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Conflito Poético em Coimbra

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sempre a da Poesia em todos os tempos, no Rig-Veda ou nos 
Lusíadas, em Tirteu como em Rouget de L’Isle – isto é, a forma mais 
pura daquelas partes soberanas da alma colectiva de uma época, a 
crença e a aspiração. – Partindo desse princípio – a Poesia é a 
confissão sincera do pensamento mais íntimo de uma idade – o 
autor, na rectidão imparcial da sua lógica, havia de necessariamente 
concluir que esta outra afirmação – a Poesia moderna é a voz da 
Revolução – porque a Revolução é o nome que o sacerdote da 
história, o tempo, deixou cair sobre a fonte fatídica do nosso século.
(QUENTAl, 2018)
Essa nova expressão poética não agradou ao poeta Feliciano de Castilho, reitor da 
Universidade de Coimbra e influente defensor da já desgastada poética romântica. Castilho 
tornara-se uma referência no contexto acadêmico e artístico, possibilitando que mantivesse 
um séquito de admiradores protegidos por seu prestígio, embora muitas vezes se 
revelassem meros versejadores sem talento ou criatividade que renovasse a poesia 
ultrarromântica já convencional e repetitiva.  
A obra Poemas da Mocidade, de Pinheiro Chagas, publicada em 1865, traz um posfácio 
em forma de carta em que Castilho elogia a poesia de Chagas enquanto critica as obras de 
Teófilo Braga (Visão do tempo e Tempestades sonoras) e a de Antero de Quental (Odes 
Modernas) recém-publicadas. Embora Castilho tenha gostado da poesia de Teófilo Braga – 
curiosamente dedicadas ao velho poeta – ele não poupou críticas aos novos preceitos 
poéticos, especialmente às novas ideias defendidas por Quental a quem acusa de falta de 
bom senso e bom gosto.   
A REAÇÃO: BOM SENSO E BOM GOSTO 
O jovem intelectual publicou, em resposta a Castilho, a carta “Bom senso e bom 
gosto” que é considerado o ponto alto de uma série de outros textos, respostas e 
polêmicas do confronto literário, nomeado Questão Coimbrã, entre os ultrarromânticos 
e os jovens universitários de Coimbra, que defendiam uma concepção de literatura 
empenhada, na qual os problemas de ordem social deveriam ocupar a atenção de 
escritores e poetas.
Essa carta ficou famosa pela coragem de resposta irônica ao então reitor da 
Universidade de Coimbra: 
E se eu nem sequer me daria ao incommodo de erguer a cabeça de cima 
do meu trabalho para escutar essas palavras, entendo que não perco o meu 
tempo, que sirvo a moral e a verdade, censurando, verberando a 
deshonestaacção de v. ex.ª...(QUENTAL, 2009)
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