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Crítica à Corrupção na Igreja

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autoritarismo, interesse, corrupção, luxúria, egoísmo e maldade. O grupo, de modo geral, 
serve-se da Igreja para seu próprio interesse e conforto. Nenhum se preocupa com os 
pobres, necessitados ou com a comunidade menos afortunada. A falta de caridade é, 
inclusive, tema de algumas discussões geralmente encerradas pela afirmação de que “A 
pobreza agrada a Deus Nosso Senhor.” (QUEIRÓS, 2000, p.307). Tais atitudes irão favorecer 
e até mesmo sustentar as más ações do protagonista. 
Um exemplo é uma conversa durante um jantar, quando, após os clérigos criticarem 
duramente as libertinagens do povo em diferentes localidades, o padre Natário malicia sobre 
o mau exemplo dado pelo padre Brito com a mulher do regedor, embora o acusado, furioso, 
negue veementemente, os outros riem e o parabenizam. Em seguida, o assunto sobre a 
confissão é discutido superficialmente como um meio de dominar as mulheres, de obter 
seus favores; porém, o principal destaque da conversa toma um sentido mais amplo e social 
por revelar a influência dos padres para eleger políticos. Natário relata como havia 
conseguido votos para um deputado enviando cartas vindas do céu, de Nossa Senhora, 
solicitando votos às mulheres da freguesia e continua:
— E com a confissão, disse o padre Natário. A coisa então vai pelas 
mulheres, mas vai segura! Da confissão tira-se grande partido.
O padre Amaro, que estivera calado, disse gravemente:
— Mas enfim a confissão é um acto muito sério, e servir assim para 
eleições...
O padre Natário, que tinha duas rosetas escarlates na face e gestos 
excitados, soltou uma palavra imprudente: 
— Pois o senhor toma a confissão a sério?
Houve uma grande surpresa.
— Se tomo a confissão a serio!? gritou o padre Amaro recuando a 
cadeira, com os olhos arregalados. 
— Ora essa! exclamaram. Oh, Natário! Oh, menino!
O padre Natário exaltado queria explicar, atenuar:
— Escutem, criaturas de Deus! Eu não quero dizer que a confissão 
seja uma brincadeira! Irra! Eu não sou pedreiro-livre! O que eu quero 
dizer é que é um meio de persuasão, de saber o que se passa, de 
dirigir o rebanho para aqui ou para ali... E quando é para o serviço de 
Deus, é uma arma. Aí está o que é — a absolvição é uma arma!
— Uma arma! exclamaram.   (QUEIRÓS, 2000, p.313)
O contraponto definidor de uma crítica à maioria corrupta da instituição eclesiástica, 
mas que reconhece a existência de padres vocacionados e dedicados à função consoladora 
da religião, é dado pela figura do abade Ferrão. O desenvolvimento de sua ação caridosa de 
apoio e direcionamento de Amélia, durante a estadia da jovem grávida em Cotegaça, é 
complementado pela descrição de seu modo de vida, ilustrativo do que seria um clérigo ideal 
e de sua atuação junto ao rebanho:
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