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CONTROLE SEGMENTAR DA MOTRICIDADE Luciana Marçal da Silva UNIP BAURU Como tudo acontece Se você estiver com sede e quiser tomar um pouco de leite em uma caixa que está na sua frente. Os estímulos sensoriais vêm da periferia para dizer a você o que está acontecendo à sua volta, sua localização no espaço e onde suas articulações estão em relação às outras: eles fornecem um mapa do seu corpo no espaço. Essa informação sensorial é a essência sobre a tarefa que você irá realizar: o tamanho do copo, o tamanho e o peso da caixa de leite. Centros superiores no córtex fazem um plano de ação baseados nessa informação em relação ao objetivo: alcançar a caixa de leite. Por meio de seu mapa sensorial, você faz um planejamento do movimento (utilizando, possivelmente, os lobos parietais e os córtex suplementar e pré-motor). Para alcançar a caixa de leite à sua frente, esse plano é enviado ao córtex motor, e grupos musculares são especificados. Esse plano também é enviado para o cerebelo e para os gânglios da base, e eles o modificam para refinar o movimento. O cerebelo envia uma atualização do plano de output do movimento para o córtex motor e para o tronco Mesencefálico. Tratos descendentes do córtex motor e do tronco encefálico, então, ativam as redes da medula espinal, os motoneurônios espinais ativam os músculos e você alcança o leite. Se a caixa de leite estiver cheia, quando você achou que estava praticamente vazia, tratos reflexos espinais irão compensar pelo peso extra que você não esperava e ativarão mais motoneurônios. As consequências sensoriais do seu alcance serão avaliadas, e o cerebelo irá atualizar o movimento — nesse caso, para acomodar uma caixa de leite mais pesada. Para toda ação que executamos necessitamos do sistema motor Para haver um movimento organizado necessitamos da ação coordenada das regiões periféricas (sensorial e motora), medula espinhal, o tronco encefálico (que inclui o bulbo, a ponte e o mesencéfalo), o diencéfalo (tálamo e hipotálamo), o cerebelo e os hemisférios cerebrais, incluindo o córtex cerebral e as três estruturas profundas, os gânglios da base, a amígdala e o hipocampo. O movimento surge da interação tanto dos sistemas de percepção como dos de ação, com a cognição afetando ambos os sistemas em diversos níveis diferentes. Entre esses sistemas há muitos níveis diferentes de processamento. Estímulos Sensoriais Os estímulos sensoriais executam muitas funções no controle do movimento. servem como estímulo para o movimento reflexivo organizado na medula espinal; modulam o output do movimento que resulta da atividade dos geradores de padrão na medula espinal; modula os comandos que se originam em centros superiores do sistema nervoso; contribuem para a percepção e controle do movimento por meio de tratos ascendentes de modo muito mais complexo. Controle Espinhal do Movimento os fusos musculares, os órgãos tendinosos de Golgi, os receptores articulares e os receptores cutâneos Contribuem para o controle do reflexo espinal, modulam o output do gerador de padrão espinal, modulam os comandos descendentes e contribuem para a percepção e controle do movimento por meio de tratos ascendentes Para que possamos compreender a organização da motricidade, precisamos então entender o papel que aferências sensoriais desempenham na geração dos movimentos e nos ajustes necessários à sua adequada execução. Dentre os vários subsistemas sensoriais que contribuem para a motricidade, a sensibilidade proprioceptiva é a mais diretamente vinculada à função motora SENSIBILIDADE PROPRIOCEPTIVA A elaboração e execução de movimentos simples e automatizados, o sistema nervoso precisa ser informado tanto a respeito dos movimentos propriamente ditos, em cada instante de sua execução, quanto da posição do corpo sobre o qual eles vão agir. Essas informações são utilizadas na correção, momento a momento, do plano motor envolvido na elaboração e execução do movimento. Várias modalidades sensoriais são utilizadas pelo sistema nervoso como fonte para essas informações. SENSIBILIDADE PROPRIOCEPTIVA Nessa modalidade incluímos as sensibilidades muscular, articular e vestibular que, em conjunto, são responsáveis por detectar grandezas cinemáticas (posições, velocidades e acelerações) e dinâmicas (forças) envolvidas no comportamento motor. MEDULA ESPINAL MEDULA ESPINAL O circuito da medula espinal está envolvido na recepção inicial e no processamento da informação somatossensorial (dos músculos, das articulações e da pele) e o controle da postura e dos movimentos reflexos e voluntários através dos motoneurônios. Inervação muscular pelos neurônios motores inferiores O corno ventral da medula espinhal contém os neurônios motores que inervam as fibras musculares esqueléticas e são eles que comandam diretamente a contração muscular. Os axônios dos neurônios motores inferiores se agrupam para formar as raízes ventrais; cada raiz ventral se junta a uma raiz dorsal para, então, formar um nervo espinhal que deixa a medula espinhal através de espaços entre as vértebras. O número de nervos espinhais é o mesmo que o de espaços entre as vértebras, o que, na espécie humana, contabiliza 30 de cada lado. Eles são chamados de nervos espinhais mistos, visto que contêm fibras sensoriais e motoras A distribuição de neurônios motores na medula espinhal. A intumescência cervical (C3- T1) da medula espinhal contém os neurônios motores que inervam mais de 50 músculos do braço. A intumescência lombar (L1- S3) contém os neurônios que inervam os músculos da perna. A distribuição dos neurônios motores inferiores no corno ventral. • Os neurônios motores que controlam os flexores se situam dorsalmente àqueles que controlam os extensores. • Os neurônios motores que controlam os músculos axiais se situam medialmente àqueles que controlam os músculos distais. Uma unidade motora é um conjunto de neurônios motores. • Uma unidade motora é formada por um neurônio motor alfa e todas as fibras musculares que ele inerva. • Um conjunto de neurônios motores é formado por todos os neurônios motores alfa que inervam um músculo. • A contração muscular resulta das ações individuais e combinadas de unidades motoras O Controle Graduado da Contração Muscular pelos Neurônios Motores ALFA É importante que se exerca a exata quantidade de força durante a realização de um movimento. Se for a mais, você quebrará o ovo que acabou de pegar, além de desperdiçar energia metabólica. Se for a menos, você poderá perder a competição de natação. A maioria dos movimentos que realizamos, como caminhar, falar e escrever, exige apenas contrações musculares fracas. De vez em quando, precisamos correr, saltar ou levantar uma pilha de livros, então contrações mais fortes são necessárias. Reservamos uma força máxima de contração de nossos músculos para raros eventos, como uma corrida de curta distância de alta intensidade ou subir rapidamente em uma árvore por estar correndo de um urso esfomeado. O sistema nervoso usa vários mecanismos para controlar a força da contração muscular de uma forma gradual e precisa. A primeira forma de controle da contração muscular pelo SNC e variando a taxa de disparo dos neurônios motores. O neurônio motor alfa comunica-se com a fibra muscular, liberando o neurotransmissor acetilcolina (ACh) na junção neuromuscular, a sinapse especializada entre o nervo e o músculo esquelético. Devido a grande eficiência da transmissão neuromuscular, a ACh liberada em resposta a um potencial de ação pré-sináptico causa um potencial excitatório pós- sináptico (PEPS) na fibra muscular (também chamado de potencial da placa motora) que é intenso o suficiente para desencadear um potencial de ação pós-sináptico. Um potencial de ação pós-sináptico provoca umabalo – uma rápida resposta de contração seguida de relaxamento da fibra muscular. Uma contração sustentada requer uma sequência continua de potenciais de ação. Da mesma forma que outros tipos de transmissão sináptica, uma atividade pre-sinaptica de alta frequência causa uma somação temporal das respostas pós-sinápticas. A somação dos abalos aumenta a tensão das fibras musculares e suaviza a contração. A frequência de disparos das unidades motoras e, assim, uma maneira importante pela qual o SNC gradua as contrações musculares. A segunda maneira pela qual o SNC gradua a contração muscular e recrutando unidades motoras sinérgicas adicionais. A tensão extra provida pelo recrutamento de uma unidade motora ativa depende de quantas fibras musculares há nessa unidade. Nos músculos antigravitacionais da perna (músculos que se opõem a gravidade quando se fica de pé), cada unidade motora tende a ser relativamente grande, com uma média de inervação de mais de mil fibras musculares para um único neurônio motor alfa. Em contrapartida, os músculos menores que controlam os movimentos dos dedos das mãos e a rotação dos olhos são caracterizados por terem uma razão de inervação muito menor, como até três fibras musculares por neurônio motor alfa. Em geral, os músculos com uma maior quantidade de pequenas unidades motoras podem ser mais finamente controlados pelo SNC. O NEURÔNIO MOTOR INFERIOR Os neurônios motores inferiores são controlados por sinapses no corno ventral. 3 vias de entrada 1. Células ganglionares da raiz dorsal com axônios provenientes de um dispositivo sensorial especializado no interior do músculo = fuso muscular (sinal de retroalimentação, informando o comprimento do músculo). 2. Neurônios motores superiores localizados no córtex cerebral motor e no tronco encefálico (é importante para o início e para o controle do movimento voluntário). 3. Interneurônios da medula espinhal - pode ser excitatória ou inibitória e faz parte da circuitaria que gera os programas motores espinhais. Propriocepção dos Fusos Musculares No interior da maioria dos músculos esqueléticos existem estruturas especializadas, chamadas de fusos musculares. Os fusos e os axônios Ia, detectam alterações do comprimento (estiramento) muscular, são exemplos de proprioceptores. Esses receptores são um componente do sistema somatossensorial especializado na “sensação corporal”, ou propriocepção* (palavra derivada do latim proprius [próprio, de si mesmo + (re)cepção]), que informa como o nosso corpo se posiciona e se move no espaço. O Reflexo de Estiramento Quando um músculo é estirado, ele tende a reagir encurtando- se (contraindo-se). O fato de este reflexo de estiramento, por vezes chamado de reflexo miotático (mio, do grego para “músculo”, tático, do grego para “estirar”), envolver retroalimentação sensorial do músculo. Exemplo – Reflexo Patelar (testa a integridade dos nervos e dos músculos desse arco reflexo) Neurônios Motores Gama O fuso muscular contém fibras musculares esqueléticas modificadas dentro de sua cápsula fibrosa. Essas fibras musculares são chamadas de fibras intrafusais para as distinguir das fibras extrafusais, mais numerosas, que estão fora do fuso e formam a massa muscular Diferença entre os 2 tipos de fibras musculares FIBRAS EXTRAFUSAIS . São inervadas por outro tipo de neurônio motor inferior - neurônio motor gama FIBRAS INTRAFUSAIS são inervadas pelos neurônios motores alfa Neurônios Motores Gama Neurônios gama inervam as fibras musculares intrafusais nas duas extremidades do fuso muscular. Sua ativação causa a contração dos dois polos do fuso muscular, tracionando, portanto, a região central não contrátil e mantendo os axônios Ia ativos. Neurônios Motores Gama O circuito, neurônio motor gama → fibra muscular intrafusal → axônio aferente Ia → neurônio motor alfa → fibras musculares extrafusais, pode ser chamado de alça gama. A alça gama fornece um controle adicional dos neurônios motores alfa e da contração muscular. Propriocepção dos Órgãos Tendinoso de Golgi Os fusos musculares não são a única fonte de aferências proprioceptivas originadas dos músculos. Outro sensor do músculo esquelético é o órgão tendinoso de Golgi, ele monitora a tensão muscular ou a força de contração. Propriocepção dos Órgãos Tendinoso de Golgi Eles estão localizados na junção do músculo com o tendão e são inervados por axônios sensoriais do grupo Ib. Essa diferença na disposição anatômica permite definir que informações esses dois sensores fornecem à medula espinhal: • a atividade Ia proveniente do fuso codifica a informação do comprimento muscular; • atividade Ib do órgão tendinoso de Golgi codifica a informação da tensão muscular Propriocepção dos Órgãos Tendinoso de Golgi • Os Interneurônios Ib também recebem conexões de outros receptores sensoriais e de vias descendentes. • Em circunstâncias extremas, este arco reflexo Ib pode proteger o músculo de ser sobrecarregado. • Sua função normal é a de regular a tensão muscular dentro de uma faixa ideal. Acredita-se que esse tipo de retroalimentação proprioceptiva seja particularmente importante para a execução de atos motores finos, como a manipulação de objetos frágeis, que requer uma preensão estável, porém não muito forte. Propriocepção das Articulações vários axônios proprioceptivos estão presentes nos tecidos conectivos das articulações, principalmente no tecido fibroso que envolve as articulações (cápsulas articulares) e os ligamentos. Esses axônios mecanossensíveis respondem a mudanças de ângulo, direção e velocidade de movimento em uma articulação. Interneurônios Espinhais As ações das aferências Ib provenientes de órgãos tediosos de Golgi sobre os neurônios motores alfa dependem de conexões unicamente polissinápticas, todas mediadas por Interneurônios espinhais. Os interneurônios espinhais recebem conexões sinápticas de axônios sensoriais primários, de axônios descendentes do encéfalo e de axônios colaterais de neurônios motores inferiores. Interneurônios Espinhais - Entrada Inibitória A contração de um conjunto de músculos acompanhada pelo relaxamento dos músculos antagonistas. Inibição Recíproca Também utilizada pelas vias descendentes do encéfalo para superar a força do reflexo de estiramento. EXEMPLO: Suponha que os flexores do cotovelo são voluntariamente comandados a se contrair. Pode-se prever que o estiramento resultante dos músculos extensores antagonistas ative o seu arco reflexo de estiramento, o que seria uma forte resistência a flexão da articulação. Contudo, as vias descendentes que ativam os neurônios motores alfa dos flexores também ativam Inter neurônios, que inibem os neurônios motores alfa dos músculos antagonistas. Interneurônios Espinhais - Entrada Excitatória Circuito do reflexo flexor de retirada Esse é um arco reflexo complexo polissináptico utilizado para afastar o membro de um estímulo doloroso. O reflexo flexor é ativado pelos pequenos axônios Aδ nociceptivos mielinizados que provocam dor Reflexo extensor cruzado O reflexo extensor cruzado, utilizado para compensar a carga adicional imposta pela retirada do membro sobre os músculos extensores antigravitacionais da perna oposta. EXEMPLO: Você esta caminhando de pés descalços e pisa em uma tachinha. Graças ao reflexo flexor, você (reflexamente) afasta seu pé. Entretanto, o que aconteceria com o resto do seu corpo se nada mais ocorresse? Provavelmente cairia. Felizmente, um componente adicional do reflexo e recrutado: a ativação dos músculos extensores e a inibição dos flexores no lado oposto.