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Cláudio e Tomás: Poetas do Arcadismo

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ardente, mal tinha tempo para emendar o que 
escrevia. (LAPA, 1957, p. XIX)
CLÁUDIO, O CUIDADO COM A FORMA
Cláudio Manuel da Costa ajudou o amigo Tomás na redação das 
Cartas Chilenas, mas sua temática predileta era o amor. Além dos 
sonetos, éclogas, romances, cançonetas, cantatas e odes de amor, ele 
escreveu também o famoso poema épico Vila Rica, sobre a ação dos 
bandeirantes, a descoberta das minas de ouro e a fundação de Ouro Preto. 
A crítica tradicional costumava considerar Cláudio Manuel o mais 
português dos árcades mineiros, um formalista contumaz. Pode-se dizer 
que o poeta carrega algo do Barroco que em sua época era combatido como 
estilo degenerado, e que ao mesmo tempo conhece como poucos o novo 
estilo de tendência classicizante. Em seu famoso “Prólogo ao leitor” do 
volume Obras, de 1768, ele chega a se desculpar por não seguir o “estilo 
simples” do Arcadismo, e se deixar levar pela “elegância” com que orna 
seus poemas e faz seu estilo “propender mais para o sublime”. É curioso 
que o poeta tem consciência de que a “boa poesia” seja classicizante, mas 
há algo que o atrai irresistivelmente para um barroquismo tardio: “É 
infelicidade, que haja de confessar que vejo e aprovo o melhor, mas sigo o 
contrário na execução” (CANDIDO, 1968, p. 139).
Disso tudo o que nos fica de Cláudio Manuel da Costa é que ele não se 
deixa levar pelas aparentes facilidades do estilo simples, não se esquiva de 
uma construção frasal de certa complexidade, e não resolve suas tensões e 
conflitos, deixando em sua poesia um certo ar de incompletude e 
inacabamento que lhe confere sabor e distinção em relação aos poetas de 
seu tempo. Sua realização formal cuidada dos sonetos, por exemplo, não 
transmite a noção de artificialismo; ao contrário, sua habilidade em 
relacionar uma premissa maior a uma particularização seguida de uma 
conclusão, que, na maioria das vezes, ao invés de conduzir a uma situação 
estável, de esperança ou otimismo, explica ou justifica uma carência, 
confere um magnetismo especial a seus poemas. 
TOMÁS E SUA LÍRICA DE AMOR
Quanto a Tomás Antônio Gonzaga, o Dirceu de Marília, já quarentão, 
apaixonara-se por uma menina de dezessete anos, Maria Dorotéia 
Joaquina de Seixas. Já de casamento marcado, envolveu-se no episódio da 
Inconfidência Mineira, em 1789, e ficou preso até 1792, quando foi 
deportado para Moçambique, onde desligou-se para sempre do Brasil e 
refez sua vida. Para o crítico Antonio Candido, esses episódios são 
fundamentais para se compreender a poesia de Gonzaga: “Seja como for, o 
certo é que em Tomás Gonzaga a poesia parece fenômeno mais vivo e 
autêntico, menos literário do que em Cláudio, por ter brotado de 
experiências humanas palpitantes” (CANDIDO, 2000, p. 109). A afirmação 
parece-nos questionável, por atrelar a autenticidade da poesia a 
experiências pessoais. Certamente não teria sido por viver essa ou aquela 
experiência que a poesia de um escritor genial seria mais ou menos 
verdadeira ou bem feita.
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