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AUDITORIA INTERNA DE GESTÃO Prof. Luiz Eduardo Croesy Jenkins AULA 5 2 Estrutura Organizacional da Auditoria Interna TEMA 1 – FINALIDADE E ATRIBUIÇÕES DA AUDITORIA INTERNA Ao longo do tempo, à medida que a auditoria como forma de atuação passou por um processo de desenvolvimento, passou a distinguir claramente os papéis tanto da auditoria externa ou independente quanto o da auditoria interna. 1.1 Finalidade da auditoria interna O Instituto dos Auditores Internos (IIA), organismo internacional que normatiza a auditoria interna, conceitua a auditoria interna como “sendo uma atividade de caráter independente e consultiva que efetua avaliações sistemáticas de avaliação dos riscos, controles internos e da governança organizacional, buscando a melhoria organizacional” (IIA, 2008). Inicialmente a auditoria interna compreendia a análise e emissão de opinião acerca das demonstrações contábeis e seus processos de formação e contabilização, passando a adotar, em meados do século XX, outra abordagem, focando os controles internos das organizações e ocupando-se da análise do ambiente organizacional, dos processos e dos riscos a eles vinculados. Almeida (2012) destaca que a auditoria interna surge como uma variante da auditoria externa, a partir da identificação por parte das organizações de que a avaliação dos seus processos e normas não poderia ser avaliado adequadamente e de modo mais aprofundado pelos auditores externos, em função do volume de atividades e rotinas a cargo dos diversos setores. Este procedimento requereria a adoção de profissionais específicos para estas análises. Surge assim a figura do auditor interno, com atribuições específicas e distintas dos auditores externos ou independentes. 1.2 Atribuições da auditoria interna Entre os seus objetivos, destacam-se a avaliação da eficácia e eficiência dos processos internos (Attie, 2011), a investigação documental com a finalidade de verificar os registros contábeis e operacionais (Franco; Marra, 2001), além de atuar como uma estrutura de apoio e consultiva, na identificação de situações de 3 não conformidade, recomendando soluções específicas, visando a minimização de erros e mitigando riscos (Attie, 2007). 1.2.1 Avaliação da eficácia e eficiência Dúvida recorrente no meio acadêmico e profissional, é importante destacar conceitualmente eficácia e eficiência e suas diferenças. A eficácia está relacionada a uma abordagem gerencial e corresponde a fazer aquilo que é certo. Já a eficiência está relacionada a questões operacionais e significa fazer algo de maneira correta. Portanto, conhecidos os conceitos e suas diferenças, observamos que a auditoria interna, como uma atividade ou setor que avalia a eficiência e a eficácia, tem por atribuição avaliar tanto o nível operacional como o nível gerencial ou estratégico de um setor ou organização. Avaliar a eficácia e eficiência consiste, portanto, em observar os procedimentos rotineiros e não rotineiros e verificar se estão sendo realizados de forma adequada, respeitando os princípios e normas que contribuem para o atingimento de metas estabelecidas pela entidade. 1.2.2 Avaliação de aspectos formais contábeis e operacionais A auditoria interna é uma atividade que requer um alto grau de especialização e conhecimento, dada a sua atuação como organismo que avalia o desempenho de atividades e processos de outros departamentos e atua como uma unidade de apoio e consultoria à alta gestão. A auditoria interna atua adicionalmente como órgão de assessoramento à alta gestão, tratando de questões estratégicas e assuntos relativos à alta administração, incluindo impactos em temas de grande relevância (Silva; Machado, 2018). Como uma de suas características marcantes está o foco em capacitações e treinamentos a fim de aprimorar a atuação dos auditores internos. A expertise obtida em razão do conhecimento adquirido nos diversos setores da organização em que atua avaliando processos dá ao auditor uma visão macro da organização, o que lhe permite verificar a organização não apenas com uma visão restrita do setor que está sendo auditado, mas sim como funciona toda a engrenagem e como as atividades de um determinado setor impactam na cadeia organizacional produtiva e de apoio administrativo. 4 Estas características são utilizadas para auxiliar o auditor no processo de análise da contabilidade e das finanças da empresa não apenas nos aspectos quantitativos ou de registros, mas também nos aspectos formais de respeitabilidade às normas e legislação às quais a entidade está sujeita, como também premissas voltadas à governança corporativa e gestão de riscos, também definidas como compliance. 1.2.3 Avaliação de conformidade A auditoria de conformidade consiste na atuação do auditor na verificação das situações de conformidade e não conformidade relacionadas às normas e regras estabelecidas na organização. Nesta abordagem o auditor verifica a quais regramentos e determinações internas e externas a organização está exposta e como estão sendo aplicados e gerenciados estes aspectos. Por exemplo, uma empresa que atua como uma concessionária de serviços públicos, tais como energia elétrica, água e esgoto ou telefonia, está sujeita às regras de conduta, normas, legislação e metas específicas estabelecidas pelas agências estatais reguladoras, para as quais a equipe de auditores irá verificar o correto atendimento a estas determinações. Outro exemplo, empresas que possuem ações negociadas em bolsas de valores, que possuem normativas e leis extremamente exigentes, bem como padrão de divulgação de informações e regras de atuação junto ao mercado, além de possuir um órgão regulador, a CVM tem poder de fiscalização e penalização em casos de violação de regras aplicadas ao mercado acionário e de valores mobiliários. Nestas situações, os auditores internos precisam inicialmente estar familiarizados com as normas que regulam a atuação da organização, sejam estas normas internas ou externas e, diante disso, avaliar se os processos correspondentes ao setor auditado estão respeitando as regras e regulamentos aos quais estão sujeitos. 1.2.4 Assessoramento à alta gestão Pode ser aplicado às auditorias internas no âmbito do setor público ou privado. 5 No setor público, atua basicamente na certificação de regularidade das contas da gestão. Atua, ainda, na verificação da legalidade quanto aos atos praticados e a correta aplicação dos recursos públicos, também denominado de probidade administrativa. Pode ser requerido a atuar na verificação da correta administração dos bens públicos a cargo da gestão. No setor privado, a atuação como órgão de assessoramento à alta gestão conduz a auditoria ao papel de membro do comitê de auditoria, como também atua como órgão consultivo estratégico a todos os assuntos que envolvem a gestão de riscos organizacionais e em situações que envolvem a implementação de novas estratégias organizacionais, que poderão trazer riscos à entidade. Como exemplo de novas estratégias estão a criação ou a descontinuidade de determinada linha de produtos, a adoção de novas políticas de preços, a criação de filiais locais ou internacionais, a mudança ou incorporação de novos segmentos de negócios, fusões e aquisições, abertura ou fechamento do capital da empresa, mudança da firma de auditoria independente. Estes e outros exemplos de estratégias podem ser objeto de avaliação por parte da equipe de auditores em relação aos riscos que envolvem estas decisões. TEMA 2 – ESTRUTURAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA ÁREA DA AUDITORIA Diferentemente da estrutura organizacional da auditoria externa, na qual as firmas de auditoria possuem um formato padronizado, com poucas variações no que se refere à nomenclatura dos cargos entre as firmas de auditoria, nocaso da auditoria interna a padronização praticamente inexiste, sendo que a estrutura das auditorias internas depende de cada organização e, quando se trata das auditorias internas no âmbito da administração pública, as estruturas mudam conforme a esfera: federal, estadual e municipal diferem em razão dos seus normativos específicos, que tratam da carreira no serviço público. As empresas de auditoria de menor porte, em função da sua estrutura, geralmente executam trabalhos de auditoria em que os seus profissionais atuam individualmente realizando as atividades de planejamento e de execução dos testes de auditoria. Nestas organizações, geralmente a revisão final fica a cargo do diretor ou sócio da empresa. 6 Em organizações de médio porte considera-se a utilização do gerente da auditoria na fase de planejamento dos objetivos e do escopo da ação. A revisão dos papéis de trabalho também ficará a cargo do gerente, e o sócio ou diretor se encarrega da supervisão e revisão final do parecer de auditoria. Nas organizações de grande porte da iniciativa privada, como os grandes conglomerados industriais ou comerciais, multinacionais e as Big Four de auditoria independente (Delloite, Ernst & Young, KPMG e PwC), a estrutura é mais diversificada, composta de vários níveis, que vão desde os trainees (ou auxiliares) até o sócio ou diretor de auditoria. No âmbito das organizações públicas, autarquias, fundações e sociedades de economia mista, a estrutura da auditoria interna também se apresenta de forma mais extensa, com funções que vão desde o auxiliar de auditoria até o diretor de auditoria interna. Em que pese a distinção de nomenclatura observada entre organizações, em geral as funções da auditoria se apresentam da seguinte forma: • Diretor de auditoria: cargo destinado ao principal dirigente, responsável pela interlocução com a alta administração dos setores ou empresas auditadas. Possui, ainda, a função de conselheiro junto à alta administração e é membro do comitê de auditoria, em organizações que dispõem desta unidade em sua estrutura; • Superintendente de auditoria: o superintendente atua na organização das programações e é responsável por atuar diretamente com as gerências de auditoria interna; • Gerente de auditoria: os gerentes atuam diretamente junto aos supervisores de auditoria, atuando na administração dos projetos (ou jobs), analisando rentabilidade e necessidades específicas como ajustes nas horas-homem, no cronograma de execução da auditoria, alteração de escopo e objetivo; • Supervisor de auditoria: responsável por acompanhar de perto a execução das atividades, atuando também na revisão dos papéis de trabalho elaborados pelos demais auditores; • Sênior de auditoria: responsável de campo, ou seja, o auditor encarregado, que conduz o trabalho diretamente e coordena os demais auditores. Também é o responsável pela auditoria de temas mais 7 complexos e é o responsável por estar em contato com as pessoas-chave, além de ter como atribuição a responsabilidade pela revisão dos papéis de trabalho dos auditores assistentes e auxiliares; • Assistente de auditoria: auditor com maior experiência que o auxiliar ou trainee e que já conduz as atividades com razoável autonomia, com base nas instruções apresentadas. É o apoio direto do sênior nas auditorias mais complexas e pode conduzir trabalhos de menor risco; • Auxiliar ou trainee de auditoria: são os iniciantes na área e que dão suporte aos assistentes. Realizam inicialmente atividades de pesquisa, alguns procedimentos de auditoria mais simples, como recálculos ou observações, e não realizam atividades que tenham que realizar julgamentos ou emitir opiniões. TEMA 3 – AUTOMAÇÃO DOS PROCESSOS DA AUDITORIA INTERNA Com o advento do desenvolvimento da tecnologia em todas as áreas das organizações, o que acarretou um maior volume de geração de informações e rapidez na apresentação de resultados, a auditoria teve que se adequar à essa nova realidade. É impensável atualmente uma equipe de auditoria que realize suas atividades sem o uso de recursos tecnológicos e computacionais. E não estamos falando apenas em uso de computadores e planilhas eletrônicas. A inteligência artificial é uma forte ferramenta que auxilia o auditor no cruzamento de dados, identificação de exceções e inconsistências. A utilização de sistemas de banco de dados e de mineração de informações também concorre favoravelmente à atuação do auditor, já que em certas situações o auditor pode fazer uso de informações obtidas de forma independente, sem a necessidade de recorrer a apenas uma fonte de informações, geralmente interna. Quando se trata das auditorias em informações econômico-financeiras, como as demonstrações contábeis, é preciso ter em conta que todo o processo de identificação, classificação, registros e produção de informativos desta natureza se processam por meio de sistemas de informações contábeis, os SIC. Informações de natureza fiscal-tributária, como o imposto de renda, ICMS, IPI e demais tributos, também são apurados em sistemas próprios. Da mesma forma, todas as transações financeiras, pagamentos, recebimentos, investimentos, 8 empréstimos e financiamentos são realizados por meio de transações eletrônicas. Os processos operacionais, em sua grande maioria, são registrados e controlados por sistemas de gestão, como o controle de estoques, produção, custos de produção. Os processos auxiliares, de natureza administrativa, como o processamento da folha de pagamento, controles de acesso, monitoramento e vigilância e controle de frotas, viagens e hospedagens, também são realizados por meio de sistemas próprios. Estas situações justificam o uso de recursos tecnológicos por parte da equipe de auditoria. Neste quesito, destaca-se a evolução das firmas de auditoria independente na condução das suas atividades. Nestas organizações, sobretudo as firmas multinacionais de auditoria, dispõem de softwares voltados ao planejamento e condução de cada etapa do processo de auditoria até a emissão dos relatórios e opiniões de auditoria. A adoção de softwares específicos para trabalhos de auditoria traz uma série de benefícios à atividade de auditoria, a saber: • Transporte de documentos: eliminação da necessidade de carregar documentos físicos (em papel) de auditorias anteriores, utilizados para auxiliar no processo de auditoria recorrente, além da minimização do risco de extravio ou danificação de documentos; • Otimização nas pesquisas de informações: o uso de sistemas de informações permite a agilidade na coleta de dados armazenados nos sistemas de informação, permitindo identificar de forma mais célere, dados e informações necessários para a realização das auditorias; • Acesso remoto: a tecnologia e uso de sistemas de informação permite o acesso à base de informações sem limitação espacial ou temporal, facilitando o acesso às bases informacionais mesmo em períodos de impedimento, como greves, protestos, feriados ou férias coletivas ou acidentes ocorridos no local da auditoria; • Acesso a multiusuários: o uso de sistemas de informação permite o acesso a vários usuários ao mesmo tempo para um mesmo conjunto de informações, contribuindo para a otimização e agilidade do processo de auditoria; 9 • Integridade: minimiza o impacto de interferências internas ou externas, de modo indevido na base informacional, evitando modificações ou adulterações não autorizadas nos documentos, garantindo a sua confiabilidade; • Restrição de acesso e permissão de usuários: a utilização de senhas e hierarquia de acesso evita que usuários não autorizados acessem a base de dados, restringindo o acesso somente àquelas pessoas habilitadas; • Otimização de espaços: o uso de sistemas de informação e digitalização de documentos, apresentando-os de forma eletrônica,minimiza os custos com locação ou construção de espaços para fins de guarda de documentos. Quando o assunto é tecnologia, também se faz necessário tratar da automação no meio empresarial, sobretudo nas empresas industriais. Sendo o foco básico da auditoria interna nos processos e os riscos que são relacionados a eles, a automação está diretamente relacionada à condução dos processos, sejam eles operacionais ou não operacionais, rotineiros ou não rotineiros. A evolução em termos de automação pode ser percebida nos últimos 20, 25 anos, quanto se observa o segmento bancário. O processo manual foi totalmente eliminado, e toda e qualquer transação bancária, do banco de menor porte às grandes organizações financeiras, é realizada mediante o uso de sistemas de informação. Tomando-se como exemplo ainda o setor bancário, as formas de acesso às operações tornaram-se multimodais, em que computadores pessoais, tablets e aparelhos de telefonia celular passaram a fazer operações que antes somente poderiam ser efetuadas de forma pessoal e nas agências bancárias. Até mesmo a mais básica das atividades realizadas junto às instituições financeiras, que é a abertura de contas, pode ser realizada a distância, por meio de um telefone celular, sem a necessidade de preenchimento de documentos impressos ou de algum registro manual por meio dos funcionários do banco. Nas instituições públicas, o uso de tecnologia também tem avançado e o nível de utilização de sistemas obteve um acréscimo, sobretudo na última década. Atualmente, o acesos aos serviços públicos sob a responsabilidade do Governo Federal têm convergido para uma plataforma única e global, o sistema 10 gov.br (<https://acesso.gov.br/>), um portal de acesso a diversos serviços que estão sob a responsabilidade dos ministérios e demais órgãos da administração direta e indireta. Os sistemas públicos de apuração, registro e pagamento de tributos federais, estaduais e municipais também são realizados por meio de sistemas próprios a cargo de cada agente arrecadado nessas três esferas. Agendamento de serviços estaduais e municipais também têm sido realizados por meio de portais, aplicativos ou sistemas integrados, fazendo com que seja atualmente mandatório aos auditores, o conhecimento mínimo, mesmo a nível de usuário, dos sistemas vinculados aos setores ou organismos que serão objeto da auditoria. A formação de auditores internos de sistemas é uma necessidade, e as unidades ou empresas de auditoria interna devem ter em seu planejamento a contratação de pessoas com este perfil, ou, ainda, devem elaborar um plano de capacitação aos auditores internos dos seus quadros de pessoal, no sentido de oferecer treinamentos específicos para lidar com os sistemas de informação, que lhes permitam identificar os principais riscos, suas vulnerabilidades e confiabilidade. Observa-se, portanto, que, diante do cenário atual em que se encontram as organizações em termos de evolução tecnológica dos seus processos e da organização informacional, as atividades de auditoria interna deverão estar em linha com esta forma de atuação, adequando-se a um ambiente cada vez mais tecnológico e virtual, em que não apenas as organizações encontram-se dependentes do uso de recursos tecnológicos, como também os usuários internos, clientes, fornecedores e demais stakeholders fazem uso da tecnologia para estabelecer relacionamento com as organizações. Isto faz com que os planejamentos da auditoria interna contemplem a percepção dos fatores de risco em função dos aspectos tecnológicos, como vírus, fraudes, back-ups, trilhas de identificação de acessos, política de logins e senhas e seus respectivos compartilhamentos. TEMA 4 – GESTÃO DA AUDITORIA INTERNA Para atingir um dos objetivos centrais da auditoria interna, que é o de agregar valor à organização, como também ser um canal de apoio consultivo à 11 alta administração, a unidade de auditoria interna deve estabelecer um plano de gestão eficiente das atividades sob sua responsabilidade. A organização gerencial da atividade da auditoria interna contempla os seguintes aspectos: o planejamento, a comunicação, gerenciamento de recursos, estabelecimento de políticas e procedimentos. 4.1 Planejamento O planejamento da auditoria interna deve estar em conformidade com a análise de riscos realizada na fase preliminar da ação de auditoria interna planejada. Aplicada a matriz de riscos para fins de identificação e classificação dos riscos inerentes, a equipe de auditoria estabelece os procedimentos de auditoria (testes), estima o tempo, a quantidade de auditores, custos envolvidos no processo e objetivos gerais e específicos que se pretende alcançar. O plano ou planejamento de auditoria deverá passar por revisões periódicas, a fim de avaliar se ocorreram mudanças significativas que necessitem modificar alguma abordagem ou procedimento de auditoria. A interlocução com a alta administração, com os conselhos de administração e com os comitês de auditoria também devem ser considerados para fins e contribuição à construção de um planejamento robusto e que atenda às expectativas dos objetivos de auditoria que foram estabelecidos. As percepções e sugestões destes atores contribuem para o fortalecimento do planejamento da auditoria em relação aos processos e atividades elencados. 4.2 Comunicação A interlocução das equipes de auditoria com os demais setores envolvidos no processo é fundamental para a boa gestão das atividades da auditoria interna. Historicamente, a atividade da auditoria interna requer, por vezes, o apontamento de falhas e desvio de conduta por parte de empregados de empresas e servidores públicos, o que traz desconfiança em relação à profissão de auditoria. Esta imagem torna, por vezes, o trabalho de auditoria dificultado, principalmente no que compete extrair informações mais completas dos responsáveis pelos setores auditados. 12 Em relação ao processo de comunicação, é fundamental informar o impacto de limitações de recursos e nas condições de atuação, que se denomina de limitação de escopo. A comunicação ocorre nas demais fases do processo de auditoria, seja na fase de entrevistas, de avaliação dos controles internos e dos riscos, na fase de execução de testes ou aplicação dos procedimentos de auditoria, seja na fase de conclusão e apresentação de relatórios, ou seja, na fase de monitoramento das constatações observadas. 4.3 Gerenciamento de recursos Uma ação de auditoria poderá demandar recursos humanos, materiais e financeiros, que deverão ser observados previamente ainda na fase de planejamento e que deverão ser constantemente reavaliados no curso da auditoria. As ações poderão demandar a necessidade de visitas a outras unidades da empresa, como outras plantas fabris, outras unidades de negócio, clientes, fornecedores. Estes fatores requerem uma avaliação dos auditores internos quanto à necessidade de um contingente maior de auditores em relação a outras ações de auditoria já executadas, bem como o nível de conhecimento desejável para a execução dos procedimentos de auditoria, em função da complexidade exigida. Nestas análises, o uso de especialistas externos à organização também deverá ser observado, sendo este, inclusive, um ponto destacado nas normas brasileiras de contabilidade aplicadas à auditoria, em consonância com as normas internacionais de auditoria. O levantamento preliminar das horas de trabalho para a execução da auditoria, bem como o acompanhamento contínuo dos prazos, também deve ser um ponto muito bem controlado pela equipe como forma de administrar o projeto. Atrasos, pedidos de prorrogação para envio de informações, atraso na disponibilização de agenda para reuniões e atendimento de demandas dos auditores devem ser avaliados durante todo o processo de auditoria, a fim deque os cronogramas sejam atendidos ou as modificações efetuadas sejam plenamente justificadas. O adequado controle de horas previstas e realizadas serve de base para o planejamento futuro de novas ações de auditoria que guardem estrita semelhança com o objeto auditado, trazendo uma base histórica 13 confiável para mensuração do tempo de execução e finalização do processo de auditoria. Como se trata de uma atividade de prestação de serviços, não é usual necessitar de recursos materiais de alta complexidade, exceto o uso de equipamentos de informática e materiais básicos de escritório. Contudo, se a auditoria planejada traz por escopo a necessidade de utilização de equipamentos específicos, como de segurança, de medição, ferramenta, equipamentos tecnológicos mais avançados, tudo isso deve estar contemplado no planejamento e deverá ser objeto de acompanhamento como forma de gerenciamento das atividades da auditoria. Os recursos financeiros podem envolver demandas de curto, médio ou longo prazos, a depender de quais objetivos quer atingir. Um projeto específico, uma ação de auditoria, pode demandar a necessidade de realizar uma viagem a um local específico para realização de uma diligência, ou a aplicação de um teste de observação, ou mesmo de uma entrevista que, por algum motivo especial, não possa ser realizada por videoconferência. Entretanto, o planejamento de médio e longo prazos podem prever a realização de treinamento/capacitação de curto ou médio prazo, ou mesmo o ingresso em órgãos de classe e associações podem trazer impactos financeiros à unidade de auditoria interna. 4.4 Políticas e procedimentos No gerenciamento da unidade de auditoria interna, o gestor responsável, seja ele denominado auditor-chefe ou chefe da auditoria interna (quando tratar- se do serviço público) ou diretor, gerente, superintendente (quando tratar-se do setor privado), deverá estabelecer normativos específicos que disciplinem e orientem a atividade singular da auditoria interna. Os normativos deveram contemplar as políticas internas do setor, os procedimentos a serem aplicados na condução das atividades da auditoria interna, as atribuições específicas do setor, as limitações à atividade de auditoria, as vedações e proibições aos quais os auditores estão expostos, as questões pertinentes à independência, responsabilidade, sigilo e ética. É salutar que a auditoria interna elabore um manual de auditoria interna, no qual estes pressupostos estejam contemplados, tornando de amplo 14 conhecimento os principais aspectos que envolvem a atuação da equipe de auditoria interna. É desejável, também, que a auditoria interna disponha de um fluxograma com o mapeamento dos procedimentos internos, aplicados ao setor, para auxiliar aos novos membros da equipe no conhecimento das rotinas e das normas a serem seguidas para a boa condução das atividades relacionadas à auditoria interna. A utilização de procedimentos formalizados e de amplo conhecimento traz uniformidade de critérios na avaliação de informações obtidas nas respectivas ações de auditoria, as quais devem sempre estar fundamentadas em princípios e pressupostos, evitando o achismo e o risco de emissão de opinião sem o devido embasamento. TEMA 5 – ESTUDO DE CASO – PLANEJAMENTO GLOBAL DA AUDITORIA INTERNA NA ORGANIZAÇÃO Com base nos conhecimentos apresentados, o presente estudo de casos consiste na elaboração de um planejamento global de auditoria hipotético, no qual você deverá apresentar as informações necessárias para a construção deste plano de trabalho. As informações que você deverá apresentar são as seguintes: • Área da ação de auditoria; • Tema, assunto, processo a ser auditado; • Pessoal-chave; • Objetivo geral e objetivos específicos; • Justificativa para escolha do tema ou área; • Escopo; • Riscos inerentes ao processo a ser auditado; • Prazo de início e término previsto; • Estimativa de força de trabalho (em quantidade de auditores); • Estimativa de força de trabalho (em horas-homem totais); • Estimativa de recursos financeiros necessários para realização da ação de auditoria. 15 5.1 Resolução sugerida – caso prático • Área da ação de auditoria: setor de compras • Tema, assunto, processo a ser auditado: processo de cotação de fornecedores • Pessoal-chave: gerente de compras e supervisor de compras • Objetivo geral e objetivos específicos: geral – verificar se as melhores condições de preço, prazo de entrega, qualidade e apoio técnico estão sendo respeitados nas aquisições de preço. Específico: verificar se há risco de favorecimento ou conluio com fornecedores; verificar se estão sendo adquiridos produtos de baixa qualidade; verificar se o processo de cotação de preços está seguindo as normas internas relacionadas às políticas de compras; verificar se existe independência entre os funcionários que atuam no setor e os fornecedores escolhidos. • Justificativa para escolha do tema ou área: as compras envolvem montantes significativos nas finanças da empresa. Os indicadores de custos unitários demonstram um aumento significativo nos últimos dois anos para algumas linhas específicas de produtos. • Escopo: itens de matéria-prima classificados como “A” no Relatório de Curva ABC da empresa • Riscos inerentes ao processo a ser auditado: compras em valores superiores aos praticados pelo mercado (superfaturados), compra de itens com qualidade duvidosa, falta de matéria-prima para fabricação de produtos, compra de materiais em condições distintas das acordadas ou contratadas, desvios e fraudes por conluio de empregados e fornecedores, compras falsas (fantasmas). • Prazo de início e término previsto: o trabalho terá início em dd/mm/aaaa e tem a previsão de finalização em dd/mm/aaaa. • Estimativa de força de trabalho (em quantidade de auditores): para a ação serão utilizados 1 supervisor de auditoria, 1 assistente de auditoria e 1 auxiliar de auditoria. • Estimativa de força de trabalho (em horas-homem totais): a ação de auditoria prevê a utilização de 240 horas-homem. • Estimativa de recursos financeiros necessários para realização da ação de auditoria: os trabalhos serão realizados internamente, nas 16 dependências da própria organização, sem a necessidade de gastos com deslocamentos. 17 REFERÊNCIAS ALVES, A. L. Z. S.; REIS, J. A. G. dos. Auditoria interna no setor público. São Paulo, 2006, p. 841–844. ATTIE, W. Auditoria interna. 3 reimp. São Paulo: Atlas, 2011. BATISTA, J. P. M. A importância dos controles internos nas organizações. Monografia de conclusão de curso. Uniceub, 2010 BARROS, J. dos S. Auditoria interna no contexto da governança corporativa. Dissertação. (Mestrado Profissional em Controladoria). Faculdade de Economia, Administração, Atuária e Contabilidade - Universidade Federal do Ceará, 2007. CASTRO, D. P. de. Auditoria, contabilidade e controle interno no setor público. São Paulo: Atlas, 2015. CRCRS. Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul. A estruturação, organização e atuação dos controles internos municipais segundo a norma contábil. 2017. CREPALDI, S. A.; CREPALDI, G. S. Auditoria contábil. São Paulo: Grupo Gen- Atlas, 2016. DIAS, S. V. S. Auditoria de processos organizacionais. São Paulo: Atlas, 2006. FARIAS, S. et al. 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