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INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
Seja bem-vindo à disciplina de Fundamentos das Políticas Sociais. Nesta Unidade 1, vamos tratar da origem
das políticas sociais. Para isso, é fundamental que comecemos identi�cando a especi�cidade dos conceitos
envolvidos nessa temática. Nesta aula, o nosso foco será a construção do conceito de política social, visando a
compreender o que é, qual a relação entre política social e a democracia, e a entender o papel da mobilização
e da participação social na elaboração e concretização de políticas sociais. Você está começando a sua
caminhada por este tema, por isso, é importante que se dedique a ela para construir uma base referencial
fundamental para o exercício de sua pro�ssão.
Bons estudos!
Aula 1
CONCEITO DE POLÍTICA E POLÍTICA SOCIAL
Nesta aula, o nosso foco será a construção do conceito de política social, visando a compreender o que é,
qual a relação entre política social e a democracia, e a entender o papel da mobilização e da participação
social na elaboração e concretização de políticas sociais.
A ORIGEM DAS POLÍTICAS SOCIAIS
 Aula 1 - Conceito de política e política social
 Aula 2 - Surgimento das políticas sociais
 Aula 3 - Fases do capitalismo
 Aula 4 - A proteção social no Brasil
 Aula 5 - Revisão da unidade
 Referências
A CIÊNCIA DE GOVERNAR UM POVO E O ESTADO DEMOCRÁTICO
O sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) de�niu a política como um campo de estudo e de atuação, isto é,
como conceito, e estabeleceu sua relação com outros aspectos da vida social. Para ele, a política é a atividade
que busca controlar e exercer poder sobre a ação coletiva de uma comunidade ou sociedade. Além disso,
política se refere à participação no poder ou à luta para in�uir na distribuição do poder (WEBER, 1988).
A política está no nosso dia a dia. Podemos fazer política em casa, quando tentamos convencer um irmão a
buscar um copo d’agua. Podemos exercê-la no trabalho, quando nos organizamos pra viabilizar um benefício
junto à empresa. Em uma perspectiva mais ampla, política é a ciência da governação de um Estado e a arte de
negociação para compatibilizar interesses.
O Estado, portanto, é uma instância fundamental para pensarmos a política como o conjunto de ações,
decisões e práticas adotadas para alcançar objetivos especí�cos. Nessa acepção, política envolve a distribuição
de poder, de recursos e de benefícios de uma sociedade e a forma como eles são partilhados na busca por
responder a questões como a da justiça social, da segurança, do bem-estar e do desenvolvimento econômico.
A essas ações políticas que têm como objetivo implementar programas e medidas que visam atender às
necessidades e demandas sociais como saúde, educação, habitação, assistência social, previdência e trabalho
chamamos de política social. Ou seja, a política social busca garantir a proteção social dos indivíduos e dos
grupos mais vulneráveis na sociedade, reduzir as desigualdades sociais e promover a inclusão social.
Autores de diferentes correntes destacam a estreita relação entre política social e a forma do Estado. Amartya
Sen (2010) fala da importância das políticas sociais como meio de garantir que as pessoas tenham acesso a
serviços básicos a �m de reduzir as desigualdades e promover a inclusão social. Para o autor, a
implementação de políticas sociais é justamente uma das funções do Estado democrático de direito. Nessa
mesma linha, Anthony Giddens (1991) destaca o papel fundamental do estado democrático na redução das
desigualdades sociais e na promoção da inclusão social, o que somente pode ser alcançado por meio de
políticas sociais e�cazes. Thomas Piketty (2014) trata do papel fundamental do Estado democrático de direito
na regulação do mercado e na redistribuição de riqueza e recursos. Isto é, a implementação de políticas
sociais é entendida como função própria do Estado democrático, cujo objetivo é garantir o bem-estar da
população e promover a igualdade social.
Enquanto sistema político, isto é, enquanto um método e um conjunto de regras procedimentais
(SCHUMPETER, 2017), a democracia também é importante para as políticas sociais, pois ela permite a
participação ativa da sociedade na formulação, implementação e monitoramento dessas políticas. Isso
signi�ca que, na democracia, a sociedade dispõe de mecanismos de participação que lhe permite in�uenciar
as políticas públicas. Além disso, a democracia estabelece princípios como a transparência e a prestação de
contas, permitindo que a sociedade �scalize a implementação das políticas sociais e exija o cumprimento dos
direitos garantidos na Constituição.
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POLÍTICA SOCIAL ENQUANTO MECANISMO DE MANUTENÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO E
CONQUISTA DOS TRABALHADORES
Como vimos, a política social se refere ao conjunto de medidas e ações voltadas para a garantia dos direitos
sociais. De maneira geral, essas políticas são responsáveis pela garantia de condições dignas de vida e de
sustento à população, com medidas que podem ser mais ou menos inclusivas, mais ou menos igualitárias,
pautadas por princípios universais ou restritos na redistribuição de riquezas. 
As políticas sociais estão diretamente relacionadas às condições concretas vividas por cada país onde elas se
estruturam. Historicamente, o surgimento das políticas sociais foi um processo distinto e gradativo entre os
países, com base nos movimentos e organizações reivindicatórias da classe trabalhadora e na correlação de
forças no âmbito do Estado (PIANA, 2009).
No contexto do capitalismo, a política social surge no século XIX, com as mobilizações populares e da classe
operária na reivindicação de melhores condições de vida e trabalho, o que nos permite a�rmar que não há
política social desligada das lutas sociais e as políticas sociais devem ser entendidas como produto histórico
concreto a partir do contexto da estrutura capitalista:
Nesse sentido, as políticas sociais são, ao mesmo tempo, conquista dos trabalhadores na reivindicação de
direitos, como também condição para a manutenção da força de trabalho (FALEIROS, 1991, p. 8).
Para sobrevivermos dignamente, é preciso que estejamos alimentados, vestidos, tenhamos boa saúde,
educação, trabalho, meios de chegar ao trabalho e renda para atender às demandas da nossa vida e de nossa
família, por exemplo. Contudo, nem sempre o salário do trabalhador – logo, sujeito ao capital – é su�ciente
para atender a todas as demandas da existência. É nesse sentido que deveria haver a ação do Estado na
promoção de políticas sociais. Como a�rma Pastorini (1997, p. 90),
As políticas sociais são formas de manutenção da força de trabalho econômica e
politicamente articuladas para não afetar o processo de exploração capitalista e dentro do
processo de hegemonia e contrahegemonia da luta de classes.
— (FALEIROS 1991, p. 45)
Até poderíamos pensar que, se a promoção de políticas sociais é função do Estado, então, quanto mais
recursos um Estado possui, maiores as possibilidades de atendimento a um conjunto mais amplo de
necessidades, garantindo à população o acesso a bens e serviços públicos. Contudo, no contexto neoliberal
característico do estágio do capitalismo contemporâneo, a visão hegemônica de redução do papel do Estado
na economia impõe à organização política a redução do investimento público em áreas sociais, agravando a
desigualdade e a exclusão social.
Sem a presença do Estado, as políticas sociais se limitam ao que é oferecido pelo mercado, deixando à
margem aqueles que não têm condições �nanceiras para custear bens e serviços (PIANA, 2009). Além disso, a
qualidade dos serviços sociais prestados pelo Estado é afetada pela política neoliberal, já que a lógica de
mercado prioriza a redução de custos em detrimento da qualidade dos serviços, impactando negativamente a
e�cácia e a efetividade das políticas sociais (PIANA, 2009).
Por isso, a mobilização e a ação coletiva dos trabalhadores na busca por direitos é um movimento necessário
e fundamental para a elaboração eimplementação de políticas sociais. Direitos como salário-mínimo, seguro-
desemprego, previdência social, entre tantos outros, são resultado de anos de luta dos trabalhadores e de
movimentos sociais que se empenharam na busca por melhores condições de trabalho e vida (PIANA, 2009). É
disso que trataremos no próximo bloco.
LINHA DE AÇÃO COLETIVA QUE CONCRETIZA DIREITOS
Imagine que você esteja enfrentando di�culdades para chegar no horário ao trabalho. Há uma série de
questões envolvidas: a distância da empresa, o número reduzido de ônibus que atendem ao bairro e o valor
da passagem. Na tentativa de resolver a situação, você tenta negociar com o RH da empresa a disponibilização
de um veículo. Quais as chances que você tem de ser atendido?
Agora, conversando com os seus colegas de trabalho percebe que essa não é uma demanda exclusivamente
sua e que todos estão enfrentando os mesmos problemas. Vocês então se organizam e levam a situação às
instâncias superiores, destacando o quanto esses problemas impactam sobre a produtividade dos
funcionários e, consequentemente, o rendimento da empresa. Através de negociações, os trabalhadores
organizados conseguem que a empresa viabilize um transporte corporativo que atenda à demanda de seus
funcionários.
as políticas sociais apresentam-se como estratégias governamentais de integração da força
de trabalho na relação de trabalho assalariado, destinadas a atender problemáticas
particulares e especí�cas apresentadas pela questão social (produto e condição da ordem
burguesa), contribuindo para uma subordinação dos trabalhadores ao sistema vigente e
reproduzindo as desigualdades sociais decorrentes das diferentes participações no
processo de produção.
Mas, vamos um pouco mais além? Em um dado momento, você e seus colegas percebem que a di�culdade de
deslocamento e transporte atinge todos os trabalhadores da região industrial da cidade, mas a maioria das
empresas ignora essas di�culdades e responsabiliza seus funcionários por atrasos e ausências. Vocês viram
que a organização funcionou e levam essa demanda ao sindicato, que passa a pleitear junto aos empresários
e ao poder público medidas de melhoria no transporte público. Diante disso, quais as chances de a demanda
organizada ser atendida em comparação ao pedido de um funcionário?
Extrapolando essa questão para o contexto social mais amplo, os direitos sociais são resultado da luta de
trabalhadores e movimentos sociais em busca de melhores condições de vida e trabalho. Ou seja, as chances
de conquistarmos direitos individualmente são pequenas. É a ação coletiva por meio da mobilização e da
participação social a forma mais e�ciente de concretizar direitos.
Robert Putnam (1993) destaca a importância da participação da sociedade civil na promoção da inclusão social
e no desenvolvimento de políticas sociais e�cazes. Para o autor, a participação ativa da sociedade civil e a
criação de instituições e organizações coletivas são fundamentais para a construção de uma democracia mais
robusta, propícia à participação e à formação de laços sociais capazes de promover a inclusão social e reduzir
as desigualdades.
Quando as demandas são coletivamente organizadas, quando os indivíduos se engajam em torno dessas
demandas e as colocam diante do poder público, elas ganham visibilidade, podendo in�uenciar a
implementação de políticas públicas. Essa mobilização pode ser realizada por meio de associações, sindicatos,
grupos de pressão, movimentos sociais, entre outros. Assim, a mobilização social é uma forma de exercer
pressão sobre o poder público visando à conquista e defesa de direitos sociais.
A Constituição brasileira de 1988 (CF/88) é um marco na história do país, resultado de intensa mobilização
social que reivindicava direitos sociais, políticos e econômicos. No contexto da redemocratização após a
ditadura militar (1964-1985), houve uma forte atuação de amplos setores sociais reivindicando mudanças
estruturais no país. Como resultado, a CF/88 reconheceu – para além dos direitos civis e políticos – uma série
de direitos sociais, como o direito à saúde, à educação, ao trabalho, à moradia, à segurança alimentar, entre
outros (CARVALHO, 2001). Para Carvalho, a CF/88 representa um importante avanço na construção da
democracia brasileira e na luta por uma sociedade mais justa e igualitária ao reconhecer a importância dos
direitos sociais e a necessidade de garantir a participação da sociedade civil na tomada de decisões políticas.
VIDEO RESUMO
Nesta videoaula, vamos nos aprofundar um pouco mais no conceito de política social, analisando-o sob
múltiplos aspectos. Mais especi�camente, vamos desenvolver a análise de Pastorini (2006), que destaca como
as políticas sociais desenvolvem algumas funções primordiais no mundo capitalista: função social, econômica
e política. Vamos compreender o signi�cado e as implicações de cada uma dessas esferas na política social.
 Saiba mais
Indicamos aqui um episódio do Ponto de Vista, um programa da TV Câmara que traz entrevistas com
especialistas, os quais analisam temas fundamentais para nossa sociedade.
Nesse episódio, o apresentador Lincoln Macario conversa com o Prof. Dr. Evilasio da Silva Salvador,
economista, mestre e doutor em Política Social pela Universidade de Brasília (UnB) e pós-doutor em
Serviço Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O tema dessa conversa é: políticas
sociais.
Você pode acessar essa conversa através da página o�cial da Câmara dos Deputados.
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
Vamos seguir, nesta aula, elaborando o conceito de política social, um tema complexo e muito discutido nas
ciências sociais. No Serviço Social, a temática ganhou corpo na década de 1980, no contexto da
redemocratização do país após 21 anos de ditadura militar. Como expressão de política de Estado, a política
social tem uma história intrinsecamente ligada ao desenvolvimento do modo de produção capitalista e o
surgimento da chamada ordem burguesa.
O próprio capitalismo não deve ser entendido como um sistema imutável; ele possui características
especí�cas em determinados momentos da sua história. Assim, o percurso que vai do liberalismo ao
neoliberalismo é marcado por mudanças signi�cativas nas concepções de como a economia deve funcionar e
de qual é o papel do Estado na economia. Como consequência, a política social é diretamente impactada por
essas concepções. Vamos tratar desse emaranhado de relações materiais e históricas que nos trouxeram ao
cenário da política social hoje.
Bons estudos!
POLÍTICA SOCIAL E A RELAÇÃO COM A SOCIEDADE BURGUESA
Aula 2
SURGIMENTO DAS POLÍTICAS SOCIAIS
No Serviço Social, a temática ganhou corpo na década de 1980, no contexto da redemocratização do país
após 21 anos de ditadura militar.
https://www.camara.leg.br/tv/909420-especial-eleicoes-politicas-sociais/%20
Política social é um fenômeno associado à constituição da sociedade burguesa, ou seja, do modo especí�co de
o sistema capitalista produzir e reproduzir-se, quando se reconhece que a questão social é inerente às
relações sociais estabelecidas concretamente nesse modo de produção e os trabalhadores assumem um
papel político e até revolucionário (BEHRING, 2018).
Existe consenso de que o �nal do século XIX  se caracteriza como o período de criação e multiplicação das
primeiras legislações e medidas de proteção social. Embora o desenvolvimento e ampliação das políticas
sociais tenham uma história, o debate sobre questões referentes ao bem-estar na sociedade, a forma como
tratar a pobreza e a pauperização, e qual o papel do Estado nesse processo, são anteriores às políticas sociais
em si enquanto consequência direta do capitalismo e da ascensão da burguesia como classe dominante.
Ordem burguesa é um termo usado para descrever a organização social e política que surgiu na Europa
durante a era moderna (passagem do feudalismo para o capitalismo), baseada na hegemonia da classe
burguesa, também chamada de proprietáriosdos meios de produção (das empresas) ou capitalistas. Ou seja,
a ordem burguesa se estabeleceu com a ascensão da burguesia como classe dominante, substituindo a
ordem feudal anterior. Ela se caracteriza por um sistema econômico capitalista, no qual os meios de produção
são de propriedade privada e a produção é organizada em torno do lucro.
Esse sistema econômico proporcionou o crescimento das cidades, o desenvolvimento das atividades
comerciais e o surgimento de novas classes sociais, como a burguesia e a classe trabalhadora. No entanto, a
ordem burguesa não se restringe ao desenvolvimento do sistema econômico capitalista, mas tem outras
questões atreladas a si; isto é, ela é constituída também pela perspectiva da democracia liberal: o exercício do
poder político pela classe burguesa através de eleições e instituições democráticas baseada em valores como
a liberdade individual, a propriedade privada e o individualismo (LEFEBVRE, 2019).
Se você observar o mundo ao seu redor, poderá perceber que vivemos nessa chamada ordem burguesa que,
mesmo constituída por características próprias do nosso tempo, está estruturada sobre a base formada pelos
elementos destacados na Figura 1 a seguir:
Figura 1 | Estrutura da ordem burguesa
Fonte: elaborada pela autora.
Se, por um lado, a burguesia surge inicialmente como uma classe revolucionária responsável por colocar �m
ao Antigo Regime; por outro, quando chega ao poder, se estabelece num lugar de dominação social, política e
econômica, cujas consequências foram sentidas intensamente pela classe trabalhadora. Pautada no
capitalismo, a ordem burguesa é geradora de profundas desigualdades sociais e econômicas, concentrando a
riqueza e o poder nas mãos de uma classe em detrimento de outra. Foi a crítica e a ação da classe
trabalhadora diante dessa estrutura que os impulsionou à luta por direitos sociais (LEFREBVRE, 2019).
Nesse quadro, a política social surge como uma resposta da classe burguesa às suas próprias contradições e
desigualdades, oferecendo serviços e recursos para aqueles que estão em desvantagem ou risco de exclusão,
como os pobres, os idosos, os doentes e as crianças, contudo, sem mexer na estrutura da desigualdade,
mantendo seu lugar de privilégio. A política social busca mitigar as consequências sociais do sistema
capitalista, oferecendo serviços e recursos para aqueles que não se bene�ciam plenamente dele, ao mesmo
tempo que estabiliza a sociedade, prevenindo crises sociais e políticas que possam ameaçar a ordem social
estabelecida (BEHRING, 2018).
DO CAPITALISMO CONCORRENCIAL PARA O MONOPOLISTA
Embora falemos de maneira geral sobre capitalismo ou sistema capitalista, ao longo do tempo, esse sistema
econômico assumiu características diferentes, concretizando também formas diferentes dos Estados lidarem
com a política social. Por isso, é importante entendermos as principais características das chamadas fases do
capitalismo.
Em uma perspectiva ampliada, entende-se que o capitalismo teve início na Europa do século XVIII e se
estendeu até o �nal do século XIX, período chamado de primeira fase do capitalismo ou capitalismo
concorrencial. Este caracterizou-se como um sistema econômico baseado na livre concorrência entre
empresas, de modo que as forças do mercado determinavam a alocação de recursos e preços, produzindo
bens e serviços sem interferência signi�cativa do Estado ou outras entidades regulatórias. Outra característica
importante era a divisão do trabalho e a especialização das atividades produtivas, permitindo que as
empresas produzissem com maior e�ciência e a um custo menor. Contudo, esse processo levou à alienação
do trabalhador que, ao perder o controle sobre o processo de produção, tornou-se um simples executor de
tarefas especializadas (NETTO, 2009).
A passagem do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista (segunda fase do capitalismo) foi um
processo que se desenrolou ao longo do século XX, marcado pela crescente concentração de poder
econômico nas mãos de um número reduzido de empresas, levando à formação de monopólios e oligopólios.
Uma das principais razões para essa transição foi o desenvolvimento de tecnologias de produção em massa,
como a linha de montagem e a automação, que permitiram às empresas produzirem bens em larga escala e
reduzirem os custos unitários, favorecendo a formação de grandes empresas que dominavam setores inteiros
da economia e, consequentemente, limitando a concorrência. Outro fator importante foi a intensi�cação da
competição internacional entre países, o que levou as empresas a buscarem novos mercados e a consolidar
sua posição em seus mercados domésticos.
O capitalismo monopolista também dá início ao processo de aliança com o mercado �nanceiro (bancos), pois
na busca por maiores lucros, as empresas passam a investir em instrumentos �nanceiros em vez de produzir
bens e serviços. Como consequência, há uma espécie de desconexão entre a economia real e o sistema
�nanceiro, gerando instabilidade econômica e crises �nanceiras (NETTO, 2009).
Observe o Quadro 1 a seguir, que sintetiza as principais características dessas duas fases do capitalismo.
Quadro 1 | Características do capitalismo concorrencial e do monopolista
Capitalismo concorrencial
(ou de livre concorrência)
Capitalismo monopolista
1ª fase da Revolução Industrial (1ª metade séc. XIX) 2ª fase da Revolução Industrial (�nal séc. XIX)
Empresas de pequeno e médio porte
Grandes empresas (concentração); presença de
grandes grupos �nanceiros
Ausência de monopólios (ou monopólio familiar das
empresas – LTDA)
Conglomerados e Sociedades anônimas (S.A.)
Capital individual ou familiar
Associação do capital industrial com o capital
�nanceiro (intercâmbio banco/indústria)
Preços regulados pelo mercado e a concorrência Preços controlados pelas empresas monopolistas
Fonte: elaborado pela autora.
A política social nessas duas fases do capitalismo é distinta devido às mudanças estruturais que ocorrem na
economia durante a transição de um sistema para o outro. No capitalismo concorrencial a política social era
vista como responsabilidade individual ou caridade e, por isso, o Estado não tinha um papel ativo na garantia
de direitos sociais como saúde, educação e previdência. No entanto, as condições de trabalho muitas vezes
eram precárias e a renda concentrada, o que levou à ação dos movimentos sociais em busca de uma maior e
mais efetiva participação do Estado na garantia de condições vida (BEHRING, 2018).
Visando a atender a essas demandas da relação capital versus trabalho, o Estado assumiu um papel mais
ativo na garantia de direitos sociais no século XX, criando políticas públicas para promover a distribuição de
renda e a proteção social. Nessa fase, o Estado passa a intervir na economia com o objetivo de garantir o bem-
estar da população, protegendo-a dos riscos inerentes ao capitalismo, mas como forma de estabilizar a
economia e evitar crises econômicas e sociais.
É importante destacar que essas mudanças na política social não ocorreram de forma linear ou homogênea
em todo o mundo. Elas foram in�uenciadas por fatores históricos, culturais e políticos especí�cos de cada país
ou região.
SÍNTESE DO PERCURSO: LIBERALISMO, KEYNESIANISMO E NEOLIBERALISMO
Como vimos, entender as características da política social nos diferentes períodos passa por compreender as
mudanças que o próprio sistema capitalista estabelece como forma de autopreservação. Isto é, diante das
crises próprias das contradições do capital, o sistema se recon�gura e se perpetua. Por isso, compreender a
política social hoje passa por reconhecer esse movimento histórico de transformação. O percurso que vai do
liberalismo ao neoliberalismo é marcado por mudanças signi�cativas nas concepções de como a economia
deve funcionar e no papel do Estado na economia (NETTO, 2007).
O liberalismo surgido no século XVIII defendia a liberdade individual e a livre concorrência como princípios
fundamentais para o funcionamentoda economia. Nesse modelo, o Estado deveria ter um papel mínimo na
economia, limitando-se a garantir a segurança jurídica, a propriedade privada e a liberdade contratual.
Acreditava-se que a livre concorrência levaria à e�ciência e ao bem-estar geral.
No século XX, o keynesianismo se apresenta como resposta diante das di�culdades enfrentadas pela classe
trabalhadora face à crise econômica da década de 1939. A proposta de John Maynard Keynes (de cujo
sobrenome deriva o termo “keynesianismo”) era de uma maior intervenção do Estado na economia, a �m de
garantir o emprego e a estabilidade econômica. Essa intervenção previa o uso de políticas �scais e monetárias
com o objetivo de aumentar os gastos públicos e estimular a demanda agregada. Nesse momento, o
keynesianismo e o Welfare State se complementam, já que as políticas econômicas do primeiro sustentam as
políticas sociais do segundo.
Na década de 1970, a economia mundial entrou em um novo momento de crise marcada pela estag�ação
(combinação entre in�ação e estagnação econômica), levando à queda da arrecadação �scal e ao aumento do
desemprego. Esse cenário pressionou os sistemas de proteção social em razão do aumento dos gastos sociais.
Grupos empresariais e �nanceiros passaram a pressionar os Estados para a redução de tais gastos, sob o
argumento de que eles comprometem a competitividade da economia. Assim, os Estados passaram a adotar
políticas de ajuste �scal que recaíram com força sobre o trabalhador em decorrência do corte de gastos
sociais e da redução dos direitos trabalhistas e previdenciários.
Dessa forma, o neoliberalismo emergente entre os anos 1980-90 retoma os princípios do liberalismo anterior
no que diz respeito à defesa da livre concorrência e da mínima intervenção do Estado na economia. No
entanto, ele incorpora ideias do keynesianismo, como a importância da estabilidade monetária e o controle da
in�ação, impactando diretamente sobre a política social (BEHRING, 2018).
A ideia central do neoliberalismo é a defesa do livre mercado e da redução do papel do Estado na economia
baseado na crença de que o mercado é o melhor regulador da atividade econômica. Nesse sentido, os
neoliberais defendem como princípios: 
• Mínima intervenção estatal.
• Liberalização comercial.
• Privatização de empresas estatais.
• Desregulamentação do mercado de trabalho.
• Redução do gasto público.
• Redução dos impostos.
• Eliminação de barreiras comerciais e a livre circulação de bens e serviços.
adoção de políticas monetárias e �scais rigorosas com o objetivo de manter a estabilidade dos preços e a
disciplina �scal.
No entanto, as políticas neoliberais geram desigualdade social, uma vez que a redução do papel do Estado
leva à redução das políticas sociais. É neste cenário que a política social se encontra hoje.
VÍDEO RESUMO
Nesta videoaula, vamos seguir aprofundando a temática da Política Social, discutindo um pouco do seu
percurso histórico indissociavelmente atrelado ao desenvolvimento e consolidação da ordem burguesa. A
compreensão desta relação é fundamental para que possamos compreender a política social hoje no contexto
neoliberal.
 Saiba mais
Não é possível estudar política social no Brasil sem ler alguns nomes fundamentais da área, como José
Paulo Netto e Elaine Rossetti Behring. Além das bibliogra�as referenciadas ao �nal desta aula, fazemos
aqui a indicação do livro Política social: fundamentos e história, de Elaine Rossetti Behring, uma excelente
introdução teórica e histórica à problemática da política social. Vale a pena que você tenha esta
referência na sua biblioteca, pois os capítulos passam pelos diferentes momentos do capitalismo aqui
traçados e sua relação com a política social.
BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2017. Disponível
em: Unirio. Acesso em 10 maio 2023.
INTRODUÇÃO
Esta aula trata de um tema que está no nosso dia a dia: o capitalismo. A nossa vida e todas as nossas relações,
sejam elas econômicas, políticas, sociais ou culturais, são permeadas por esse sistema. Mas, você sabe de�nir
capitalismo? Esse é um bom ponto de partida para iniciarmos a conversa. Entender as características e o lugar
do capitalismo no mundo contemporâneo passa por compreender o seu processo de estabelecimento como
modo de produção predominante ao longo dos últimos séculos.
O capitalismo é frequentemente dividido em diferentes fases ou estágios, cada um caracterizado por
mudanças signi�cativas nas estruturas econômicas e nas relações de produção: capitalismo comercial,
industrial, monopolista e �nanceiro/informacional. Embora essa divisão seja uma simpli�cação, a
compreensão deste panorama é importante para que possamos identi�car as particularidades dos contextos
especí�cos. Nosso caminho é longo e percorrerá cinco séculos de história.
Bons estudos!
CAPITALISMO COMERCIAL E CAPITALISMO INDUSTRIAL
De�ne-se capitalismo como um modo de produção que se estrutura sobre a propriedade privada dos meios
de produção (como fábricas, terras, recursos naturais) e que objetiva o lucro através da produção e troca de
bens e serviços. Modo de produção é o nome que se dá à relação entre as formas de organização social e a
relação de propriedade dos meios de subsistência. É possível identi�car na história ocidental modos de
produção predominantes em períodos especí�cos e cada um deles re�ete as diferentes formas de
organização econômica e social em diferentes períodos e sociedades. Observe o Quadro 1 a seguir:
Quadro 1 | Modos de produção ao longo da história ocidental
SOCIEDADE PRIMITIVA
Aula 3
FASES DO CAPITALISMO
Esta aula trata de um tema que está no nosso dia a dia: o capitalismo. A nossa vida e todas as nossas
relações, sejam elas econômicas, políticas, sociais ou culturais, são permeadas por esse sistema.
http://www.unirio.br/cchs/ess/Members/renata.gomes/2020.1/estagio-supervisionado-ii/Bibliografia/complementar/Politica%20social%20-%20fundamentos%20e%20historia%20-%20BEHRING-%20ELAINE.pdf/view
Fonte: elaborado pela autora.
As principais características do modo de produção capitalista são:
Figura 1 | Características do modo de produção capitalista
posse coletiva dos meios de produção
produção baseada na subsistência e na reciprocidade
inexistência de classes sociais
MODO DE PRODUÇÃO ESCRAVISTA
posse dos meios de produção: proprietários de escravos
escravos: explorados como força de trabalho; posse do senhor de escravos
predominante na Grécia Antiga e Império Romano
MODO DE PRODUÇÃO FEUDAL
Idade Média
relação de suserania e vassalagem
posse dos meios de produção: proprietário de terras
camponeses: trabalho nas terras em troca de proteção e acesso aos recursos.
MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA
propriedade privada dos meios de produção (capital) e busca do lucro trabalho assalariado divisão da
sociedade em classes (burguesia e proletariado) início: Revolução Industrial até os dias atuais
Fonte: elaborada pela autora.
Essas características têm implicações na distribuição de riqueza, nas relações sociais e na dinâmica econômica
da sociedade. 
O capitalismo é também frequentemente dividido em diferentes fases ou estágios:
Figura 2 | Fases do capitalismo
Fonte: elaborada pela autora.
O capitalismo comercial teve suas raízes no �nal da Idade Média e se desenvolveu ao longo dos séculos XV a
XVIII, como resposta ao declínio do sistema feudal e ao aumento do comércio e da atividade mercantil. Ele se
caracteriza pela acumulação de capital e pelo comércio de mercadorias, exploração colonial e
estabelecimento de rotas comerciais globais no contexto da Idade Moderna (séculos XV a XVIII), um período
marcado por transformações de ordem econômica, política, cultural e social (ARRIGHI, 1996).
Durante o Renascimento (séculos XIV e XV) as cidades europeias experimentaram um crescimento
signi�cativo do comércio e da produção de bens (surgimento de feiras, mercados e rotas comerciais) que
impulsionaram o intercâmbio demercadorias entre regiões distantes. Esse crescimento do comércio gerou
uma nova classe de comerciantes e mercadores que buscavam lucro e acumulação de capital. Além disso, o
capitalismo comercial foi também impulsionado pelo surgimento de práticas �nanceiras avançadas, como o
desenvolvimento de bancos, que facilitaram as transações comerciais e permitiram o investimento de capital
em empreendimentos comerciais de maior escala. Assim, o capitalismo comercial estabeleceu as bases para o
desenvolvimento posterior do capitalismo industrial (ARRIGHI, 1996).
A transição da forma comercial para a industrial ocorreu durante a Revolução Industrial, iniciada na segunda
metade do século XVIII na Inglaterra e, posteriormente, alcançando o restante do mundo. Um dos principais
impulsionadores da transição foi a introdução de novas tecnologias e a mecanização dos processos
produtivos: a máquina a vapor, a tecelagem mecânica e a maquinaria agrícola transformaram a forma como a
produção era realizada, levando ao aumento da capacidade produtiva e da e�ciência. Com isso, as atividades
industriais (manufatura, mineração e produção têxtil) tornaram-se o núcleo da economia com unidades de
produção em larga escala.
O desenvolvimento da indústria levou ao crescimento acelerado das cidades e ao êxodo rural, o que
resultou em uma transformação social e demográ�ca com a formação da classe trabalhadora urbana. A
relação de trabalho também mudou, passando da produção artesanal em pequenas propriedades para o
trabalho assalariado nas fábricas, onde os trabalhadores vendiam sua força de trabalho em troca de um
salário �xo. Nesse processo, os trabalhadores foram alijados do controle sobre a atividade laboral, sendo
submetidos a longas jornadas de trabalho, condições precárias e exploração por parte dos empregadores.
Do outro lado, a transição para o capitalismo industrial envolveu o investimento massivo de capital em
indústrias e infraestrutura. Os proprietários dessas fábricas – os donos dos meios de produção – acumularam
riqueza através da expansão dos negócios e da exploração da força de trabalho assalariada. Esse processo de
acumulação de capital se tornou uma força motriz do sistema (ARRIGHI, 1996).
CAPITALISMO MONOPOLISTA
A transição do capitalismo industrial para a fase seguinte, capitalismo monopolista ou �nanceiro, ocorreu
ao longo do século XX, como resultado de mudanças econômicas, políticas e tecnológicas, ocasionadas por
uma série de fatores interligados. O termo se refere à característica principal do capitalismo nesse momento,
marcado pela presença de grandes empresas ou conglomerados que exercem controle e dominação sobre
setores-chave da economia (NETTO, 2001).
Durante o período do capitalismo industrial ocorreu uma intensa competição entre as empresas para
conquistar mercados e aumentar seus lucros e, ao longo do tempo, algumas empresas obtiveram vantagem
competitiva em relação a seus concorrentes. Logo, essas empresas começaram a adquirir e controlar as
concorrentes menores (através de fusões e aquisições), consolidando o capital e concentrando o poder
econômico em suas mãos. Grandes conglomerados empresariais começaram a surgir, abarcando múltiplos
setores econômicos e detendo um controle considerável sobre a economia (BRYM et al., 2010).
Essa concentração do capital resultou na formação de monopólios e oligopólios em diversos setores
econômicos. Monopólios ocorrem quando uma única empresa domina um setor ou mercado especí�co,
enquanto oligopólios referem-se a um pequeno número de empresas que controlam conjuntamente um
setor. Essas empresas monopolistas e oligopolistas exercem um controle signi�cativo sobre a produção,
distribuição e preços, reduzindo a concorrência.
À medida que os monopólios se fortalecem, surgiram preocupações relacionadas ao poder excessivo dessas
empresas e seus impactos negativos na economia e na sociedade. Em resposta, governos começaram a
intervir e implementar políticas regulatórias para controlar e regular o poder econômico visando a preservar a
concorrência e evitar práticas anticompetitivas. Por outro lado, esses monopólios passaram a exercer uma
in�uência política signi�cativa através de atividades de lobby e �nanciamento político. Essas atividades tinham
como objetivo proteger seus interesses e garantir vantagens competitivas por meio da elaboração de políticas
governamentais favoráveis aos seus interesses, tais como mudanças regulatórias, concessão de subsídios ou
benefícios �scais, e formulação de políticas monetárias e �nanceiras; afetando, assim, o ambiente econômico
e regulatório em que operam (NETTO, 2001).
Esta fase emerge no �nal do século XIX e início do século XX. Além dos monopólios industriais, o capitalismo
monopolista se caracteriza também pela crescente in�uência dos setores �nanceiros e bancários na
economia, com os bancos desempenhando papel crucial na dinâmica econômica e no funcionamento do
sistema.
O primeiro ponto a se considerar é o papel do �nanciamento bancário para o crescimento e consolidação das
empresas monopolistas. Os bancos fornecem �nanciamento às empresas tanto para operações diárias
quanto para investimentos de longo prazo por meio de empréstimos e linhas de crédito que permitem:
expansão das operações, aquisição de ativos, investimento em tecnologias e inovações, �nanciamento de
fusões e aquisições.
Ou seja, assiste-se a um processo de concentração do capital �nanceiro nas mãos de alguns grandes bancos,
que passam a acumular poder econômico considerável, já que controlam grandes volumes de recursos
�nanceiros e in�uenciam a alocação de capital na economia, direcionando-o para as empresas dominantes e
setores estratégicos. Além disso, os bancos passam a deter participações acionárias das empresas, o que lhes
permite exercer in�uência sobre as decisões estratégicas das empresas, incluindo a nomeação de diretores e
a de�nição das políticas corporativas a �m de maximizar seus retornos �nanceiros, proteger seus interesses e
garantir a estabilidade �nanceira das empresas nas quais investem (BRYM et al., 2010).
Em síntese, o capitalismo monopolista resultou em uma maior concentração de poder econômico nas mãos
de poucas empresas e indivíduos, contribuindo para a desigualdade econômica e desa�ando a autonomia do
Estado na elaboração de políticas públicas.
CAPITALISMO INFORMACIONAL
O capitalismo é frequentemente discutido em termos de três fases principais: capitalismo comercial,
capitalismo industrial e capitalismo �nanceiro/monopolista. Essas fases re�etem as transformações
econômicas e sociais que ocorreram ao longo da história do capitalismo. Já a ideia de que estaríamos
passando por uma quarta fase do capitalismo não é amplamente reconhecida como uma categorização
comum. Contudo, alguns estudiosos e teóricos argumentam que o atual estágio marcado pelo papel da
tecnologia, da informação e do conhecimento na economia e na sociedade representa uma nova do
capitalismo: o informacional.
O termo foi criado pelo sociólogo espanhol Manuel Castells (1999), que de�ne o capitalismo informacional
como uma forma de organização econômica surgida a partir das transformações trazidas pela tecnologia da
informação e pela comunicação digital na sociedade contemporânea. Para o autor, o capitalismo
informacional é caracterizado pela centralidade da informação e do conhecimento na produção, distribuição e
acumulação de riqueza; isto é, a tecnologia da informação e a capacidade de processamento de dados se
tornam elementos fundamentais para a criação de valor econômico.
Castells (1999) argumenta que, no capitalismo informacional, a informação é a principal matéria-prima e a
fonte de poder. As empresas e organizações bem-sucedidas são aquelas capazes de adquirir, processar e
aplicar informações de forma e�ciente. O conhecimento e a inovação tecnológica são os motores do
crescimento econômico, substituindo em grande medida os recursos naturais e a mão de obra como
principais fatoresde produção. Além disso, o capitalismo informacional é caracterizado pela globalização
econômica e pela formação de uma economia em rede, na qual as empresas se conectam em escala global
através de redes de comunicação e sistemas de informação. Essas redes permitem a coordenação e a
integração da produção e do comércio em uma escala sem precedentes.
Castells (1999) também destaca que o capitalismo informacional está associado a uma nova forma de
organização do trabalho, em que ele é cada vez mais �exível, desregulamentado e baseado em conhecimento.
A economia informacional é marcada pela proliferação do trabalho imaterial, como o trabalho intelectual,
criativo e de serviços.
O setor �nanceiro ainda exerce um papel central na alocação de capital e �nanciamento das atividades
econômicas; porém, a economia está cada vez mais baseada em setores de informação, tecnologia e
conhecimento. Essa combinação implica que o �uxo de informações, o investimento em tecnologia, a
propriedade intelectual e a gestão de dados desempenham um papel crucial na estrutura e no funcionamento
da economia, in�uenciando a dinâmica do capitalismo, moldando o desenvolvimento econômico, a
competição entre as empresas e as estratégias de investimento.
Há um outro elemento a ser considerado como a expressão política dessa fase: o neoliberalismo. A abertura
econômica é vista como uma forma de incentivar o crescimento econômico e a expansão dos mercados para
empresas que pregam a remoção de barreiras comerciais, como tarifas e restrições, e a promoção do livre
�uxo de bens, serviços, capital e dados entre os países. Por outro lado, as empresas defendem a garantia da
propriedade privada e a proteção dos direitos de propriedade intelectual, aumentando ainda mais o abismo
da concentração de poder político e econômico.
Contudo, Castells (1999) também alerta para as desigualdades e contradições presentes no capitalismo
informacional, como a exclusão digital, a concentração de poder nas mãos de poucas empresas e a
precarização do trabalho. Nesse sentido, tal como em qualquer outra, essa (talvez) nova fase do capitalismo
segue como promotora de desigualdade e exclusão ao concentrar poder e recursos (econômicos, políticos,
sociais e culturais) em determinados setores ou grupos, deixando outros em desvantagem.
VIDEO RESUMO
Entender as características do capitalismo hoje passa por entender o seu processo de construção e evolução
ao longo do tempo, isto é, seu surgimento no contexto especí�co da Europa feudal até se consolidar como um
modo de produção predominante no mundo. Embora algumas diferenças possam ser observadas em razão
das experiências concretas, há características gerais que permitem a elaboração desse esquema de fases.
Esse é o assunto da nossa videoaula.
 Saiba mais
Indicamos aqui dois artigos para que você possa aprofundar e consolidar seus conhecimentos sobre os
temas tratados nesta aula.
O primeiro apresenta um panorama geral da transição de fases do capitalismo, bem como as
características de cada uma delas:
SILVA, J. A. da. Re�exões sobre a história do capitalismo. Revista Filoso�a Capital, 2, ed. 5, p.102-122,
2007. Disponível em: Filoso�a Capital. Acesso em: 20 maio 2023.
O segundo foca na atual fase do capitalismo, discutindo algumas características-chave das relações
capital-trabalho ao longo das Revoluções Industriais, e mostrando como delas emergiram novas relações
produtivas e novas indústrias de fronteira, calcadas na informação e na cultura, através das quais o
capital segue acumulando e, concomitantemente, gerando novos dramas sociais.
DANTAS, M. Informação e trabalho no capitalismo contemporâneo. Lua Nova, n. 60, p. 5-44, 2003.
Disponível em: Scielo. Acesso em: 20 maio 2023.
Aula 4
A PROTEÇÃO SOCIAL NO BRASIL
Nesta aula, trataremos da questão social, seu conceito, sua história e seu desenvolvimento ao longo dos
anos. A questão social é objeto de estudo e debate nas áreas da Sociologia, Serviço Social, Economia,
Política e outras disciplinas relacionadas.
http://www.filosofiacapital.org/ojs-2.1.1/index.php/filosofiacapital/article/view/55/49
https://www.scielo.br/j/ln/a/RXnhQ7VjqJvT4C5F6HhBVGf/abstract/?lang=pt#
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
Nesta aula, trataremos da questão social, seu conceito, sua história e seu desenvolvimento ao longo dos anos.
A questão social é objeto de estudo e debate nas áreas da Sociologia, Serviço Social, Economia, Política e
outras disciplinas relacionadas. Esses campos buscam entender as origens da questão social, desenvolver
teorias para explicá-la e propor estratégias e políticas para enfrentar seus desa�os e promover uma sociedade
mais justa e inclusiva.
Neste caminho de compreensão, partiremos das mudanças ocorridas no mundo ao longo do século XIX, no
contexto da industrialização e urbanização desencadeadas pela Revolução Industrial. Ao �nal desta análise,
deve estar mais clara para você a importância de compreender a questão social como a parte visível de um
sistema estrutural de desigualdade; isto é, entendendo que questões como a pobreza, as desigualdades de
classe, de raça ou de gênero são as manifestações concretas da desigualdade estrutural do próprio sistema
capitalista.
Bons estudos!
MUDANÇAS NO SÉCULO XIX 
O século XIX foi marcada por mudanças socioeconômicas e políticas que impactaram diretamente a questão
social. Por isso, analisar a questão social passa por entender todas as transformações sociais envolvidas no
processo de consolidação do capitalismo, principalmente aquelas relacionadas à industrialização e à
urbanização.
A industrialização foi uma das principais impulsionadoras da migração em massa para as cidades e da rápida
expansão urbana. Os avanços tecnológicos e as mudanças nos métodos de produção promoveram o
crescimento exponencial das indústrias, usualmente estabelecidas em áreas urbanas ou próximas a recursos
naturais e rotas de transporte. Em um espaço de tempo relativamente curto, as cidades se tornaram centros
industriais importantes, atraindo trabalhadores em busca de emprego nas fábricas.
Como consequência disso e da extensão da mecanização das atividades para o campo, a Europa do século XIX
assistiu à migração em massa das áreas rurais para as cidades, o chamado êxodo rural. Os trabalhadores
agrícolas e suas famílias foram atraídos pelas oportunidades de trabalho e pela promessa de uma vida melhor
nas cidades, o que resultou em rápido crescimento populacional urbano e no aumento da densidade
populacional nessas áreas (HOBSBAWN, 2011).
As cidades se expandiram rapidamente para acomodar a crescente população, novos bairros surgiram e
houve uma profunda transformação física e social das áreas urbanas que exigiu o desenvolvimento de
infraestrutura para atender às necessidades dessa população. Novas estradas, sistemas de transporte, redes
de abastecimento de água, sistemas de esgoto e habitações foram construídos para acomodar o aumento da
demanda. O processo rápido e desordenado de expansão das cidades resultou em uma série de desa�os
sociais e condições de vida precárias, como falta de moradia, más condições sanitárias e di�culdade de acesso
a serviços básicos.
No mundo do trabalho, o processo de industrialização promoveu a substituição gradual dos métodos de
produção artesanais pela produção em larga escala nas fábricas, alterando as estruturas econômicas e
sociais. O principal elemento novo nessa dinâmica foi o surgimento da classe trabalhadora industrial.
Contudo, as condições de trabalho nas indústrias eram tão precárias quando as condições de vida na cidade,
com longas jornadas, baixos salários e ausência total de amparos legais para a proteção do trabalhador. Para
completar o quadro, essa nova classe operária era justamente aquela que, em busca de melhores condições
de vida, aglomerava-se nas áreas periféricas desses centros urbanos, em bairros frequentemente insalubres
(HOBSBAWN, 2011).
Dessa forma, a industrialização e a consequente urbanização promoveramprofundas desigualdades sociais.
Os donos das fábricas, a burguesia industrial, acumulavam riqueza e poder, enquanto os trabalhadores
enfrentavam condições de vida difíceis e uma distribuição desigual da riqueza. A desigualdade
socioeconômica aumentou, exacerbando a marginalização e a pobreza de muitos grupos sociais. Essas
mudanças e transformações do século XIX tiveram um impacto profundo sobre a pobreza, a desigualdade, a
exploração da mão de obra e condições de vida precárias para muitos grupos da sociedade. As disparidades
socioeconômicas e as injustiças resultantes dessas transformações deram origem ao que se de�ne como
questão social.
QUESTÕES SOCIAIS NO SÉCULO XX 
Chamamos de questão social o conjunto de problemas e desa�os relacionados às condições de vida e bem-
estar das pessoas em uma determinada sociedade. Ela surge e se agrava em contextos de desigualdade
socioeconômica nos quais existem disparidades signi�cativas entre diferentes grupos sociais. Embora seja
comum vermos a questão social associada à pobreza, essas disparidades podem estar relacionadas a fatores
como renda, gênero, raça, etnia, idade, de�ciência, orientação sexual ou outras formas de diferenciação
social. Por isso, para compreender a questão social, é preciso analisar as causas estruturais e as dinâmicas
sociais que contribuem para a perpetuação da desigualdade e da exclusão social nos contextos especí�cos.
Como analisa José Paulo Netto (2001), a expressão “questão social” surgiu em meados do século XIX para dar
conta da consequência mais evidente da Revolução Industrial: a pauperização massiva da população
trabalhadora. Porém, a pauperização é uma das muitas expressões da questão social. Netto de�ne a questão
social como “a expressão das desigualdades e contradições que atravessam a sociedade de classes” (NETTO,
2001, p. 19). Ou seja, a questão social está intrinsecamente ligada à estruturação da sociedade capitalista e
envolve fenômenos como a exploração do trabalho, a exclusão social, a pobreza, a falta de acesso a direitos
básicos e a violação dos direitos humanos.
Segundo Iamamoto, a questão social refere-se a “um conjunto de desigualdades que têm como base a luta de
classes, fruto das contradições do modo de produção capitalista” (IAMAMOTO, 2013, p. 37). Nesse sentido, a
questão social é uma categoria analítica e, por isso, o que nós vemos no nosso cotidiano não é questão social
em si, mas as manifestações concretas das desigualdades produzidas pelo capitalismo, desigualdades essas
que são de ordem econômica, política e cultural das classes sociais, mediadas por outras relações. Ou seja, a
questão social se manifesta na pobreza, na exclusão social, no desemprego, na violência, no racismo, nas
questões de gênero, entre muitos outros problemas que afetam a classe trabalhadora e grupos
marginalizados na sociedade (IAMAMOTO, 2013).
No século XX, a questão social seguiu como uma questão fundamental a ser enfrentada pelas sociedades
construídas sobre o sistema capitalista e, ao passo que a sociedade se transformava, ela se ampliava,
passando a abranger outras formas de desigualdade e exclusão social, tais como discriminação de raça, de
gênero e de classe, além de questões relacionadas à educação, saúde, habitação, acesso a serviços básicos e
participação política. Isso signi�ca que, embora a origem da questão social esteja ligada às dinâmicas
especí�cas da industrialização e urbanização no século XIX, suas manifestações e desa�os continuaram a
evoluir ao longo do tempo, sendo in�uenciados por fatores econômicos, políticos, culturais e sociais.
Ao longo do tempo, questão social desenvolveu novas faces, associadas à nova con�guração do capitalismo,
relacionadas aos problemas que afetam as sociedades contemporâneas, entre eles:
• A desigualdade socioeconômica.
• A pobreza e a exclusão social.
• O desemprego e a precarização do trabalho.
• O acesso aos direitos sociais.
• Os impactos ambientais e a sustentabilidade, entre outros.
Perceba que todas essas questões estão intrinsecamente conectadas: a desigualdade econômica promove a
marginalização de grupos sociais, os quais acabam ocupando postos de trabalho precarizados; na
impossibilidade de garantir seu sustento e de sua família, essas pessoas vão ocupar áreas que, degradando-se
pela falta de planejamento, impactam o ambiente ao seu redor. Por isso, a questão social deve ser vista por
uma perspectiva multidimensional de orientação das políticas públicas para o enfretamento das
desigualdades.
ORGANIZAÇÃO DOS OPERÁRIOS
Existe uma questão determinante que deve ser considerada nesse histórico de surgimento da questão social:
a organização dos operários. O surgimento da classe trabalhadora como uma entidade social e política
distintiva ocorreu em grande parte durante o século XIX, como resultado direto da Revolução Industrial. À
medida que a industrialização se espalhava, trabalhadores rurais migravam para as cidades em busca de
emprego nas fábricas, formando, assim, uma nova classe social composta principalmente por operários
industriais que enfrentavam condições de trabalho extremamente precárias, jornadas longas, salários baixos
e a total ausência de amparo legal na regulamentação e �scalização de contratos trabalho.
Essas condições adversas levaram à organização dos trabalhadores em busca de melhores condições. No
início do século XX, esses movimentos operários ganharam força e se tornaram mais estruturados, assumindo
diferentes formas ao redor do mundo, como organizações de trabalho, sindicatos, movimentos sociais e
partidos políticos ligados ao trabalhismo e à classe operária (HOBSBAWN, 2011).
Um dos marcos mais signi�cativos na luta dos trabalhadores por direitos ocorreu no período entre as duas
guerras mundiais, quando ocorreram movimentos grevistas em diversos países industrializados. Um exemplo
importante é greve geral de 1926 no Reino Unido, quando por nove dias, cerca de 1,7 milhão de trabalhadores
cruzaram os braços. É até hoje a maior greve já registrada naquela região (HOBSBAWN, 2011).
A organização dos operários desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da questão social no
século XX. Os movimentos operários e sindicatos foram agentes importantes na luta por direitos trabalhistas,
melhores condições de trabalho e uma distribuição mais justa da riqueza. Como a�rmam Iamamoto e
Carvalho:
Ao longo do século XX, a classe trabalhadora desempenhou um papel fundamental na conquista de direitos
trabalhistas e sociais, como a jornada de trabalho de oito horas, leis de segurança e saúde no trabalho, direito
à organização sindical, direitos trabalhistas, salários mínimos e benefícios sociais. Os movimentos sociais
emergentes atuaram ativamente na consolidação desses direitos. Cabe destacar também o papel dos partidos
políticos ligados ao socialismo e o marxismo, surgidos como respostas críticas à desigualdade e à exploração
dos trabalhadores industriais, propondo a transformação social e a luta de classes como forma de superar as
injustiças sociais (HOBSBAWN, 2011).
A organização dos operários teve um impacto transformador na sociedade e na política. Ao se organizarem e
lutarem por seus direitos, os trabalhadores exerceram pressão sobre os governos e contribuíram para a
criação de legislações trabalhistas mais abrangentes, como leis de proteção ao trabalho, limitação da jornada
de trabalho, férias remuneradas e segurança social. Além disso, os sindicatos desempenharam um papel ativo
na formação de partidos políticos de orientação trabalhista, in�uenciando agendas políticas na busca pela
construção de sociedades mais justas.
A questão social não é senão a expressão do processo de formação e desenvolvimento da
classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu
reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no
cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a
exigiroutros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão.
— (IAMAMOTO; CARVALHO, 1983, p. 77)
VIDEO RESUMO
Nesta videoaula, vamos aprofundar na relação entre as transformações sociais no contexto da Revolução
Industrial e o surgimento da questão social, entendendo que essa relação é fundamental para analisarmos o
papel e a con�guração da política social no contexto dos Estados capitalistas. Além disso, vamos tratar do
papel do operariado na busca por melhores condições de vida. 
 Saiba mais
O Politize! é um portal de educação política bastante interessante para que você tenha como referência
sempre que precisar se aproximar inicialmente de alguma questão. Com informações validadas por
referências bibliográ�cas reconhecidas, o conteúdo apresenta-se como uma boa introdução sobre
diversos temas, bem como apresenta discussões e pontos de vista sobre eles.
Indicamos aqui texto do portal sobre a Revolução Industrial para que você leia e passeie pelas trilhas
disponíveis
BOTELHO, J. Revolução Industrial: entenda o que foi e suas etapas. Politize!, 9 dez. 2021. Disponível em:
Politize!. Acesso em 27 maio 2023.
NOÇÕES BÁSICAS DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Olá, estudante!
Chegou a hora de revisarmos a Unidade I, da disciplina Fundamentos das Políticas Sociais, na qual tratamos a
origem histórica das políticas sociais, atreladas ao desenvolvimento do modo de produção capitalista e a
consolidação da ordem burguesa. Vamos relembrar brevemente os pontos principais dessa discussão?
Política social é uma política pública de Estado que engloba o conjunto de medidas e ações voltadas para
garantir direitos sociais para a população. As políticas sociais emergem no século XIX com as mobilizações da
classe trabalhadora em busca de melhores condições de vida e trabalho. São o produto histórico concreto da
estruturação do modo de produção capitalista e o estabelecimento da ordem burguesa (PIANA, 2009).
Aula 5
REVISÃO DA UNIDADE
https://www.politize.com.br/revolucao-industrial/
Capitalismo é o nome dado ao modo de produção que se estrutura sobre a propriedade privada dos meios
de produção (fábricas, terras, recursos naturais) e que objetiva o lucro através da produção e troca de bens e
serviços. É possível identi�car, ao longo da história, modos de produção predominantes e cada um deles
re�ete as diferentes formas de organização econômica e social em diferentes períodos e sociedades (NETTO,
2007).
Ao longo da história, o capitalismo passou por três fases principais: comercial, industrial e
�nanceiro/monopolista. Essas fases re�etem as transformações econômicas e sociais que ocorreram no
sistema como meio de enfrentar crises e garantir sua preservação. Chamamos de ordem burguesa a
organização social e política própria do capitalismo. Esse sistema econômico proporcionou o crescimento das
cidades, o desenvolvimento das atividades comerciais e o surgimento de novas classes sociais: burguesia e
trabalhadores. Mas a ordem burguesa não se restringe ao aspecto econômico do capitalismo, sendo
constituída também pela perspectiva da democracia liberal: o exercício do poder político pela classe burguesa
através de eleições e instituições democráticas baseada em valores como a liberdade individual, a
propriedade privada e o individualismo (LEFEBVRE, 2019).
Da estruturação do capitalismo enquanto modo de produção predominante, baseado na exploração da mão
de obra e, consequentemente, produtora de desigualdade, decorre a questão social, expressão que surgiu
para dar conta da consequência mais evidente da Revolução Industrial: a pauperização massiva da população
trabalhadora. Porém, essa é apenas uma das muitas manifestações da questão social, entendida como “a
expressão das desigualdades e contradições que atravessam a sociedade de classes” (NETTO, 2001, p. 19). A
questão social está intrinsecamente ligada à estruturação da sociedade capitalista e envolve fenômenos como
a exploração do trabalho, a exclusão social, a pobreza, a falta de acesso a direitos básicos e a violação dos
direitos humanos.
Segundo Iamamoto, a questão social é uma categoria analítica e, por isso, o que nós vemos no nosso
cotidiano são as manifestações concretas das desigualdades produzidas pelo capitalismo, desigualdades
essas que são de ordem econômica, política e cultural das classes sociais, mediadas por outras relações.
Assim, a questão social se manifesta na pobreza, na exclusão social, no desemprego, na violência, no racismo,
nas questões de gênero, entre muitos outros problemas que afetam a classe trabalhadora e os grupos
marginalizados na sociedade (IAMAMOTO, 2013).
Os direitos sociais são resultado das lutas dos trabalhadores e movimentos sociais no enfrentamento da
questão social. A ação coletiva por meio da mobilização e da participação social é a forma mais e�ciente de
concretizar esses direitos, pois as demandas coletivamente organizadas ganham visibilidade e podem
in�uenciar a implementação de políticas públicas. A mobilização social pode ocorrer por meio de associações,
sindicatos, grupos de pressão, movimentos sociais, entre outros.
REVISÃO DA UNIDADE
Chegamos ao �m da Unidade 1 da disciplina Fundamentos das Políticas Sociais, que teve como objetivo
compreender a origem histórica das políticas sociais e sua estreita relação com o desenvolvimento do modo
de produção capitalista e a consolidação da ordem burguesa. Nesta videoaula, vamos retomar os principais
temas abordados durante toda a Unidade, com o objetivo de consolidar os conteúdos, transformando-os em
conhecimento.
ESTUDO DE CASO
A TecnoTech é uma grande fábrica localizada em uma cidade industrializada, especializada na produção de
dispositivos eletrônicos. Com uma demanda crescente por seus produtos, a fábrica expandiu sua produção,
contratando um grande número de trabalhadores. No entanto, os funcionários enfrentam condições de
trabalho adversas, salários baixos e ausência de benefícios sociais.
Alguns funcionários da TecnoTech começam a discutir entre si sobre as condições de trabalho desfavoráveis e
a necessidade de uma mudança e, em conjunto, decidem buscar apoio e conscientizar outros colegas de
trabalho sobre seus direitos e a importância da organização coletiva. Com o apoio crescente, é formado um
comitê de trabalhadores, composto por representantes eleitos pelos funcionários, para liderar a luta por
melhores condições de trabalho e direitos. O comitê estabelece uma agenda de demandas, incluindo salários
justos, jornadas de trabalho regulares, condições de trabalho seguras e benefícios adequados.
Após debates e deliberações, o comitê decide organizar manifestações dentro e fora da fábrica para chamar a
atenção para as condições de trabalho e os direitos dos funcionários. Eles utilizam as mídias sociais e a
imprensa local para ampli�car suas reivindicações e conscientizar a opinião pública sobre as condições
precárias enfrentadas pelos trabalhadores da TecnoTech.
A visibilidade das manifestações e a pressão pública levam a administração da TecnoTech a iniciar
negociações com o comitê de trabalhadores. Ambas as partes se sentam à mesa para discutir as demandas e
buscar um acordo que atenda às necessidades dos trabalhadores, ao mesmo tempo em que seja viável para a
empresa. Como resultado das negociações, conquistas signi�cativas são alcançadas e a TecnoTech concorda
em aumentar os salários dos funcionários, implementar medidas de segurança e saúde no trabalho,
estabelecer uma jornada de trabalho regular e fornecer benefícios como plano de saúde, licença
maternidade/paternidade remunerada e programas de capacitação pro�ssional.
A luta bem-sucedida dos trabalhadores da TecnoTech inspira funcionários de fábricas semelhantes na região e
em todo o setor a se organizarem e lutarem por melhores condições de trabalho e direitos, gerando um
movimento amplo que se expande por todo o país, culminando em legislação especí�ca de regulamentação
da atividade para todo o setor.
Diante de toda a repercussão,o jornal local procura por você para analisar a movimentação bem sucedida dos
trabalhadores e os impactos gerados na política nacional. Que pontos você vai destacar?
 Re�ita
Quais foram os fatores que contribuíram para o sucesso das reivindicações e negociações que levaram à
concretização de direitos?
Isoladamente, os trabalhadores teriam conseguido efetivar essas conquistas?
Qual o valor social deste movimento?
RESOLUÇÃO DO ESTUDO DE CASO
No caso descrito, a organização coletiva permitiu que os trabalhadores da TecnoTech se unissem,
articulassem suas demandas e alcançassem melhorias signi�cativas em suas condições de trabalho e direitos.
Através da união e da ação coletiva, eles conseguiram superar as desigualdades de poder entre os
funcionários e a administração, ampliando suas chances de sucesso na busca por justiça e equidade.
Além disso, as melhorias alcançadas na TecnoTech servem como um exemplo positivo para outras empresas,
incentivando a adoção de práticas mais justas e equitativas em relação aos trabalhadores
A organização coletiva desempenha um papel fundamental no sucesso do caso descrito, mas, olhando de
maneira mais ampla, ela também exerce um papel fundamental no fortalecimento e avanço das políticas
sociais. Ela garante a representação e a voz dos grupos marginalizados, mobiliza a pressão por mudanças,
fortalece a participação cidadã, monitora a implementação das políticas e promove a colaboração entre os
diversos atores sociais. Vamos pensar rapidamente sobre esses pontos para que você possa debater em seu
artigo:
• Representação e voz dos grupos marginalizados: as políticas sociais têm como objetivo atender às
necessidades dos grupos marginalizados e desfavorecidos na sociedade. Através da organização coletiva,
esses grupos podem se unir, eleger representantes e ter suas vozes ouvidas no processo de formulação de
políticas. Isso garante que suas perspectivas e necessidades sejam consideradas e incorporadas às políticas
sociais, aumentando a sua relevância e e�cácia.
• Mobilização e pressão por mudanças: a organização coletiva permite que os grupos afetados por questões
sociais se mobilizem e pressionem por mudanças. Ao unirem suas vozes e recursos, eles aumentam sua
capacidade de in�uenciar os tomadores de decisão e as instituições governamentais. Isso pode levar a
reformas e políticas mais progressistas, abordando desigualdades e injustiças sociais.
• Fortalecimento da participação cidadã: a organização coletiva promove a participação cidadã, capacitando
os indivíduos a se envolverem ativamente na discussão e tomada de decisões sobre políticas sociais. Ela
oferece oportunidades para a educação política, o desenvolvimento de habilidades de liderança e a
conscientização dos direitos e responsabilidades dos cidadãos. Dessa forma, a organização coletiva contribui
para a construção de uma sociedade mais engajada e democrática.
• Monitoramento e prestação de contas: através da organização coletiva, os grupos sociais podem
monitorar a implementação das políticas sociais e exigir prestação de contas dos responsáveis. Eles podem
acompanhar se as políticas estão sendo efetivamente implementadas, se estão alcançando os resultados
esperados e se estão bene�ciando aqueles que foram os destinatários pretendidos. Isso ajuda a garantir a
transparência e a responsabilidade na governança das políticas sociais.
• Colaboração: a organização coletiva permite que os grupos compartilhem experiências, conhecimentos e
recursos, promovendo a colaboração e o fortalecimento mútuo. Ao se unirem em redes e coalizões, os grupos
podem ampliar seu impacto e in�uência, trocar boas práticas e promover sinergias para alcançar objetivos
comuns. Isso cria um ambiente propício para a construção de políticas sociais mais abrangentes e
sustentáveis.
Através da organização coletiva, as políticas sociais podem se tornar mais inclusivas, justas e e�cazes na
abordagem das desigualdades e na promoção do bem-estar social.
RESUMO VISUAL
Fonte: adaptado da autora.
Aula 1
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