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Certificação LEED e Arquitetura Sustentável

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http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.140/4126 
Certificação LEED e arquitetura 
sustentável: 
edifício Eldorado Business Tower 
Mariana Feres dos Santos e Eunice Helena Sguizzardi Abascal 
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http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.140/4126
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Arquitetura sustentável: um conceito em construção 
Os temas da arquitetura sustentável e sustentabilidade guardam relação com métodos e 
processos de racionalização do uso de recursos naturais e energéticos. Visando alcançar 
eficiência e eficácia energéticas, deposita-se esperanças em preservar o planeta dos 
efeitos perversos da ação humana sobre o ambiente. Como assinala James Lovelock, 
“O desenvolvimento sustentável, respaldado pelo consumo de energia renovável, é a 
atitude em voga na convivência com a Terra (...)” (1). Esse mesmo autor afirma ainda 
que o planeta sofre conseqüências das atividades e decisões humanas e começa a 
demonstrá-las. A preocupação com o meio ambiente se evidenciou com a Conferência 
de Estocolmo, em 1972, tendo sido a questão retomada vinte anos depois, na 
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de 
Janeiro, quando o desenvolvimento sustentável entrou definitivamente em pauta. 
 
Edifício Eldorado Business Tower, projeto do escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos 
Foto Daniel Ducci 
A World Comission on Environment and Development (WCED) define 
desenvolvimento sustentável como “Desenvolvimento econômico e social que atenda às 
necessidades da geração atual sem comprometer a habilidade das gerações futuras 
atenderem as suas próprias necessidades.” (2). Mudanças de comportamento em busca 
desse desenvolvimento se fizeram inadiáveis e envolveram a construção civil, passando 
a objeto de atenção por consistir em um dos vilões do meio ambiente, responsável por 
40% do uso de energia primária, 72% do consumo de eletricidade, 39% da emissão de 
gás carbônico e 13,6% do consumo de água potável (3). A indústria da construção civil 
e atividades correlatas são responsáveis pelo uso de significativa quantidade de recursos 
globais e emissão de resíduos; no entanto, tem grande importância no desenvolvimento 
sócio-econômico e qualidade de vida (4). 
Para enfrentar esses impasses, indústrias buscam maneiras de produzir edifícios com 
baixo impacto ambiental, procurando também reconhecimento por esse empenho. O 
mercado exige produtos e materiais comprometidos com o meio ambiente, enfatizando 
preocupação com baixo impacto e interesse em contribuir para a solução do problema 
ambiental, o que se tornaria vantagem competitiva e forma de conquistar um 
consumidor cada vez mais informado, exigente e consciente das necessidades do 
planeta. 
 
Edifício Eldorado Business Tower, projeto do escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos 
Foto Daniel Ducci 
O “consumidor verde” não busca apenas o produto mais barato, sequer está apenas 
preocupado em coleta seletiva e economia de água e energia. Verifica-se preocupação 
com o impacto ambiental que determinado produto pode causar ao meio ambiente e os 
efeitos desse impacto no consumo do bem, convertendo-se a questão ambiental em um 
dos fatores de opção pela compra. 
A dimensão ambiental interfere não somente nas formas e cadeias produtivas, mas se 
expressa também do lado do consumidor: “As empresas têm sido desafiadas à 
elaboração de novas estratégias competitivas que evitem a degradação ambiental ao 
mesmo tempo em que garantam a sobrevivência e a sustentabilidade financeira. Tais 
estratégias, denominadas de Marketing Verde, culminaram na exploração de um novo 
segmento: o de “produtos verdes”. Tais estratégias visam aumentar a produtividade, 
enquadrar as empresas na legislação vigente, melhorar a imagem institucional, garantir 
a lucratividade no processo produtivo por meio da oferta de produtos diferenciados e, 
principalmente, influenciar a decisão de compra dos consumidores.” (5). 
A fim de atender a consumidores preocupados com o meio ambiente e frente à 
necessidade de garantir-lhes qualidade de produto com baixo impacto ambiental, e 
levando em consideração que a construção civil é responsável por impactos 
significativos causados ao meio ambiente, surgiram as certificações verdes. Estas 
certificações são formas de avaliação expressa por meio da emissão de pareceres a 
edifícios que, dependendo de sua adequação a critérios e pré-requisitos propostos por 
tais instrumentos, podem alcançar o status de causadores do mínimo de impacto 
ambiental possível. 
 
Edifício Eldorado Business Tower, projeto do escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos 
Foto Daniel Ducci 
Tais sistemas de certificação são aplicados em diversos países e têm por objetivo avaliar 
o projeto, a obra e a manutenção dos edifícios; porém, “(...) todos estes sistemas 
concentram-se exclusivamente na dimensão ambiental da sustentabilidade” (6). Um 
edifício a fim de atingir o qualificativo de sustentável deveria considerar também à sua 
interação, como proposta arquitetônica e urbanística, com o meio ambiente; aspectos 
sociais e econômicos envolvidos na produção do espaço arquitetônico deveriam, da 
mesma forma, fazer parte do universo da avaliação da sustentabilidade (7). O conceito 
de sustentabilidade contempla essa complexidade de determinantes, o que leva a indagar 
se a certificação é instrumento suficiente para avaliar a sustentabilidade de uma 
edificação. 
Um empreendimento se torna realmente sustentável quando atinge equilíbrio entre 
atendimento de demandas voltadas ao ambiente físico, processos econômicos e 
necessidades sociais, ao considerar o chamado tripé da sustentabilidade (8), pois ao 
contemplar a incorporação de soluções arquitetônicas voltadas a essas três dimensões, a 
construção pode se tornar instrumento de melhoria da qualidade de vida do indivíduo e 
comunidade. 
 
Edifício Eldorado Business Tower, projeto do escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos 
Foto Daniel Ducci 
No contexto das preocupações com a sustentabilidade, a certificação LEED, uma 
avaliação pautada em critérios classificatórios relacionados em um checklist, concede 
pontuação ao empreendimento dependendo do atendimento a critérios previamente 
estabelecidos. Dependendo da pontuação atingida, o empreendimento pode ser 
certificado, atingindo os níveis prata, ouro ou platina. 
O Processo de Certificação do Edifício Eldorado Business Tower 
Criada em 1998 nos Estados Unidos (9) a certificação LEED vem sendo aplicada em 
vários países, sendo reconhecida em todos eles como um indicador de qualidade. A 
certificação LEED ® C&S (for Core & Shell) essencialmente avalia e reconhece 
soluções e tecnologias que em tese contribuiriam para tornar as construções 
sustentáveis, identificando essas soluções no projeto e na obra, cuja aplicação teria por 
finalidade a redução de impactos ambientais advindos da edificação. São avaliados o 
corpo do edifício, todas as áreas comuns e fachadas. 
 
Eldorado Business Tower – foto da fachada frontal com a grela estrutural e vedação 
diferenciada de vidro 
Foto Mariana Feres dos Santos, obtida em visita técnica realizada em 16.03.2011 
O primeiro edifício da América Latina a receber certificação LEED foi uma agência do 
Banco Real, na Granja Viana, em São Paulo, em 2007. Hoje existem 23 
empreendimentos certificados pelo LEED no Brasil e 211 empreendimentos em 
processo de certificação (10). O primeiro edifício a receber o certificado Platinum, o 
mais alto da categoria na América Latina, foi o Eldorado Business Tower (São Paulo), 
em 19 de agosto de 2009, atingindo 46 de um ranking de 61 pontos, com a versão 2.0 
Platinum. 
O Eldorado Business Tower é um edifício de escritórios junto ao consagrado shopping 
center Eldorado, em São Paulo, tendo sido o novo conjunto inaugurado em novembro 
de 2007. Atorre destinada a escritórios tem 32 andares de lajes em concreto protendido 
de espessura de 27 cm, que possibilitam plantas flexíveis com área de 2.000 m2, e pé-
direito de 3,00 m. Os escritórios dispõem de piso elevado e forro. Com 141 metros de 
altura, o edifício dispõe ainda de quatro subsolos (1.805 vagas), edifício garagem com 
sete pavimentos, centro de convenções e heliponto, para até dois helicópteros de dez 
toneladas cada um. 
As categorias utilizadas para pontuar o empreendimento foram Sustentabilidade, 
Eficiência em Água, Energia e Atmosfera, Materiais e Recursos, Qualidade Ambiental 
interna, Inovação e Processos de Design. A cada uma dessas categorias foi atribuído um 
ponto, tendo o Eldorado obtido nota um (1,0) em vários itens do ranking o que permitiu 
sua classificação na categoria Platinum (11). 
Os resultados quanto aos itens utilizados para a pontuação são os seguintes (12). 
• 33% de economia de no consumo de água potável, comparado ao padrão norte-
americano; 
• 100% de economia de água potável para irrigação; 
• 18% de economia no consumo de energia; 
• 74% de todo resíduo gerado na obra foi destinado a aterros; 
• 30% de todo material empregado foi reciclado; 
• 50% de todo material adquirido é de origem local; 
• 95% de toda madeira certificada pelo FSC (Forest Stewardship Council); 
• 25% de redução da vazão e volume de água lançada na rede pública durante as 
chuvas. 
A um primeiro exame, o edifício não demonstra diferenças expressivas em relação à 
arquitetura corporativa realizada na cidade, utilizando-se do sistema de grelha estrutural 
e fechamentos de vidro, sistema que possibilitou vedações utilizando generosos panos 
envidraçados. Mas, analisando mais detidamente o projeto, a obra construída e a 
tecnologia empregada, é possível notar que apresenta vantagens e diferenças 
significativas que os distinguem, em termos de eficiência energética e energias 
renováveis. É possível identificar ainda características arquitetônicas singulares 
relativamente a outras construções de tema similar. Essa análise sugere algumas 
indagações críticas sobre alguns dos itens que são objeto da certificação e que, talvez, 
demonstrem que o atendimento às categorias que conferem a classificação não seja uma 
condição suficiente para definir integralmente um edifício como sustentável. 
No edifício em estudo, o sistema de ar-condicionado é o VRV III (volume de 
refrigeração variável) que possibilita baixo consumo de energia, permitindo que 
empresas locatárias ali sediadas paguem somente pelo que consomem. O que consiste 
em vantagem significativa frente aos dispêndios condominiais em edifícios similares 
não certificados. O sistema utiliza ainda gás refrigerante do tipo R-410 A, 
ecologicamente correto. 
A primeira impressão obtida em visita técnica realizada ao empreendimento (13), é que 
o sistema de refrigeração consta de um multi split, com metade das condensadoras 
instaladas na cobertura do edifício e a outra metade na cobertura ou laje de garagem. Ao 
contrário da maioria dos edifícios similares, nos quais evaporadoras e condensadoras 
estão instaladas no mesmo local dos respectivos escritórios, ocupando uma sala que se 
destina à casa de máquinas ou terraço técnico, essas condensadoras são mantidas pelo 
condomínio e o fato de não ser necessário um espaço para elas em cada planta tipo 
acarreta em economia de aproximadamente 15 m ² em cada meia laje o que permite 
uma distância de apenas 65 cm entre forro e laje. Por contar com um sistema de 
operação programado e inteligente, permite ligar o ar condicionado de cada 
compartimento ou escritório com autonomia. O controle é feito pelo condomínio, 
mediante o uso de programa de computador ou pelo próprio usuário, utilizando a 
Internet. 
 
Condensadoras na cobertura do edifício 
Foto Mariana Feres dos Santos, obtida em visita técnica realizada em 16.03.2011 
Toda a água utilizada nas áreas comuns, tanto para irrigação de áreas verdes quanto para 
limpeza, provém de chuva reutilizada e condensação gerada pelo funcionamento do ar 
condicionado. A água lançada na rede pública é também tratada para filtragem de 
particulados e todos os sanitários são dotados de medidores de água individualizados 
em cada andar, permitindo controle mais rigoroso do dispêndio do recurso. 
Um sistema inteligente de elevadores, com antecipação de chamadas, dispõe ainda de 
sistema de frenagem regenerativa, o que permite que o elevador que estiver descendo 
forneça energia para o outro, que está subindo. Lâmpadas e reatores despendem menos 
energia e todos os sistemas elétricos são divididos por segmentos, como, por exemplo, 
há um sistema para os elevadores, outro para as bombas d´água e outro para cada setor 
do edifício, permitindo acompanhar qual o real consumo de energia de cada área. 
A fachada dispõe de 43% de área envidraçada, sendo que o vidro utilizado foi o low-e, 
caracterizado por melhor desempenho térmico e possibilidade de filtragem eficiente do 
calor que atinge o interior do edifício. A área envidraçada conta ainda com a preteção 
oferecida por um sistema de persianas automatizadas. Na medida em que o sol vai 
batendo nas fachadas, persianas vão descendo automaticamente. O condomínio organiza 
coleta seletiva do lixo, recolhido a um compartimento no térreo no qual os resíduos são 
triados. Há uma regra condominial em vigência de que não será coletado o lixo do andar 
que não cumprir com a necessária seletividade. A descrição anterior teve por objetivo 
demonstrar os diversos pontos positivos que, inegavelmente, ajudam a qualificar a 
performance do Eldorado Business Tower e o diferenciam de outros empreendimentos, 
mas alguns dos itens que garantiram a certificação são passíveis de observações críticas. 
A começar pela localização, o Eldorado Business Tower está implantado em terreno de 
privilegiada acessibilidade. Ao lado de um grande centro de compras e serviços de São 
Paulo, o Shopping Eldorado, apresenta passarela vedada por panos de vidro, conectando 
o edifício diretamente àquele shopping. Encontra-se ainda ao lado da estação ferroviária 
denominada Hebraica, o que em tese facilita o acesso de usuários e visitantes por 
transporte público. 
No entanto, como é ilustrado a seguir, o terreno faz fronteira, em um de seus lados, com 
uma via expressa bastante ruidosa e poluente pelo expressivo número de veículos que 
recebe diariamente, sem dizer que o terreno se encontra em rota de aviação. Na outra 
face do terreno, localiza-se o estacionamento do centro de compras, parceiro do 
empreendimento, o que gera necessariamente intenso afluxo de veículos motorizados ao 
conjunto. 
Embora a solução de elevar o térreo tenha sido competentemente proposta pelos 
arquitetos para que houvesse amenização do agravante de poluição sonora e ambiental, 
o potencial pleno do térreo como espaço coletivo e de permanência não foi explorado, 
dando-se ênfase ao uso de materiais como o vidro como fechamento da passarela 
indutora da ligação com o shopping. O vidro foi escolhido pela leveza visual e utilizado 
por seus resultados plásticos e, principalmente, pela resistência à deformação. 
O outro vizinho lateral é a estação ferroviária, cujo acesso pedestre não pode ser 
otimizado, pois uma via de proporções e capacidade de fluxo reduzida serve de conexão 
entre o edifício e a mencionada estação. 
A impossibilidade de realizar um sistema conector que permitisse de fato ligar a estação 
ao empreendimento se deveu ao fato de que, se a gestão do governo estadual de 2007 
havia sinalizado positivamente para a implementação desse recurso, em seguida 
desconsiderou-a, sob alegação de que seria necessário um segundo controle de 
catraca (14). Neste caso, a materialização da arquitetura cujo conceito previa uma 
qualidade ambiental por meio de seu projeto não foi prioritária ou decisiva, e por essa 
razão é questionável a sustentabilidade do empreendimentopautada exclusivamente na 
obtenção do grau Platinum. 
Uma das razões alegadas pelo Green Building Council ao certificar o Eldorado foi o 
fato de que a organização reconheceu como positivo a obra estar localizada em área 
urbanizada e servida de comércio, com acesso à estação ferroviária e à futura estação de 
metrô Pinheiros facilitado, e também a pontos de ônibus e serviços básicos. O que 
possibilitaria que o conjunto pudesse servir à comunidade local, incluindo passarela 
para integração e acesso dos usuários e visitantes ao Shopping Center Eldorado. 
Observa-se que o discurso que antecipou a certificação em 2009 enfatizando não 
somente o local mas as conexões do conjunto arquitetônico com o espaço público não 
veio a se concretizar plenamente, não por omissão dos arquitetos, mas por razões 
técnicas e políticas, o que questiona o certificado LEED quando encarado como 
processo e não somente como um estado acabado. 
Considerando que a população usuária fixa e visitante no Eldorado Business Tower é de 
7.000 pessoas/dia (15), à razão de 5.000 usuários e 2.000 visitantes, a rua que funciona 
como alça de acesso ao shopping center não possui escala adequada ao prédio e à sua 
população fixa e flutuante. Devido à dificuldade de fluxo e acesso estabelecer uma 
relação com o pedestre na cota da rua seria bastante difícil, o que fez com que os 
arquitetos criassem o térreo elevado, conectado em nível com a gare e o conjunto 
comercial. A elevação do térreo apresenta inegável vantagem de isolar o conjunto das 
vias ruidosas que o cercam e das dificuldades de acesso e conexão com a rua, recriando 
os caminhos e facilitando fluxos. 
A solução do térreo elevado, no entanto, propiciou solução de qualidade de natureza 
conectiva e espacial, principalmente com o Shopping Eldorado, criando fluxo contínuo 
entre este o edifício, o que certamente potencializou o número de clientes daquele 
centro de comércio. A ligação permitiu ainda que essa população usuária e visitante 
pudesse se beneficiar da oferta de serviços existente no conjunto, solucionando um dos 
problemas recorrentes do entorno dos edifícios corporativos de população densa, quanto 
à possibilidade de os usuários deixarem o ambiente de trabalho enclausurado em que 
passam grande parte do dia e oferecer serviços próximos. 
Por outro lado, na arquitetura proposta espaços e fluxos concorrem para otimizar essa 
articulação shopping-torre, convivendo com um térreo impermeabilizado e em que não 
há nenhum atrativo, mobiliário ou equipamento, e que não estimula o uso daquele 
espaço como área de permanência, a despeito de suas expressivas dimensões. Nele se 
encontram dispersos exemplares de vegetação isolados, cuja presença e qualidade foram 
justificadas por serem espécimes vegetais que consomem pouca água; entretanto, o 
edifício produz grande parte da água utilizada e destinada a lavagem e serviços por meio 
de reuso, o que significa que disporia de água a baixo custo para servir a um paisagismo 
de outra natureza ou intensidade, no térreo. 
A existência de conexão envidraçada contribui para sinalizar ao pedestre a 
predominância do fluxo em relação à permanência, fazendo do térreo muito mais 
cenário urbano do que espaço de apropriação. 
 
Predominância do fluxo em detrimento da apropriação da área do térreo - Passarela de 
acesso ao Shopping Eldorado 
Foto Mariana Feres dos Santos, obtida em visita técnica realizada em 16.03.2011 
O edifício dispõe de noventa (90) vagas de garagem preferenciais para carros 100% a 
álcool ou 100% GNV (gás natural veicular), e ganhou pontos por isso (16). Deve-se 
lembrar o fato de que no Brasil nem todos os carros usam álcool ou GNV como 
combustível, então como fazer esse controle? Essas vagas acabam servindo ao 
estacionamento de carros do tipo flex, que podem ser abastecidos tanto com álcool 
como gasolina. 
O Eldorado Business Tower possui também bicicletário, com vestiário no térreo, um 
item programático que gerou pontos para a certificação. Impossível negar que a 
localização do edifício seja excepcional e que isso tenha rendido grande parte dos 
pontos da certificação, mas, no caso do bicicletário, em visita ao prédio na quarta-feira, 
dia 16 de março de 2011, foi possível observar que este disponibiliza considerável 
número de vagas, e nele foram encontradas apenas cinco bicicletas; ou seja, dos cinco 
mil usuários do prédio, pode-se concluir que 0,1% usaram bicicleta como meio de 
transporte. 
 
Bicicletário do Edorado Business Tower 
Foto Mariana Feres dos Santos, obtida em visita técnica realizada em 16.03.2011 
A expressiva utilização de tecnologia, métodos e processos de racionalização do uso 
energético e de água contribuíram de maneira evidente para que o prédio pudesse 
alcançar o nível Platinum, afinal, esforços e investimentos para isso são observáveis, 
mas se omitidos os itens relacionados a esses temas e também a localização, 
anteriormente evidenciados, ainda seria possível atingir esse patamar de certificação? 
Até que ponto a certificação foi fruto de preocupação com o meio ambiente ou forma de 
gerar atributos para comercializar o edifício? 
Em março de 2008, a CB Richard Ellis (CBRE) concluiu o processo de locação dos 
escritórios existentes no edifício, tendo sido esta a maior negociação do gênero já 
realizada no Brasil em edifícios corporativos para múltipla ocupação comercial, antes 
mesmo da expedição do auto de conclusão da obra. É fato que empresas multinacionais 
locatárias sediadas em filiais em São Paulo procuram se instalar em edifícios 
certificados pelos sistemas credenciados pelo Green Building Council, pelo fato de as 
condições favoráveis de racionalização de meios e eficiência energéticas baixarem 
expressivamente custos de manutenção e taxas condominiais. Também é inegável que 
tais sistemas consistem de fato em economia, contribuindo para a preservação de 
recursos naturais, empregando água de reuso cuja origem é pluvial. O sistema de 
frenagem de elevadores, aproveitando a energia produzida nesse processo é também um 
sistema inteligente cujos resultados são muito significativos, como pode ser constatado 
na visita técnica realizada ao caso de estudo. 
As intenções e resultados da certificação são nobres e eficientes, mas é fato que o 
sucesso da certificação é aproveitado para criar instrumentos para o chamado marketing 
ambiental. Segundo Paiva, “[...] quando a empresa passa a valorizar sua relação com o 
meio ambiente e a tomar medidas preventivas, sua imagem perante a opinião pública 
tende a apresentar conotação diferenciada. Valorizar sua preocupação com o meio 
ambiente tem um forte papel, entre outros, na manutenção dos clientes atuais e atração 
de novos consumidores” (17). Mesmo durante a crise econômica atravessada em 2008, 
todos os escritórios do Eldorado Business Tower permaneceram ocupados e havia 
procura por locação, o que se deve ao fato de que as empresas multinacionais exigem 
que seus escritórios se instalem em edifícios certificados. 
As dúvidas lançadas sobre o processo de certificação que no Brasil está apenas 
começando são uma forma de refletir sobre arquitetura sustentável, quando o paradigma 
para defini-la envolve maior articulação entre as categorias que levam à obtenção de 
pontos no LEED e a arquitetura realizada, em toda a sua complexidade propositiva. 
O fato é que a importância da certificação está sendo amplamente disseminada e a 
sociedade começa a incorporá-la como sinal de qualidade construtiva e ambiental. A 
credibilidade da certificação mesmo questionada se sustenta pelas características 
positivas que traz. O Eldorado Business Tower poderia ter sido projetado exatamente 
com as mesmas características arquitetônicas, mas sem nenhum tipo de preocupação 
com eficiência energética, economia de água, materiais usados ou o impacto causado ao 
meio ambiente. 
Considerações finais 
A princípio, o Eldorado BusinessTower parece não se diferenciar das demais torres de 
escritórios de São Paulo e dúvidas surgem para indagar por que esse edifício, entre 
tantos outros similares, recebeu a certificação platina do LEED CS, a mais alta da 
categoria. 
Uma análise mais profunda das situações e condicionantes que envolveram a concepção 
desse edifício leva a concluir que existiu sim preocupação prioritária com economia de 
água e energia durante as fases de projeto e obra, mas a questão condutora do trabalho é 
se estas demandas isoladas seriam suficientes para garantir o nível de certificação que o 
edifício recebeu e atestam uma arquitetura sustentável. Alguns dos espaços e itens 
programáticos que geraram pontuação para a certificação não são sequer utilizados 
pelos usuários, a exemplo do bicicletário. Outros fatores atendidos isoladamente 
parecem não definir a sustentabilidade dessa arquitetura, conceito que se enuncia como 
atributo que é parte da produção de arquitetura em sua complexa acepção espacial e 
programática. 
O LEED é uma certificação estrangeira e razoavelmente nova no Brasil. Vem ganhando 
cada vez mais força e notoriedade, tornando-se referência para quem quer comprovar 
uma legítima preocupação com o meio ambiente durante e após a construção. Muitos 
dos itens que contempla são preocupações justas, independendo de busca da 
certificação, temas que devem ser enfrentados pelos profissionais responsáveis pelo 
empreendimento. 
Então, qual o objetivo da certificação? O objetivo é realmente construir edifícios 
sustentáveis ou proporcionar-lhes, a despeito de uma preocupação com o meio 
ambiente, um selo que comprove essa preocupação e garanta uma melhor 
comercialização? 
Independente do objetivo final, a preocupação com a sustentabilidade existe e edifícios 
construídos sem qualquer atenção para com o meio ambiente são agora objeto de 
cuidadosa localização e decisões acuradas de projeto, escolha de materiais, consumo de 
energia, de água e outros itens responsáveis por significativo impacto ambiental, o que 
certamente contribui para aperfeiçoar seu desempenho e minimizar esse impacto. 
notas 
1 
LOVELOCK, James. A Vingança de Gaia. Rio de Janeiro, Intrínseca, 2006, p.16. 
2 
BRUNDTLAND apud HERNANDES, Thiago Zaldini. LEED-NEC como sistema de 
avaliação de sustentabilidade: uma perspectiva nacional? Tese, Faculdade de 
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007, p. 27. 
3 
U.S. Green Building Council. Building Impacts. Disponível em <www.usgbc.org>. 
Acesso em 11/09/10. 
4 
CIB/UNEP-IETC, Agenda 21 for Susteinable Construction in Developing Countries A 
Discussion Document. Pretoria, South Africa: CSIR, 2002. Disponível em 
<www.cidb.org.za/Documents/KC/External_Publications/ext_pubs_a21_sustainable_co
nstruction.pdf>. Acesso em 22/08/2010. 
5 
ENOKI Priscilla Azevedo; ADUM, Samir Hussain Nami; FEERREIRA, Mariana 
Zanchetta; AURELIANO, Camila Aparecida; VALDEVINO, Sheila de Lima. 
Estratégias de Marketing Verde na Percepção de Compra dos Consumidores na 
Grande São Paulo. Revista Jovens Pesquisadores, Ano V, nº8, jan/jul 2008, p. 58. 
Disponível em 
<www.mackenzie.com.br/dhtm/seer/index.php/jovenspesquisadores/article/viewFile/92
2/429>. Acesso em 14/11/10 
6 
SILVA, Vanessa Gomes da; AGOPYAN, Vahan. Avaliação de Edifícios no Brasil: 
Saltando de Avaliação Ambiental para Avaliação de Sustentabilidade. Boletim Técnico, 
Escola Politécnica da USP, Departamento de Engenharia de Construção Civil, São 
Paulo, 2004, p.1. 
7 
SILVA & AGOPYAN, op. Cit., 2004. 
8 
SILVA apud CSILLAG, Diana. Análise das práticas de sustentabilidade em projetos de 
construção latino americanos. Tese, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 
São Paulo, 2007. 
http://www.usgbc.org/DisplayPage.aspx?CMSPageID=1720
http://www.cidb.org.za/Documents/KC/External_Publications/ext_pubs_a21_sustainable_construction.pdf
http://www.cidb.org.za/Documents/KC/External_Publications/ext_pubs_a21_sustainable_construction.pdf
http://www.mackenzie.com.br/dhtm/seer/index.php/jovenspesquisadores/article/viewFile/922/429
http://www.mackenzie.com.br/dhtm/seer/index.php/jovenspesquisadores/article/viewFile/922/429
9 
U.S. Green Building Council Institute, op. cit.. 
10 
Idem anterior. 
11 
CTE – Centro de Tecnologia de Edificações/Gafisa. ELDORADO BUSINESS 
TOWER. Manual do Locatário. Diretrizes para a sustentabilidade. São Paulo, Green 
Building Council, s/e, 2011. 
12 
MERCADO IMOBILIÁRIO – REAL STATE. Disponível em 
<http://jonasfederighi.wordpress.com/2009/09/03/eldorado-business-tower-e-o-
primeiro-edificio-certificado-leed%C2%AE-platinum-da-america-latina-392009/>, 
acessado em 25 de março de 2011. 
13 
A visita técnica foi realizada pelas autoras e monitorada pelo Engo. Eletricista Fernando 
Sinicatto, responsável (C. B. Richard Ellis) pelo acompanhamento do sistema 
inteligente de controle dos equipamentos de fluxo e reuso de água e eficiência 
energética do Eldorado Business Tower. 
14 
ARCOWEB. Aflalo & Gasperini Arquitetos. Edifício de escritórios, São Paulo, SP. 
Disponível em <www.arcoweb.com.br/arquitetura/aflalo-amp-gasperini-arquitetos-
edificio-de-29-05-2008.html>. Acessado em 25 de março de 2011. 
15 
Conforme foi comentado durante a visita técnica realizada em 16 de março de 2011. 
16 
CTE/Gafisa – Manual do Locatário, op. Cit. 
17 
PAIVA, Cida, em SCARPINELLI, Marcelo & RAGASSI, Gláucia Frutuoso. Marketing 
Verde: Ferramenta de Gestão Ambiental nas Empresas. Revista Científica Eletrônica 
de Ciências Contábeis, Ano I – Número 02 – Outubro de 2003, Garça/SP. 
bibliografia complementar 
BARROS, Érica Márcia Leite. Avaliação de Desempenho Ambiental de Edifícios: Uma 
Percepção dos Agentes da Construção Civil no Mercado do Espírito Santo. Tese, 
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2005. 
HERTZ, John B. Ecotécnicas em Arquitetura: Como Projetar nos Trópicos. São Paulo, 
Pioneira: 1998 
KOTLER, Philip. Administração de Marketing, 10ª edição. São Paulo, Prentice Hall: 
2000. 
http://jonasfederighi.wordpress.com/2009/09/03/eldorado-business-tower-e-o-primeiro-edificio-certificado-leed%C2%AE-platinum-da-america-latina-392009
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http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/aflalo-amp-gasperini-arquitetos-edificio-de-29-05-2008.html
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SILVA, Vanessa Gomes da. Avaliação da Sustentabilidade de Edifícios de Escritórios 
Brasileiros: Diretrizes e Base Metodológica. Tese, Escola Politécnica da USP, São 
Paulo, 2003. 
sobre as autoras 
Mariana Feres dos Santos é Arquiteta e urbanista, mestranda do Programa de Pós-
Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. 
Eunice Helena Sguizzardi Abascal é arquiteta e urbanista, professora da FAU 
Mackenzie e do PPGAU dessa Instituição.