a.
Para aprofundar o conhe-
cimento nesse assunto, 
é recomendado assistir 
ao vídeo ODS #6: Água 
limpa e saneamento • IBGE 
Explica, do canal IBGE. 
Disponível em: https://www. 
youtube.com/watch?v=ydH9Y 
poxpsI. Acesso em: 9 maio2022. 
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=ydH9YpoxpsI
https://www.youtube.com/watch?v=ydH9YpoxpsI
https://www.youtube.com/watch?v=ydH9YpoxpsI
Saneamento e saúde 27
A Figura 9 apresenta as condições de contorno para cada uma das 
variáveis que compõem o IVS. É possível notar que 67% dos indicado-
res que constituem a dimensão Infraestrutura Urbana são aspectos do 
saneamento básico, ou seja, resíduo, água e esgoto.
Dimensão 
infraestrutura urbana
Dimensão
capital humano
Dimensão 
renda e trabalho
• Coleta de lixo
• Água e esgoto inadequados
• Tempo de deslocamento casa-
trabalho
• Mortalidade infantil
• Crianças de 0 a 5 fora da escola
• Não estudam, não trabalham e 
baixa renda
• Crianças 6 a 14 fora da escola
• Mães jovens (10 a 17)
• Mães sem fundamental + filhos 
até 15
• Analfabetismo
• Crianças em domicílio em que 
ninguém tem o fundamental 
completo
• Renda menor ou igual a R$255
• Baixa renda e dependente de 
idosos
• Desocupação
• Trabalho infantil
• Ocupação informal s/ ensino 
fundamental
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0,400 0,5000,3000,2000 1
Muito Baixa Baixa Média Alta Muito alta
Figura 9
Critérios de composição do IVS
Fonte: Adaptada de Ipea, 2022b.
A análise das áreas com maior vulnerabilidade social (IVS acima de 0,4) 
(Figura 8, lado A) e menor longevidade (idade de vida inferior a 72,7 anos) (Fi-
gura 8, lado B) coincidem exatamente com as regiões mais impactadas pela 
carência nos serviços de saneamento básico (Figura 4), como era esperado. 
Portanto, isso reforça a importância da universalização dos serviços 
de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto doméstico, 
coleta e destinação adequada e sustentável de resíduos sólidos, drena-
gem urbana de águas pluviais e limpeza pública para promover a saúde 
da população.
28 Saneamento e saúde ambiental
CONSIDERAÇÕES 
FINAIS
Existe uma forte inter-relação entre saneamento, saúde humana e 
qualidade ambiental. Investimentos em saneamento básico são reverti-
dos em benefícios sociais (melhoria da qualidade de vida da população), 
ambientais (redução da poluição, principalmente da água e do solo) e 
econômicos (promoção do desenvolvimento sustentável e minimização 
de gastos públicos com a saúde curativa).
O processo de urbanização traz consigo grandes desafios para a 
gestão pública, pois as soluções para as demandas urbanas devem ser 
adaptadas às necessidades de infraestrutura da população, bem como 
aos recursos de que ela dispõe na esfera municipal.
ATIVIDADES
Atividade 1
Explique a diferença entre o saneamento ambiental e o saneamen-
to básico e destaque qual deles é o mais eficaz em seu propósito.
Atividade 2
Exemplifique duas formas de transmissão de doenças por veicula-
ção hídrica e apresente uma solução para os exemplos escolhidos. 
Atividade 3
Apresente os eixos do saneamento básico e explique sua impor-
tância no processo de urbanização de um município.
Saneamento e saúde 29
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Controle da poluição hídrica 31
2
Controle da poluição hídrica
Neste capítulo serão abordados os aspectos mais importantes sobre o 
controle da poluição hídrica, na perspectiva dos instrumentos previstos na 
legislação brasileira. Esse tema é contemplado pelo objetivo 6 da Agenda 
2030 das Nações Unidas (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – 
ODS), que estabelece a meta de universalização dos serviços de acesso 
a água potável e saneamento para toda a população como uma das me-
didas mandatórias para a promoção da saúde humana e da qualidade 
ambiental (ONU, 2022).
As seções a seguir destacam aspectos teóricos e conceituais sobre o 
tema, trazendo uma interpretação didática da legislação brasileira vigente 
sobre os recursos hídricos, em uma linguagem descomplicada e objetiva. 
Ao longo do texto também são sugeridas leituras e atividades comple-
mentares para ampliar e fixar o conhecimento sobre o assunto.
Com o estudo deste capítulo, você será capaz de:
• apresentar e discutir os instrumentos da política nacional dos recur-
sos hídricos; 
• descrever os parâmetros de avaliação da qualidade da água; 
• descrever os limites de qualidade da água para os diversos usos.
Objetivos de aprendizagem
2.1 Instrumentos da Política Nacional 
de Recursos Hídricos Vídeo
A primeira legislação brasileira que tratou dos recursos hídricos 
foi o Código das Águas (Decreto n. 24.643), assinado em 1934. Porém, 
esse era outro momento, e desde então muitas mudanças surgiram 
na economia e na organização social do país (por exemplo, a intensiva 
urbanização, o crescimento populacional, a expansão industrial, a glo-
balização das relações de mercado, o aumento do consumo de água 
32 Saneamento e saúde ambiental
e da poluição etc.), o que tornou necessária a criação de uma política 
específica para regular a questão do uso das águas no Brasil. 
A Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) foi instituída pela 
Presidência da República em 1997, na forma da Lei n. 9.433, conhecida 
como a Lei das Águas. Os objetivos da PNRH são (BRASIL, 1997): 
I. garantir a oferta de água para a atual e futuras gerações em 
quantidade e qualidade compatíveis com os usos pretendidos; 
II. promover o consumo racional e integrado da água para o desen-
volvimento sustentável do território brasileiro; 
III. planejar ações de prevenção e defesa para o enfrentamento de 
eventos hidrológicos críticos (principalmente a crise hídrica) em 
razão de efeitos naturais ou ações humanas;
IV. estimular a utilização consciente da água de chuva (águas 
pluviais).
A Lei das Águas é um importante marco na regulação do direito de 
uso e exploração dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, em 
escala municipal, estadual e federal, pois ela considera a água como 
um elemento estratégico para o desenvolvimento social, econômico e 
ambiental do país e reconhece que (BRASIL, 1997): 
I. a água é um bem de domínio público;
II. Ia água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;
III. em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos 
é o consumo humano e a dessedentação de animais;
IV. a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso 
múltiplo das águas;
V. a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação 
da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema 
Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;
VI. a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e con-
tar com a participação do Poder Público, dos usuários e das 
comunidades.
A água é elemento essencial para a manutenção da vida humana e 
de outras espécies no planeta (GOMES, 2011), para a sustentação de to-
das as práticas industriais, principalmente no agronegócio, além de ser 
fonte de recurso para diversas outras atividades, como a navegação, a 
recreação, a purificação do ar etc. Assim, a gestão planejada dos recur-
sos hídricos é estratégica para sanear conflitos de interesse e garantir 
água em quantidade e qualidade adequada para atender as diversas fi-
nalidades (usos múltiplos), pois sua disponibilidade varia muito de uma 
Controle da poluição hídrica 33
região para outra (efeito da geografia e da poluição) e sofre a influência 
das condições climáticas (sazonalidade e impacto das mudanças do cli-
ma) (ANA, 2021). 
A Figura 1 mostra a variação da demanda de água no Brasil para 
atender todas as finalidades de uso. Os valores apresentados na legen-
da se referem à vazão de retirada, medida em m3.s–1 (metro cúbico por 
segundo). As áreas em laranja, vermelho e marrom representam os 
pontos mais críticos e isso significa que essas regiões concentram ele-
vado consumo e, consequentemente, registram cenários de conflitos 
pelo uso da água. Por isso a importância de uma política nacional bem 
estruturada e articulada com órgãos ambientais (federal e estadual) 
para atender a demanda de todos os usuários.
Figura 1
Distribuição do consumo de água nos municípios brasileiros
Fonte: ANA, 2022e.
Demanda total
 < 0,001
 0,001 - 0,005
 0,005 - 0,010
 0,010 - 0,100
 0,100 - 0,500
 0,500 - 8,332
A PNRH prevê cinco instrumentos para regular as relações entre 
oferta e consumo de água e, principalmente, controlar a poluição dos 
recursos hídricos da PNRH para a gestão planejada da água no territó-
rio brasileiro (BRASIL, 1997):
34 Saneamento e saúde ambiental
Instrumentos
1. Enquadramento dos cursos d’água;
2. Outorga do direito de uso da água;
3. Cobrança pelo uso da água;
4. Sistema de informações sobre recursos hídricos;
5. Planos de recursos hídricos.
O primeiro instrumento da PNRH é o enquadramento dos cursos 
d’água (rios, lagos, reservatórios, represas etc.), cujos objetivos são: 
I – garantir água de qualidade compatível com os usos pretendidos; 
II – reduzir custos com a poluição hídrica, com base em ações 
preventivas contínuas. 
A regra para a classificação dos corpos hídricos considera a análise 
de três fatores básicos: a qualidade atual da água, a qualidade futura 
desejada e a qualidade possível de ser mantida ou alcançada diante 
das limitações técnicas, sociais e econômicas da realidade brasileira 
(ANA, 2019b).
Portanto, primeiro é necessário conhecer quais são os usos predo-
minantes de determinado curso d’água e, em seguida, observar qual a 
qualidade exigida para cada finalidade, pois o enquadramento é apli-
cado por trecho do curso d’água, de acordo com suas características 
físicas. Assim, ao comparar essas informações com a condição atual 
da água será possível estabelecer metas futuras de qualidade e prazos 
para o seu cumprimento. 
As condições para o enquadramento dos cursos de águas super-
ficiais e subterrâneas são definidas pelo Conselho Nacional do Meio 
Ambiente (Conama), por meio da Resolução n. 357 (BRASIL, 2005) e Re-
solução n. 396 (BRASIL, 2008), respectivamente. Os usos da água são 
divididos em classes e englobam três diferentes categorias: 
I. água doce (salinidade 0,5‰); 
II. água salobra (salinidade entre 0,5‰ e 30‰); 
III. água salina (salinidade 30‰). 
Quanto maior a classe e menor a qualidade, mais restritivos serão 
os usos possíveis e maior o nível de tratamento necessário (Quadro 1).
Para aprofundar o seu 
conhecimento desse 
assunto, assista ao vídeo 
institucional Planos de 
Recursos Hídricos e o 
Enquadramento de Corpos 
d’Água, do canal anagovbr, 
sobre os Planos de Recur-
sos Hídricos.
Disponível em: https://
www.youtube.com/
watch?v=f2Yj9NYID9w. Acesso em: 
14 abr. 2022.
Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=f2Yj9NYID9w
https://www.youtube.com/watch?v=f2Yj9NYID9w
https://www.youtube.com/watch?v=f2Yj9NYID9w
Controle da poluição hídrica 35
Quadro 1
Classes e usos das águas superficiais
Classes Usos
Ág
ua
s 
do
ce
s
Especial
Consumo humano (após desinfecção), preservação do 
equilíbrio natural das comunidades aquáticas, preservaçãodos ambientes aquáticos em unidades de conservação de 
proteção integral.
1
Consumo humano (após tratamento simplificado), proteção 
das comunidades aquáticas, recreação de contato primário 
(natação, esqui aquático e mergulho – Conama 274/2000), 
irrigação (hortaliças consumidas cruas e frutas desenvol-
vidas rentes ao solo e ingeridas cruas sem remoção de 
película), proteção das comunidades aquáticas em Terras 
Indígenas.
2
Consumo humano (após tratamento convencional), prote-
ção das comunidades aquáticas, recreação de contato pri-
mário (como na classe 1), irrigação (hortaliças, plantas frutí-
feras, parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os 
quais o público tenha contato direto), aquicultura e pesca. 
3
Consumo humano (após tratamento convencional ou avan-
çado), irrigação (culturas arbóreas, cerealíferas e forragei-
ras), pesca amadora, recreação de contato secundário, des-
sedentação de animais.
4 Navegação, harmonia paisagística.
Ág
ua
s 
sa
lo
br
as
Especial
Preservação de ambientes aquáticos em unidades de con-
servação de proteção integral, preservação do equilíbrio 
natural das comunidades aquáticas.
1
Recreação de contato primário (Conama 274/2000), pro-
teção das comunidades aquáticas, aquicultura e pesca, 
consumo humano (após tratamento convencional ou avan-
çado), irrigação (hortaliças consumidas cruas e frutas de-
senvolvidas rentes ao solo e ingeridas cruas sem remoção 
de película, parques, jardins, campos de esporte e lazer, 
com os quais o público tenha contato direto).
2 Pesca amadora, recreação de contato secundário.
3 Navegação, harmonia paisagística.
Ág
ua
s 
sa
lin
as
Especial
Preservação de ambientes aquáticos em unidades de con-
servação de proteção integral, preservação do equilíbrio 
natural das comunidades aquáticas.
1
Recreação de contato primário (Conama 274/2000), prote-
ção de comunidades aquáticas, aquicultura e pesca.
2 Pesca amadora, recreação de contato secundário.
3 Navegação, harmonia paisagística.
Fonte: Adaptado de ANA, 2007. 
36 Saneamento e saúde ambiental
O curso d’água enquadrado em cada uma das classes está subor-
dinado a limites específicos de qualidade, os quais exigem diferentes 
níveis de tratamento para atender as especificações dos usos preten-
didos. Este assunto será tratado com mais detalhes posteriormente.
A outorga e a cobrança pelo uso da água são instrumentos admi-
nistrativos na PNRH e dependem diretamente do enquadramento do 
corpo d’água. Esses dois instrumentos devem ser regulamentados pe-
los estados, por meio de legislação própria que estabeleça critérios e 
condições (ANA, 2019b).
A outorga é uma licença solicitada pelo usuário (consumidor) e emi-
tida pelo órgão público responsável pela gestão do curso d’água onde 
se pretende fazer a captação. Essa autorização é exigida para todas as 
seguintes condições: na derivação ou captação direta de água superfi-
cial ou subterrânea (por exemplo, uma estação de tratamento de água, 
uma indústria, uma perfuração de poço artesiano); no lançamento de 
águas residuais (por exemplo, descarte de efluente de uma indústria ou 
de efluente de uma estação de tratamento de esgoto); na geração de 
energia elétrica (represamento de água); ou em outras atividades que in-
terfiram na vazão ou na qualidade do curso d’água (BRASIL, 1997). A figu-
ra a seguir mostra os possíveis fluxos de autorização para o uso da água.
Figura 2
Fluxos de emissão de outorga de direito de uso da água
1. ÁGUAS SUPERFICIAIS
(rios, córregos e nascentes)
captação e lançamento 
de efluentes
Cadastro de vazão 
insignificante de água
2. ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
(poços rasos e profundos)
captação
Outorga prévia Outorga de direito
Anuência prévia 
para perfuração de 
poço
Cadastro de vazão 
insignificante de água
Outorga prévia Outorga de direito
3. INTERVENÇÕES
(obras e serviços)
Cadastro de vazão 
insignificante de água
Outorga prévia Outorga de direito
el
en
as
av
ch
in
a2
/S
hu
tte
rs
to
ck
Fonte: Adaptado de IAT, 2022. 
Para aprofundar o seu 
conhecimento nesse 
assunto, leia o relatório 
sobre a outorga e a 
cobrança dos recursos 
hídricos no Brasil.
Disponível em: www.ceivap.org.br/
ceivap_news/ed105/CEIVAPNEWS-
mat3.html. Acesso em: 14 abr. 
2022.
Leitura
Controle da poluição hídrica 37
Como foi dito anteriormente, a outorga depende do enquadramen-
to do corpo hídrico. Isso significa que novas licenças de uso (captação de 
água ou lançamento de efluentes) só serão emitidas ou renovadas se o 
curso d’água apresentar qualidade e quantidade compatíveis com a solici-
tação, considerando-se também a presença de outros usuários no mesmo 
trecho, isto é, o compartilhamento da demanda (múltiplos usuários).
Além disso, a outorga de direito de uso está subordinada à dispo-
nibilidade hídrica. Segundo a Lei 9.433, em caso de escassez hídrica, a 
prioridade é o abastecimento humano e a dessedentação de animais 
(BRASIL, 1997) e algumas áreas estão sujeitas à restrição de uso, tais 
como nascentes, margens de rios e lagos e trechos de recarga de aquí-
feros (ANA, 2011).
A outorga é emitida pelo órgão ambiental estadual responsável ou 
pela Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA), dependendo do 
domínio do curso d’água referente à licença que está sendo solicitada 
(ANA, 2011). Alguns exemplos de órgãos estaduais que emitem outorga 
para o uso da água são: Instituto Água e Terra do Paraná (IAT), Compa-
nhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), Instituto Estadual do 
Ambiente do Rio de Janeiro (Inea), Secretaria dos Recursos Hídricos do 
Ceará (SRH/CE).
A cobrança pelo uso da água é outro importante instrumento de 
gestão da água previsto na PNRH. Essa remuneração não é um impos-
to, mas uma medida de valoração da água como um bem público. O 
valor unitário, ou seja, R$.m–3 (reais por metro cúbico) de água utiliza-
da, é definido em reuniões participativas (comitês) entre os usuários 
da água, a sociedade civil organizada e o poder público, sob a orien-
tação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos 
(SINGREH). A legislação brasileira determina que o valor arrecadado na 
cobrança pelo uso da água deve ser destinado exclusivamente para a 
recuperação da qualidade da bacia hidrográfica onde o valor foi gerado 
(BRASIL, 1997).
Os objetivos da cobrança são (BRASIL, 1997): 
I. conscientizar a população sobre o valor da água como um bem 
público; 
II. promover o uso responsável da água; 
III. obter fundos para financiar ações previstas nos planos de recur-
sos hídricos. São passíveis de cobrança todos os usos outorgáveis. 
38 Saneamento e saúde ambiental
Portanto, a cobrança pode ser entendida como um instrumento que 
complementa a outorga de direito de uso. O Quadro 2 apresenta a si-
tuação da implementação da cobrança pelo uso da água no Brasil. Os 
estados que não aparecem no quadro estão em processo de constru-
ção de políticas para a regulamentação da cobrança.
Quadro 2
Panorama nacional da cobrança pelo uso da água
Estado Cobrança ativa
Águas de domínio da 
União
Bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (São Paulo, Rio de 
Janeiro, Minas Gerais).
Bacias hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí 
(São Paulo e Minas Gerais).
Bacia hidrográfica do Rio São Francisco (Minas Gerais, Goiás, 
Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe).
Bacia hidrográfica do Rio Doce (Minas Gerais e Espírito San-
to).
Bacia hidrográfica do Rio Paranaíba (Goiás e Minas Gerais).
Bacia hidrográfica do Rio Verde Grande (Bahia e Minas Gerais).
Ceará Todas as águas de domínio cearense.
Minas Gerais
12 das 36 Unidades de Planejamento e Gestão de Recursos 
Hídricos.
Paraíba Todas as águas de domínio paraibano.
Paraná
Somente nas bacias do Alto Iguaçu e afluentes do Alto Ribei-
ra.
Rio de Janeiro Todas as águas de domínio fluminense.
São Paulo 19 das 22 Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos.
Fonte: Adaptado de ANA, 2019a. 
A outorga e a cobrança pelo uso da água regulam o uso comparti-
lhado dos recursos hídricos, pois evitam sua retiradaem quantidade 
que possa impedir o acesso de outros usuários, assim como minimi-
zam o impacto negativo do descarte de águas residuais (efluentes 
industriais e esgoto doméstico) na qualidade dos cursos d’água, garan-
tindo o atendimento de outros usuários e outras finalidades. A seguir, 
destacam-se as principais vantagens do instrumento de cobrança pelo 
uso da água (ANA, 2019a).
Controle da poluição hídrica 39
Pontos positivos
• Internalização das externalidades ambientais nas instalações dos usuá-
rios da água, isto é, recai sobre o usuário o custo da conservação da água.
• Implantação de tecnologias mais eficientes (por exemplo, reuso de água).
• Redução do consumo, pois quanto menor a vazão captada, menor será o 
pagamento pelo usuário da água utilizada.
• Retorno da arrecadação na forma de benefícios para sociedade (recupe-
ração da qualidade e oferta de água na bacia hidrográfica).
• Distribuição dos custos de acordo com a capacidade de pagamento dos 
usuários (cobrança diferenciada, por exemplo: geração de energia, agri-
cultura, indústrias).
É importante destacar que o valor cobrado pelo uso da água não 
é o mesmo que a tarifa aplicada pela companhia de saneamento no 
fornecimento de serviços de água tratada e esgotamento sanitário. As 
empresas de saneamento (estatais ou de economia mista) cobram do 
usuário o valor correspondente aos custos de operação: tratamento e 
distribuição (ou entrega) de água potável; e coleta, tratamento e desti-
nação de águas residuais.
Porém, uma vez que essas empresas necessitam de uma outorga 
para captação de água e descarte de efluentes, isso significa que elas 
também são cobradas pelo direito de uso da água e esse valor recai 
sobre a conta paga pelo usuário final (a população) (DEMAJOROVIC; CA-
RUSO; JACOBI, 2015).
No caso do uso da água pelo setor elétrico (geração de energia por 
meio de reservatórios de água), é cobrado 6,75% do valor da energia 
produzida, que é destinado à ANA (órgão que responde pela gestão do 
recurso, conforme determina a PNRH) (ANA, 2019a; BRASIL, 1997).
O quarto instrumento de gestão das águas brasileiras, segundo a 
PNRH, é o Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos 
(SNIRH). Como o próprio nome sugere, ele é o núcleo responsável pela 
coleta, tratamento e armazenamento de dados de todos os recursos hí-
dricos do território brasileiro. Os objetivos do SNIRH são (BRASIL, 1997): 
I. disponibilizar dados e informações consistentes sobre a situação 
da qualidade e quantidade de água dos recursos hídricos no país; 
II. manter a base de dados permanentemente atualizada; 
III. subsidiar ações e programas voltados à gestão dos recursos hí-
dricos no território nacional.
40 Saneamento e saúde ambiental
Por meio de pesquisas e estudos realizados nas bacias hidrográfi-
cas brasileiras, os dados inseridos no SNIRH são gerados pelos órgãos 
que o integram: o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH); a 
Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA); os Conselhos de Re-
cursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal (CRH/DF); os Comitês 
de Bacia Hidrográfica (CBH); os órgãos de gestão de recursos hídricos 
dos poderes públicos federais, estaduais e do Distrito Federal; e as 
Agências de Água (BRASIL, 1997).
O SNIRH tem um papel fundamental na articulação entre os outros 
instrumentos, pois fornece os dados necessários para o devido enqua-
dramento dos cursos d’água, que, por sua vez, orienta as licenças de 
outorga e cobrança pelo uso da água. A seguir, é apresentado o portal 
do SNIRH. 
Para mais informações 
sobre esse assunto, aces-
se o Portal do SNIRH. O 
acesso é gratuito e aberto 
para toda a população.
Disponível em: http://www.snirh.
gov.br/. Acesso em: 14 abr. 2022.
Site
Figura 3
Portal do SNIRH
Fonte: ANA, 2022d.
O último instrumento de gestão das águas brasileiras são os planos 
de recursos hídricos, que consistem em planos diretores formulados 
de modo a orientar a implementação da PNRH. Eles são elaborados 
por bacia hidrográfica segundo o domínio do corpo hídrico (estado ou 
país) e contemplam projetos, programas e ações a serem executados a 
longo prazo (BRASIL, 1997).
Controle da poluição hídrica 41
Os planos de recursos hídricos incluem (BRASIL, 1997): 
I. diagnóstico do cenário atual das águas nas bacias hidrográficas; 
II. projeção de crescimento populacional, econômico e alterações 
no uso e ocupação do solo (que influenciam na qualidade da 
água); 
III. balanço entre oferta e demanda futura e levantamento de pos-
síveis conflitos; 
IV. definição de metas de redução do consumo de água e melhoria 
da qualidade; 
V. elaboração de propostas para o atendimento das metas; 
VI. definição de critérios de cobrança pelo direito de uso da água; 
VII. criação de áreas de uso restrito da água; 
VIII. definição de critérios de prioridades para a emissão de outor-
gas de captação de água e lançamento de efluentes em corpos 
hídricos.
Os recursos utilizados para financiar as ações previstas nos planos 
de recursos hídricos são provenientes da arrecadação na cobrança 
pelo uso de água nas próprias bacias.
2.2 Indicadores de qualidade da água 
Vídeo
De modo geral, os indicadores são ferramentas utilizadas para 
se extrair informações de determinada situação que se deseja ana-
lisar para orientar decisões a serem tomadas (por exemplo, existem 
indicadores ambientais, econômicos e sociais). Quando os indicado-
res são combinados (dois ou mais), eles formam o que é conhecido 
como índice (SICHE et al., 2007). 
No caso da qualidade da água, os indicadores são mecanismos 
de sistematização de dados, cujo objetivo é monitorar e divulgar in-
formações sobre os recursos hídricos brasileiros para auxiliar o pla-
nejamento de ações e estratégias de gestão da qualidade da água. 
Em outras palavras, os indicadores medem o nível de qualidade da 
água para atender aos usos múltiplos (consumo humano, geração 
de energia, agricultura, recreação etc.) (SICHE et al., 2007). A seguir, 
resumem-se os principais índices aplicados na avaliação da qualida-
de dos recursos hídricos (ANA, 2022b).
Para aprofundar o 
conhecimento sobre o 
desenvolvimento de indi-
cadores de qualidade da 
água, leia o artigo Análise 
do desenvolvimento dos 
principais indicadores da 
qualidade da água, publi-
cado por Boso, Gabriel e 
Gabriel Filho (2015).
Disponível em: https://publicacoes.
amigosdanatureza.org.br/index.
php/forum_ambiental/article/
view/1265/1285. Acesso em: 
14 abr. 2022.
Leitura
https://publicacoes.amigosdanatureza.org.br/index.php/forum_ambiental/article/view/1265/1285
https://publicacoes.amigosdanatureza.org.br/index.php/forum_ambiental/article/view/1265/1285
https://publicacoes.amigosdanatureza.org.br/index.php/forum_ambiental/article/view/1265/1285
https://publicacoes.amigosdanatureza.org.br/index.php/forum_ambiental/article/view/1265/1285
42 Saneamento e saúde ambiental
Principais índices
• Índice de Qualidade da Água (IQA)
• Índice de Qualidade da Água Bruta para fins de Abastecimento Humano 
(IAP)
• Índice de Estado Trófico (IET)
• Índice de Contaminação por Agrotóxico (ICT)
• Índice de Balneabilidade (IB)
• Índice de Qualidade da Água para a Proteção da Vida Aquática (IVA)
Entre os índices apresentados, o IQA e o IB são os mais amplamente 
utilizados, por isso serão abordados em maior detalhe neste capítulo.
O IQA foi criado em 1970 nos Estados Unidos, com o objetivo de 
auxiliar o monitoramento da qualidade da água bruta captada para o 
abastecimento humano. Ele é composto por nove parâmetros: oxigê-
nio dissolvido, coliformes termotolerantes, pH, demanda bioquímica 
de oxigênio, temperatura da água, nitrogênio total, fósforo total, turbi-
dez e resíduo total. Cada parâmetro recebe um peso específico (entre 
0,08 e 0,17) de acordo com a sua importância dentro do índice, e o IQA 
é o produto ponderado do somatório dos nove parâmetros, que pode 
variar entre 0 e 100 (ANA, 2022b). Na medida em que o valor do IQA se 
aproxima de 100, melhor será a qualidade da água. No quadro

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